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Direito Administrativo

Sciencia tia Adm·inistração

TYP. DA EMPR. LlTTER. E TYPDGRAPHICA


9./ (Ollicinas movidas a eJectricidade) ~
RUA DA BOA VISTA, 321 • PORTO. 1818

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Direito Administrativo
E

.Sciencia da Administração
POR

OLIVEIRA SANTOS
(Da Academia de Altos Estudos, hoje Faculdade de Phllosophla e Letras)

Prefacio do Conde de Affonso Celso, membro


da Academia de Letras

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JACINTHO RIBEIROPOS SANTOS
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PREfACIO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Materia ardua e complexa - Excellente livro sobre o assumpto

É rudimClltar para os cultores da sciencia juridica


que o Direito Politico, ou Direito Publico, no seu sentido
mais lato, - JUs quod ad statum rei publicae spectat-,
segundo a definição das lnstitutas, divide-se, de ordina-
rio, em tres partes' principaes :
Direito Constitucional; Direito Publico propria-
mente dito, ou organico, e Direito Administrativo.
Este ultiino é o que regula a acção' dos grandes po-
deres do Estado e abrange o conjundo de medidas ne-
cessarias para chegar-se á execução do Direito politico,
privado e pCllal.
Ha uma relaçao intima, - diz P. Namur, no seu
Curso de EncycIopedia de Direito, - entre o Direito
Constitucional, o Direito Publico, ou organico, e o Di-
reito Administrativo.
A Constituição estabelece os principios fundamentaes
da o/'ganizaçãosocial,' o Direito Publico os organiza em
- 6--

seus pormenores,' o Direito Administrativo procura rea-


lizar o Direito na vida pratica
Formula-se, principalmente, em decretos, regulamen-
tos, posturas, avisos, instrucções, despachos, emanados
de diversas auctoridades competentes e determinando as
medidas necessarias para assegurar o serviço publico, o
jogo regular das instituições do Estado.
Innumeros são esses decretos, regulamentos, postu-
ras, avisos, instrucções, despachos, o que torna muito
dilficil o estudo de Direito Administrativo, sobretudo nos
paizes em que esse Direito não foi ainda codificado em
seu conjuncto, codificação que alguns auctores julgam
quasi impossivel, no actual e.stado da sciencia.
Para· comprehender aquella dijJicu lda de, basta con-
siderar as subdivisões que se costuma fazer no Direito
Administrativo:
Direito Administrativo propriamente dito e Direito
Administrativo judiciario.
Tem por objedo o primeiro a execução das leis con-
cernentes ao interesse geral ou collectivo; regulamenta o
segundo as leis de interesse privado e tambem as leis
penaes.
Ora, conforme a citada Encyclopedia, o Direito
Administrativo propriamente dito comprehende tres
objectos principaes:
1.0 - A organização da administração, isto é, das
auctoridades administrativas, encarregadas da execução
das leis de interesse geral, assim como as aftribuições das
diversas ordens de funccionarios que disso se occupam;
2. 0 - 0 direito de policia; 3.0-0 direito de finança.
7

o direito de policia abrange o conjuncto das regras


que teem por objecto a intervenção do Estado com o fim de
proteger os individuos e lhes favorecer o cumprimento do
destino: o seu desenvolvimento physico, moral e inteUectua!.
O direito de finança regula o que diz respeito ás
rendas publicas, ás despezas publicas e. á contabilidade
do Estado.
Quanto ao Direito Administrativo judiciario, com-
prehende tambem tres objectos principaes:
1. 0 - A organização judiciaria, isto é, a composição
e a hirarchia das côrtes e tribunaes, bem como as attri-
buições dos funccionarios respectivos;.
2. 0 - A jurisdicção e a competencia das côrtes e tri-
bunaes; a determinação dos poderes de cada um delles;
3.° - O processo, isto é, as regras que se devem
observar para obter-se justiça, quer em materia civil, quer
em materia penal.
Como se vê desta rapida e incompleta synthese, o
Direito Administrativo é materia ardua, complexa, a exi-
gir em quem a estuda, e, sobretudo, em quem a lecciona,
especiaes faculdades de applicação, discernimento, expe-
riencia, de par com amplo conhecimento de todos os ra-
mos de actividade juridica.
Essas qualidades revelou-as, de modo cabal e bri-
lhante, o Dr. Manuel Porphirio de Oliveira Santos, que,
nomeado professor cathedratico da cadeira de Direito
Administrativo (3. 0 anil o do curso administrativo e finan-
ceiro da Academia de Altos Estudos, hoje Faculdade de
Philosophia e Letras), deu ali magnificas liçõe's, publica-
das no Diario Official e hoje colligidas em volume.
-8-

Havendo exercido. com a maior competencia espiri-


tual e moral, elevado cargo na magistratura da União;
o/ficial de gabinete do Cons~lheiro João Alfredo, no mi-
nisterio que realizou a abolição do captiveiro " provecto
advogado; profundo conhecedor das questões de ensino;
inspector fiscal do Governo junto á Faculdade de Direi-
to, ha mais de vinte annos; o Dr. úliveira Santos possuia
os melhores elementos, o mais solido preparo, para per-
feitamente desempenkar, como desempenhou, a pesada
tarefa, em boa hora a elle confiada.
A notaveis -dotes intellectuaes, .reune S. Ex. a eximios
predicados de cara.ctà e coração: a sisudez, a circum-
specção, o zeLo no cumprimento do dever, o escrupulo, a
delica~eza de consciencia, o profulldo amor da familia e
da Patria, tudo realçado por inexcedivel modestia e rc.-
rissimo desprendimento das vanglorias sociaes.
Dahi o manifestar-se, em pouco tempo, emerito pro-
fessor, desses que ellsinam com o dOidrinamento e o exem-
plo, impondo-se á estima e á veneração dos collegas e
discipulos.
As prelecções do Dr. Oliveira Santos recommen-
dam-se por muitos e variados motivos: o methodo, a cla-
reza, a sobriedade, a elegancia da exposição, a um tempo
substanciaes e attralzentes, leves e ponderosas.
Versando multiplos, controvertidos e relevantes pro-
blemas, quaes, por exemplo, os atti!lentes ás relações entre
o Estado e o individuo, ou entre a União e os Estados;
ás responsabilidades do Estádo; á divisão dos poderes;
á acção do Estado !lO domlnio economico;á illstrucção
publica; ao dominio dos bens publicos; á historiei' da
-9-

administração brasileira e dos paizes mais cultos, etc., o


Dr. Oliveira Santos sempre se manteve em levantado ni-
vel, esclarecendo duvidas, discutindo theses, expond6~fa­
ctos, suggerindo soluções, de evidente acerto.
Em certos pontos, procedeu a investigações originaes,
fez obra inteiramente nova, porque pouco, ou mesmo
nada se havia anteriormente escripto sobre a materia.
Mas o maximo valor do trabalho está no tom de
inexcedivel probidade e independenâa com que foi conce-
bido e executado.
Jamais dissimula.o auctor o seu pensamento; expen-
de-o constantemente, com a franquezl!, dignidade e isen-
ção de um homem de bem, que tem a coragem das suas
apreciações, sómellte sabe falar a verdade e· cultivar a
justiça.
Todo livro belio, bom e util é didactico, afJirmou um
. critico.
Por mais de um titulo, merece esse nobre qualifica-
tivo o do Dr. Oliveira Salltos.

AFFONSO CELSO.

Rio,' Junho -11- 919.


INSTITUTO HISTORICO
Academia de Altos Estudos
CADEIRA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

PRIMEIRi LICÃO .
Conceito do direito em these. O direito precede á lei, na qual
assenta principalmente a organização politica e administra-
tiva do Estado. Sciencia da administração.

:Meus senhores:
Na regencia da cadeira onde me collocou a generosidade
da douta Congregação desta Academia, eu me proponho a es-
tudar com os meus condiscipulos um dos mais vastos e inte-
ressantes ramos da sciencia juridica - o direito administra-
tivo como complexo de leis e como s~iencia da administração.
Ensinando-se tambem se aprende, tanto que alguem já
disse que ensinar é aprender duas vezes.
N otae, em primeiro logar, que a Academia de Altos Es-
tudos, tendo sido instalada em 25 de Março de 1916, só no
. 3.° anno da sua existencia podia inaugurar o ensino do di-
reito administrativo, ohjecto da 1.'" cadeira do 3.° anno, na
fórma dos seus Estatutos.
Por este motivo, sómente agora aqui se inaugura este
curso.
Grande honra, de certo, para mim, a coincidencia do ini-
cio. de minhas lições com eE>ta inauguração.
Desajuda-me, entretanto, o receio de não corresponder á
-12 -

vosea expectativa no desempenho do _encargo, que tantõ me


eleva.
Enchem-me, porém, de coragem estas confortantes pala-
vras de Picard:
ccÉ necessa1'io, de resto, liga?' mais importancia ás
idéas juridicas do que aos nomes humanos. Mais 1'ale O
pensamento do que a erudição.»
Eu não sei se me farei bem comprehender na interpre-
tação do pensamento da Academia quanto ao objectivo do seu
ensino e ao methodo nelle a seguir.
Se bem comprehendo o destino, os nns, a natureza
toda especial dos estudos que aqui se professam, penso que
não devo restringir. me, em minha lição inaugural (e nas que
se lhe seguirem) á simples propedeutica do direito adminis·
trativo e da sciencia da administração.
Com razão pondera Marnoco C) :
«E' um ponto muito melindroso do ensino livre a úrien-
tação a dar aos curS08. Digladiam-se (lous methodos sobre
cste assumpto) defendendo um a exposição de todo o pro-
gramma da cadeira, embora ligei?'amente, e pronunciando-se
o outro pela exposição de uma parte só do programma, mas
com, todo o desenvolvimento, estudando·se as matel'ias sob
todos os seus aspectos.»
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • li ••••••• ~ ••••••

c( O
unico melhodo admis5ivel no ensino do direito e das
scienciwI 80ciaes é aquelle que,' no estudo dum problema, não
deixa na sombra nenhuma das questões que este problema 8ltS-
cita. O ensino muito elementar do dir~to não dá resultado
algum, corno mostram as tentativas feita8 para ministrar no-
çõesjuridicas geraes aos alumnos dos institutos secundarios.»
A meu ver, esta Academia, além de ser uma brilhante
irradiação do ensino superior e livre no Brasil, é uma escola
de especialização de estudos.

(1) A Faculd. de Dir., pags. 140 e 14.1.


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'Seu objectivo, portanto, não póde nem deve ser- repe-


. tir aqui o que em outros instituto.s superiores se tem ensinado.
Outro deve ser, em todos os sentidos, o escopo do seu
ensino, o qual, visando a diffusão dá sciencia, da philosophia
e das letras, permitta, ao mesmo tempo, as mais altas inves-
tigações, no dominio do pensamento, a que possa attingir a
capacidade do professor.
É bem de ver que não se explicaria c menos se justifi.
caria o seu titulo, se aqui se ensinassem, na mesma medida,
as mesmas cousas que antes se têm: aprendido noutras Facul-
dades officiaes ou equiparadas.
Esta Academia não é positivamente uma escola que se
possa chamar universitaria; não é um estabelecimento de
conferencias didactical.', correspondente, por exemplo, aos se-
minarios allemães e aos colloquios italianos; mas, tal como
foi organizada, é um mixto dessas instituições, que tanto hão
contribuido para a diffusão, preparo e aproveitamento do en-
sino nos paizes que hoje, com justa razão, se consideram
mais cultos.
É, por consequencia, o quo se póde affirmar - uma ins-
tituição des~nada a levar á maior culminanciao ensino supe-
rior no Brasil.
O seu fim deve ser aprofundar o estudo das mais altas
questões que possam ser comprehendidas no quadro do seu
ensino.
É preciso, além disso, não esquecer que a maioria dos
que aqui vêm estudar não se compõe sómente de simples as-
pirantes ao curso secundario como preparo para estudos mais
elevados.
São, pelo contrario, homens instruidos e cultivadol'.
Muitos delles já são diplomados, e se aqui vêm é para
adquirirem, sobre determinado ramo de direito, de philosopbia
ou de sciencia, conhecimentos não comprehendidos em estudos
anteriores, e, portanto, complementares de sua educação sden-
tHica. .
- 14-


Preciso é, pois, que, na direcção deste curso, a par de
seu. objecto, eu attenda principalmente á conveniencia do me-
thodo a seguir em minhas prelecções.
Só assim (penso eu) se justificará a fórma, talvez dema-
siado complexa, do programma que organizei.
A este respeito, devo accrescentar que o desenvolvimento
que lhe dei obedece á natureza, toda especial, da organização
dada aos Estatutos desta Academia.
Contrariei assim, por força das razões que acabo de ex-
pender, idéas que antes eu propugnára em favor da simplici-
dade dos programmas na Faculdade que tenho a honra de
inspeccionar.
Não ha, entretanto, contradicção de minha parte entre o
que então defendi e o programma que formulei.
Indubitavelmente, na regencia desta cadeira, eu ficaria
áquem da minha missão se limitasse o ensino áquillo que or-
dinariamente se aprende noutras escolas de direito.
Tenho, portanto, que tratar das questões no que ellas
offereçam de mais interessante ao estudo dos factos sociaes,
a cujo respeito doutrina :M:arnoco:
([ O direito é um cOlljullcto de princípios que unica-
ment.e adquire vida em face dos factos,»
Na exposição de minhas lições, eu as submetterei, por
np.cessidade, a uma filiação logica de principios e idéas, sem
a qual a explanação dos pontos a discutir não poderá ser
facilmente comprehendida, clara e "adequada, como convêm.
Questão de metJ!odo, que, em materia de ensino, é a pri-
meira .condição da sua proficuidade c efficacia.
Sendo esta a orientação a que terei de obedecer na re-
'gencia desta cadeira, devo accrescentar:
O professor, especialmente de direito, deve ser mais do
que um simples commentador de textos e expositor (por
conta dos autores consultados) das suas theorias e doutrinas.
- 15

Deve ter em tlJ.do opinião propria o direito de critica.


Reservo-me, por isso, o direito de manifestar livremente
a minha opinião em todas as questões de que me occupar.
Não comprehendo, senhores, o exercicio do magisterio
sem esta liberd~de.
a. La haute science ne 8'allie bien qu'à la libel'té D; diz
Bluntschli (2).
Feitas estas cODsiderações, que julguei opportunas ao
inaugurar este curso, passarei a occupar-me do conceito do
direito em tliese, da precedencia deste em 1'elação á lei, da
organização politica e administrativa do Estado, e, por
ultimo, da sciencia da administração.

I - Para bem se determinar o conceito do direito em


these, é preciso primeiro considerai-o subjectivamente; isto
é, como direito-faculdade.
Será o ponto de partida do nosso estudo, por meio do
qual' procuraremos conhecer a genesis desse direito até o mo-
mento de objectirar-se e subdividir-se em direito admini8-
trati1'o como complexo de leis e como sciencia da adminis-
tração.
Ides ver que não é uma indagação puramente especu-
lativa o objecto do nosso estudo.
Ha neHe, de certo, outros pontos de vista, outros aspe-
ctos talvez mais curiosos e interessantes a examinar.
Esse estudo, visando o conhecimento da origem do ~i­
reito, só póde ser feito no vasto campo de sua PhiloBophia,
modernamente substituida por tres novas I!ciencias, que for-
mam, por assim .dizer, uma trilogia dos conhecimentos huma-
nos, abrangendo o cosmos; isto é, todo o universo, conside-
rado no seu conjuncto o1'ganizado e llarmonico.

(S) Bluntschli - Droit Publ., pag, 310.


- 16-

Mafl, nenhuma dessas scienciafil, que são o positivismo, o


evolucionismo e o monismo, nem todas conjunctamente se
avantajam á Philosophia do direito no exame do caso de que
nos occupamos (2 a).
Sciencias extranhas á especialidade do . mesmo, nunca
nos poderiam dar o conhecimento exacto e perfeito do que
seja o direito DO sentido subjectivo em que aqui o consideramos.

Donde provém e como se define o direito-faculdade?


Esta questão é, para nós, de importancia capital, mór-
ment'3 quando, na Republica, as reformas do ensino superior
supprimiram a cadeira de philosopbia do direito nos cursos
juridicos, para mais tarde (evidt:Dciado o erro), ser a mesma
restaurada pelo decreto n. 11.b30, de 1915, art. 177. (App.
n.O 1)
Nada menos de quinze definições se encontram em um
recente livro de Edmond Picard - (cO Direito Purol), que
eu considero uma especie de encyclopedia desta soiencia. (3)
Nenhuma deIlas, porém, dá o conceito do direito na
accepção que aqui tenho em vista e tal como eu o com-
pl'ehendo na sua origem.
Entre tantas definições discordantes, e, no gera], pouco
intelligiveis, debtacarei a do D. Romano, a quem cabe a pri-
mazia, já pelo seu grande valor historico, já pela poderosa
influencia por elle exercida na moderna legislação dos povos
mais cultos.
Vem do Direito Romano a distincção entre o direito po-
sitivo, que é o direito tal como se manifesta nos costumes,
e
nas leis nas decisões judiciarias (') e O direito natural,

(2 a)Vide A.ppenso n.O l' nó fim deste volume.


(3) Ed. Pical'd, obro cit., pago 30.
(4) Lui~ Bridd, Encyc. Jur., pago 35.
- 17-

que as Institutas de Justiniano definem: «Jus naturali est


fjuod natura' omnia animalia docet.".
S(', pois, o direito natural é realmente o que a natureza
ensina a todos os animaes, como affil'ma a definição, o
que se conclue é que não só o homem, mas todos os animaes,
são susceptiveis desse direito.
Se, antes dOe tudo, o direito subjecti'Co é um poder mo-
ral,. sp, no mundo, como bem pondera Bridel (illustre Pro-
fessor da Universidade Imperial de Tokio), exceptuando,se a
humanidade, não ha moral, fallar do direito dos cães, das
formigas ou dllS abelhas é ml~r:t insemmtez (5).
°A meu ver, pois, o direito, antes de ser a creação da lei,
pela necessidade da coexistencia dos homens em sociedade, é
uma condição ingenita á natureza humana.
lht>ring, em um dos seus ditos memoraveis, proclamou
esta grande verrlade: cada qual, ao nascer, traz o seu di-
reito comsigoD (Picard, obro cit., pago 39); e Cicero, antes
deUe, com extraordinaria agudeza de entendimento, já' havia
dito:
fIE' pela natureza do homem que devemos aprender a
natureza. do direito».
Isto explica o facto de começar o direito desde a conce·
pção do nascituro, para se integrar com o nascimento deste
com vida (6); nasce, portanto, o direito com a pesl'oa, sendo,
por isso, originariamente, a razão das leis impostas pelo po-
der publico e o fundamento de toda a justiça.
Delle deriva o sentimento do justo e do injusto, que
todo o homem possue. .
Na accepção em que aqui considero o Direito, ninguem
o crê a pela. vontade, pela lei, pela interferencia do Estado,
nem de ninguem (7).

(~) Luiz Bridel, obro cit., pago 36.


(6) Cod. Civ. Brasil., art. 4.0 (Vide ApP(,llso n. O 1.)
(7) Pical'd, obr. cit., pago 96.
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- 18

E' um poder, uma forçl, que existe latente e brota ex-


pontanea em todos os periodos da existencia do homem e e3-
tádios da vida facial.
Correspondendo a todo o direito uma obrigação, nasce
dahi o respeito, que todos lhe devem, bem como (; dever que
tem o Estado de proteger o mjeito desse direito, primeiro,
antes de vir á luz; depois (se nascido com vida), na sua me-
noridade, e d'ahi até depois de sua morte.
Em todo homem, poi~, existe o germen, a ·causll, o prin-
cipio fundamental do direito; de modo que, considerado sob
este ponto de vista, a existencia do direito n!ltllral é um
facto, antes do m·ais, attestado pela consciencia humana.
E, senão, eu pergunto:
Que força mysteriosa é estll, que impõe não EÓ re!'peito,
como obrigações quer para comnosco, quer pam com os nos-
sos semelhante!', a ponto de ser o homem con~iderado uma
causa sag1'ada para. o homem?
Depois, é de Kant este pensamento:
« O homem é llIn fim em si: não pódc, po1"lanlo, ser
tratadú como um meio. Pertence-se a I<i mesmo; é senhor de
Si-COMPOS SUl; é, por este titulo, uma peswa, e toda per-
sonalidade é inviolareZ" .
Quereis a prova di~so?
Supponde, diz Paul Janet, dous homens que se encon-
trassem num deserto, sem a nada serem obrigados por lei
positiva alguma. (8).
Teria um o direito de reduzir. á escravidi'i.o o outro?
Excusudo, senhores, seria responder negativamente a
esta interrogação; ella ebtarin, desde logo, na consciencia de
todos, inclusive dos proprios reaccionarios, que negam a exis-
tencia do direito natural!
Depois, donde provêm ~ egualdade do Direito, que, se

(8) Philosoph., voI. 2. 0 pag •. 164..


- 19

de facto não existiu em todos os tempo!", apesar disso, hoje


todo o mundo a reconhece e a prodama ~
Que denominação se deve dar ao direito de conservação;
isto é, o de não ser atacado na vida e no corpo; o de mo-
ver-se de um logar para outro; o de ser livre e não escravo;
o de pensar como entender; o de trabalhar; o de fruir os
bens de sua propriedade; o de constituir família e tantos ou-
tros?
Essa denominação só póde ser a de direitos naturaes,
alguns dcUes impl'escl'iptiveis e inviolaveis, como,_ por exem-
plo, os primigenios de vida e de liberdade!
IIl\lstremos ainda com outro exemplo esta affirmação.
Se eu supponho, diz Paul Janet, que tenho nas mãos um
martello e deaDte de mim uma creança adormecida, é indu-
bitavcl que, com esse martello, posso quebrar a cabeça dessa
creança. Não o farei todavia. E porque? Porque, embora
disponha eu de superioridade de força, alguma cousa existe
perante mim que me detem; um obstaeulo invisi vel, ideal,
mais forte que toda a. minha força; um poder mais poderoso
que todo o meu poder, que é bastante pára desarmar o meu
braço. Este poder, do qual aquella creança nem siquer tem
consciencia, este poder é o direito, que tem toda creatura vi-
vente da minha especie de conservar a vida, emquanto não
ataca a dos outros; Phil., voI. 2.°, pago 88.
D'ahi, affirmar Ahrens que esses direitos são os primi-
tivos, natUl'3.es ou absolutos, e que os mesmos se distinguem
perfeitamente dos direitos derivados ou secundarios, tambem
chamados condicionaes ou hypotheticos.
Professando estes principios, não vos devo occultar, que
alguns autores combatem a denominação de direitos do ho-
mem, dada pela Revolução Franceza aoS direitos naturaes,
vendo nisso como que o desconhecimento do muito que o
Christillnismo fez em pról dos direitos do homem e em bene-
Bcio da humaI,lidade.
Francamente, não vejo em" que possa merecer censura
*
- 20-

aquella denominação, ou o facto de ter a Revoluç!ão Frauceza


feito derivar a sobredita especie de direitos de wn elitado
de natw·eza.
Longe de negar e desconhecer a grande, a poderosa in-
fluencia do Christianismo, fazendo volver o homem ao Ser
Absoluto, como doutrina Ahrem:, 'fendo nelle o membro ","pi-
".itual de uma ordem superior e eterna e ele1 l UlI.do-o arima
de todas as formas tariaveis da sociedade civil e politica,
eu pemo que exactamente porque, até então, era descul,he-
cida essa dignidade do homem, fui que o Chrietianismo com·
bateu e reformon os barbaros costumes da antiguidade, abrin io
uma nova era de tolerttncia e respeito, de justiça e dc paz
para todos os povos.
A censura, portanto, cabe ao syr:;tema, qne, esquecendo
o principio divino e eterno da personalidade humana, antepõe
ao mesmo o da primazia e da omnipoteneia do Etltado!
Desse principio, a conseqllencia é a sujeição absoluta,
quasi eseravizadorá, do individuo a esse poder absorvcnt"I
que, desde a origem, é apenas o meio e não o fim da exis-
tencia humana, principio superior ao da existencia do mesmo
Estado.
Examinae e vereis, que o principio da omnipoteneia do
Estado, modernamente erigido em dogma poli'tico por Bodin,
Loyseau, Lebret, Domat e outros, não só desvirtua, como
tende a anniquilar o direito, que passa a ser substituitlo pelo
imperio da força nas sociedades actuaes.
Esta questão é uma das mais transcendentaes do Direito
Publico, com o qual, como estaes vendo, tem intimas ligações a
Philosophia do Direito, e tambem o proprio Direito Adminis-
trativo, que, embora autonomo, não deixa de ser um ramo,
todo especial, daquelle Direito.
Della terei de occupar-,mc opportunamente na explana-
ção do 3.° ponto do nosso programma.
Por emquanto, bastará dizer-vos que os poderes do Es,.
tado, levados ao extremo pretendido pelo~ seus defensore8, 'é
- 21

uma das maiores aberrações, que tal doutrina póde pro-


duzir.
A prova está na pavorosa débacle, que ha quasi quatro
annos convulsiona o mundo, na qual se debatem as sociedades
actunes, vendo seus direitos cerceados, sendo delles espolia-
das, na paz como na guerra, pelo poder sem contraste do Es-
tado, que tudo avassala, Elubvertendo principios, tanto de or-
dem moral como de ordem social e politica, conflagrando os
povos e ameaçando a existencia dessas mesmas sociedades,
que já não parecem Nações civilizadas, mas povos dementa-
dos pela idéa de dominação, que se obstinam no erro, masca-
rando as suas intenções, que só attendem ás suggestões de
sua ampição e egoismo, e que assim se engalfinham numa
lucta de extermínio, nesse espantoso regresso de todos ao es-
tado da barbaria.
E deante desta verdade, como teve razão Hobbes, quando
affirmou que o homem é o lobo do homem!
Deixemos, pois, que os pseudo-defensores do desenvol-
vimento social e do seu progresso neguem ao individuo a
. posse de direitos inviolaveis.
Seus argumentos não convencem. As suas objecções se
resumem no seguinte: a diversidade das Zels e dos costumes
entre os differentes povos e a difficuldade de determinar
esses direitos, 1Jor estarem em constante opposição uns aos
outro!!.
A primeira dessas objecções responde com extraordina-
ria vantagem Fustel de Coulanges, qUe diz:
«A família não 1·ecébeu as suas leis da cidade. Se a ci-
dade tivesse estabelecido· o direito privado, é pro~·avel que o
~statuisse inteiramente di.1ferente daquelle que temos visto.»
.......................... . ", ...................... .
fiQuando ella principiou a escrever as su.as leis, já
achou o direito estabelecido, vivendo enraizado nos costumes,
forte (:omo a adhe.'lão ltniversa. Acceitou-o, não podendo fazer
de O1ltro modo, e nãu ousou modifical-o sen(io muito tempo
- 22-

dep01:s. O antigo direito não é obra de um legislador; pelo


contrario, irnpoz-se ao legislador. Nasceu expontaneamente
e completamente formado dos anNgos p1'incipios, que o cons-
tituiam. Derivou das cre?1ças religiosas, que eram admitti-
das univC'rsalmente na edade pn:miti1:a dos poros e que exer-
dam imperio sobre as inielligendas e sobre as vontades»;
Cid. Ant. tom. 1.0, pag, 142. .
Qnanto á 2 ..'" objecção, é simplesmente imaginaria a n~­
cessidade de determinação dos direitos, de que ee trata.
Sabendo-se que são direitos anteri01'es a qualquer con-
'Cenção social, 1,01' se baseM'em nas leis eternas da 1'ozão e da
moral, elles logo se manifestam nas relações de individuo
para individuo, no trato da familia e da vida social.
Não teem, portanto, que ser prescriptos ou determinados
pelo Estado.
E se algum delles se encontrasse em opposição a outros
. direitos, não seria isto razão para que se negasse a sua exis-
.
tenCla.
Procederia. a objecção se, dada a· supposta opposição de
um direito a outro direito, não houvesse meio de conciliaI-os.
Além disso, o argumento, podendo ser tambem appli-
. «lado ao direito positivo, prova de mais.
Chegar·se·ia assim á negação de todo o direito.

Mas, si o direito.é o que acabamos de ver, como se ex.


plica o facto de não ser elIe o mesmo em toda parte e entr.e
todos os povos?
Já no seculo XVII, Pascal- o celebre mathematico,
physicoe philosopho fran3ez, fazia esta ·profunda observação:
cc Quasi nada se encorl;tra de jltstO ou de injusto, que
não mude de qualidade, mudando de clima. Tres grá08 de
elevação do pólo destroem toda jurisprudencia, Um meri-
diano decide da verdade, ou poucos armas de posse.
23-

As lcis fundamcntacs mudam,' o direito tem as más


épocas,
Singular justiça, que um 1'io ou uma montanha limi-
tam / Verdade aquem do,~ Pyrineu,'?, erro além /»
Ainda agora, para muitos dos mais abalizados juristas,
que vêem as cousas sem ph:lnta~ias e devaneios, <', portanto, é
como na realidade devem ser vistas, a verdadeira concepção
do direito continúa ainda um etp.rno problema.
Discutindo este ponto, um delles chegou a dizer:
«O direito não passa de um problema de simples meta-
physica, em que o numero das incognUas é 'f!I,uito superior
ao das equaç'ões,
Não sei si, em absoluto, é verdadeira essa proposição.
Sei apenas (e isso affirmo com pleno conhecimento de
causa) que o direito, na pratica, não é o mesmo que o direito
em theoria.
Theoricamente, elle tem, com effeito, caracteres, que
lhes sendo peculiares, servem para o di8tinguir do nüo di1'cito.'
Na pratica, porém, falham quasi sempre esses' cara-
cteres.
Cada cflbeça, cada sentençfl i de modo que aquillo que a
Pedro parece ser o direito, é tido por Paulo como o contrario.
Não ha, portanto, até hoje, um criterio ~cguro, infalível,
para bem aferir, se o direito.
Ides vê;", no curso desta lrção. que se dá em relação aI)
direito exactamente o mesmo que acontece a respeito do bem
e do mal, do justo e do injusto.
N em todos os distinguem pelo mesmo modo.
Variam as faculdades de cada juiz, e, por i8,0, não po-
dem ser uniformes os seus juizos e raciocinio".
Para outros juristas, o direito é uma creação bizarra do
poder Eoeial.
Não creio que s<'ja assim, porque, COIDU já fiz sentir, o
direito, antes de fler uma creação desse poder, é uma facul-
dade inherente á natureza humana.
- 24-

Como quer que seja, Fustel de Cou1anges,' tratando do


·direito, refere um facto caracterizante, contado por C+aio :
cc Era um homem, a quem o vizinho tinhf1, cortado videi-
"as.; elle pronunciou a lei,' ma,ç a lei dizia an'Q?'es, . e e lIe
pronunciou videiras; perdeu o pl'oce.'IIw.» A Cid. Ant., tom.
1.0, pago 338,
Já aqui estaes vendo: 1.0) o erro do Juiz na interpre-
tação da lei, em contravcnção desta e em prejuizo do direito;
2.°) A consequente injustiça do julgamento; 3,°) A letra da
lei sobrepondo. se ao seu pensamento contra o principio Bcire
leges non est verba ea1'ltm te'l'fere, sed vim ac potestatem;
4.°), finalmente, o erro de interprctação, ou o sophisma, dando
ganbo de causa a quem não tinha por si o direito.
Por factos desta natureza, parece ter razão quem diõse :
(C Nas sociedades actuaes o direito é apenas Um termo

denominativo, »
Sem esposar nenhuma dessas opiniões, devo comtudo
dizer, que não conheço regra ou preceito mais arbitrario e fal-
livel, mais incerto, variavel e inconstante do que o direito.
Em comparação deste asserto, além dos factos da vida
quotidiana, abundam' os exemplos na historia. .
É bem conhecido o facto de dous homens disputarem.sc
uma herança, allegando cada um delles uma lei em seu fa-
vor; as duas lei.s são absolutamente contrarias e igualmente
sagradas.
Em Rhodesa lei prohibia fazer a bar La; cm Bysancio
punia-se com uma multa quem possuisse uma navalha de
barba.
Em Sparta, pelo contrario, eXigia-se que se rapasse o
bigode; Foust. de Coul., obro cit., pago 39f1.
Na Grecia a creaçlo e a educação dos filhos não era
encargo pesado, porque os paes os expunham com a maior
facilidade e impudencia.
Sparta tinha no Taygetes um abysmo em que se lança-
vam as creanças, 'que nasciam aleijadas.
Thebas vendia os engeitados em beneficio do Estado;
Ces. Canto Hist. Univ., vol. 4.°, pago 216.
Explica o que acabo de expôr a di\Tersidade do modo de
entender e de praticar o direito pntre os differentes povos nas
tres edades antiga, média e mOderI,l8.
V Il.ria,com effeito, o direito positivo, como varia a lei de
cada paiz; mas é immutavel o direito natural, attributo do
'homem.
E se, apezar disso, nem sempre é ) espeitado esse dirtito,
a razão é porque o homem ainda não attingin a tal estado
. de perfeição, qne, a seu resppito, se possa dizer:
O homem, na convi vencia com seus semelhantes, tendo
conseguido dominar os instinctos máos e abrandar seus cos-
turnos, não é mai!! o rude ambicioso, egoista e hypocrita, dos
tempos da barbaria.
Venceu todas as suas más inclinações o nperfeiçoamento
por ellealcançado; graças ao polimento de sua natureza pelos
beneficios da civilização.
De feroz e brutal, que elle era, tornotl·se o re!'opeitânor
consciente do direito de seu semelhante; o cnmpridor rigoro-
so dos mandamentos da lei, o dominador, emBm, dos' inte-
resses subalternos em todas as condições e relaçõ ~s de sua
vida em sociedade.
Até que esta aspiração se converta em realidade, não
nos admiramos de ver postergados os direitos natUl'aes do
homem.
Foi sempre assim ~odos os tempos; mas a verdade é que
os mesmos continuam immutaveis como um attributo, romo
um poder immanente do homem.
O mesmo, porém, não se dá em relação aos direitos de-
rivados ou. positivos. Estes variam sempre; e, nesta accepção,
eu os considero um producto cultural do espirito humano,
concretizado em preceitos estabelecidos 'pela lei no interesse
da collectividade social.
Relativamente a esta ultima especie de direitos,. eu vos
26 -

darei, em um enthymema, a idéa que se me afigura exacta


na pratica dos mesmos.
O direito não tem um fÓ criterÍo para todas as intelli·
gencias; lo~o é vário. Nunca é entendido do mesmo modo;
logo é sempre variayel e controvertido. ,
E' sempre incerto na, sua applicação; logo nem sempre
garante ao seu sujeito.
Devemos por isso dl'spsperar do direito? Seria um erro!
1\ O mundo, diz um grande philosopho, não é bom, mas
póde ser melhorado pelo esforço dos homens.
E' perfectivel, e isto basta, para dar á vida a sua ra-
zão de ser: o esforço para o melhor. 11
Alonguei-me talvez de mais, na explanação desta pri-
meira parte do· nosso programma, pela necessidade de dar
áquelles dos meus condiscipulos, não formados em sciencias
juridicas, pelo menos uma noção, fiel e exacta, quanto possi-
V('J, do direito em these, assento principal do direito adminis-
trativo, que temos de estudar.

*
II - Reza a 2.& parte do nosso ponto, que - o direito
precede á lei, na qual assenta principalmente a organixação
política e administrativa do Estado.
E, com effeíto, assim se deve entender, como procurarei
demonstrar.
Na propria exposição que vos fiz, para estabelecer o CO[1.
ceito do direito em these, tendes a prova de que o direito
precede á lei.
A lei, como regra de aeção, vem depois, e assenta, prin-
cipalmente, sobre esse direit9.
A lei, portanto, que aqui consideramos é a escripta, em
contraposição á não escripta, ou lei natural.
A primeira, ,tambem conhecida por lei positiva, é obra
27 -

do homem, variando, por isso, de accôrdo com os usos, ha-


bitas, costumes e tradições dos diversos povos.
A segunda, porém, é uma e a m e~ma em toda a parte;
não é dijJerente hoje do qUA será amanhã; é immutavel, uni-
versal, inflexivel e sempre a mesma, abrangendo o mundo,
todas as nações e todos Os seculos.
Feita, dest'arte, a necessaria distincção entre a lei natu-
ral e a lei escripta, resta llccrescentar que Montesquieu aflir-
mau que todos os seres teem suas leis.
Não devendo, por isso, viver o homem sinão em socie-
dade, preciso é que o mE'smo se submetta. ao irnperio natural
das leis a que está sujeito. .
Está na consciencia de cada povo a origem das suas
institlliçõt's sociaell. Da crença deriva a religião, na qual, por
sua vez, se inspiram todos os seus usos e costumes.
Eis, em synthese, a genesis de todas as sociedades
actuJ.es.
Vale a pena demonstrar com a historia a verdade deste
asserto.
Falle por nós Fustel de Coulanges:
~<O laço social não é facil de estabelece1' entre seres ht~­
manos, que Eão tão diversos, tão livres, tão inconstantes.
Para dar-lhes. ,'egl'as communs, para instituir o com-
mando e fazer acceitar a obediencia; para fa~er ceder a
paixão á 1'azão e a 1"azão individual á ,'azão publica, é
preciso com certeza alguma cousa mais forte'do que a força
material, mais respeitavel do que o interesse, 1Wf, I S segUl'a
do que uma theoria philosophica, mais immutavel do que
uma convenção: alguma cousa que esteja egualmentc no
fundo de todos os corações e que nelles se firme com impe·
rio, Essa cousa é uma crença, Nada ha mais pode1'oso sobre
a alma. Uma crença é a obra do nosso espírito; mas nós
não te,r/.Os liberdade para modifical-a á nossa ·vontade.
E' creação nos.Ya; mas nós não o sabemos. E' humana
e julgamoZ.a Deus. E' o etfeito. do nosso poder e é mais
28

forte do que nós. Está em nós; não nos del:xa;· a todo o


momento nos faUa. Si nos manda obedecel', obedecemos; si
nos indica deveres, submettemo-nos. »
Dahi, a principio, as regras da organização domestica;
ou, noutros termos, da organização dos varios agrupamentos
humanos, por ~nde sempre começaram as organizações 50-'
ciaes, taes como a familia, a gens, a tribu, etc.
Mas notae bem que, sendo esta exactamente a origem
de todos os povos, nem por isso deixa de caber á lei a tarefa.
de estabelecer regras e preceitos (sempre de accôrdo com a
crença de cada povo) para serem seguidos e observados pelo
homem na vida em sociedade.
NeUa, portanto, assenta principalmentE", como refere a
segunda parte do nosso ponto, a organizaçi'1o politica e admi-
nistrativa do Estado.
Della resulta a formação do Estado, que se torna, desde
logo, uma creação necessaria á coexistencia dos homens em
sociedade.
Do Estado deriva o principio fundamental da autoridade,
sem a qual não haveria ordem jurídica, sob cuja protecção
precisam viver o homem; a fdmilia, a sociedade, a Nação e
o proprio Estado.
A ordem juridica, portanto, é a base de toda a existen-
cia social.
Pur sua vez, o Estado é uma entidade essencialmehte
política, que, para attingir aos fins que lhe ~ão destinados,
p,recisa de uma organização, que deve ter principalmente como
fundamento a lei.
Aqui temos, pois, a lei como acto posterior ao direito,
nascendo delle, por força da necessidade de sua observancia
e manutenção.
Essa organização comp'ete ao governo do Estado, que,
pela multiplicidade de suas funcções, reconhece, desde logo, a
necessidade de confiar a div61'SOS funccionarios ou agentes,
distribuídos em diversos pontos do territol'io do paiz, a exe-
- 29-

cução das leis votadas pelo poder competente, o governo e a


dil'ecção dos negocios publiros.
Exercendo essa fnneção, o Esta80 age como orgão, que
tem por funcção exprimir e applical' a idéa do direito, para
o bem da collectividade.
Exerce, por isso, uma funcção especialmente regulada
pelo Direito Constituci~nal e Publico, do qual, pela necessi-
dade da separação de funcções, se destaca como subdivisão ou
ramo do seu tronco -- o Direito Administrativo.
Assim que, o poder administrativo, assim instituido, en-
trando logo em funcção, ?'ecebe o cidadão desde que começa
a viver, dá,lI/e um estado civil; p,'oporciona,lhe instrllcção
adequada á sua existencia. socidl; não pe?'mWe que seja
perseguido P01' motivo de 1'eligião, umavex que respeite a
dos out1'OS cidadãos e não offenda á moral publica .. assegu-
ra-lhe o livre exe"cicio dos Sel/R di1'eitos políticos: impõe·lhe
o cumprimento de deveres pam com o Estado, e, depoii5 que
{aUece, ainda lhe presta as ultimas honras,. V. Cab., Dir.
Adm. Bras" pago 28.
Evidencia o exposto que, em tudo, se differenciam as
funcções propriamente politicas do Estado das qUe compe-
tem á Administração.
Poderes distinctos e 'independentes são, comtudo, intima
e substancialmente ligados entre si, a ponto de se considera-
rem - orgãos componentes de um se?' unico e vivo; Rib.,
Dir. Adm., pago 53.

III - Passemos !i terceira e ultima parte do noss(l ponto


- a Bciencia da administração.
Oomo dev~ ser a mesma entendida?
Antes de tudo~ convêm não confundir o .direito adminis-
trativo com essa sciencia.
O direito administrativo, objecto do curso desta cadeira,
assenta, em todos sentidos, sobre o~ princípios basicos dos di-
- 30 ~

reitos oríginario~,attribtltos do homem e de toda a sociedade


politicamente organizada. .
E', portanto, um complexo de leis, destinadas a regular
as relaçües dos direitos e deve1'es reciprocas da administra-
çflo e dos administrados.
Esse direito, assim definido, é principalmente conside-
rado em sua accepção objectiva.
A sciencia da administração é, pois, como se vae ver,
cousa diversa.
Sciencia (ensinam os mestres) é tudo o que se póde re-
duzir a regras e preceitos; é sempre o fructo do raciocinio e
da observação.
Noutros termos: asciencia é um conJuncto de conheci-
mentos coordenado.'!, 1'elativo8 a um objecto determinado. E'
al:!sim que se consideram as sciencias não só physicas como
moraes e· políticas, . em cujo numero figura a sciencia da
admi nistração.
E' exactartlente esta a sciencia que miniôtra aos diri-
gentes do Estado os conhecimentos necessarios para b~m go-
vernai-o.
E' ,de accôrdo com ella, que se estabelecem as fórmas
de que se devem revestir os actos dos executores da lei e
dos investidos de qualquer parcella de autoridade na publica
administração.
E' ainda de accôrdo com <ls ensinamentos dessa scien-
cia que se decretam as leis administrativas; que se esta-
belecem as fórmas dos actos e as condições dos seus pro-
cessos; que se organizam as repartições publicas de natu-
reza administrativa; que se determinam as funções dos
orgãos administrativos do Estado; que se regulam, emfim;
os serviços confiados á sua direcção no interesse da com-
munidade social.
E', portanto, uma sciencia qtHl tem, além de um córpo
de principios e doutrinas, baseados no conhecimento exacto
e raciocinado dos fa\}tos sociaes e no estudo das· leis e phe-
- 31-

nomenos que regem esses factos, a' sua pa~te regulamentar


e technica.
Depois disso, é desnecessario encarecer ,aqui a utilidade
e a importancía desta sciencia.
O regimen administl'ativo, pelo que acabo de expender
(logo o estaca vendo), é uma necessidade de toda sociedade
politicamente constituída e organizada, qualquer que seja o
systema de scu goV'crno.
Escrcvendo a respeito deste regimen, diz Houriout:
«Todos os paizes da Europa continental estão comple-
tamente nesse 1'egimen, ai/Ida que em gráos desegltaes. A
França parece ser o paiz onde a administração tem mais
força, 7/laior repercussão Nobre a vida geral, e onde, ao
11le.~mo tempo, a organixação do regimen é a mais aper-
feiçoada; Précis du Droit Adm., pago 2.
Francamente, não Vf'jo que tenha razão o eminente Pro-
fessor da Univ~rsidade de 'l'oulouse, para presumir tanto da
excellencia do regimen administrativo do seu paiz.
O regimen administrativo francez, além de resentir-se
de grandes defeitos, pelos quacs tem soffrido justas e mere·
ddas censuras, .é um regimen muito complicado, não podendo,
por isso, ser adoptado como modelo a seguir.
Por tal modo se multiplicaram os vi<.:ios desse f-ystema
e as exig~ncias dos seus prOCeS50E', que chegm'am a ser aban·'
danados 08 cursos de direito administratil'o pela grande
massa dos estudantes, que consideravam tal disciplin'J. como
a materia mais indigesta e insupportavel dos programmas;
Marn., obro cit., pago 36.
4.Não era á França (accrescenta Marnoco, citando Clovis
Bevilaqua), mas á. AUemanha que estava reservada a gloria
~e reno,ar completamente· os estudos da administração pu- '
lllica.»
«Effectivamente, a sciencia da administração por Stein,
e desenvolvida principalmente pelos alcunhados cathedren so-
<JÍalisten Wagner, Engel, Bretano, Cohn, etc., e, na Italia,
- 32-

por :Missadaglia, JIorpllrgo, Ferraris e outros, é muito diffe-


rente dos estudos administrativos dos professores e autores
francezesl. que deixaram em obras informes bem assignado o
.seu critpl;io e~treito e empyrico» ; Clov., Dir. e Econ. Polit.
pago 127 e segs:
Guardemo-nos, pois, em o nosso estudo, de imbuir-nos
das idéas de Houriout e de outros publicistas francezes, que
ainda agora doutrinam e sustentam principias, que não me
parecem verdadeiros, como no correr de minhas prelecções
terei occasião de demonstrar.
Occupando-se da enorme extensão, vasta e complexa, do
direito adminisirativo em suas relações com o Direito Cons-
titucional e Publico, com a EconolJlia Politica, com o Di..
reito Privado, e ainda com eutras sciencias que lhe são au·
xiliart:>s, pondera Bride!:
São tantas as materias, de que o direito administrativo
se occupa, que o mesmo se me afigura um extranho caphar-
naúm!
E então illquire Bridel: não haverá um meio de selec-
cionar, deste cOlljuncto heteroclito, certas partes 8ufficiente-
mente independentes, para constituirem ramos distinctos do
Direito Publico?
Penso que sim!
Mas, ao meu vêr, o grande inconveniente, que o illustre
Professor procura remediar com o alvitre que propõe, po-
deria ser mais facilmente removido por outro meio.
Seria o de abster- se o Estado de opprimir o povo com
tantas reformas superfluas e infructuosas.
Jean Cruet tem, a este respeito, uma phrase digna da
meditação de todos os governos.
EVe diz: V ê- se todos os dias a sociedade reformar a.
lei; nunca se viu a lei reformar a sociedade.
E Gustave Le Bon, taÍnbem se occupando das illusões
legislativas na França, muito acertadamente pondera:
«O dogma sagrado do poder das leis é talvez o um·co·
- 33-

que subsiste de pé e que os theoricos veneram. Si o ?'deal de


um partido politico pcrmittisse definira, poder-8e-ia dixe}'
que não existe em França sentia um partido.
Todos possuem, com ejJeifo, um mesmo ideal: refo/'mar
a sociedade a golpr::s de decl'cto,ç, e pedir ao Eçtado sua
constante intervenção na vida social· dos cidadãos», La
Psych. Polit" pag.. ,
Sendo este tambem o mal do Brasil, cada anno que passa
augmenta consideravelmente, em proporções extraordinarias,
o numero de leis, que hoje se contam aos milhares, formando
montões de duras obrigaçõ~R para o povo, e constituindo o
tormento dos que, pelos deveres da profissão, não ·podem dei-
~~U~~~ .

A consequencia, meus senhores, é que todos sentem ó


incommodo, a pressão, o vexamE', o poder aspbyxiante de
tantas rebrmas imponderadas, hoje feitas, para amanhã se-
rem logo desfeitas, ou substituidas por outras ainda peores,
sem coII;1 isso melhorarem as condições de liberdade, deinde-
pendencia e de bem-estar do povo, apesar das intenções pa-
trioticaa, com que nos procuram felicitar os nossos legisla-
dores!

•.

DIREITO ADMINISTRATIVO . 3
SEGUNDA LIÇAO

1. Fundamento dos poderes poli ticos do Estado. -lI. Como se


dividem esses poderes. - I lI. Logar que compete, enlre os
mesmos, ao poder administrativo. - IV. Deveres . primor-
diaes do Estado extensivos á Administração Publica.

Meus senhores:
O ponto que constitue ohjecto da lição de hoje é mate-
ria nwis de direito pu\)lico e constitucional do que de direito
administrativo, propriamente dito.
A pesar disw, logo se comprehende, pelas intimas ligações
deste com aquelles outros raUlOS de direito, ou antes, pela
connex?b que existe entre os mesmos, a consequente necessi-
dade de aqui estudarmos o fund(tmento dos poderes politicos
elo E . dado, dos quaes o poder administrativo faz parte.
E' uma questão sobre a qual, não nos sendo possiyel
erear causa alguma, apenas nos é dado explanal-a no terreno
de theorias conhecidas, fazendo um trabalho de simples con-
densBçZio.
Mas, antes de indicar com exactidào os fundamentos po-
liticm; do Estado, cumpre dizer o que pelo mesmo se deve·
entender,

Que é o Estado? Onde reside o fundamento do poder,


que eIle exerce?
São multi pias, como S'dbeis, as accepções da palavra Es-
tado. EUa deriva do latim - status, e litteralmente significa
situação das cousas.
E' neste sentido que se diz - uma nação em estado de
---.:.. 35 ......;,

guer'ra; uma casa em máo estado; um homem em estado


de demencia; o estado de ,mude, etc.
l\fas, não é neste sentido que aqui consideramos q Es-
tado.
Por uma verdadeira homonymia, aliás muito commum na
língua portugueza, a palavra estado tem" muitas outras 81-
gnificações.
No sentido do nosso ponto, eIla deve ser tomada na
accepção política, e, como tal, significa - o poder gove1'-,
'na mental.
lUas, além disso, ainda em politica, a palavra Estado
exprime tambem - todo um paiz representado pelo seu go-
ve1·no. e)
No 1.0 caso, o Estado, assim constituido, é considerado
uma entidade moral, investida dos necessarios poderes, para
o governo ele uma Nação.
No 2.°, o vulgo, estabelecendo verdadeira synonymia en-
tre os dous vocabulos de significações differentes, confunde
Paiz com Estado, a ponto de, por vezes, indistinctamente em-
pregar uma expresssão pela outra, como succede no segundo
exemplo citado.
Ainda em relação ao primeiro caso, vê'se bem que o Es-
tado, como simples entidClde moml e tambem politica, não
poderia por si exercer o governo.
A~sim, entretanto, se considera por uma ficção de direito.
Na realidade, só nas pessoas naturaes, escolhidas para
exercerem a autoridade e dirigirem os publieos negocios, por
força dos poderes, que, para isso, a Nação lhes outorga, é
que se encarna o principio rep1'fscntativo do Estado, em cujo
nome elIas agem.
'remos, portanto, que o Er,tado, tal como eu aqui o con-
sidero, é o que se póde dizer - a Nação soberana, constitu-

(I) Diel. de la Convers.,v. État.


*
- 36 --:-

cionalmente governada por fórma e poderes pela mesma esta-


belecidos, em territorio por ella occupado.
Estabelecida, por este modo, a noção do Estado, e conhe-
cidos a origem e o fundamento dos seus poderes, resta saber
como se limitam esses poderes.
Modernamenta, nos paizes constitucionaes, t'ldos os poderes
do Estado são limitados pelos direitos q'~e· as Constituições
asseguram a todos os cidadãos.
No Brasil, por exemplo, a sua Constituição tem uma se-
cção especialmente consagrada á declaração desses direitos;
arts. 72 a 78. (Vide Appenso lI). .
Além desses limites, os· poderes do Estado só. podem ser
exercidos na circumscripção territorial do paiz.
Fóra dahi, só por excepção se admitte, de accôrdo com os
principios do Direito Internacional, a exterritorialidade das
leis brasileiras noutro paiz.
Tem sido sempre este o conceito do Estado?
Pelo contrario.
No tempo da dominação romana cabia ao imperante a
personificação do Estado.
Nelle se resumiam, por effeito da lex 1·egia, os podere!>,
que então se denominavam - imperium e pote.'Jtas, signHi-
cando, no primeiro caso, o poder do mando, o exercicio· da
autoridade, e no segundo - a força de que devia dispôr essa
autoridade pora mandar e ser obedecida. (2)
O imperador era o unico titular desse direito.
Anteriormente á Revolução Franceza, Luiz XIV chegou
a dizer: « L' État c' est m.oi!
Conscio do poder, de que se achava investido, o seu go-
verno, todo pessoal, a exemplo dos imperadores romanos, tor-
nara-se, em pouco tempo, despotico e absoluto.
E, dahi, o seu dito meIP,.oravel, que a historia registra

'(2) Duguit, - Les Transf. du Dl'. Pub., pago 3.


- 37-

Só elIe dictava a lei; tanto que, pelo vigor do seu espi-


rito, como pelo brilho de sua gloria, foi appellidado o Rei-Sol.
Sobrepujou a tudo o 'poder sem contraste de sua vontade:
deante deHa, de nada valeu a influencia dos homens de genio,
que então possui a a, França, e que tanto illustraram o reinado
daquelle Rei nas letras, nas artes e nas sciencias.
A sua ambição desmedida exgotou os recursos da Nação
e augmentou a mis~ria do povo.
Luiz XIV, tomando a si a direcção suprema do governo,
só teve, depois disso" uma preoccupação: banir do reino toda
a seita reformadora, inimiga de todo o poder absoluto. (3)
E assim, dominado por essa idéa, não via que, governando
sem peias, preparava a revolução, com que o povo francez,
cansado do jugo, em luta de vida e de morte pela reivindi-
cação de seus direitos, devia mais tarde levar ao cadafalso
Luiz XVI, e, com eEse tragico successo, apressar a queda da
monarchia em França.
Variou, depois disso, o conceito do Estado por efIeito das
idéas de Locke, Mably, Rousseau, Montesquieu e da Consti-
tuição votada em 1787 pelo Congresso de Philadelphia, na
America do Norte.
Por essa Constituição a Nação passou a ser une per-
80nne titula ire du droit sltbjectif de puissance publique, du
pou?;oir de commandement ou 8oltveraineté. (')
Apenas decorrera um seculo, e já arguciosas theorias e·
doutrinas de innovadores reaccionarios subvertiam os princi·.
pios fundamentaes do Direito Publico, que ainda agora re-
presentam a mais bella conquista da razão esclarecida pelos
eminamentos da philoE:ophia christam sobre o obscurantismo
dos povos barbaros da edade de ferro e medievaes.
Dahi, a profunda divergencia dospublicistas, na actua-

(3) Dict. cit., voI. 12, pago 451.


(4) Dug., obro cit., pago 13.
- 38-

li,jade, ~í.cerca dos podet'es do Estado e do papel, que .lhe


compete no governo do mesmo.
l\[uitos deHes (felizmente ainda em minoria) são acerri-
mos defensores do Estado senhorio, "do Edtado omnipotente, do
Estado patrimonial.
Esta concepção, baseada na mais abstrusa de todas as
theorias, é h~ie principalmente positivista.
Duguit dá-nos da mesma uma idéa exacta e perfeita nos
seguintes termos: ( As dltas idéas que lhe se?'vem de apoio
(diz Dll.rJlliT), (t soberania do Estado e o direito natural do
individuo, desappareceram. Uma e outra são conceitos meta-
physicos, que não podem servi?' de fundamento ao s,1j$tema
iuridico de uma sociedade toda penetrada de positivismo,
E assim conclue esse publicista, affirmando que a dele-
gação nacional é uma ficção; ob. cit., pags. XIV e XVI.
Deixemos Duguit, meus senhores, com o seu erro de
apreciação a respeito das cousas metaphysicas, com as suas
preferencias pelas idéas positivistas, e não esqueçamos que tudo
isso se reduz a nada ante as pl'oprias contradicções da escola
a que elle é filiado.
Não soil eu quem o diz; foi Littré quem sustentou que
as duas partes da doutrina de Comte - uma politica e outra
religiosa -esta!'am em contradicçao.
E assim é, realmente.
Comte rejeita as idéas universaes até hoje Receitas como
_principios fundamentaes dos nossos conhecimentos, por serem
.cousas metaphysicas; considera ficção o principio universal-
. mente admittido da delegação nacional, sobre que assenta o
direito publico moderno, e não vê que muitos dos principios,
em que se baseia a sua doutrina, sendo, por igual, a fonte d~
seus conhecimentos, ou de sua sciencia, tllmbem são metaphy-
sicos.
No rigorismo dos seus principios, Ri não chega a negar
em absoluto a existencia de uma causa primaria, declara, com-
tudo, que a mesma não constitue objecto de suas cogitações.
39 -

E, sem embargo disso, em todo o longo desenvolvimento


dado á sua doutrina, Comte não só allude aos principios abs-
tractos, que condemna, como repetidamente o;; invcca como
fundamento da organização positiva da sociedade, a ponto de
avançar esta affirmação contradictl)ria: « E' preciso crear um
poder espiritual (nota e bem!) distincto do poder politico, que
assegure a superioridade do direito sobre a força (5).
Como vêdes, Comt", além de contradictorio, é pretenci080,
desde que se arroga o poder de crear aquillo que nega e que
nunca lhe fOl dado conseguir - o intitulado poder espiritual,
com que sonhara, a ponto de divinizar o homem, fazendo delle
objecto de um culto - o da Humanidade! Mug, que é esse
poder espiritual, senão o reconhecimento formal de uma ver-
dade assente principalmente na metaphysica, que Com te com-
batia como um erro da orthodoxia christà? Que necessidade
tem o positivismo desse poder, se elle encara a vida unica-
mente pelo lado pratico, pelo lado uta, pelo lado do interesse,
sendo este o principio utilitario e basic:o de sua doutrina?·
Tenhamos, portanto, como certo, o que eu já tive occa-
sião de vos affirmar :
No Brasil, como nos paizes mais cultos, como na propria
França, onde se deu ao positivismo a fórma de um I'ystema,
os poderes do Estado provüm do povo, const.ituido em Nação.
Conforme o nosso regimen instituido pelo movimento de
15 de Novembro de 1889 e consolidado pdo Pacto Federal de
24 de Fevereiro de 1891, a Nação Brasileira, que antes vi.via
sob um regimen inteiramente diverso (il monarchico) adaptou,
como iórma de [!overno, sob °
regimen representativo, a Re-
publica federàtiva, proclamada na primeira das referidas datas
(15 de Novembro de 1889); e assim se constituiu, pOI" união
perpetua e indis80luvel das antigas pl"ovincias, em Estados
Unidos do Brasil; Consto Fed., art. 1.0 (Appenso n.o II).

ri) Encycl. Port., vol. 8, pago 842.


