Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A procura de
alguma poesia
UM POEMA PARA O POETA.............................................................6
RUÍNAS.................................................................................................. 7
HUMANISMO....................................................................................... 8
ESPELHO.............................................................................................. 9
NÓS E A NATUREZA........................................................................... 9
FOTOTROPISMO................................................................................9
RESTOS DE VIDA.............................................................................10
TEMPO E SAUDADE........................................................................10
PERCEPÇÕES..................................................................................... 11
SOLIDÃO DE SÁBADO..................................................................... 11
MERCADO.......................................................................................... 12
POESIA............................................................................................... 13
IMPASSE............................................................................................. 13
VAZIO.................................................................................................. 14
DIANTE DA FOME............................................................................14
RASCUNHO........................................................................................ 15
SER POÉTICO.................................................................................... 16
ALMA.................................................................................................. 16
QUESTÃO DE EXISTÊNCIA.............................................................17
CONTO A CONTO.............................................................................. 17
PESOS E MEDIDAS...........................................................................18
SILÊNCIO............................................................................................ 18
CARINHO DE VERÃO......................................................................19
PALAVRAS DO CONCRETO............................................................21
NATUREZA HUMANA...................................................................... 22
CONHECER-SE................................................................................... 23
SONHOS.............................................................................................. 24
PEDIDO.............................................................................................. 25
VERBALIZO VOCÊ............................................................................ 26
RECUERDOS...................................................................................... 27
DECISÕES E RETICÊNCIAS............................................................27
HUMANUM EST................................................................................ 28
PARLABORLETA..............................................................................29
NA BEIRA DA VIDA..........................................................................29
O JARDIM........................................................................................... 30
FALTA.................................................................................................. 33
MODERNIDADEZINHA QUALQUER............................................34
CONTO DE PASSADO.......................................................................34
CICLOS................................................................................................ 35
CONVERSA DE PASSARINHOS......................................................36
SUJEITOS............................................................................................ 37
PRODUTO DE LIMPEZA.................................................................38
COISAS INVISÍVEIS..........................................................................39
A BALA PERDIDA............................................................................39
CÔMODOS E SONHOS.....................................................................40
ROTINA.............................................................................................. 41
FELICIDADE...................................................................................... 42
FAZ DE CONTA.................................................................................. 43
MÓVEIS............................................................................................... 44
A FOLHA............................................................................................. 45
RACIONALISMO POÉTICO.............................................................45
SOLO ALFABETO..............................................................................46
BONS TEMPOS.................................................................................. 47
O RELÓGIO........................................................................................ 47
TRAÇOS.............................................................................................. 48
PRESSÁGIO DE POEMA..................................................................49
CONCEPÇÃO...................................................................................... 49
PARALISIA DO SONO......................................................................50
REFLEXOS.......................................................................................... 51
LUZ...................................................................................................... 52
SER HUMANO...................................................................................52
DIAS NOVOS...................................................................................... 53
ANTÍTESES........................................................................................ 54
PÔR DO SOL...................................................................................... 54
LUA CHEIA......................................................................................... 55
SERESTEIROS...................................................................................55
PAUSAR-(ME).................................................................................... 56
Pesar................................................................................................... 57
Um poema para O Poeta
(A Carlos Drummond de Andrade)
O Poeta.
Quantos versos!
Nos dá de mãos em sangue,
a antes palavra dicionarizada, de sentido fixo e estático,
o agora merencório verso em coro
com o fundo sentido, com a silente imagem e com o findo desejo...
seu brejo, sua alma, sua procura...
O Poeta.
Quanta Poesia!
Embebida de memória, história e vida
nos dá o boitempo.
Bicho manso,
mansuetude que dói,
que pasta lentamente o seu passado,
quase feérico, banhado de ferro e pó.
Poeta.
Quanto ser!
é preciso chafurdar nas próprias entranhas,
no monturo de si, no mundo à parte,
para em imprecisão,
fisgar o sentido,
conter o significado,
que o poeta transcendido nos dá.
Poeta.
Quão Poeta!
Fazendeiro do Ar,
cultivou sua lavra na terra mais árida,
o reino das palavras, onde rei é só o outro.
Cultivou sua rosa, seu claro enigma,
sua vida passada a limpo, sua pedra no meio do caminho
mesmo ante tanto silêncio e corações sujos.
