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No dia 10 de Março de 2008, o presidente Luís Inácio Lula da Silva junto com o Congresso
Nacional sancionaram a Lei nº 11645. O intuito fundamental era incluir no currículo oficial da rede
de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, não encontraram o tão cobiçado ouro e nem
prata, muito menos reinos perdidos habitados por monstros gigantescos conforme
acreditavam devido as superstições e o paganismo que rondavam na Europa daquela época.
Os indígenas que habitavam o Brasil eram muito mais diversos do que os portugueses
haviam imaginado. Por isso, os colonos separaram os indígenas classificando-os em Tupi-
Guarani e Tapuias. Os Tupis foram assim classificados devido as semelhanças linguísticas e
constituía uma série de grupos que ficavam nas regiões litorâneas que são eles:
Tupinambás, Tupiniquins, Tupinaê e Guaranis. Já os Tapuias ocupavam regiões mais
interioranas. Podemos dizer que os portugueses se apropriaram na diferenciação que os
Tupi-Guaranis faziam em relação aos outros grupos.
Entre os Tapuias, um dos povos mais estudados é o Aimoré devido à frequente resistência
imposta ao aldeamento e catequese portuguesa. Esses indígenas eram seminômades e não
praticavam a agricultura. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que
ocasionou em importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos
Tamoios).
Por um outro lado, a nudez dos índios e a falta de algumas letras em seu alfabeto
constrangeu os colonos portugueses. Tais constatações dentre outras chamaram atenção
dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa Portuguesa só passou a se importar com a
colônia a partir de 1530, desde os primeiros anos de contato, diversos religiosos, sobretudo
os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas que ficou conhecida
como catequese. Os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos para
serem batizados, e para receberem os primeiros ensinamentos católicos, além de ler e
escrever. O aldeamento era fundamental para que os índios passam a ter uma estrutura
sistemática com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega defendeu o aldeamento
porque, segundo ele, os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram
convertidos, logo voltavam para “sua rudeza e bestialidade”. O índios também eram
treinados para exercer ofícios como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Após os treinos, os
índios passavam a trabalhar para os colonos. Em seguida, os aldeamentos passavam por
processos econômicos.
Foi a partir de 1530 que os portugueses começaram a se dar mal nas concorrências do
comércio lá nas índias, além de perceberem também que suas terras americanas estavam
sendo invadidas por outras nações europeias. Portanto, a primeira medida tomada para não
perder os territórios americanos ocorreu em 1534, com o estabelecimento das Capitanias
Hereditárias. A América Portuguesa passou a ser dividida em dezesseis grandes faixas de
terras que são as capitanias hereditárias. Mas este lance de dividir o território em grandes
faixas de terra tornou-se ineficiente porque muitos donatários não cumpriam suas
obrigações, e tinham outros que nunca colocaram os pés no Brasil. Então, em 1548, foi
levantado o Governo-Geral que foi uma tentativa de centralizar a administração na
América Portuguesa.
Tomé de Souza foi o primeiro governador geral do Brasil e ficou responsável pela
construção da cidade de Salvador, na capitania da Bahia, onde seria a sede do governo-
geral. A capital colonial estava localizada em um ponto estratégico, pois estava mais
próximo da Metrópole e, também, mais próximo das principais regiões produtoras do
açúcar. Esta estratégia facilitou na produção e exportação do açúcar, garantindo o
exclusivismo português.
Se para os jesuítas e para a Coroa Portuguesa os índios eram como gentios (passíveis de
salvação), para os colonos das capitanias de São Tomé e São Vicente (autóctones) os índios
passaram a ser vistos como negros da terra. Portanto, os índios foram escravizados na
expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. Nas Capitanias do Sul, a Lei de
Liberdade do Gentio (de 1570) foi algo insignificante. De acordo com o historiador John
Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII, era cada vez mais frequente o número de
expedições que assaltavam aldeias escravizando os indígenas. Isso porque os paulistas não
se inseriram no circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam
trabalhar em suas lavouras.
Entre os anos 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza armou uma série de
expedições em busca de metais preciosos. A vertente paulista, chefiada por João Pereira
Botafogo conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, engordando
o olho português. Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em
abundância, as expedições apresentou um produto para os colonos: os escravos indígenas.