- 40-

Como estaes vendo, neste artigo da nossa Constituição te-


mos nós o conceito scientifzco do Estado Federal j assim como
a ex&cta discriminação de sua fórma politica. (6).
Segundo ella, o povo brasileiro, no uso de sua soberania~
organizou o seu regimen politico actnal, dividindo o antel'iOl'
Estado unittJ.rio do Brasil em Estados particulares, dando ás
antigas p1'ovincias eS8e novo caracter. (1).
Vem a proposito dizer-vos, que Duguit, filiado á escola
positivista, sustenta que o dogma da soberania nacional está
em contradicção com 08 transflJl"rnaçues 80ciaes e politicas, por
que teem passado 08 E8tados, nlém de que tem pel'dido sua
effzcacia, e, p01'vezes, a 8ua acção é nociva (8).
Não cabe aqui a refutação de tão extranha theoria <',
por isso, aguardando opportnnidade de voltar a esta questão,
proseguirei 110 desenvolvimento do ponto, objecto de nossa lição.
Por -força do regimen instituido a 15 de novembro de
1889, e consoante a natureza do mesmo, temos o Brasil unido
por uma liga, alliança ou federaçãf) de E8tados em um 8Ó
Estado, formando uma União perpetua e indissoluvel, como
positivamt>nte o aflirma o citado art. 1.0 da Consto da !tepn-
blica. .
Dahi decorrem os seguintes corollarios:
V') Como l'egimen repl'esentativo, o governo do Brasil é
exercido por mandalari08 escolhidos pelo povo (institucional-
mente soberano) para ag.ir em seu nome;
2.°) O meio pelo qual, entre nó:!, se confere esse mandato
é o da eleição directa;
3.°) O governo, não podendo e nem devendo ser directa-
mente exercido pela universalidade dos cidadãos, pelos grandes
inconvenientes que disso resultariam para a marcha regular

(6) J. Barh., Com. á Const. pago 8.


(7) J. Barb., Com. ti Const., pago 8.
(8) Duguit, obro cit., pago XV.
- 41-

dos negocios do Estado, só póde ser legitimamente exercido


por via de delegação pelai:! poderetõ publicas c0115tituidos pela
Nação; (9)
4.°) E' um poder inherente. ao povo, por meio do qual elle
determina não FÓ o modo por que qner ser governado, como
o meio pel"Ô qual se devem regular as fórmas, condições e ga-
rantias com' que deve ser exercido o poder publico; J. Barb.
obro cit., pago 8. E tão legitimo é esse poder que, apesar das
objecções que lhé são oppostas, a verdade é a 8eguinte, dou-
trinada por um escriptor emineLte:
«A pri meira condição de 11 ma N arão é uma idéa pratica
commum: um fim de activida,de commuln»
« Todo o POt'O que se tem feito G instrumento de uma rpa·
lização social (como o Brasil, por exemplo, em 15 de no-
vembro de 18.SS); que tem contribuído para a manutençno
da independencia nacional na ubra do progresso geral e que
assim tem occlll'ado o SClt pusto na historia, tem o direito de
c(mscrvar este posto, e do mesmo só podel'ia ser expulso pela
violenda e pela iniquidade.D
5.°) Ma!', a delegação (de que ha pouco fallavamotl) não
póde ser :-.bsoluta e incondicional. Sómente dada para o exer-
cicio de poderes soberanos, o povo com isso não demitte de
81, não abdica nos representantes a soberania. (9)
E se não, eis a prova:
Supponhamos que os delegados do povo, abusando ou
exorbitando, no exercicio do mandato, dos poderes que lhes
foram conferidos, t!'ahem a causa do povo em assumpto tão
grave, ~ ponto de comprometterem não EÓ a integridade, como
até apropria existencia do phiz.
A hypothese não é inverotõimil e nem irrealizavel; é digna,
portanto, de ponderação.
Haverá, em tal caso, quem possa negar ao mandante o

(9) J. Ba~b., obro cit., pago 8.


42 -

direito, o p01er (le ca"sar o mandato por elIe conferido aos


seus mandatarios?
O que logo se vê, meus f'enhores~ e facilmente se com-
prehende é que, no caso, o povo teria niio flÓ o direito de reti-
rar a delegação, como de punir leg'l.lmente o crime dos seus
delegados. •
?\ão podendo ser outro o princi pio regulador da hypothese,
responde triumphalmente o 'mesmo principio a esta affirmação
de DUg"nit:
«Roj~ não mais se explica uma delegnção nacional, que
nã') é senão uma ficção.
Na realidade ella não existe; e, quando assim não fosse,
mesmo que exprimisse uma vontade unanime, não seria senão
a vontade de uma S'lmma deindivid'llos; isto é, uma vontade
indl:vidual, que não terig, o direito de impôl'-se áquelle que
contra ella se insurgisse.))
Admiro, senhores, o talento de Duguit, cuja autoridade,
como publicista, reconheço e proclamo; mas não sei si se encon-
trará no seu livl'o-Les T'ransfol'mations du Droit Publique
(l0) argumento mais destituido de fundamento, ou, por outra,
mais dissonante com as suas proprias razões do que este!
Não vê Duguit, que, nomeando o povo seus delegados, sem
demittir de si os poderes que lhes confere, e isto Sll; conditz'one,
não lhes faz cessão ou doação de um siquer dos seus poderes!
Não vos passe despercebida a contràdicção de Duguit,
considerando unaninie a somma de vontades individuaes, da
qual se destaca uma vontade divergente!
Conforme dizia, o povo confia aos seus mandatarios, ape-
nas para proveito commum, as funcçõe,; e faculdades necessa-
rias á boa gedão da causa publica (l'epublica); mas não se
despoja do poder supremo, por força .do qual os commissionou
para o governo ('1).

(10i Dug., obro cit., pago XV e XVI.


(") J. l3arb., oh, cit., pago 8.
- 43-

Conseguintemente: a) a delegação não é e nem póde ser


perpetua; b) deve, por isso, ser revogada periodicamente, a
prazos curtos ; c) distribuida por differentes orgãoR, tendo cada
um deIles funcçàes definidas e limitadas; d) finalmente, sendo
responsaveis no exercicio deIlas todos os agentes do poder
publico e~).
Sem a observancia dessas condições, accrescenta o illustre
commentador da nossa Constituição, não haveria systema re-
presentativo, que então se tornaria uma burla, degenerando a
representação em despotismo disfarçado com as formulas da li-
berdade - a peior das tyrannias !
Tem-se, por consequencia, qu e, tal como aqui eu considero
o Estado, de accôrdo com a melhor doutrina, os poderes pro-
,eem originariamente do povo ou da Naçuo, que temporaria-
mente os outorga, e se acham expressos e definidos, em syn-
these, na Constituição da Republica.
Póde, portanto, affirmar-se, que o fundamento dos poderes
politicos do Estado está primeiro na lJropria m'Aão delenni-
nante da sua organização; depois, na escolha de seus dil'i-
gentes pelo povo ou Nação.
n. Vejamos agora como se dividem os poderes do Estado.
Logicamente, logo se percebe, que, para se estabelecer a
divisão dos poderes referidos, faz-se mister conhecer primeira-
mente quaes sejam esses poderes. _
No Brasil, e na fórma da sua Constituição politica. o go-
verno geral do paiz é confiado á União, que, como sabeis, é
formada dos Estados da Republica, constituindo um governo
commllm 011 gernl, conhecido por esta denominação (12).
Esse governo coexiste com o dos Estados, com o qual se
não confunde, e é assim que, conforme este systema, existem
duas qualidades de govl'rno no mesmo tel'1"itOl'io, ou em cada
Estado: governo nacional e governo estadual 3 ). e
(12) J. Bal'b., obr.cit , pago 8.
(13) J. Barb., obro cit., pago 8.
44

Apezar, porém, dessa dualidade de governo, é no povo,


de -que se compõe a Nação, que reside a soberania; de modo
que sómente a esta cabe o poder de constituir, emendar e re-
,formar seu systema de governo como lhe aprouver (14).
Todo o Estado, pois, politicamente organizado, presuppõe
Governo, e este é o poder a quem incumbe gerir e administrar
superiormente os negocios da Nação em tudo o que interessa
á existencia da mesma, ou do proprio Estado.
Esse poder, considerado no mais alto ponto do seu cara·
cter institucional, ou é exercido por uma só pessoa, ou por
um conjuncto de pessoas.
No 1.0 caso, elle só póde existir nos paizes sujeitos ao re-
gimen do absolutismo ou da dictadura, que é, como sabeis,o
Governo, em que o dictador ou o Rei, no exercicio do supremo
poder do paiz, absorve todos os demais poderes, em que se di-
vide o Governo do Estado nos regimens constitucionaes.
Sómente ao Rei ou ao dictador, como unico representante
da autoridade constituida,' compete o poder supremo do mando,
inherente á dignidade ou cargo por elle exercido,
Não quer isso dizer,que não tenha auxiliares qualquer
desses governos; matl o facto é que todos os actos, por e11es
praticado!:', o são em nome e por força unicamente do poder do
dictador ou do Rei.
No 2.° caso está precisamente o governo do Brasil, que é
constiuido por tres poderes, que Be~jamin Constant, membro
do Instituto de França, e illustre autor do classico livro -
«Curso de Politica ConstitucionabJ, deno~ina-poderes cons-
titucionaes, os 'quaes s.ão: legi.Qlativo, executivo e juridicQ.
Esses poderes são os mais altos representantes do governo
da Nação, na fórma das. disposições precitadas. de nossa Carta
Constitucional.
O 1.0 desses poderes, .na ordem estabelecida pela CODsti-

('4) J. Bal'b. obro eit. pago 8.


- 45-

tuição, é o legislativo, exercido pelo CongresEO Nacional, COm


a sancção do Presidente da Republica (Constituição citada, art.
16). Appenso n. O n.
Por sua vez, o Congresso Nacional se compõe de dous
ramos: a Camara dos Deputados e o Senado
Depois, er:ttre os investidos das attribuições do Poder
Executivo, figura em primeiro logar o Presidente da Republil:a
como Chefe electivo da Nação (Constituição citada, art. 41).
Appenso n.O n.
Finalmente, o terceiro poder é o J udiciario da U nirto,
tendo por orgão um supremo Tribunal Federal, com séde na
capital da Republica, e tantos juizeEl e Tribunaes fede~aeB, dis-
tribuidos pelo paiz, quantos o Congresso crear (Constituição
citada, art. 55).
Não cabe aqui a explanação theorica e nem doutrinaria de
cada uma das di"posiçCies, que [Icabo de citar da Constituição
da R epublica em relação a esses poderes.
Não posso, por eguaI, pela estreiteza do tcmpo, e pelo
circulo, asslts limitado do nosso ponto, aqui enumerar as attri-
buições desses mesmos poderes.
Tudo isto pertence mais particularmente ao domini.o do
Direito Publico e Constitucional, e, assim passarei a tratar da
3. a parte do nosso ponto, que tem por fim saber qual o loga?'
que compete, entre os tres poderes referidos, ao pode)' admi-
nistrativo.
III. Este podcr, conforme eu tive occasião de dizer em
minha lição inaugural,' deriva instituc~onalmente do Direito
Constitllcional e Publico, do qual, pela necessidade da separa-
ção de funcçõel'l, se destaca como subdivisão ou ramo do seu
tronco, e é, comtudo, autonomo.
Faz parte, por consequencia, do poder politico em geral,
a quem, no dizer de Ribas" incumbe realizar a missão do Es-
tado.
Particularmente, pois, em relação ao poder administrativo,
pode-se dizer, que tem por fim regular a acção e a compe-
- 4G-

tencia da administração central, das administrações locaes e


dos Tribunaes administrativos em suas relaçõ~s de direitos e
interesses tanto dos administrados com o Estado como desto.s
com aqnelles.
Não é outra a noção, que nos dá Cabantous, dos diversos
ramos do Direito Publico, quando, estabelecendo a distincção
entre este e o direito privado, diz que - o dil'eito pri'vado
comprehmde essencialmente o direito civil, o processo civil, o
direito commcrcial, e, accessoriamente, o direito criminal, como
sancção e ga1'antirt do direito civil,. ao pas150 que o Direito Pu-
blico, no seu mais lato sentido, abrange o Direito Internacional,
o Direito Constitucional e o Dirúto Administratiro.
IV. Temos, depois disso, senhores, de tratar dos deveres
pn:mordiaes do E:stado extensivos á Administraçi'io Publica.
Não é, comO vêdes, materia estranha ao o~jecto desta ca-
deira. Si esses deveres constituem, de facto, materia de direito
publico, nem por isso deixam de interessar igualmente á
administração publica, pela inteira ligação desta cum o Estado.
Partindo do principio (que eu convictamente defendo) de
que o Estado não é senão nm meio ao ser viço da collectiri-
da de social, que o mesmo 7'epresenta (o que significa que não
acceito sem restricções este mesmo p:incipio estabelecido como
absoluto, pdos autores inglezcs e americanos, que o erigiram
em systema; (Bluntschli, Théor. Géner. de l' ~~tat, pago 2õü)
é bem de ver que todo o Estado, como personalidade ele natu-
reza moral e politica, como poder dirigente da Nação, logil'a-
mente deve ter um fim, todo especial, ,o~jecto de sua missão.
Esse fim varia conforme as tendencias das várias escolas,
em que se hão dividido os tratadistas de direito Publico.
Mas, a discussão desse thema, que envolve, antes de tudo,
uma these de superior importancia, já pelas controversias que
suscita, já pelo seu grand,~ alcance social e politico, não cabe
aqUI.
Opportunamente, elle terá logar mais apropriado para
ser discutido, e aBsim passo a mostrar-vos quaes são, no meu
- 47 --

entender, os deveres primerdiaes do E~;fado extellsil'os á


admillz'stração publica.
A respeito desses deveres, cumpre, desde lugo, chamar a
vossa attenção para a antiga maxima de Direito Publico-
Salus populi sup1'ema lex est.
Não preciso aqui traduzir esta maxima, porque logo estaes
vendo qual a sua significação.
A verdade é que, desne Roma, onde foi formulada, a
mesma tem sido sempre invertida e sophismada ao talante de
todos os governos.
A interpretação que se lhe tem àado na pratica é profunda
e !;ubstaneialmente contraria não só á letra, como ao s~u pm-
samento.
De"ido a isso, o que sempre se tem visto nas proprias
condições communs e ordinarias da ,ida das Nações, é os go-
vernos confundirem as noções de Povo e de E~tado, para, por
este modo, darem um caracter de legitimidade a todos os seus
actos, contrarios não só ao principio estabelecido por essa ma-
xima, como ao direito e ás leis sobre que, sobretudo, assentam
todas as sociedades politicamente organizadas.
Salus populi, diz expressa e positi ,amente a maxima:
A salvação, portanto, de que a lDesma cogita, é do' povo, e
não do Estado, cujo conceito, como sabeis, é, em tudo, di-
verso daquillo, que se entende por Nação e Povo.
Por consequencia, entendida a maxima romana, tal COIDO
eu a comprehendo, não tenho duvida em acceital-a como a
expressão mais synthetica dos deveres primol'diaes do Es-
tado.
De aceôrdo com ella, eu dividirei esses deveres em tres
<lrdens distinctas: deveres de ordem juridica; deveres de or-
dem moral ou inteHeclual e deveres de ordem politica.
A' L'" ordem pertence indiscutivelmente o da protecção
devida pe'ro Estado aos dirpitos individuaes.
Não se comprehende, senhores, que, tendo o Elltado sido
creado exactamente para assegurar a effectividade desses di-
- 48

reitos, possa antepôr a esse dever o direito de agir de modl)


contrario ao fim para que foi creado.
Queiram ou não os partidarioR da omnipotencia do Estado,
a verdade é que o principio fundamental de toda associação
política é a conservação dos direitos naturaes e imprescri.
ptiveis do homem, primeiro como indtm:duo, depois como-
cidadão.
Antes de mim, já o fim. do Estado; na opinião de dous
notabilissimos escriptores allemães (IÇant e Fichte) era, como-
o é ainda agora, a segurança do direito.
Defendendo esta these, sinto-me bem, principalmente em
companhia de Krause, que demonstra, á luz de toda a evi·
dencia, que o homem é o resumo da creação; é o microcosmo-
onde se reflecte, em ponto pequeno, todo o universo; é, fi-
nalmente, um ser synthetico e harmoníco, essencialmente dis-
tincto, na escala animal, de todos os outros animaes, de que
se differencia. C5 ) . · .

Vem, depois disso, em 2. logar, os deveres primordiaes


0

de ord,~m moral e intellectual.


De ordem moral considero eu, por exemplo, o dever que
tem o Estado de prestar o concurso valioso e efficaz de sua
assistencia e do seu auxilio ao povo, ou á Nação, em todos os
casos de calamidade nacional.
E quanto aos de ordem intellectual, bastará referir, que
seria um crime do Estado o esquecimento, o desinteresse de
sua parte em tudo o que diz respeito não só ao desenvolvi.
mento da sciencia, das letras e das artes, como principal-
mente da instrucção publica.
Finalmente, eu considero dever primordial do Estado, ne
ordem política, o que diz respeito á defesa da Nação e dI)
proprio Estado, á manutenção da ordem social e a sua pro-
pria conservação.

(l5) Ahrens, Cours de Drait, vai 1.0 pago 109.


- 49-

Desses deveres, que não deixam tambem de ser juridicos,


decorrem outras muitas obrigações para o Estado; devere!:', que,
pelo adeantado da hora, nem si quer me é dado aqui mencionar.
Todos os deveres, que allt,·s enumerei como primordiaes
do Estado, são, por tal modo, tão essenciaes ao EStado á vida
oa Nação q~e ou eIles são ob~ervados, ou é expo~ta. a pl'ri-
gos a existencia !óocial; ou o Estado os cumpre fiel e rigoro-
sament!', ou trahe crimino~amente a sua mili~ã()!
Notae, depois disso, que todos eIleli entendem com o
o~jecto degta cadeil'.l - o direito administrativo e a sciencia
da administração.
De todos ellcli se occupa igualmente a Constituição da
Republica, e, portanto, o DiréÍto Constitucional, de modo que
nella. encontrareis, entre outl'llS, a enumeração dos seguintes
dever.:~ ;
1.°) o ue velar na guarda da Constituição e das lei~, e
providenciar sobre as necessidades de caracter federal; Consto
cit., art. 35, § 1.0; (Appenso 11.° II)
2.°) o de assegurar a bra~ileiros e a estrangeiros resi-
',dentes no paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes á
liberdade, á scgurança individaal e.á propriedade •
. De onde logicamente eu concluo:
A missão do Estado deve scr cumprida de modo que a
Nação ntlo considere um jugo o seu poder, ~ómente suppor-.
tavel pelo temor, peliz intimidação, pela violencia ou pelo
terror, porl~eJltltra por elle empregado.
A acção, portanto, do Estado deve ser em tudo prote-
ctora, amparadora, benefica e bemfazeja, salvo os casos de
. precisar reprimir ddictos e abusos, manter o respeito á lei e
ao principio de autoridade.
E', por outras palavras, o que doutrina Bluntschli quando
affirma, que o fim directo e verdadeiro (lo El'tado é o desen-
volvimento da.~ tilf~ltlI(de.<; daNação, o ape1leiçoamento de
.~;ta vida, por uma marcha progressiva, que não 1'mplique
contradicçrio com. 08 deveres de humanidade.
Dlln:JTO AD~IlNIB'rIlATlVO
TERCEIRA LIÇÃO

o Estado e o individuo. ThE'orias antagonicas da primazia dos


direitos do Estado sobre os do individuo e vice-versa. Cri-
tica ao principio exclusivista de cada uma dessas theorias.
Formula conciliatoria de ambas, a bem da communidade
social. Direitos e deveres do Estado limitados pelos direi-
tos c deveres dos administrados, e reciprocamente.

l\Ieus senhores:
Já sabei!', pelo q'le tellllO dito nas dltas precedentes l~­
çõcs, qual é, nu entender da cadeira, o verdadeiro conceito
do Estado e do individuo, politicamente falIando.
O ponto de hoje leva-nos á indagação:
1.0) das 1'elaçues do Estado e do indü;idllo;
2.°) das thcorias antlJgonicas da 7!)"ima~;ia dos dinituo'; do
,E.~tad,) sobre 08 dI) illdiDl~],UO, tj vice-ve7'sa; c01n[J/'el,e1/dendo
eSse fxalll8 a c/"itiea ao prineipio exclllsivi8ta de wda uma
dessas t/teorias;
3.°) da ról'/l/lda conciliat07'ia de ambas, a bem da eom-
munid(tde social;
4.°) finalmente, dos direitos e det'ere8 do Estado, li1/lita-
do.., pelos di/"eltos e deceres dos a-dlJlim:stratlos, e '!'eciln-oca-
meute.

I. Parece claro que a exacta determinação das relações


ao Eiltado com o individno, e vice-ven;a, está principalmente
dependente do principio fundamental, adoptado para o Estado
no acto de sua organização,~
Esta questão não constitue o~jecto sómente do Direito
Constitucional e Publico, mas tambem do Direito Adminis-
trativo, ramo desse poder, como passamos a demonstrar. .
- 51-

E' de simples intuição que p. acção dirigente d:> poder


administrativo e os limites da administração estão subordi-
nado~, por força de sua propria natureza, ao principio sobl'e
que assenta o Estado. .
;;;e esse principio é liberal; isto é, se o Estado admitte
plena liberdade para todos, é claro que liberal tambem ha de
ser a acção da administração publica. .
Depende, por consequencia, daquelle principio a natureza
das rrlações do Estado com os administrados e vice-ve1'sa.
Se, pela Constituição do Estado, a vontade, que deve
prevalecer é a sua, claro el'tá que, ncste caso, devendo ser
posta em plano secundario a vontade da Nação, esta ~erá a
unica sacrificada.
Como vêdes, é esta. uma das q ue~tões mais transcen-
dentaes e complexas, que se teem agitado no vasto campo do
Direito Con"titllcionnl e Publico, e tambem do Direito Admi-
ni:otrativo, a que a mesma interessa.
Logicamente, não se póde determinar a priori quaes se-
jam as relações do Estado e do individuo, cuja condição so-
cial está dependente da natureza do poder politico do Estado,
do qual principalmente dependem o uso e goso de todas as
prel'ogativas, attributos do homem, tanto sob o ponto de vista
juridico, como Bocial e político,
n. Varias são, meus senhores, as theorias políticas, sobre
que asõenta a constituição ou a organização do Estado.
A meu ver, porém, todas ellas podem, sem inconveniente,
reduzir-se a dous typos: o do Estado de poderes illimitados,
que eu chamarei - omnipotente, e o do Estado, que tem a
consciencia dos limites de seu poder e de 8ellS direitos. .'.
Vê-se da historia, que vem da mais alta antiguidade a
existencia do Estado omnipotente, ao qual precedeu a theoria
do governo paternal e patriarchal.
O principio predominante, sobre que o mesmo se baseia,
é o da força.
Não é outra, por exemplo, a 'origem primitiva do Estado
*
-:õ~ -

.segundo os direitos heUenico e romano, egypcio e assyrio e o'


propl'io direito medieval.
Todos cUes, no fundo, consubstanciavam principios, que
Spencer resume do seguinte modo:
« Devem ser sl~bmettidos ao poder despotico, que gO~'erna,
não só o corpo de combatentes, mas tambem a communirlade
que o subvenciona e sustenta» C).
Assim se raciocinava sobre a funcç~o política do Estado,
porqlle o rei era, antes de tudo, o chefe de guerra (2).
Conforme o direito hellenico, todo o 'individuo dece 5er
vassallo de uma communidade, o que os gregos exprimiam
dixendo, que o individuo não pertence a si proprio, nem á
sua familia, mas ácirJade (3).
Sparta, o mais militar dos Estados da Grecia, fazia da
preparação para a guerra a grande occupação da vida. Assim
tambem Athenas ('). .
Na Republica ideal de Platão, a educação devia adaptar
os cidadãos ás necessidades sociaes, sendo a primeira deUas
a defe.sa social (5).
Aristoteles, na sua Politica, recommenda que se tire aos
paes a educaç)1o dos filhos, e que se eiluquem differentemente
as divcrilas classes de cidadãos, a fim de adaptar cada uma
deUas :ts necessidades publiclts (6).
Socrates imaginou uma organização social, reputada por
elIe como a mais perfeita, e approvada, como tal, por Platão,
em que as classes laboriosas fie:! va.m sob a
inteira sujeição
das classes sup'eriores (1).

(1)Spencer, A Just., pago 2:l2.


(2)Spcncer, obra cit. p:ig. 239.
(3) Grotius. A History of Gl'eece, lI, 468.
(4) Spencer, obra cit., pago 25(;.
(5) Spencer, obra cit., pago 256.
(6) Spencer, obra cit., pago 257.
(7) Spencer, obra cit., pago ~57.
53 -

Aristotf'les, ainda na sua Politica, considera a familia


como devendo normalmente ser constituida por homens livres'
e escravos, e ensina que num Estado bem regulado nenhum
trabalhador deve ser cidadão, e que todos os cultivadores do
sólo devem ser reduzidos á escravidão (d).
Evidencia o exposto, que o Estado antigo, conforme ob-
serva Bluntschli, não reconhecia os direitos pessoaes do homem,
nem, por consequencia, os direitos individuaes de liberdade.
Nelle, a metade da população era escrava.
A agricultura, a industria da creação,. os misteres do-
mesticos, emfim, eran::i principalmente confiados aos escravos·
Op~rarios e escravos eram individuo!', aos quaes já pela con-
dição, já pl'los misteres que exercia lI! , nenhum apreço se li-
gava:
O Estado absorvia, de todo, o homem, de cuja vida dis-
punha.
No exerci cio do poder absoluto, com que lhe prescrevia
o uso dos direitos privados, reduzia-lhe em extremo o goso
da liberdade.
Na participa~ão dos direitos politicOEl, só era.comiderado
cidadão quem, de facto, possuisse os requisitos. exigidos pelo
Estado, para gosar dessa regalia.
O principio dominante era: niliil cum potentiore juris
re7inquitur inopi. O fraco, portanto, não tinha justiça contra
o' poderoso. . .
Atéqui, em synthesf', as theoriasdo direito do Estado,
conforme o direito antigo .
. Na edude média', poré!D' passaram por grandes transfor·
m2ções essal! theorias.
E' o que yamos ver.

(8) Spenccr, obra cit., pag.259 ..


Estabeleceu-se então o regiPlen do Estado assente sobre
os principios da theologia.
Passou, devido a isso, a considerar-se o Estado como de-
rivando directamente de Deus; de Deus procediam a sua or-
. ganizaç?io e podt'res.
E8S8S poderes já então não se encarnavam sómentc na
pessoa do Rei. O Principe era o unico representante de Deus
sobre a terra; mas, quanto ao exercicio de seus poderes, in-
cumbia a um governo sacerdotal (theocratico), tendo por chef~
o Rei, e por sub-chefes as tres classep, em que se dividia a
Nação: clero, nobreza e povo.
Nobreza e povo constituiam, de resto, a maioria da Na-
ção, governada por leis, que estabeleciam duras obrigações,
embora reciprocaR, entre os vassallos e os senhores de terras.

Vejamos agora em que se differenciam os principios ex-


postos dos principios doutrinados por Hobbes, Rousseau e ou-
tros no longo intervaIlo de parte do seculo XVI ao meado
do seculo XVIII.
Para Hobbes, o grande philoso~ho ioglez e original au-
tor do Leviathan, todo o homem tem por fim sua felicidade "
i,<;to é, seu prop1'io bem-estar. Toda indagação, pois, para
isso, é legitima; legitimo, egualmente, o que á mesma se re-
fere, tudo o que é feito, visando esse bem-estar.
«Quem quer os fins, diz elle, quer os meios e quem le-
gitima o fim, legitima os meios. Cada um, sendo juiz de
sua propria felicidade, é juiz dos meios para alcançal-a, e
aquelle que tem' direito a um des~es meios, tem direito a
todos os outros .. de onde se segue que cada homem tem di-
reito a todas as cousas: .ms IN OMNIA OMNIBUS (9).

(9) Larousse, Diet., v. État.


- 65-

A simples exposição dest~ systema deixa logo ver o


absurJo que do mesmo resulta.
A theoria de Robbes é puro sensualismo, que a razão
logo rejeita. E', além disso, o egotismo erigido em systema,
o qual não é senão o sentimento exagerado da propria per-;
Bonalidade, t', portanto, contrario não só ao sentimento da
justiça, como aos principios da moral e da solidariedade hu-
mana.
E', depois disso, um raciocínio especioso, um sophisma
de falsa inducção o argumento de que - quem quer os fins,
quer os meios.
Estabelecido como regra este principio, nàohaveria di.
reito nem moral.
Su pudesse o homem ser juiz de suas proprias acções,
como pretende Robbes, a consequencia seria a negação da
sociedade, tal como existe, e, pois, bastaria viverem os povos
como 013 africanos de Leste, onde o individuo lesado ora se
vinga por si proprio, ora se queixa ao chefti (10).
Temos, depois désta, a theoria de Roússeau.
Partindo do mesmo principio, estabelecido por Robhes}
Rousseau diz que o podt:r absoluto não deve ser confiado a
um só homem, mas á propria sociedade.
E, nesta conformidade, accrescenta: Republica ou 1110-
narchia, é sempre o poder absoluto, buperior a toda a condi-
ção, superior á propria Justiça ou, antes, fonte da Justiça,
que deHa deriva.
Proseguindo na exposição de suas idéas absolutistas,
Rousseau contradictoriamente accrescenta:
cNenhum homem tem autoridade moral sobre .seu seme-
lhante, de onde se segue que a sociedade resulta de uma
convenção. »
O Estado, pois, é uma fórma de associação, que defende

(10) Spencer, Obra cit., pago 24~.


- 06-

e protege pela força a peElsoa e os bens de cada associndo, e,


pelo qual, cada um, se u,nindo a todos, não obedece sinão a
si 'mesmo, continuando tão livre como dantt>s (ll).
Como vêdes, esta theoria não é só fal .. a; é tambem con-
tradictoria: falsa por ter sirio, desde logo, desmentida pelos
factos, que nunca mostraram :l existencia do contracto social
de Rousseau; contl'ãdictoria, parqu~, negando que o homem
possa ,ter autoridade mora" sobre seu semelhante, admitte,
com tudo, que a totalidade. do!'! associ:tdos funde um governo,
que possa exercer sobre todos nquelIe poder moral, que é
negado ao homem individualmente.
E' dt! simples intuição, qne não só naquelle, como em
todos os contractos, ninguem póde transferir a outrem pode-
res que não tem: Nemo plU8 juris ad aliurn 11'un.';fei·re po-
test, quam ipse ltabet (12).
Depois, como binda pondera um ilIustre commentador
dessa doutrina, ninguem tem o direito de digpor de sua pos-
teridade.
Falsa e contradictoria, como acabo de u:ostrar, a dou-
trina de Rousseau, é, com tudo, certo, que o mesmo póde e
deve ser considerado um dos mais notaveis propagadores da
egualdade humana, mais tarde transformada em democracia.

Vejamos, depois disso, em que ainda se ·differencia o


Estado moderno dos typos anteriores, que acabei de apontar
como um só, isto é, do estado antigo propriamente dito e do
Estado medieval ou feudal, ambos assentando, principalmente,
sobre a força.
Bluntschli, em um interessante estudo de confronto,
dá-nos, numa synthese brilhante, esta demonstração.
O Estado moderno (diz eIle) reconh~ce todos os direitos

(U) «Larousse", Dic., cit., v. État.


(U) U1p. 51, De reg, juro
57

do homem; aboliu a escravidão, que. era uma injnstiça. Como


eonsequencia, o homem {leixou de ser propriedndeào homem.
passou de cousa. a 8ujeito de direitos. O trabalho tornou ·se
livre, e ao mesmo tempo elitimado. Politicamente, crmceden
o Estado a todas classes a participaçno 110s publicos negocios,
Adquiriu, portanto, a consciencia dos limites do. seu poder e
dos seus dir'eitos.
Renunciou, por igual, o poder de suprema autoridade
sobre as artes e as sciencias.
Deixou á Egrf'ja a direcç?ío da rf'ligião p do cult(l, assim
como garantiu ao individuo o direito de f'xame e de opinião.
Como' vêdes, é profundo o antagonismo entre as theorias
que acabam de ser expostas.
No estado actual da questão, é diftlcil uderminar pre-
cis:1mente até onde de\Tc ir o poder do Estado na direcção
dos negodos da Nação.
Sobe de ponto esta difficuldade no tempo present<',
diante do profundo desaccôrdo em que se encontram os pu-
blicistas, naturalistas e philosophos ácerca. desta el:'pecie con-
trovertida.
Variam as opiniões conforme a orientat;ão philosophiea
de cada uma das escolas scientificas a que tive occasião de
me referir em minha lição inaugural- o positivismo, o evolu-
cionismo e o monismo, todas diametralmente oppostas á theo-
ria dualistica ou vital, sobre que assenta a eEcoIa espiritua-
lista, ha!le do nosso reg-imen politico.
Quer isto dizer, que o superveniente apparecimento das
tres novas sciencias a que me acabo de referir veio, por
a~sim dizer, revalucionar o direito desde a. sua origem, alte-
rando-lhe não só profunda e sllbstancial~ente o conceito, como
pervertendo a verdadeira noção, que do mesmo nos dá a ea-
col.a espiritualista, que me parece ser a preferida por uma cx:-
traordinaria maioria, senão por uma quasi unanimidade do
nosso paiz.
-:- 58 -

Não comprehendo, S;mhore~, que o direito deva ser só-


mente con"iderado pelo lado pratico, pelo lado util, pelo lado
do interesse, corno pretende a escola po~itiva.
:Não é, não póde ser o. prazer o unico bem da vida, como
sustenta Bentham (13), baseado na. doutrina de seus predeces-
sores Aristippo, Epicuro, Hobbes e outros.
Não comprt:hendo, que o direito deva ter sómente por
guia as normas do evolucionitimo que é, como se sabe, uma
theoria, que esteve em vigor ha cerca de dous seculos, 'até
que caducou C4.).
Não creio que stja a unica verdadeira a synthese auda-
ciosa de Spencer, qm', partindo da sciencia posittVa, deu nova
vida ao evolucionismo de Tllrgot, Condorcet, Kant, Laplace
e outros, procurando tudo relacionar no mundo moral, como
no mundo physico (15).
Não é bastante, para convencer da .verdad~ das idéas de
Spencer, o symbolismo de sua doutrina, materialmente retra-
tado por um animal adulto, que era representado em minia.
tura no germen de que provinha (16) •
. Notae que o proprio Spencer, escrevendo a sua Sociolo_
gia, o fez em termos tão funestos nas consequencias, que logo
os socialistas, como bem pondera Medeiros e Albuquerque, ti-
raram da mesma proveito e força para consolldarem ainda
mais o regimen socialista.
Por tal lUodo favoreceu a causa dos socialistas o "egimen
organico do E'ftado, imaginado por Spencer, que este se viu
na necessidade de procurar reparar o seu erro, escrevendo
outro livro - O Individuo contra o Estado - mostrando que

(13) M. Guyot, f.a Mot·. Angl., pago 6.


(11) Encyclop. Pod., vol. pago 842.
(1 5 ) EncycJop. Port., vol. pago ~q,8.
(16) Encyclop. Port., vo1. pago 848.
- 59-

o papeL deste devia reduzir-s8 ao, minimo, tanio elle era


s~mpre nefasto (17).
Mas, contra a espectativa de Spencer, a; these agradou
Jirindpalmente aos nnarchistas, e ei·lo de novo decepC'ionado
com a sua nova obra!
Que aconteceu, meus senhores?
Spencer, completamente desilludido~ teve de retratar-se
dos principios que defendera, j:!. então descrendo da infallibi-
lidade dos mt smos.
No ultimo livro, que escreveu-«Facts and CcmmentsD -,
repudiando as suas proprias idéas, acabou por se convencer
da inutilidade de sua doutrina.

lII. Qual, pois, deve ser a fórmula conciliatol'ia das


tlleorias antagonlcas, de que vos dei noticia, a bem da com-
munidade social ~
Como é difficil, senhores, em face da anarchia reinante,
mesmo no terreno dos principios, precisar bem este ponto!
Nos tempos que correm, a -situaçfi.o dos povos contempo-
raneos é muito mais difficil, do que a dos povos, que os an-
tecederam.
Nos tempos antigos, a força predomi'4ante era o princi-
pio, que servira de base e continuava a ~ser - o unico funda-
mento do Estado. .
H+~, não!
O que, em 'verdadt', se observa é a mais chocante con-
tradicção da pratica com os principios ou theorias do Estado.
Theoricamente, doutrina-se uma -cousa; praticamente,
logo se desmente e f:!e deturpa, com a maior facilidade, essa
doutrina!

(11) C. do Manh. -t7 - 6 - 902, arl. do Med. e Alh.


60

Além de não haver um só principio a respeitar na pra-


tica do regimen, asústimos cllda dia ao choque tl'emendo de
interesses oppostos, de explosões de descontentamento e des-
peito da parte dos vencidos, de embates furiosos de tantas
opiniões extremadas, que se digladiam!
E', aliás, a na~ural consequeneia da anarchia mental,
que reina em todas as sociedades no momento presente.
Aqui mesmo, nós vemos que. ha quem negue a verdade
da theoria sobre que assellta o nosso regimen e sustente que
o' Estado é superio1' ao individuo, e que este não passa de
um seu subordinado.
Não é outra a concepção, que parece ter o proprio Go-
verno do Brasil a respeito das funcções do Estado.
Para ellp. parece que ha um antagonismo inevita.,;el en-
tre a administração e a legalidade.
Um jurisc(1nsulto, conforme affirma Jean Cruet, expri-
miu-o brutalmente em uma formula celebre:
1/ A administração é impossil'el, se tem de conformar-se

com as leisll ('8).


E' esta, senhores, a doutrina moderna, umas vezes aber-
tamente seguida, outras vezes disfarçada por todos os gover-
nos dos tempos actuaes!
No no"so paiz, por exemplo, o Governo continúa a ser
Tudo, apesar das liberdades outorgadas ao povo pela Consti-
tuição da Republica. .
Devido talvez a isso, o povo tem sido até agora le t1'Oll-
peau de moutons, não só dirigido, como tosquiado á vontade
dos dirigentes!
Age-s.:', é certo, em seu nome, mas pro forma,
A politica é o grande eixo para onde convergem todos·
os negocios do Estado.
Como vêdes, a politica tem variado conforme a influen-
tia do centro.

(18) Jean Crud - A Vida do Dir., pago 109.


- 61

Se disso se faz mister a prova, vós a tereis na propria


:Mensagem Presidt'ncial hoje publicada.
Com louvavel isenção de espirito e extraordinario des-
prendimento de todas as ligações politicas, diz o Sr. Presidente
da Republica:
(cA época, a nossa situação é para os que te em fé c são
capazes de acção inttlligente e patriotica.»
ccAnte estes dous poderosos factores, não haverá dífficul-
dades invencíveis. Já uma vez combati (e o faço hoje com
mais conhecimento de causa) o personalismo de nossa politica,
a sua exaggerada precccupaç?to partidaria quc a tudo se so-
brepõe; o esquecimento ou menOl'lprezo dos altos problemas
nacionaes, que, ou são consiflerados como nonada, ou são tra-
tados; como se fossem questões de segunda ordem.»
«Nesta hora angUl,tiosa por que passa o Mundo é que
se póde bem verificar quanto descuidamos dos interesses ca-
pítaes e quanto tempo precioso perdemos' em questiunculas
estreitas e irritantes de politica de campanario I»)
aFaçamos ponto. Comecemos vida nova. De nós o exige
a nossa propria honra.» .
«Que os chefes das circumscripções estaduaes voltem as
costas aos politiqueiros, prefiram e chamem a postos os ho-
mens capazes, os homens de idéas sãs e de processos dignos.
Qne todos aquelrt:s que teem representa'ção na politica e na
adlIlinistração concorram para a reform a dos no StlOS per niciosos
costumes politicos, causa de serios prejuizos materiaes e mo-
racs para a nossa querida Patria e só cuidem de elevaI-a ao
posto a que elIa tem seguramente direito pelos seus immen-
sos recursos de toda a ordem. I)
Quando sobreveio a republica, um dos maiores argu-
mentos contra o regimen decahido era o do enfeudamento
das antigas províncias á Côrte, que então era o centro.
Pouco tempo depois se verificava, que cousa peior trou-
xera o novo regimen: o enfeudamento dos E!itados aos indi-
viduos.
62 -

LlCvantaram-se, em consequencia dispo, numerosas e pro-


fundissimas quei~cas contra as olygarchias estaduaes, que
serviram, entretanto, de baluarte a um dos patlsados governos
da Republica, que só conseguiu se manter no podl:r por força
unicamente da politica dos governadores.
Emqu'lnto isso, os politicos entram em conciliabulos e con_
chavos, visando principalmente a realização das aspirações
politicas dos Estados por elIes representados.
E' desnecessario accrescentar, que, nessa lucta de inte-
resses, na pratica dessa politica de campanario, os legitimos,
os verdadeiros interesses da Nação foram sempre esquecidol',
ou postos á margem!
Politicamente, é innumeravel a sequencia de erros dos
nossos dirigent~s, levando o paiz á djfficil situação, grave e
arriscadll, em que o mesmo se encontra!
Administrativamente, é o regimen da c~tucha, do favo-
ritismo, do empenho e do papelon'o que impera!
Apesar disso, tudo vae bem no conceito dos optimistas,
que são unicamente os que merecem as predilecções pessoaes,
as graças do poder, e auferem os proventos da situllçilo, que
apoiam incondicionalmente, por consideraI-a impeccavel, e,
portanto, acima de todo o elogio!
Constitucionalmente, quasi que não ha pisposição do nosso
Pacto Fundamental, que não tenha sido flagrantemente yjo-
lada!
Entre tantos exemplos, que eu poderia citar, apenas
apontarei um.
Apesar de assent:'l.l' o nossoregimen político na fedm·a-
ção dos E'ifarlo8 e na unidade do principio, sobre que se ba-
seia o governo central,temos um Estado da União franca-
mente positivista, eom· uma Constituição diametralmente
opposta . á Constituição da Republica!
Tudo isso tem dado" logar a que-governo, congresso,
justiça, administração, etc., sejam, todos os dias, alvo de accu-
sações e censuras, por vezes (diga-se a verdade!) merecidas
e justa!!, porque, de facto, ainda não se firmaram de todo no
tegimen da legalidade!
De maneira que, em sitnação, como E'8ta, não éfacil es-
tabelecer uma formula eonciliatO?'ia dos direitos c interesses,
tanto da União como dos Estados, a bem da communidade
social!
Recentemente, em relação aos negocias internos, uma
das questões que mais preoccupam a attenção é a da politica
regional,
Por emquanto, mal se percebe o surdo ruido de vozes
discordantes e descontente!', ameaç:mdo romper a cohesão e
a haJ'moni~, felizmente ainda reinantefl, em todos os Estados
da Republíca.
:Mas, o rumor vem de longe, ha muito que Ee o percebe,
c ... continua!
Praza a Deus, que tudo não pa-sse de receios infundado!",
de vãos temores!
A !!ituação do Brasil, t:into no ponto de vista político,
como no administrati\'o, é de fundados receios e de jnstas
apprehensões.
NeIle o optimismo vae se tornando um systema, qne
conE<idero um mal e tão perigoso, quanto a qualidade, que lhe
é opposta-o pessimismo!
Nem tanto ao mar, nem tanto á terra, diz o adagio. A
verdade ha de ser sempre enccntrada no meio termo, de
accôrdo com a maxima-in media virtus.
IV. Partindo d'esse principio, vê-se claramente quanto é
necessuria á vida de uma }l"ação -a limitação reciproca dos
direitos e deveres do Estado c dos administrados.
Eu não diria a verdade, si aqui vos apresentasse como
sendo de minha lavra estas idéns, que são aliás de um grande
numero do tratadistas sublimados, muitos delles chefes de es-
colas, intransigentes partidarios dos principios que defendem,
como, por exemplo, Lastarria, que diz: «O Estada ou governo
depositaria da poder palitico em uma so.ciedade cans~itlle-se
- 64-

e organiza-se no pi'opl'io intel'esse desta, 8ejam qUfles forem


os factos historicos a que deva a sua origem e a delimitação
da esphera de suas attribuiçõesD (19)
Como estaes vendo, comprova a verdade de minhas as-
serções a opinião, sem duvida esclarecida e insuspeita, de um
advenario, como Lastarria.
Spt:ncer, por sua vez, depois de se haver peniten:ciado
das duutrinas que prégou, tscreveu um lívro-A Ju.'1tiça, no
qual estabeleceu principios, que vêm de molde na explanação
da ultima parte do nosso ponto:
1.0) O equilíbrio das funcções do Estado é necessario
para o organismo social e para o bem estar dos seus mem-
,
brós·
2.°) O Estado não póde infringir os principios do justo,
nem arrogar· se qualquer outra missão, que não seja da ma-
nutenção da justiça;
3. 0 ) O Estado não é senão um orgão incumbido de as-
segurar e manter os direitos individuaes. Se o não faz, está.
claro que falta á sua missão, violando esses direitos;
4. O) Sem pre que ha coacção, a liberdade Bca violada,
,embora imaginem os coactores que o fazem para o bem dos
coagidos.
D'onde, senhores, eu conclúo:
N em o predomínio do poder sem contraste do Estado
omnipotente, nem o predominio do individualismo, levado ao
ponto de privar o Estado dos meios necessarios á manutenção
dos seus serviços e eneargos!
O que é natural, é que todos aquelles que participam
dos beneficios do Governo, devam contribuir, directa ou indi-
reetamente, na proporção de mas forças, para as despezas de>
E"tado (20).

(19) Aut. cit., Lecl. de La Polit. Posílive, pago 210.


(20) Spehctlr, Ob. cit., pag ~3~.
- 65-

Mas, não esqueçaes que ir além dessa medida é oppri-


mir, é vexar, em vez de proteger os cidadãos.
Por isso que a justiça (ainda observa Spencer) affirma,
que a liberdade de cada 'Um tem sómenle por limites as
liberdades analogas de todos, é injusto impôr-lhe um li-
mite differente, quer o poder que imponha essa modifica-
ção 1'estrictiva s('ja um homem, ou milhares delles dúecta-
mente, ou 1'ep}'esentados pelo Estado.
Helativamente ao nosso paiz, cumpre notar que elIe, de
certo tempo a esta parte, mesmo no actual regimen, tem pas-
sado por transformações profundissimas, principalmente no
que diz respeito ao povoamento do sólo e á utilização dos
seus inexhanriveis recursos naturaes.
O que se nota é a preoccupação do Governo de impulsio-
nar a vida do paiz por meio de uml\ administraçuo especia-
lizada.
Não sei, senhores, si de tantas leis ultimamente votadas
neste sentido resultarão, de facto, os beneficios que se espe-
ram para a Nação.
O que sei é qUI', apesar dos tão aprt~goados progressos
que se dizem realizados pelo Brasil nestes ultimos annos, a
verdade é que crescem dia a dia as difficuldades da vida no
paiz ao lado de espantoso augmento de compromissos e en-
carg'ls do Estado, que não sei como serão solvidos ou satis-
feitos quando, terminada a guerra, vierem os nossos credores
exigir o cumprimento de nossas obrigações pecuniarias.
Não esqueçamos, ainda em referencia a tantas leis, que
está se dando agora. no Brasil exactamente o mesmo que tem
acontt:cido em outros paizes (entre elles a propria Inglaterra),
onde, no dizer de Spencer, o parlamentarismo (muito antes
da guerra) já dava pr?vas da maior precipitação e da maior
incutia.
Alli, no parlamento inglez (quem o diria!) umas vezes
as leis são votadas a galope e sem discussão a pós as leituras
regimentaes; outras vezes, depois de terem sido retardadas
DIREITO ADMINISTRATIVO
- 66-

por meio duma minuciosa discussão, voltam, na se.~são imme-


diata, a passar novamente por toda a fieira parlamentar.
Querendo prevêr tudo, ac~umulam.se nos projectos de leis,
alterações sobre alterações, e, uma VEZ votadas essas lei~,
vão perder· se no amontoado cahotico das leis anteriores, au-
gmentando a confusão existente! De nada valem queixús,
nem reclamações! (21).
Tal qual, sem tirar nem pôr, o prurido de reformas, de
que padece o Congresso Brasileiro!
E o mais interessante é que, muitas vezes, elle dando
preferencia ás reformas addiaveis, condemna ao esquecimento
exactamente as reformas mais necessarias ao desenvolvi-
mento do paiz !
Haja vista, por exemplo, a reforma do ~nsino, quP, desde
maio de 1915, pende de approvação do mesmo Congresso.
O mal, senhores, provém de fazer o Governo iunta-
mente com os nossos legisladores, de assumpto, como este,
um caso politico!
A consequencia tem sido a mutilação dessa reforma,
que vae sendo votada em parcellas, com alterações profun-
dissimas de sua estructura.
Perde com iSSQ a Nação, porque, com as reformas que
se vão fazendo precipitadamente aos ped"ços, se desvirtua e
se debmoraliza o ensino!
Pode ser, senhores, que eu esteja enganado; mas hoje es-
tou convencido de que, ainda uma vez é chegado o momento
da verificação pratica de uma profunda' verdade, pronunciada
por Vico: «Existe na sociedade, eomo no individuo, uma
origem, uma madureza e uma deelinação" além disso, as
mesmas causas psychologicas eonduzemaos mesmos effeitos
sociaes. 1aZ é o fundamento da famosa theoria dos RI-
CORSI, ou do perpetuo" regresso da civilisação humana a

(91) Spencer, Obro cil.,·pag. 274.


· - ~37 -

um ponto de partida ana/ogo ao de uma civilização ante-


rior e~).
Isto, senhores, no meu entender, explica dous factos que
Be notam na actualidade: o regresso do Direito Publico (nelle
comprehendido o Direito Administrativo) ao estado da civi-
lização antiga, e a barbarisação dos povos, pela subversão
dos principios, sobre que a8senta a ordem jurídica, profun-
damente deturpada pelo egoísmo dos povos e governos an-
tes e na intercorrencia da guerra actual.

!, . .

',"
.; .r·.·· .

(22) Vie; Sei. Nuova; Eneyelop~ Port., vo!. 9.0, pago 860 ..
*
QUARTA LIÇÃO

Como, no transcurso do tempo, tem variado o conceito politico


do Estado. No Brasil o Estado é representado pela União.
Synonymia desses vocabulos na sciencia da administração.
Estados Federaes e suas relações com o poder central da
União.

:Meus senhores: .
Refere o ponto de hoje que, no transcurso do tempo,
tem variado o conceito politico do Estado:
1. Nas duas precedentes lições (2. a e 3.") eu procurei
deixar patente, por um estudo comparativo de Bluntschli, as
difterenças esscnciaes entre as noções do Estado antigo e feudal
e do Estado moderno.
Pelo que então eu disse, ficastes sabendo qual o verda-
deiro conceito do Estado nos tempos actuaes, bem como onde
reside o fundamento do poder, que elIe exerce. .
Vistes tambem como se dividem os poderes do Estarlo,
principalmente na fórma do nosso regimen politico, e qual o
logar que compete, entre os mesmos, ao pode1' administrativo.
Vistes ainda, embora syntheticamente, em que cODsis-
tem os deveres primordiaes do Estado, extensivos á adminis-
tração publica.
Em seguida, na 3." lição, eu tratei das relar;ões do Es-
tado e do individuo: enumerei todas as theooas conhecidas
sobre a organização e os fundamentos do mesmo nas tres
idades-antiga, média e moderna; e, depois de ter feito a
analyse e a critica de cada uma dessas theorias, esbocei uma
fórmula conciliatoria dáS ,duas principaes theorias divergentes,
ácerca da natureza do E·stado, concebida assim:
- Nem o poder seIl? contraste do Estado, absorvendo de
todo o individuo, como nos tempos da antiga Grecia e Roma,
- 69-

nem o individualismo contra o mesmo, levado a ponto de pri-


vaI-o dos meios, de que precisa, para segurança interna e ex-
terna do paiz, para a manutenção da ordem juridica na so-
ciedade e para o desenvolvimento progressivo da collectivi-
dade, constituida em Nação.
Antecipei, como vedes, a explanação de pontos, que inti-
mamente se prendem á lição de hoje.
Não podeis, por consequencia, ter duvida sobre a evolu-
ção das fórmas constitutivas do Estado no volver dos seculos
até á presente data.

Passou o tempo em que o Estado, no desempenho da


sua missão, agia principalmente no seu proprio interesse per
(as et netas.
Hoje, em face do desenvolvimento a que tem attingido
o Direito Publico, sobre~udo nos paizes, cujo regimen é de
monarchia constitucional, ou democracia representativa, nin-
guem mais admitte (pelo menos em theoria) o Estado exer-
cendo a tutella não só do individuo, como da collectividade
ou Nação.
Seria actualmente um contrasenso o immiscuir-se o Es-
tado até na propria direcção do individuo, constituindo-se
deUe um segundo pai ou preceptor, como assim entendiam os
antigos philosophos e legisladores da Grecia e Roma.
Não ha, por consequencia, mais Estado-paternal ou pa-
triarchal, Estado-senhorio ou patrimonial, Estado-juiz e arbi-
tro das consciencias, dos trabalhos e das (m·tunas, como
haTia dantes.
Hoje, o justo equilibrio dos direitos e deveres tanto do
Estado, como dos administrados, é a primeira condição de um
regimen estavel, util e proveitoso para o paiz.
Debalde (observa Baudrillart) porfiam alguns publicistas
em sustentar, que o Estado pode tudo, porque está acima de
tudo.
- 70-

E' preciso não esquecer que, si o homem, como cidadão,


está sujeito ás leis do Estado, o mesmo homem, como ser hu-
?nano, tem outras leis, de natureza moral, a cuja obediencia
é tambem obrigado, e tão fortes, que contra as mesmas ne-
nhum poder tem o Estado.
E', portanto, um erro a theoria do poder absoluto attri-
buido ao Estado, causa geradora do seu despotismo.
E' um erro (que Baudrillart muito justamente considera
- um grande perigo politico para as sociedades actuaes) a
theoria matel'ialista do E'o,tado - autor de todo o direito e
de toda a justiça.

n. Refere a 2.& parte do nosso ponto, que, no Brasil, o


Estado é 1'epresentado pela União.
Passo, por i~so, a demonstrar, como me cumpre, a ver-
dade deste asserto.
Antes de tudo, na' fórma do nosso Direito, tanto Publico
e Constitucional, como Privado, a União é ~onsi:lerada uma
pessoa jurídica. (')
União e Fazenda Nacional ou Federal são, na technolo-
giR do nosso direito, a mesma entidade. (l')
Essa entidade é ainda considerada uma peJ'sona lida de
juridica de existencia necessaria (3)
E assim deve ser, porque, de facto, a União Federal não
é sinão a personificação do E'itado.
Em tudo, porém, ella se differencia, politica e constitu-
cionalmente, das unidades de que se compõe, conhecidas pelas
denominações de Estados Federaes, ou federados, Estados
da União, ou simplesmente Estados.

(') CarI. de Carv., Consol., art. 147, n. 1.


