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O argumento central utilizado por André Singer, nesse capítulo de sua obra, é que, a
partir de 2006, há um realinhamento das bases sociais e a consequência disso é o
fenômeno do Lulismo. Para entendê-lo, é preciso considerar que ele representa um
determinado grupo da sociedade que, apesar de ser a maioria, não possui habilidade de
desenvolver suas formas de articulação e, desse modo, torna-se dependente do governo
para se movimentar.
O ponto de partida para entender esse realinhamento são as eleições anteriores em que
Lula havia se candidatado mas não havia obtido sucesso em sua eleição. Nelas, embora o
público o qual ele desejava atingir fosse as camadas mais baixas e aqueles prejudicados
pela desigualdade social, a sua figura tinha como eleitorado a camada da sociedade que
possuía um maior nível de escolaridade, localizadas principalmente nos estados do Sul e do
Sudeste. Segundo Singer, o governo Lula assume dois lados: um progressista, com o olhar
voltado para os problemas sociais e o outro conservador, fato provado pela sua união com
partidos de centro-direita e com candidatos de origem empresarial. Esse segundo aspecto é
o que permite a caracterização do seu eleitorado nas eleições de 2002.
É importante ressaltar alguns dos pensamentos peculiares das classes mais baixas no
começo do processo de redemocratização: André Singer extrai de alguns trabalhos
realizados em 1989 a conclusão de que há uma rejeição às greves - iniciadas ainda na
época da ditadura militar em 1978 - por parte daqueles que pertencem a um grupo cuja
renda familiar era de apenas dois salários mínimos, além da defesa da utilização de tropas
para combatê-las. Enquanto que os que tinha renda superior a vinte de salários mínimos
não possuía essa posição. Esse aspecto é produto de um processo sócio-cultural em que as
minorias apontadas na sociedade são as mais afetadas mesmo quando ela mesma defenda
instrumentos que a violentem. Fatores como o medo da instabilidade impedem nesse
momento a eleição de Lula por maioria popula de tal modo que os votos da camada popular
estavam direcionados para a candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
O governo de Lula nos anos de 2002 a 2006 começa a utilizar de uma série de
instrumentos para o combate à desigualdade e que envolvem essencialmente a esfera
econômica. Segundo Singer, são três elementos que permitem a reeleição de Lula em 2006
mesmo com o escândalo do Mensalão - abordado pela mídia (pesquisar no texto e
completar), sendo eles: o Bolsa Família, que segundo pesquisas, as mais beneficiados eram
as mulheres de renda baixa, pois são as mães que precisam dele, mas toda a camada
pobre que através desse recurso tinha a oportunidade de alcançar uma melhora na condição
de vida; o crédito consignado, que permitiu à camada baixa um maior consumo, tanto dos
produtos básicos como alimentos quanto equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos; e o
aumento do salário
mínimo. Todos os três podem explicar uma forte adesão das camadas mais baixas à
candidatura de Lula, sobretudo após de 2006. Singer aponta para os dados estatísticos
mostrando que quando a intenção de voto era para o candidato do PT, a possibilidade do
eleitor ser participante de algum dos programas criados no seu governo era mais alta. Com
o escândalo do Mensalão houve uma desagregação da classe média da figura de Lula,
ocorrendo um retorno para o PSDB.
Já ao final do capítulo, André Singer aponta para desideologização fruto de uma política
que abarca as classes que possuem características opostas em que uma possui mais
tendências à esquerda e a outra à direita. Conforme Lula vai se unindo e aliando com os
setores da burguesia, a população cada vez mais tem dificuldades de se classificar
ideologicamente, ocorrendo, desse modo, dúvida em qual posição política ter. É apontado
que o PT não acompanhou as transformações de base ocorridas com Lula, enquanto ele
chamava mais atenção dos que têm menos, a bancada federal continuou associada àqueles
que estão localizados em um maior índice de IDH.
Evidencia-se, portanto, que o realinhamento ocorrido a partir de 2006 causou mudanças
na base do PT, visto que a classe média teve seu voto direcionado para o PSDB e o que
Singer chama de ‘‘subproletariado’’ passa a ocupar esse espaço, tornando-se a base lulista
que está de acordo com as ideias do Lula reformista, anterior a sua fase ‘‘Lula paz e amor’’.