Então, a busca pelo ouro deu lugar ao aprisionamento dos índios, pois a procura por
metais preciosos frente à Coroa Portuguesa baixava inúmeras leis proibindo a escravização
de indígenas. Os colonos de São Paulo fizeram de suas expedições em verdadeiras
empreitadas escravizadoras. Praticamente toda a mão-de-obra das capitanias do sul era
formada por índios escravizados.
Diante dessas circunstâncias, os maiores opositores das expedições foram os jesuítas e
outros religiosos responsáveis pela evangelização dos índios. Embora os índios
trabalhassem em condições ruins nas missões e aldeamento, ali não havia um discurso ou
prática da escravização. Centenas de aldeias foram destruídas e milhares de índios foram
reduzidos ao cativeiro. O padre Lourenço de Mendonça registrou que as expedições no Rio
de Janeiro levaram 60 mil guaranis para São Paulo como escravos. As campanhas realizadas
por colonos paulistas ficaram conhecidos como Movimento Bandeirante. Por um outro
lado, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos missionários recorrendo
diversas vezes ao rei português a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos paulistas.
Um outro fator que também começou a dificultar o movimento Bandeirante foi o aumento
das distâncias. O sertão era cada vez mais distante, o que encarecia muito a organização das
expedições que necessitavam de pólvora, chumbo, correntes e índios escravizados.
O açúcar produzido da cana era um gênero tropical e por isso mesmo teria grande
demanda na Europa;
Clima quente;
Chuvas constantes;
Solo fértil;
Abundância de rios;
As árvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;
Por um outro lado, para que todo esse empreendimento desse lucro, era necessário que a
produção fosse a mais barata possível. E foi no contexto mercantilista que a escravização
era a melhor opção para a produção do açúcar. A escravidão foi uma instituição que
ordenou boa parte das dinâmicas da sociedade da América Portuguesa. De um lado temos
os índios escravizados utilizados em pequenas e médias produções e, do outro, os africanos
e seus descendentes utilizados nas atividades envolvidas com o mercado externo, como a
produção do açúcar e a mineração.
A partir do último quartel do século XVI, a escravidão indígena passou a ser, em parte,
substituída pelos africanos escravizados devido aos seguintes fatores:
O valor do escravo africano, em meados do século XVI, era relativamente baixo, o que o
tornava acessível para muitas pessoas. E, além disso, o escravo africano representava um
investimento, pois, depois de três ou quatro anos, o senhor conseguia recuperar, por meio
do trabalho escravo, o que havia pagado por ele e continuava usufruindo do seu trabalho
por muito mais tempo. Lembrando que em uma terra totalmente desconhecida, o escravo
africano também tinha dificuldades de realizar fugas ou revoltas. Em relação aos escravos
africanos, a Igreja Católica acreditava que os negros africanos não tinham alma. Por isso, o
trabalho como escravo seria uma espécie de purgatório em vida para que depois da morte
esses homens e mulheres pudessem subir ao reino dos céus.
Após a longa travessia do tráfico negreiro, a situação de boa parte dos africanos era
péssima. Os que conseguiam chegar “bem”, passavam por um breve exame médico e eram
rapidamente vendidos. Já os mais fragilizados, principalmente aqueles que haviam
contraído escorbuto, passavam por um processo de quarentena em galpões localizadas na
região portuária. Eles eram tratados para recuperar suas forças o mais rápido possível.
Quando recuperados, eram levados para os mercados onde seriam comprados. Devido as
condições precárias da viagem, muitos escravos preferiram a morte do que trabalhar como
escravo, pois acreditavam que a morte significava o retorno à sua terra natal, junto a seus
ancestrais. Logo, os escravos recebiam ensinamentos básicos do catolicismo em termos de
conduta e, também, algumas palavras em português.
A alimentação desses escravos era composta apenas por farinha de mandioca ou milho,
uma porção de carne salgada e, as vezes, um pouco de feijão – o básico para o sustento
humano. As roupas eram feitas de panos de algodão simples e deveriam durar ao menos
um ano. O escravo que adoecia era deixado à própria sorte, pois era mais vantajoso
comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo. Além dos acidentes e as condições
insalubres de trabalho, o escravo ainda recebia chibatada caso não alcançasse a quantidade
estipulada de feixes de cana ou cestos de grãos de café. Nas regiões mineradoras, o escravo
era obrigado a passar o dia inteiro com parte do corpo submersa nos rios e córregos para
realizar o garimpo do ouro.