(2) CarI. de Carv., obro cito art. 147, § 1.0, Const. da Rep., arts.
1 e 2. (App. 1Il).
(3) Carl. de Carv., obra cit., art. 147, pal'agrapho unico.
-71-

Caracterizam-se com precisão as condições distineti,as


da U nirio do sl'guinte modo:
A Uni1io não constitue um Estado Federal, porqlle, no
ponto de vista de suas prerogativas e attribnições, está CQIlo-
cada mais alto do que 'aquelle.
E', antes dtl tudo, o centro do governo' da N"ç?i:o, a en-
tidade hiprarcbicamente superior, em que se encarnam todos
os poderes da Naç1io.
No dominio das relações exteriores, perante o Din·itO
Internacional, o que existe é o Governo J1'ederal ou a Unii'io (4).
Quanto aos Estados, eUes não teem ~apacidade politica
extc,rna; não podem, por exemplo, fazer tratados, declarar
guerra, enviar e receber embaixadore~, manter corpo diplo-
malieo e consular, etc. (").
No que diz respeito 1í sua capaeidade politiea de ordem
interna, a acç.ão dos Estados tem limitações essenciaes ao re-
girnen federativo, deduzidas da existeneia em commum e res-,
peito reciproco dos mesmos, sob a égidtl da União (6).
lII. Evidencia o exposto, que entre os vocabulos Estado
e União ha perfeita synonymia dos mesmos na sciencia poli-
tica e da aÇiministra~io.
Esta synonymia, porém, só existe quando a expres~ão
- Estado é empregada no t:!entido de govel'no geral ou cen-
tral, ou mais particularmpntc da União, '
Fôra dahi, não ha synonymia possivel, porquanto, a de-
nominaçn.o Estado, r<"ferindo-se a uma das unidades de que
se compõe a União, exprime não só i<1éa, como entidade di·
versa.

IV. Vejamús agora em que consistem as rebções dos


Estados Federaes com o poder central da União.

(') J. Barb., Comment. ;í Const., pago 12.


(5) J. Bal'b., obra cit., pago 12.
(6) J. 13arb.,.obr., cit. pago 12.
- 72-

A' enião, como eu já f.i;r, sentir, pertence o governo na-


cional, ou o gODemo geral do paiz, com as funcções, qU'3 de-
signadamente lhe conf\~riu a Con~tituição Federal, inclusive
poderes não só expressos como implicito~, todos necessarios á
manutenção do Estado e ao bf,m geral da Naç?io.
Com o governo da União coexistem os governos dos Es-
tados, tendo, cada um, uma f'sphera de acção propria e dis-
tincta, todos separados do governo da União em tudo o que
diz respeito à !"ua vida local (1).
Quanto ao mais, os governos tanto da União, corno dos
Estados, (~onstituem um só Todo - o Br:u,il, a mesma una e
grande Patria em um só territorio, na conceituosa expressão
de J. Barbalho.
Occupando-se da organi;r,ação dos Estados, emittiu o
douto cOlllmentador oa nossa Constituição uma opinião, com
a qual não posso concordar.
A' Pilg'. 12 do seu Commentario diz elle:
c Os E'itados não prer:edemm â federação; ni"io existiam;

fizeram-se com ella, ao mesmo tempo que ella e para ella.


Supp~·inâll.se a autoridade imperial e fragmerUou·se a jn-
risdicçi"io soberana, uma parcella para cada wna das cf,.·
cumscripções administ'l'(diva,'{- rtS p1"oV/:ncias, erigidas agora
em entidades politica.ç, em E.~tados nas condiçiies que a
Constituição estabelece.
Examin~ndo o caso em face da mesma Constituição,
chega· se á evidencia de que, em parte, .I. Barbalho não tem
razão.
Primeiro que tudo, :lo soberania foi sempre considerada
una e indivisicel; não póde, portanto, fragmentar-se, como
inadvel'tinamente elIe suppõe.
Os Estados Federaes (considerados cada um de per-si)
não são .soberanos; nenhuma parcella possuem da mesma.
soberania.

(7) J. Barb., ohr. cit., pago 12.


- 7J-

Na fúrma da Constituição, esta sô existe no povo ou


nação.
Depois, é erro suppôr que I3Ó os actu:'.es Estados são
entidades políticas.
Esta qualidade tambem pertencia ás antigas provinciuf',
que, si eram circumsc1'ipções administrativas, como diz J.
Barbalho, nem por iiS~ deixavai:n de ser ao mesmo tempo
entidades politicas, na fórma do disposto na Constituição do
Imperio e do Acto Addiccional.

Demonstremos esta proposição.


Primeiramente, por fOI ça do disposto no art. 1.0 da
Constituição do Imperio, o Brasil constituia uma assoâa~'ão
política de todos os brasileiros composta, como se sabe, da~
quellas provincias, o mesmo que ora acontece sob o regimen
da Constituição de 24 de Fevereiro, art. 1.0, em relação aos
Estados federaes.
Ainda na fórma daquella Constituição (a do Imperio) as
provincias formavam uma Nação livre e independente (Const.
cito art. 1. 0; o mesmo que hoje acontece cem os Estados da
União, sob eEte ponto de vista; Constituição Federal, art. 1.°
(App. n. o IIl).
Depois, o Territorio do Brasil era então dividido em pro-
1'/:ncias (Const. do Imperio, artigo 2'.°): como é hoje dividido
em Estados Unidos do Brasil, na fórma do disposto nos ar-
tigos 1.0 e 2.° da Consto da Republica.
No que respeitava aos poderes políticos da Nação, além
de serem os mesmos esses poderes, a mesma a divisão, que!
com referencia a elIes, a Republica adoptou, vê-se que a
Constituição do Imperio, no art. 11, considérava especial-
mente como representantes da Nação Bl'asileira, o Impe?'a-
dor e a Assembléa Geral; dahi o tratamento ou titulo de
- «Augustos e Dignissimos Senhores Repressentantes da
Nação), que aquella Constituição (art. 16) dava a cada uma
-74-

das camaras, de que se compunha a Assembléa Geral.


(App. lII).
Para as nomeações dos deputados e senadores, de que
esta se compunha (Oonst. n0 Imp., art. VO), concorria dire-
ctamente, com os seus suffragios, cada uma das provincias,
que então constituiam o Imperio, tal como hoje se procede
relativamente á eleição do Oongresso N2cional; Consto de 24
dc fevereiro, art. 16, 28 e 30 (App. lU).
Por consequencia, contrariando embora a opinião muito
autorizada, e, por isso, digna de todo o ref'peito, do nosso
illustre compatriota, commentador da Constituição da Repu-
blica, eu atfirmo que a principál differença, que ha entre
aquellas provincias e os Estados actnaes,. é que estes, no que
diz respeito ao:" negocios de SU'l. vid~t local, se dirigem, se
governam por si (são autonomos), ao passo que as provincias
não tinham essa autonomia, e eram administradas por dele-
gados do poner central- President~s de Provineia.
No mai'i', são, pelo menos, muito semelhantes as condi-
ções dos Estados da União, comparadas com as das antigas
provincias.
Para se ter como certo que estafl, no seu tempo, não
eram sómente simples circumscripções administrativas, bas-
tará considerar que, na flH'ma da Constituição Imperial, cada
uma das provincias tinha seus representantes em cada uma
das camaras, de qn~ se compunha a Assembléa Geral, o qne
prova que tambem participavam do supremo governo da Na-
ção.
Oada provineia, portanto, além de ser uma circurnscri-
pção adminüdrativa, era, como supponho ter demonstrado,
uma entidade ao mesmo tempo politl:ca, como o é hoje cada
um dos Estados da União.
A p'rova está em" que, si as provincias, por exemplo,
não podiam deliberar sobre interesses geraes da Nação; so-
bre tratados de alliança offensiva e defensiva; declarar a
guerra e fazer a paz; conceder cal;ta de naturalização, etc.,
- 75-

etc., aos Estados Federaes tambem falta esta capacidade, e,


sem embargo disso, muito justamente se consideram entida-
des politicas.
O erro de J. Barbalho está em ter negado ás provine;as
no tocante á capacidade politica de ordem interna, aquillo
que concedeu aos Estados; isto é, essa capacidade politica,
qlle dá aos mesmos Estados poderes, que .'ioffrem limitações
esunciaes aO reg2:men federatiro.
O estlldo comparado das duas Constituições (monal'chicà
e republicana) mostra, á luz da evidencia, o erro de J. Bar-
balho.
A verdade é que, a muitos respeitos, os Estados, como
elle diz, se acham sQb a égide da União, como as extinctas
provincias se achavam, no seu tempo, sob a égide do Poder
Imperial.

Depois, seria pura innovaçao do nosso regimen a sup-


posta soberania dos Estados Federaes !
Na propria Republica Norte-Americana, que, como sa-
beis, serviu de modelo a nossa Constituição, os Estados não
são soberanos. .
Por occasião da revolta das treze colonias inglezas contra
a Metropole, essas colonias se declararam, de facto, indepen-
dentes e sobemnas.
~Ias isso por pouco tempo.
Reunidos em congresso em Philadelphia, os delegados
das colonias votaram os «Artigos de Confederação e União
Perpetna», nos quaes declararam:
fi Cada Estado conserva a sua sobe~ania, a sua liber-

dade e a sua independenda» (8).


Firmada esta alliança dos Estados, dahi proveio o titulo
de Estados Unidos da America.

(8) Cooly, Dir. Consto pago 9.


- 76-

Durante dez annos, os «Artigos da Confetleração» foram


a Carta Constitueional da Republica.
A verdade, porém, é que, emquanto aurou a guerra, só
a autoriJade moral de Washington e de seus amigos poude
impedir que a União se dissolvesse. (9)
Corria imminente perigo a União, quando um homem de
Estado, Alexandre Hamilton, amigo, confidente, e, por vezes,
o inspirador de Washington, propôz a reforma da organização
federal, então existente, e, com tamanha felicidade, que con-
seguiu ver acceito o seu projecto. (lO)
Em consequenéia disso, e graças á iniciativa de Hamilton,
secundada pelo esforço de Madison, de Jay, de Franklin, de
vVadlÍngton e de outros patriotas, tiveram, afinal, os Estados
Unidos da America do Norte a sua Constituição definitiva,
que é a actuaI; redigida por uma Convenção em 1787, ado-
ptada pelo povo em 1788 e posta em execução a 4 de Março
de 1789. (U)
Por essa Constituição, nenhum dos Estados da União é
soberano.
Na secção 4.'" do art. IV da mesma Constituição tem-se
disso a prova:
« Os Estados Unidos ,qamntirão a cada Ec.;tado desta
União uma jÓJ'ma republicana de GO'l:erno e dl'fenderão
cada um delles contra invasões internas, e mediante requi-
sição do le,qislati'l:o ou do poder executivo (si a legislatura
não puder reunÍ1·.se) cont1'a as commoções intestinaes.
Como vêdes, o simples enunciado desta di8posição torna
evidente que os Estados, de que se compõe aquella União,
não são soberanos.
O termo soberania - (diz CooIy) no sentido lato, cor-

(9) Dlock, Dict., de la Polit,. tom. 1.° pago 93a.


(10) Block, obro cit., pago 933.
1') Dlock, obro cit., pago 933.
-77-

responde ao supremo, absoluto e incontrastavel poder, pelo


qual se governa todo o Estado independente.
Donde se conclue, que não é, não pÓde ser soberano o
Estado, que, além de se achar na dependencia política da
União, precisa do auxilio, da garantia e da protecção da
mesma, tanto no Brasil, como naquella Republica.
Autonomo, e isto mesmo em sentido estricto, é o que
são os Estados Unidos do Brasil, a exemplo dos Estados da
União Norte Americana.
Talvez vos cause especie eata affirmação; e, por isso,
sinto-me obrigado a demonstrar, com outros argumentos, de-
duzidos da Constituição Brasileira, a verdade do meu aS8erto.
Pelo disposto no art. 2. 0 , cada Uma da~ antigas provin-
cias constitue um Estado. (App. lU).
Como se vê, a Constituição não diz, nesse artigo, a na-
tureza nem a fórma por que hão de se constituir os novos
Estados.
Nada, na disposição citada, se encontra que autorize a
crer que esses Estados sfio soberanos.
N o art. 63 accrescenta a Constituição:
«Cada Estado reger-se-á pela Constituição e pelas leis
que adoptou, 1'espeitados (note-se bem!) os principais consti-
tucionaes da Uniãon. (App. IH).
Parece claro que, se os Estados devessem ser soberanos,
nenhum cabimento teria a limitação a eUes imposta na ultima
parte do art. 63, que acabamos de ver.
Notae que, no commentario ao art. 2. 0 , o proprio autor
não só reconhece, como declara, que os Estados, assim consti.
tuidos, não podem ter completa a sua personaliilade politica
a ]'espeito de certos interesses e ne.qocios, daquelles. que jo,
ram ]'eservados como indispensaveis a essa união. (12)
. Depois disso, no art. 4.° ainda dispõe a Constituição :«Os
Estados podem incorpora/'-se, subdin:dir-se ou desmembrar-

(12) J. Barb., obro cit., pago '12.


- 78-

se, para se annexar a outros, ou formar novos Estados, me-


diante acquiescencia das 1'espectivas assembléaslegislativas, em
duas' sessões annuaes sllccessivas, e appl'ovação (notae bem!)
do Congresso Naciúnal.»
Que significa, senhores, a restricção da ultima parte
deste artigo, tornando dependente de appovação do Congresso
Nacional a incorporação, a subdivisão, o desmembramento
ou a annexão de um a outro Estado da, Republica ~
Justificando esta disposição, J. Barbalho o faz em termos,
que plenamente confirmam a opinião que eu sustento.
E, sinão, vêde o que elle diz:
«Ha, em todos os casos deste artigo, submissão de cida-
dãos) de '[01:0 e autoridades a que dantes não estavam su-
jeitos, e tambem perda ou accrescimo de ten·itorio. E isto,
envolve acto de SUBERANIA; pelo que, torna-se necessaria
manifestação affirmativa da 1:ontade popular. Esta manifesta-
ção a Constituição prop01'cionou fosse feita por intermedio
dos corpos legi,~lati1,os dos Estados interessados e pelo Con-
gresso Nacional. (13)
Como os artigos já apontados, outros muitos ainda se
encontram na Constituição, estabelecendo outras re7ações dos
Estados Fedel'aes com o poder central da União, pelas qllaes
se vê claramente a preeminencia política desta sobre aquelles.
Assim, passo ainda a apontar-vos!
1. 0) o art. 6.° da mesma Constituição, que autorixa o Go-
verno Fedeml a intervir em negocios peculiares dos Estados,
embora excepcionalmente, quando 1'SSO se fizer necessario,
pa1'a repelir invasão estrangeira, ou de um E:;tado em outro:
para manter a forma republicana federativa; para restabele-
cer a ordem ea tranquilidode nos E~tados, á 1'equisição dos·
1'especti1'oS governos; finalmente, pa1'a assegurar a execução
das leis e sentenças federaes:
2.°) o disposto no § 3.0 do art. 9.°, conforme o qual s6 é

("i) J. Barb., obro cit: pag, 16.


- 79-

licito a um Estado t1'ibllta7' a importação de mercadoTÍ'ls es-


trangeims quando destinada.r;; ao consumo no seu terriforio,
re~'ertendo, porém, o producto do imposto para o ThesouTo
1i 'ederal.
E como estas, outras muitas limüar;ões, ainda estabelc-
cidas pela Constituição aos poderes dos Estados.
Dando tão grande desenvolvimento a esta parte de nossa
lição, eu o fiz, primeiro pela necessidade de justificar a opi-
nião da cadeira sobre este ponto de capital importancia e so-
bremodo controvertido do nosso direito politico-administra-
tivo; depois para accentuar ainda mai!', qUf', no trnnscurso
do tempo, tem varia~lo mu,ito não só o conceito politico do
Estado, como as normas do seu governo.
Ainda a este respeito, tudo quanto eu acabo de expender
é pura theoria, que embora consagrada na Lei ltimdamentaZ
da Republica, pouco cu nada vale na pratica!
A verdade é que estão sendo evidenteml'nte despre_
zadQs e esquecidos principios basico~ do Estado e do nosso
regimen político!
São do espirito do tempo as novas idéas reinantes no
nosso meio politico onde ninguem se entende!
Tudo isso tende a subverter c a destruir até o que de
melhor se tem feito na Repllblica !
Não ha mais normalidade na vida da Nação!
Cada dia que passa surgem surprezas trazidas pela no-
vidade de medidas administrativas, que só se explicam pela
vaidosa preoccupação de mostrarem (principalmente os legisla-
dores bisonhos) a sua grande capacidade política, a sua ex-
trllOrdinaria operosidade legislativá por meio de innumeraveis
projectos en l'air, e, portanto, sem realidade possivel, como
8e, porventura, estivesse nessa endemia de leis, o remedio in-
fallivel contra os males, de que padece a sociedade brasileira!
Que pesar tenho eu, meus s( nhores, de não poder amol-
dar o meu temperamento a este conàelho de um dos mais fi-
nos ironistas do nosso tempo!
- 80-

Seja por delicadeza, OH por modestia ou por caridade, é


lleccssario não atacar de frente os erros dos homens; é pro-
prio de um espirito avisado adeptar uma conformidade appa-
rente e superficial com os desasos dos nossos dirigentes!
Pondo de parte a ironia, eu deploro, como brasileiro, a
desorientação que se nota, desde o começo do regimen, na di-
recção suprema dos negocios do paiz!
E' triste, mas é preciso dizer, sem azedume e com des3i1-
sombro, aos moços, que aqui me ouvem, e que ainda não co-
nhecem os desvàos da politica:
No Brasil esbí se fazendo, do difficil mistér de legislar,
uma a1·te de facU manipu7ação ~ ao mesmo tempo um sport!
Se me não engano, vamos caminhando, a passos precipi-
tados, para o estabdecimento, no paiz, do Estado-providen-
cia, o que importa dizer·-do socialismo do Estado!
Tal, como clle deve ser, de accôrdo com os principios,
que considero os unicos verdadeiros, eu não comprehendo, se-
nhores, essa regulamentação desordenada, superflua e exces-
siva (já não direi dos serviç,)s a cargo da União), mas de no-
vos e inuteis serviços creados ultimamente; de todos os mis-
téres e profissões; de todas as utilidades e vantagens, que
possám, emfim, ser auferidas ou aproveitadas de tantas rique-
zas naturaes, que possue o paiz !
Escusado é dizer, que a officialização de todos esses ser-
viços (principalmente do commercio e da industria), em vez
de ser um bem, é um mal!
Dessa orientação, dada aos negocios do paiz) á custa de
penosos sacrificios pecuniarios para a Nação, a consequencia
ha de ser:
1.0) A morte da iniciativa individual;
2.°) O augmento dos encargos do Estado, que, para se-
rem satisfeito~, hão de ,acarretar, forçosamente, novos e maio·
res sacrificios para a Nação, já empobrecida pela crescente
carestia da vida e por exigencias extorsivas, que lhe são fei-
tas todos os dias;
- 81-

3. v) A subversão de todos os princi pios de direito, regu-


ladores das funcções do Estado;
4.?) A' perda dos estimulos, a nO'f/I'ha7auce, a inercia do
individuo, levada ao ponto de tornaI· o U1-" ~ú um tntelado do
Estado, como um ocioso, um parasita d. N"0ão!
Essa consequencia ha muito que se vae fazendo sentir em
todos os Estados da Republica, e principalmente nesta capital,
onde a vida é mais intensa e as necessidades de maior monta!
Bastará lembrar a tosquia impiedosa do povo pelo fisco,
para a satisfação, em sua maior parte, de despeza~, umas im-
productiv;ls, outras adiaveis ; aSElim como de encargos do Es-
tado em proporções assustadoras!
E, como se isso não bastasse, ahi temos a decretação de
novas despezas, para a realização de medidas que (ao menos
por em quanto ) só redundam em proveito de algumas classes,
que, graças á libe)'a~idade de tantas leis de circumstancias,
decretadas de afogadilho em seu beneficio, de pobres, que
eram, se teem enriquecido entre dias!
E isso sem maior trabalho nem esforço da parte das
mesmas, á custa da protecção dessas leis, em prejuizo da Na-
ção, a quem elIas não aproveihm!
Não é, senhores, precisamente esta (eu vos asseguro!) a
missão do Estado I
A SUa principal funcção deve ser assegurar a defesa do
paiz contra os inimigos do exterior, e, nas suas relações in-
ternas, respeitar e garantir a estabilidade da ordem juridica,
sobre que assentam principalmente a observancia dos direitos
individuaes e tambem os da collectividade social!
Veem, depois disso, outras funcções, que devem ser exer-
cidas, de accôrdo com os recursos do paiz, sem uI trapassar os
limites da conveniencia e a esphera da legalidade I
F'óra dáhi, o Estado exorbita .e se desvia de sua missão!
Torna-se, em tal caso, em vez de um poder irreprehen-
siveI, pela cerrecção dos seus actos, uma entidade usurpa-
dora, que só se faz obedecer pela força de que dispõe.
DIIIEITO ADIoIIJlII'rRATIVO 6
82 -

Ou é isto, ou ha. de ser o Estado, que o humorismo de


Bastiat assim define:
«C'est la grande fiction àtl'aVe1'8 laquelle. tortt le ,monde
s'e..fforce de vivre auX dépens de tout le monde». (l~)
Por em quanto, ajnda estamos longe de ver convertida
em realidade a utopia de Bluntschli,quando sonhou com o
advento de um Estado universal!
Eu preferia que o illustre jurisconsulto s'lisso, inspirado,
principalmente, nas idéas de democracia e de liberdade, que
tanto teem elevado e engrandecido o seu paiz, doutrinasse ou-
tros principios!
Eu quizera que Bluntschli, com a sua grande autoridade
de emerito publicista, em vez de espalhar (por meio de uma
de suas obras mais notaveis) (15) a má semente de suas idéas
imperialistas, nos désse, como norma de governo a seguir, o.
ensinamento e as bases de um estado ideal; isto é, de um Es-
tado menos egoista e ma,is humano.
Os povos, como os homens, são perfectiveis. susceptíveis,
portanto, de aperfeiçoamento.
Nada haveria, portanto, de extraol'dinario, que suas idéas
medrassem, fazendo convergir para o estabelecimento desse
Estado as forças das Nações e as cogitações de todos os go-
vernos!
Eu imagino, senhores, quanto seria feliz o povo que ti-
vesse á. testa dos seus destinos um governo sabio e prudente,
cuja preoccupação principal fosse bem-gorernaT!
Para. isso bastaria um governo que, na direcção dos ne-
gocios extern08, soubesse conduzir o paiz de mouo a subtra-
hil-o ao dominio dos povos mais fortes; e, quanto aos nego-
cios internos, attendesse, de preferencia, ás necessidades do
povo, assegurando-lhe a paz, o aperfeiçoamento, o progresso
~, principalmente, a indcpendencia e o bem estar!

(a) Alf. Neym. Vocab. d'Econ. Polit., pago 169.


(15) Theor., de l']~tat.·
83

o povo que assim fosse governado nada teria a invejar


a nenhum outro povo j e, como Polybio o Hzera a respeito da
confederação achooa, elle poderia 'affirmar : «Nunca, em paix
nenhum, houve tanta egualdade, tantos direitos, tanta liber-
dade!'1?

*
QffiNTA LIÇÃO
Da União como poder politico e como centro da administração
geral do paiz. O Estado e a União em face da theoria,orga-
nicista de Spencer. Refutação dessa theoria. A união é uma
entidade abstracta, separada das unidades que a compõem,
e, comtudo, investida de poderes, que a Constituição lhe'
outorga, para o governo da Nação. Encarnam esses poderes
aquelles que os exercem como representantes da União, na
fórma da Constituição da Republica.

Meus senhores:
Temos que nos occupar, na lição,de hoie, do ponto 5.°
do nosso programma. Este ponto pode ser decomposto nas
seguintes proposições, que eu procurarei explanar o mais
resumidamente possível em uma só dissertaçãQ, como convem.
1. a) A União é u,,! poder politlco e centro da admini.'1-
tração federal;
2. a) A União é uma entidade abstracta, em contrapo-
sição á theoria organicista de Spencer;
a.a) A União em tudo se distingue das unidades, isto
é, dos estados de que se compõe,'
4. 8 ) Entidade moral e abstracta, é, eomtudo, investida
de poderes, que a Constituição lhe out01'ga para o governo
da Nação; .
5. 8 ) Finalmente, encarnam esses poderes os delegados,
que os exercem como repr.esentantes da mesma União, na
f6rm a da Constituicão da Republica. .
- 85-

1. A organização do governo ou do poder politico, diz


Lastal'ria, prende-se ás condições e ás necessidades do ei-
lado social (1).
De accôrdo com este principio, eu direi, que - poder
politico é todo aquelle, que reune em si a autoridade legal e
as attribuições necessarias para o governo do Estado.
Esse poder tanto póde existir em um regimen politico
unitario, como em um regimen federativo, como o nosso.
Não ha nem póde haver Estado, legitimam'ente consti-
tuido, sem esse poder. '
Delle deriva a autoridade, que exerce o Estado, para
applicar a lei e garantir o direito em todas as relações da
yida da Nação.
Essa autoridade no Brasil é exercida pela União, con-
.iderada em face de Constituição e das leis federais, o centro
do governo geral do paiz e tambem da administração, que
(diz Cabantous) é o attributo essencial, o instrumento prin-
cipal do poder ep;ecutivo. (2)
E' por meio da administração que este poder se põe em
contacto com os administrados; que lhes transmitte as suas
ordens; que estuda as necessidades dos mesmos e recebe as
auas reclamações. (')
Na União, portanto, reside toda a autoridade legitima
que ella, por meio de seus delegados, exercita no governo
geral do paiz; e, neste caso, União e Estado são palavras
indistinctamente empregadas como expressões synonymas.
Era preciso crear-se essa entidade para, em seu nome,
agirem os seus delegados na direcção suprema dos negocios.
De outra sorte, cada um delles exerceria, por autoridade
propria, o poder soberano sómente conSado á União.
Haveria, em tal caso, tantas soberanias quantos fossem,

(1) Ll'ct. de Polit. Posit., pags. !35.


(Il)Droil Aelm., pago 16, n. a.
(3) Cabant., obro cit., pago 16, n. 1~.
- 86-

de facto, os poderes constitucionaes de que se compõe o go-


verno do Estado.
A Nação, por consequencia, deixaria de ser soberana; o
regimen, pelo qual a mesma se governa, não seria repre-
sentativo.
Tenhamos, pois, como assentado, de accôrdo com a
theoria do nosso Direito Constitucional) que a União e o
Estado, considerados neste sentido, são uma e a mesma enti-
dade, um e o mesmo poder politico, centro do governo e da
ad~inistração federal.

n. Mas, se a União·é o que acabamos de vê r, como se


comprehende que seja a mesma uma entidade abstracta,
como refere o ponto?
Tudo depende, senhores, do sentido em que fôr tomada
essa denominação.
A expressão «abstracta», aqui empregada, deve ser en-
tendida em sentido opposto ao «concreto».
Philologicamente,-concreto e abstracto-são expressões
antonymas; o sentido de uma é opposto ou contrario ao
sentido da outra.
Mais facilmente comprehendereis a distincção que aqui
é feita entre os dous referidos vocabulos, em favor da these
consignada nesta parte do nosso ponto, se attenderdes para o
que passo a expender.
Materialmente, ninguem ainda viu essa entidade, que se
chama União; sabendo-se· apenas, em relação á mesma, que
ella tem sua séde no Districto Federal, 'lapital da Republica.
E', por consequencia, o que se pode dizer-uma enti-
dade abstraeta, uma Bcção, no bom sentido deste ultimo
termo.
A União, nem por ser, como eu disse, uma entidade
moral e abstracta, deixa de ser uma pessôa juridica, titular
~ 87 -

de dil'pitos~ capnz, por conaequcncia, não só.(l~ os arlquirir,


como dn exerceI-oI'!.
Vós deveis conhecer a capital distincção qlH~ vem do
Direito Romano~ entre as pessôas nafllraes e as pessôas
juridicas. (')
As pel'sôas naturaes são as que os juriEcomultm: COf:'tu-
roam denominar - ph.ysicas ou individllae.~; Eão as que
Ulpiano chamava singulal'is persona, por opposiçãoá ]J0-
pu[u.<;, curin, collegiun, corpus. (b)
Não assim as pessóas juridicrTs, que os jurisconsultos
denominam -moraes, aost1'actas, fict/cias ou civis. (6)
Ma!', então, direis vós:
Neste cnso, a União não passa de uma entidade imma-
terial, metaphysica!
Perfeitamente, meus sf'nhores .
. Com toda a verdade, a União é uma entidade sem
existencia real o~ieetiva; fidida e flbstractfl, como eu a
chamo; inzmntll'1'ial e metaphysica, como vós a con~iderae8;
maR, ao mesmo tempo, uma pes.<;ôa ?lw/'al e jurídica, de
existencin necessrt.l'ia, como é °
Estado; e, portanto, capaz
não "ó de exercer direitos, como de contrahir obrigações.
E é precisamente por isso, que, em uma. das preceden-
tes lições (2."), tratando da União, eu disse:.
«(Ainda em relação ao 1.0 caso, vê-se bem que o Estado
(o mesmo que União), como simples entidade moral e tam-
hem política, rião poderia por Ri e~ercer o governo.»
«Assim, cntrptanto, se considera por' uma ficção de
direito.» •
( Na realidade, só' nas pessoas natllraes, escolhidas para
exercerem a autoridade e dirigirem os publicos negocirls, por
força dos poderes que a Nação lhes outl)rga, é que se en-

(') Rib., Dir. Civ., vol. 2.°, pag~. 25.


(5) Rib., obl'. cit., pags. 2;J.
(0) Rib., obro cit., pag~. 25.
- 88-

carna o pl'inQipio representativo do Estado, em cujo nome


elias agem.1I
A União, por consequencia, debaixo deste ponto de
vista, é em tudo igual ás outras pessôas jurídicas de exis-
ten'cia necessaria, taes como os Estados federaes, os munici-
pios, etc.
A este respeito, a Constituição de 24 de fevereiro nada
innovou.
Os Estados, como as antigas provincias e os municipios,
já eram pessoas moraes e juridicas pelo antigo regimen.
Tão sómente, em relação aos municipios, estes passaram
a ser constitucionalmente autonomos C), como primeiro e
principal fundamento do novo regimen, como condição sine
qua de uma organização sobre a base do self government. (8)
(App. IV)
No tempo da Monarchia, ainda depois das franquias do
Act.o Addicional, os· municipios nilo tinham autonomia: a fi-
xação de suas despezas era acto da competencia das assem-
bléas legislativas provinciaes (9).
Por consequencia, ainda em relação á União, eu accres-
centarei: .
Ficticia embora, ella existe de factp; é o centro do go-
verno geral do paiz,
E' uma ficç~o aliás necessaria á organização do regimen
instituido pela Constituição da Republica.
E' uma ficção, que, como muitas outras, existem tanto
em direito, como em poliÍica.
Certamente por isso, Cicero, em sua defesa - Pro Mu-
rena - chegou a affirmar que a sciencia do jurisconsulto con-
siste princ/:palmente nas ficções.
Como exemplo da ficção no direito, para terdes da mes-

(7) Constituição Federal, arts, 67 e 68.


(8) J, Barbalho, obra citada, pago 282.
(9) Acto Addicional, art. iO,§ 5.°
- 89-

ma pelo menos uma idéa, eu vos apontarei o caso do pae de


familia, na antiga Roma, que,pal'a emancipar seu filho,
fazia.o passar por escrat1o, para libertal-o assim mais de-
pressa.
Das ficções em politica, são numerosos os casos, que se
podem igualmente apontar mesmo no n08SO tempo.
A palavra liberdade, por exemplo, n~o passa m~ita vez
de uma ficção.
Della quanto não teem os governos abusado, engodando
cum a mesma o povo, até convencei-o de que se desprende
dos laços do despotismo, escolhendo elle proprio os seus dés-
potas!
Actualmente, uma das maiores ficções politicas é aquel-
la, por meio da qual se 8uppõe geralmente, que a verdade
está sempre do lado da maioria.
E' isto, pelo menos, o que toda gente acredita; é esta
a opinião que prevalece em todas as deliberações collectivas,
. em todas as questões dependentes de votos, em todos os jul-
gamentos politicos, judiciaes ou administrativos.
Mas, como bem observa um grande pensador, profunda-
mente iniciado na sciencia do seu tempo, a t'erdade, como a
virtude, como o heroismo, como o talento, como a fOl'tuna,
muitas texes se abriga na minoria. (l0).

Suppondo ter demonstrado a verdade da these que aflir-


ma ser a União uma entidade abstracta, passarei a fazer a
comparação da mesma com a theolia organicista de Spencer.
Que vem a ser esta theoria ?
Não foi Spencer, senhore~, o creador desse systema.
O organicismo é uma theOl'ia muito antiga. Foi Rostan,
medico francez, quem no seculo XVIII a desenvolveu e sya-
tematizou. .

(l0) Dict. de la Conv., vol. 9, pago 414.


- 90-

Resumem· se, no que passo a expôr, os principio!,! do or-


ganicismo de Rostan:
1.0) Para o medico não existem no homem senão orgãos
e funeções; .
2. ) As funcções não são senão orgãos em exercicio;
0

são apenas effeitos;


3. 0 ) Os orgãos, cm certas condições de fórma, de volu-
me, de consistencia, de côr, de textura, de composição intima,
etc., estão em estado nDrmal e exercem funcções normaes: é
o estado de saude;
4.°) O~ orgãos, em outras condições de fárma, de volu-
me, de consistencia, de côr, de textura, de composição, etc.,
estão no estado anormal; exercem, por isso, funcções anor-
maes; é o estado de doença;
5.°) :;\[as os orgãos podem ser affectados de moleEtia.
por muitas maneiras. Varia muito a natureza das doenças;
ha, por isso, molestiasespeciaes e molestias especificas;
6.°) Os fluidos, que são ou effdtos de orgãos, ou ele-
mentos de orgãos, tambem podem ser viciados ou contami-
nados pela molestia;
7. O) Todos os orgãos, além disso, pádcm ser originaria-
mente doentes.
Emfim, a desigualdade de forças nos individuos parece
ter grande parte nas molestias e poderosamente infl1,lir na
therapeutica (11).
Estabelecidos estes princIpios, prosegue Rostan :
«A 'Vida não é mais do que a dl:sposição organica ne-
ces·mria ao morimento.
Nós Tecebemos esta disposiç'ão ao nasceI'.
A machl:no, uma vex, montada, {uncciona sempre nor-
malmente emquanto não soffre alteração por causa ou cir-
cumstancia natural ou accidental. Quando um corpo organi-

(1l) Lar., DieL Univ., voI. 11, pags. 1.446.


- 91-

zado existe sem vida, é que a disposição organica, necessa-


ria ao exercicio das jnncçõcs, soifreu algum desal'ranjo».
Taes são, senhores, os principios fundamentaes sohrc
que se baseia a theoria do organicismo.
E' uma theoria verdadeira nos principios donde parte;
mas falsa nas suas conclusões.
Começando por affirmações baseadas na observação e na
experiencia (inducção e deducção), acabou por estabelecer
como verdade uma simples hypothese, que ultrapassa todos
os factos observados e verificados.
Esea hypothese é o bizarro conceito da Vida no entender
de Rostan!
A este respeito convem referir que Bacon, combatendo
a temeridade das hypotheses, dizia:
«Não são asas que convem pôr ao espirito hurnano, mas
chumbo».
A conclusão da theoria de Rostan é inacceitavel, por
assentar, antes de tudo, em principio materialista, consequente
a um erro de facto!
Não é, na realidade, outra cousa a falsa interpretação
de facto a que se addicione, pela imaginação, circumstancia
que não se encontra no mesmo facto!
Em outros termos: é um sophisma, que consiste em pôr
na conclusão mais do que é dado nas premissas. e~)
Depois, theoria, como essa, assente principalmente sobre
a physiologia, não póde servir de fundamento á organização
do Estado.
Nella, entretanto, se inspirou Spencer, para architectar,
na sua Sociologia, o famoso systema organico, conforme o
qual considera as sociedades Q1'ganismos analogos aos orga-
?/ismos biolo.gicos.
Como Spencer, Bluntschli tambem considera o Estado
um organismo humano, uma pessôa humana,· mas, como

(12) Paul Janet-Phil., vol. 1.0, pago 528.


92

uma noção, por emquanto, só mente ideal; Theor. de l'État,


pago IX.
E' assim que, com uma só expressão, Bluntschli nos dá
uma idéa nitida e clara do Estado, tal como deeeja vêl-o um
dia ddici.tivamente existindo: « O Estado tem um caracter
masculino: é o homem,. a Egreja tem um caracter feminino:
é a mulher; obro cit., pags. IX.
:E, nesta conformidade, conclue:
«O Estado moderno é a pessôa politicamente organizada
da NAÇÃ.O em um PAIZ determinado.« (13)

Rejeitamos, senhores, em absoluto, a doutrina organicista


do Estado, tal' como acaba de ser exposta, por ser, antes de
tudo, materialista,. e, depois, por tambem a considerarmos
falsa, illogica e contraproducente!
E', antes de tudo, absurdo pretender mudar a natureza
do Estado, fazendo-o pafilsar de pes8ôa juridica, moral ou ci-
vil, como, na fórma do nosso direito, elle o é realmente, á.
pessôa natural ou phY8ica, como se, de facto, por pertencer
ao genero masculino, devesse, por isso, ser considerado homem!
Se não pó de o Estado ser considerado pessôa natural ou
physica, á vista da concepção do mesmo, segundo a sciencia
do nosso direito, é simplesmente um dislate pretender dar ao
Estado as mesmas funcções que a physiologia descreve e enu-
mera como phenomenos da vida tanto dos animaes (entre o~
quaes está comprehendido o homem), como dos vegetacs!
Seria, pelo menos, justiftcavel a innovação de Spencer,
si este com o seu systema pudesse modelar um Estado, por
tal modo perfeito em sua estructura, que pudesse sobrele-
var, desde logo, ás fórmas de todos os Estados até então
existentes!
No caso, porém, nem esta hypothese se deve admittir;

('~) Blunts. obro cit., pags. XII.


- 93-

porquanto, as bases do novo Estado, imaginado por. Spencer,


a~sfmtam, precisamente, em uma theoria, que nada tem de
inLllivel nos seus principios, tanto que a machina de Rostan
(qlle outra cousa não é sinão o Estado de Spencer) nem sem-
pre funcciona n?rmalmente; está, como affirma Rostan, sem-
pre sujeita a soffrer alterações, determinadu por causas ou
circumstancias não só naturaes, como accidentaes! '
Que vale, pois, a innovação?
Que valor póde ter essa theoria, si, para chegarem os
seus autores aos nns, que teem em vista, se veem obrigados
a baralhar idéas e a forçar conclusões?
Quereis a prova disso?
Vêde, por exemplo, o illustre Bluntschli confundir no-
ções juridicamente distinctas, como, de facto, o são as de Na-
ção e de Paiz na definição que deu do Estado!
Depois, senhores, eu quasi que. estava dispensado do tra-
balho de aqui refutar essa theoria, depois do que vos dissera
em uma das precedentes lições (a 3. a ), a respeito da theoria
de Spencer.
Naquella lição, se bem me recordo, eu disse:
«Notae que o proprio Spencer, escrevendo a sua Sociolo-
gia, o fez em termos tão funestos nas consequencias, que logo
os socialistas tirm'am da mesma proveito e {orça, para con-
solidarem ainda mais o regimen socialista.
«Por tal modo favoreceu a causa dos 80cialistas o
regímen organico do E'dado, imaginado, por Spencer, que
este se viu na necessidade de procurar reparar o seu er.ro,
escrevendo outro livro-O Individuo contra o Estado-mos-
trando· que o papel deste devia reduxi1'-se ao mínimo, tanto
eUe era sempre nefasto.» (14)
«Mas, contra a espectativa de Spencer, a these agradou
principalmente aos anarchistas, e eil-o de novo decepcio-
nado com a sua nova obra / ..

(1 4) Corro da Man. 17-6-190'!.


- 94 -

«Spence1', completamente desilludido, teve de 1'etratm'·se


dos principios que defendel'a, já então descrendo da infalli-
bidade dos mesmos!»
E, senão, vede o que elle diz no seu ultimo livro-
«Facts and Comments»,
«Por toda a parte se levanta o grito-instrui, instrui,
1'nstrui!
P01' toda a parte se pensa que as escolao<; servirão para
levanta.r o nivel humano; se pensa que se os homens sou-
berem o que é o bem, o praticarão; se acredita que uma
proposição admittida intellectualmente póde transformar-se
em acção moral, e o desmentido quotidiano da esperança não
basta a prevq.lecer contra este en'o!D "
«Embora Ele veja, que, em proporção cem. o augmento
de escolas, cresce o numero de tratantes, de velhacos, dos
falsificadores de alimentos, dos corruptores, dos agentes de
negocios pouco dignos, apesal' de tudo, a opinião não
muda! D (15)
Conclúo, pois, a explanação da 2," parte do nosso ponto,
aff.irmando:
1.0) A theoria organicista do Estado é de todo contraria
aos principios scientificos sobre que assenta o nosso direito
em relação ao mesmo;
2.°) O Estado continúa a ser considerado uma p"ssõa
juridica, de "existencia necessaria; mas não pessõa natural ou
physica, como mod(lrnamente se pretende;
3.{)) Tràtando-se do governo daNação-Estado e União
-são palavras indistinctamcnte empregadas como expressões
synonymas;
4,°) Conforme a thcoria .do nosso Direito Constitucio nal,
a União e o Estado são uma e a mesma entida.de, um e o
mesmo poder político, centro do governo e da administraçtto
federal.

(15) Corro da Man., cit" al't, de M. de Albuq.


- 9ó-

lU. Quanto á 3.a parte do nosso ponto, tende bem em


vista, que - a União em tudo se distingue da.'! unidades,
-isto 6, dos E,~tados de que se compõe.
Como ides ver, é materia já por mím sufficientemente
explicada da 2. a lição, onde eu disse:
a: Yo Brasil, e na fórma de sua Constituição Política, o
govemo geral do paiz é conferido á União, que, como sabeis,
é formada dos Estados da Republica, constituhldo um go-
verno commum ou geral, conhecido por esta de,nominação.l>
CI Esse governo co-existe com o dos Estados, com o qual

se não confunde, e é assim que, conforme este systema, exis-


tem duas qualidades de governo no mesmo territorio, ou em
cada Estado: governo nacional e gO~'erno estadual.»
Na 4.a lição, ainda me occupando deste assumpto, eu
accrescentei :
(C Quanto aOs Estados, sãu membros da U,tião Federal,
mas não podem ter completa a sua personalidade política a
,'espeito de certos interesses e negocios; daquelles que foram
reservados como indispensaveis á U,tião.» (1 6)
No dominio, por exemplo, das relações exteriores, pe-
rante o Direito Internacional, o que existe é o governo fede-
ral jelles não teem capacidade política externa, não podem
fazer tratados, declarar guerra, enviar e receber embaixado-
e
res, manter corpo diplomatico, consular, etc. 7)
Ainda quanto á sua capacidade política interna, sua es-
phera de acção tem limitações essencia€s aI) regimen federa-
tivo, deduzidas da existencia em commum e respeito reciproco
dos Estados, sob a egide da União. (18)
Na mesma 4. a lição mencionei algumas dessas limitações
e fiz, ao mesmo tempo, especial referencia a outras.

(16) J. Barb., obro cit., pags. '12.


(17) J. liarb., obro cit., pagon.
(18) J.'Barb., obro cit., pago 12,
- 96-

Supponho-yos, por isso, habilitados para ver claramente,


que a União em tudo se distingue dos Estados que a. compõem ••

IV. Entidade moral e abstracta, a União é, comtudo,


investida de poderes, que a Constituição lhe outorga, para o
- GOL~erno da Nação.
Oom referencia a este ponto, cumpre, antes de tudo, in-
dagar de qu~ modo é a União investida "desses poderes.
Por força dessa indagação, idea ver que, na5. a e uI-'
tima parte do ponto, está a explicação natural daquillo que
desejamos saber; isto é, o modo pelo qual é a União inves-
tida dos poderes necessarios ao governo da Nação.
« esse governo, Gomo eu já tive occasião de dizer, (:d.a
lição), não podtndo nem devendo ser directamente exercido
pela universalidade dos cidadãos, pelos grandes inconvenien-
tes qU8- disso resllltrzr/:am para a marcha regular dos nego-
cios do Estado, só pôde ser legitimamente exercido por m:a
de delegação pelos poderes publicos constituídos pela Naçàó».
Ora, vós já vistes que o Estado ou a União, como sim-
ples entidade moral e tambem política, não poderia por si
exercer o governo.
Assim se c~nsidera por urna ficção de di1'eito; mas, na
realidade, só nas pessoas naturaes, escolhidas para o exerce·
rem é que se encarna o principio representativo do mesmo
Estado ou União, em cujo nome elas agem.
Aqui temo",:, pois, a b.a e ultima proposição do ponto de
hoje completando e explicando o pensamento da penultima (a
4. a), com a qual se relaciona, quando diz, que encarnam 0:/
poderes necessarios 'ao gove1"1io do Estado os delegados, qUi:
os e;cercem como representantes da União, na fórma da
ConstituiçãO da Republica.
- 97 --

Quaes são, porém, esses poderes?


São o poder legislativo, o executivo e o judiciario, na
fórma do disposto na mesma Constituição, art. 15, que assim
dispõe:
11 São orgãos da soberania nacional o poder legislativá,

o executivo e o judicial'io, harmonicos e independentes entre


S1:. (App. IV).

J. Barbalho, commentando este artigo, depois de ter


dito, que esses poderes são tres grandes necessidades na go-
vernação dos povos -legislatura, administração e justiça;
que cada um deJIes exerce {ltncções distinctas; que os mes-
mos, como orgãos da soberania, são, de facto, harmonicos e'
independentes entre si, accrescenta:
« E assim, segundo o systema adoptado pela Constitui-
ção, nenhurn dos tres poderes divididos fica absolutamente
separado nem acima dos outros ll.
A este respeito, estou em completa divergencia com J.
Barbalho; assim como não me parece justificavel a disposição
do art. 15 da Constituição Federal.
Em principio, os tres reftmdos poderes são, com effeito,
orgãos da soberania nacional, harmonicos e independentes en-'
tre si; mas, de facto, na f0rma da mesma Const., no Brasil
só ha um poder soberano - . 0 Judiciario Federal.
Antigamente, isto é, no regimen da monarchia, a preemi-
nencia dos tr~s poderes constitltcionaes cabia ao poder legis-
lativo. ,
Hoje, pelo novo regimen, essa primazia é toda, de di-
reito, do Poder Judiciario.
E, senão, vêde o que disse o ministro Campos Salles
por occ8sião de justificar o Decreto n. O 848, de 11 de outu-'
bro de 1890:
« O que principalmente deve caracterizara necessidade
da immediata organização da Justiça Federal é ·0 papel da
alta preponderancia (notae bem) que eUa se destina a repre-
sentar, como orgão de um poder, no corpo social li.
7
DIREITO ADUINISTRATIVO
- D8

· .............................................. ...... . ~

(a jnstiça federal) con-


« Por este engenhoso mecanismo
segue-~e evitar que o legislador (o poder legislativo), reser-
vando-se a faeuldade da interpretação, venha a co11ocar-se na
absurda situação de juiz em causa propl'ia. »
« E' a vontade ahsoluta das assembléas legishtivas que
se extingue, nas sociedades moderna!', como se hão extin-
guido as doutrinas do arbitrio sobprano do poder executivo ll.
·................................................................ .
« A funcção do liberalismo no passado foi oppôr um li-
mite ao poder violento dos reis; o dever 00 liberalillmo na
época actual é oppôr um limite ao porlel' illimitado dos par-
lamentos. ))
• • ... .. .... ,...................... • ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,. ............ .

« De poder subordinado, qual era, o pnder judiciario fe-


deral transformou·se em poder 8oberano, apto na elevada es-
phera da sua autoridade, para interpôr a °bendica influencia
do seu criterio decisivo, etc. ))

E' por isso que, na grande Uniã(,' Americana, com ra-


zão se considera o poder jndiciario como a pedm angulm' do
edificio federal; Decrs. do Gov. Pro v., mez de out. de 1890,
pags. 2.7i>8.
Aqni tendes, senhores, á luz de toda a evidencia, ao
prova do illogismo da lJOilSa Constituiç:i:o e da sem razão de
J. Barbalho.
Se ao poder judiciario federal cabe, de direito e de fa-
cto; a alta preponderancia, entre os dem l.Ís poderes d!l Re-
publica, conforme diz Ca.mpos Salles e a propria Constitui-
ção o confirma, claro está que o Poder J udicillrio é superiol'
a todos os outros, que então, e" muito logicamente, passam a.
ser seus subordinados!
Depois, onde está a logica, quando, esquecendo princi-
pios insophismaveis da hermeneutica juridica, nega ao poder
legislativo o direito de interpretação authentica, que é, como
- 99-

se sabe, a mais autorizada, por ser a do proprio poder qlW


faz a lei?
Se é absurda a situação de tornar-se o poder legislativo
juiz em sua propria causa, que dizer-se do poder judiciario
federal, transpondo os. limites da sua competencia (que é
applica1: a. lei aos caS08 occorrentes), a ponto de invadir a es-
phera de outros poderes (tambem soberanos) legislativo c exe-
cutivo, annulando leis e decretos emanados desses poderes?
Onde está, na Constituição, o correctivo para os casos,
em que o Judiciario F-ederal, abusando dos poderes de que
está investido, se torne tambem jU1:Z em sua pl'opria causa ~
De certo, o poder illimitado do parlamento é um mal;
como o é igualmente o poder illimitado de toda a auctorÍ-
dade, seja elIa legislativa, judiciaria ou executiva!
Provado está, pois, que o poder judiciario, de subordi-
nado, qual era, é hoje, constitucionalmente, o unico Poder
Soberano do Estado!
Isto, porém, só na Constituição!
Praticamente, além da soberania do Judiciario, temos a
do Poder Executivo; ao qual todos os outros obedecem!
No nosso paiz o governo continúa a ser Tudo: é o se-
nhor e o distribuidor de todas as graças, para o bem de cada
um dos governados e a felicidade geral da Nação!

*
SEXTA LIÇÃO

1. Dos actos da competencia exclusiva do Estado (hoje União) e


dos que lhe são vedados - 11. O Estado e o elever tributario
da Nação. Limitações impostas 'ao Estado em materia de
contribuições. Praticas que desnaturam a verdadeira theoria
do imposto. -lI!. Do erario publieo (Fazenda Nacional) e
seus privilegios (*). - IV. Da prescripcão das dividas activas
e passivas da União.

Meus senhores:
A primeira parte do ponto, sobre que versa a lição de
hoje, presuppõe a existencia da organização federal estabele-
cida pela Constituição de 24 de Fevereiro de 1891.
Della emanam todas as leis do novo regimen, que, a
muitos respeitos, estabeleceram novos moldes a seguir pela
administração publica, alterando, por c0I?-sequp,ncia, profunda
e substancialmente, grande parte do nosso Direito Adminis-
trativo, como teremos occasião de ver no subsequente desen-
volvimento de outros pontos do nosso programma.
1. Hoje temos que nos limitar, primeiro, aos actos da
competencia exclusiva do E~tado e dos que lhe sãovedado8.
E' materia, de que especialmente se occupa a OOllstitui-
ção no seu Titulo II, composto de tres secçõeb: na 1.(á, trata
do Poder Legislatü10 em suas disposições geraes, da Camara
dos Deputados, do Senado, das attribuições do Congresso,
etc.; na 2.a, trata do Poder Executivo, das attribuições desse
Poder, dos Ministros de }!;stado, etc.; na 3. a, finalmente,
trata do Poder Judiciario, sendo estes precisamente os tres
poderes constitucionaes da Republica, aquelles que a mesma

(*) Vide aàeante, no correr desta lição, a rectificação da penullima


parte (IlI) deste ponto.
- 101

Constituição denomina - orgãos da soberania nacion:Z,


art. 15.
Dó conjuncto desses poderes, qu~ formam o Governo
Geral do paiz, resultam as denominações, indistinctamente
empregadas, de Governo Nacional ou Governo Central da
União, como já foi explicado em uma das precedentes lições.
Na conformidad~ do exposto, são actos da competencia
exclusiva da União:
1.0 Toda a materia comprehendida no artigo 7.° da
Constituição, cujas disposições principaes se referem á decre-
tação de impostos sobre a importação de procedencia estran-
geira; sobre direitos de entrada, sahida e estada de navios;
sobre taxas de sello, salvo a restricção do art. 9.°, § 1.0, n.o
1; sobre taxas de correios e telegraphos federaes; sobre a
in8tituição de bancos emissores, a creação e manutenção de
alfandegas, etc.; (App. V).
2.° Todos os actos a que se referem as attribuições do
Congresso Nacional ou Federal, cone.ignadas no art. 35 da
mesma Constituição, as quaes, por numerosas e á falta de es-
paço e de tempo, deixam de ser aqui mencionadas; (A pp. V).
3.° 'rodas as att1'ibu1'ções indicadas no artigo 49 como
actos da competencia pdvativa do Poder Executivo Federal,
representado, como sabeis, pelo Presidente da Republica, .
como chefe electivo da nação, e pelos Ministros de E~tado,
seus auxiliares e agentes de confiança na direcção suprema
dos negocios do Governo; Const., art. 50. (App. V).

Até aqui os actos da competencia exclusiva da União;


resta agora ver quaes os que lhe são vedados.
Ainda na fórma da Constituição, o Governo Federal ou
a União não póde crear distincções e pl'eferencias em favo~
dos portos de uns contra os de outros Estados," art. 8.-
(App. V).
Não póde decretar impostos sobre a exportação; sobra
- 102-

immoreis ?'uraes e u.rbanos, sobre transmissão de propl!ie-


da de ; sobre industrias e profissões, por serem da competen-
cia e.Tclusiva dos Estados; art. 9.0 (App. V). .
Não póde crea?' impostos de transito pelo territorio de
um Estado, ou na passagem de um para outro; sobre pro-
duetos de outros Estados da Republica GU estrangeiros, e
bem assim sobre 08 vehiculos, de terra e agua, que os trans-
portarem: Const., art. 11, n.O 1 (App. V).
Não póde estabelecer, subvencionar ou embaraçar o
exercicio de cultos religiosos; Const., cit., art. 11 n.O 2.
(App. V).
Não póde, finalmente, p,'eserever leis ret1'oactivas "
Consto cit., art. 11, n. o 3 (App. V).
Importa. notar que as tres ultimas prohibições do art.
11 não são impostas sómente á União, mas tambem aos Es-
tados,

11. Fallar, depois disso, do direito do Estado em relação


aos meios de que precisa para occorrer ás despezas da sua
manutenção é abordar, desde logo, um ponto interessante em
materia não sómente de Direito Publico, mas tambem de Di-
reito Administrativo.
- Que é, que deve ser o imposto?
- O imposto (já alguem perguntou) é um bem ou um
inal?
- Até onde se estende o dever tributario da Nação?
Essa questão, embora pareça só de principio, entende
tambem com as leis relativas á organ/:xação financeil'a do
paiz.
E' materia-, por consequencia, com a qual tem muito que
ver o Direito Administrativo, visto constituirem objecto de
suas leis, conforme doutrina C. Seneuil, a decretação do
imposto, o modo de sua percepção, a nomeação dos agentes,
encarregados do lançamento e cobrança do mesmo; a deter-
minação das attribuições desses empregados e de sua res-
- 103-

ponsabilidnde, o estabelecimento das regras da ccntabilidade


publica, etc.
O imposto, indiscutivelmente, não é um mal (visto que é
um dever) se é exigido pelo Estado até o limite da somma
necessaria para prOl:el' aos ,'Serviços publicas indvspen-
Sat;ei8. (I>
E', entrttanto, um mlll, que logo se converte em verda-
deira extorsão, se vae além desse limite, como entre nós se
procede.
Na opinião dos economistas, o imposto nunca dere ir
além da capacidade tributaria da Nação.
Uma vez transposto esse limite, ·0 Estado exorbita,'
cava a 1'uina, em vez de pl'omOVel' o bem do paiz.
O im posto, considerado sob o ponto de vista dos princi-
pios que o justificam, não p6de ir além da contribuição, que
o Estfldo tem o direito de ex·igil' de cada cidadão, propor-
ciO/wl aos recursos de que dispõe, para as despezas do go-
l'erna.
E', por assim dizer, o pl'e~'o dos :."erviços prestados pelo
Estado á Nação. (2)
De tal sorte interessa a cada um dos membros da com-
munidade social a questão do imposto, que Spencer, muito a
proposito, faz esta observação: « •• , Por outro lado, como o
valor dM bens de um opera rio, collocado numa das extremi-
dades da escala social, differe en07'memente do valor dos
bens de nm millional'io, a participação daIS despezrJ.s a fa-
ze,·, com a defesa da propried'ldf>, deve lSe1' proporcionada
ao 1'alor dos bens possuído,'! e variar mais ou rnenO/;, con-
soante a natureza delles ». (')

(1) Le Roy·Beaulit'u. Trait. des Fin, pags, 118.