O Poeta.
um leitor.
leitor que colhe em seus poemas
o doce sabor impuro do branco,
o aprendizado do amor sendo amado,
a graça e a ironia de mãos dadas
passeando por um mundo caduco.
O leitor acolhe sua poesia completa eternamente agradecido.
Ruínas
passeava no tempo.
no tempo de menino.
sorriso frouxo e amarelo.
o tempo sempre me foi
imparcial, imperecível.
meu corpo, porém,
metamorfose,
do sons da fala,
ao calor do sangue,
meu corpo-mundo,
sempre foi mutante
e o tempo implacável.
Humanismo
De coração fraco,
de mãos duras,
de olhos cegos,
boca muda,
ouvidos infensos
a outras súplicas,
sentidos baços,
pele antiternura.
porém, lá no fundo,
na essência do ser,
incompleto imperfeito impossível
sinto-me, com toda a gana do mundo,
ser humano.
ser humano
que admira o que não entende
e por isso mesmo
admira-se consigo.
E é lá fora,
ante o farol das estrelas,
que tento tatear o caminho
para me sentir mais
ser humano.
Espelho
A ponte que vai de mim ao outro,
É a ponte que uso pra alcançar
A descoberta de mim no outro.
Sinto minhas cicatrizes, minhas ideias.
Sou o início da trilha do passeio: desbravar-se.
O começo da caminhada: descobrir-se,
E os pensamentos alheios brotam do meu eu.
Descortino a face desse sujeito composto, eu,
E em verdade, mostra-se, um sujeito todo oculto.
A ponte que vai de mim para o outro
Perde-se em noites escuras
Nessa ponte sem apoio, apoio-me em mim.
Sou a ponte e o caminho, sou o outro em si.
Na ponte que vai de mim para o outro,
Perco-me no conhecer-me a mim mesmo.
Fototropismo
Restos de Vida
De resto a gente vive
Enquanto dá pra levar
Cata lixo, cata bagulho
E o que mais der pra catar.
O Tempo e a Vida
o tempo
sempre
tão presente,
tão íntimo,
tão incalculável...
de veste aurilavrada,
luzidia, foge à vista.
E sôfregos e trôpegos,
o perseguimos,
incansáveis o perseguimos.
auscultamos peitos, paredes, muros, vácuos.
o tempo permanece.
entre detritos de falas,
choros falsos,
choros altos,
entre moralismos e destemperos,
o tempo nos finda.
assina com sua letra ilegível,
todos os espólios,
suas conquistas
carrega nos braços.
cada lembrança,
cada gesto...
se houver um retrato sequer,
carregará,
inconteste,
carregará.
Percepções
o tempo passou há pouco
veloz e repentino
em seus braços carregava um homem
ou será que era um menino?
Solidão de Sábado
Sozinho no sábado à noite,
Muitos pensamentos vem a minha cabeça.
Em conversas, solilóquios,
Fico no sábado a noite pensando asneiras.
Terá algum motivo para isso,
Ou simplesmente é mais uma canseira?
De taciturnos sábados
Que tenho quando vem ao fim a sexta-feira.
Mercado
No mercado ao lado de casa
Tem quase tudo que preciso.
Tem arroz, prosa e fofocas,
Tem feijão e cada caso!
Impasse
Sou muitos e tantos eus.
E dos eus dentro de mim,
Quando me pego pensando assim,
Já é o outro eu que assim pensa,
E sem perceber, os muitos eus
Divergem sobre o que é ou não
O início do início do início da confusão.
Que um eu causou a todos os eus de mim.
Vazio
Toco a parede do quarto em busca de amor,
No instante velho e empoeirado restam momentos,
No teto que olho por um lapso, não vejo um céu azul,
E por mim que continue sem o azul, só por essa hora...
Diante da fome
A fome não tem nome.
A fome fomenta
O desejo,
A vontade,
O querer.
A fome não tem nome.
A fome consome,
A gente,
A vida,
A graça,
O viver.
A fome não tem nome.
A fome não tem cara,
Gesto,
Canto,
Grito.
A fome não tem nome.
A fome omite,
A fome é fria,
A fome é mais, e mais, e mais,
E deixa sempre menos
Com força,
Com vigor,
E mais dor.