A Igreja Católica foi uma das mais importantes instituições da história do Brasil. É possível
afirmar que ela foi uma das responsáveis pela chegada dos portugueses no Novo Mundo,
bem como por parte das políticas coloniais adotadas pela metrópole. Desta forma, todos os
que habitassem a América Portuguesa – índios, africanos, portugueses, escravos e livres –
deveriam ser católicos. As intervenções da inquisição durante o período colonial apontam
que a Igreja levava a sério a obrigação de cuidar de seu rebanho e de assegurar que ninguém
desviaria dos propósitos divinos. Grupos indígenas eram catequizados (as vezes à força), e
os africanos eram batizados e recebiam um nome cristão que deveriam levar até a morte.
O índio que recebia o título de pajé ou de xamã devido às suas relações com forças
sobrenaturais, gozava de posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos
principais inimigos do movimento de catequese. Ainda que os missionários tentassem
acabar com os poderes que os pajés tinham, eles não conseguiram desconstruir os rituais
religiosos de muitos indígenas com os quais entraram em contato. Houve então uma
espécie de sincretismo entre os propósitos cristãos com as crenças e práticas indígenas
originando-se a “Santidade”. Este fenômeno era um culto sincrético e messiânico onde os
índios questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. Esses
“santos” teriam poderes de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas.
Para chegar a esse nível, era necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam
durar dias com muita bebidas alcoólicas e o uso de tabaco. O mais interessante é
reconhecer as contribuições católicas deste movimento. A “Santidade” demonstrou como
os índios entraram em contato com os portugueses e souberam reler os interesses e crenças
cristãos sob uma nova ótica. Com o tempo, os escravos africanos aumentaram e as
epidemias também. Então, a “Santidade” foi perdendo parte de seus seguidores, dando
lugar a outras formas de resistência indígena.
Os escravos africanos também levantaram uma série de práticas que visava resistir à
escravidão por meio de releituras religiosas. A história das Irmandades Religiosas remonta à
Idade Média – onde devotos de determinados santos criaram, com o aval da Igreja
Católica, organizações com o objetivo era fazer caridade e ampliar a fé cristã. As
Irmandades Negras criadas no período colonial seguiram o mesmo ritmo, levantando
ofertas que seriam revertidos em festas, rituais fúnebres e missas das igrejas. A grande
diferença dessas irmandades é que a maioria eram escravos e/ou libertos e, também,
adoravam santos negros com Nossa Senhora do Rosário, Santo Elesbão, Santa Ifigênia e
São Benedito. Muitos senhores e a própria Igreja Católica viam com bons olhos a formação
das Irmandades Negras, pois acreditavam que esta era mais uma forma de controlar a
população escrava e liberta, já que os negros passariam a compartilhar a mesma religião que
seus proprietários ou ex-senhores. As Irmandades também foram importantes espaços de
sociabilidade para negros cativos e alforriados. Os membros criavam laços de amizades,
parentesco e, sobretudo, solidariedade.
Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período
escravista e foram fortemente combatidas, como o caso da Umbanda. Juca Rosa, um
liberto e filho de uma escrava da Costa Ocidental, é apontado pela historiografia como um
dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde, daria origem à Umbanda. O feiticeiro
não era visitado apenas por escravos e libertos, mas também por muitas pessoas ilustres da
Corte do Império do Brasil para curar doenças do corpo e da alma. E, assim como Juca,
outros homens e mulheres fizeram da religião não só uma ferramenta de construção de
identidade, mas também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.
Resumo da Aula 05 – Formas de Resistência ao Poder Escravista: Fugas,
Rebeliões, Quilombos e Negociações – As Reações Variadas dos Detentores
do Poder
A fuga foi uma das formas mais utilizadas para resistir à escravidão, sendo uma estratégia
de resistência tão frequente que os senhores utilizaram diferentes formas de lutar contra
ela. Nas regiões rurais, haviam os capitães do mato que recapturava os escravos refugiados.