(2) Le Roy·Beaulieu, obr cit., rag. 109.
(3) Spt'nc., A Just., pago 233,
- 104-

A isto accresce uma circumstancia, que cumpre lIão seja


esquecida.
Na {)pinião de Le Roy-Beaulieu, tudo o que ainda se
póde dizer a respeito do imposto é que as despezas do 90-
ve'rno· devem ser quanto possivel não só justas, como uteis á
sociedade. (4)
Por isso mesmo que, no dizer de Spencer, todos teem
obrigação de supportar os encargos, qualquer que seja a ma-
neira por que a divisão delles se effectue, deve haver da
parte do Estado, além da preoccupação da utilidade e da jus-
tiça, a maior parcimonia possivel na decretação dos impostos
a serem pagos pela Nação.
Se esta participa dos beneficios do governo, não pode :
absolutamente esquivar-se á contribuição que da mesma lhe é
directa ou indirectamente exigida para as despezas do Es-
tado (5) •.
Mas é claro que entre a contribuição razoavel, exigível
pelo Estado para as despezas publicas, e o excesso dessa con-
tribuição, disfarçado por tantas formas de que se compõe o
nosso regimen tributario, ha um mal que, opprimindo os con-
tribuintes, se reflecte sobre toda a Nação.
E' o abuso de tantos impostos extorquidos ao povo e
apenas justificados com razões especiosas, que desnaturam a
verdadeira theoria do imposto.
UI. Antes do mais, aqui rectifico a penultima parte do
ponto de hoje (6.°) relativo ao Erario Publico e á Fazenda
Nacional. (*)
Tal, como por engano, foi o ponto publicado, pare~e que
«Erario Publico e Fazenda Nacional» são expressões synony-
mas, e, portanto, equivalentes.

{4) Le Roy-Beaulieu, obro cit., pago 107.


(~) Spencer, obro cit., pago 23~.
(*) Vide a 1lI parte deste ponto.
- 105-

Não é, entretanto, assim.


A expressão Fazenda Nacional, alli empregada, deve ser
tomada como significando o mesmo- que União, visto serem
ambas as expressões indistinctamente empregadas, de accôrdo
com a doutrina sem discrepancia adoptada a semelhante res-
peito.
No meu conceito, a expressão «Fazenda Nacional» é ju-
ridicamellte muito mais restricta do que a expi'E'ssão- «União
Federa}" •
O facto, porém, é que ambas, na pratica, se empregam
sem essa distincção, eXprimindo, por isso, uma só entidade-
a «União Federal». Não assim o «Erario P.ublico», que ape-
pas se considera o Thesouro Nacional, repartição administra-
tiva e subordinada á mesma União.

Vejamos agora o pa.pel que representa a Fazenda Nacio-


nal ·no mecanismo da Republica e quaes os seus privilegios.
Devo dizer-vos que, na Constituição de 24 de Fevereiro
nenhuma disposição sc encontra fazendo especial referencia á
Fazenda Nacional.
É uma falta, que, com fundada estranheza, logo se nota
na mesma Constituição.
A não ser~m o art. 89, que incidentalmente se refere ao
Tribunal de Contas, e o dispositivo do art. 60, letra b, que
manda sejam processadas e julgadas pelos juizes e tribttnaes
fedel'aes todas as caUsas propostas contra o Governo da
União, não ha na mesma Constituição outra disposição refe-
rente á Fazenda Nacional. (App. V.)
ne tão sensivel lacuna não se resentia, em verdade,
a Constituição do Imperio, que tinha um capitulo (no titulo
VII) especialmente consagrado á Repartição da F~zenda,
ou á Administração da Fazenda Nacional,. arts. 170-172.
(App. V.)
Depois dessa Constituição, que, como se sabe, é de 11
- 106-

de .dezembro de 1823, a lei tie 4 de outuuro de 1831 orga-


nizou o Thesouro Publico Nacional e' as Thesoura1'Ías das
Provincias. (App. V.)
Annos depois: veiu a lá n. 2-12, de 28 de novembro de·
1841, 'que "estabeleceu o privilegio de fôro para as causas da
Fazenda Nacional e creou, para. a mesma, um juizo privativo
de 1,'" instancia. (App. V.)
Seja, porém, como fôr, o que se deve ter como certo é-
que, na fórma do novo regimen, União e Fazenda Nacional
fHt Federal são a mesma entidade (6).
Entretanto, logicamente assim não parece, por uma ra-
zão que logo se percebe.
O governo da União ou Federal, além dos poderes, de
que é investido p'lra a. decretação dos impostos necessarios
á manutençrio do Esta.do e á regulamentação de suas finan-
ças, exerce indiscutivelmente outros poderes, que não cabem
na alç Ida da Fazenda N aciona!.
E se isto é facto, que fácilmente pó de ~er demonstrado,
a consequencia é qlle União e Fazenda Nacional ou Federal
·não exprimem uma só e mesma entidade.
Assim, por exemplo, as relações de ordem tanto interna-
cional, como interna, de caracter PQlitico são e devem ser, por
sua natureza, actos privativos d~ União, como unica repre,çen-
tante do Estado; e, como este, outros casos de todo estranhos
ás relações de ordem financeira e economica, os uni(!os, que
em o meu entender, pod'em competir á Fazenda Nacional.
Logo, me parece P" lo menos incongruente a praxe ado-
ptaoll, consoante o nosso regimen, de se considerarem Ryno-
nymas as palavras-União e Fazenda Nacional ou Federal.
Outro ponto, que tambem considero de intelligeucia
obscura. na disposição do art. 60, letra b, da. Constituição da.
Republica, é o que se refere ás causas fundadas em dispos;,-

(6) Carl. de C~rvalho, Conso!., art. ·H,7, paragrapho unico.


- 107-

çõ~s da ConstituiçãO, leis e regulamentos do ]Joder execu-


tivo, etc.
Supponha-se o caso de uma acção intentada contra a
União, com fundamento, não na Constituição, não em lei ou
r~gulamento do poder executi.vo, mas em lei ou decreto do po-
der le,qislativo. (App. V.)
Estará, de facto, a causa a93im proposta, comprehendida
na generalidade do art. 60, lettra b, da Constituição citada ?
Reunirá a mesma os requisitos exigidos pela Constituição,
para ser processada e julgada pelos juizes e tribunaes fede-
raes ~
Ninguem o dirá, mórmente se tratando de materia de
competencia, que, como· se sabe, é stricti jw·is.

Quaes' são, porém, os privilegios, d~ que actualmente


gosa a União?
Em face da Constituição da. Republica, a Fazenda Na-
cional ou a União só tem um privilegio-o de fôro; Consto
cit., arg. do art. 60, letra b. (App. V.)
Ha, porém, várias disposições posteriores, conforme as
quaes ella gosa de outros privilegios, que, no correr desta li-
ção, terei occasião de mencionar.
Em theoria, e na forma da Constituição citada, nem
mesmo o privilegio de fõro escapa á critica e á censura.
Occupando-se do assumpto, assim se exprime J. Bar-
balho:
«Ntlo haverá fôro privilegiado, já o havia proclamado
a Constituição do Imperio, art. 179, § 17». (App. V).
«A lei 1'epublican'l, lei de egualdade, avêssa a privile-
gias, a primazias, a immunid~des, não poderia deixar de
estabelecer a melJma prohibição.» (1) .

(7) J. Barb., Com. á Const., pago 3!9.


- 108-

A doutrina, pois, como estaes vendo, é de todo contraria


a esse privilegio, e assenta num principio geral, que vem da
mODarchia.
Sem embargo. deUe, a Fazenda Nacional readquiriu,
como já vimos, pela lei n. 242, de 29 de novembro de 1842,
seu privilegio de fôro; donde ainda agora resulta o juizo
privativo que a Constituição Federal lhe garante, para todas
as causas em que ella seja interessada por qualquer modo. C)
Mas, além deese, a Fazenda Nacional, como eu disse,
ainda gosa de outros privilegios, taes como os seguintes:
1.0 não serem os seus bens sujeitos á penhora; De-
ereto' n. 3.084, de 1898, art. 37 da La parte. (App. V.)
A razão, pela qual me parece justi§eavel este privilegio,
assenta principalmente na suprema juncção exercida pela
União llO governo do Estado.
N ella se encarna, como eu já tive occasião de dizer, a
soberania da Nação.
Não se comprehenderia, pois, que, sendo a União uma
,entidade soberana, estivessem os seus bens sujeitos á penhora.
E' uma prerogativa que nào deixa de ser uma,excepção
. ao direito commum, mas, DO caso, plenamente justificada.
O mal, que desse privilegio tem resultado para o paiz,
é devido unicamente ao governo, que (para que negai-o?)
nem sempre tem sabido cumprir o seu dever, pagando'
promptamante, sem estorvo nem embaraço, as indemnizações
devidas pela União nas causas em que é vencida.
A este respeito, o que impera, na maioria dOR casos, é
o arbitrio do mesmo governo, em prejuizo dos creditos do
Estado!
Evidente, portanto, é a necessidade de uma lei, não
como a de n. 686, de 10 de setembro de 1900, autoTizando
o Poder Executivo a fazer as necessarias operações de cre-

(') J. Barbalho, obro cit., pago 3~9.


- 109-

dito, para dar execução ás .'Ientenças da Justiça Federal,


passadas em julgado, mediante accôrdo com os respectivos
credores sobre o quantum a liquidar; mas de uma lei que,
prevenindo praticas abusivas, não dê log.ar a tantas reclama-
ções da parte dos interessados, muitas vezes fundadas e· jus-
tas (App. V).
Além de ter sido a lei n. 686 decretada sómente para
o exerdcio de 1900 (o que prova, desde logo, a caduddade
da mesma para os exercicios segujntes), não vejo que fique
bem a União entrar em accôrdo com os seus credores, para
pagar-lhes com abatimento o que in tegralmente lhes deve na
fórma da sentença condemnatoria.

Outro mal, e que está tambem a pedir remedio prompto


e efficaz, a bem dos interesses da justiça e da ordem nos
negocios da administraçã.o, é o de estende?'-se igualmente os
privilegios da Fazenda Nacional aos Estados da União e á
Prefeitura Municipal.
Procuro, senhores, e não vejo razão ou principio, que
me convença da legitimidade desses pri vilegios, sem assento
nos principios doutrinarios, nem na Constituição e nas leis!
Seria uma proposição a demonstrar a irracionalidade dos
mesmos, si aqui me sobrasse tempo para explanar esta questão.
Limito-me, por isso, a affirmar, que não ha, em. direito,
razão que autorize a colocar os Estados e a Prefeitura Muni-
cipal em igualdade de condições da União Federal no tocante
aos seus privilegios.
Combatendo como fundamentalmente contrarios á Cons-
tituição da Republica tão odiosos privilegios, offensivos do prin-
cipio de justiça e dos direitos dos particulares, devo accrea-
o •
centar, que não são novas as minhas idéas a este respeIto.
Como membro da Commissão incumbida, em 1909, da
codificação das leis dos processos criminal e civil da Justiça
local deste districto, eu tive occasião de manifestar-me e vo-
- 110-

tar contra todos os favores e privilegios dessa especie, con-


vencido, como estava e ainda estou, de que aos mesmos não
tem absolutamente direito o fisco municipal.
Si quizerdes conbecer de !'islt a interminavel fieira de
absurdos privilegios, que actualmente se arroga a Fazenda
Municipal, lêde o decreto n. 5.160, de 1r:04 (Comolidação das
leis federaes sobre a organização municipal deste districto) e
m'lIe haveis de encontrar, de começo ao fim, a mais abusiva
derogação do direito cOn;Jmum em favor da Municipalidade
destedistricto! (App. V.)
São tantos os favores e privilegiol'l, que lhe foram outor-
gados por esse deereto, que difficilmente poderiam ser resu-
midos por quem tivesse pachorra e tempo para este trabalho!
Para se ter, pelo menos, uma idéa do que aquillo é, bas-
tará attentar para os termos do art. 38 do citado decreto n.
5.160, que assim dispõe:
«Competem á Fazenda ~Municipal todos os {aL'ores e
privilegios de que presentemente gosa e de que venha a gosar
a Fazenda Nacional.»
Ainda mais: na conformidade do decreto n. 9.885, de
29 de fevereiro de 1888, que deu regulamento para o pro·
ce8SO executivo fiscal, o proprio direito privilegiado da Fa-
zenda Nacional soffreu, no interesse da justiça, restricções
impostas por esse decreto.
Assim, por exemplo: na execução para a cobrança dos
impostos relativos a immoveis, o reférido decreto· manda fa-
zer a penhora nos rendimentos do immovel si estiver aluga-
do ou arrendado; a, só no caso delle não estar arrendado,
se poderá fazer a penhom no mesmo i'T(lmovel; Decreto cito
art. 13, paragrapho unico. (A pp. V.)
A razão desta disposição logo ~e percebe: quiz a lei evi-
tar com isso a grande injustiça de poder a Fazenda Nacio-
nal penhorar um immovel de alto valor, em vez dos seus
rendimentos, para pagar-se, muita vez, da insignificante quan-
tia, que lhe é devida pelo imposto predial.
- 111-

Pois bem: ides ver, ainda a este respeito, que fi Fazen-


(la Municipal se arroga privilegio muito maior do que o que
cabe à União!
Contrariamente ao disposto no decreto n. 9.885, de 1888,
o decreto n. 5.160, de 1904, manda que no processo execu-
tivo fiscal (movido pela Fazenda Municipal) verse origina-
1'iamente a penh01 a sobre os predios (notae bem) ou seus ren-
dimentos, a jltlZO do representante da Faeenda Munidpal!
De maneira que - aquillo que a lei não concede á Fa-
zenda Nacional (citado decreto n . .9.885). é expressamente
permittido á Fazenda Municipal, como se vê do art. 41 do
citado decreto n. 5.160,' de 1904! •.•
Para que mais, depois disto?
O mais importante, a este respeito, é que ninguem
repara nil!so!
Aos olhos dos governantes, sendo perfeitamente legaes e
legitimas essas anomalias, nada teem a recear dos governa-
dos, que tudo ,deixam passar, sem reclamação nem protesto,
graças á indifferença que os entibia na inconsciencia dos seus
direitos!

2. 0 ) A ppellação ex-officio dali sentenças pl'ojeJ'idas con-


tia a Fazenda Nacional, qualquer que sf'ja a sua natureza,
desde que excederem de 2:000$000,. decreto n. 3.084, cita-
do, art. 40, parte 5."
Em relação a este recurso, devo dizer-vos que o consi-
dero uma excrescencia no processo da Justiça Federal.
Devido a elle, numerosas injustiças se teem praticado
em noiDe da lei em prejuizo do direito e da celeridade na
terminação dos pro cessos.
A verdade é que nem o decr. n. 848 de 1890, nem a
Constituição Federal e nem a lei n. 221 de 1894, que, como
se sabe, completou a organização da Justiça Federal, estabe-
lecem para a União o recurso de appellação ex-oficiO.
- 112-

Sómente no drcr. n. 3.084, de 1898, se encontra a res-


tauração desse recurso, neHe inadvertida ou erroneamente
incluido pelo seu illustrado autor.
Como sabeis, consolidou esse decreto as leis referentes
á J mtiça Federal.
Na organÍl'lação desse trabalho, era dever daqneIle juris-
consulto expungir do mesmo todas as leis do antigo regimen,
que tivessem sido explicita e implicitamente revogadas, e não
ir além disso, estabelecendo direito novo.
Ides ver que, no que concerne aos recursos, 0_ decreto n.
3.084 citado, em vez de mencionar apen&s as disposições das
leis federaes anteriores e applicavei8 á especie, tendo por base
o disposto na Constituição da Republica, foi muito além desse
limite, que lhe esta\'a naturalmente traçado, quando, na sua
parte 5. a estabeleceu das 8entenças proferidas contra a Fa-
zenda a appellação ex-off/cio; Decr. citado, art. 40.
Ha, em -verdade, na lei n. 221, de 1894, uma disposi-
ção que implicita ou indireetamente parece autorizar tal
recurso: é a do § 16, lettra c, do art. 13, que assim preceitua:
«As disposições da presente lei não alteram o direito
vigente quanto às causas fiscaes_ >
~Ias notae, que ao tempo da promulgação dessa lei o
direito vi,qente já era o estabelecido pela Constituição repu-
blicana, que só garante á Fazenda Nacional um privilegio
- o de foro.
A lei n. 22 t, portanto, ultrapassou os limites impostos
pela Constituição, quando restabeleceu para a mesma Fazenda
o extincto privilegio relativo ás causas fiscaes. (App. V).
3.°) beneficio de res#tuição - in integrllm, Decr. n.·
3.084 cito art. 45 ibid. (App. V).
E' um privilegio, que vtm da Ord. liv. tit. 41, e das
Instrucções do Contencioso de 1851, art. 17. (App. V).
A respeito deUe, pondera A. Cavalcanti: é commum aos
menores e a outraf! lJessoas incapazes. _
Procurando na lei a razão desse privilegio, nada _encon-
- 113-

trei que me convencesse da legitimidade do mesmo em rela-


ção á Fazenda Nacional.
Até ha pouco eu o comprehendia, tratando-se de meno-
res ou de incapazes; nunca, porém, em relação á União, que,
em hypothese nenhuma, pode ou deve ser equiparada ao me-
nos ou á pessoa incapaz.
O certo é. que todos os defensores, officiaes e officiosos,
do nsco ainda agora lhe reconhecem esse privilegio, sem em-
bargo da seguinte disposição do Codigo Civil, que comprova
a verdade do meu asserto:
c Na protecção que o Codigo Civil confere aos PlICapa-

zes uão se comprehende o beneficio de restitutÇão j Part.-


Gen., art. 7. .
E assim continúa a União no uso e goso de um privile- .
gio, que a nova lei aboliu em relação aos unicos, que, de di-
reito, eram merecedores dessa protecção - os incapazes!
4.°) executivo fiscal proveniente dos alcances dos res-
ponsaveis, tributos, impostos e contribuições, etc.; Decr. n.
3.0S4, citado, art. 52, 5. a parte. (App. V).
Este privilegio tem sido causa de grande divergencia
entre os juristas; e, no proprio Supremo Tribunal Federal, a
opinião dos juizes se tem dividido, quando se procura saber
si a acção executiva é privilegio da Fazenda Nacional para
todas as suas causas, ou sómente para as causas ascaes.
Em relação a este ponto, merece attenção o voto do mi-
nistro Pedro Lessa no accórdão de 2 de setembro de 1908,
no qual sustenta, que o decreto de 12 de dezembro de 1851
só cogita da prcscripção das dividas fiscaes.
Francamente, entre as opiniões emittidas a semelhante
respeito, adopto sem restricções a de J. Barbalho, que diz:
«Mal avisada, nesta parte, a legislação processual republi-
Cana conse1'VOU a anomalia de privilegias fiscaes, que não
se compadecem com a naturexa e indole do novo 1'egimen. (9)

(n) J. Barb., obro cit., pago 250.


DlREl'fO ADl1INIBTRATIVO 8
- 114-

5.°) p,·esc·ripção de cinco annos para as suas divida:;


passivas, e de quw'enta annos para as actiras.
Esta preseripção é actualmente regulada pelo decreto
n. 1.939, de 1908, interpretativa da lei n. 221,' de 18:J4.
(App. V).
E' outro ponto sobre o qual tem havido igualmente gran-
de controversia entre os juristas, de modo a não haver ainda
uma opinião uniforme quanto á intelligencia da lei neste par-
ticular. .
Pretendem uns que a prescripção l]uinqu81wl, estabe-
lecida em favor da União, só cogita das dividas jiscaes; pre-
tendem outros que a mesma egualmp.nte se estende a lesão
dos direitos individuaes a que se refe7'e o art. 13 da lei n .
. 221, de 1894. (App. V).
Quanto á lei n. L939, de 1908, ella é francam~nte pela
prescripção . quinquennal de todas as dividas passivas da
União.
Sem embargo disso, ainda se não conseguiu uma juris-
prudencia invariavel e uniforme do Supremo Tribunal Fede-
ral a este respeito.
6.°) do triplo dos lJ1'azos, determinados na lei, para o
procurador da Republica ,'esponder, arrazoar ou dar provas
nas causas, que se moverem contra a Fazenda Nacional, ou
contra a União; Lei n. 221 cit., art. 51. (App. V).
Não assenta, senhores, em principio algum de direito
este privilegio, do qual só tem resultado surprezas inauditas,
abusos sem conta!
E' o que se póde dizer uma innovação perigosa, de mais
a mais, abertamente offensiva da igualdade de direito entre
as partes, assegurada pela Constituição da Republica.
Para terdes uma idéa dos abusol'l, qUE', á sombra d~ tal
privilegio, se tem ,praticado, bastará citar um facto.
Emacção contra a União, movida por varios commer-
ciantes importadores da cidade do Natal, capital do Estado
do Rio Grande do Norte, foram julgados de nenhum effeito
- 115-

os actos do inspector da Alfanclega daquella cidade, antes


disto confirmados pelo Ministro da Fazenda em grão de re-
curso.
A acção foi intentada na conformidade do disposto no
art. 13 da lei n. 221 de 1894, por .meio da qual se provou
a lesão de direitos individuaes dos autores, por actos e deci-
sões daquellas autoridades administrativas da União.
Julgada procedente a acção, da respectiva sentença foi
intimada a Fazenda Federal, que não appellou dentro do
prazo, que para isso lhe foi assignado em audiencia.
Passou, consequentemente, em julgado a mesma sen-
tença.
Haviam já. decorri(lo dez annos e meio depois desta se
ter tornado cousa soberanamente julgada, quando o procura-
dor da Republica, naquelle Estado, se lembrou de interpor o
recurso de appellação da dita sentença, e assim o fez com
surpreza e espanto de quantos tiveram conhecimento desse
acto abusivo e illegal, compromettedor da seriedade da Jus-
tiça no Brazil!
Na superiorinstancia, submettido o recurso a ju'gamento,
foi elIe provido unanimemente!
Assim decidiu o Supremo Tribunal Federal, primeiro
por considerar inexequil'el a sentença contraria á União em-
quanto não jÔl· confirmada na 2. a instancia; depois por en-
tender que, no actual regimen, ainda existe appellação EX-
OFICIO !
Não se conformando com essa decisão, os autores embar-
garam o accordão, tendo os embargos sido recebidos e julga-
dos annal provados.
Mas, en toute chose il faut considerer la fin!
Por sua vez, o procurador geral da Republica não se
conformou com o fracasso da appellação, e então, em nome
da Fazenda Nacional, oppoz embargos ao novo accórdão!
Recebidos, afinal, por maioria de votos os embargos
assim oppostos em causa já julgada em de'rradeiro recurso
*
- 116-

e em ultima. instan~ia, ficou prevalecendo a tardia appellação


interposta pela União dez annos e meio clepois de expirado
o respectivo prazo, o que prova o poder e a força que conti-
nuam a ter entre nós, apcsar do liberalismo das nossas leis,
os privilegios da Fazenda Nacional!
Apesar, senhores, da autoridade do Tribunal que assim
julgou, eu continúo a professar outros principio!:', que tcnho
como verdadeiros, os quaes patenteiam o erro da decisão, que
deu ganho de causa, em condições tão estI'anhas, á Fazenda
Nacional!
Sob o ponto de vista theorico ou doutl'inario, penso como
J. Barbalho:
- Que, nas causas em que a União é parte, si a mesma
tem, com effeito, prit'ilegio de jôro não lhe cabem, corntlldo,
procedimentos judiciaes e8peciaes seus, distin ctos dos que pre-
valecem para os particulares; Comment. á Const., pago 250;
-Que o principio da egualdade na administração da
justiça impõe que a mesma protecção legal, os mesmos jui-
zes, as mesmas formulas tutelares, alçadas e instancias, os
mesmos procedimentos judl:ciaes se appliquem sem restri-
cções, sern excepção de pessoas a iodos indistinclarnente, a
quern o E<dado pelo ol'gão de sua magistratura tenha de
fazer justiça; obro cit., pago 72;
-Que em processo regular, a Justiça Federal não decide
e8tabelecendo normas geraes, pl'e~eitos novos; não crea di-
reito, mas sómente o declara em cada caso p'nrticular entre
as partes pleiteantes; obro cit., pago 224.
-Que, em respeito á lei, as sentenças passadas em jul-
gado obrigarão ás partes e á administração em 1'elação ao
caso concreto, que fex o objecto da discussão, e que a viola-
ção do julgado por parte da autoridade administrativa induz
em responsabilidade civil e criml:nal; obro cit., pago 225;
-Que os direitos que a Constituição assegura são 08
mesmos pm'a todos, os meios e recursos estabelecidos para
garantiZ-os competern igualmente a todos;
- 117-

-Que não existem p1'1:vile.qios nem distincçães quanto ás


vantagens e onus instituídos pelo regimen constitucional;
-Que a desigualdade, além ele injusta, é i1vuridica, é
impolitica; obro cit., pago 303;
-Que a ausencia desse principio (a igualdade) crêa uma
situaçao irritante, de desgosto, de animadversão, de hostili-
dade contra os favorecidos, contra os privilegiados;
-Que, finalmente, a igualdade 1'epelle o pri'Vilegio, l3eja
pessoal, seja de familia, de classe ou de corp07'ação; obro cit.,
pago 304;
Taes são, senhores, os principios que eu tenho aprendido,
aquelles que procuro seguir em todos os meus actos, os uniros
que lealmente me cumpre doutrinar na regencia desta cadeira,
sem preoccupações pcssoaes!
Ainda sob o ponto de vista doutrinario, é incontroverso
este principio, na sciencia da administ,'ação:
« Quando a Fazenda Nacional'entra na arena forense,
não vem sinão como liti,qante, e ahi é igual a qualquer outro;
não póde pretender posiçao excepcional e SUpt1'l:or aos demais
p1eitmntes; J. Rarb., aLI'. cit., pag'o 250».
E' tambem o que doutrina Riba~, Dir. Adm. Brasil.,
pago ~2.
Depois, se a referida decisão firma aresto, quem, d'aqui
por. deante, estará seguro no gObO do seu direito em causa
contra a Fazenda Federal?

IV. Finalmente, no que concerne á prescripção das divi-


das adivas e passivas da União, materia que constitue cbje-
cto do nosso ponto, resta accrescentar ao que eu jtí disse no
correr desta lição o seguinte:
Em principio, nad.a haveria a oppur a essa prescripção,
certo, como é, que na conformidade das nos~as leis, existem
várias especÍes de pl'escripção estabelecidas pelo direito pri-
vado em beneficio dos particulares.
- 118-

Não seria .insto, poiEl, que súmente estes gosassem desse


fa\" 01'.
O que .iu~bmH'nte eu cemuro nas duas prescripções es-
tabelecidas em favor da União é a chocante desigualdade da
lei na regulamentação desses direitofl, comparados com os dos
particubres.
Não ha em direito (principalml"nte em. face do principio
de igualdade, estabplecida pela Constituição) razão que justi-
fique o fado de sómente a União gosar do privilegio de pre-
scripçãfJ de cinco annos, para todas as suas dividas passivas,
e de qU01'enta mlnos para as activas!
Assim dispõe, com efft.ito, com relação á prescripção
quinquennal, o art. 9.° do decreto n. 1.939, de 1908, mas a
meu vpr esta disposição é inconstitucional.
Lei puramente interpretativa, esse decreto não podia es-.
tatuir preceitos, que viessem, de qualquer modo, ferir direitos
adquiridos. .
É uma disposição. que fere de frente a Constituição da
Republica, que absim preceitúa: «E' vedado aos Estados,
como á União, p,'escrever leis retroactivas) ; art. 11, ~ 3.°

Não bastava, senhores, que a União viesse até mais não


poder' desfructando os seus numerosos privilegios em todas as
causas em que é parte, e bem assim as vantagens' de sua po-
sição mais favorecida do que a dos seus contendores!
Era preciso, além disso, que se unissem os procuradores
de Republica deste districto, e pedissem aos tabelliães de
notaR desta Capital informações sobre a existencia de leis ou
regulamentos, porventura existentes e ainda não publicados
em conjuncto, referentes aos direitos da Fazenda, para assim
poderem melhor defender os privilegios da mesma nas causas
contra plia intentadas!
E', como vêdes, um pedido digno de nota, não tanto pela
sua originalidade, 'como p~la obsessão que o mesmo revela.
- 119 -

em favor de uma entidade já colmada de tantos favores, por


um erro do nosso regimen! .
E', certamente, digno de reparo, que os ilIustres repre-
sentantes do Ministerio Publico, não ·conhecendo devidamente
as ldse regulamentos, que superintendem á administração pu-
blica,' se tenham lembrado de solicitar, em situação como a
que atravessamos, informações, como aquellas, que só eviden-
ciam um propo'sito~o de aggravar aiJ;lda mais a sorte do
contribuinte, cerceando-lhe os meios de defesa na lucta des-
igual com a União, como ficou demonstrado!
Isto, senhores (pesa-me dizel-o!) pó de ser tudo quanto
quizerem, menos aquelle respeito, que todos nós devemos ao
principio constitucional, estabelecido como base da igualdade
para todos no acto de distribuição da Justiça!
Procedimento, como esse, não se compadece com as nor-
mas da Justiça de hoje, cujos sentimentos não podem ser os
mesmos do nsco da antiga Roma!
O Estado, diz Ihering, que quer ser estimado no exte-
rior e no interior, nada tem de mais precioso a resguardar e
a cultivar do que o sentimento do direito.
Este encargo é um dos deveres mais importantes da pe-
dagogia poiitica.
SETIlIIA LIÇAO

L Da responsabilidade civil -do Estado pelos actos de seus pre-,


postos. - lI. O Estado tambem responde pelos emprestimos
contrahidos pelos Estados federaes no estrangeiro e pela
Municipalidade do Districto Federal; assim como pelos em-
prestimos feitos áquelles Estados por estrangeiros residen-
tes no Brasil. Necessidade de limitar-se a competencia dos
mesmos Estados, para contrahir taes emprestimos.

l\tIeus senhores:
I. A responsabilidade civil do Estado pelos actos de
seus prepostos é uma das questõe~ mais momento~as da
actualidade, principalmente no Brasil.
Não ha exaggero em affirmar-se, que se contam ás cen-
tenas as acções intentadas contra a Fazenda Nacional, para
obrigaI-a ao pagamento de prejuízos, perdas e damnos causa-
dos por funccionarios da União no exercicio das suas fun-
cções!
Em consequencia disso, e sem embargo de muitas dessas
acções serem -julgadas improcedentes, sobem a milhares de
contos as importancias annualmente pagas pela Fazenda Fe-
deral a titulo de indemnisação!
lndagada a causa de tantos processos intentados, che-
ga-se á verificação de que a maior parte delles tem como
origem aetos de arbítrio, que se traduzem em excesso de po-
der e abuso de autoridade, em detrimento não s6mente do di-
reito de particulares, mas tam bem da lei, que é assim vio-
lada de encontro aos interesses da propria União!
- 121-

Mas, ponhamos de parte os graves desacertos da nossa


administração, e notemos que a responsabilidade civil do Es-
tado assenta num principio conhecido em direito pela -Theo-
1'ia juridica da representação,
Esta theoria, em rigor, não e nova. E, em relação á
m.esma, já os jurisconsultos da edade média lhe haviam reco-
nhecido os verdadeiros principios, hoje systematisados no
corpo de doutrinat<, que se conhece por essa denominação.
Pela divergencia dos autores, ella se tem dividido em
systemas, que assim se resumem:
1.0) Th~oria da responsabilidade geral, na qual se aventa
a questão de saber si a responsabilidade civil do Estado é di-
recta ou indi1'ecta, primaria ou secundaria;
2.°) Theoria ou systema mixto, no qual se comidera no
Estado a existencia simultanea de duas pessoas, ou de dous
domi11ios distinctos, para assim se determinarem com preci-
são a natureza e a extensão de suas responsabilidades,
Conforme este systema, se o acto é de simples gestão, é
manifesta a responsabilidade do Estado: não assim, porem,
se se trata de acto de imperio, isto é, de acto de govemo ou
de poder soberano.
3.°) Doutrina preponderante, da qual ides ter conheci-
mento pelo que adeante terei occasião de expor, em relação á
responsabilidade civil do Estado na conformidade do nosso
Direito.

Que vem a ser, pois, a theoria ou doutrina dessa res-


ponsabilidade ?
Que significa a palavra - 1·epresentação, ha pouco em-
pregada?
Tomada na accepção commum, elIa 'exprime a relação,
em que um individuo age por outro, fazendo-lhe as vezes em
dado fim ot6 mistél'.
N este sentido, tanto o mandatario, como o proponente,
- 122 -

são considerados representantes· daquelle, em cujo nome


agem. e)
Não é esta, porém, a accepção de que aqUi nos occu-
pamo!'.
A palavra representação; objecto do nosso estudo, é aqui
considerada com significação especial ou technica, que, de fa-
cto, lhe cabe, para particuhrizar um instituto juriilico, que
não tem, no direito positivo, outro qualificativo capaz de ex-
primil-o no estricto sentido de sua accepção especial. (2)
°
Representação, pois, é modo não voluntarío, mas ne-
cessaria, de exprúnir a vontade e de agir em nome de outro"
que não p6de, ou é incapaz de fazel-o por si mesmo. (~)
Em virtude deste principio, toda pessoa jurídica, seja
de cCtracter publico, ou privado, é representada em todos os
actos, que não p6de praticar por si mesma.
Representante do Estado, portanto, é aquelle que, inves-
tido de funcçi'lo publica, todos os actos que pratica, no exer-
cicio de suas attribuições, se consideram como exercidos em
nome do mesmo Estado. (') .
Dahi, e&ta affirmação.positiva, de accôrdo com a opinião
dos tratadistas:
« Quando os funccionarios agem como argilas do Estado
e fazem uso do poder, que pata isso lhes foi outorgado, os
seus actos devem ser juridicamente considerados como pro-
pri os do mesmo Estado.»
Então, ainda em virtude deste principio, a responsabili-
dade do Estado, pelos actos de seus funcionm'ios, torna-se
uma obrigação rigorosamente juridica, fundada no Direito
Publico. (5)

(I) A. Cav., « k nesp. Civ. do Est. », pag.2H.


(2j A. Cav., ohr. cit., pago ~72.
(3) A. Cav., ohr. cit. pago ~7~.
(4) A. Cav., obro cit., pago 27~.
C') A. Cav., obr., cit., pag., 132.
- 123-

No «Direito Publico», diz o trecho supra-tl'anscripto,


com o qual, entretanto, não estou de accÔrdo.
A meu vêr, a responsabilidade, de que se trata, é uma
questão, que, tanto pela sua origem, como pelas consequen-
cias, que da mesma resultam, entende não só com O direito
publico, como com o direito administrativo, propriamente
dito, e tambem com o direito privado.
N-o que concerne ao direito administrativo, considero
por tal modo claro, e, portanto, tão facilmente intelligivel
essa asserção, que tenho por escusada qualquer demonstração
com referencia á mesma.
Para chegar-se; desde logo, sem difHculdade nem esforço,
a esta evidencia, bastará reflectir que a quasi totalidade das
acções de indemnização propostas contra a Fazenda Nacional
versa precisamente sobre lesões de direitos individuaes,
por 8ctos ou decisões de autoridades administativas da
União.
E, quanto ao direito privado, bastará referir a opinião
de Chironi, que acceito sem restricções.
Discutindo esse ponto, Chironi faz ver, quc ultimamente
se tem affirmado a insufficiencia do Codigo Civil, para regu-
lar as relações jurídicas em que o Estado é parte; fazendo· se,
por isso, mistér recorrer aos principios do Direito Publico.
Nenhuma theoria, porém (diz Chironi) é menos juridica
e mais perniciosa do que esta.
Não é juridica, porque, em materia de responsabilidade
pelos actos de seus funccionario~, o Estado -não pode, em
rigor, subtrahir-se ás normas do direito civil, que é a ~ei
geral; além de que, os particulares teem o direito de conhe-
cer e saber os effeitos de suas relações com o Estado, que
não póde, a seu arbitrio, violar a lei geral, pretextando não
deverem seus RctoS estar sujeitos a regulamentação alguma
e haver necessidade de estarem á sua disposição os direitos
dos particulares.
. Essa theoria é, além disso, perniciosa, porque é contra-
124 -

ria ao movimento jUlidico social, que tende a definir as


attribuições do Estado em relação aos seus fins.
Não póde, portanto, collocar-se o Estado acima da lei, a
que, por igual, deve estar sujeito.
Sem duvida, no tocante a este ponto, é preciso conside-
rar que a observancia da lei civil pelo Estado nem sempre
pode ser plena e completa; seu fim e o proprio conceito da
autoridade publica mostram os limites dentro dos quais os
seus actos não se acham sujeitos ao direito commum, por
força do caracter proprio de taes aeto!', visando fins politicos
inherentes á sua essencia (6).

lHas, a respeito da questão de que nos occupamos, ha


ainda um ponto, que bem merece especial indagação no
nosso estudo.
Como A. Cavalcanti eu pergunto:
Até onde vae I:l onde deve cessar a responsabilidadp. do
E.tado pelos aetos dos seus funccionarios ou prepostos?
E' o que vamos vêr.
No entender de alguns autores, essa respollsabilidade se
rest1'inge aos aetos praticados dentro dos limites legaes da
acção do jwzcciollal'io, porque, jóra de taes limites, jâ llão
é mais 1'ep}'esentante do Estado e).
Não é, não póde ser verdadeira esta proposição á vista
dos seus proprios termos.
E' de simple.. intuição, que 8e o funccionarioo age
dentro da lei, não ultrapassa os limites legaes; e, neste caso,
razão não ha para que f;e procure tornar iudieial ou adminis-
trat.ivamente effeetiva a responsabilidade civil do Estado por
aetos assim praticados pelos seus fUIlccionarios no exercicio
de buas attribuições.

(6) Chir. La Culp. eu el Derech. Civ., pago 536.


(1) A. Cav., obro cit., pago B17.
- 125-

Ainda no entender de outros autores, faz-se distincção


entre os actos praticados pelos junccionarios-prepostos e 08
exercitados pelos junccionarios-orgãos (8).
Esb theoria, como a primeira, é tambem especiosa.
Com razão pondera A. Cavalcanti, que, ou se trate de
orgãos, funccíonarios 011 pl'epostos, todos elles, dentro do
circulo das proprias funcções ou da competen'3ia legal,
representam a pessoa do Estado.
Não· agem em nome e por conta propria, e sim em
nome do mesmo Esta!lo, qualquer que seja a sua hierarchia·
na crgani7.ação da justiça ou da administraçl0.
Finalmentt', ainda no entender de outros autores, ·os
actos do Estado são divididos em actos de gestão e aetos
de imperio (9).
No primeiro caso, o Estado é responsavel pelos nctos
dos seus funccionarios ou prepostos como qualquer pessoa
.i uridiea de direito pri vado; no segundo é de todo irreilpon-
savel por seus actos, por sc considerarem emanados de sua
pessoa politica, ou sobuana CO).
Não me occllparei hoje da distincção, que se faz entre
aetos de gestão e actos de imperi'b, por ser esta uma questão
pertim'nte a outro ponto do nosso pl·ogramma.
Tão sóment~, chamarei.a VOl:!Slt attenção para o sophis-
ma sobre que assenta esta theoria.
Antr>s do mais, não ha, no Estado, duas pessoas distin-
ctas, como ex adverso se pretende - uma civil e outra
politica.
O Estado é 'uno; exerce apenas, como succede com os
individuos, funcções de natUl'exas diversas (11).
«Quando exercita funcções, cuja natureza é identica ás

(8 A. Cav., obro cito pago 321.


(9) A. Cav., obro cit. pago 3~2.
(lO) A. Cav., obro cito pago 323.
(11) A. Cav., obro cito pago 324..
- 126-

que exercem os individuos, é de razão que se lhe uppliquem


as mesmas regras, que regulam taes funcçõe!! entre p!uticu-
lared: ubi eadf./lb l°alio, ibi· idem jus; quando, ao contrario,
exercita fllncção de natureza differpnte, como são os actos
de legislador, de governo e de juiz, é de ver que a taes actos
já se não podem applicar regras identicas, até mesmo porque,
no seu estado actual, o direito privado não os comprehende
na sua esphera C2 ).
Sendo, pois, dominante o principio de que- toda lesão
de um direito exige reparaçlio., para restabelecer o equilibrio
da ordem jurídica, pmoa mante1' a situação logica e natural
do estado de direito, a consequencia é que - responde a
Unií'to pélos actos de seus prepostos, qualquer que spja a
natureza dos mesmos (de imperio ou de gestão) toda vez que
deHes resulte violação da lei por offensu ao direito in-
dividual.
Noutros termos: a responsabiÚdade civil da União pelos
actos do!! seus funccionarios ou prepostos deve ir até onde
chegar a violação do direito dos particulares pelos actos dos
representantes da mesma União, praticados no exercicio de
suas funcções.
Não é, porém, o Estado responsavel por violação do di-
rfÍto individual, mesmo commettida por funccionario seu ou
preposto, si o acto considerado éulposo não foi praticado pelo
representante do governo ou da administração no exercicio
de suas funcções.

Não é, Srs., outro o principio, sobre que actualmente se


baseia todo o nosso direito.
A partir da Constituição, t~mos os direitos declarados
nos arts. 72 e 78, dentre os quaes se salientam os da invio-

(12) Ao Cavo, obro cil. pago 3:!4o


- 127-

labilidade dos direitos conceJ'nenie.<;· á liberdade, á segu-


rança indiv'irlllal e á propriedade (ad. 72, pr.),· o direito
de prop}'ierlade) mantido em toda a sua plenitude) mlvo a
desapl'opl'i!tçiio por necessidade ou utilidade publica, me-
diante indemnízaçilo prévirL (art. 72, § 17.) (App. VI).
No direito publico e administrativo, temos, além de ou-
tras disposições, as da lei n.O 221, de 1894, art. 13, estabe-
lecendo a fórma das acçõ»s e dos respectivos processos no
que diz respeito á lesão dos direitos indi viduaes por parte do
Governo Federal, ou das autoridades administrativas da
União. (App. VI).
No direito criminal, tpmos igualmente o art. 31 do res·
pectivo Codigo, que assim dispõe:
~ A isenção da responsabilidade criminal não implica
a da responsabilidade civil I).
Para melhor se conhecer a especie e saber como se
applica ao caso que aqui se discute, figuremos um exemplo.
Seja o proprietario de uma officina de impressão e de
uma empresa jornalistica, que tem ambas totalmente des-
truidas (por empastellamento ou iocendio) a mandado do
chefe de Policia desta Capital.
Qual o direito que tem o prejudicado para a reparação
do damno cau8ado?
E' claro que, por esse delicto,' se estabelecem duas or-
dens de responsabilidades: uma criminal, outra Ci1Jil.
Em relação á }'esponsabilidade Cl'iminal, o Estado
nada tem que ver com ella j não pó de pela mesma res-
ponder.
Por esse crime só póde pessoalmente responder o seu:
mandante - a autoridade policial, a quem f'xclttSivamente
cabe a sua autoria.
Não assim, porém, em relação á responsabilidade ci-
vil, que o prejudicado tem o direito de tornar effectiva,
cobrando directamente do Estado a indemnização que lhe é
devida.
- 128-

Além do art. 31, ainda se encontra o art. 70 do mesmo


Co digo Criminal, que assim preceitúa:
« A obr(qação de l:nrlemnizar o damno será regulada se-
gundo o direito civil ».
No direito privado, temos, finalmente" o disposto no art.
15 do novo Codigo Civil, conforme o qual as pessoas juridi-
cas de direito publico são civilmente 1'esponsaveis pmo actos
de seus representantes, que nessa qualidade causem damno
a terceiros, procedendo de modo contrario ao direito, ou
faltando a demw pl'eSC1"l:pto por lei.
Ora, sendo o Estado 'pessoa jurídica de Direito Pu-
blico, é claro que não está isento da responsabilidade pres-
cripta neste artigo, apesar das immunidades decorrentes da
soberania que exerce.
Tão sómente, para não ser de todo prejudicado, a lei
lhe assegura o direito regressivo contra os seus funccionarios
ou prepostos, causadores do damno; Cod. Civ. cit., art. 15-
in fine.
Nada mais justo.
Tudo isso se cGmprehende ainda mais facilmente em
face do que, a semelhante respeito, doutrinam os autores
gerroanicos, entre elIes C. von Kis,>iling, que diz:
{( O Estado crea, pela sua legi~lação, de um lado uma
acção de representação entre si e o funccional'io, e, de outro
lado, uma relação de subo/'dinação entre este e os seus sub-
ditos; resultando dahi ('f, ga1'antia assumida pelo E'Itado
por todos os actos dos seu,~ prepostos, concernentes aos
mesmos subditos. (I3)

Resumindo, poi~, os fundamentos sobre que assenta a


theoria predominante da responsabilidade civil do EstadQ..
pelos aetos dos seus prepostos, tenhamos como certo:

(1 3) A Cav., obro cit., pago 152.


- 129-

.1.°, que, em virtude do principio da representação, dá-se


irrefutavelmente a responslJ.bilidade do mesmo Estado, pela
razão de não serem os ~eus pl'epostos simples mandatarios,
mas membros ou partes 01'fJlI1IÜ~(fS del/e. (1')
2.°, que, entre os actr,s, '!'le podem occasionar a mesma
responsabilidade, diz Dreyer, SP. devem incluir os dos juizes,
os quaes participam da natureza dos demais funccionarios. (15)
Certamente por isto, já em 1893 se apresentava no
parlamento do Imperio Austro-Húngaro um projecto de lei,
estabelecendo indemnização para as 1:ictimas dos erros ju-
dicim'ios; Ann. de Legis1. Étrang., voI. 15, pago 769.
Justificam aquelle projecto razões como estae, produzi-
das por F. Schwarze, citado por A. Cavalcanti no seu livro
«ResponElabil.idade Civil do Estado», pago 128:
«Sendo a misEoão do juiz applicar com exactidão a lei,
cumprindo-a fielmente, sem outra preoccupação que não a
da mais estricta justiça, se uma vez falta a este dever, pra-
tica acto que dá ao prejudicado o direito de indemnização.»
«0 juiz que abusa de sua autoridade o faz como repre-
sentante do Estado; lesa, por consequencia, o particular, jus-
tamente pela confiança que deposita nessa representação.»
«0 individuo não é lesado por negligencia de sua parte,
mas por abuso do representante do Estado, o juiz, do qual o
mesmo Estado, nomeando-o e revestindo-o da sua au~oridade,
se constitue garante de sua reeta condueta» ;
3. o, os funccionarios administrativos representam o Es-
tado na sua eft'ectividade; e, por isso, os actos daquelles de-
vem ser considerados como se fossem immediatos destes (16) ;
4. o, os subditos estão para o Estado e os funccionarios
(no exercicio de suas faculdades) em uma relação de sujeição;
e, desde que o funccionario pó de, usando da publica autori-

(U) A. Cav., obro cit., pago 1~6.


(15) A. Cav., obro cit., pago 126.
(16) A. Cav., obro cit., pago 127.
9
DI.Brro J.DKINlSTRATIVO
- 130

dade, empregar a ·coacção, se deve igualmente admittir di-°


reito de pedir reparação em favor do individuo, que fôr, por-
ventura, lesado pdo mesmo fUl1ccionario (17);
5.°, o damno que o funccionario faz de proposito, ou por
negligencia a outrem, é um acto de poder publico; conseguin-
temente, é dever do Estado assumir a obrigação de prestar,
in subsidium, a indemnização devida por esse damno;
Schmittennen, citado por A. Cavalcanti, obro cit., pago 129;
ô.o, para valer a acção de indemnização contra o Esta-
do, é preciso que se tenha da.do a viobção de um direito
objectivo e a culpa sub}ectiva do funccionario, agindo dentro
das suas attribuições C8 );
7.°, fin&lment:>, quando os funccionariús agem como 01'-
gãos do poder publico, e fazem uso de poder que exercem
para fins desse poder, os seus actos devem ser considerados
juridicamente como se fossem praticados pelo proprio Es-
tado. (19)

Tacs são, senhores, os prinClplOs fundamentaes sobre


que assenta a theoria juridica da responsabilidade civil do Es-
tado segundo o direito allemão.
A ella só tenho a oppôr um reparo, e vem a ser a im-
propriedade do cunho accentuadamente imperialista de uma
de suas expressões. Refiro-me á expressão subditos, empre-
gada por aquelles autores quando se referem á lesão de di-
reito do individuo ou de particulares. No mais, adopto, sem
restricções, os principias que se consubstanciam na doutrina
exposta, por me parecerem em tudo conformes ao nosso· di-
reito.

(17) A. Cav., obro cit., pago 128.


(18) A. Cav., obro cito pago iaO
('O) A. Cav., obro cit., pag. 130.
- 131-

Cumpre ainda notar que, ao passo que o Direito Brasi-


leiro tanto se assemelha ao direito allemão neste particular,
outro, inteiramente outro, é o direito positivo francez, con-
forme o qual a irresponsabilidade do Estado pelos actos do
poder publico continúa a ser uma prerogativa do mesmo
Estado.
Razão, portanto, havia, quando, em minha lição inaugu-
ral, tendo de referir-me ao direito administrativo francez, eu
disse: Gua1'demo-nos, em o nosso estudo, de imbuir-nos das
idéas de HOU1'iout e de outros publiâstli.s francezes, que
ainda agora doutrinam e sustentam principios que não me
parecem verdadeiros, como nO correr de outras preZecções
terei occasião de demonstrar.
E, senão, vêde: no actual regimen do direito francez,
os actos do governo, mesmo illicitos, ou praticado.'! com ex-
cesso do poder não dão ao prejudicado o direito de tornar
effectiva a responsabilidade civil do Estado, que assim sanc-
dona' toda a sorte de arbítrio dos seus prepostos, em prejuízo
dos particulares,
A este respeito, nada menos de sete casos são indicados
por A. Cavalcanti em c,:nfirmação deste asserto, (20).
Quer isto dizer, que cabe justamente aqui, a respeito
do direito francez, esta justissima observação com referencia
ao Direito Romano:
Ao Estado Romano, a despeito do ape1'feiçoamento a
que attingiram as sltaslettras juridicas, pareceria repugnante
com os principias do direito commnm dOminante, que ao in-
dividuo coubesse, JURE PROPRIO, o poder de accionar o Es-
tado ou a administ1'ação publica, em virtude da lesão de
um dú'eito seu proprio l) (21),

(SO) A. Cav., obra cit., pag: 277.


(21) A. Cav., obro cit., pago 303.
*
132

Depois disto, não terminarei a primeira parte de nossa


lição, sem referir as excepções que sofl're, mesmo segundo o
nosso direito, a theoria juridica, de que aqui nos occupamos.
Assim, por exemplo, tratando-se de actos legislativos, a
irresponsabilidade pelos mesmos é affirmada de modo abso-
luto ('2).
A razão é porque sempre se tem entendido que os aetos
desta natureza não podem dar logar á acção contm o Estado,
nem contra as pessoas dos legisladores, que bajam tomado·
parte na sua adopção.
Isto, com e:ffeito, assim é; mas baveis de convir que é
um perigo para a existencia de um povo o estar á mercê do
arbitrio de um poder irresponsavel, como o é, de facto, e
por lei, o Poder Legislativo!
Para as olfensas, occasionadas por suas leis ao direito
privado, só ha gm remedio: o do art. 13 da lei n. 221, de
1894, que considero de todo insufficiente. Como sabeis, a
acção especial, instituida por essa lei, visa sómente a annul-
lação de decisões ou actos do governo e das autoridades
administrativas da União.
Não é, portanto, precisamente a bypothese da lei iniqua
ou injusta, contra a qual s6 ha o remedio da revolução.
Na acção do citado art. 13 o que se procura annullar é
a decisão ou acto lesivo do direito individual; nada SP. argúe
contra a lei. No caBO da lei offeneiva do direito privado, ne-
nhuma acção ha a intentar, porque, como acabamos de ver,
a.lém da irresponsabilidade do poder, que a decretou, nenhum
outro poder tem a faculdade de decretar a sua revogação
in totum.
Consequencia: sujeição do. povo a uma lei, que o oppri-
me, impunidade absoluta do poder causa.dor desta oppressão t
Aqui temos, pois, não só um mal, como uma grande lacuna.
a preencher na organização do nosso regimen!

(II~) A. Cav., obro cit., pago 319.


- 133-

Fóra dessa excepção, e da relativa aos actos legaes ou


isentos de culpa, não conheço outras. "
Os proprios actos do governo, praticados no domínio do
jus imperii; todos os actos da administração, inclusivé os
de policia "e segurança publica, e tambem os proprios actoB
ou factos de guerra, nenhum delles, na conformidade da
theoria exposta, exime o Estado da responsabilidade civil,
que lhe cabe pelos actos de seus prepostos.
Imagine-se "o estado de guerra. É como logo se vê, um
caBO excepcional. Por força das circumstancias, o governo
tem necessidade "de utilizar-se de bens dos particulares. Póde
fazel-o? Inquestionavelmente! Mas, em que condições?
Nas condições que entender, comtanto que se não recuse
a pagar a indemnização devida ao proprietario dos bens.
Essa indemnização não só póde, como até deve ser lwévia-
mente exigida, na fórma do disposto na Constituição da Re-
publica, art. 72, § 17.
O governo, na emergencia em que se vê, e por força
da autoridade de que está investido, tem in.!ontestavel direito
de-impôr aos particulares, em bem do interesse geral, não
só obrigação, como esta, como cel·tos obices, exigencias e re8-
tricções á sua libm'dade de acção, determinadas pelas cir-
cumstancias.
Mas, logo se comprehende que todos esses actos, para
que nâo produzam indignação nem revolta, devem ser decre-
tados com a maxima prudencia e criterio.
No tocante á requisição dos bens por parte do governo,
é principio absoluto, mesmo neste caso, o da indemnização
devida pelo Estado.

lI. Relativamente á questão da responsabilidade da


União pelos emprestimos contrahidos pelos Estados federaes
e pela Municipalidade deste districto, notarei, em primeiro
logar, a deBciencia do nosso direito no que concerne á regu-
lamentação deste assumpto.
- 134-

No ponto de vista doutrinario, poucos subsidios encon-


trei na nossa litteratura financeira, que me norteassem no
estudo desta questão, que tanto importa ao empreg-o e ao
uso do credito publico e, por consequencia, ás condições eco-
nomico-Hnanceiras do Estado.
E' tanto maior a importancia que lhe augmenta o inte-
resse, quanto é certo que ella entende com responsabilidades
não só directas, como indirectas da União no dominio tanto
das relações interna!", como daquellas de ordem interna·
cional.
Sob o ponto de vista do nosso direito constituido, temos
a Constituição da Republica estabelecendo para o Congresso
Nacional a compeiencia p,-ivativa de autoriza?' o poder exe-
cutivo a conirahir emp1'estimos .. art. 34, n. 2 (App. VI).
Commentando esta diBpo~ição, dá-nos tI. Barbalho, de
modo synthetico, a razão fundamental da mesma: « E' obvia
a affinidade entre o poder de crear receita e regular despe-
zas e o de usar rio credito nacional por via de emprestimos.
Estes em g81'al contrahem-se para despezas que não cabem
nas forças do orçamento annual, e ieem de ser tambem pagas
pelos contribuintes; precisam, pois, de ser autorizados PO?'
elles, pelo intel'medio de seus 1'epreseniantes (2').
Depoi8 da Constituição, todos 08 emprei'-timos feitos no
Brasil teem sido, de ordinario, autorizados por disposições
de leis orçamentarias.
Na Republica, a primeira operação desta natureza foi
realizada em 1893, em Londres.
Não foi emprestimo feito directamente á União, mas á
Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas, sob a responsa-
bilidade do governo brasileiro (2') ..
Depois, tivemos o emprestimo de 18gb feito directa-

(23) J. Barb., obro cit., pago 105.


(24) A. Cav., Elem. de Fin., pago 366.
- 135-

mente á União, destinado a diversas despezas da mesma no


exterior e ao resgab de uma di1,ida (luctuante de ;t
2.000.000 (25).
No que respeita aos emprestimos da municipalidade do
Districto Federal, são regul8;.dos nos seguintes termos pelo
decreto n. o 5.160, de 1904, que approvou a consolidação das
leis federaes sobre a organização municipal de~te districto:
Art. 12.0 Ao Conselho Municipal incumbe;
§ 7.° Contl'ahil' emprestimos -'lobre o credito do munic"-
pio, determinando as condições do seu levantamento, o tempo,
o modo e o meio do pagamento: sendo que nenhum emp1'efl-
timo municipal poderá realizar-se no estrangeiTo sem auto-
1'ização do Cong1'esso Nacional».
Quanto, porém, aos emprestimos externos, levantados
pelos Estados, não temos, por emquanto, lei que os r.'guIe.
Conheço apenas dous projectos apresentados na Camara
dos Deputados: o primeiro sob n.O 308, de HJ04, do deputado
Bricio Filho, vedandu aus E~tados contrahirem empJ'('8timos
no exteriur ou no interior com os bancos, companhias e em-
presas estrangfiras, sem prévia auturização do Congl'esso
.Nacional; o segundo, sob n.O 7, de H)06, do deputado Leite
Ribeiro, tornando taes emprestimos dependente:>, nào de
autorização do Congresso, mas de prévio accôrdo com o
Poder Executivo Federal, com 1'ecltrso da. decisão desse
poder para o meS11/O COllgresso.
Além desses dous projectos, tenho noticia de um outro
do deputado Sylvio Romero, que não consegui descobrü'.
Nenhum delles, porém, logrou ser convertiílo em Il)i.
A razão logo se percebe.
Aos Estados r1 ;t0 convém limitação alguma ar) puder', de
quP. elIes teem não só usado, como ab'!~ado, para :t s(ltisfação
de intereslles puramente regi<Jnl1.es.