A fome não tem nome.
O nome da fome seria
Indistinto?
Indefinido?
Insensível?
A fome não tem nome.
A fome mata sem pedir identidade,
A fome não tem face...
Mas rente ao semblante,
Faz da cara a coroa do seu jogo,
Sem hora, sem lugar, sem espaço...
A fome menos preza.
A fome não tem nome.
A fome mofa a vida.
Rascunho
é o esboço
de um corpo.
toques sutis de
lápis pastel.
que contorno!
que margem!
nasce no branco
o clarão d’um sorriso.
o esboço
toma corpo.
sútil, toca a face
com a mão débil,
ainda em projeto,
mas sente, com tato
fino e manso,
a pele de pastel,
delicada, esvoaçante.
é o esboço
do seu corpo
que na minha sulfite memória
se desenha, se imprime, se perpetua...
Ser poético
É imóvel,
É o que é.
Mutante.
Transparência cínica.
Sorriso e lágrimas.
Sujeito de análise,
Objeto público.
Morto vivo de atentas pupilas,
Massa somada de sentidos,
Tensos sentimentos,
Discrepância do espelho.
Atua sobre si,
Interpreta seu eu,
Monstro belo anjo,
Verbo sem ação.
Morte renascida
Enfim, por si só
Ato e atuação.
Alma
A alma toca o espelho
Olhos nos olhos – reflete-se.
Dobrada sobre si,
Liberdade terei algum dia?
Questão de existência
Questiono o sol no céu,
Questiono o amor no peito,
Questiono a dor na alma,
Questiono meu vazio,
Questiono a perfeição,
Questiono o mundo
E não espero respostas.
Continuo a questionar,
Pois assim existo.
Conto a Conto
O elo do conto.
O ponto a ponto
Da história, das frases.
Cada nó desatado,
Gera outro nó,
Ponto cruz, conto nu.
A precisão é proporcional,
A necessidade do conto
A ser contado, montado, feito.
O conto é o elo,
Entre o fato imaginário,
Com a vida de quem lê.
Pesos e Medidas
Peso dez quilates
Meço algumas gramas,
Preciso perder dez quilowatts,
Não enxergo nada há anos-luz.
Enquanto escrevo perco alguns bits
De cansaço, de sonhos, de litros...
Minha idade de vinte e dois hectares
Circunda-me em um sítio.
E no meu cubículo de poucos hertz
O som das batidas do coração perde mais uma dracma.
Meu sonho de milímetros,
É o que se move, o que se torna, o que o devir não cria.
A minha voz com um mol de intensidade
E sem um kelvin de força, diz muito e fala pouco.
No silêncio das estrelas, a orquestra segue as notas,
Na harmonia do ampare que torce pelo grande ser,
Que mede o quanto, o quando, o até e o porquê,
Astuto dono de peso e medidas, de nome e grandeza: tempo.
Silêncio
Carinho de Verão
O sol quente de verão,
Intenso e luminoso.
A praia cheia de risos,
Suspiros, festas e férias.
Os pés quentes da areia fina,
Caminhavam porque era pra isso
Que ali, naquele momento, estavam.
O vento suave de verão,
Refrescante e leve,
Beijava o rosto suado.
As pessoas à vontade a beira-mar.
Ela, com simpatia no seu vai e vem,
Levava e trazia a água, o frescor,
Da filosofia praieira, toda em marola.
Palavras do Concreto
Meus olhos comem
Os detalhes de um caminhar,
Saboreiam as entrelinhas
De uma corrida ofegante.
Percebo com simplória
Facilidade a fragilidade de um sorriso.
A magnitude do mundo se esvai
Entre meus dedos...
O vento me diz muito,
As árvores me escutam.
Meu medo não é cair,
Mas voar muito alto e não enxergar mais o chão.
Interpreto com o asfalto
Os olhares que estão presos
Entre os vãos do chão...
Capto com meu instinto a descrição das coisas.
E essa palavra muda, surda e sem tato,
É o que tenho para compreender em
Minha mente, sedenta por descrição,
Os detalhes escondidos nas entranhas da rotina,
Do dia a dia,
Da vida de uma cidade,
Das quimeras de uma cidade viva.