Já nos centros urbanos, a captura de escravos era trabalho da polícia. A captura de um
escravo foragido valia até recompensas. Quando o escravo era capturado, o senhor
costumava aplicar castigos físicos violentos e o obrigava a usar uma gargalheira que servia
como símbolo de escravo fugido.
As fugas tinham como objetivo a reivindicação escrava por melhores condições de vida. Os
escravos que estivessem trabalhando mais que o normal poderiam realizar pequenas
escapadas e só retornar para o seu senhor mediante algum tipo de negociação. Cativos que
também eram impedidos de festejar ou de visitar famílias também recorriam a fugas para
conseguir estabelecer acordos com seus senhores. Haviam fugas que tinham como objetivo
negar a escravidão. Os escravos abandonavam a propriedade senhorial e, individualmente
ou em grupo, iam buscar formas alternativas de viver fora do cativeiro.
Nos Quilombos, os escravos refaziam suas vidas construindo famílias, laços de amizades,
plantavam, criavam animais e chegavam a comercializar com povos indígenas que
habitavam as redondezas ou, então, com os vilarejos próximos. Palmares, o mais conhecido
quilombo da história brasileira, se formou durante o século XVII nas adjacências da zona
da mata pernambucana, local de intensa produção de açúcar e, consequentemente,
significativa concentração de cativos. A região das minas, que possuía maior concentração
de escravos no século XVIII, também foi palco da formação de muitos quilombos. Os
quilombos mineiros não só expunham a fragilidade do controle de escravos na região, mas
também causavam grandes transtornos para as vilas e cidades. As autoridades de Vila Rica
(atual Ouro Preto) recebiam constantes queixas de que quilombos haviam roubado
propriedades ou então estavam impedindo a passagem em algumas estradas que ligava o
perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios.
Na tentativa de destruir tais comunidades, as autoridades passavam para o capitão do mato
uma figura de poder, armaram milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram
os comerciantes que negociassem com os quilombolas. Em momentos de crise, chegou a
ser autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas mãos decepadas.
Voltando para os negros africanos, as rebeliões armadas também foram utilizadas junto
com os seus descendentes. A punição para os escravos e libertos envolvidos em
conspiração de levantes era extremamente violento. Os líderes recebiam a pena capital. O
trabalho forçado nas galés, a deportação para a África e a aplicação de centenas de chibatas
eram outras punições possíveis para os demais revoltosos. Podemos citar a Conjuração
Baiana, um movimento de caráter popular ocorrido na Bahia no ano de 1798 e que tinha
como inspiração os ideais defendidos na Revolução Francesa (1789). No início do século
XIX, a Bahia continuou sendo palco de diversas revoltadas chefiadas por escravos
africanos. A revolta mais importante foi a Revolta dos Malês (1835).
As resistências à escravidão são inúmeras! Infelizmente não temos espaço para tratá-las de
todas aqui.
O uso dos braços escravos ainda se fazia sentir em diferentes aspectos da sociedade,
inclusive nos primeiros pelotões que compuseram o exército brasileiro no confronto bélico
que mudaria os rumos da história do Império: a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse
também foi um período de intenso debate sobre a identidade brasileira. O movimento
indianista foi uma das peculiaridades do Romantismo Brasileiro. Na falta do cavaleiro
medieval, coube ao índio (aldeado e civilizado) cumprir o papel de “bom moço” da história
brasileira, mostrando ao mundo um herói tipicamente brasileiro. No entanto, ao consagrar
o índio domesticado como símbolo do Brasil, o indianismo elegia uma determinada
memória que deixava de lado grande parcela da população brasileira, que passava a ser vista
como inferior.
Até a produção das primeiras análises da década de 1930, praticamente todas as obras que
se propunham examinar a sociedade ou a história brasileira esbarravam no problema da
raça. Esse lance de raças por meio da definição científica acabou reacendendo os debates
sobre a sua origem. O principal embate se dava entre monogenistas e poligenistas.
Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as
diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria
cristã), os poligenistas, baseados em estudos de cunho biológico, acreditavam na existência
de diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos humanos.