(~,,) A. Cav., Elem. de Fin., pago 368.


- 136 --

Mostram-ss, por isso, extremamente ciosos de tal facul-


dade, procurando sempre justifical-a com o principio consti-
tucional de sua autonomia.
Occupando-se do assumpto, escreveu Ruy Barbosa
em 1898:
« A nação vive quasi alh;ia ao que se passa nos Esta-
dos, e, por isso, não tem consciencia do extremo a que ~ocou
a sua queda».
«Eis no que dá, prJr fim, a autonomia dos Estados,
esse princ1:pio retumbante, mentiroso, vasio de vida como
um sepulcltro, a cuja superstição se está sacrificando a
existencia do paiz, O principio da nossa nacionalidade, offe-
recida em pasto ás cobiças intestinas até que outras ·a
venham devorar )1.
A censura é justa, mas s6mente em parte:
No tempo da monarchia, as proprias provincias eram
autonomas, e, comtudo, clamavam os politicos doutrinantes,
na exaltação do liberalismo de suas idéas, contra a centrali-
zação que asopprimia, por causa unicamente do systema
politico, em que .0 poder pessoal do Imperador não tinha
limite e todos os negocios do paiz !.le enfeixavam nas mãos
do governo central!
Si bem me recordo, batia-se então, com grande brilhan-
tismo, pela descentralização administrativa tanto na tribuna
parlamentar como na imprensa, o proprio Sr. Ruy Barbosa.
Sobrevindo a Republica, a principal preoccupação do
legislador constituinte foi, obedecendo á inspiração domina.n~,
assegurar aos Estados a maior autonomia.
O mal não provêm disto, e sim do modo por que na
Constituição foi estabelecida essa autonomia.
Começaram então os Estados a entender que eram não
s6 autonomos, como soberanos.
O proprio J. Barbalho, illustre commentador da nossa
Constituição, chegou a sustentar este disparate!
Consequencia: o erro, de que tem resultado tantos males
- 137-

para o paiz, o unico que não tem culpa dos desacertos dos.
seus· dirigentes.
Por isso, fiel ao programma que me tracei, eu sou
obrigado a dizer:
Que pena não ter visto o maior dos nossos constitucio·
nalistas, em 1899, o que só chegou a vêr quasi dez annos
depois, em 1898! - o perigo de uma medida constitucional
demasiado elastica, que devia pôr em risco a existencia do
paiz, o principio da nossa ;"acionalidade I
Parece tanto mais procedente esta observação, quanto é
certo que o sr. Ruy Barbosa, além de ter sido um dos maio-
res fautores do movimento, que levou o paiz ao novo regi-
men, era e é um homem de Estado, a quem se não põde ne-
gar o prestigio de sua palavra, sempre ouvida com admira-
ção e respeito devido á soa grande autoridade.
Tudo aquillo, que só muito tarde mereceu a reprovação
e a eondemnação de tão abalisado jurista e politico, devia
ter sido pelo mesmo previsto.
Em politica, os verdadeü'os grandes homens, diz Le
Bon, são os que presentem as necessidades que· vão nascer,
os acontecimentos que o passado tem preparado e mostram
Q caminho a seguir. (26)

Relativamente aos projectos a que antes me referi, con-


sidero melhor o 1.0 (de 1904), mas nãO ·de todo satisfactorio.
A meu ver, o mesmo seria perfeito si limitasse a prohi-
bição aos emprestimos externos.
Quanto ao 2.°, acho-o não só confuso e difuso, como
illogico e contraproducente.
Si o fim do projecto é tornar o emprestimo dependente
de prévio accôrdo com o Poder Executivo Federal, nada jus-
tifica o reCUrSo por parte do Estado da decisão daquelle
poder.

(26) G. Le Bon-1ois Psychol. del'Évol., pago 155.


- 138-

Depois, não se accommoda á technica do nosso (1ireito o


recurso interposto de um simples parece?' em uma operação
reali;;((l'el por accÔrdo.
Aecôrdo quer dizer - uniria de vontadeEl, conformidade
de vjbta~, consenso dos interess'ldos a respeito de um ponto.
Recorrer delle é baralhar ideias, é confundir cousas dis-
tincta~.
Ha, além disso, a diffllsão, que logo se nota, na propria
fórma do projecto, que, podendo-se resumir em dous artigos,
foi prolixamente redigido em seis.
Ha, finalmente, ainda este ponto difficil de compre-
hender:
Si, pela Constituição, o Poder Executivo Federal não
póde cOl1tl'ahil' empl'estimo no estrangeiro sem auto1'Íxação
do Congresso Naúonal, não se concebe que aquelle poder te-
nha competcncia para. autOl';zar os Estados a contrahir taes
emprestimos.
Supponha-se que o Poder Ex'Õ!cutivo Federal, solicitado,
se manifeste favoravel ao levantamento pretendido.
Poderá em tal caf'O autorizar o emprestimo? Nunca!
Logo, pelo menos neste ponto, é contraproducente o
projfcto de 1906.
Si, na hypothese figurada, é sempre indispensavel a au-
torização do Poder Legislativo, o que logo se evidencia é
que, ainda nesta p1rte, o mesmo projecto implica contra-
dição.
Não ha, poi .. , necessidade de duas autorizações, para
uma operação, que pó de, scm inconveniente, HeI' feitA. com
uma só.
°
Quando emprestimo é interno, nenhuma irregularidade
ha a notar em relação á competencia dos Estados para o
contrahirem.
Si, porém, em vez disso, o emprestirno é externo, o
caso ~uda de figura; não póde, por isso mesmo, deixar de
interessar conjuntamente á União.
- 139 -

Não é que se deva negar aos Estados a sua qualidade


de autonomos e a consequente capacidade para contrahir
obrigação dentro ou fóra do paiz.
O principio verdadeiro é este; mas, por força das cir-
cumstancias, é necessario orpor-Ihc restricções, que não an-
nullem e antes se conciliem com a autonomia dos Estados.
As razões que justificam pelo menos a audiencia da
União a respeito de taes emprestimos eu resumo:
1.0) Sendo a Nação Brasileir:t constituida pela totali-
dade das antigas provincias, hoje Estados federados, cada
um dt'lles se considera uma unidade, que contribue para a
formação intt'gral da Federação; ou, noutros termos, uma
parte integrante deste grande Todo, que é a propria Nação;
2.°) Si cada uma das referidas unidades tem, na fórma
da Constituição, o seu governo á parte, nem por isso a sua
independencia é completa, visto que, a muitos respeitos, está
sujeita á acção do governo central da União.
3.°) Si cada Estado, como membro da Federação, está
perpetua e indissoluvelm~nte ligado á mesma União, por
força da adhesão que prestou ao novo regirnen, parece dara
a communhão de interesses que os deve manter unidos pelo
re:"guardo contra iodo o perigo ou damno, que possa sobre-
vir ao E'ilado fedeml de suas relações com Estados estran-
geiros.
E' isto o que, em outros termos, doutrinam duas gran-
des autoridades na materia, cujas opiniões adopto.
«Le gouvernement, diz CourceHe Seneuil, est clwrgé de
fail'e respecter l'état de p1'opl'iété établi par les lois, de veil-
ler à l'observation et à l'execution des contrais, de préparm'
et de di1'iger la défense du pays contre les ennemis du
dehorsD. (27)
Por sua vez, doutrina Spencer:

(27) Prépar. 11 l'Étude du Droit, pago 114.


-140 -

II Os dú'eitos de trocar e de contractar devem, conzo os

outros direitos, sujeitar-se ás restr1:cções z'mpostas pelos cui-


dados da conservação social, exposta aos ataques dos inimi-
gos exteriores. E' legitima a suspensão da liberdade de tro-
car quando ponha em perigo a defesa nacional ». (28)
4.°) Si, no dominio das relações exteriores, perante o
direito internacional, o que existe (como já tivemos occasião
de dizer, citando J. Barbalho) é o Governo Federal, dada a
hypothese (aliás muito factivel) de não poder um dos Esta-
dos satisfazer seus compromissos DO exterior, nada mais na-
tural do que chamar a si o Governo Brasileiro a satisfação
des!'es compromissos, si não por uma obrigação juridica ori-
ginariamente sua, pelo menos em respeito 'ás suas tradições
de credito e de honra e em c~mprimento de um dever moral,
que, além do mais, livrará o paiz de consequencias mais gra-
vosas do que as de um simples sacrificio pecuniario!
Aliás, o easo não é uma simples hypothese.
'São de datas recentes as chamadas missões financeiras
francezas no Brasil: missão Caillaux, missão Pierre Baudin
e missão Bouilloux Lafónt.
Apesar do rigoroso segredo sobre essas missões nas altas
regiões officiaes, grande parte do publico conhece a sua triste
e nefanda historia!
Honra ao governo da Republica, que, em tão difficil si-
tuação, soube conter, por meio de energica e altiva repulsa,
as demasias dos intitulados emissarios não só do governo
fl'ancez, como dos credores do Brasil na França!
Erraram felizmente o golpe os emissarios: o que não
impediu de, ainda agora, votarem ,os accionistas do Crédit
Foncier du Brésil uma moção de agradecimento aos mesmos
pelos bons se1'viços p1'estados ao Cl'édit durante a sua per-
manencia no Brasil, (J. do Conzmercio de 29 àe junho
de 1918),

(~8) Spencer, A Just., pag, 154.


- 141 -

Antes disso, já causava sérias apprehensões no paiz o


abuso por parte dos ~stados no levantamento, faci! e irrefle-
ctido, de tantos emprestimos no estrangeiro.
Todos, por certo, ainda se recordam do afamado empres-
timo do Amazonas no anno de 1902!
O escandalo chegou ao ·ponto de Estado o ex proprio
Marte, reduzir 30 % a sua divida. (Correio da Manhã, 11
de agosto de 1902).
N ecessario é, pois, que, se tratando de emprestimos ex-
ternos pelos Estados, estes não possam realizaI-os sem prévia
consulta e expressa acquiescencia do Congresso Nacional,
visto ser a União, afinal de contas, a principal responsavel
pela solução definitiva de taes emprestimos.
Para isso bastará que os Estados sejam declarados su-
jeitos ás mesmas prescripções, 'que a Constituição estabelece
para os emprestimos da União, que, como se sebe, nenhum
emprestimo póde levantar sem expressa autoridade do Con-
gresso.
A unica concessão que, tal caso, se p6de sem nenhum
inconveniente fazer aos Estados, é a de conservar-lhes a li-
berdade para taes contractos, quando apenas se tratar de
emprestimos internos. '
OITAVA LIÇÃO

I. Divisão dos poderes do Estado. Poderes discricionarios do


mesmo em condições normaes e anormaes da vida da nação.
Como se exercem e se limitam esses poderes. 1[. Soccorros
Publicos.

Meus senhores:
1. Evidencia o ponto de hoje que o Estado ou a União
Fedf'ral, além das attribuições, que lhe são conferidas por lei,
exerce outros pederes, que, na technica administrativa, se
consideram discricionarios, em virtude dos quaes agem em
condições tanto normaes como anormaes da vida nacional.
Esses poderes emanam da faculdade que, na sciencia da
administração, se denomina - Poder Politico, assim conside-
rado em geral como - principal encarregado de realizar a
missão do Estado.
Elles se concentram em uma só entidade - a União ou o
E~tado; assim como se dividem, como já vimos, na fórma do
disposto na Constituição da Republica, art. 15.
No que diz respeito ao poder executivo, este, por sua
vez, se divide em governamental e administrativo, s~gundo
a esphera dentro da qu~l actúa.
No 1.0 caso, isto é, tratando-se do poder governamental,
o seu codigo é o Direi to Publico interno e externo: no segun-
do, isto é, no ramo administravivo, o seu codigo especial é a
legislação administrativa. (1)
Na fórma do nosso direito, ambos esses poderes exercem
funcções que lhes são peculiares ou proprias, umas previstas,
definidas, taxadas na lei; outras apenas provindas da faculda-

(1) Rib., Dir. Bras., pags. 51 e 52.


- 143 - r

de, implicita c necessaria., deHes agirem, sempre que fôr pre-


ciso, a bem e 110 interesse da colleetivid"dc ou naçã,,_
Conforme a natureza dessas fUl1cções, eUas ainda se di-
videm em directas e indirectas, em consultivas e activas_
Consideram-se dil'ectas as f'uncções de que dept-nrhi a
vida da administração e inrlil'ectas as que apenas servem para
facilitar o cxer~icio das primeiras. (2)
As funcções dÚ'ectas ainda se denominam essenciaes, em
contraposição ás indil'ectas, que tamuem se chamam auxilia-
res ou especiaes. (3)
As funcções directas ou essenciaes (diz Ribas) são aquel-
las a que está ligada apropria substancia da administ1'açãO,
em que se encarna todo o pensamento e impulsãO do poder
executil'O, de modo que, sem ellas, fical'i J, este poder úzhabi-
l

litado pata preencher a sua missão.


Assim, por exemplo: Supponha-se um serviça publico a
cargo da União. Em tal caRO, é funcção directa da mesma no-
mear o pessoal necessario á direcção desse serviço, assim
como determinar as condições em que f'lle se deve realizar.
Quanto ás funcções indirectas, os autores consideram
verdadeiras jracções do podei' implicitamente contidas nas
essenciaes; dellas se destacam, para se lhes dar maior desen-
volvimento, a fim de que pOisam melhor auxiliar o exercicio
destas. (4)
Teem-se, df'pois disso, as funcções consultivas e activas.
As razões determinantes desta divisão, Ribas nos dá no
seu excellente livro - Direito Administrativo Brasileiro.
EUe distingue, primeiro, a delibemção da acção; de-
pois demonstra que aij juncções da administração racio-
nalmente se classificam em duas grandes ordens,' - discu-
tir e reunir todas às informações e esclarecimentos ácerca do

(2) Rib., Dir. Adro. Bras., pago 100.


(3) Rib., Dir. Adro. Bras., pago 100.
(4) Rib., ob. cit., pags. 100.
- 144-

que convém praticar; l'esoh'er e traduzir em aclos materiae,~


exterwlS as suas 1'esolttçôes.
Dahi vem a divi~ão das funcções em consultivas e
aclivas. (5)
Para tornar ainda mais claro o conceito dessas funcções,
illustremol-o com um exemplo.
Pretende o governo levar ávante a construcção de uma.
grande obra de reconhecida utilidade publica.
Não se achand() de todo sufficientemente instruido das
condições mais vantajosas em que póde ser feita essa cons-
trucção, nada mais natural do que procurar ouvir a respeito
a opinião dos competentes e pedir-Ihps esclarecimentos ácerca.
do que convém praticar.
Aqui se tem, pois, a (uncção consultiva.
Depois, si o Governo resolve definitivamente fa.z!lr a.
construcção projectada e logo a inicia, ahi temos o exercicio
da (ltncção activa.
Essas funcções, porém, ainda se dividem em jurisdiccio-
naes e espontaneas.
As jurisdiccionaes são as exercidas pelo Governo em
virtude ou por força da autoridade, de que está investido
sob o impulso, ou por provocação da parte interessada ou
prejudicada.
Essa provocação pódd ter logar ou por acto de pessoa.
natural ou juridica, que tenha sido lesada por outra, ou por
acto do prejudicado, por decisão 011 acto do proprio Go-
verno.
No primeiro caso, recorre o lesado ao Governo em ma-
teria de sua competencia, para tomar conhecimento de sua.
reclamacão e fazer-lhe a devida justiça.
No segundo, o lesado encontra ainda na lei o meio de;
obter do mesmo Governo a reconsideração do seu aeto, ou a.

(5) Rib., obro cit, pago i07.


- 14õ-

reparação do damnopor clle causado, uma vez demonstrada


fi procedencia OH jnstiç>t da reclamação.

Em ambos os c, HfJS, os agentes da administração,


obí'ando jUl'isdicclonalmente, são verdadeiros magist1'ados
administrativos, que se distinguem dos }udiciarios, princi-
palmente pelas materi:ls sobre que decidem e pela natureza
de suas funcçõcs.
Não é esta a opinião de Hibas, que, se occupando do
assnmpto, doutrina que os magistrados administrativos se
distinguem dos judiciarios, n;tO pela natureza das funcções,
mas sómente pelas materias sobre que eE'tas são exercidas.
Não me parece procedente esta affirmação, primeiro
porque em tudo se differencia a jurisdicção administrativa da
judiciaria; depois, porque nas proprias materiaa sobre que a
jurisdicção administrativa é exercida se patenteia a diversi-
dade da natureza, que torna inconfundiveis as questões júdi-
ciarias c as administrativas propriamente ditas.

Com referencia :is juncções espontaneas, cumpre ainda


notar que, na fórma do nosso direito, elIas se classiHcam do
seguinte modo:
I) de orgão de instrucção ;
rI) de instrumento de operações puramente materiaes;
rII) de poder ou força moral;
IV) de autoridade positiva. (6)
- Como orgão de instrucção, a administração provoca,
indaga, recolhe e transmitte a luz, -informa, verifica, inspec-
ciona, aprecia as informações e dá declarações authen-
ticas. C)
-Como instrumento de operações puramente materiaes,

(6) Rib., obro cit., pago H4..


(7) Rih., obro cit., pago 114..
DIREITO ADMINISTRATIVO
10
- 146-

a administração construe e repara os edificios e obras publi-


cas, guarda e conserva, adquire, aliena, por coneessão gra-
tuita ou- onerosa, os bens publicos; defende-os em juizo, como
autora ou como ré; percebe rendas, paga despezas e liquida
as dividas activas e passivas (8).
-Como poder ou força moral, a administração não
exerce verdadeiro imperio, não ordena; limita-se a instruir,
animar, recompensar, soccorrer e proteger; exerce influencia
. inteiramente moral e sem coaeção (9).
E' esta, no dizer de Ribaf', uma das mais bellas prero-
gativas da administração, eminentemente beneHca, posto que
indeterminada em suas regras e extensão.
E' assim, por exemplo, que -ella ministra ao cidadão a
instrucção primaria e gratuita; auxilia com premios e isen-
ções as instituições particulares de ensino e de educação;
funda e auxilia por outros meios institutos de beneficencia;
faz distribuir viveres e soccorros pecuniarios por occ4sião
das grandes calamidades, etc.
-Como autoridade positiva, a administração expede
ordens formaes, imperativas e faz obedecer-lhes por meios
coercitivos, sendo necessario (10).
Ainda em relação ás juncções jttrisdiccionaes, devo
advertir:
- Que, si o administrador age em virtude de provoca-
ção ou requerimento dos administrados, profei'indo decisão
pro ou contra os mesmos, exerce, neste caso, acto de jur.is~
dicção;
- Que as prete~ções das partes podem fundar-se em
interesses ou em direito;
-Que, parallelamente a estas duas ordens de preten-

(8) Rib., obl'. cit., pago ao.


(9) Rib., obro cit., pago i~6.
(l0) Rib., obr. cit., pago 135.
- 147-

ções, a jurisdicção administrativa, bem como a judiciaria,


ainda se divide em graciosa e contenciosa (11).
No 1.0 caso, é claro: a administração, tomando conheci-.
mento de reclamação baseada sómente em meros iniel-esses,
exerce a }urisdicção graciosa; no 2.°, porém, visto que se
trata de fazer valer direitos, já não tem o administrador a
mesma liberdade de acção: a jurisdicção é contenciosa.
E, visto que o direito, assim reclamado, nada mais é do
que o interesse protegido pela lei, é dever do poder admi-
nistrativo proteger e garantir esse direito.
Ainda no caso da jurisdic.ção graciosa, si a decisão do
administrador é contraria ao interesse reclamado, nenhum
direito de reparação cabe por isso ao reclamante.
Si, porém, em vez de interesse, a reclamação versa so-
bre di1'eito, claro está que se trata de jurisdicção conten-
ciosa, caso em que, da decisão offensiva do mesmo, a parte
prejudicada tem não só recurso, como o direito de indemni-
zação, si eUe não fôr provido.
A razão fundamental desta distincção é que a j uris dicção
graciosa é essmcialmente discricionaria. No caso, o admi-
nistrador póde obrar como julgar conveniente aos interesses
geraes e desprezar os individuaes. Contraría interesses, mas
não fere direitos.
O mesmo, porém, não succede com os negocios sujeitos
á jurisdicção contenciosa.
Fallando-Ihe os administrados em nome de seus direitos,
a administração é obrigada a respeital-os, cingindo-se aos
textos das leis, regulamentos e contractos, de onde eUos
emanam (12).
Finalmente, entre as jurisdicções graciosa e contenciosa
ha ainda a fazer as seguintes distincções :

(11) Rih., ohr. cit., pago 136.


(12) Rih., oh. cit., pago 137.

*
- 148-

-Do acto de jurisdicção graciosa póde a parte recorrer


sem dependencia de prazo para a propria autoridade melhor
informada; ao passo que o acto de jurisdieção contenciosa
passa em julgado e firma direito entre as part('s, como na es-
pher.'t jndiciaria, quando deHa se recorre para a instancia su-
perior no prazo legal (13).
-A jurisdicção graciosa raras ve:les tem furmulas so-
lemned e prazos fataes, emquanto !lo contenciosa não póde dis-
pensal-Ol~, embora sua!'! formnhs sejam mais simples do que
as da ordem judici'1ria (H).

Resta acerescentar que tudo quanto até aqui t~nho dito


a respeito das funcções cOnJiultivas e activas, dil'ectas ~ indi-
recias, jurisdiccionaes e espontanea-'1, graciosas e contencio-
sas, exprime poderes que o Estado exercita dentro da orbita
de sua competeneia e attribuições, em cujo numero se incluem
os poderes dtscl'icionario_'I do mesmo Estado, aos quaes se
refere o ponto.
Esses poderes justificam os actos praticados prlo Estado
no desempenho de sua missão, os quaes tambem, por sua vez,
se dividem em actos raUone impedi e aetos jW'e gestionis.
Quanrlo o Estado, como autoridade positiva, expede or-
dens formaes e impera.tivas, exerce aetos de imperio ou de
funcções jurisdiccionaes; tem, por isso, o direito de ser obe-
decido; e si o não é deve fazer cumprir as suas determina-
ções' .empregando os meios coercitivos.
Não assim, si o aeto provém de funcção espontanea e é
juridicamente de naturexa graciosa. Em tal caso, por sua vir-

(lS) Rib., ob. cit.,pago 162.


(H) Rib., ob. cil', pago 162.
- 149-

tualidade e eSFencia, o acto é discricionario, visto que apenas


visa interesses geraes ou collectivos 5). e
Como vêdes, tudo i~so são nórmas que entendem propria-
mf'nte com o Dirt"ito Publico.
No que concerne ao Direito Privado, a posição da admi-
nÍt;tração j~, é outra.
Quando lt administração se ap?'esenta como representll.n-
te da pessoa jurídica - o Estado, e reclama de algum indi-
riduo um direito, Olt contesta-lhe uma obrigação, ou quando,
como alÜOl'a ou como ré, sustenta um tii1"gio sob1'e materia
pertencente ao di?'eito dos bens, acha-se em identica posição á
daquelle .com quem litiga,' e, não devendo fazer-se justiça
pOI' suas pl'oprias mãos, submette-se á autm'idade do poder
judiciario, a quem cabe decidir ent?'e ella e o outro litigante
com aindependtncia e a soberania que lhe são proprias (16).
Aqui tendes, senhores, resumida, quanto· possivel, toda a
theoria do nosso direito em relação nã~ só ao poder governa-
mental, como administmtivo do Estado,
Cada um desses poderes se traduz em funcções; e, sendo
estas Dlultiplase variadas, como acabamos de ver, são por
isso mesmo sujeitas ao processo rle divisão, que já conheceis,
s('gundo a natureza de suas especies ou a ordem, conforme a
qual devem ser exercidas.
N o numero dessas funcções está a da policia do Estado,
a cujo respeito convém conhecer a Circular do Ministro da
Policia da França, de 1813:
«Calma na sua marcha, calculada nas suas l:ndagações,
por foda a parte pl'eswte e sempre protectora, a Policia não
df'veraler sinão para os progressos da industria e da moral,
para a felicidade do poro e socego de todos. A Policia, assim
corno a Just1'ça, foi in8tituida para assegurar a execução das
leis, e não para inj1-ingil-as; para gamntir a liberdade do

(1~) Rev, ue Dir" voI. 31, pag, 134_


CO) Rib. obro cit" pag, 52,
- 150-

cidadão, e não para molestar; para tornar e..tfectivas as ga-


1'antias individuaes, e não para envenenar a or/:gem dos go-
.'lOS sociaes (17).
Temos, por consequencia, que o am da policia do Estado
é a conservação e a defesa da sociedade. (18)

Vejamos agora como se exercem e ee limitam esses


poderes.
A meu ver, no tocante ás providencias ou medidas que
o Estado houver de determinar em defesa da collectividade,
seja em condições normaes ou anormaes, não póde nem deve
ir além do que exige a segurança publica e particular.
Eu me explico:
Se o caso não é de perigo e a providencia por isso se
realiza em condições ordinarias da vida social, cumpre que o
Estado o faça sem encandear o livre exercido das faculda-
des do homem e dos direitos civii, por um sy8tema violento
. de precauções. Cg)
Por consequencia, é acto do poder discricionario do Es-
tado aquelle, que tem por fim precaucionar a sociedade con-
tra todos os males, que, nos graves momentos de sua vida, a
amigem, ou que, de futuro, a possam anciar.
Particularisando um caso, por causas occasionaes, que
não puderam ser removidas, toda uma população soffre fome.
E' bem de vê r, que, em taes circumstancia!', é dever do
Estado agir promptamente em defeza da população flagelada,
lançando mão, para isso, de, todos os meios de que possa dis-
pôr, tanto para prover ás suas necessidades de alim~ntação,

(17) Vega Cabral, Dir. AdID., pago 2U.


(18) Veiga Cabral, Dir. Adm., pago 222.
t 19) Veiga Cabral, Dir. Adm., pago il22:
- 151-

como para fazer cessar a fome, causa da falta do necessario,


que pó de levar o povo á miseria.
Em caso, como este e outros semelhantes, nada mais
natural do que o Estado, compenetrado de sua missão, decre-
tar medidas que não só defendam, como salvaguardem os
interesses da população.
Ainda agora, sem ,nos acharmos, felizmente, em crise
tão angustiosa, como a' imaginada, o governo do Brasil, CODS-
cio do seu dever, acaba de decretar medidas tendentes a
melhorar a situação das classes consumidoras, procurando,
pelo menos, oppôr um ~ique á carestia sem limites, dos vive-
res de primeira necessidade contra a especulação gananciosa
dos açambarcadores de todos os productos destinados á ali-
mentação publica.
O Decreto, que est~beleceu taes medidas, tem o n.
13.069 e data de 12 de Junho de 1918. (App. VII).
Não ha duvida que podem falhar as medidas decretadas
pelo governo, mas, se isto se der: ref\tar-Ihe-ha a satisfação
de ter cumprido o seu dever! (Veja-se nota no fim desta lição).
Como a fome, os casos de molestias contagiosas e sua
propagaçrto; de inundação; de incendio e outros, que ponham,
do mesmo modo, em imminente perigo a incolumidade pu;.
blica.
A propria natureza desses poderes do Estado deixa ver
claramente, que, para o seu exerci cio, não ha normas pres-
criptas na lei a que os mesmos devem obedecer.
O governo age, em tal caso, conforme o seu criterio e
segundo aconselharem as circumstancias.
Exerce, poi~, um poder, que tem, por assim dizer, como
fundamento, um dever de ethiCrtsocial, um dever ImmeulO (~O).

(20) Blunts., Le Droit PubI.. pago 381.


- 152 -

II. Em summa, senhores, no que respeita a ftaccorros


publicas, Dotaremos, em primeiro logar, que o Estado não faz
caridade.
Este sentimento, elevado ú, dignidade de virtude pelo
christianismo, ensina principalmente a fazer bem ao proxirno
por amor deste e de Deus.
Mas, em verdade, não é este o moveI a que obedece o
Estado quando distribue soceorros aos necessitados em época
de calamidade.
Agindo sob outro impulso, o Estado o faz, não por amor
daquelles, por cuja sorte não póde se desinteressar, os quaes
certamente não são seus proximos; mas c.m cumprimento de
um dever e no intuesse d~ sua propria conservaç~ITo.
O auxilio que elle di~pensa, os soccorros que distribue,
propriamente não são seus; pertencem á Nação.
Aquelles a quem elle acode com os recursos que lhes
dispema, acceita-os, mas não como esmola.
Recebe-os como contribuição de um direito, que tem a
sua correlativa - a obrigação do mesmo Estado de prestar,
em dada emergencia, aquelles soccorros.
Não se confundem, portanto, os beneficios dispensados
pelo Estado, em época d~ calamidade' e em cumprimento de
sua missão, com os actos, sempre realizados em . condições
diversas (ordinariamente normaes) e sob o impulso de senti-
mentos tambem diversos.
Diz a historia que a antiguidade greco-romana ignorava
o amor do proximo.
Na f~lta des8e la~o ele solidariedade humana, que só
sobreveio depois do christianismo, aquelles povos tinham, com-
tudo, estreitas ligações, que os uniam numa mesma cidade.
l\'Ius, os estrangeiros, os barbaros, a maior parte do
genero humano (accrescenta a historia) sendo considerada
como inimiga, era da mesma excluida 1 ). e
(21) Encycl. Port., voI. 2.°, pago 549.
- 153 - .

Hoje não é assim, graças ao prinCIpIO daquella solida-


riedade que ha vinte secuIos desfructam os povos christãos,
a cujos olhos o proximo é fodo o homem, sem distincção
alguma, sem excepção (22).
Negando que o Estado distribue soccorros por caridade,
estou longe, t'ntretanto, de fazer côro com os altruistas e
philantropos, em quem absolutamente não creio.
Si o Estado não age por caridade, como acabo de affir-.
mar, tambem não age púr philantropia, nem por altruismo.
No entender de A. Comte, o inventor do altruísmo, est~
é uma tendencia inn(tl(t no homem. Não póde ser, por con-
sequencia, attributo do Estado.
Semelhantemente, em relação á phi.lantropia, (lue, signi-
ficando amor da humanidade, nâo póde, por igual, lé'f movei
de acção do mesmo Estado,. que foi apenas instituido para
dirigir, governar os negocios da nação, e não paril. diffLlll-
dir-sc em amor por todo o genero humano.
Notae, depois disso, que a philantropia foi inventada
para, amesquinhando a caridade, chegar a esta. conclusão:
«A caridade devin fazer a lelicidade das sociedades,
mas não o lez. Depois de haver começado a sua obra,
desap}Jllreceu! (23)
E', como vêdes, a injustiça mais clamorosa, que se póde
fazer não só a essa creação portentosa do christianismo, como
ás proprias sociedades, que, ainda no dizer do proprio autor
da accusação, teem deixado de ser felizes por as !tal'er aban-
donado a ,caridade!

Ponhamos, porém, de pa} te 3S considerações philosophi-


cas, e tratemos da questão em face do nosso direito.

(22) Encycl. POl't., voI. 2. 0 , pago 549.


(2~) Art. de M. PalT., puhlicado ~o Dict. de La Convers., tom. 5,
pago 203.
.- 164-

A E'ste respeito, h'1. a notar a differença entre a Oonsti-


tuiÇio Imperial, que passou, e a actual Oonstituição Repu-
blicana.
A primeira assim dispunha: « A Constituição tambem
garante os. SOCC01'l'OS publicos; art. 179, § 31.
A segunda assim dispõé: « Incumbe a cada Estado
prover, a expensas proprias, as necessidades de seu governo
e administração; a União, porém, prestará socCOrrOS ao Es-
tado, que, em caso de calamidade publica, os solicitar ~;
art. 5.°
Oommentando a ultiTPa parte deste artigo, J. Barbalho
o faz em termos, que não posso acceitar, por me parecerem
confmof!.
Si bem comprehendo l1. significaç'ão da expressão-
. soccorros publicos -, mr.lhormente empregada pela Oonsti-
tuição Imperial, e ·que outra cousa não póde ser senão a
expres~ãf) preferida pela da OonRtituição da Republica quando
diz - sOCCOrros ao E'?tado, eUes presuppõem a existencia de
uma situação anormal na vida da nação, presuppõem casos
de gra'l'ldes desgraças publicas, como aliás o proprio J. Bar-
balho adverte á. pago 18 do seu commentario.
São casos, porbmto, de publica calamidade, que 'se não
podem absolutamente confundir com Oi;' determinantes de ou-
tras providencias do Governo em condições or:dinarias, em
beneficio da pobreza, da miseria e da orphandade, como
inadvertidamente suppõe o illustrado commentador da nossa
Oonstituição; obro cit., pago 18.
E' bem de ver, que, na emergencia de gra~des desgra-
ças publicas, como peste, fome, secca, os recursos prestados
pelo Governo, para snavisar esses males, não visam sómente
as classes pobl'es, as de todo privadas dos meios de subsis-
tencia.
São, pelo contrario, medidas que indistinctamente se es-
tendem a todos os que necessitarem de seus beneficios.
São meios geralmente empregados, para livrar toda a
- lbb-

população do perigo imminente, evitando desastres, ruínas,


prejuízos e até a morte dos. flagellados ; a morte, a cujo res-
peito dizia HQracio: ferI; indistinctamente com os seus gol-
pes, tanto a choupana dos pobres, como o palario dos Reis!
Quanto ás medidas em favor da pobreza, da miseria e
da orphandade, já pertencem a outra ordem de beneficencia,
que póde ser publiGa ou privada~
Não pódem, por consequencia, dizer-se - soccorros pu-
blicas.
SITo, pelo contrario (no dizer de Blunt!chli)instituiçue.ç
de previdencia e de caridade.
São instituições, que pódem ser fundadas sómente por
particulares, ou pelo Governo, ou tambem subvencionadas
por este, como aliás ha disso numerosos exemplos tanto no
Brasil, como noutros paizes.
A differença que ha entre essas instituições de benefi.-
cencia e os 'soccorros publicos, é que estes são obrigatorioB
para o Governo, como já. vimos, ao passo que, em relação
áquellas, a nada é o mesmo obrigado.
PÓ de agir por amor do proximo, por espirito de cari-
dade, !!Ie assim entender, mas nenhuma lei o obriga a isso.
Em materia de soccorros publicos, a verdadeira dou-
trina é a de Pimenta Bueno, resumida nos seguintes termos:
O Governo, em circumstanciall ordinarias, não tem a
obrigação de sustentar ou manter os particulares, nem etle
teria 1'eCu,r80S para cumprir sua tarefa; elles devem viver
de sua itldustria e previdencia. (2')
E' ta~bem este o pensar de Cour~elle de Seneuil,
que diz:
« Viver do 8eu trabalho, ou ganhar por este meio a
V/:da, é o primeiro dever de um cidadão ».
1\1as, accrescenta Pimenta Bueno:

(2') P. Buen., Dir. Pub., pago 6.39.


- 156 -

cc Em casos, porém, excepcionaes ou de calamidades pu-


blicas, de peste, inundação, S8ccas, falta de colheitas, gran-
des incendios, ou outros males semelhantes, é dever da so-
ciedade soccorrer os seus membros e ir em seu auxilio, dar-
lltes a sua protecção; não só é dever social, corno a huma-
nidade, e o proprio interesse da segurança publica, o exige
imperiosamente ».
11 Em casos especiaes, os sOCCOr1'OS publicos vão ampa-

rar 08 nacionaes mesmo no paiz exfrangeiro, como pres-


creve o nosso regimento consular ». 5) e
Foi exactamente o qW'l ainda ha ponco se deu. O Go-
verno do Brasil, em consequencia da guerra, julgou de seu
dever mandar fornecer aos nossos compatriotas, na Europa,
os meios necessarios para regressarem á patria, e assim
acertadm:nente o fez.
Finalmente, conclue P. Bueno:
c( Além dos SOCcOl'ros directos, um governo illustl'ado
ministra outros muitos valiosos mediatamente, pela pl'ote-
cção com que anima e auxilia os hospitaes de caridade, os
as,ylo8 de expostos e de mend1'gos, e muitos Out?'08 estabele-
cimentos pios, S) e
Vejo nisso, senhorefl, uma das excellencias do antigo,
como do novo regimen politico do Brasil.
Do contrario, seria preconizar o egoismo dos povos!
Estou convencido de qUf', se não dominassem nas socie-
dades actuaes a desmedida ambição e o feroz egoismo, a
vifIa seria menos rude; não haveria tanta crueldade, tanta
dissimulação, tanta injustiça!
E', afinal, um censolo a permissão bemfazpja das nossas
leis, naturalmente em obediencia aos principios sobre que se
baseia o nosso regimen e ao grande dever de solidariedade
não só humana, como social! .

(25) P. Buen., Dir. Pub., pago 439.


(20) P. Buen., Dir. Pub., pago 439.
- 157 -

Seja esta caridade philantropia ou altruismo, pouco im-


porta!
O essencial é que possamos todos contar com a efficaz
assistencia e a prutecção da parte do Estado na hora do ·pe-
rigo e da affiicção !
Deixemos aos doutrinarios a liberdade de julgar, que a
caridade é um sentimento anti-social, ou que não existe!
Deixemol-os na doce illusão dos grandes beneficios de
sua doutrina e de suas contradicções!
Ao passo que pretendem substituir a caridade pela phi-
lantropia, que é a negação do my8tiâsmo e a quinta essencia
do amor da humanidade, só permittem aos desgraçados, de
que se compõe a escoria social, o ,iverem da generosidade
publica ou privada, sem direito a isso, nem a qualquer outra
especie de direito pessoal!
Tal como eu considero a intervenção do Estado nos
casos de calamidade publica, os soccor1'os por elle prestados
em taes circumstancías, não são, não podem ser obra de phi-
lantropia, nem de altruísmo!
São, como eu disse, um dever, correspondente a um di-
reito, que se não póde razoavelmente negar a todos os que
fazem parte da communhão social, concorram ou não, directa
ou indirectamente, para o seu aperfeiçoamento e progresso,
razão fundamental de sua existencia!

(Nota). Depois desta lição leio n' A Noticia de 12 do


corrente, que o Governo enviou á Camara dQs Deputados
uma mensagem solicitando a votação de uma lei contra os
açambarcadores. Nessa mensagem o Governo declara que não
temos uma lei analoga ás de que a França e os Estados
Unidos dispõem para este fim. Isto significa que o proprio
Governo reconhece a insufficiencia do recente decreto n_ G
158

13.069 do corrente anno, para conter a ganancia dos explo-


radores, que, sem nenhum sentimento de solidariedade, nas
actuaes aperturas por que estamos pal:lsando, visam apenas
fazer fortuna de repente á custa dos pobres consumidores, a
quem àepennam sem piedade!
Deus permitta que, com a providencia solicitada, consi-
ga o Sr. Presidente da Republica o que tem em vista.
Pelo que, a este respeito, se está passando nos propri0s
paizes apontados pelo Governo como modelo a seguir, onde
a carestia dos generos tem tomado proporções fabulosas
(principalmente nos Estados Unidos) não creio que surta
effeito a iei solicitada. Emfi.m, aguardemos o resultado das
providencias do Governo I
A respeito do assumpto já existe na Camara um proje·
cto apresentado pelo deputado Afranio de ·l\iello Franco.
NONA LIÇÃO

1. Da acção do Estado no domínio economíco do paíz. -11. Dever


que lhe incumbe em relação ao trabalho, ao commercio e á
industria, e bem assim á regulamentação dos syndicatos ope-
rarios.

Meus senhores:
I. E' um ponto controvertido na sciencia das finanças,
no proprio Direito Publico e tambem no Direito Administra-
tivo o de saber até onde deve ir a acção do E~tado no domí-
nio economico do paiz.
A difficuldade começa por nem sempre se poderem pre-
cisar bem os limites que separam o 1'egimen economico do
regimen financeiro do Estado.
Cada um deHes tem, com effeito, seus caracteres distin-
ctivos; ma!', apezar disso, muitas vezes se confundem.
A primeira duvida que logo se nos apresenta no estudo
. desta. questão, provém da seguinte affirmação de Orlando:
« Tutta la parte economic social resta fuori dalla scien-
f ].

za deZ diritto administ1'ativo»,- Or1., Dir. Adm., voI. 1.0 n. 92.


E' difficil perceber a razão e do mesmo modo comprehen-
der o alcance da' proposição do grande publicista italiano,
mórmente em face dos principifJs que servem de base ao nosso
direito administrativo, illuminados, além disso, pelos ensina-
mentos mais profundos da sciencia da administração.
Não está, ao meu ver, fóra da sciencia do direito admi-
nistrativo a parte economico-social, que o mesmo abrange,
como, no correr desta lição, eu terei occasião de demonstrar.
Em vez .do que affirma Orlando, vós ides ver, que cons-
tituem objec~o da sciencia do direito administrativo, interes-
sando, por isso, directa e immediatamente a vida social, todas
- 160-

as lei relativas á organiz~ção, tanto fin:mceit'a, como econo-


mica, a cujo regimen está sujeita a sociedade, a nação, o
paiz.
E' um caso de alta indagação, que muito nos interressar
este da primeira parte do nosso ponto.
Com razão dizia Oolbert:
/I E' preciso tornar a materia das finanças tão simples,

que passa facilmente ser entendida por toda a sorte de


pessoaH./J
Para que possamos belll comprehender a significação e o
alcance desta questão, cumpre primeiramente saber em que
consiste o regimen ecoiwmico, e quaes os pontos em que elle
se differencia do 1"egilllen financeiro; ambos essenciaes, e,
p'Jrtanto, indispensaveis ao governo de uma nação.
No meu entender, por mais que se pretenda, nunca se
poderá delimitar com prEcisão as fronteiras que separam um
do outro regimen.
A verdade é que existem entre ambos pontos de inci-
denc-i,t e de contacto, laços de dependencia e de juncção, quer
por vezes, annullam por completo a diversidade de natureza
e de caracteres de cada um deUes.
Imaginae o caso de decretação das rendas publicas.
Conforme os ensinamentos da sciencia, esta materia cons-
titue apropria substancia das finanças; não póde, por con-
sequencia, deixar de fazer parte do regimen financeiro.
Apesar disso, porém, embora. indirectamente, o regimen
economico influe, e não póde deixar de influir, no acto da de-
cretação dessas rendas, para serem exigidas em maior ou
menor quantidade, conforme as condições economicas do Es-
tado, e ahi forçosamente se tem o regimen econorruco influin-
do sobre as condições e a sorte do outro!
Quereis disso a prova?
Attentae para esta aftirmação de Droz :
«A base de um bom systema de (in'.J.nças é a suppres-
sào das despezas inuteis ».
- 161 -

Que concluir d'ahi? Que, para o caso, a economia


é tudo 1
Suas regras e preceitos, portanto, não pódelIl ser esque-
cidas no acto da decretação daquellas rendas, visto que de-
vem ser sempre observadas em todas as medidas, ou opera-
ções financeiras.
Como estes, outros casos semelhantes.
Nos proprios emprestimos internos ou externos con-
trahidos pela União, fazem-se sentir igualmente os e:ffeitos
do regimen economico.
A medida é essencialmente financeira; mas as causas
que a determinam quasi sempre derivam de necessidade.s eco-
nomicas.
Si esta não é a causa determinante do emprestimo,
nem por isso a regra. deixa de ser verdadeira.
No proprio emprestimo contrahido, para ser productiva-
mente erp,pregado, faz-se sentir, por igual, a influencia do
regimen economico.
Assim, por exemplo, tem-se o principio da economia re-
clamando o estabelecimento de menor taxa para o empres-
timo; a perspectiva geral dos beneficios que se esperam do
mesmo, pela exploração de um commercio ou industria, que
promette melhorar, a muitos respeitos, as condições economi-
cas do paiz.
E como este, outros exemplos, que, em comprovação
deste asserto, poderiam ser apontados.
Donde eu concluo, que, apesar da diversidade dos dous
regimens, muitas vezes elles se vinculam um ao outro, se
auxiliam e se completam.

No que particularmente concerne ao regimen economico,


objecto do nosso ponto, diverge sobremodo a opinilío dos au-
tores. ~
Uns entendem, que a acção do Governo, neste particu-
DIREITO ADMINISTRATIVO 11
.,.- 162 ~

lar, deve ser não só directa, como actllante e ampla. em to-


dos Oi! séntidos, inclusive a da propria iniciativa governa-
mental.
E, isto pela razão de que o Estado não tem sómen1e o
direito de manda1', mas grandes deveres a cumprir.
Outros, pelo contrario, sustentam, 'iue a missão do Es-
tado não é regular nem dir(gir os interesses da soáedade,
mas somente certos interesses collectivos.
No primeiro caso, tem-se, por assim dizer, a revives-
cencia do velho regimen centralisador e cesariano: o Estado
dirigindo tudo, regulando tudo, absorvendo tudo, regula-
mentando os menores detalhes da vida dos cidadãos (1),
como hoje geralmente acontece, em resultado da guerra
actual.
No segundo, tem-se de todo modificada a moderna no-
ção do Estado, como se vê do que a este respeito doutrina
Joseph Garnier: ,
« Não está ntJ. natureza da auf,oridade saber ou poder
dar a iniciativa, o impulso, a direcção no domínio do tra-
balho e no~ diver80s ramos de actividaáe social. A missão do
Estado,é outra.»

« 11 doit s'attacher à laisser faire les citoyens, comme


disaient les phy.~iocrates, à ne pas cont1'arier leu r libre ini-
tiative, par la fureur de réglementer, comme disait le mar-
quis de ]}[irabeau; à ne pas trop gouverne1', selon la maxime
du marquis d' Argenson. l) (2)
Mas, parecendo este o melhor principio, não percamos
de vista, que o mesmo s?ffre, apesar disso, excepção,
No que respeita ao regimen financeiro, todos reconhecem
a necessidade que tem o Estado de intervir directa e. imme-
diatamente nos negocios concernentes ao mesmo re gimen.

(1) G. Le Bon, Lois Phys. de l'Evol., pago 100. "~


(2) Garn., Écon. Polit., pago 159.
- lG3-

Já isso não acontece, tratando-se de reformas ou medi-


das, que entendam com o regimen economico.
No primeiro caso, bastará chamar vossa attenção para o
disposto na Constituição da Republica, que assim dispõe:
« Cabe privativamente ao Congresso Nacional:
- Orçar a receita, fixar a despeza federal annual-
mente e tomar a8 contas de cada exercício financeiro; art.
34, n.l;
- Legislar sobre a divida publica, estabelecer os meios
para o seu pagamento " art. 34, n. 3;
- Regular a arrecadação e a distribuição das rendas
jede1'aes; art. 34, n. 4;
- Regular o commercio internacional, bem como O dos
Estados entre si e com o Districto Federal; alfandegar por-
tos, crear ou supprimir entrepostos; art. 34, n. 5;
- Crear banco de emissão, legislar sobre ella e tribu-
ta-la; art. 34, n. 8;
No segundo caso, a intervenção do governo, devendo ser
indirecta, não póde ser especificada na lei, visto que está
dependente de casos e circuIDstancias, que possam occorrer.
E' o que daramente se deprehende do artigo 35 da
citada Constituição, que assim preceitúa:
« Incumbe, outrosim, ao Congresso, mas não pl'/:vati-
~~amente :

2.°) animar no paix o desenvolvimento das letras, artes


e sciencias, bem como a immigração, a agricultura, a indus-
tria e o comme1'cio, sem privilegios que tolham a acçãodos
governos locaes».
Comparados os dous artigos (34 e 35) vê-se, desde
logo; a differença que existe entre as duas ordens de prin-
cipios sobre que assenta o conjunto de preceitos e regras,
que a sciencia divide em regimen economt'co e 1'egimen
financeiro.

*
- 164-

Em materia de intervenção do poder publico nas medi-


das de ordem economica, eu adopto de preferencia a dou-
trina, que assim se resume:
Essa intervenção é ás vezes necessaria, mas sempre
muito delicada.
Deve ser, conforme pondera Courcelle Seneuil, em tudo
conforme aO gráo de cultura e de adiantamento do povo, á
natureza -das instituições publicas, aos tempos e ás ci1'cums-
tancias.
Não póde, por consequencia (penso eu), assentar em
principio absoluto a intervenção de que se trata, como alguns
publicistas pretendem.
Ha paizes (ainda observa C. Seneuil), em que o maior
obstaculo ao progresso economico é a nonchalance das popu-
lações, o seu nenhum gosto pelo trabalho e pela economia.
Nesses paizes, a acção do governo não só póde, como
deve ser mais directa, mais acti va e mais ampla, pela neces-
sidade que resulta das condições expostas,
Garnier, por sua vez, tambem doutrina:
Justifica a intervenção da autoridade:
1. 0) . Quando se trata de serviços necesliarios ou indis-
pensaveis, que a sociedade não póde realizar por meio da
iniciativa ou industria privaga.
2.°) Em alguns casos de interesse geral, como, por
exemplo, o de salubridade, para impedir que o interesse de
uns prejudique os direitos de outros ou do publico.
No primeiro caso, a autáridade deve incitar, provocar
mesmo a iniciativa individual; mas fazer. cessar a sua acção,
quando essa iniciativa se manifesta.
No segundo caso, deve procurar vê r, antes de agir, se,
em vez do emprego da acção repressiva, é possi vel a acção
preventiva, em respeito a~ principio de que é sempre um mal
o acto repres80r da autoridade, quando, sem prejuizo para
a causa publica, elle p6de ser evitado.
- 165-

No sentido em que foi redigida aLa parte do' nosso


ponto, a expressão aominio economico corresponde a est'ou-
tra, que lhe é equivalente - regimen economico.
Esta designação, pois, quer dizer - modo de intervir o
Estado, umas vezes directa, outras indirectamente, nas rela-
ções da sociedade, ou decretando medidas reclamadas por
força de necessidades publicas em condições excepcionaes
(unica hypothese em que se justifica acto de iniciativa de sua
parte no caso concreto, que aqui Hguramos), ou animando e
protegendo, em condições ordinarias, todas as manifestações
de actividade e de trabalho tendentes a impulsionar a vida
da Nação.
Respectivamente ao regimen financeiro, os proprios
tratadistas ainda não chegaram a accôrdo ácerda de varios
pontos, que ao mesmo se prendem.
Assim que, ainda se não sabe, ao certo, em que o mesmo
se distingue do regimcn economico.
. Explicando o regimen financeiro, Le Roy Beaulieu fi-
gura este caso:
« Um Estado tem necessidades; no momento. não se
procura saber quaes sejam, nem quaes devem ser essas ne-
cessidades.
([ O que se precisa saber é como podem as mesmas ser
satisfeitas com o minimo de contribuição e de sacriHcios
para os particulares ».
E' um problema, cuja solução cabe á sciencia das Hnan-
ças, a unica que póde indicJl.r os meios para alcançar esse
HIn.
Mas, nota e, que Le Roy Beaulieu, definindo a sciencia
das rendas publicas, excluiu de sua deHnição a administ1"a~ão
financeira, propriamente dita.
Não se occupa, por exemplo, com a organização do Mi-
nisterio das Finanças, para tratar apenas dos diversos ramos
de rendas publicas, dos ernprestimos, das dividas, das con-
versões, das amortizações, dos cursos forçados, etc.; e dando
- 166-

a razão por que assim entend!', accrescenta: < A adminis-


t?'àção financeira é alguma cousa variavel e contingente;
pôde prestar-se a uma multidão de typos differentes, e, com
tudo isso, de um va701~ igual D.
A este respeito, ou eu não comprehendo bem o alcance
desta explicação, ou a razão sobre que ella assenta não jus-
tifica o facto de ter o eminente professor abstrahido do regi-
men das finanças uma parte componente do mesmo - a
administração financeira.
As renda13 publicas são, não ha duvida, apropria subs-
tancia das· finanças, mas estas rendas não proveem de si
mesmas e nem podem ser estabelecidas e cobradas por quem
não tenha poder ou autoridade para fazel-o.
Os meios de tornaI-as effectivas, as regras da sua gestão,
os seus processos, tudo presuppõe a existencia de um poder
encarregado desse serviço - a administração publica.
E si (como aliás observa o proprio autor), essa adminis-
tração póde prestar-se a uma multidão de typos differentes,
a verdade é que, qualquer que seja o typo de sua organiza-
ção, não exclue a possibilidade, nem a conveniencia de a
mesma decretar aquellas rendas e estabelecer os meios para
a sua arrecadação.
E tanto isto é exacto, que Le Roy Beaulieu conclue
affirmando, que, apesar da variedade de typos, é, comtudo,
certo, que a administração financeira é sempre de um valor
a igual.
Tudo isso, senhores, evidencia a impropriedade das de-
nominações de ambos os regimens, que, muitas vezes, teem
pontos de affinidade e de contacto, como demonstrei.
E o peor é que não ha meio de fundir os dous em um
só systema, para evitar a duvida e a úonfusão que dos
mesmos resultam, a ponto de por vezes a sua differenciação
ser puramente nominal !
Eu comprehendo, que, se tratando, por exemplo, de con·
V81'são ou de amortisação da divida publica, de emissão ban-
- 167 -
.

caria, de curso forçado da moeda, etc., essas operações se


considerem essencialmente financeiras.
Não comprehendo, porém, que seja exclusivamente desta
natureza a decretação das rendas publica8.
A meu ver, essa operação participa dos dous regimens,
pelas razões que antes expendi; interessa não só ás finanças
do Estado, como ao seu regimell economico.
Abrangendo as duas economias- a publica e a priva-
da, - quanto seria para desejar que os dous regimens se
pudessem fundir em um só systema, sob uma denominação
commum, sem prejuizo dos serviços a cargo de ambos!
Depois, i'des ver como qualquer dos dous referidos regi-
mens interessa tanto á economia social, como á economia
privada.
Se as condições economicas em geral são Mas, claro
está que se manteem em perfeito equilibrio as relações eco-
nomicas entre o Estado e os governados. E' signal de que a
producção do paiz assegura ao governo os meios, de qlle elle
precisa para a satisfação de suas necessidades.
Si, pelo contrario, são más, é claro que está compro-
mettido o estado financeiro do paiz por uma alteração, que
não pode deixar de comprehender ámbas as economias.
Nesta hypothese (attentae bem para este ponto, que é
interessante) o que logo se vê são os inconvenientes e ).TIales
de um regimen atacando directa e profundamente o outro!
Conforme os factos e as circumstancias que occorrerem,
ou é a cri!le financeira que, se manifesta, como no caRO figu-
rado, ou é a crise economica si outras são as causas que a
determinam ..
Em qualquer dessas conjecturas, cabe principalmente ao
governo empregar, sem tnrdanç>l, (lS meios ao seu alcance
não só para debellar a cris(', que torna anormal a situação
do paiz, como para reparar os seus ruinosos effeitos.
Pelo que até aqui tenho dito, podeis avaliar, quanto é
complexn. a questão de que nos temos occupado.
- 168-

Toda elIa assenta principalmente sobre a economia, que,


por sua vez, se divide em publica e particular.
Tratando da economia privada, diz o Dr. A. Cavalcanti
em um dos seus notaveis trabalhos «Elementos de Finanças»:
cc A regra na economia privada é: que se deve regular
as despezas segundo as receitas; na economia do Estado dá-
se o contrario: primeiro se deve fixar quae.'1 as despezas
necessarias aos fins e serviços do Estado, e, na medida des-
tas, ser calculado o quanf,um de receitas que é mister arre-
cadar sobre os haveres communs das differentes clas/Jes da
nação});,ob. cito pago 10.
Com o devido respeito, discordo deste parecer.
E o faço principalmente baseado, primeiro na Constitui-
ção da Republica, que é a lei das leis; segundo, em principios
universalmente acceitos sobre materia orçamentaria; terceiro,
finalmente, em todas as nossas leis de orçamento, 'tanto do
tempo da monarchia, como da Republica.
- No que respeita á Constituição, é clarissima quando
preceitua:
Art. 34. Compete privativamente- ao 00ng1'esso Na-
cional:
1.0 Orçar a receita, fixar a despeza federal annual-
mente, e tomar as contas da receita e despeza de cada exer-
cicio financeiro.
Vê-se, por consequencia'1' que o que a Constituição
manda - é orçar primeiramente a receita, e só depois disso,
isto é; em l;Iegundo logar, fixar a despeza federal.
Em relação á doutrina, prefiro a de CourcelIe Seneuil,
que ensina: «A administração das finanças publicas é su-
jeita ás mesmas regras que a da fortuna particular; é pre-
cisa a mesma vigilancia, a mesma attenção, a mesma econO-
mia; é preciso, principalmente, conservar o mals possível o
equilibrio entre as receitas e as despezas ordinarias.»
E' esta tambem a opinião de J. Barbalho manifestada
nos seguintes termos:
- 169-

«Não 8e póde dizer livre o povo, que, por seus manda- •


tarios, não fixa ao GO'l:erno um limite, que este não deve
ultrapassar, do sacrificio imposto a cada cidadão de uma
pa1·te dos seus haveres em troca das vantagens sociaes, q~te
se p.speram do Estado. (3)
E' este, finalmente, o parecer de Alfred Neymark, que
qualifica de - Budget Républicain tout ·court o orçamento
que se equilibra sómente por meio de impostos (como ordina-
riamente succede entre nós) exigindo o Estado, que os contri-
buintes mettam cora;'osamente a mão no bolso e lhe deem a
somma que o mesmo exige para as despezas necessarias (');
ao que eu accrescento - e tambem para os seus desperdi-
cios!
Quanto ás leis do orçamento, o que se vê é que todos os
orçamentos da receita precedem aos da despeza publica.
Por' taes fundamentos, não vejo, não descubro uma razão
capaz de justificar principio como aquelle.
Póde ser que a regra estabelecida pelo Dr. Amaro Ca-
valcanti seja verdadeira sob o ponto de vista da sua realiza-
ção pratica.
Na Constituição e nas leis, em theoria ou em principio,
não!
E' possivel, pois, que, na elaboração das leis orçamen"
tarias, se inverta a ordem natural estabelecida pela Consti-
tuição, para a factura das mesmas.
E por ser isso possivel, não ponho duvida em que seja
de facto aquella a praxe adoptada pelo Congresso.
Mas, se assim é realmente, a disposição do art. 34, n.O
1, é enganosa, o povo é victima de mystificação!
A meu ver, uma das causas dos successivos deficits, que
veem (diga. se a verdade) desde a monarchia, está precisa-

(3) J. Barb., Com. á Const., pago 10~.