São com elas que consigo assimilar a vida
Que brota no chão, dos sonhos que estão grudados nos vãos dos
paralelepípedos,
Nas calçadas, rodovias, esquinas...
São esses sonhos nascidos das palavras não ditas,
Dos gritos contidos,
Do desejo reprimido,
Que criam o veludo por onde caminhamos.
Que decifram as notas que estão escritas nas estrelas,
Essa partitura sem orquestra,
Essas histórias sem voz,
Essa canção de ninar sem criança,
Esse colo sem o choro.
Esse choro sem as lágrimas,
Essas lágrimas sem emoção,
Essa emoção sem comoção...
As palavras dadas de presente,
Pelo dicionário e pelos amigos,
São as palavras que descrevem
O mundo em que nos habituamos
A descrever com palavras secas
E não com as palavras molhadas
Regadas, cuidadas, transbordadas,
De doce emoção.
Natureza humana
não falo a língua dos pássaros,
tampouco compreendo
as nuances das ondas,
do mar, do canto, do vento...
soam-me extremos,
os ruídos das chuvas e tempestades.
sou analfabeto da natureza...
Conhecer-se
Falamos de nós,
Construímos a imagem à semelhança.
Como poeira do tempo,
Formamos o hiato das eras.
O pensar molda.
A fala simboliza.
O ato concretiza.
Criar-se é exercício.
Homem integrado somos.
Homem integral seremos.
O germe da perfeição está.
A perfeição é um ser-estado a alcançar.
Sonhos
Meu sonho sonha em mim.
E esse sonho meu,
É em si, acompanhado de
Outro sonho que meu não
É.
Da parte do sonho
Que é sonhado e sonha,
O meu eu parte em fuga,
E o eu que é dele também se
Vai.
Parti de um sonho.
Daqueles tão doces,
Tão macios, que desejei que
o sonho não meu, pudesse sim ter
Sido.
Pedido
Fim de tarde
Já que insiste
Finde e dê-se
Por findo.
No entanto,
Por hora,
Conceda-me
Seu fim
Para ser
Meu início?
Questões do meu Ser
Os cabelos da moça linda que passa,
São beijados pelo frio de inverno.
A briga é sem sentido dos jovens revoltados
na avenida movimentada...
Me apego a questões que estão acima
Dos arranha céus que vejo daqui de baixo...
E as respostas, sei que estão
Entre as alturas longínquas
E minha mente;
Entre meu coração e os meus olhos indagadores;
O ser e seus atributos,
O não ser e suas ausências...
Quando me ausento não existo?
Quando estou, sou inexoravelmente?
Questões pairam e não param...
Todas as vias me levam a perguntas,
Quero tocar o verdadeiro sentido das coisas
E enxergar aquilo que define o conceito
De existência do objeto, do ser...
Quero me aprofundar no mar da incógnita vida
Mas olhando daqui do concreto os prédios altos e imponentes,
Percebo com os sentidos, que Deus e seus atributos
Ainda estão longe dos meus conhecimentos lógicos...
Mas Ele me responde as questões difíceis com sua exuberante
criação...
Que vai do vento que beija o cabelo da linda moça
Ao céu infinito que os monumentais
Edifícios e meus olhos tentam alcançar...
Conjugação
Recuerdos
Decisões e Reticências
O triz do possível,
É o instante soberano
Do devir, do mutável.
A provável história,
Sempre é a possível certeza,
Do incerto, do vir a ser.
Se é a condicional,
A força motriz,
Do talvez, quem sabe.
Humanum est
princípio encarnado
na forma na hora no dia
transpôs a essência
ao temporal existir
modal e morfológico
tempo e espaço
ideia reencarnada
em corpo em carne em entranha
transeunte dialético
adjunto adverbial
envolto de adjetivos
adorno e qualidade
pensamento corporificado
em fótons em átomos em sinapses
viajante eclético
de línguas e linguajares
liberto e libertino
gíria e neologismo
sentimento nascido
princípio ideia pensamento
no tempo e espaço
corpo em movimento
transeunte do efêmero
cidadão do tempo
Parlaborleta
palavra
larva da ideia
encasula no escuro
voa primavera.
Na beira da vida
seixo caído
na beira do rio
já é história contada.
águas passadas o acariciam.
seixo caído.
um palavra o define:
passado.