Nomes de cientistas como Andrés Ratzius, Cesare Lombroso e Paul Broca ficaram
conhecidos na época, graças à ampla divulgação de seus estudos. Mas foi “A Origem das
Espécies” de Charles Darwin que o debate tomou novo fôlego em 1859. Então o lance de
raças sofreu duas significativas alterações. De um lado, a ideia de raça ultrapassou o campo
biológico e chegou nas discussões políticas e culturais. Por outro, o termo passou a
imprimir a noção de evolução às duas correntes que discutiam a origem do homem:
monogenismo e poligenismo.
Neste contexto, três intelectuais brasileiros se destacaram no quadro das ciências sociais do
país: Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Tais intelectuais identificaram a
diversidade racial como o entrave para que as palavras ordem e progresso, estampadas na
bandeira do Brasil República, de fato se transformassem em prática social. Esse três autores
viam a fusão de três raças como o elemento causador da desigualdade e do atraso brasileiro:
o branqueamento foi a principal delas.
Ainda em 1930, temos o intelectual pernambucano Gilberto Freyre que levantou uma
abordagem diferenciada sobre a história do Brasil, sobretudo no que diz respeito às
relações raciais. Em 1933 publicou ele publicou uma obra chamada Casa Grande e Senzala.
Uma obra que não só rompeu com o discurso racialista reinante nas ciências sociais
brasileiras, como também apontou um novo olhar sobre o país. Freyre dizia que a
formação brasileira era um processo resultante do equilíbrio de antagonismos, fossem eles
econômicos, sociais, políticos e até mesmo geográfico. O Brasil nascera de uma tecnologia
indígena empregada na produção da mandioca, do leite das amas negras que alimentaram
os meninos das famílias tradicionais, das experiências sexuais desses mesmos meninos com
as mulatas do país. Na realidade, para Freyre, a mestiçagem era a brasilidade.
A Democracia Racial serviu muito bem aos interesses políticos do governo getulista que,
embora difundisse a ideia do Brasil como um país desprovido de discriminação racial,
deixava muito claro que cada raça tinha um lugar determinado a ocupar na sociedade
brasileira. Só assim, a harmonia defendida por Freyre continuaria reinando.
Ainda que diante dos estudos apontados tenham seguidos métodos científicos distintos,
ambos foram eficazes em apontar que a harmonia das três raças brasileiras era uma farsa.
Resumo da Aula 08 – Herança Indígena e Sua Inserção Efetiva no Brasil
Contemporâneo
Em 1992, o Estado do Rio de Janeiro recebeu a ECO 92. A ECO 92 foi uma conferência
que inaugurou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla
conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de
responsabilidade dos países desenvolvidos. A questão do indígena também ganhou espaço
no debate, pois qualquer debate sobre meio ambiente no Brasil precisa levar em
consideração as agências desses sujeitos.
A catequese foi outro instrumento de colonização que desestruturou boa parte dos povos
indígenas. Embora muitos missionários objetivassem levar a verdadeira fé aos índios, e em
muitos casos tenham defendido os indígenas, a conversão ao catolicismo, a criação de uma
língua geral eram indícios de que o contato entre portugueses e índios estava criando novas
formas de sociabilidade. Os únicos grupos que não tiveram suas línguas alteradas foram os
Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina).
Findo do período colonial, os índios continuaram fazendo parte da história brasileira. Entre
os séculos XIX e XX, sociedades indígenas foram trabalhar na busca pelo látex, bem como
os movimentos exploratórios da região amazônica. E foi neste contexto que o positivista
Marechal Rondon despontou no quadro nacional. Rondon tornou-se responsável pela
Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Goiás ao Mato Grosso. Para isso,
Rondon abriu caminhos e desbravou terras entrando em contato com diversos povos
indígenas como os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, entre outros. Entre os
anos de 1907 à 1915, Rondon estava construindo a ferrovia Madeira-Mamoré, que junto
com o desbravamento e integração telegráfica ajudaram a ocupar a região do atual estado
de Rondônia. Nesse tempo, Rondon dirigiu o Serviço de Proteção aos Índios (1910) com o
objetivo de proteger os índios da escravização. Como chefe da SPI, Randon comandou e
traçou roteiro da expedição que o ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, fez pelo
interior brasileiro entre 1913 e 1914, que ficou conhecida como a Expedição Roosevelt-
Rondon. Além disso, Rondon publicou o livro Índios do Brasil, em três volumes.