(') A. Neym., Vocab. d'Écon. Polit., pag, 56.
- 170-

mente na. pratica, conforme a qual o Congresso fixa primeiro


a despeza plt?lica, e só depois disso orça a receita.
Em face do que tenho exposto, a verdade está exacta-
mente no inverso.
Fizesse o Congresso as leis orçamentarias sempre de
accôrdo com a melhor doutrina, consagrado em expressa dis-
posição da Constituição da Republica (art. 34, n.O 1) e não
teria necessidade de dar tratos á imaginação para equilibrar
os orçamentos todos os annos, por meio unicamente do au-
gmcnto de impostos!
A operação seria maie: simples e de effeitos muito mais
benencos e seguros para o paiz !
Em tal caso, teria que limitar a despeza á receita que
fosse orçada sem sacriâcio de qualquer cspccie para a
nação.
Não haveria meio de ser favorecido o arbitrio do go-
verno (Congresso e Poder Executivo) na decretação das ren-
{Ias publicas, que assim não poderiam ir ao ponto de oppri-
-mir por tal modo o povo e de occasionar o empobrecimento
da nação I
Quem lucta com esforço e até com sacriâcio pela pro-
pria subsistencia e da familia, não póde soffrer sem um mo-
vimento de indignação e de repulsa a acção coactiva do Es-
tado, para arrancar-lhe dos escassos recursos pecuniarios a
sua melhor parte a titulo de uma contribuiçB.o qU8si sempre
desproporcional e excessiva, que se torna assim vexatoria!
O povo sujeita-se á imposição, mas o descontentamento
continúa a existir, apesar do appelIo ao seu patriotismo,
feito pelo Governo!
E' uma illusão suppor-se que o patriotismo esquece a
injustiça e faz diminuir a gravidade dos factos.
O que realmente se vê é que, cada anno que passa, se'
augmenta descommunalmente a carga, já excessiva, de con-
tribuições e, por consequencia, a sorte do povo, que não tem
para quem appellar !
- 171 -

Em materia de impostos, vivemos á vontade do empi-


l'is1no politico que nos dirige, e que tem para cada caso,
pendente de resolução, uma regra especial- a das circums-
tancias!
Era o methodo, diz Spencer, de lord Salisbury, primeiro
Ministro de Inglaterra, que, como homem eminentemente
pratico, escarnecia dos principios abstractos.
Exactamente porque os orçamentos da Republica se fa-
zem na conformidade do que acabo de referir, não ha meio
de pôr um limite ás despezas publicas e de libertar o paiz
do regimen dos deficits!
O pensamento do legislador constituinte foi oppôr um
dique ao arbitrio do Governo neste particular: obrigaI-o a
reduzir a receita ao estrictamente necessà1'io, e sobre esta
base, orçar, então, a despexa, como se dá com a economIa
particular. (Vide nota no fim desta lição).

n. No que respeita aos deveres do Estado em relação


ao trabalho, ao commercio e á industria, muito haveria a
dizer se houvesse tempo e espaço para fazel-o.
Pelo adeantado da hora, resumirei esta parte do ponto,
dizendo-vos:
A intervenção directa do Governo no domínio do traba-
lho, da agricultura, do commercio e da úidustria é sempre
prejudicial.
Em regra, todos esses ramos de actividade, tanto indi-
vidual, como social, só vivem e medram sob um regimen de
liberdade.
E por isso Courcelle SeneuÍi faz vêr que a funcção do
Governo não é fazer a felicidade dós governados.
Viver do seu trabalho (accrescenta elle) é o primeiro' de-
ver do cidadão. Vive dó teu trabalho - é a unica condição
- 172-

imposta pela natureza ao genero humano. Vivendo do seu tra-


balho, o homem, além da compensação que este lhe assegura,
tem a satisfação intima de não ser um inutil, pelos meios que
emprega, para que possa ter um~ vida digna e independente.
A sociedade não subsiste sinão para os que não são parasitas;
para os que vivem do exercicio legitimo de sua profissão,
sem esperar do Governo a graça, o favor" de medidas, que,
uma vez postas em pratica, constituem verdadeiros privile-
gios em prejuizo da. collectividade social.
Aqui tendes, em synthese, a theoria de Courcelle Se-
nenil a respeito daquelles ramos de actividade social, todos os
qU8es principalmente dependem do trabalho.
Essa theoria ou doutrina, no fundo é verdadeira, com-
tanto que não seja levada ao exaggero.
A funcção do Estado não é realmente fazer a felici-
dade dos governados, si por isso se deve entender a inter-
venção do mesmo Estado nos minimos detalhes da vida do
cidadão.
Mas, o que não padece duvida é que a· missão do Esta-
do deve ter especialmente por fim promover o bem publico,
e assim mediata e indirectamente assegurar a felicidade dos
governados. "
O principio - cada um deve viver do seu trabalho - é
natural, é social, é juridico; dimana da quéda do homem; é
uma lei, que, conforme refere a historia, tem regido o mun-
do desde o seu começo. "
Ma!!, esse principio tem, e não pó de deixar de ter limi-
tações justas e" humanas; os ensinamentos dos christianismo
o comprovam.
O que é condemnavel, como funesta, odiosa e injusta é
8. desigualdade Cl'eada pelo Estado na distribuição de graças
e beneficios com manifesta injustiça em prejuizo da collecti-
vidade social.
"E' o que frequentemente se dá entre nós, como em todos
os paize, do mundo. O mal é geral!
-173 -

o Est-:tdo, attenta a especialidade de sua natureza, não


póde ser empreiteiro, fundador de empresas, administrador
de emporios commerciaes; em up:1a palavra, não póde ser
agricultor, industrial, commerciante nem banqueiro.
Em condições normaes, limita-I!e a observar, a dirigir, a
impulsionar a vida da nação, a fazer cumprir a lei, a respei-
tar o direito, a praticar a justiça, e nada mais (Alfr. Neym.,
obro cit., pago 169).
A sua acção, por conseq'~encia, no dominio do trabalho,
da agricultura, do commercio e da industria deve ser, quanto
possivel, limitada e restricta.
Não assim, porém, eIQ. situação anormal. Em tal emer-
gencia, é não só direito, como dever da parte do mesmo, in-
tervir directamente, para acautelar, providenciar e garantir
do melhor modo os interesses da nação, fazendo-a voltar ao
trabalho, á ordem, ao funccionamento, emfJ.m, regular, paci-
fico e tranquillo, de sua vida normal.
De excepções, como essas, temos tido ultimamente nu-
merosos casos, entre os quaes O Decreto n. 13.069, de 12 do
corrente mez e anno, creando o Commissariado Geral de Ali-
mentação Publica, o :qual, apesar dos seus bons intuitos, só-
mente se j u!ti/ica pela anormalidade da situação actual.
(App. VII). '
Receio, Senhores, que do emprego de tantas leis adve-
nham para o Brasil os mesmos desastrosos effeitos, de que
nos dá nol.cia a Historia!
Spencer, o profundo sociologo e philosopho, no seu livro
I( A ,Justiça» fa~, muito a proposito, esta advertencia:

« Baseando-se em criterio identico (aquelle dos empiristas


politicos a que ha pouco me referi), conforme o qual. cada
um tem a sua regra especial, que é a das circumstancias, a
lnglaterra, depois da peste negra, promulgou .o Estatuto
dos trabalhadores, que deu origem á revolta dos campo-
nezes ».
. ........................ .. ..... '.' ..... ... ... .
~ " ~ ~
-174 -

« Na França, cada uma das innumeraveis leis era


executada por ump, nuvem de funccionarios, que quasi che-
gavam a estrangular as industrias. Esta superabundancia de
leis, feitas a êsmo, foi uma das causas da revoluçüo ». (5)

IH. Relativamente aos syndicatos operarios, são associa-


ções livres, formadas por pessoas que se dedicam ao cultivo
da terra ou das industrias della derivadas, tendo em vista,
no seu proprio interesse, o estudo das mesmas e os melho-
ramentos, de que são susceptiveis.
E' o que se póde dizer - o ~spirito associativo, cuidando
da incrementação do trabalho; é, em ultima analyse, a aeção
conjuncta dos membros do syndicato em defeza de S6US inte-
resses tanto commerciaes, como economicos.
Associações, como estas, merecem toda a protecção da
parte do Estado, porque, além do mais, contribuem para a
independencia e a elevação moral do povo.
Não ha nisso o menor inconveniente. Animando o Es-
tado a creação de taes syndicatos, não só cumpre um dev~r,
como realiza uma das mais beIlas aspirações de Spencer,
quando dizia:
«Eu quizers. que o Estado cuidasse sempre não só dos
effeitos materiaes, como dos effeitos moraes de sua interven-
ção, de modo que esta tendesse sempre para engrandecer, e
não para diminuir o homem li.

*
(Nota.) Uma mrza do Jornal do Commercio de hoje
(16-7 -918) mostra-nos como, na realidade, se fazem os nossos
orçamentos.

(5) Spenc.,« A Justiça~, pago 284.


- 175-

A Constituição manda orçar primeiro a receita; mas o


Congresso faz o contrario: primeiramente cogita da despexa,
que, quaesquer que sejam as circumstancias, se tem de fazer
com taes e tues serviços (de ante-mão designados) e só á
vista da somma calculada para os mesmos, orça a receita.
Nada mais commodo: mas tambem nada mais contrario
á Constituição citada e aos verdadeiros interesses do paiz!
Vê-se da vária, que os orçamentos, que se acham
actuaImente em elaboração, não obedecem de modo algum á
capacidade tributaria da lVação, e sim tão sómente ás con·
veniencias da política do governo, ou do C011gresso, conforme
diz a vária.
Para justificar esse desvio das boas normas, invoca a
vária a opinião do Sr. Bonar Law, ministro das Finanças da
Inglaterra, que, em recente discurso, disse que, no momento
actual, s6 se podia cogitar em expedientes financeiros.
E a vá1'ia accrescenta:
«No Brasil, mais do que em qualqtter outro paiz, deve-
mos applicar esses principios.»
Porque? Isto não nos disse o Jornal!
E a Constituição? •• ,
Eis o nosso mal!
A situação do Brasil não é a mesma da Inglaterra, que
ha quasi quatro annos se empenha em Uma guerra, que amea-
ça exhaurir-Ihe todos os recursos,
Alli, e no momento actual, póde haver, com effeito, con-
veniencia e mesmo necessidade de serem applicados, de pre-
ferenc~, 08 expedientes financeiros.
Mas, o mesmo não acontece aqui, apesar do Brasil ter
entrado na guerra.
Depois, entre nós, a adopção de taes principios é a por-
ta aberta ao arbitrio do governo na decretação de novos e
mais pesados encargos para o povo, embora sob a promessa
de ser isto uma medida tramito ria plenamente justificada
pelas circumstancias.
- 176-

Ha muito que taes expedientes se usam entre nós, e~


com tudo, a situação financeira só parece melhor aos olhos do
governo e dos que, por qualquer modo, auferem proventos e"
vantagens da situação!
A prova está nas proprias razões jllstificativas, expendi~
das pela vária em" defeza do governo e do Congresso.
O mais interessante, porém, é que se lê a vária e não
se fica sabendo se, de facto, ha ou não deficit.
No dizer do actual ministro da Fazenda ha apenas um
deficit methodico, que, certamente, pela novidade da idéa e
pelo pittoresco da expressão, mereceu plena approvaçll.o do
jornal.
Em summa: deante de tudo isso, quem tem razão é" ()
Dr. A. Cavalcanti!


DECIMA LIÇÃO

I - O Estado e a instrucção publica. - lI. Gratuidade e obriga-


toriedade da mesma. em seus gráus primario e secundario.
- IH. Poder constitucional do Estado, para provêr ás neces-
sidades do ensino profissional e tambem do ensino superior
em todas as suas gradações.

l\1eus senhores:
Pelo simples enunciado do ponto, vê-se, desde logo, que
é de capital importancia o assumpto de que nos vamos occu-
par na lição de hoje.
Notemos, antes do mais, que a instrucção publica é uma
necessidade tão profundamente ligada á existencia de um
povo, politicamente organisado, que já hoje se não admitte a
possibilidade de o mesmo desenvolver-se, adeantar-se, avan-
çar na senda do progresso, conducente á civilização, sem esse
poderoso instrumento, que lhe deve servir de orientação.e
governo.
Sem elIa se annullam as mais legitimas aspirações de um
povo no tocante ao polimento dos seus costume!', á sabedoria
das Buas leis, á cultura de sua intelligencia, ao apuro de suas
artes e industria!'l, ao possivel aperfeiçoamento, em ultima
analyse, do seu estado social.
Si o incremento da instrucção publica se demora, o
desenvolvimento da sociedade fatalmente se retarda.
Não ha grandeza possivel para uma nação, SI o povo
não é, pelo menos, sufficientemente instruido.
DIREITO ADMINISTRATIVO
- 178-

Isto nos explica porque a civilização é um facto de todas


as idades e conquista tanto {los povos contemporaneos, como
dos povos antigos, COmo se vê da historia. Dahi, a sua
variedade:
Lembro-me de ter lido, que « 08 povos se elevam tanto
mais na escala da humanidade, quanto o conhecimento do
direito e deve?' é mais perfeitn e d(tJundido entre elles. A
prosperidade material ou a 1'iqueza commum augrnenta com
o conhecimento da natureza de suas leis, com a facilidade de
todos se instruirem.
O emprego da força ou do trabalho é productivo pro-
porcionalmente á medida da sciencia -e da intelligencia que o
. dirige. (1)
Si, pois, uma nação não se "esfurça por se instruir, mes-
mo com sacrificio, falta evidentemente á SlIa missão sociat.
Um povo sem instrucção é um cegt) a quem falta a luz
do entendimento para guiai-o no caminho da vida; é uma
collectividade, que, pela obtusào de suas faculdades intelle-
ctuaes, irremissivelmente se afunda no obscurantismo de
suas idéas I
Não se dirige, é dirigido; não póde, por consequencia,
ter melhor sorte do que a dos povos condemna~os ao pro-
tectorado!
Em tal caso, não passa de uma massa de sêres inferio-
res em comparação com os povos instruidos.
Tudo isso, senhores, é rigorosamente exacto; mas longe
estamos ainda de alcançar, pela instrucção e pela sciencia, o
~einado da justiça e do direito, a prosperidade e a paz em
todas as circumstancias, que de perto interessam ao bem
estar e á felicidade das nações.
Para mim, as vantagens da instrucção e da sciencia,
participando do principio da relatividade, são contingentes e
variaveis.

(1) Diet. de la Convel's, vol. H, pago 290.


- 179 -

Ainda assim, em falta de cousa melhor, são indispensa_


veis á exi8tencia de um povo que quer l>rogredir.
Só pela instrucção eIle se habilita a exercitar, com
maior proveito, as suas aptidões naturaes, a conseguir maior
aomma de utilidades e vantagens com o minimo de trabalho
. e de esforço, a defender, com probabilidade de exito, tudo
quanto possa interessar ás suas condições no presente e á sua
segurança no futuro.
Sou, como vêdes, partida rio da instrucção e da sciencia;
mas sem optimismo, que me leve a crer no poder miraculoso
{le sua influencia, na infallibilidade dos seus beneHcios.
N a melhor occasião- tudo falha!
Em todo o caso, perfectivel, como é o homem, só por
meio da instrucção elle poderá attingir ao maximo gráo de
aperfeiçoamento a que se destina ..•
Não sei, por isso, se teve razão Alfredo VVallace, quando
affirmou:
«Em compa1'ação com o espantoso progresso das scien-
cias physicas e da sua applicação pratica, os nossos systemas
de governo, de justiça administrativa, de educação nacional,
teda a nossa O1'ganixação social e moral estão ainda no es-
tado barbaro. (2)
Realmente, senhores! E' surprehendente affirmação,
COmo esta, de um dos deificadores da sciencia na edade com-
temporanea!
E no tae mais : não . é unia affirmação singular!
Ref",rindo-se a esse conceito de W allace, Hreckel, outro
notavel naturalista, emerito autor da Historia da Creação,
assim se expressou:
« O celebre Alfredo Wallace tinha carradas de raxão
quando aquillo escrevia.»

(2) Hreckel, Hist. de la Créat., .pag. 598.


*
- 180 -

E Hreckel accrescentou:
«Nunca a nossa educação mesquinha e hypocrita, o
nosso ensino imcompleto, a mentira escondida sob o verni~
da civilizaçãO poderão triumphar dessa barbaria social e
moral. (3) ,
Não sou, senhores, apologista incondicional da instrucção
e da sciencia; mas tambem não participo do pessimismo dos
dous grandes naturalistas citados.
O qUtl elles vêem com tanto azedume e descrença é a
consequencia mais natural da contingencia das cousas hu-
manas.
A civilização (já o disse alguem) é a luz; mas não ha'
luz que não projecte a sua sombra!
Aqui se tem, pois, a explicação daquillo, que nem Wal-
lace nem Hreckel chegaram a comprehender.
Depois disso, a verdade é que, apesar da bm'baria social
e moral,' que, por vezes, ainda escurece o sol da civilização,
os povos .progridem e a civilização avança!
Ou isto é um facto, ou não e:lriste evolução; e, em tal
caso, Wallace e Hreckel são contradictorios com os seus prin-
cipios!
Comparae os povos dos tempos primitivos com os de
hoj e, e logo vereis a differença!
E' certo que, por vezes, a marcha progressiva da huma-
nidade se interrompe. Mas, tambem é certo que, passada a
perturbação, a marcha continua!
Apropria sciencia faz eclypse! O proprio direito
sofl're os efl'eitos de abusos da força, e são precisamente estes
factos que caracterizam as situações anormaes na vida dos
pCJvos. E' o retrocesso da civilização, como este, por exemplo,
que ha quatro annos se observa, consequencia innominavel
da guerra actual!

l') Hlllckel, obr, cit., pag, 598.


- 181-

o erro está em suppôr que o simples progresso das


sciencias physicas é bastante, para curar os povos da barba-
ria moral e social, de que padecem.
Para se extirparem totalmente os males, que ainda
corroem as flociedades actuae!!, não ha, por em quanto, reme-
" dio possivel.
Não bastam os progressos daquellas sciencias, sós ou
conjunctamente ~om os progressos das sciencias moraes e
política!!, que, a meu ver, te em influencia muito mais posi-
tiva e "directa sobre o destino dos povos, sobre a natureza e
a sor"te das instituições, do que quaesquer outras sciencias.
E' preciso, além disso, considerar que, apesar dos
avanços da sciencia, o egoismo e a hypocrisia, como com
toda a razão observa F. Dantec, teem direito de prioridade
em . nossa natureza, das quaes necessariamente resultam
outras deformações moraes, de que ainda soffre o homem na
vida em sociedade.
Não se modificam habitos, como esses, senão com o
volver dos seculos e á custa de esforços e sacrificios.
Já é uma conquista, um grande passo para a melhOJia
dos povos a modificação operada em muitos dos seus habitos
pelo poder eficiente da educação e do ensino, pela consagra-
ção de bons principios no corpo de suas leis, em commum e
constante esforço para o melhor I
Exactamente porque a instrucção é a condição primor- .
dial do desenvolvimento e progresso de uma nação, faz-se
mistér que o Estado intervenha em materia como esta, que
tão de perto lhe interessa, não para submettel-a. ao" poder
exclusivo de sua direcção official, mas para estabelecer-lhe
as condições de seu exercicio; para proveI-a dos meios neces-
sarios á sua manutenção; para fomentar, emfim, a diffusão
do ensino no paiz, no interesse tanto dos governados, como
dos propriosgovernantes.
A-rmissão, portanto, do Estado neste particular é, por
sua natureza, circumscripta á protecção que deve ao ensino
- 182-

em todos os gráos, ao encorajamento e auxilio que lhe cum-


pre prestar ao mesmo; ao interesse do seu desenvolvimento;
á superintendencia, que lhe cabe. desse serviço como uma
necessidade reclamada pelo proprio ensino e por altas conve-
niencias ou razões de estado.
Quer isto dizer que, no que respeita ao nosso paiz, con-
sidero um mal o ensino officializado.
A questão do ensino primario se acha naturalmente
ligada á da educação popular, e desta depende a força, o
prestigio, a manutenção do principio de obediencia e de auto-
ridade, em que se resume a funcção por excellencia do
Estado.
Certamente por isso, tratando do poder do Estado sobre
o. ensino, disse Troplong:
~ A instrucção da juventude faz 08 costumes e a disci·
plina d08 Estados; é preciso que o Governo a afeiçôe, por
leis bem entendidas, ao principio- de sua propria .du1·ação.

lI. No tocante á 2.a parte do nosso ponto, cumpre·nos


ver qual o melhor principio a respeito da natureza do ensino
em seus gráus iniciaes - primario e .secundario.
Discutindo este ponto, observa Ch. Cocquelin:
« A Convenção exaggerou o systema de absorpção da
instrucção publica pelo gove1'no do Estado.
Decidiu, pelo decreto de 15 de Setembro de 1793, que
se estabelecessem tres gráus p1'ogressivos de instrucção: o
primeiro para os conhecimentos indispensaveis aos artistas
e ope1'arios de todos os genel'os, o segundo para os conheci-
mentos ulteriores, e o tm'ceiro para os objectos de instrucção
superior, cujo dl/ficil estudo não estivesse ao alcance de-
todas as fortunas e ~·ntelligencias (').

(4) Ch. Coeq., Diet. d.e l'Écon. PoIit., tom. 2.°, pago 935.
- 183 -

Mutatis mutan,lis, é ef'ta a divisão ad0ptada pelo n0880


>:yf;t~ma de ensinll desde o antigo regimen.
No tempo da l\Ional'chia já 'a instrucção primari:-l e gra-
tuita era garantida a todos os cidadãos. (Const. do Imp.,
art. 170, § 32) (App. VllI).
Postcriormente, veiu a lei de 15 de Outubro de 1827,
que mandcu crear uma escola de instrucção primaria em
todas as loealidad('s. (App. VIlI).
Não sendo isto bastante, o Acto Addicional, que data de
1834, deu ás assembléas provinciaes a faculdade de legislar
a este rCf<peito em relação ás respectivas províncias; art.
lO, § 2.° (App. VIII).
~Ia8, apesar dis~o (diz Pimenta Bueno), muitas dellas se
olvidaram desse dever essencial.
Dabi, a caU8a do nosso atrazo em materia de instrucçãO.
N em todas a-s províncias se compenetraram dessa verdade
doutrinada, naquelle tempo, por P. Bueno:
« Entendemos que os poderes geraes não devem de modo
algum abdicar a attl'ibuição, que a lei lhes confere, de con-
COlTer de sua parte para tão utt:t fim, 8 mui pl'incipalmente
de crear uma educação nacional homogenea e unifo1'me, que
gere e generalize o lYtracter bra8ileiro em todas as provin-
cias, ao menos em todos os centros mais populosos deltas (5).
Era esse o estado da instrucção primaria no Brasil
quando sobreveio a Rt!publica.
Notemos que são decorridos quasi 29 annos, e, apesar
disso, ainda não temos no paiz a instrucção primm'ia obri-
gatoria!
Não se adeantou siquer um pasl:lo neste sentido!
Tem-se ft>ito, é verdade, varias tt!ntativ3s a este respeito,
mas tudo tem ficado em projecto.
Entre o pouco que se tem feito, é de justiça assignalar,

(5) Piment. Buen., Dir. Publ., pago ~~O.


- 184

que, após o advento da Republica, um dos melhores trabalhos


conhecidos sobre a materia é do Dr. Tavares de Lyra, actual
Ministro da' Viação.
Esse trabalho" que data de 1907, é um plano integral
de grande valor, convertido em projecto, cujas idéas, mesmo
capitaes, não me é dado aqui, reproduzir, por falta de espaço
e de tempo.
Depois disso, outros projectos teem sido formulados e
submettidos a exame e á deliberação do Congresso, até que
ultimamente, se assentou em elaborar um projecto, destiuado
especialmente á diffusão do ensino primario na ,Republica,
promovido pelo governo da União, de accordo com os governos
dos Estados; pl'ojecto que teve, desde logo, uma difficuldade
a vencer - a de harmonizar suas disposições com a letra e o
pensamento da Constituição Federal.
Vencida, afinal, essa difficuldade, por um entt'ndimento
a semelhante respeito entre o Governo da União e os mem-
bros mais influentes do Congresso, nem assim se tem con-
seguido até hoje a approvação de tão importante prfljecto,
que ainda pende de decisão da Camara dos Deputados.
Tratando-se do ensino primario e secunda.rio, eu não
comprehendo que se possa ter duvida sobre a conveniencia e
a necessidade não só da gratuidade, como da obrigatoriedade
dos mesmos.
No actual estado da nossa cultura social, o ensino obri
gaton:o, nos dous referidos gráus, é tão indispensavel quanto
o ensino gratuito.
'Basta considerar, que do ensino primario depende prin-
cipalmente a educação nacional, como do secundário depen-
dem as facilidades, de que o individuo precisa para adquirir
a sciencia que lhe deve ensinar a viver como um homem
pratico, util aos seus e á patria.
E' tal a influencia da educação e da instrucção sobre o
homem, que' Leibnitz dizia: Dae-me a instrucção publica
durante um seculo e eu transformarei o mundo!
Em relação ao nosso paiz, abstracção feita dos centros
IDllis populoso!', nos demais pontos do interior, a maioria da
população - isto que se diz a massa do povo - não se acha
nas condições de se lhe confiar a iniciativa, o cuidado da
iostrucção e da educação de seus filho!'.
Essa população só cuida do dia que corre, não cogita
absolutamente do dia por vir!
Sem a menor comprehensão da necessidade, e ainda
menos das vantagens da instrucção1 ou, noutr08 termos, da
educação e do ensino, que deve ter por objecto o seu cultivo
moral e intellectual, ella jaz na mais absoluta ignoraocia a
respeito tanto de suas condições sociaes, como do proprio
meio em que vive!
Amollentada no ocio, sem aspirações nem estimulos,
para vencer na lucta pela existencia, nota'se, em cada um
dos individuos que a compõem, a ausencia de toda a noção
de aperfeiçoamento, de independencia, de goso e de bem-
estar!
E' o que se póde dizer - um rude, ignorante, estupido e
incivil, que· apenas Hgura, em sua maiorIa, como o substra-
ctum de um povo ignaro!
E nem isto admira, porque, na propria capital da Repu-
blica, constantemente se vêem, nas horas de trabalho, em
pontos que se prestam á vadiagem, numerosos bandos de
menores desoccupados, qae, em vez de estarem na escola,
adquirindo instrucção c procurando corrigir defeitos de edu-
cação, se divertem em correrias desordenada!>, feitas numa
gritaria ensurdecedora, que constituem, ao mesmo tempo, um
tormento para a visinhança. Não são sómente palavradas,
que escandalisam, empurrões e pancada!', distribuídas a torto
e a direito; até prejuizos materíaes são, por vezes, occasio:
nados por esses vandalo8 de nova espeeie!
Todos vêem isso, menos os paes desses menores e os
agentes do poder publico, que teem especialmente a seu cargo
o policiamento da cidade! .
- 186-

A obrigatoriedade, pois, do ensino é uma necessidade


dt~ ordem social e ao mesmo tempo um dever inilludivel da
j)arte do Estado.
O Estado, que falta ao cumprimento deste dever, com-
mette falta equivalente a um crime, não só de lesa· razão e
de lesa-patria, como até de lesa-humanidade!

Depois dist), eu entraria aqui no estudo do modo de


tornar-se effectivo o ensino dos dous referidos graus (prima-
rio e secundario) se a tanto fosse obrigado pelas exigencias
da lição de hoje.
Demonstrado, como está, o ponto capital da 2." parte
da mesma, e visto que não se trata de elaboração de direito
constituendttm, bastará que eu chame a vossa attenção para
o facto de ser a instrucção publica de pura alçada do direito
administrativo, objecto desta cadeira e do nosso estudo.

Em materia de instrucção (com que pesar eu o digo!)


estamos ainda longe de emparelhar com muitos paizes, que
nos devem servir de modelo e de exemplo.
Em relação aos mais velhos, nada temos de que nos
envergonhar. Elles teem sobre nós o grande factor dos secu-
los decorridos, e isto não só explice, como até certo ponto
justlfoica a desigualdade de condições em que nos achamos e
o nosso atrazo.
Não admira que, na Inglaterra, por exemplo, a instru-
cção publica seja bastante desenvolvida, sobretudo na E~cocia,
onde no periodo de 1894-1895, a porcentagem dos alumnos
inscriptos nas escolas primarias já era de 85 % naquelle
tempo (6).
Na Dinamarca, um paiz pequeno, comparado principal-

(6) E. Levass., Enseign. Primo dans les Pays Civilisés, pago 17.
- 187 -

mente com o nosso, a instrucção está tão adeantada a ponto


de em cada povoação haver uma escola.
E' que lá se tem feito o que (apesar de exemplo tão
edi/lcante) nenhum governo, entre nós, ainda se lembrou de
fazer: tornar como alli obrigatoria a instrucção primaria
desde os 7 aos 14 annos de edade.
Fizesse isso o governo do Brasil e deUe se poderia dizer
o mesmo, que hoje se diz a respeito da Dinamarca: é quasi
certo, que nesse paiz não lia analpliabeto:s. .
A França, em materia de instrucção publica, é incompa-
ravelmente mais adeantada do que nós, porque, além de sua
grande edade e da opulencia dos seus recursos, tem popula-
ção maior que o Brasil, e é, no dizer de Mr. Pichon - a
nossa mãe espiritual.
A ltalia é um dos paizes da Europa onde mais diffun
dida se acha a instrucção publica, porque, além de ser um
paiz antiquissimo, rico de homens dotados de inspiração e de
genio, teve o bom senso de instituir a obrigatoriedade do ensino.
O que admira é a AUemanha, um paiz, que, a partir de
sua unidade política, é muito mais novo do que O nosso, sem
embargo do que tem f~ito progressos admiraveis no que res-
peita á sua instrucção. .
Triumphou na guerra de 1870, principalmente pela ins-
trucção do seu povo, pela disciplina de sua edu.:lação, pelas
surprehendtntes descobertas de sua sciencia, pela reconsti-
tuição, emfim, de suas forças momes e economicas, chegando
assim ao ponto de ser hoje considerado um dos paizes mais
cultos, sinào o mais Wustmdo do globo!
E' digna tambem de admiração a Republica Argentina,
que nos leva vantagem em materia de instrucção publica.
Quem quizer ver o espantoso progresso dessa Repu-
blica, no curto periodo do ultimo seculo, 1810-1910 (espaço
relativamente curto na vida de uma nação), é ler o livro de
Lucien Abeille, publicado em 1910, onde não é pequena .a
mésse, que colhi de informações curiosas:
- 188-

- O ensino secundario não constitue aUi uma carreira


(I

para 08 membros do professorado ».


- « E' pela satisfação de um gosto, de uma inclinação;
pelo prazer de contribuir para a educação dos futuros con-
cidadãos e pelo prestigio que destes resulta, que os moços,
ao sahirem da Universidade, vão occupar uma cadeira em
um collegio nacional».
- « A funcção de prófessor se ajunta ás funcções de
uma carreira liberal,.. E' um advogado, um engenheiro, um
medico, um litterato, um publicista, que ensina a materia
que se relaciona com a sua profissão, ou constitue ramos de
conhecimentos humanos, em que fez a sua especialidade».
- « Não hn. categorias entre os professores. O systema
de promoções, de classes ou entrancias e a differença de ven-
cimentos não existem ».
- «O estreante recebe os mesmos ordenados que o seu
colIega, que hontem era seu professor».
- «A hierarchia na classe é desconhecida, e, portanto,
a desegualdade de condição, que da mesma necessariamente
resultaria,. .
- « Os professores, quer ensinem historia ou philoso-
phia, o idioma nacional ou a litteratura, a historia natural' ou
a chimica, a arithmetica ou a geometria; quer st'jam do 1.0 ou
5.0 anno, são, tlntes disto, advogados, medicos ou engenhei-
ros; possuem gráus universitarios semelhantes; não pode,
por consequencia, existir entre os mesmos causa de su perio-
ridade ou inferioridade li.
E se algum dellesnào é advogado, medico ou enge-
nheiro, tem com certeza titulos universitarios e proD.ssionaes,
, que oflerecem como garantia de sua especialidade e compe-
t~ncia, por vezes superior. e)

(7) Lucien Abeille, L'Esprit Démocrat. de l'Enseign. Sécond Arg.,


pago 1.11.
- 189-

Alli, por consequencia, não se exige, como aqui, o con-


curso de provas para a formação do pr.ofessorado.
E, sem embargo disso, o ensino secundario tem produ-
zido excellentes resultados, o que prova a sua superioridade
sobre o nosso.
Para chegar-se a esta evidencia, bastará ver com atten-
ção o modo criterioso, logico e pratico a que obedece a orga-
nização do ensino secundaria naquella Republica.
Alli esse ensino é ministrado, não para conferir titulas
puramente decorativos e fazer do alumno um põço de vai-
dade " mas um operaria de intt' lligencia principalmente con-
sagrado ao serviço da patria, com uma completa cultura ci-
'L'ica e moral.
Isto quanto á parte propriamente thdorica do ensino.
No que respeita á pratica, as classeE', as bibliothecas, os
laboratorios são ornados de gravuras, representando scenas
da historia nacional, retratos e bustos dos heroes da indepen-
dencia, dos grandes homens que contribuiram para a grandeza
do paiz, etc.
Sobre as capas dos livros e impressos são gravados os
mesmos episodios, os mesmos retratos.
Na parte interna dos livros ou impressos uma resumida
noticia ·sobre o objecto representado.
E' a passagem dos Andes por San Martin; é a casa
onde foi proclamada a independencia; .é a columna de Maio;
é o escudo argentino; é a bandeira da patria j é o hymno
nacional, etc. (8)
Em uma palavra: no interior dos collegios se respira
uma atmosphera cilJica.
Ha, depois disso, a cultura physica e milita1',.
Ha, flnalmente, a liberdade de ensino na sua significação
mais genuina, o que não se dá entre nós,

(8) Lucien Abeil., obr. cit., pago 223.


- 190-

Em resumo: o ensino secundario· argentino é, devéras,


livre, ordenado e cancatenad'o: recebe directamente os
alumnos do ensino primario e os conduz ás portas da Univer-
sidade. (9) ,
Esse ensino é moderno j isto é, apropriado ás necessida-
des. E' uma cultura: cultura intellectual, baseada sobre a
razão e a sciencia; cultura civica e moral; cultura physica
e militar.
O internato foi abolido.
O bacharelado é desconhecido.
Como aqui, a liberdade do ensino se concilia com a ins-
pecção exercida pelo Estado sobre os institutos particulares.
Mas, o que, neste estudo, principalmente me impl'epsio-
nou foi a nota, accentuadamente humana e democratica,
daquelle ensino, como se vê da seguinte passagem, que re-
produzo do livro de Lucien Abeille:
Uma familia de emigrantes russos estabeleceu-se em
Buenos Aires. Passados tres annos, resolveu múdar.se para
a provincia de Santa Fé, a fim de alli se dedicar aos traba-
lhos agricolas. Durante a sua permanencia na capital, um de
seus filhos, de nacionalidade russa, de 12 annos de idade,
matriculou-se no Collegio Nacional. Devido a isso, não que-
rendo abandonar seus estudos secundarios, não poude se
resolver a acompanhar os paes.
Mas, como viver? A quem recorrer naquelle paiz, que
não era o seu? A Republica Argentina, que lhe dava a ins-
trucção, recusar-lhe-ia o pão?
AJinal, foi ter ao palacio do governo, e pediu para ver
o Presidente. Admittido á presença deste, expoz-Ihe o que
pretendia. O primeiro magistrado o escutou com uma bene-
volencia toda paterna), e, após isso, lhe diz: «Os vossos dese-
jos serão satisfeitos».

(9) Lucien Abeil., obro cit., pag_ 223.


- 191 -

E assim foi: M. Figueirôa Alcorta logo se entendeu


-com o sr. Ministro da Instrucção Publica, e as providencias
não se fizeram esperar em auxilio do joven russo, que assim
veiu a ser um verdadeiro pupilo da Argentina.
E como este, outros edificantes exemplos se encontram
no livro a que acabo de me reférir.
Numa palavra, senhores! Para se vêr quanto estamos
ainda distanciados do ponto a que devemos chegar em mate-
ria, já não direi de ensino secundario e superior, mas de
instrucção primaria, eu chamo a vossa attenção para os
dadosestatisticos (incompletos embora) publicados na impor-
tante obra de Leva.sseur - «O Ensino Primario dos Paizes
Civilizados», por onde se vê a inferioridade de nossa instru-
cção comparada com a de outros paiz~s tanto, ou mais novos
que o Brasil, e particularmente comparado com o da Repu-
publica Argentina.

IH. Penso, por isso (e aqui entramos no estudo da


3.& e ultima parte do nosso ponto) que, embora a Constitui-
ção da Republica não seja bastante explicita e clara em
relação ao assumpto, é dever da União procurar remover
este inconveniente· dentro das attribuições, embora limita-
das, que lhe confere a mesma Constituição no art. 35 n. 2.
(App. VIII).
Tratando-se de materia de tanta relevancia, não se jus-
tificaria a inacção do governo a semelhante respeito.
E' um ponto, que tem inteira analogia com o que acon-
tece com o poder judicial na distribuição da justiça.
Na conformidade do nosl3O direito, a lei póde ser omissa
sobre a especie que se debate, mas nem por isso é dispen-
sado o juiz do dever de conhecer do feito submettido ao seu
processo e julgamento.
Relativamente ao ensino profissional, o governo pódee
- 192-

deve, por meios indirectos, não só proteger, como incremen-


tar este ensino.
Nos tempos que correm e ante as exigencias da civili-
zação, é elIe uma necessidade, visto que tem como principal
objectivo tornar mais facil e productivo o trabalho nacional.
A intervenção do Estatlo, em tal caso, nos precisos
termos do art. 35, n. 2 da Constituição Federal, não tolhe a
liberdade de trabalho; é pelo contrario, um auxilio indirec~o­
do mesmo Estado em proveito da industria nacional.
E' a instrucção apropriada ao trabalho de cada um,
diz Bonstetten, que dá ao homem as grandes idéas de
ordem, que formam a base da jllstiç';1- e da verdadeira liber-
dade. O individuo, como a natureza, tem a sua medida de
idéas; as idéas que T/ã~ temos do bem, n6s as temos do mal.
Assim tam bem em relação ao ensino superior em todaft
as suas gradações.
Quando mesmo o governo não encontrasse na lei Q 'meio-
de animar, proteger e pr~curar desenvolver esta especie de
ensino, seria o caso de pedir a sua attenção para estas seten-
ciosas palavras de G. Le Bon:
«Achar 08 meios de crear um estado de espirito que
torne' o homem felIZ, eis o que uma sociedade deve, antes
de tudo, procurar sob pena de não poder subsistir muito
tempo )l.
« O unico papel util das institUl'çõell é dar uma sancção·
legal á.o; mudanças, qu,e os costumes e as opiniões acabaram
por acceitar,».
Quer isto dizer, senhores, que o ensino livre no Brasil é·
uma instituição, que, sendo acceita pela opinião, sente-se,
por isso mesmo, não só consolidada no novo regimem, como·
profundamente arraigada na Opihião nacional.
O que é preciso é ajustal-a a novos moldes, que a tor-
nem ainda melhor e mll.is aperfeiçoada.
DECIMA PRIMEIRA LIÇÃO

1- Dominio dos bens publicos e sua divisão. 11- Bens patri-


moniaes do Estado na fórma do nosso direito actual.

Meus senhores:

. A materia àa lição de hoje tem estreita ligação com o


direito civil, o unico que nos póde dar a noção exacta e per-
feita do dominio, ponto de partida do estudo dos bens patri-
moniaes do Estado.
Nenhum jurisconsulto brasileiro ainda excedeu a La-
fayette na analyse transcendental dos principios reguladores
do dominio, a parte talvez mais importante do direito
privado.
O dominio assenta sobre direitos reaes, que entram para
a formação do nosso patrimonio.
E', em summa, o que commummente se entende por
direito de propriedade.
Juridicamente, não se considera proprietario senão
aquelle que tem não só a posse como o direito á 8ubstancia
da cousa.
Por mais que quizesse, eu não vos poderia dar, no limi-
tadissimo espaço consagrado a uma lição, nem mesmo a
synthese dos principios sobre o dominio. Por ·isso, apenas no-
tarei que do mesmo decorrem os direitos de possuir, isto é,
de deter physicamente a cousa; de fazer della os usos e
18
DIREITO ADMINISTRATIVO
- 194-

empregos a que se presta; de auferir da mesma os seus


fructos, rendimentos e p\'Oductos; de transformai-a; de dis-
pôr della no todo ou em parte; de defendel-a contra as vio-
lencias e injurias de terceiro; de reivindical-a do poder de
quem quer que injustamente a detenha; de haver, em fim, a
satisfação dos damnos que se lhe causarem (1).
Entre todos esses direitos ha, entretanto, um que cons-
titue a essencia do dominio: é o relativo á sllbstl1nda da
causa.
Os demaü', se considerando elementares, se agrupam,
por força, em torno desse direito essencial (2).
Qual, porém, o o~jecto do dominio? A cousa corporea (3).
O dominio, uma vez radicado na cousa (diz Lafa.yette),
comprehende esta em toda a sua subslancia e attriblltos;
os seus jruclos; assim como todas as 1'iquezas matel'iaes n
ella i nhel'entes.
Não ha, pois, e nem póde haver domínio sem a exis-
tencia daquelle elemento integral e que se traduz na-posse.
A posse consiste no poder de dispõr physicamente da
causa, com a intenção de dono, e de defendel-a contra as
aggre8sões de terceiros.
Presuppõe, portanto, uma causa physicamente submet-
tida á dominação da nossa vontade.
E" por consequencia., um corollario do dominio (').
Mas, notae que a posse, em sua origem e essencia, é
distincta do dominio.
Quereis ver de que modo?
Pelo que já vos disse, não pó de haver dominio sem

(') Laf., Dir.. das Cous., vol. 1.0, pago 75.


(2) Laf., obro cÍt., pago 76.
(3) Lar., obr. cit., pago 77.
(4) Lar., obro cit., pago 9.
- 195-

posse, ao passo que esta, tendo vida propria e independente,


pó de subsistir só, ou coexistir com elle (5).
Em direito, pois, a posse é a resultante da união de
dous elementos: 1.0) a detenção ou o facto material, que
submette a causa á vontade do 'homem com exclusão de
quem quer que seja; 2. 0 ) o elemento moral, a intenção, que
consiste na 'vontade de possuir a causa como propria, (animo
sibi habendi) (6).
Daqui, uma. infinidade de questões, que ,se podem susci-
tar a respeito da posse, das quaes, no entanto, mê- não occu-
pard não só á falta de espaço e de tempo, como principal-
mente porque não constitue objecto desta cadeira.
Bastará, por isso, dizer que a terminologia. usual da
posse é a seguinte: posse, posse na tural, posse civil..
O termo posse, desacompanhado de qualificativo, é ordi.
nariamente empregado pa.ra exprimir a posse jU1·idica, tanto
a que dá dú·eito aos interdictos, como a que leva á usu-
capião.
Entende-s~ por posse natural a posse juridica, que
effectivamente e sempre assenta na detenção material (1).
Posse civil, pelo contrario, é a que se adquire por força
da lei, sem necessidade de appl·ehensão material da causa,
donde se conclue que, p01. um desvio fundamental da posse,
o principio da detenção material, sobre que ella assenta,
soffre excepçilo.
Por força dessa excepção, a posse tle adquire e se exerce
independentemente do facto pbysico da detenção (8).
Explica este facto, aliás muito commum (que já de-
veis ter observado) a praxe de usar-se nas escripturas de

(5) Lar., obro cit., pago 11.


(6) Lar., obro ·cit., pago 14~
(7) Laf., obro cit., pago 1~;
(8) Laf., obro cit., pago i4.

'"
- 196-

compra e venda a clausula constituti, por força da qual se


considera, desde logo, o comprador de posse da cousa que
adquire.
O adquirente ainda não tem, de facto, a detenção' mate-
rial que caracteriza a pOlf8e; mas, apesar disso, é considerado
como si a tivesse, por f\)rça da lei, para assim ficar, desde
logo, melhor garantido o pleno dominio da cousa, e, por
consequencia, o direito de propriedade da mesma.
Não podia,senhores" ser mais resumida a noção de que
precisaveis, para melhor comprehender o fuf'ldamento do
domínio em relação aos bens patrimoniaes do Estado.
Esta expressão presuppõe a existencia de pRtrimonioj
cumpre, portanto, conhecer a signiâ'cação juridica desta
palavra.
Ella procede do latim - patrimom:um, que a principio
significava sómente - o conjuncto de bens, que 1,inha da
successão de familia.
Hoje tem não só outras significações, como, no proprio
direito, accepção mais ampla. E' assim que comprehende tam-
bem toda ti sorte de bens possuidos por pessoa natural ou
juridica, inclusive o Estado 01t a União, os Estados fede-
raes e os Municipios.
São bens, que essas pessoas collectivas, de existencia
necessaria, como as particulares, legitimamente adquirem e
delles podem dispôr livremente, apesar de se acharem com-
prehendidos na denominação geral de bens publicos} em regra
considerados cousas fóra de commercio, e, portanto, legal-
mente inalienaveis.
Tão sómente o direito de dispôr o Estado de benR
patrimoniaes seus está sujeito ás condições e fórmas estabe-
lecidas na lei.
São condições e formalidades, que, sem affectarem o
direito de livre disposição, apenas sujeitam, por altas conve-
niencias de ordem social e politica, á observancia dos preceitos
legaes, todos os actos juridicos de' acquisição e alienação de
- 197-

bens, qualquer que seja a sua natureza ou especie, quaesquer


que sejam os adquirentes ou alienantes.
E' por isso, que, se tratando, por exemplo, de alienação
de bem patrimonial do Estado, esse acto ordinariamente é
feito mediante concorrencia publica, a melhor fórma, até hoje
conhecida, nos processos da administração, para a disposição
de taes bens.

Voltando ao conceito juridico do patrimonio, este, em


direito, é o a~êrvo de todos os nossos haveres,quasi sempre
adquiridos por varios modos, entre os quais o da successão.
Sobre este ultimo, M. de Tocqueville, delle se occupan-
do, disse:
1/ Eu me admi1'o de publicistas, antigos e modernos,

não terem attribuido ás leis das successões uma influencia


maior sobre a marclla dos negocias .~umanos 11.
« Essas leis pe1'tencem, é certo, á ordem civil; mas de-
viam ser postas á frente de todas as instituições sociaes,
porque ellas influem, como não se acredita, sobre o estado
social, de cujas leis politicas são a expressão, (9)
Depois, o acervo, constituido pela fórma exposta, cons-
titue o que ordinariamente se chama - uma universalidade
de direitos,. isto é, um todo composto de bens diversos, reu-
nidos sob a unidade da pessoa a que elles pertencem. (lO)
Não é outro, senhores, o moderno conceito do patrimo-
nio segundo a legislação dos povos cultos.
Póde ter variantes na fórma, mas, no fundo, a especie é
a mesma.
Na França, por exemplo, entram na classificação de
bens de dominio nacional os bens ecclesiastico.'l; (iJ) donde

(9) M. de Tocq" La Dem. en Amer., tom. 1.-


(10) Laf., obro cit., pago 73,
(11) Cab~ntous, Droit Adm., n.O 608.
- 198 -

se conclue que, sendo os bens nacionaes, por força da pro-


pria natureza, bens do dominio do Estado, fazem igualmente
parte desse dominio os bens ecclesiasticos.
E', como vêdes, um ponto, em que o nosso Direito
Administrativo se mostra· muito mais adeantado do que o
Direito Administrativo Francez.
Bluntschli, occupando-se das relações do Estado êom a
propriedade, doutrina principios, que se acham perfeitamente
de accôrdo com a theroia geral do nosso direito a semelhante
respeito.
Nega que o Estado tenha a disposição absoluta da pro-
priedade privada, ao mesmo tempo que sustenta que ha cou-
sas, que, por sua natureza, não podem pertencer a essa es-
pecie de propriedade, por serem consagradas ao uso publico.
São por isso chamadas - cousas publicas (res publicm).
E accrescenta, que ao lado das COU!3as publicas se cono-
cam as que a dultura pu1Jlica tem posto fóra do commercio,
destinando-as ao serviço de todos, ou ao serviço do Es-
tado. (12)
A synthese desses principios patenteia a concordancia. .
em que os mesmos se encontram com os do nosso direito.
Depois, em principio, qualquer que seja a natureza dos
bens, o que primeiramente cumpre conhecer é a origem
desta palavra.
Ella deriva~se de bona, e esta, segundo Ulpiano,' vem de
beare, que significa - tornar feliz. (U)
Segundo o Direito Romano, comprehende-se na palavra.
bona não só as COUl:!as, sujeitas ao nosso dominio, como as
que possuimos de boa fé, e que consistem em superficie e em
acções. (1')

(12) Blunt., Theol'. de L'Etat, pago 221.


(lS) Rib., Dir. Civ., voI. ~.o, pago :1.99.
(14) Rib., Dir. Civ., voI. 2.°, pag•. 200.
- lS9-

Além da palavra bona, ha a palavla pecunia, que os


Romanos consiJeravam COltl1ctS que estão no patrimonio de
alguem.
Ra, finalmente, a palavra l'e8, de significação muito
mais ampla, visto que tambem comprehende as co usas, que
estão fóra do patrimonio de alguem.
As palavras, portanto, bona, pecunia e 1"es, tanto litte-
ral, como juridicamente, exprimem noções diEtinctas.
Na balburdia de tantas definições e distincções, em que
abundam os tratadistas, e que, afinal, se reduzem a puras
questõe<'l logom'lc/ticas, eu prefiro a seguinte distincção entre
res e bona:
Cousa é tudo o que exil:!te, ou póde existir. E' a signi-
ficação dessa .palavra no seu sentido ontologico. Os bens,
pelo cont rario, se suppõem ou se consideram sempre exis-
tentes.
Em relação aos seus proprietarioEl, diz. Ribas, os bens
se dividem em pubUcos e paraculares, segundo aqueIles são
pessoas publicaI> ou particulares; (15) divisão, que tanto pa-
rece ser a melhor, que é a adoptada pelo Co digo Civil, art.
65. (App. IX).
Ora, o Estado, como já sabemo!!, é não só pessoa jurí-
dica pub lica, como de existencia nece.'isaria.
Na phrase de Savigny, é uma collectividade politica e
administrativa permanente; na fórma do nosso regimen, essa
coIlectividade é representada pela União Federal, distincta
dos Estados federaes e dos municipirs, qUE', por sua vez,
tambem se consideram pessoas juridicas de existencia ne-
cessaria.
A differença que, de direito e de facto, realmente existe
entre estes e a. União ou o Estado está na preeminencia, que

(15) Rib., obro cit., pago 289 ..


- 200 -

lhe dá a somma de poderes soberanos, que, em nome da


nação, eIle effectivamente exerce em todo o territorio do
paIZ.

Já por aqui podeis ver qual a natureza dos bens patri-


moniaes do Estado.
O Estado, como pessoa juridica, possue bens. e póJe
adquirir bens da mesma maneira que as pessoas naturaes ou
civis.
Os bens que elle assim possue ou adquire se consideram
como pertencendo a tres ordens: ou são de uso commum do
povo, . ou de uso especial no serviço da nação, ou constituti-
vos do patrimçmio desta, dos Estados ou dos !t1ztnidpios.
Antigamente, na vigencia do regimen monarchico, não
era assim.
A confusão era enorme.
Os bens nacionaes eram, como hoje, considerados publi-
cos, mas estes se dividiam em publicos no sentido lato e
publicos no sentido restricto! .
Era uma difficuldade conhecer com precisão a natureza
desses bens e distinguil-os entre si.
Poucos sabiam differençar com exactidão os bens publi-
cas no sentido lato dos bens publicos no sentido restricto.
Tudo iss~. vinha das subtilezas especulativa!!, tanto do
direito reinicola, como do Direito Romano.
Hojp, porém, em face do disposto no Codigo Civil, me
parece insubsistente a distincção do antigo direito entre bens
publicas em sentido restricto e bens publicas no sentido
lato.
Na fórma do citado Codigo, são publicós os bens do
dominio nacional, pertencentes á União, aos Estados ou aQS
Municipios.
T9dos os outros são particulares, seja qual fár a pessoa
a quem pertencerem .~ Cod. cit., art. 65.
- 201 -

Como vêdes, é da malOr evidencia a vantagem que re-


'Sulta desta disposição.
Desta sorte acabou-se com o inextricavel e~m3ranhado de
doutrinas, que faziam o desespero dos que precisavam conhe-
cei-as desde a sua origem, que 'data do Direito Romano.
Acabaram-se, por este modo, as distincções subtis, as
duvidas e as controversias.
Hoje, s6 os estudiosos terão necessidade de recorrer á
consulta de textos e doutrinas, que sobre e~ta materia pas-
saram á ordem de simples elemento histol'ico do nosso direito.
Não só. por isso, como por sua materia de todo estranha
ao objecto desta cadeira, POUCQ ou mesmo nada nos interessa.
Assentado, como está, que .todos os bens publicos per-
tencem ao dominio. nacional (Codigo Civil, art. 65), vejamos
como se dividem esses bens.
Na conformidade do disposto no art. 96 do Co digo citado,
esses bens se dividem:
. I) em bens de uso c{Jmmum do povo, taes como os
mares, rios, estradas, ruas e" praças;
II)" em bens de uso especial, taes como os edificios ou
terrenos applicados a serviço ou estabelecimento federal, es-
tadual ou municipal;
IH) em bens dom1:niaes; isto é, os que constituem o
patl'imonio da União, dos Estados, ou dos Municípios, como
objecto de direito pessoal ou real de cada uma dessas en-
tidades.
Commentando este artigo, diz Clovis Bevilaqua :
«Estabelece o artigo uma subdivisão de bens publicos,
sob o ponto de vista do modo por que são utilizados: de uso
commum, de uso especial e dominiaesll.
« Os primeiros são os que pertencem a todos (1·es com-
mun~8 omnium). O proprietario desses bens é a collectivida-
<le, o povo. A' administração publica está confiada a sua
guarda e gestão. Podem utilizar-se delles todae.as pessoas,
respeitadas as leis e os regulamentos».
- 202-

« Oil segundos. são propriedade da União, do Estado par-


ticular, ou. do Municipio; porém applicados a determinada
ordem de serviço publico,..
« 0..; terceiros são patrimoniaes. Sobre elles a União, ()
Estado ou o Municipio exerce poderes de proprietario, se-
gundo os preceitos do Direito Constitucional e Adminis-
trativo ».
Esta ultima especie de bens corresponde aos antigos
bens da corôa, no tempo da monarchia.
Ainda agora ~e debate no Supremo Tribunal Federal
uma curiosa e interessante questão suscitada a ·respeito das
joias, que serviram de insignias imperiaes.
A Noticia de hontem, tratando dessa contenda, escreve:
« O velho imperador do Brasil possuia duas corôas. A
primeira fundida, quando os ardores nacionaes, pugnando
pela autonomia completa, a collocaram na cabeça de D. Pe-
dro l, então imperador do Brasil, em 1822. A segunda,
offerecida pela Guarda Nacional a D. Pedro lI, elI!
1841».
Em relação á primeira, não póde haver duvida de que
se trata de bem dominial da União, mórmente em face do
Decreto de 19 de novembro de 1822, mandando entregar
ao ourives da casa imperial Francisco Gomes da Silva a
quantidade de ouro necessaria para a factura da corôa impe-
rial, sceptro e outros objectos que deviam servir de insignias
imperiaes. (App. IX)
« E' evidente (p,ondera A Noticia) que essas insignias,
feitas por conta do Thesouro, pertencem, de direito, á Nação ».
Mas, a corôa de 1841 ? a quem perte~ce a propriedade
da mesma? Eis o ponto controvertido I A meu ver, essa corôa,
avaliada em 200:000~, pertence de direito aos herdeiros do
finado imperado 1'.
Completando as disposições referentes aos bens pu~licos,
ou do dominio nacional, accrescenta o Codigo Civil:
«Os bens de que trata o artigo antecedente (66) s6
- 203-

perderão a inalienabilidade, que lhes é peculiar, nos casos e


jórma que a lei prescrever:) ; art. 67
Com razão censura Clovis a redacção deste artigo.
Considerando-a defeituosa, elle diz: « Os bens domi-
niaes da União, doe Estados e dos Municipiol:l não são inalie-
naveis, como poderia ser alguem levado a suppor, tomando á
leítra o disposto no art. 67. .
Sómente se alienam segundo as fórmas e regras estabe-
lecidas na lei, porém se alienam:
c( Os bens publicos, de uso commum, esses, sim, são ina-

lienaveis.
São·no tambem os de uso especial, em quanto conser-
varem esse caracter». S) e
No art. 68 ainda dispõe o Codigo Civil:
O uso commum dos bens publicas pode sel' gratuito, ou
retribuído, conj01'me as leis da União, dos Estados ou dos
Municipios, a cuja administração pertencem ».
I.sto signiBca, como bem pondera Clovis, que as cousas
publicas de uso commum estão, por ,sua natureza, destinadas
a ser utilizadas por todos, sendo que, em n'gra, esse uso é
gratuito. (17)
Quaes são, porém, esses bens?
São as ruas, praças e estradas, as aguas dos rios pu-
blicas para as primeiras necessidades da vida,. 08 mares
territoriaes, para a navegação e a pesca, as praias do mar
e outros semelhantes.
Muitas vezes, porém (observa Clovis), para compensa-
ção do capital empregado em obras, que as melhoram, o uso
dessascousas é retribuído. Pedagios, taxas de ancoragem são
exemplos de remuneração pelo uso dos bens communs. (18)

(16) Clov.' Be"., Cod. Civ., vol. 1.0, pago 319.