é seixo caído,
molhado,
úmido,
vaidoso,
presunçoso.
seixo.
pedra.
minério.
seixo caído,
é lágrima de tristeza
que nunca foi chorada,
imergida no peito,
no fundo de rio,
para o tempo e as águas frias
consolarem sua essência...
seixo caído,
é tristeza petrificada,
que como a poesia,
quer eternizar o sentimento,
daquele ser que com o peito
não consegue gritar.
O Jardim
O jardim é recebido
Como tela em branco,
Pronto para receber
As sementes das tintas,
As cores dos perfumes,
Os sorrisos das flores.
O jardim é éden,
Paraíso de pureza,
Com doces e frutas,
Com vontades e sonhos,
Com desejos e choros,
Com mãos e abraços.
O jardim é manto,
Que cobre um mar,
Que enobrece o homem,
Que enaltece a mulher,
Que renova a terra,
Que resplandece a vida.
O jardim é infantil,
Precisa de limites,
Precisa de cuidados,
Precisa de sorrisos,
Precisa de tato,
Precisa de um olhar.
O jardim é filho,
Que terá conselhos fortificantes,
Podas necessárias,
Estações de aprendizado,
Sementes de amigos,
Amor atemporal.
Pais e amigos,
Amigos e pais,
Pais e filhos,
Filho e pais,
Enfim.
Senilidade
Falta...
a falta é
Modernidadezinha Qualquer
Conto de Passado
Ciclos
é cedo.
a lua se põe.
o sol é nascente.
a noite está em fase minguante.
a manhã.
o sol se expõe.
nuvens sorriem calmas.
o dia é cheio, grande e quente.
a tarde.
o sol envelhece.
o vento traz novidades.
o entardecer é sóbrio e paciente.
a noite.
estrelas tímidas brilham.
a lua sapeca pinta no céu.
anoitece o dia e o sol põe-se a dormir.
é cedo.
a manhã não tarda.
a tarde jovem aguarda sua vez.
a noite cansada amanhece.
a manhã.
gorjeia o sol em luz menor.
nuvens brincam de imagem e ação.
a noite visita outros entes.
de tarde.
o dia é alto e brilhante.
a noite não há sombra sem estrela.
no horizonte o sol despede-se da lua.
a noite
a já cheia lua brilha sol.
as estrelas representam-se.
o dia dorme, enquanto a noite entardece.
Conversa de Passarinhos
Passarinhos de papo pro ar
Dispersos no vento,
Põem suas penas a falar
Em um canto daqui,
Em um canto de lá,
Todos os passarinhos,
Puseram-se a cantar.
Os passarinhos parolam
E não param num assunto.
Voam nos problemas do mundo.
Em um canto daqui,
Em um canto de lá,
Todos os passarinhos,
Puseram-se a cantar.
Sujeitos
Produto de Limpeza
O anúncio foi dado,
“Limpa tudo!”
Limpa a minha alma?
Limpa a minha vista?
Limpa o meu mundo?
A cada hora,
A cada reza,
O lago raso,
O vôo baixo
Pelas peças encenadas.
“Limpa Tudo!”
Mas não funcionou comigo,
Meu domingo continua vazio de ar puro,
Minha rua continua nua de limpeza,
Minha vida, minha ida, minha ira
Continuam procurando o mundo limpo.
“Produtos de limpeza!”
“Limpa Tudo!”.
Não limpam não!
Meu mundo ainda tem sangue,
Minha estrada ainda tem destroços,
Minha casa ainda tem o sal das lágrimas,
Meu caminho ainda tem cacos!
Coisas Invisíveis
As coisas com toda a certeza,
Não acontecem por acaso.
Existe um destino em tudo,
Um caminho traçado,
Uma trilha.
As crianças a beira dos trilhos
Beijam a poeira,
Comem areia, escondem-se
Por entre os matos,
E no calor da miséria,
São consumidas por sonhos quentes,
Por esperanças estranhas,
Mas ainda brincam,
Pois sabem que há em um futuro longíncuo,
Uma vida sem trilhos,
Uma vida de verdade,
Sem virtualidades,
Sem desejos inalcançáveis.
A Bala Perdida
Acordo, aceito, topo
E a bala perdida com endereço certo
Me acerta o peito.
Acordei, aceitei, topei,
Mas a bala doce para adoçar a vida,
Não veio,
Veio a bala no peito.