Incansável defensor dos povos indígenas do Brasil ficou famoso por sua frase: “Morrer, se
preciso; matar, nunca“. Rondon teve seus trabalhos reconhecidos pelo governo brasileiro e
o estado recebeu o nome de Rondônia para a sua homenagem.
Em 1939 foi instituído o Conselho Nacional de Proteção aos Índios que permitiu os
antropólogos atuassem na formulação das políticas indígenas brasileiras. Além disso, a
proposta de registrar minuciosamente as expedições acabou por contribuir com a formação
da antropologia no Brasil e das coleções de cultura material indígena dos museus brasileiros
e estrangeiros. Em 1967 foi fundada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), cujo
principal objetivo era servir como tutora dos índios brasileiros. Uma das questões mais
trabalhadas pela FUNAI é a demarcação das terras indígenas. Na legislação brasileira terra
indígena é “a terra tradicionalmente ocupada pelos índios, por eles habitada em caráter
permanente, utilizada para as suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos
recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e para à sua reprodução física e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradições“. Por um outro lado, a noção de terra e território
dos grupos indígenas é muito mais fluída do que a lei brasileira determina. Pois a maior
parte dos índios eram nômades ou seminômades o que, por si só, já aponta outros usos e
significados da terra para esses povos.
Resumo da Aula 09 – Movimento Negro e a Busca de Outra Memória
Afrodescendente
João Cândido foi um marinheiro negro que marcou uma revolta na marinha brasileira na
década de 10. Na época, o uso da chibata como castigo na Armada Brasileira já tinha sido
abolido nos primeiros atos do regime republicano. Mas, na prática, os marinheiros que
eram em sua grande maioria negros e mestiços, continuavam a receber tais punições. Era
um claro resquício da escravidão. O estopim da Revolta ocorreu no dia 16 de novembro de
1910, quando foi publicado nos jornais brasileiros que o marinheiro Marcelino Rodrigues
de Menezes havia sido punido com 250 chibatadas aplicadas na frente de toda a tripulação
do Encouraçado Minas Gerais. Seis dias depois, João Cândido, um marinheiro e filho de
ex-escravos, liderou tripulações de diferentes embarcações em todo o Brasil e fizeram um
levante por meio do qual reivindicavam a abolição da chibata na marinha. A cidade do Rio
de Janeiro estava sob a mira dos canhões da marinha e, caso as reivindicações não fossem
atendidas, a cidade seria atacada. Em meio a inúmeras tensões e negociações, as autoridades
brasileiras se comprometeram em acabar com as punições e terminaram o levante. Mas,
infelizmente, ainda que o Congresso tenha votado pela anistia dos marinheiros envolvidos,
grande parte dos sublevados foi presa ou morta pelas próprias autoridades. O líder João
Cãndido ficou alguns anos preso na Ilha das Cobras e, depois, foi expulso da marinha. Ele
faleceu em janeiro de 1969, esquecido por seus contemporâneos. A história de João
Cândido demonstra uma das milhares de lutas que milhares de afrodescendentes tiveram
que experimentar, em busca de melhores condições de vida, em um país marcado pelas
diferenças raciais.
No ano de 1871, o Senado Brasileiro aprovou A Lei do Ventre Livre que determinava que
a partir daquela data (28/09/1871) todas as crianças nascidas de ventre escravo seriam
livres. Os senhores ficavam com os recém-nascidos até completarem oito anos de idade.
Logo em seguida, o senhor de sua mãe poderia escolher receber 600 mil réis do governo e
dar a liberdade para a criança, ou utilizar os serviços dessa criança até ela completar vinte e
um anos. Apesar do direito em que o senhor tinha de ficar com a criança, a Lei do Ventre
Livre deu mais força para os abolicionistas. Em 1879, André Rebouças fundou a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão e Joaquim Nabuco, junto com José do Patrocínio, criou a
Confederação Abolicionista. Os poemas de Castro Alves também denunciavam as
atrocidades da escravidão transformaram em armas na luta abolicionista.
Em 1885 foi promulgado a Lei do Sexagenário que determinava que todos os escravos com
mais de sessenta anos estariam livres automaticamente. Mas essa lei pouco mudou o
quadro social fomentado pelos abolicionistas e escravos.