-(17) Clov. Bev., obro cit., pago 320.
(18) Clov; Bev., obr. cit., pag. 3:!O.
- 204-

Accresce que algumas vezes o mo desses bens compre-


hende a apropriação. A pesca, em aguas publicas, observa-
dos os regulamentos, é modo de adquirir ». Cod. Civ. arts.
599 - 602. (App. IX).
As conchas e outras substancias, qlte o mar arroja ás
praias, podem ser objecto de occupação, desde que não per-
e
tençam ainda a outrem. Cod. cito arts. 592-593. 9 ) (App. IX).
Do que acabo de expender se conclue:
1.0) Que o dominio dos bens pode ser tam bem adquirido
pelo Estado do mesmo modo por q~e o fazem as pessoas na-
turaes ou civis;
2.°) Que os bens publicos hoje principalmente se divi-
dem em bens de uso commum, em especial e bens dominiaes,
ou do dominio da União, dos Estados e do~ 1\1" unicipios;
3.°) Que o patrimonio do Estado, hoje União, é consti~
tuido dó mesmo modo que o patrimonio dos particulares.
Compõe-se, por egual, de uma unive7'salidade de bens e
direitos, formando um conJuncto, que representa todos .os.
seus haveres.
4.°) ,Que não entram para a formação desse patrimonio
os bens publicos de uso commum (Cod. cit., art. 65 n. I); os
de uso especial, applicados a serviço ou estabelecimento fe-
deral, estadual ou municipal (Cod. cito art. 65 n. lI), e sim
os dominiaes (Cod. cito art. 65 n. lII); isto é, os tambem cha-
mados indistinctamente dominicaes ou patrimoniaes da União,
sobre os quaes esta exerce poderes de proprieiaria, segundo
os preceitos dos Direito Civil, Publico e Constitucional, e
Admmistrativo;
5,°) Que só os bens desta ultima especie podem ser
slienados, e isso nos casos e fórma que às leis prescrevem;

(' 9) Clov. Bev., obr. cit.! pag. 320.


- 205 ~ .

6.°) Finalmente, que nem sempre as cousas publicas de


uso commum podem ser utilizadas gratuitamente.

Vejamos agora que bens, na forma do nosso direito, se


consideram patrimoniaes da União, d{)s Estados e ·dos Mu-
nicipios. .
A este respeito, diz Clovis:
São bens patrimoniaes da UniRo:
1.° A zona que lhe reservou o art. 3.° da Constituição;
(App. IX).
2.0 As ilhas formadas nos mares territoriaes (lU nos rios
fe'deraes;
3.0 As estradas de ferro, telegraphos, telephones, fabri-
cas, officinas e fazendas federaes;
4.° Os terrenos devolutos, sitos no, Districto Federal,
qu.e não sejam, por qualquer titulo juridico, do patrimonio do
mesmo districto;
5. o Os terrenos de marinha e os accrescidos;
6.0 As margens dos rios navegaveis no Territorio do Acre;
7.0 Os bens que foram do dominio da corôa;
8.° Os bens perdidos pelo criminoso condemnado pela
justiça federal, ou do Districto Federal j
9. o Os bens do evento e os bens vagos, que apparece-
rem em territorio não incorporado aos Estados nem aó Dis-
tricto Federal.
Resta, depois disso, dar· vos uma noção de algumas espe-
cies deslles bens.
- Bens vagos são aquelles a que não é achado senhor
certo (entre os quaes não se inclue o Thesou'l'o), as heranças
vacantes e os bens das sociedades de fins· não economicos
personilicadas, quando se extinguem, sem que os estatutos,
ou os socios tenham resolvido sobre o destino ulterior delles •.
(Clov., Cod. Civ., voI. 1.0)
· - 206 -

- Terrenos de marinha 'são os banhos pelas aguas do


mar ou dos rios navegaveis em sua fóz, até 33 metros para
a parte das terras, contados do ponto a que chega o préa-
mar medio. (Clov., obro cit.)
-Accrescidos aos de marinha são os que; natural ou
artificialmente, se formam da linha do préa-mar- médio para
a parte do mar, ou das aguas dos rios. São terrenos de allu-
vião onde existirem os de marinha (Instrucções de 14 de
Nov. de 18B2, art. 4.°; Decr. n.o 4.105, de 22 de Fev. de,
1868, art. 1.0, §§ 1.0 c 3.°); Clov., obro cito (App. IX).
-O préa-mar médio se fixa, tomando-se por base uma
lunação (Av. n. 373, de 12 àe Julho de 1833.) (App. IX).
- São bens commll'ns administrados pelos Estado.ç:
1.°) Os rios navegaveis e os de que se fazem os nave-
gaveis, sendo caudaes e perennes, desde que tenham todo o
seu curso dentro do respectivo territorio ;
2.°, os lagos e lagoas situados em terras publicas está·
duaes, ou forem navegaveis, ou entregues ao uso publico.
São bens de uso especial dos Estados os edificios publi-
cos estaduaes e os terrenos applicados ao serviço de reparti-
ção e estabelecimentos estaduaes. (Olov., obro cit.)
São bens patrimoniaes do Estado:
1.0, os que pertenciam ás antigas pl'ovincias;
2.°, as terras devolutas situadas nos respectivos territo-
rios (Const., "art. 64). São terras devolutas: (App. IX);
&) as que não se acharem applicadas a uso algum
publico federal, estadual ou municipal, nem forem do domi-
nio particular por qualquer titulo legitimo;
b) os terrenos dos antigos aldeamentos de indios (Lei
n.O 601, de 18 de Sdembro de 1850, art. 3. 0 ; Regulamento
D. O 1.318 de 30 de Janeiro de 1854); CApp. IX).

3.0 , os bens vagos e do evento;


4.°, as margens dos rios navegaveis e de seus affiuentes
(ilaudaes e perennes, destinadas ao uso publico, si, por algum
titulo, não forem' do dominio federal, municipal ou particular.
- 207-

A zona marginal applicada ao uso publico é de 15 metros e


quatro centimetros, contados da linha média das enchentes
{}rdinarias, e deve começar no ponto onde termina a influen-
cia do mar. Os accrescidos conquistados ao leito do rio publico
pertencem ao Estado;
5. o As ilhas que se formarem nos rios publicos esta·
duaes;
6.° As estradas de ferro, telegraphos, telephones, fabri-
cas, officinas e fazendas estaduaes;
7. 0 Os objectos perdidos pelo criminoso, condemnado
pela justiça estadual. (Clov., obra cit.)
- Além dos bens enumerados, ainda pertencem á União
e aos Estados os que constituem o respectivo dominio finan-
ceiro. (Cio v ., obr. cit.)
Resta ver, depois disso, completando o nosso estudo,
quaes os bens publicos em relação aos municipios.
São bens patrimoniaeli dos Jjlunicipios:
I -No Districto Federal:
a) as doações que foram feitas para esse fim no periodo
colonial;
b) o uso' e fructo (fóros e laudemios) dos terrenos de
marinhas, inclusive os do ~'Iangue visinho á Cidade Nova,
respeitadas as. concessões gratuitas;
c) o uso e fructo, limitado aos fóros dos terrenos
~ccrescidos aos de marinha.
II - Nos ElJiados:
a) As concessões de terras publicas, feitas pelo poder
com petente;
b) As tfrras dos extinctos aldeamentos de indios, em
que estivessem fundadas villas e povoações ao tempo da pro-
mulgação da Lei n.O 2.672, de 20 de Outubro de 1875, ou
possam ser fundadas, e as necessarias para logradouros
publicos; (App. IX).
c) o uso e fructo limitado aos fóros das terras dos
~xtinctos ald.eamentos de indios,' que não fora~ remidos nos
- 208 -

termos do art. 1.0 § 1.0, da Lei n. o 2.672 supracitada;


(App. IX)
d) as minas existentes nos terrenos de sua propriedade,
afo~ados depois da Lei n. O 601, de 18 de Setembro de 1850,.
011 não aforados ainda; (App. IX) ,
6) as mattas, as aguas e as accessões dos terrenos de
seu patrimonio não aforados, e em todo o caso as servidões
de agua, caminho vicinal e abertura de estradas;
f) os proprios que tiverem adquirido por qualquer
titulo legitimo (20). '
Para concluir direi:
,Todos os bens publicos dos Estados e dos Municipios e,
os particulares, consideram-se sob o dominio eminente da
soberania nacional.
Esta manifesta-se sob a fórma de desapropriação por
necessidade ou utilidade publica, limitando-se ou não simples-
mente á occupação, uso ou emprt'.g'() (21).

(20) CarI. de Carv., Consolo das Leis Civ., art. ~17, pago 75.
1'1) Carl. de Carv., Consol.'das Leis Civ., art. !17, pago 6~.
DE CIMA SEGUNDA LIÇÃO

I - Do direito administrativo como complexo de leis. n - Como


estas se dividem. IH - Sciencias auxiliares do direito
administrativo. I V - Da ignorancia da lei. V - A equidade
moderando o rigor da lei. Em que a mesma se distingue
da justiça.

Meus senhores:

r. Entramos, na lição de hoje, em pleno dominio do


direito administrativo, objecto desta cadeira e objectivo do
nosso estudo.
No conceito de Cabantous, entende,:,se por direito admi-
nistrativo o complexo de 1'egras, que fixam as relações dos
particulares com a autoridade administrativa,
Mostra esta definição, sem duvida deficiente, em que
differe a sciencia do direito administrativo da sciencia da
administração.
Si ·bem me recordo, eu me occupei deste assumpto na
minha lição inaugural.
Alli eu disse, que não se deve confundir o direito admi-
nistrativo com a sciencia da administração,
Fiz ver que o direito administrativo, objecto desta
cadeira, assenta em todos os sentidos, sobre os prinClplOs
basicos dos direitos origin~rio" attributos do homem e de
toda a sociedade politicamente organizada.
DIREITO ADlUNISl'RATIVO 14
- 210-

Adverti que esse direito é principalmente considerado


em sua accepção objectivll.
E accrescentei: a sciencia da administração é cousa
oiversa.
E' exactamente essa sciencia a qne ministra aos diri-
gentes do Estado os conhecimentos necessllrios para bem
governaI-o.
E' de accôrdo com ella qlle se estabelecem as fôrmas
de que se devem revestir os actos dos executores da lei e
dos in vestidos de qualquer parce"lla de autoridade na publica
ooministração ..
E' ainda de accôrdo com os ensinamentos dessa 'sciencia,
que se decret~m as leis administrativas; que se estabelecem
as fôrmas dos actos e as condições dos seus processos; que se
organizam as repartições publicas de natureza administrativa;
que se determinam as funcções dos orgãos administrativos
do Estado; que se regulam, emn.m, os serviços confiados á
sua direcção no interesse da communidade social.
E', portanto, uma sciencia~ que tem, além de um corpo
de principios e doutrinas, baseadas no conhecimento exacto e
raciorinado dos factos sociaes e no estudo das leis e phel1o-
menos que regem es.ses factos, a sua parte regulamentar e
technica.
Finalmente, conclui: o regimen administrativo, pelo que
acabo de expender (logo o estaes vendo) é uma necessidade
de toda sociedade politicamente organizada, qualquer que seja
o f\ystema do seu governo.
Acabo de reptltir o que alli eu disse, porque a repetição,
feita a proposito, é o melhor meio de apprehel1der, gravar. e
conservar com segurança aquillo que, pelo estudo, se procura
saber ou conhecer.
Sabido que o direito administrativo, considerado em sua
accepção objectiva, é um complexo de leis, cumpre fazer ver,
que o mesmo abrange toda a acção da autoridade adminis-
trativa em relação a08 administrados.
- 211-

Alguns autores belgas, adoptanto e desen~olvendo, a este


respeito, as idéas de De Gerando, dizem:
« Por um lado, o direito administrativo fixa a natureza
das funcções administrativas; faz conhecer o seu fim; esta-
belece a organização administrativa, isto é, a hierarchia dos
funceionarios, que exercem as funcções administrativas; fixa
a competencia de cada um, bem como as attribuições de cada
funcção. »
« O direito administrativo marca a extensão do dominio
administrativo, dá as regras do processo, isto é, as fórmas
que se devem seguir nas relações entre os administrados e a
administração ou entre os diversos agentes ».
« Por outro lado, o direito administrativo determina a
natureza das relações entre a autoridade civil e a força pu-
bhca»).
« Autoriza a administração, com um fim de ~tilidade
publica, a tomar certas medidas, para a manutenção da or-
dem, salubridade, viabilidade, segurança individual) moral e
publica )).
« Regula a gestão da fortuna publica I).
Por sua vez diz Laferriere:
«O direito administrativo é o que regula a acção e a
competenda da admmistração central, das administrações 10-
caes e dos tribunaes administrativos em suas relações com
os direitos ou interesses dos administrados e o interesse ge-
ral do Estado, ou o interesse especial dos centros parciaes da
população» .
De accôrdo com De Gerando, Laferriere ainda ensina:
u Esse direito tem por objecto as relações da administra-
ção com os cidadãos, para a execução das leis e regulamen.
tos, isto é, os direitos e deveres reciprocos dos administrado-
res e dos administrados \).
A este respeito, doutrina Ribas (de cujo precioso livro
extrahi os ensinamentos de Laferriere e de De Gerando) que
a definição de Laferriere tem s~do adoptada, com diversas
*
- 212 -

mas leves alterações, por Pradier Foderé e por tres dos


nossos antigos professores de direito administrativo, Dr. Pe-
reira do Rego, Conselheiro Furtado de .Mendonça e Conse-
lheiro Veiga Cabral.
Macarel, ampliando as noções, que já conheceiB~ diz que
o corpo do direito administrativo é o complexo das leis:
r. Que determinam os direitos e deveres reciprocos da
administração e dos administrados j
lI. Que organizam os serviços administrativos, isto é,
que estabelecem a natureza, hierarchia e attribuições dos
agentes instituídos;
nr. Que traçam a fórma pela qual a administração e os
cidadãos devem obrar, para preencherem suas obrigações re-
ciprocas;
IV. e dos regulamentos, que desenvolvem estas leis,
provendo á sua execução.
As primeiras elIe denomina - leis de principios,. as
segundas -leis de organização e de attribuições; as tercei-
ras -leis de processo administrativo; formando todas o
grande ramo das leis administrativas. e)

Tem sido este, senhores, o nosso direito administrativo


desde a proclamação da independencia do Brasil em 1822,
. ou, mais precisamente, desde o inicio de sua vida constitu-
cional em 1823.
A partir desse tempo, toda.s as modificações por que
tem passado esse direito teem sido sempre inspiradas em
principios liberaes.
Haja vista e reforma de 1834, conhecida pela denomi-
nação de Acto AddicÍlimaI.
Em 1889 sobreveio a Republica, e a nova Constituição,

(1) Rib., Dir. Adro., pago 15.


- 213-

tão liberal quanto a monarchica, manteve, em seus princi-


pios fundamentaes, todos os preceitos e regras que antes
consubstanciavam esse ramo do nosso Direito Publico e
Constitucional.
Quer isto dizer, que, pelo menos no ponto de vista da
theoria e da lei, o nosso direito administrativo ainda não
soffreu a influencia das idéas positivistas, da nova escola a
que pertencem Duguit, Houriout e outros, cujo principio é o
da prevalencia dos direitos do Estado sobre os do individuo.
Nada justifica essa estranha doutrina, pura revivescen-
cia do antigo predominio do Estado, posto em evidencia no
tempo do imperialismo romano, como mais de uma vez tive
occasião de demonstrar em anteriores lições.
Infelizmente, entre nós, o que de certo tempo a esta
parte se tem observado é a tendencia dos governos e dos po-
líticos regalistas para o estabelecimento, no paiz, da supre-
macia do Estado sobre o individuo!
Mas, notae que os proprios que sustentam esse principio
mostram, contradictoriamente, que não confiam no mesmo.
Praticamente, eUes agem de accôrdo com a nova dou-
trina, conforme a qual entre o Estado e o individuo não ha
igualdade de direitos: mas nunca se esqueçem de procurar
justificar os seus actos, fazendo acreditar que os praticam em
nome e no interesse do povo.

Sabido o que é o direito administrativo, como complexo


de leis, cumpre conhecer o seu objecto.
Esse objecto, na opinião dos autores, não.é um só.
No entender de Veiga Cabral, o direito adminit,ltrativo
comprehende todas as leis sociaes, á excepção das que servem
de fundamento á organização social e da~ que entram no
dominio do Poder Judiciario.
Em principio assim é; mas isto não é bastante. E', como
- 214-

vêdes, vago e indeterminado demais o conceito de Veiga Ca-


bral sobre o objecto do direito administrativo; tanto que pelo
mesmo só se fica sabendo que esse direito apenas com-
prehende as leis sociaes, com· as excepções contidas naquelle
conceito.
Ribas, tratando deste ponto, não foi mais feliz do que
Veiga Cabral.
Estabeleceu para o caso uma distincção, que me parece
excusada, - a do direito administrativo no sentido restricto e
proprio.
A meu ver, para ·que se saiba qual o objecto desse
direito, não se precisa attender para o dualismo dos sentidos
a que me refiro, nem para os termos d~ deâniçãodo mesmo
direito, como pretende ·Ribas. .
Nem mesmo no plano de nosso estudo, que se me afigu-
ra mais vasto do que o da Faculdade de Direito, se faz
sentir essa necessidade. .
O essencial é saber que se considera objecto do direito
administrativo: .
1. 0) A estructura organica da administração, compre-
hendendo, além da creação de repartições e tribunaes admi-
nistrativos, a hierarchia dos funccionarios publicos, sua divi-
são, os casos de competencia, a ordem das jurisdicções
administrativas, etc.;
2.°) A prescripção e a regulamentação das relaç(')es
entre o poder administrativo e os administrados;
3.°) A creação e a regulamentação dos serviços admi-
nistrativos;
4.°) A fórma dos processos desta natureza e dos acto~
administrativos.
E', noutros termos, o que ensina Ribas no seu livro-
Direito Administrativo, pago 19..
Ninguem, porém, resumiu melhor todas as materias,
que çonstituem o objecto do direito administrativo, do que
Luiz Bridel, nos seguintes termos:
- 215 --

«Organização aclministratiya; policia, defeza nacional e


organização militar; trabalhos publicos; expropriação; estra-
das; caminhos de ferro; postati (entre nós correios e tdegra-
pbos); regimen das aguas, das minas e das florestas; caixas
pconomicas ; assistencia publica; regimen sanitario, alienados;
hospitaes; interesses agricolas, industriaes e commerciaes; ins-
trucção publica; regimen dos cultos; organização financeira,
impostos" moeda, etc.
Depois de Bridel caberia talvez o primeiro logar a
Edmond Picard, que iam bem se occnpou deste assumpto, no
seu livro recentemente traduzido - O Direito Puro - si não
fôra a desconveniencia da linguagem, 'em que elIe nos dá a
conhecer primeiro o direito administrativo delimitado em
compartimentos (textual, fl. 18); depois o seu objecto de mis-
, tura com os poderes politicos, os funccionarios administra-
tiws e fluas ait1'ibuições, formando deste amalgama um Todo,
dividido em 1.0, 2.0 e 3.° 'lotes, conforme a natureza das
pessoas e cousa~, por elle assim submettidas a essa disposi-
ção tl'ipartida, e com um addicionamento sob a denominação
de -- DÚ'eito Fiscal.
Ao ler esta parte- do citado livro de Picard vi quanto é
exacta esta observação que se encontra na arte de escrever:
li O estylo abrange a idéa e a fÓ'l'ma.

«Devemos persuadir-nos de que as causas que se di:tem


não impressionam sinão pela maneira po,!, que se d,zem. u (2)
Aqui tendes, senhores, a noção exacta do ~ireito admi-
nistrativo em 'sua accepção objectiva, isto é, considerado como
complexo de leis.
Actualmente, o systema de nosso direito administrativo
se considera como pertencente á escola historica, em contra-
po:!ição á nova escola, intitulada positivista, a que tantas vezes
me tenho referido.

(2) Albalat-L'art d'écrire, pag; 50.


- 216-

No ~ntender dos corypheus dessa nova escola (Duguit,


por exemplo) o Direito Publico (e tambem, por consequencia,
o Direito Administrativo) não é mais um conjuncto de regras
appliCalJeis a sujeitos de ordem diJJe1'ente, um supen'01', outro
subordinado; um tendo direito de mandar, outro de obe-
decer». (')
E então sustenta Duguit:
«O systema do Direito Publico moderno se resume na
proposição seguinte: « Aqutlles que, de facto, exercem <> po-
der não tcem um direito subjectivo de poder publico, mas
teem o dever de empregar esse poder para organizar os ser-
viços publicos, para assegurar e Hscalizar o seu funcciona-
mento.»
Notae que, antes disso, Duguit combatE' o Direito Pu-
blico com fundamento no systema da escola historica, por
assentar em idéas subjectivas em conceitos metaphysicos.
Mas, eu pergunto:
Haverá, por,ventura, concepção metaphysica mais inintel-
ligivel, por obscura, do que essa de Duguit?
Não se concebe que seja metaphysico o direito subjectivo
do poder publico, conHado pela Nação ao Estado, e não seja
igualmente metaphysico o dever, que Duguit incoherentemente
lhe attribue, de orgam:zar os serviços publicos, de assegurar
e fiscalizar o seu funccionamento!
De onde provém esse dever?
Não terá elIeo seu correlativo?
Em no~e de que principio se attribue tal dever ao Es-
tado, si ao mesmo tempo não se lhe reconhece o direito, de
que deriva o poder, em virtude do qual elIe exerce o governo'
e dirige os nego cios da Nação?
Admira, senhores, affirmação como essa, da parte de
um espirito tão atilado e tão p:-ofundamente instruido como
o de Duguit! '

(3) Dug. La Transf. du Droit Publ., pago XVIII.


- 217 -

Surprehende que o mesmo não tenha visto o que Blun-


tschli 'logo percebeu, qu'ando disse que os direitos publicos
são, além disso, deveres publicos (').
Está aqui a chave do conhecim~nto, que nos habilita a
comprehender quanto scientificamente é exacto o conceito de
Bluntsehli e falso todo o engenhoso systema de Duguit!
Para se ter a certeza do que acabo de affirmar, bastará
attentar para os termos desta conclusão de Duguit:
«La notion de servlce publique remplace le concept de
80uvemineté comme fondement du droit publique)) (5).
Consequencia: soberano o serviço publico, e não o Es-
tado- representante ·Iegitimo da Nação, em cujo interesse
principalmente é creado esse serviço!
A «soberania não existe)), e, comtudo, por causas muito
complexas e muito numerosas, se acha mode1'namente trans-
ferida, no conceito de Duguit, da nação ou do Estado, para
a noçãO do serviço publico!
O Estado «não é soberano», e, com tudo, tem o deve,. de
o ser sempre! «Si uma vez deixa de selo o, é que nunca o
foi!)) (6) ,
Como se entende isso?
Francamente: não me· parece claro nem logico o pensa-
mento de Duguit.

n. Explicada, como está, a theoria do direito adminis-


trativo como complexo de leis; conhecida a doutrina de Ma-
careI, que me parece a melhor, affirmando que esse direito
fórma um corpo de regras e preceitos, cuja natureza elle

(4) Blunts., La Droit PubJ., pag, 2.


(b) Dug., obro cit., pllg. 33.
(6) Dug" obro cit., [lag~ 33.
- 218-

qualifica e enumera; conhecido o objecto desse mesmo di-


reito na fórma do que acabo de expor, passarei a occupar-me
da divisão das leis administrativas.
Notarei, em primeiro logar, de accôrdo com Bluntschli,
que a lei é a expressão mais elevada, a mais eminentemente
política do direito, sua formula a mais reflectida e a mais
pura.
Todo o Estado falla por sua voz e fixa assim o direito,
revestindo-o de sua autoridade. A consciencia e a vontade do
Estado formam na mesma um corpo visivel. A lei é o verbo
perfeito do direito. (1)
Quer isto dizt>r, que a legislação é sempre de maior
utilidade e importancia para a vida de um povo, comtanto
que não se queirfL prever e regular tudo por meio de leis t
augmentando detlabaladamente o seu numero, como se dá.
entre nós, até cht>gar.se ao excesso, justamente condemnavel,
de uma legi~lação casuística, que, tolhendo a liberdade, fere
direitos e atrophia o de&envolviniento da Nação!
Na lei assenta a ordem jurídica, ou, noutros termos, a
melhor garantia do dit'eito"e da libet'dade de todos.
Ainda de accordo com Bluntschli, rejeitamos o principio,
que elle, com bastante propriedade, denomina 1'omantico, dos
• que preferem á lei" o direito não escripto, sob o fundamento
de que o Estado moderno tem erigido em leis opiniões
irreflectidas ,ou maximas at'bitrarias.(8)
A razão, á primeira vista, parece procedente, mas o não
é ! A verdadtira causa das leis irreflectidas e arbitrarias está.
precisamente na facilidade, no prurido de legislar, no abuso
do poder de fazer leis, produzindo o excesso de legislação,
de que já tive occasião de me occupar em uma das minhas
lições.

(7) Blunts., Le Droit Publ., pago 6."


(8) Blunts., Le Droit Publ., pago 6.
- 219-

Notarei, depois dis,s,o, que as leis consideradas em sua


generalidade, se podem dividir, primeiro em leis que se re-
ferem a direito publico e leis de direito privado.
Na ordem referente ás primeiras, se comprehendem as
leis constitucionaes ou políticas: -as leis que, sendo de di-
reito publico, não se especializam por essa natureza: as leis
de direito internacional publico ou privado.
Na ordem do direito privado, se enumeram 8S leis civis,
commerciaes e criminaes, as quaes, por sua vez se subdivi-
dem em leis substantivas e adjectivas, sendo que estas se
referem ás leis do processo.
Ainda em relação ás leis de Direito Publico interno,
temos, de preferencia, a considerar as leis -propriamente
administrativas, objecto do 'nosso ponto.
Circumscrevendo o nosso estudo a essa especie de leis, eu
direi, que as leis administrativas tambem se dividem em
leis administrativas da União, em leis administrativas dos
Estados e em leis administrativas dos Municipios.
Ainda em relação ás leis administrativas, emanadas dos
poderes do Estado, cumpre advertir, que o Brasil, a partir
do periodo colonial, tem conhecido tres especies dessas leis.
No regimen a que era sujeito anteriormente á procla-
mação de sua independencia,- assegurada pela Constituição
Imperial de 1823, todo o poder político, ou o poder absolu-
to, residia no monarcha, que era a lei animada na terra.
(Ord., liv. 3.° tit. 73 pr.). Quod principi plàcuit, legis habet
vigorem. (Ulp., frag. 1.0 D. De Const., 1, 4, (App. X). (9)
Depois, na vigencia do regimen constitucional do Impe-
rio (Constituição de 1823, art. 13) a lei passou a ser obra
do poder legislativo nacional com a sancção do imperador,
como hoje é o trabalho desse mesmo poder, com a sancção

(9) Rib. Dir. Adro., pago 207


220 -

do Presidente da Republica. (Const. de 1891, art. 16)


(App. X).
No tempo da monarchia, além das leis propriamente
ditas, decretadas pelo Poder Legislativo, havia a regulamen-
tação de muitas dessas leis, em grande parte, de natureza
administrativa, pelo Poder Executivo.
Havia, além das leis e decretos do Poder Legislativo,
resoluções tambem legislativas; regulamentos e decretos do
Poder Executivo e decretos imperiaes.
As resoluções legislativas eram projectos desta natu-
reza, approvados pelo Parlamento, mas sem a sancção im-
perial.
Os decretos imperiaes eram os que raramente emana-
vam do monarcha, em que se encerrava o poder moderador
(Rib., Dir. Adm., pago 210).
No regimem republicano, as leis que ordinariamente se
conhecem são:
1.0 Decretos do Governo Provisorio, com força de reso-
luções legislativas;
2.° Resoluções e necretos legislativos;
3.° Decretos e regulamentos do Poder Exeeutivo; .
4.° Lei organicas decretadas pelo Congresso Federal na
fórma do disposto na Constituição da Republica, art. 34,
n.O 27. (App. X);
5. ° Decretos, instrucções e regulamentos, expedidos pelo
Poder Executivo ainda na conformidade do disposto na citada
Constituiç~o, art. 49 § 1.0, além de outros actos administra-
tivos igualmente expedidos por esse poder, ·taes como avisos,
portarias, etc.
Esses ultimos actos não teem propriamente força de lei,
mas não deixam de ser decisivos e obrigatorios pelo menos
em relação áquelles a quem dizem respeito.
Ainda em relação ás leis administrativas da União,
notae que as mesmas podem ser: permanentes ou passa-
gei?'as; permissivas ou prohibitivas; imperativas ou facul-
- 221 -

tativas; ampliativas ou restrictivas; retroactivas ou não


'l'etroactivas; de interesse publico ou geral ou interesse par-
ticular ou de excepção,· interpretativas ou declaratorias.

liL Vejamos agora quaes são as sciencias auxiliares


do direito administrativo.
A este respeito, diz Ribas:
« São sciencias auxiliares desse direito:
1.0) A sciencia da administração;
2.°) O direito publico positivo;
3.°) O direito privado.
Realmente, assim é.
- A sciencia da administração é tão necessaria. á for-
mação do direito aàministrativo, que, sem ella, não poderia o
mesmo direito estabelecer com segurança as bases de uma
boa organização administrativa, de accôrdo com as necessi-
dades sociaes.
- O direito publico positivo, por sua vez, tendo intimas
ligações com o direito administrativo, é, por isso mesmo, con-
siderado um dos seus auxiliares.
Bastará réflectir que, conforme a melhor doutrina, este
é um ramo daquelle direito.
E, quanto ao direito privado,são de simples intuição os
pontos de affi.nidade e de contacto, que ordinariamente exis-
tem entre as questões administrativas e as daquelle direito,
comprehendendo tambe~ as de direito commerdal, de direito
internacional privado, etc.
Assim, por exemplo: supponha-se o caso de deferimento
de uma herança á União ou ao Estado.
Essa questão tem o seu principal fundamento no direito
privado; Cod. Civ., art. 1.603, "n. O IV. (App. X)
Mas, apesar disso, é de natureza administrativa pelo
seu processo -o de invÉmtario.
- ·222-

Supponha-se ainda o caso, em que se questiona sobre {)


estado ou a capacidade de estrangeiro residente no Brasil.
E', como logo se percebe, uma questão que versa sobre
estatuto pessoal.
Como resolveI-a? Conforme as disposições não só do
direito civil patrio, como do direito internacional privado, cujo
principio fundamental é que o estatuto pessoal acompanha a
pessoa do estrangeiro, para, de preferencia, reger as condi-
ções do seu estado e capacidade mesmo no paiz onde re~idir.
Mas, de facto, serão sómente aquellas as sciencias auxi-
liares do àireito administrativo, conforme diz Ribas?
Em vez disso, penso haver ainda outras 8ciencias auxi·
liares de~se direito.
Assim, por exemplo, a estatistics, qUf', além de ser
uma set"eneia, é uma necessidade imprescindivel e de impor-
tancia capital, mórmente nos tempos actuaes, para a maior
parte dos serviços e negocios da administração publica.
Sem ella, não se póde ter o conhecimento, exacto, pelo
menos informação spproximada a respeito da população, do
commercio, da industria, da agricultura, da instrucção, da
arrecadação dos impostos, da producção nacional, etc.; e,
assim, não se póde avaliar devidamente a influencia dos
phenomenos, factores ou factos sociaes, qne apontam aos
homens de Estado a trilha a seguir n~ direcção da vida e
desenvolvimento da nação.
Depois da estatistica, a ethnographia, que é tambem uma
parte da sciencia da estatistica e que tem, além disso, por
fim o estudo e a descripção dos differentes povos e suas
raças, línguas, religiões, etc.
E' uma sciencia não sómente anthropologica, mas tam-
bem social.
Por meio deHa se estudam os costumes dos povos,
elemento fundamental das leis, em que se concretiza o direito
objectivo em geral e concomitantemente o direito adminis-
trativo.
- 223-

Ainda por meio deUa se adquirem ensinamentos sobre o


commercio e a industria, sobre as aptidões dos povos, sobre
() gráo do seu desenvolvimento, sobre as condições de sua
vida, de modo a prever o seu destino e o seu futuro; Ency_
clop. Port., voI. 4, pago 530.
Depois da ethnogl'aphia, ainda ha outras sciencias, taes
como a Economia Politica, a Hygiene, a Geographia e a
Historia.

IV. Resta ver, depois disso, os effeitos da ignorancia


das leis administrativas e o papel que 1'epresenta a equida-
de moderando-lhes o r(gor.
A ignorancia da lei, ou o erro de direito, é uma questão,
que se apresenta sob varios aspectos no estudo de sua theo-
ria ou doutrina.
Conforme pondera Ribas (Dir. Civ., voI. 1.°, pago 259),
ou podemos desconhecer. inteiramente a lei de que se trata,
{)u ter della falsa idéa: no primeiro caso, ha ignorancia do
-direito: no segundo, erro de direito.
E Ribas accrescenta:
« Esta ultima expressão é a mais usual entre os juris-
.consultos, porque, de ordinario, não ha absoluta ausencia da
idéa do direito, mas sim uma falsa noção delle. :>
fi. Que a ignorancia e o erro substancial em geral viciam

() aeto juridico, praticado sob sua influencia, é uma das ver·


dades fundamentaes do direito ,acionaI, verdade acceita e
proclamada em diversos textos do Direito Romano» (10).
Entre os textos a que allude Ribas, cumpre conhecer ~s
seguintes:
- « Ignorantia vel facti, vel juris est »; Dig., Iiv. 22,.
tit. 6.°, 1. La;

(l0) Rib., Dir. Civ. cit., pago ~60.


- 224-

- « In omni parte, erro'r in jure non 'eodem loco, quO'


jar.ti ignorantia, haberi debit» .. Dig. lego 2.:1, h. t. ;
- l i Regula est, juris quid ignorantiam cuique nocere;

facti vel'O ignorantiam non nocere,. Dig., lego 9.° e eodem;


- cc Cwn jus finitum esse posset et debeat, facti autem
interpretatio plerumque, prudentissimus fallat »; Dig. lego
2.0 hs. t.
·De accôrdo com estes principios foi· sempre, e continúa.
a ser o nosso direito, como se vê do disposto no Codigo Civil,
art. 5.0 de sua introducção, que assim dispõe:
cc Ninguem se excusa, allegando ignorar a lei ,. nem
com o silencio, obscuridade, ou a indecisão della se exime o-
juiz a sentencia,' ou despachar ». (App. X).

V. Quanto á equidade, é muito commum ser invocada.


nos actos e processos administrativos.
Em theoria, o direito e a equidade se confundem.
O direito, considerado em si mesmo, é o que é justo, o-
que, no fôro intimo, se considera conforme a justiça.
Segundo Aristoteles, a equidade é a modificação, que é
necessario fazer soffrer a lei na Sll& applicação.
E' assim que a equidade muitas vezes se oppõe á jus-
tiça, e se designa pela primeira essa justiça mais humana e
mais completa, que procede menos dos principIOs abstractos e
das regras escriptas, do que da inspiração directa da con-
BClenCla.
Donde eu concluo, de accôrdo com a lição dos mestres,.
que a equidade é a jUiJtiça exercida, não conforme a letra da
lei, mas se,qundo um sentimento de rectidão moral.
Dcpoi~, cumpre ainda notar, que entre a justiça e a.
equidade, ha não só pontos de analogia, como differenças es-
senciaes. Tem pontos de analogia na inteireza, que se requer
da parte de quem julga, na conformidade com a razão, com
-225 -

o direito, com a lei e com o dever que tem o julgador de


ser justo, moderando o rigor da lei a applicar.
Certamente por isto dizia A. Karr:
{( A equidade é a lei eterna; seu código é a razão j a
justiça, propriamente dita, é, por vezes, o seu reflexo D.
A equidade differencia-se da justiça em que esta é um
dever, sempre indeclinavel e forçoso, ao passo que a equi-
dade é antes uma virtude.
A justiça suppõe o direito; a equidade, pelo contrario,
não se occupa absolutamente com isso.
E' o qu'e se póde dizer - um mixto do sentimento com
a razão.
Na Inglaterra, a taxa dos pobres tornou-se uma pro-
priedade dest:\ parte da população; dahi o facto de cada in-
digente ter direito a uma parte, que lhe nào pode ser ne-
gada nem diminuida.
Finalmente, sénhores, para bem S6- avaliar quanto a in-
fluencia da equidade é, por vezes, util e bemfazeja nas rela-
ções dos administrados com a administração, é preciso, pelo
meno!!, que se tenha alguma vez soffrido uma injustiça.
Por isso, com toda a razão, dizia o abbade Bautain :
, « Só aquelle que uma vez já passou por essa provação
pode devidamente sentir e apreciar a' equidade»).

DIREI'lO ADIUNISTBATIVO i5
DECIMA TERCEIRA LIÇÃO

Synthese histürica da sciencia da administração no Brasil desde


os tempos coloniaes até o advento da' Republica.

Meus senhores:
1. Incidentalmente, mas a proposito, eu disse, na pre-
cedente lição, que o nosso direito administrativo tem passado
por tres phases successivas det;de o seu começo:
- A 1.", a datar do periodo colonial, anterior á procla-
mação de nossa independencia, quando todo o poder poZitico,
ou o poder absoluto, residia no monarcha, que era, na phl'ase
da ordenaçlo, a lei animada na terra;
- A 2. a, a partir de 182:d, quando foi proclamada a
independencia do Brasil, ou, mais precisamente, desde o
inicio de sua vida constitucional, em 1823.
- A 3.", finalmente, a datar da proclamação da Repu-
blica, em 1889. .
Na lição de hoje, por uma sequencia de· idéas na prdem
do nosso estudo, tentaremos fazer, em obediencia ao ponto,
. uma synthelfe h/storica da sciencia da administração no
Brasil desde os tempos coloniaes até 08 n08SOS dias.

No periodo colonial, e mesmo no começo do periodo


constitucional, toda a nossa. legislação administrativa era
esparsa; em relação aos negiroios, propriamente do Brasil,
não constituia um corpo de doutrinas; era composta, conforme
- 227

diz Ribal', aos retalhos, segundo as exigencias da occa,çião e


as inspirações das ideias do momento.
Não havia methodo nem vestigios de espirito systema-
tico. Foi Ribas um dos que tomaram a si a tarefa de syste-
matisar, entre nós, esse direito.

No periodo colonial não se concebiam terras sem senho-


rios. Esses senhorios eram os donatarios, a quem a munHicen-
eia do Rei enriquecia com a doação de largas faixas de
terras a titulo de sesmaria.
Sesmaria significava, desde o tempo de D. Fernando
I, a doação de terras, então abandonadas, feita, a principio, .
pela Corôa, depois pejas camaras, a quem a Corôa permittia
que se dessem por esse modo, pagando o sesmeiro a sexta
parte dos fructos. A esta sewta parte chamava-se primeira-
mente sesma e depois o sesmo (sexto); (Encyclop. Port., vol.
10, verbo Sesmaria).
Vinha dahi o estatuto adoptado, .que assim instituira no
Brasil uma especie de l'egimen feudal.
. A Corôa, l!ão só pela conveniencia de povoar e cultivar
8S terras descobertas, como porque precisava de recursos
para custear as navegações e conquistas, ordenou que nenhu-
ma concess~o se fizesse de sesmaria sem a condicional dos
direitos pertencentes ri. Ordem de Christo (1); o que logo se
<lomprehende, pela união, que então havia, da Igreja e do
Estado. .' .
Dessa união dds dous poderes . (a Corôa e a Ordem
resultou a obrigação assumida por esta de correr com as

(I) D. Ele Vasc., Thes. publico na Hev. do Inst. Hist., 3.° vol.,
(la~: 285.
*
-'-'- 228 -

despezas das igrejaserectas em paizes conquistados, 8SSU-


mindo, por isso, o padroado respectivo (li).
As terras que hoje diriam os - propriedade collectiva da
Nação, pertenciam ao se~horio da Corôa.
A terra dividida em senhorios, dentro do senhorio do
Estado, eis (diz o historiador) o systema geral administra-
tivo da época em que se descobriu o Brasil.
Sendo esse o systema, eUe, comtudo, soffria excepção.
Exceptuava-se do mesmo regimen a terra municipal das
cidades, isenta da senhoriagem, tradicionalmente livre.
As cidades assentavam· se em suas proprias terras colo-
niaes. Ellas perpetuavam em si o municipio, independente e
livre, governavam-E e por suas curias, hoje camaras electi-
vas (9).
A esse tempo, fazia-se distincção, como ainda hoje se
faz, entre villa e ·cidade.
.4 villa Dão podia ser, como a cidade, isenta de senho-
riagem, tradicionalmente livre, pois não se fundava em terras
proprias.
Os bispos eram então nobres de primeira grandeza,
principes titulares.
Não podiam resistir (e nem o papa consentiria) em
villas (4).
Consequentemente, quando se creavam os bispados no
Brasil, o Rei, em qualidade de grão-mestre da Ordem de
Christo, emancipava a terra, e, assim, na qualidade de sobe-
rano, elevava á categoria de cidad~ a villa destinada á séde
episcopal.

(2) D. de Vasc., Thes. publico na Hev. do Inst. Hist., 3. o vol.~


pag.285. .
. (5) D. 'de Vasc., Thes; cit.; ReT. lambem cit., pa·g. ~6.
(4) D. de Vasc., Thes. cito ; Rev. tambem cit, pago 286.
- 229 -

Póde· se, pois, afiirmar (diz o iIlustre historiador a quem


me tenho referido) que a primeira linha de governo, havido
pelo Brasil, foi o municipio.
Na eleição das respectiyas camaras era expressa e ter'-
minantemente prohibido que os senhores e os poderosos assis-
tissem ou de qualquer modo nellas interviessem.
Aos vereadores competia, cada um, no seu anno verear,
isto é, andar vendo como se cumpriam as posturas d~ Con-
selho, quaes as necesst"d'ades novas, os abusos, para sobre
elles providenciar; como se conS8rt'aVam os bens de munici-
pios; como se abasteciam os mercados, evitando a ruindade,
a carestia e· o atravessamento d08 vivere8 (5).
Pelos almotacés o procurador fazia proceder a aferição
dos pes08 e medidas,' "e pelos fiscaes a 'qualidade e o preço
dos generos; a limpeza das' ?'Uas e logradouros," a pU1'eza
das fontes; o policiamento, em summa, da localidade, no
interesse que os moradores 1,ivessem uns sem prejudicarem
os outros (6).
O procurador, emfim, executando as leis e ao! ordens da
CamaTa, era·o chefe do municipio; representaI/a-o em juizo,
e com sua presença, quando necessaria, fazia executar os ser-
'/.,iços" pagando as despexas e mandando arrecadar os impos-
to.'! e rendimentos do Conselho (1).
Pelo despedaçamento do Imperio, sobreviveu o munici-
pio,' visto ser de todos o organismo natural 8 necessario,
prolongamento da familia.
A descentralização dava ao Reino, em seus primeiros
tempos, o aspecto de uma federação de senhorios e cidades
presidida pelo Rei e symbolixada pela Corôa (8).

(5) D. de Vasco Thes. cit., publ. na Rev. tambem cit., pago 286.
(6) D. de .vasc. Thes. cit., publ. na Rev. tambem cit., pago 286.
(7) D. de Vasc., 1'hes. cit., publ. Da Rev. tambem cit., pago 286.
(8) D. de Vasc., Thcs. cit., publ. na ,~{ev. tambem cit., pai'. 286.
- 230 --"

Engendrou-se então uma especie de feudalismo; muitas


doações de terras foram feitas.
Por esses foraes, que encerravam verdadeiros pactos
entre· a Corôa e 08 donatarios, ficaram estes investidos de
direitos senhoriaes, podendo prover livremente, a-seu criterio,
á policia civil e administrativa em sua respectiva ci1'cums-
criPÇão, instituindo villas e oflicinas, nomeando serventuar;~s,
ouvido,res e ofliciaes de justiça, observando entrementes as
Ordenações e leis do Reino. .
Podiam crear e arrecadar impostos; percebendo, além
disso, de certos impostos régios uma porcentagem depOis de
cobrados pelos collectores geraes .
. Tinham para ~i a navegaçi10 e • passagens . de rios, e
tambem a cabotagem dos portos de seu littoral.
Possuíam, de pleno direito, -o monopolio de moagem, de
fabricas industriaes, e assim outros privilegios.
Pertenciam-lhes os escravos, que, em determinados casos,
lhes era licito fazer, podendo até mandar vendel-os, em certo
numero, a Lisbôa.
Tinham o direito de mandar medir umas q~ntas le-
guas de chão para si em propriedade pessoal e de con.ceder
sesmarias a colonos; em ambos os casos, porém, com a clau-
sula de pagarem os dizimas da Ordem de Christo (9).
O Rei, por seu lado, reservou para si o direito pleno ao
sub-solo, ao estanco do páo.brasil e de outras especiarias; os
impostos alfandegarios; mas, sobretudo ainda o poder mili-
tar; que ficaria independente dos donatarios (10).

No que respeita ao legislativo, era exercido unicamente


pelo Rei, que era, como já tive occasião de dizer, a lei viva.

(9) Do de Vasc., Thes. cito publico na Rev. tambem citada, pago 29l:!.
(10) D. de Vasc., The~. cito publico na Rev. lambem citada, pago t9Z
- 231 -

o judicial era con~ado a mini/ftros, que o exerciam em


tanta independencia quanto hoje não é maior.
Em relação ás co usas da Fazenda Real, a sua dlrecção
era confiada ás Juntas, cujas deliberações Se' tomavam á
maioria de votos, sendo ellas compostas do provedor, do pro-
curador do Thesoltro e do escrivão.
E, todavia, a Fazenda Real era um organismo completo,
com. o seu contencioso e a immensa rêde de funccionariot',
instituto que envolvia interesses de toda ordem (11).
Outro instituto t!xcepcional, que tambem existia, foi o da
Guarda-moria das Minas, no qual o governador de mono'
absoluto, em obediencia ás ordens régias expressas, não in-
tervinha: e, todavia, foi esse um apparelho sobremaneira im-
portante em seu tempo, visto como t'ersava em fontes de toda
a riqueza particular ou publica.
O guarda.;.mór, por via de seu regimento, dava e tiral;a
minas a quem. lhe parecesse, agindo por meio de processos
summarios, sem appello riem aggravo, ao passo que nomeava
guarda-móres districtaes e todos os mais serl'entuarios de sua
administração.
A Intendencia dos Diamantes foi outro serviço com re·
gimento proprio e pessoal independente (11).
Um lado, porém, maior de circumscripção imposta á au-
toridade do governador foi o ecclesia:stico, mas este travado
em consequencia do regimen politico. geral do proprio reino.
Eram dous poderes frente á frente.
A igreja tinha. o seu fôro privilegiado, seu governo a~t­
tonomo, que punha fóra ria autoridade civil todo o pessoal do
seu serviço.
O braço secular não tocava em clerigos, ainda menos
nas de ordens menores.

(11) D. de Vasc., Thes. cit. public. na Rev. tambem citada, pag.295.


(12) D. do Vasc., Thes. cit. publico na Rev. lambem cit. pago 295.
- 232-

Os bens ecclesiasticcs e assim as pessoas dependiam do


seu fôro especial; e perante este respondiam os sacerdotes,
que violavam as proprias leis commUDS, bem como os S€!3U-
lares que delinquiam, si os delictos affectassem as pessoas e
bens sagrados.
Nô juizo ecclesiastico processavam-se até inventarios, em
que a Igreja fosse a principal interessada.
Esse regimen, entretanto, era harmonico do melhor mOJo,
como podia ser, apesar de sua duplicidade, visto o Rei ser o
grão-mestre da Ordem de Christo, á qual pertencia o pa-
droado.
Por <llle se entendia a faculdade, conferida ao imperante
pelo governo pontificio (pontificis concessio) de apresentação
de clerigos para os beneficios ecclesiasticos (J. Barb., Com-
ment. á Const., pago 306).
A partir do seculo XIV, a tendencia dos reis para a
centralização despertára as theorias omnipotentes doCesarismo
romano; e dahi essa fórma absoluta do poder pessoal, que
ac~bámos de ver, e que, pouco a pouco, ou por golpes de
Estado, foi absorvendo as liberdades locaes, como então se
chamavam as instituições particulal'es de administração por
senhorios e municipios. (13)
Em 1532, por disposição do Rei de Portugal, foi o Bra-
sil dividido em capitanias hereditarias de 59 leguas ou mais
de costa cada uma, e repa1'tida8 por donatarios.
Os donatarios receberam direito de posse perpetua e he-
reditaria com os titulos de capitão e governador, sendo· lhes
facultado escravixarem os indios, cujos serviços lhes fossem
necessari08. (1')
Foram doze as capitanias creadas, sendo uma das mais

(13) D. de Vasc., Thes. cit., Rev. tambem cit., pa{l.


(I') Estevanez, Hist. da Amer., .pag. l1J.3.
- 233-

import'lntes a de S. Vícentp, compost.l das colonías desse


nome ti de Piratininga. (15)
As outras capitanias foram: Santo Amaro, Parabyba do
Sul, Espirito Santo, Porto Seguro, I1héof', Bahia de Todos os
Santos) Pernambuco, Ceará e J.\IIaranhãe>. S), e
Em 1573 foram .as antigas c..pitanias ,redurida8 a duas,
que ficaram sendo. as sédes de dous governos distinctos: o do
Norte, na cidade de São Salvador e o do Sul, na do Rio de
J~miro, tendo. cada um o seu governador.
Em 1577 tornou o governo de Portugal a l'eunÍ1' a
administração do territon:o b1'asileiro em um l~Ó gove1'no,
centralizado na Bahia, sendo Luiz de Brito e Almeida no-
meado governador.
Aqui tendes, senhores, em Rynthese, o. que foram o. di-
reito administrativo e a 8ciencia da administração no. Brasil
desde a data de sua desco.berta 'até a da plo.clamação de sua
independencia, o.u, mais particularmente, desde a sua eman-
cipação. política pela o.uto.rga da CarLa Constitucional em
1823.

n. V t'jamo.s ago.ra a transformação por que, passaram


aquelle direito e a sua sciencia no regimen do Imperio.
Po.liticamente, passou o. Brasil a ser uma nação livl'~ e
indepen'dente; Co.nEot. Imp., 'art. 1.0 (App. XI).
O seu territOlio, que antes era distribuido de graça aos
favoritos e ao talante do. Rei, foi dividido em 'provincias, pas-
sando cada uma a ser constitucionalmente administrada por
um presidente nomeado pelo Imper~dol'. Co.nst. cit., arts. 2,
3 e 165. (App.XI).
A religião catholica, apo.stolica, ro.mana continuou a ser
a religião do. Imperio. (CODst. cit.) art. 5.°)

(1~) Estevanez, Hist. da Amer., pago U3.


(1 6) Estevanez, Hist.da Amer., pago 143.
234,

Como consequencia, passou de um para outro regimen (}


direito do padroado.
ERtabeleceu·se a divisão e a' harmonia dos poderes poli-
ticos, dos quaes fazia parte o Poder Executivo (Const cit'i
artE'. 9 e 10), e dest~ se destacou como uma sub-divisão (}
poder administrativo. (App. XI).
O direito administrativo, como complexo de leis, passou
a ser, não a manifestação da vontade do Rei, como era dan-
tes, e sim (pelo menos, em theoria!) a expressão da vontade
do povo livremente manifastada pelo poder legislativo (Const.
cit., art. 15).
Cada provincia tinha seu conselho geral, com attribuições
legislativas, para propôr, discutir e deliberar sobre todos os
negocios peculiares á mesma, accommodados ás suas locali- ,
dades e exigencias. (Const. cit., art. 81). (App. XI).
Creou-se o Conselho de Estado, para ser ouvido em
todos os negocios geraes e medidas da publica administraçãO'
(Const. cit., art. 142).
O voto desse Conselho era méramente consultivo; apesar
disso, porém, os respectivos membros eram responsaveis pelos
conselhos que déssem, oppostos ás leis e ao interesse do Es-
tado, manifestamente dolosos. (Const. cit., art. 143). (App. XI).
Em todas as cidades e villas que então existiam, e nas
que para' o futuro se creassem, estabeleceram-se ,camaras.
m~nicipaes, ás quaes competia o governo' economico e muni-
cipal das mesmas cidades e villas. (Const. cit., art. 167).
(App. XI).
Tudo o que dizia respeito á organização ,municipal, á
competencia e ás attribuições dessas camaras passou a ser
regulado pela Lei de 1 de ;:;etembro de 1828.
Constituiu-se a Fazenda Nacional debaixo do nome de
- Thesouro Nacional; repartição administrativa, incumbida
da arrecadação e contabilidade da receita e despeza do Esta-
do. (Const. cit., art. 170). (App. XI).
Em parte especial da mesma foram não só declarados,
- 235-

como garantidos todos os direitos civis e politicos dos cidadãos


brasileiros. (Const. cit., art. 179). (A pp. XI).
Em consequencia di"so, varias leis constitucionaes e
administrativas foram successivamente votadas; assim como
muitos decretos foram expedidos pelo Governo, remodelando
serviços e dando novas fôrmas a outros creados pela Consti-
tuição.
Emquari~o isso se fazia, o trabalho mais importante da
primeira legislatura foi o da Lei. de 16 de Dezembro de
1830, que decretou o Codigo Oriminal, só muitos annos
depois substituido pelo actual Codigo da Republica, promul-
gado pelo ];}ecreto n.~ 847, de 11 de Outubro de 1890.
O 2.° foi oda Lei de 29 de Novembro de 1832, que
promulgou o Codigo do Processo Criminal de primeira
instancia ácerca da administração da Justiça Civil.
O 3;°· foi o da Lei n.O 556, de 25 de Junho de 1850,
que decretou o Codigo Commercial.
Não se podia desejar maior surto .do poder legislativo
brasileiro no curto periodo. constitucional de· 26 annos.
Além dessas leis fundamentaes, codificadas, tinha o
Brasil outras leis da maior importancia, que igualmente
figuravam no corpo de sua legislação.
Para falar sómente dOI! primeiros decretos e leis admi-
nistrativas, que são as que principalmente neste estudo nos
interessam, apontarei as seguintes:
- Decreto de 28 de Janeiro de 1824, mandando supprir
pelo Thesouro as despezas com o aldeamento e a civilização
dos indios b9tocudos do Rio Doce, na provincià do Espirito
Santo;
- Carta Imperial de 24 de Maio de ·1824, mandando
applicar ás minas que se descobrirem os regulamentos e
ordens antigas por que se regem as provincias mineiras;
-Decreto de 9 de Janeiro de 1825, creando proviso-
riamente um curso jurídico na Côrte;
....;,. Decreto de 1-7 de Fevereiro de 1825, declarando
- 236-

e:ffectiva~ na fórma' da Constituição, a responsabilidade dos


empregados publicos;
- Decreto de 3 de Março de 1825, concedendo autori-
zação a Raid e outros capitalistas de Londres, para formarem
uma sociedade para a mineração de ouro, prata e outros
metaes na provincia de Goyaz; .
- Carta 1mperial de 18 de Maio de 1825, conctldendo
ulna loteria annual, por {'"spaço de 10 annos, em favor do
Hospital de S. Pedro de Alcantara, da cidade de Goyaz;
- Decreto de 31 de :l\'faio de 1825, regulando a
cobrança do dizimo dos g('neros de exportação;
--:- Decisão n.O 41-Fazenda-de 10 de Mar~o de 1826,
providenciando sobre a compra e remessa para Londres do
páo- brasil;
- Lei de 15 de Outubro de 1827, e!ltabelecendo a res-
ponsabilidade dos Ministros e Secretarios de Estado;
- Lei de 4 de Outubro de 1831, organizando o Tribu-
nal do Thesouro Nacional, com attribuições administrativas
contenciosas;
-- Lei de 25 de Outubro de 1832, marcando a fórma
de' concessões de cartas de naturalização;
- Carta de lei -de 12 de Outubro de 1832, autorizando
a reforma, em alguns pontos, da Constituição do Imperio;
-Acto Addicional de 12 de Agosto de 1834, refor-
mando o art. 71 e outros daquella Constituição;
- Lei n.O 105, de 12 de Maio de 1840, ínterpretando
alguns artigos da reforma constitucional (1834);
- Lei n.O 234, de 23 de Novembro de 1841, creando
novo Conselho de Estado;
- Lei n.O 242, de 29 de Nove~bro de 1841, restabele-
cendo o privilegio de fôro para as causas da Fazenda Nacio-
nal, e creando um juizo privativo dos' Feitos da Fazenda da
1. a instancia;
- Regulamento n.O 142, de Õ de Fevereiro de 1842,
creando o regimento provisorio do Conselho de Estado;
- 237-

-Decreto n. O 353, de I:! de Julho de 1845, designando


os casos de desapropriação por utilidade publica geral ou
municipal;
-Lei n. O 601, de 18 de Setembro de. 1850, dispondo
sobre as terras devolutas do Imperio e acervo das que são
possuidas por titulo de sesmaria sem o preenchimento das
condições legaes, bem como por simples titulo de posse
mansa e pacifica; determinando, que, medidas e demarca-
das as primeiras, sejam ellas cedidas a titulo oneroso, tanto
para empresas particulares, como para o estabelecimento de
colonias de nacionaes e de estrangeiros, autorizado o Governo
a promover a colonização estrangeira na fórma do que se
declara;
- Decreto n. O 2.433, de 15 de Julho de 1859, man-
dando exec.utar o regul.amento para a arrecadação dos bens
dos defuntos e ausentes, vagos e do evento.