A bala embrulhada feito presente,
Me tira o futuro,
Bala de goma,
Bala de mascar,
Bala de menta,
Bala de fogo.
Minha bala doce que eu queria,
Não veio.
Veio a bala disparada,
Que assusta o passaredo,
Que explode a noite,
Mas veio de dia e me tirou o sol,
Me deu a noite e o sono eterno.
E eu só queria uma bala degustar.
Vendo bala no farol quando fica vermelho,
E luz verde pra mim nunca chega.
Eu só queria a bala doce para adoçar a vida,
Mas me veio a bala perdida, ardida, com endereço certo,
Em meu peito.
Cômodos e Sonhos
Intransigente,
exijo,
o transitivo verbo amar.
Imperfeito,
exigia,
a transitividade do passado.
Inconsolável,
ouço,
e olvido seus passos de abandono.
Rotina
Agora sim.
Taparão o caixão tão caro quanto inútil.
Serei por fim matéria morta.
Completa.
Caixão fechado, hermeticamente,
Enterrarão em uma nova cova funda.
Bem funda.
Meu último registro será a madeira podre,
A carne pútrida, os ossos firmes e o sorriso inevitável.
Felicidade
Faz de Conta
Faz de conta doutor
Que minha casa não é de madeira.
Que minha saúde pública é privada,
Que minha vida também é perfeita,
E assim como o senhor só dou risadas.
Móveis
Os móveis me falam
Sobre a noite funda,
Seus segredos.
Contemplam estrelas
Sem nomes,
Planetas distantes,
Levantam o véu.
A verdade é o espírito
Que por trás deles está.
Os móveis me respondem
Perguntas antes sem respostas,
Dúvidas intermináveis,
Receios sem motivos.
Os segredos muitos,
São esclarecidos,
E sem mais nuvens,
O sol clareia o caminho traçado,
Porém construído ainda,
Pelo que decido.
Os móveis me mostram,
Um mundo todo de ideias,
Um mundo todo de eternidade,
Nesse mundo o pensamento é leve,
O pensamento cria, volita, modifica...
Mostram uma cadeia elementar
De fatos, passos, vidas, histórias...
Querem deixar claro, sem cegar,
Que a vida é uma representação,
Nós atores de nós, intérpretes dos eus,
Caminhamos crendo nos sentidos.
Mas os móveis, sábios móveis,
Cientificam que os sentidos,
Usufruem dos sentidos para enganar,
O sentido das coisas que cremos.
A folha
Racionalismo Poético
O que é a letra?
O que é o sentido da letra?
O que é o sentido que sinto?
O que é o que percebo?
inspiração.
Solo Alfabeto
No solo alfabeto
Lavra a poeta.
Tira leite de fonema
Fina tira de morfema.
E acha
E vela
Pois vale
Vê-la
Leve letra no mundo surdo das palavras.
No solo alfabeto
cava o político
Letras e palavras,
Forma paredes,
Constrói casas,
Levanta edifícios,
Reforma vidas,
E acha
E guarda
Pois vale
Tê-la
Leve letra no mundo surdo das palavras.
No solo alfabeto
O povo cativo
Aceita adendo
parágrafos,
artigos, decretos
paráfrases,
E as letras e palavras
Que dão vida a vida.
Às vezes juntam,
Sujeitos abjetos
a caros predicados,
Mas o poeta diz
Ache
E vele
Pois vale
Vê-la
Leve letra no mundo surdo das palavras.
Bons Tempos
tempo.
um ponteiro no relógio.
uma pausa no jogo.
um instante de reflexão.
tempo.
uma abstração...
um número qualquer.
um dia ensolarado.
tempo.
um século embolorado.
um efêmero minuto.
uma hora que se arrasta.
tempo.
um cisco nos olhos
uma pérola no peito
um grão de areia na praia da eternidade.
O Relógio
O relógio na parede.
A parede límpida.
O tempo, esse jovem senhor,
Passa pela rua e nos dá o bom dia de sempre.
A manhã, sempre doce, nos dá a vida e o café.
E quando a senhorita tarde chega,
Já estamos cansados do longo menino dia.
A noite, senhora majestosa, abraça-nos com estrelas.
O relógio na parede.
A parede límpida.