Por fim, no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha do Imperador D. Pedro II que
estava ausente, assinou a Lei Áurea, na qual foi “declarada extinta desde a data dessa Lei a
escravidão no Brasil“. A abolição da escravidão era apenas uma das etapas na luta por
igualdades sociorraciais no Brasil. A fim de combater práticas racistas entre o final do
século XIX e começo do século XX, trabalhadores e intelectuais negros de diferentes
localidades do Brasil começaram a se organizar para discutir a discriminação sofrida. Em
São Paulo, foram fundados o Centro Cultural Henrique Dias, a Associação dos Brasileiros
Pretos e o Grêmio Dramático Recreativo e Literário “Elite da Liberdade”. Em 1931, foi
fundada também em São Paulo, a Frente Negra Brasileira (FNB) que objetivava integrar a
população negra na sociedade, seguindo os padrões vigentes. A FNB proporcionou a
alfabetização de centenas de negros e criou cursos de costura para que as mulheres negras
pudessem se inserir no mercado de trabalho. Todavia, graças a sua vertente partidária, a
FNB, assim como outros jornais da imprensa negra, foi fechada a mando de Getúlio
Vargas em 1938.
O fechamento da FNB e dos jornais negros não representou o fim da luta da população
negra. Em 1944, Abdias do Nascimento fundo o Teatro Experimental do Negro (TEN)
recuperando heranças africanas como o candomblé, e promovendo congressos para
mostrar ao Brasil talentosos atores, poetas, bailarinos e músicos negros, incomodando
muitas emissoras de televisão e jornais do Brasil. Quatro anos depois, Abdias e outros
intelectuais negros fundaram o jornal Quilombo. Os membros do jornal tinham um grande
diálogo com os movimentos internacionais que combatiam o racismo, inclusive o Pan-
africanismo, e com importantes lideranças negras dos Estados Unidos envolvidos na luta
pelos direitos civis dos negros estadunidenses.
Em 1980, foi fundado o Movimento Negro Unificado que trabalham com a dupla
discriminação sofrida pelas mulheres negras. O combate desses movimentos fizeram com
que intelectuais negros e brancos tivessem que revisitar a história brasileira para acabar com
a ideia de que o Brasil era um país sem racismo. Outra importante ação desses movimentos
foi recuperar importantes figuras negras da história do Brasil, como Zumbi dos Palmares.
Em 2009, uma pesquisa realizada pela USP concluiu que o Brasil não é um país racista, mas
um lugar onde existe racismo. Dentre as pessoas entrevistadas, 97% afirmaram não ter
nenhum tipo de preconceito racial, mas 98% afirmou conhecer alguém que pratica ou já
praticou discriminação racial. Tal constatação é uma contradição, que acaba se tornando a
base das relações raciais no Brasil.
Maxixe, forró, maculelê, baião, frevo, pagode e o afoxé são outros ritmos musicais criados
a partir de instrumentos e ritmos vindos da África e recriados no Brasil. Com o passar dos
anos, temos também o Carnaval que foi influenciado por cada região brasileira. No campo
das artes plásticas também é possível observar forte presença da população negra, seja ela
objeto ou sujeito das obras.
Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (IBGE, IPEA, etc) indicam que a
população brasileira está cindida por uma significativa desigualdade que se expressa por
meio da cor. Os índices mostram que a diferença salarial, a população carcereira, a entrada
nas Universidades Públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo racial.
Em 1985, foi aprovada a Lei do Caô, em homenagem ao seu formulador. Esta lei inclui,
entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor,
de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei Afonso Arinos. A necessidade de
formular e aprovar tais leis, aponta que as práticas racistas ainda vigoravam no país.
Quando a liberdade política foi reinstaurada e um novo acordo social foi firmado, a luta
contra o racismo foi apontada em diferentes momentos da Constituição Brasileira de 1988.
Mediante a essas leis, temos os sistemas de cotas que reservaria uma parcela das vagas
oferecidas pelas universidades para pessoas que se auto classificassem como negras, pardas
ou indígenas. Porém, essa é uma questão que ainda está longe de ser encerrada e, cujo
debate, é fundamental para a criação de um Brasil que não faça distinções de seus
habitantes.