Um doce tic tac, tic tac, tic tac...
Uma hora após outra hora,
Somos isso...
Eternos ponteiros a rodar,
Que contam passos,
histórias e causos
Quantos causos!
O relógio na parede,
Na parede,
O relógio,
Pare de...
Pare,
Re
Ló
Gio
...
.
(ETERNO)
Traços
Há segredos indeléveis,
Há previsões intragáveis,
Nos traços luzentes.
E as traças ultrapassam,
o tempo e o espaço,
Para,lampejantes, tracejarem
Presságio de Poema
(Silêncio Na Mente)
Uma palavra livre paira.
Seu sentido é mistério.
Em sete selos selada.
(Na Mente Silêncio)
A palavra serve outras,
são versos, sentidos imersos,
Estrofes em formação.
(Mente Silêncio)
O vazio preenche o vácuo,
As palavras preenchem o sentido,
A expressão exala um poema.
(Mente)
Forma cria corpo,
Parem ideia,
Parteja poema.
(Silêncio)
Palavra que paira,
Verso que se fixa,
Amizade-guerra do poema e o poeta.
Concepção
a concepção, simples, eterna, quente
em um mundo único e escuro
Paralisia do Sono
Ouço passos pelo corredor,
São sutis e furtivos,
Ouço sussurros atrás da porta,
Cochicham e não compreendo.
Ouço o coração de alguém bater,
Mais tenso, mais forte, mais vivo.
Reflexos
Deixar o peito bater,
Talvez seja uma das poucas
Ações naturais a qual me curvo.
Esse mundo duro é vital para realidade,
Apesar de não existir mais campos verdes,
Pássaros e liberdade,
Esse mundo duro é vital.
Luz
Ser Humano
E o desejo
Que a pele fere,
Esgueira-se
Por entre os poros,
Perpassa os sentidos.
A vontade o ouve,
Acena com dois impulsos
E ele, que era silêncio,
Agora é tufão.
Uma constante força
Uma sequência de explosões.
O desejo toma o ser,
E está no controle do estado.
Dita as regras.
Legisla novas leis.
E por fim, as executa.
A vontade submete-se.
O raciocínio acorda eufórico,
Aproxima-se com cautela,
Tenta encadear os fatos confusos,
Que estão exalando hormônios,
E imagens sem sentido.
Depara-se com o desejo.
Desejo frente ao raciocínio.
Razão frente ao desejo.
Um submete o outro,
Sem acordo,
Sem contrato,
Apenas posse pela guerra.
E assim fez-se o homem.
Em suma e síntese:
Conflito.
Dias Novos
Antíteses
Minha pressa espera com calma
A hora certa de correr atrás
Daquele sonho que vi passar.
Com ansiedade a paciência prevalece,
E diante de tal situação, resta o sono acordado,
Em si e em sonhos reais que vivem despertos.
Pôr do Sol
O sol põe o pé no poente
Degusta o calor do mar
E de bom grado se espicha
Ao longo do horizonte
Bem de-va-ga-ri-nho
Lua Cheia
Lua cheia, de passados e histórias,
Derramai sobre nós teu luar de luz...
Dai-nos um pouco dessas eras, épocas,
Que guardas em tuas fases misteriosas.
Seresteiros
Quem diria,
Os grilos cantam!
Ainda cantam.
Cantam como antes
Quando a noite era noite
Funda e silente,
E no céu estrelas coruscantes
Pincelavam o breu da mata.
Os grilos cantam,
E cantam com gosto
De quem na noite
Se sente em casa,
Mesmo diante de outros seres,
Outra ordem de coisas
outro tom de luz...
Sorvem o serão no papel de seresteiros
Os grilos cantam!
Quem diria?
Ninguém decerto
Mera memória vaga
Tal encanto é deslembrança
Como qualquer noite
De uma cidade qualquer
Repleta de gente
E sem grilos.
Pausar-(me)
Pesar
o peso de um ano
está a mercê de um sonho rápido.
de uma realização fictícia da mente
contrapondo a ficção da vida realmente
dita, pesada, sentida, vivida como vida.
o peso de um ano é
diretamente proporcional
ao tempo que os olhos irão levar
para adaptarem-se a luz do minuto seguinte,
da hora vinda,
do novo dia,
do ano novo.