Como vêdes, senhores, comparado esse direito com o do


regimen colonial, a differença é enorme.
Era tão liberal a üonstitjlição do Imperio, que muitas
de suas disposições foram transplantadas para a Constituição
da Republica.
O progresso, portanto, do nosso direito monarchico-cons-
titucional, em relação ao do periodo colonial, é innegav~l.
Desta sorte, tanto a Constituição Politica, como os Codi-
gos, de que fiz menção, se inspiraram nas idéa.s da escola
historica, então em voga, o que significa que foram podero·
samente influenciados pelos ensinamentos, universalmente
vulg~rizados, da Revolução Franceza.
No que respeita ao Direito Civil, serviram-nos de codigo
até 31 de Dezembro de 191ó os quatro primeiros livros das
Ordenações Philippinas, já em desuso no paiz de sua origem
desde o anno de 1868, quando entrou em execução o novO·
Codigo Civil Portuguez, por força d~ Carta de Lei de 1 de
- 238-

Julho de 186i. (Dias Ferreira, Cod. Civ. Porto annotado,


voI. 1.0, pago IV).
A 1 de Janeiro de ~ 916 começou a vigorar o nosso
Codigo Civil.
Apesar disso, porém, ainda não estamos de todos liber-
tados dBS Ordenações do Reino, porquE", como sabf'is, o
Codigo Civil apenas se refere ao direito substantivo.
Não cogita, portanto, do direito adjectivo ou processual,
a cujo respeito ainda continuam em vigor, entre nós, regras
e preceitos daquellas Ordenações.
Quer isto dizer que, apesar da infinidade de leis pro-
ceSBuaes, dispersas na nossa legislação, ellas ainda não pude-
ram suppril' a falta (que todos sentem) de um Codigo do
Processo Civil e Commercial, que, de todo, nos emancipasse
das formulas antiquadas das mesmas. OrdenaçõeE' ..
Não é que disso já não houvesse cogitado o Governo da
Republica.
No uso da autorização contida no art. 59 da Lei n.O 1.338
de 1905, o Governo, depois de perseverante tràbalho de mais
de um anno, de uma commissão presidida pelo Ministro da
Justiça e Negocios lnteriore!l, approvou pelo Decreto n.O 332,
de 3 de Novembro de 1910, o Codigo do Processo Oivil e
Commercial do Districto Fed~raI. (App. XI)
Anteriormente, já havia, p~lo Decreto numero 8.f?õ9 de
1910, approvado o Codigo do Processo Oriminal tambem
deste· districto. .
Dá-se, .depois disso, a successão de novo governo pela ter-
minação do periodo presidencial naquelle anno, e um dos pri-
meiros actos do novo Presidente e de seu Ministro da J:ustiça
foi ~adiar, pelo Decreto n.O 8.435, de 14 de Dezembro de
1910 a execução dos dous referidos Codigos I
A esse tempo já elles se achavam na Camara dos Depu-
tados, para serem definitivamente approvados pelo Con-
. 'gresso.
O facto é, porém, que, .desde então até agora, o Con-
- 239-

gresso ainda não teve tempo de approrar ou rE'jeitar aquellas


codificações!
Tem ido assim o Congresso muito além do entrave
o

<>pposto pelo Governo de 1910 á execução dos dous referidos


Codigos, tão necessarios á Justiça local deste districto!
E nem isso admira. Em geral, os negocios fUjeitos á
deliberação do Congresso correm sempre á vontade do Go-
verno.
E quando não é assim, as medidas que quasi sempre
são preferidas por qualquer das duas camaras, são precisa-
mente as que, sem nenhum inconveniente, poderiam ser
adiadas.
Apesar disso, porém, pensando-se devidamente, não ha
razão pura se dizer mal do Congresso.
Ha em psychologia politica (quem o não sabe?) um
principio, que, especialmente no que respeita aos corpos le-
gislativos, domina todos os outros: « il faut vivre d' abord,
durer, eviter les oifaires gênantes ".
o Depois, é preciso ser justo! Não ha um dos eleitos do
povo, que não se mostre sempre animado das melhores in-
tenções e cheio de boa vontade; e, francamente, ojá não é
pooool .
A Lei n. O 1.338, de 1905, autorizando o Governo, no
art. 59, a codificar as leis do processo civil, commercial e
criminal, abolindo as formulas, termos e praxes inuteis de
modo a simplificar o pro~sso, sem prejuizo dos direüos das
partes, ordenou, outrosim, que fosse a mesma codificação
submettida á approvação do Congresso Legislativo, mas sem
prejuizo de sua immediata execução. (Lei cit., art. 5!:"l, para-
grapho unico).
A verdade, porém, é que, apesar °da clareza de tão ter-
minante disposição, o Governo de 1910 achou meio de illu-
dir a lei, impedindo a execução dos Codigos, adiando-a para
as calendas gregas!
A lei é clara, mas o poder é o poder 1
- 240-

Para o Governo ha sempre meios de interpretar a lei á,.


sua vontade.
Geny dizia que via na lei uma especie de odre t'asio, .
.que cada um enche a seu gosto! ..•

Temos, por consequencia, ainda em vigor, como leis,_


igualmente do nosso processo, o residuo daquelle corpo de le-
gislação mutilado, verdadeiro anachronismo, que de nenhum
modo SP. justifica na época actual.
Não se concebe que continuem em vigor no Brasil leis'
que já foram repudiadas pelo proprio paiz de proveniencia!
E' uma legislação que ainda agora reune em um só
corpo leis e direitos heterogeneoH!
Nella se encontram de mistura matPrias de direito subs-
tantivo e adjectivo ou formal, preceitos e regr.as de mireito·
não ~ó civil, como canonico e administrativo.
O li vro 1.°, pur exemplo, só se occupa com regimentos,.
attribuições, direitos e deveres de ordem civil. (Cand. Men-
de!!, Cod. Philip., pago XXIV.)
No segundo se acham definidas as relações da Igreja e
do Estado e os privilf'gios de que o mesmo gosava, e que·
hoje não teem razão de ser, depois da separação da Igreja e
do Eetado pelo Dec,reto do Governo Provisorio, de n. 119-A,.
de 7 de Janeiro de 1890, posteriormente confirmado pela
Constituição da Republica.
Ainda nesse livro se acham compr ehendidos e deânidos
. os direitos do fisco; assim como differentes privilegias da no-
breza, que a mesma Constituição aboliu (art. 72, ultima
parte do § 2.°). (App. lI).
O livro terceiro occupa-se particularmente com o pro-
cesso civil (Candido Mendes, obra citada, pago XXV), hoje
profunda e substancialmente alterado por' tàntas leis dessa.
especie, decretadas tanto pela União, como pelos Estados.
- 241 -

Occupa se, por igual, com a regulamentação do direito


subsidiario, que se deveria seguir em falta de lei patria, e
que foi revogado, diz Candido Mendes, pela Lei de 18 de
Agosto de 1769.
O livro quarto comprehende o direito das pessoas e cou-
sas sob o ponto de vista civil e commerc:ial (Candido Mendes,
obra citada, pago XXIV); disposições que não estão mais
em vigor; as!'im como as referentes aos rontractos e testa-
mentos, materias hoje reguladas Pêlo Codigo Civil, e, muito
antes disto, na parte eommercial, p ... lo Codigo do Commercio.
Quanto ao livro quinto, é total a abrog-aç1to de ~uas leis.
Demonstrada, por este modo, a differença quc vae entre
o direito ol!jectivo do regimen colonial e o do regimen mo-
narchico, notemos ainda, que a systematização dos principios
do direito admini"trativo, base da sciencia da administração,
foi o grande trabalho dos no~sos mais notaveis juriseonsultos
no regimen pasMdo, tae:s ,como o Visconde de Uruguay, ,Ri-
bas, Veiga Cabral e outros tJ.aquelle tempo.
o

lU - A synthese, porém, que tentei esboçar na presente


lição, ainda não está completa.
Palta fazer a comparação do direito e da sciencia da
administl'llção no tempo da monarchia com esse direito e a
sua scÍ/mcia no regimen actua1.
ReHirnen representatico: era, tanto quanto possivel,
naquelle tempo, ass~nte em priqcipios liberaes. Sob este ponto
de vista, pois, em nada lhes leva vantagem o regimen repu-
blicano.
Ha apenas a notar uma differença entre as naturezas
dos dous referidos regimens: a de intitular-se a nossa Repu-
blica Federativa um regimen não só representativo como
essencialmente democ1·atico.
DIREiTO AD~UNIS'J'RATrvo
16
~ 242-

Não sei si na pratica este conceito da Federação Brasi-


leira tem correspondiào á realidade dos fhctoS!
O que sei é que o actual regimen, apesar de não poucos
defeitos, de que se resente, assenta, por outro lado, em prin-
cipios que merecem não só a acceitação, como os applausos
de todos 08 brasileiros.
- A garantia da união perpetua e z'ndis8oluvel das an-
tigas p?'ovincias (Const. Federal, art. 1.0) hoje Estados da
Federação, é, a meu vêr, o primeiro desses principios.
-A autonomia, assegurada pela mesma Constituição, a
cada um desses' Estados, é, além de uma disposição jueta,
uma necessidade. O mal tem consistido na int~rpretação erro-
nea do texto constitucional a este respeito, devido á qual hoje
se pretende que os Estados são soberanos'.
- Quanto ao poder legislativo (diga-se a verdade) o da
Republica ainda não se mostrou superior ao poder legislativo
monarchico.
Pelo contrario: comparadas as leis de hoje com as
daquellei! tempos, logo se patenteia a superioridade das leis
do antigo sobre as do novo regimen.
Relati vamente á Justiça, a innovação do, novo regimen,
em vez de ser um bem, tem sido um mal, de effeitos incal-
culaveis para o paiz.
Quereis ver o juizo que se fórma na Europa a respeito
(entre outros) do nosso paiz? E' este: « As Republicas
sul-americanas, por terem muito servilmente copiado a
Constituição Federal, instituíram um regimen politieo que
seguramente não havia funccionado nos Estados Unidos.»
(Jean Cruet, A Vida do Dir., pago 306).
O Braeil nada tem lucrado eom a dualidade da Justiça,
que continúa a ser um erro, que, pelo menos, a maioria da
nação, não só reconhece, como deplora.
Não foi feliz a idéa de dividir-se e tirar-se a Justiça
Brasileira da sua nobre funcção (outr'ora pUl·a, e simples-
mente restricta á applicação da lei aos casos da sua compe-
- 243-

tenda) para, mudando a sua natureza, transformal-a em


poder politico, especialmente incumbido de dar combate á
omnipotencia do parlamento! .
A consequencia é que, em vez de um só poder politico,
tão. cheio dos perigos e inconvenientes apontados na Exposi-
ção de motivos, que precedeu ao decr.848 de 1890, temos
actualmente dois poderes dessa natureza (e de mais a mais
antagonicos), s~m nenhuma vantagem para o equilibrio (que
!;empre existiu) dos poderes constitucionaes no Brasil, e ainda
menos para: a administração da justiça, ca~a vez mais com-
plicada, demorada e incerta em todo. o paiz !
Não PÓ a este, como a outros respeitos, os legi8ladores
de 1891 não conseguiram transplantar, apenas transpuzeram
o regimen federativo norte·americano para o Brasil!
Esqueceram que o verdadeiro direito de um paiz não é
o que se imita.
AR verdadeiras leis de um paiz são as que se formam
consoante os costumes, usos e tr~dições do povo, se harmo-
nisam com a educação do mesmo e correspondem ás suas
necessidades. Com pleno conhecimento ne causa, posso affir-
mar, sem receio de ser contestado, que o Brasil não tinha
nem tem necessidade de duas justiças!
Sob o ponto de vista dos direitos individuaes, as duas
Constituições se equivalem. Ambas são fundamentalmente
liberaes, cabendo á Constituiç~o Imperial a prioridade na
abolição dos açoites, da tortura, da marca de ferro quente
e de todas as mais penas crueis ,. (art. 179 n.O XIX) assim
como no estabelecimento da inviolabilidade dos direitos civis
e políticos dos cidadãos brasileiros, que (eem pOI· base a
liberdade, a segurança individual e a propriedade, todos
reproduzidos na Constituição da Republica, art. 72 (App. XI).
E' que, no maís sombrio da nossa existencia colonial,
já havia, no intimo dos nossos maiores, as justas aspirações
do direito e da liberdade, pelas quaes muitas vezes se
bateram I
*
DECIMA QUARTA LIÇ10

Estado actual do direito administrativo nos paizes mais cultos,


e particularmente no Brasil, onde é uma necessidade a sua
codificação.

Meus senhores:

1. Faremos, na lição de hoje, nova dig'reE'são.


Importa muito ao objecto do nosso estudo o conheci-
mento do estado aclual do direito administrativo entre os
povos mais cultos.
Só por este meio poderemos estabelecer a comp~ração
do direito administrativo brasileiro com o de outros paizes
da Europa e da America.
Antes da guerra actual, que lia mais de quatro annos
convulsiona o mundo e confla.gra quasi todos os povos, havia
mais ou menos normalidade na vida das nações.
H~ie, porém} não ha direito que não tenha sido, depois
disso, duramente sacrificado pelos governos empenhados na
lucta.
A grande lei é a da salvação dos Estados e não a dos
povos.
E', por consequencia, a inversão da antiga maxima-
saIu.'! populi suprema lex est, que, antes disto, já era sophis-
mada pelos governos, como tive occasião de demonstrar no
correr de minha segunda lição.
Principalmente hoje é a consequencia inilludivel, tyran-
nica e fatal do sangrento conflicto, que horrorisa o mundo.
- 245-

NOSBO estudo, portanto, por força das circumstancias,


tem que abstrahir du periodo excepcional da guerra.
Limitado, além disso, ao direito administrativo propria-
mente dito, teremOB occ3Bião de vê r, que eBse direito varia
tanto entre OB. povos da Europa, como da America.
Todos OB paizes da Europa continental (diz Houriout)
estão em pleno regimen adminiBtrativo, embora em gráus
deBiguaeB. e)
o meBmo, porém, não acontece em relação aOB paizes
anglo- saxonios, especialmente na Inglaterra e nos Estados
Unidos da America do Norte. (2)
Nesses dous paizes não ha o que em outros se conhece
como regimen administrativo.
Ha leis administrativaB, maB não ha um corpo especial-
mente formado por eSBa especie de leis.
Ha podereB que decretam leis desBa natureza, mas não
ha uma organização, que, como ramo do direito publico, se
possa considerar um prolongamento delle sob a denominação
de - poder administra tiro.
Seria interessante saber qual dos dous systemas, funda-
mentalmente oppostos, como Be vê, é o melhor, e, por isso
mesmo, o preferivel.
Tudo depende de saber primeiramente onde eBtá a ver-
dade, que, a respeito desta questão, se nos apresenta como
uma ineognita!
E' um/). questão, que, a meu vê r, não póde Ber resolvida
com simples conhecimentoB theoricoB.
«Não ha sinão um meio pat'(t 1'econheceí' a lei e com-
pl'elzender a legalidade,' é estudar as lús como phenomenos
historicos e sociats nos seus Ca1'acteres observaveis. (3)
EBtudaremos, pois, as leis administrativaB dos paizeB

(I) Houriout, Dl'oit Adm., pago 2.


(2) Houriout, obro cit., pago 2.
(3) Jean Cruet, A Vida do Direito, pag_ 13.
246 -

mais adeantados como ph~nomenos historicos e sociaes, con-


forme ensina Cruet.
Depois, faremos a comparação do seu estado actual e
dos seus resultados.
II. Começaremos pelos paizes da Europa.

-Inglaterra. Não existe cônstituição nesse paiz, se por


esta expressão se quer designar um estatuto fundamental or-
ganizando os poderes do Estado e fixando as bases do direito
publico (').
Em nenhum momento de sua historia os inglezes julga-
ram necessario e opportuno apresentar o seu systema politico
sob a fórma de um acto solemne, que fosse ou a exposição
de theorias abstractas, ou a construcção de um novo edificio
politico (5).
Existe um systema estabelecido sem' dependencia de
fórmas, de ordinario observadas no acto de ser elaborada a
Constituição política de um Estado.
Existe, conforme a affirmação de Dicey, um conjuncto
de regras, que directa ou immediatamente affectam a distri-
buição e o exercido do poder soberano do Estado.
E' o que, noutros termos, por sua ve'z, tambem nos diz
L. Dupriez: .
«Esta confusão e esta indecisão nas fontes, nos limites
e nos principios constitucionaes chocam a lógica, que sempre
procura a' ordem, a symetria e a precisão nas instituições
humanas» (6).
As fontes da Constituição ingleza são, pois, multiplas e
variadas. .
Ellas formam tres grupos principaes, que são os seguin-

t 4) Lareste, Les Constitulions Modernes, vai. 1.0, pago ~2.


(5) Dareste, Les Constitutions Modernes, vol. 1.0, pago 4,2.
(6) Les Ministres d'Europe et d'Amérique, vol. 1. 0 , pago 4,.
- 247

tes: fonte.,; escriptas; os costumes (CO;lIMON-I,AW) e as con-


1)ençÕe.~ ou pratica.~ constitucionaes n.
Os monumentos escriptos I:lão 08 pactos, os tratados e
os estatutos.
Od pactos são os aetos mais antigos; e, por isso, mais
que todos os outros, merec~m o titulo de leis jun,damentaes.
São (diz Dupriez) a obra commum do Rei e do PH-
lamento.
Na sua elaboração o Rei intervem como parte de it1n
mesmo corpo no exercicio de' um poder collectivo; são dous
adversal'ios que fixam, por accôrdo, seus dÚ'eitos ?'espe-
ctivos (8).
Na formaçã'l dos pactofl, O Rei não intervem como parte
integrante do poder legislativo, composto das camaras dos
lM'ds e dos commulIs, e sim como verdadeira parte cOlltra-
ctante, deante da qual a nrJ/jão apparece como uma persona-
lidade distincta e independente (9).
Aquelles pactos são: A Grande ('arta de 1215; o Bill
dos Direitos de 166'8 e o Acto de Eytabelecimento de 1701;
e todos teem principalmente por objecto determinm' os limi-
tes do poder real e garantir os direitos do parlamento CO).
As convenções com a Irlanda e com a Escossia, que,
como sabeis, fazem parte do Reino Unido, se enumeram entre
os tratados (11).
Os estatutos são as leis votadas pelo parlamento e sanc-
cionada.~ pelo Rei nas f6rmas Q1·dinal'ias.
São numerosas as que dizem respeito á ordem co~stitu­
cional e á organização politica, e geralmente de data muito
recente.

(7) Les Ministres d'Europe et d'Amérique, voI. 1.0 pago 4.


(8) Les Ministres d'Europe ct d'Amérique, vol. L", pago 4.
(9) Boutmy, Étude de Droit Const., pago 30.
(lO) Dupriez, obro cit., pago 6.
(11) Dupriez, obro cit., pago 6.
248 -

Entre essas leis figuram as eleitol'aes, os estatlltos, que,


desde um seculo, creal'am noros departamentos ministeriaes,
e as leis de 07'ganização judiciaria.
Cumpre ainda notar, que o numero dessas lei.,; tem
augmentado pl incipalmente no dominio administra.tivo, onde
toda a antiga organização, baseada quasi que inteiramente
150bre a common iazo, soffreu actualmente uma reforma com-
pleta (12).
O costume é uma verdudeira lei;, munida de sancç'üo
jurídica, como os estatutos, e obrigatol'ia para 015 tribwwes,
como as leis votadas pelo Parlamento.
O costume existe e se transmitte por simples tradicção
e se constata lJelas decisões das côrtes de jllstiça.
Elle é a pn:ncipal fonte do di1'eito privado e uma fonte
muito importante do direito publico da Inglaterra (13).

Suecia e Noruega. Esses paizes, como sabeis, demoram


na peninsula scandinava e se compõem de dous Estados po-
liticos distinctos.
Formam, além disso, dous ramos independentes e sepa-
rados.
Na Suecia o poder executivo é confiado ao Hei, que é
assistido por um Conselho de Estado de dez membros res-
ponsaveis.
A realeza é hereditaria. O Hei deve professar a doutrina
evangelica. Não póde tomar decisão alguma senão em pre-
sença de tres conselheiros, pelo menos, além do relator. Os
seus actos são referendados pelo relator competente.
Os conselheiros são responsaveis.
O Rei conclue os tratados, declara a guerra, aS5igna a
paz e nomeia pam os ditfel'entes cargos publicos. Com manda
os exercitos de terra e mar.

(12) Dupriez, obro cit., pago 7.


C3 ) Dupriez, obro cit" pago í.
- 249 -

Nomeia os membros do Tribunal Supremo, qlH', em seu


nome, jnlga em ultima insta'ncia e interpreta a lei.
O Rei tem o direito de perdão.
O Riksdag partUha o poder legislativo com o Rei.
Vota os impostos, os emprestimos, as despe~as, os emis-
sões de papel moeda e o chamamenfo ás armas. (14)

Noruega. Nesse paiz o poder legislativo é comtituido


pelo Storthing.
O Hei tem véto sllspenf'ivo.
A Noruega divide·se adminútrativavwnte em seis pro-
vincias, subdi,:,ididas em circumscripç'ües, m·tas em disfrictos.
A' frente de cada provincia ha um funccionario no-
meado pelo Rei.
As communas teem dons conselhos electivos: um decide
os ussumptos importanteEl, o outro trata dos assumptos cor-
rentes.
O chefe desses conselhos é o burgo mestre para as ci-
dades; para as communas contentam-se com um funccionario
que representa o poder central. Ha Tribunaes de Comme1'cio
e jurisdicções espeâaes para o.~ eccle:"iasticoN e professores
publicos. Não ha nem l.i1:nisterio Publico, nem jurados. (lf')

Dinamm'ca. A fórma do seu governo é a de monarchia


constitucional, em que a corôa é hereditaria no sexo mus-
culino.
O Rei é assistido de sete mini.stros responsaveis. O par-
lamento (Rigsdag) é composto de à uas Cf/maras: - A Ca-
mara Alta - LfJndsthing e o Folksthing, ambas eleitas por
suffragio directo e universal. Administrativamente se divide
em sete dioceses. (16)

('I) Encyclop. Port., vol. tO, pago 343.


(I") Encyclop. cit., vol. 7, pago tl!O ..
(16) Carl. ~e Nov., Gearg. Secund" pago 308.
- ~õO --

Hollanda. Esse paiz é historic.'l. e geographicamente


tambem chamado Paize~ Baixos. Seu governo é uma monar-
chia constitucional hereditaria. O Rei é irresponsavel, e tem
o direito de escolher os seus ministros, que são responsaveis,
e em numero de oito.
O p'ld~l' legislativo é exercido conjunctamente pelo Rei
e os Estados Geraes, divididos em duas camaras. C7 )
O Rei é inviolavf'l; os ministros são responsaveis. O po-
der executivo pertence ao R~i. O Rei decreta os regulamen-
tos geraes de administração. O Rei apresenta aos Estados-
Geraes os prnjectos de lei e tem o direito de approvar ou re-
jeitar ns prqjectos de lei por elles votados.
O Rei tem o direito de dissolver as Camaras dos Esta·
dos Geram., cada uma separadamen,te ou ambas conjuncta-
mente.
O Rei submette á deliberação do Conselho de Estado to-
das as proposiçõf's a apresentar aos Estados Geraes, ou que.
lhe são apresentadas por esses Estados; assim como todos os
regulamentos de administração lJublica do reino e de suas
colonias. (18)

Belgica. E' um paiz administrativamente dividido em


nove provincias, sendo cada provincia administrada por um
governador nomeado pelo R~i e assistido de um conselho pro-
vincial, renovado pela metade de dous em dous annos.
A realeza constitucional alli estabelecida nenhuma ana-
logia tem com o antigo poder real, despotico, paternal, fede-
rado, divino e constituinte.
Existe em virtude e por força do pacto fundamental.
Não tem outrl'lS attribuições além das que lhe são outor-
gadas pela Constituição do reino.

(17) CarI. de Nov" obro cit" pago 313.


(le) Darest., obro cit., voL La, pago 101.
- 251 -

Todos os poderes emanam da nação (19),


Os ministros são os principaes promotM'es da actividade
legislativa (20). A pessoa do Rei é in"iolavel.; e seus minis.
tros são responsaveis. Os cargos de administração são pro'
vidos por nomeação do Rei, a quem incumbe, outrosim expe-
dir regulamentos para a execução das leis .
.A pessoa e bens do elltrangeiro na Belgica gosam da
mesma protecção concedida aos nácionaes, salvo as excepçôes
e.çtabel ecidas por lei.
Nenhuma lei, decreto ou regulamento de administração
geral, provincial ou communal é obrigatorio senão depois
de publicado na fórma prescripta pela lei (21).

França - Com relação a esse paiz, rectifico um erro e


reformo ~ juizo que emitti a rellpeito do seu direito administra-
tivo em duas das minhas precedentes lições - a inaugural e
a setima; na primeira, com fundamento no que havia lido, a
semelhante respeito, no livro - fI A Faculdade de Dirtito),
de Marnoco e Souza e Alberto dos Reis, pago 37; na setima,
baseado no que lêra igualmente no livro « A Responsabilidade
Civil do Estado D, pelo Dr. A. Cavalcanti, pago 377.
Posteriormente, no estudo de outras questões, deparei
com a seguinte affirmação de Jean Cruet no seu livro « A
Vida do Direito D, por onde vi, que o direito administrativo
francez já não é o mesmo analysado por Marnoco e pelo
illustrado autor da Responsabilidade Civil do Estado.
A' pago 122 diz Cruet:
fI Em França o ponto de partida da evolução do direito

administrativo foi a independencia da autoridade executiva


ácêrca de toda a justiça e de toda a legalidade,..
« Np.nhum acto podia ser annullado sinão pela propria

(19) Dupriez, obro ci~., pag. 207.


(20) Dupriez, obro cit., pago 207.
(21) Dupriez, obras cit., pago 242.
- 252 -

administração, juiz e parte, nenhum damno causado aos


particulares podia seI' reparado sinão pela benevolencia
do Governo, p'rotegido pelo dogma da ú'1'esponsabilidade
absolztta do E.,tado confra a acção contenciosa ».

« Hoje o direito administratiro francez attingi71 o seu


ponto de perfeição, A jurisdicção contenciosa, que tem a
sua expressão sup1'ema no Conselho de Estado, alta con·
sciencia moral da administraç'ão franceza, consagrou-,ye a
submetter á autoridade executiva o ?'einado da legalidade,
ampliando o recurso, por excesso de poder, que tende a pel'·
mittir a qualquer interessado atacar todo o acio dos poderes
publicos, em 1'azão de qualquer especie de illegalidade, e a
acçuo de administração, gl'aças á qual os particulares podem
obter a 1'eparação pecunial'ia de todo prejuizo illegalmente
causado pela autoridade administra#va nn exe7'cicio das
sttas funcções (22).
Isto significa que a França teve, afinal, que acompa·
nhar a corrente da doutrina, hoje universalmente acceita, da
responsabilidade civil do Estado pelos actos dos feus funecio·
narios, justificando este progresso de sua administração a
seguinte affirmação de Houriout:
A França parece ser o paiz onde a admim'stração tem
mais {Ol'ça e mais 7'nfluencia sobre' a mda geral e onde,
ao mesmo tempo, a organixação do regimen é a mais aper-
feiçoada. (23)
Desde 1871 a França tem um governo republicano,
sendo o presidente nomeado por um periodo de sete anos. O
poder legislativo é exercido por duas camaras: o senado e a
camara dos deputados.
A França, que antigamente se dividia em provincias,
ou grande8 regiões naturaes, divide-se agora em SG departa.

(22) J, Cruet, obro cit., pag,


(23) Houriout, Droit Adm., pago ~t
- 25~-

mento!', tendo cada um deHes, como autoridade superior, um


prefeito (24).
Actualmente, snas fontes constitucionaes são:
1.0) A Lei de 25 de Fevereiro de 1875, relativa á
organização dos poderes publicos ;
2.°) A Lei de 24 de Fevereiro do mesmo anno sobre a
organização do senado;
3.°) A Lei de 16 de Julho, idem scbre as relações dos
poderes publicos.
As leis constitucionaes de 1875 se distinguem pelo cui-
dado com que evitam toda a proclamação de principios
theoricos, e isto se explica pelas circum<!tancias em que foram
elaboradas.
ElIas se limita~ a regular a organização, os direitos e
as relações dos diversos poderes chamados a participar do
governo (25).
A administração franceza, diz Dupriez, parece admira-
velmente organizada, para assegurar a força irresistivel de
seu impulso e a regularida<le imperturbavel de sua acção (26).
As instituições locaes teem ainda hoje pnr primpira
base fi lt>gislaçào b.utoritaria e centralizadora do anno VIII.
O territorio se acha dividido e subdividido em departa-
mentos, districtos; cantões e communas.
O.;; depirtamentos e as communas constituem 01'1 1micos
centros de administração local.
O.;; districtos não são sinào circumscripções de adminis-
tração geral; ha em cada um deUes um conselho composto
de membros eleitos, mas não se pó de vêr nos conselhos dis-
trictaes sinão instituições sem poder e sem influencia, cujo
papel se limita ~í. (livisào da~ contribuições directas entre as
com munas e á emissão de votos inuteis. O cantão édespro-

(H) Encycl. cit., voI. 5. 0 , pago 1~.


(2 5)Dupriez, obro cit., vaI. ~. 0, pago 3~6.
(26) Dl1pl'iez, obro cit., vai. ~.o, pa·g. 3~6.
- 2õ4-

vido de todo orgão e de todo agente administrativo,' não é


mais do que uma circumscripção eleitoral e judiciaria (27).

Hespanha. Nesse paiz a organização do regimen admi-


nistrativo p6de não ser perfeita, mas é completa.
O poder executivo e a administração são conceitos dis-
tinctos.
Um se refere á funcção de governar, outro á funcção de
administrar; um provendo, por meio de di8posições legislati-
vas, ás necessidades sociaes, outro applicando as leis e regu-
lamentos.
Consoante esses principios, o direito administrativo é
assim definido por Colmeiro: cc El derecho administratit"O es
el conjul1cto de leyes· que determz'nan las relaciones de la
administracion con los administrados, es la ciencia de la
accion y de la competencia deZ Pode?' ejecutivo en cuanto
ordena y regula los interesses generales, »
E Santamaria tambem, por sua vez, o define: cc Es la
rama dei derecho 1'eferente á la organización, funciones y
procedimiento dei Poder ejecutivo pam el complimiento de
la mision deZ Estado en la vida (28).

Portugal. E' um pequeno paiz onde o direito adminis-


trativo tem feito progressos, si por isso se deve entender a
evolução desse direito de accôrdo com as idéas dos publicis-
tas mais notaveis da moderna escola positivista, que Marnoco
denomina - realista.
Entre os autores citados por l\famoco §gura Duguit, a
cujo respeito faz esta observação: tem sido mais feliz na de-
molição do que na reconstrucção da sciencia (~9).
E, de facto, aEsim é realmente!

(27) Dupriez, obro cit., pago 464.


(28) Ubiern e Casc., Derecho Ad., pag, 4..
(29) Marn., obro cit., pago 38.
- 2õõ-

. AUemanha. E}' um Estado federati ,o constitucional desde


18 de JaI;ei~o de 1871. (App. XII).
O soberano é o Imperador Allemão, titulo que pertence
hereditariamente ao H.ei da Prussia.
O Imperio compõe-se de quatro reinos, seú gran-du-
cados, cinco ducados, sete principados e (1'es cidadeS' li-
vres. (30)
O Imperio não tem ministerio, mas Eómente um chan-
celler responsaveJ, nomeado pelo Imperador.
Além do Parlamento ou Dieta (Reichstag) ha um Conse-
lho Federativo (Bundesrath), que funcciona sob a presidencia
do Chanceller.
Os Estados incorporados ao Imperio conserl'a1n os seus
chefes nacionaes e seus govet'nos propl'ios, sujeitando-se, po-
rém, ás leis gemes do Imper~·o. (~I)
Sob o ponto de vista dos multiplos e variados ramos da
pubZ,ca administmção, esta se acha constituida em nove de-
partamentos, cada um tendo um chefe, mas todos sujeitos á
alta direcção do Chanaeller. (32)

Suissa. It uma Republica federativa, ou uma Confede-


ração de 23 Estados ou Cantõ~s: O Poder Executivo é exer-
cido por um Conselllo Fedewl de sete membros, eleitos por
tres annos pel(, Assembltia ~Pederal.
O presidente do Conselho é o Presidente da Confedera_
ção. O Poder Legislativo é exercido peJa Assembléa Federal,
composta de dous· Conselhos: o Con8elho Nacional e o Con·
selho dos Estados. Cada Cantão tem o seu governo particu-
lar; 3S constituições cantonae8 ~ã() muito 'Cariadas e varia-
e
veiso S)

(SO) Encyclop. cit., vol. 1:, pago 292.


(31) Carl. de Nov .• obro cit., pago 358.
(3 2) Dupriez, obro cit., pago ~93.
(33) Carl. de Novo, obro cit., pago 37~.
- 25G-

Italia. Junto ao R~i existe um gabinete composto de H


ministros. O Rei pal'ticip,t do poder legislativo pela 'inici(tfiva
e pelv véto.
EUe exerce o poder executivo: mas todos os seus actos,
para ~erem válidos, dependem de referenda dos ministros,
q'ue pelos mesmos são responsa:veis.
Existem duf.s call1nra~, uma electi\'a, outra composta de
membros nomeados pelo Rei.
Entre as attribuic;ões dessas camaras se enumeram as de
fiscalizarem a adminisf1'Gção.
Depen(lem do conselho de ministros e não podem, por
cOIJt>equencia, ser deciclidas senão pelo mesmo conselho, entre
outras, as questões de ordem publica e de alta administra-
~·ão.

Austria-Hunglir. A Constituição dualista divide a Aus-


tria-Hungria em dous Estados distinctos, gosando de direitos
iguaes: o Cisleilltrlno ou da CoriJa da Azu;tl'ia e T<ran.'!lei-
thano, ou da Cor;)a da Hungria. (App. XII).
O poder soberano. é exercido pelo Imperador ·Rei) que
nomeia os ministros, propõe e promulga as Ipi!', distribue as
recompensas e eXf'rce o direito de graça.
Cada uma das partes da monarchia é governada por
um gabinf'te e"'peci'!l, responsavel perante o Parlamento Na·
donai.
O gabinetp- austríaco tem sete ministros; o g~binete ma-
gyar tem nove ministros.
fIa, além déstes, tres ministros commu1ZS á monm'chia
inteira: o dos negocios ~stran,qeiros e da casa imperial,. o
das finanças geraes e o da guerrfl.
O podpl' legislativo é exercido pelos parlamentos dos
dous Estados.
O Parlamento da Austria (Reichsrath) é composto de
duas camaras: a dos senhores (grandes proprietarios) e a ca-
mara dos deputados.
- 257-

A dieta Hungara é igualmente composta de duas cama-


ras: a dos Magnatas e a dos Daputados.
A organixaçào administrativa é diffel'ente nos dous
Estados (34).

lII. Até aqui os paizes da Europa.


Vejamos agora, pelo menos dous dos da America, já
que não ha espaço nem tempo para mais.
Estados Unidos da Ame.1'ica do Norte.
Nada preciso dizer a respeito da organização politica
dessa Republica, porque vós a conheceis.
Sob o ponto de vista administrativo, eu jll tive occasião
de observar, no começJ desta lição, que alli nãJ ha o que se
possa considerar propriamente um regimen administrativo.
lIa, entretanto, ainda uma particularidade, que convem
referir.
Nos Estados Unidos, confurme n03 diz Jean Cruet, lta
uma theoria dos aclos politicos, que permitte subt1'ahi1' á
inspecção da justiça os acto8 de puro interesse governamen·
tal. (35) .
E' digna de nota essa theoria, principalmente porqul',
nos Estados Unidos, cabe ao poder judiciario federal dirimir
todas as controversias que possam surgir de actos infringen-
tes da Constituição, qualquer que seja o poder ou autoridade
de onde clIes provenham (36).

Republica Argentina. E' uma confederação cOllstituída


.por 14 Estados ou provincias e 0 territorios ou governos.
Depois de votada a Constituição de,1833, que organizou

(34) Cad. Nov" obro cit, pag, 394.


(36) Jean Cruet., obro cito int., pago 121.
(36) Dir. Const., pago
DUUllTO AD.IlIN16J:BAtlVO 17
- 258-

a Confederação, soffreu a mesma duas revisões, uma em


1860 e outra em 1866, sendo esta ultima referente a direitos
de exportação, que deviam desapparecer desde a sua data
(12 de Setembro de 1866) (37).
A Republica Argentina tem um regimen administrativo
completamente organizado.
A garantia dos direitos ~ivis e politicos da nação é
completa; Consto de 1860, n. ° 14 de sua V parte (S8).

Recapitnlando o que temos dito a respeito de .cada um


dos paizes referidos, podemos ter como certo:
1. ") Que só por excepção constituida pelos povos de
origem anglo-saxonia, não existe regimen administrativo nos
governos desses povos.
Apesar disso, porém, ha nesses paizes gl'ande numero
de leis administrativas regulando os negocios desta naturexa;
2.°) Que a divisão mais natural e importante que se
conhece na sciencia da administração é a do 1'egimen centra-
lizado e a dQ 1'egimen descentralizado.
Como modelo do primeiro, póde-se apontar a França;
como modelo do segundo penso que estão em primeiro logar
os Estados federados.
No tocante á questão de saber qual d~s dous regimens é
o melhor, é difficil emittir com segurança um juizo, princi-
palmente deante de uma circumstancia, que não deve passar
despercebida ao espirito do observador, que acompanha com
attenção os factos e estuda· os phenomenos sociaes.
Porque, sem embargo da variedade dos dous regiment! e
de seus effeitos, todos os paizes mencionados teem progredido
e se consideram os mais civilizados?

(37) Darest, obro cit., vol. !.o, pago 5!7.


(38) Darest, obro cit., vol. 2.°, pago 517.
- 259

Eis o que.ninguem sabe!


O que do expobto log&-ae deprehende é que não é con-
dição sine qua do desenvolvimento e pr.ogresso de uma nação
a existencia de um regimen administrativo perfeitamente
organizado.
A prova está na Inglaterra e nos Estados Unidos da.
America, onde, como já vimo~, não existe este regimen.
. Será a descentralização administrativa a causa efficiente
daquelle desenvolvimento e progresso?
Penso tambem que não!
Se assim fosse, não progrediria a França., onde a almi-
nistração é extraordinariamente centralizada.
A meu ver, a solução do problema está no impulso ins-
tincti vo, que se traduz em acto de· reflexão da parte dos
povos; assim como na maleabilidade e no tacto elos scus
governos. .
Penso que, por força das transformações successivas por
que te em passado povos e governos, todos aC;tba.rnm por se
convencer da necessidade de se harinonizarem direitos e
interesses oppostos, a bem não só de altas eonveniencias, que
entendem com a propria conservação dos Estados, como das
garantias de bem estar, devidas a cada um dos governados,
considerado sob o ponto de vista dos seus direitos individuaes.
Isto explica o facto de, em todos os paizes constitucio-
naes, o interes.~e particular ceder ao interesse geral; o inte-
resse do individuo ceder deante do interesse publico, e o
interesse do departamento ou da communa ceder deante do
direito do Estado (39).
Foi este, diz Dupriez, o interesse que serviu de ba~e á
organização da França.
Deve ter sido este (accrescento eu) o principio que deve
ter presidido á formação da nacionalidade ingleza sem a
preocupação, como vimos, de theol'ias abstractas.

(39) Dupriez. obro cit., pago 141.


- 260-

IV - Passando á compa.raçl'.o do n)s;o ragim;m ad:ni-


nistrativo com os q~e acabamos de examinar em relação a
outros po,Yos, eu penso que o no.3SO direito e o nosso Rystema
administrati\7o, apesar dos defditos de que se resentem, em
nada estão ab.tixo dos daquelles pailles; não havendo razão,
port.mto, para temer o confronto com os mesmos pelo presup-
posto de nossa infdrioridade.
Expurgado o nosso regimen do que elle tem de anti-
quado, illogico e inconveniente, nãJ tardará muito' que o
mesmo venha a ser apontado como um modelo a seguir.
Dà.s reformas parciaes, de que o me.3mo está precisando
em varias ordens de serviçoiJ,· que lhes são affactos, hei de
ter occasiii.o de me occupar no correr das sub3equentes lições.
Por emquanto, o que ainda nos cumpre examinar, na
lição de hoje, é a questão rafarente á codificação do direito
administrativo no Brasil.

v- E' um ponto ainda agora controvertido em todos os


paizes o das codificações.
Essa questão, no periodo de 1810 a 1830, foi forte-
mente agitada na Allemanha.
Thibaut a discutiu brilhantemente, encarecendo, em 1814,
a necessidade de um direito civil geral naquelle paiz.
Em opposição ás i:iéas de Thibaut, appareceu Savigny,
sustentando que o direito não é o producto das leis, ou estas
não são a expressão do arbitrio livre do legislador, mas sim
de um direito preexistente na consciencia do potlO, que, como
a lingua, os ZtIJOS e a constituição política, tem. caracter indi-
. vidual. Os codigos, abolindo tudo quanto se acha nelles
comprehendido, sujeitam as nações ao perigo de verem des-
°
naturado seu verdadeiro e real direito». (40)

(10) Hib., Di!'. Civ., vol. 1.°, pago 301.


- 261 -

Savigny doutrina prmCJplos verdadeiros; mas esquece,


no correr de sua argumentação, que esse direito, que não é
o producto das leis, °e que preexiste na consciencia do povo
° ,

póde e deve, por maioria de razão, concretizar-se em um


codigo.
O perigo de ser elle desnaturado tanto existe na sua
reunião sob essa fórma, como na consen:ação do mesmo em
leis esparsall.
Em 1879, Bluntschli, occupando-se do assumpto, fez
considerações sensatissimas, que logo convencem da semrazão
dos que contOestam a utilidade das codificações (41). '
A despeito das razões de Savigny, quasi todos ospaizes
civili-J-.ados teem codificado muitos ramos de seu di1·eito, e ne-
nhum ainda se an'ependeu disso, Pelo contrario: novas co-
dificações se muWplicam por toda a parte.
Isto affirmou Bluntschli haquasi 40 annos.
Julgae, depois disso, quantos codigos se J;lão terão feito,
desde aquella data até hoje, radicada, como está, no espirito
desses povos a crença de que a codificação de suas leis é
não só util, como necessaria!
Não é, senhores, que as codificações não offereçam in.
convenientes e não estejam sujeitas á condição de opportuni.
dade, para surtirem o effeitodesejado.
A oeste' respeito, muito acertadamente pondera Ribas,
que nem todas as épocas são proprias pa1'a a promulgação
de um codigo, que finalmente espelhe o direito nacional e
seja de verdadeira utilidade p(tra o povo.
No que toca ao Brasil, eu penso que já & tempo de ter
um Codigo Administrativo.
Pesadas as razões que aconselharam as codificações (que
já temos) dos Direitos Commercial e Civil, do Direito Penal e
do Procellso Criminal, chega-se á evidencia de °que não são,

(41) Illunta., I,a PoJit, pago 294.


ni!o poclom. ser mais ponderosas do que as que determinam a
necessidade de uma codificação das nossas leis administrativas_.
O direito evoluf" (diz-se); não póde, por consequencia,
immobilizar-se nas formulas perpetuas de um Codigo.
A evoluçãn , poi~, do ().ireito é, a meu vêr, o maior argu-
mento contrario a toda codificação.
lHa." notae que esse argumento diminue de valor deante
de considerações, que logo annullam a sua força.
Em primeiro logar, as formulas codificadas; com serem
perpetuas, não são immutavei8.
A pratica é a melhor pedra de toque onde se apura o
merecimento de um codigo.
Sa a pratica demonstrou existir nelle alguma disposição
inexequivel, perniciosa ou inutil, o remedio é facil: é suppri-
mil-I"!, su bstituil-a, ou corrigil-a.
Depois, é innegavel a vantagem que offt!recerá o codigo
de facilitar em um conjuncto o estudo, o conhecimento e a
applicação das leis administrativas, que actualmente se con-
t1.IU ás centenas em cada uma das nossas repartições publicas.
Por outro lado, só assim se poderá expungir da massa,
ora informe, desse direito, um sem numtro de leis, que pre-
cisam de ser eliminadas da nossa organização administrativa,
sem prejuizo da ordem e da regularidade da mesma.
Finalmente, é o unico meio de livrar o paiz do. dedalo
de tantas leis extravagantes, que constantemente colhem as
partes nas suas malhas, para não só complicarem, .como es-
paçarem indefinidamente, por meio de expedientesprotellato-
rios, a solução de muitos nego cios, dignos de mais attenção
da parte dos poderes do Estado.

- . " . "''''111
. •. ...4
DECThlA QUINTA LIÇÃO

I - Da administração publica e sua organização. II - Da hierar..


chia administrativa. 111 - Orgãos, agentes e auxiliares da
administração. IV - Necessidade da suppressão de alguns
desses orgãos a bem do proprio governo do Estado.

Meus senhores:

Vimos, no parenthesis aberto na 13." lição e na di.


gressão politicc-geograpbica, que posteriormente Hzemos na
14. ", o estado actuéll do direito administrativo entre os povos
mais cultos.
Seguiu-se o promettido confronto do nosso regimen
administrativo com o desses povos, por onde ficou patente
que em nada nos é de~favoravel o resultado da comparação.
!llostrámos, em ultima ana)yse, com razões incontestaveis,
por evidtntes, que já é tempo de ter o Brasil o seu Codigo
AdminiE>trativo, em satisfação da necessidade, que todos
sentem, de se condem:arem, em um só corpo desse ramo do
dir,eito, todas as suas leis administrativas, expurgadas de ve-
lha.'! praxes injustificaveis, que ainda agora ferem o' direito
das partes e põem estorvo á marcha regular dos publicos
negncios sob o ponto de vista administrativo.

L Hoje ocs occuparr-moli', em obediencia ao ponto, de um


problema de pratica difficultosa na vida de um Estado - o
da organização de sua administração.
Mais do quI' a qlH'stão política do systema de goverD(~7
-- 264-

que tem ser...ido de thcma a brilh'lntes aiscus~(jes theorícas


!lesde os antigos tempos, tem variado infinitamente entre 08
Estados o modo por que é feita a organizaç:1o administrativa
de cada um delIeR.
Ao deRpotico Rystema, de qne nos dá noticia a historia
da dominaçiio romana, tem gradualmente succedido uma
organização mais moderada, tendo como priucipal fundamen-
to a unidade da na~?tO.
Esse principio, porém, não tem sido bastante para im-
pedir que os regimens administrativos spjam tão diversos.
entre todos os povos. V~tríos não só na fórma, senão no fundo;
nns eentralisados, outros deseentralisadoE'; uns mais ou menos
liberaes; outros sobremodo auctoritarios, autocraticos, abso-
lutos! Conforme o systema de governo, assim o regimen
administrati...o de cada paiz.

No que nos diz respeito, muito acertadamente pondera


Ribas:
«Em theoria é facU discn:minar as jU12cçües politicas e
administraticas do.'! agentes. do poder exewlivo,' mas na
pratica nem sempre se púde determinar quando elles
exe1'cem umas e outras, quando governam ou adminis-.
tramo (1)
. Man., a organização de um bom regimen administrativo
não oft'ereee sómente esta difficuldade.
Ha outras que, do mcsmo modo, se fazem sentir pela
complexidade das questões que envolvem e das idéas que
suscitam.
Não é, por exemplo, questão de SOmenos importancia a
de saber-se. qual o typo preferivel entre a grande variedade
de regimens administrati ...os.

(1) Rib., Dir. Adro., pago 59.


- 2Eó-

Tudo quanto se sabe em relação a isso é que será tllíi·


to mais perfeito o regim(;n, quanto eIle mais fôr apropriado
ás necessidades que o deterrr.inam, mostrando-se em tudo de
accôrdo com 3S condições do povo, os seus antecedentes po-
liticos e o gráu de sua cultura.
Si já vimos que variam os usos e costumes entre os
povos, como variam as suas condições ethnologicas e ethno-
graficas; si é certo que a indole, o temperamento e a edu-
cação de um povo em tudo se differenciam da de outro povo;
se é facto, igualmente reconhecido, conforme demonstrei na
ultima lição, que nuo depende da natureza do regimen admi-
nistrativo O adeantamento, o progresso, a civ.ilisação dos
povos, o que, por coni!cquencia, se deve ter como certo é que
é sempre um erro o mau uso da imitação das leis de outro
povo, é sempre um mal de eff\!ito~, muitas vezes desastrosos,
a transplantação de um regimen de um para outro paiz.
E, o que com muito bons fundamentos doutrina o aba-
lisado jurista, J eau Cruet, quando diz:
«O verdadeiro direito de um paiz quasi nunca é o
que se imita. (2)
E, em comprovação do seu asserto, elle aponta diversos
exemplo~, entre os quaes o seguinte:·
« Os Estados Unidos, tentando uma transposição repu-
blicana da Constituição ingleza, acabm·am fazendo urna
Constitw·ção no fundo mais monarchica do que aquella
Oonstituição.
E, em geral, a iniciativa das reformas administrativas
cabe ao governo. do Estado, como poder politico ou governa-
mental. ;
Competindo-lhe principalmente inspirar o pensamento
geral da medida a realizar, cabe-lhe, por igual, dispol a em .
os seus fundamentos, encaminhando-a na direcção do fim vi·
sado principalmente em cada um dos seus pontos capitaes.

(2) Jran Cruet, A vida do Dir., pago 306.


Nesse trabalho são da maior utilidade e ímporfancÍa os
conhecimentos da sciencia da administração, que nem sempre
se encontram nos promoteres da reforma.
Dahi, a falta de methodo, de precisão e de clareza, que
tornam Eobremodo defeituosa a maior parte das nossas leis;
a creaçãn de serviços dispensaveis, a prescripção, sem limi-
te~, de preceitos regulamentares vexatorios e injustos, desne-
ceEsarioR e iuuteis.
Depois, cumpre não esquecer que a regulamentação
excessiva leva á casuistica das leis, que é um dos maiores
males tanto da justiça, como da administração.

Estabelecidos esses principioE, que te11ho comú vcrd!ldei-


ros, indaguemos o que seja a adrnini8traç10.
Essa palavra é commummente empregada em mais de
um Eentido.
Primeiramente, tUa se divide em gestão dos negocios de
um particular, ou de uma communidade.
No sen.tido, porém, mais geral, significa a gestão dos
negocios do Estado. (3)
. Nesta ultima accepção, que é a que principalmente nos
interessa, por constituir objecto da nossa lição, surgem logo
várias duvidas, de que se originam as seguintes interrogações.
Qual o logar da administração nas instituições políticas?
- Que parte de autoridade lhe deve ser conferida?
- Qual a sua missão especial?
- Quc se deve pensar a respeito da administração?
Antes do mais, notae qtle a administração tem detra-
ctores e panegyristas.
No conceito dos seus detractorcs, a administração é a

(8) Dict. de In Convers., vol. l,°,rag. 126.


- ~61 --

ulcera do paiz, sete 'vezes mais devastadora e ruinosa do que


as sete pragas do Egypto I
Sem fallar das insolenc,'as da burocracia, a administt'a-
çi7.o em França existe pelo arbítrio e vive do monopolio.
EUa cu.'1ta d França muitos biliões que só servem para
perpetuar e fazer pulullar -a raça innumeravel e inutil dos
funccionarios publicos.
A admirtistração é a inimiga il'recoY1.ciliavel da liber-
dade. e)
Oi! panegyristas, pelo contrario, dizem:
eeA administração é a acção vital do governo; o gover-
no é a cabeça, a administração é o braço.. E' o verdadeiro
governo, menos na confecção das leto<; e na acção dajustiça.» (5)
Da administração fez M. Cormenin este poetico elogio:
«A França é de todos os E.;tados da Europa o que p6de com
maior rapidez transpo1'tar para determinado ponto mais 110-
mens, dinheiro e meios de combate».
«No mesmo iflstante em que o Governo quer, o minis-
tro ordena, o prefeito transmitfe, o mai1'e executa, os regi-
mentos se aprestam, as frólas se mobilizam, os sinos tocam
a rebate, o canhão atrôa e a França está em pé!
Eu não sei, senhores, o tempo em que Cormenin fez
essa apologia da administração 00 seu paiz, porque o livro
onde a li não o diz.
Cormenin falleceu em 1868.
Admittindo-se que elle a tenha feito em o seu livro-
«Direito .Administrativo» -publicado em 1821, o que deve
se presumir é que, em 1868, quando falleceu Cormenin, a
França, sob o ponto de vista da administração, devia estar
ainda mais adeantada e tambem melhor provida de homens,
dinheiro e meios de combate.

(4) Dict. cit., vol. 1.°, pago U6,


<~) Dicl. cit" vol, L·, pago 1t6.
268 -

Pois bem! Ponh!l.mos de parte o chau vinismo de Corme~


nin e vejamos a" ?'e'llidade dos (actos.
Não sou eu quem o diz, é a historia:
«Dous annos, precisamente, após a morte de "Cormenin
(1870) Napoleão lII, reconhecendo quanto imp01·tava, para
assegurar o imperio, abater o pàderio miUtar da P?'ussia,
que desde a guerra Austl'O'PI'U8siana (186'6) se tornára a po-
tenda mais preponderante da Europa Central, procurou ja-
ze?'lhe guerra.
AfaZ preparado, porém, para ella, o exercito (rancex
não teve senão ?'erézes, e, por isso, a população de Paris, ao
ter conhecimento do desastroso resultado da batalha de Se-
dan, na qual Napoleão jôra aprisionado com o seu exercito,
declarou- o dEposto e proclamou a 1'epublica! (6)
Aqui se tem, pois, a verdade comprovada do que .era a
administração da França naquelle tempo!
O elogio, portal'lto, de Cormenin não significa senão en-
thusi!Jsmo patriotico exaggerado do iIlustre homem de letras
e polWco francez.

Assignar o logar da administração nas instituições poli~


tieas é, depois disw, o nosso primeiro dever.
Por isso mesmo que, em todos os negocios do Estado,
sempre se distingue a deliberação da acçí1o, logo se percebe
a diffcrença que h:l. entre as attribuições do poder executú'o
ou govel'namental e as do poder administrativo. Um é o po-
der que delibera, outro o poder que executa.
Ainda pela eircumstancia de constituirem objecto da
acção do poder administl'afico todos os serviços que, pela
especialidade de sua natureza, se consideram estranhos á com-

(6) fiapo Bot., Hist. Univ" pag, 389.


- 269

petencia dos oub'os poderes da Republica, fazem parte do re-


gimen administrativo da União todos esses serviços.
Tão grande é ü seu numero, que uão h'l exaggeril em
aflirmar-se, que abraDg~m a quasi totalidade das relaç(')as ~la
vida social.
Dando o devido desconto ás demasias do conceito dos
serviços publicos, estabelecido por Duguit, é, com tudo, certo,
que o mesmo tem actualmente alta sig·nificaçlo e importan-
cia não só no dominio do direito publicJ, senão no· do direito
administrativo.
E se assim é, não pódc deixar de cabar a esse direito
um .dos primeims logares entre as instituições politicas do
E,tado.
Occupando-se do assumpto, diz Ribas:
(l Não existe ztm poder administrativo disUncto e inde-

pendente do executivo. U poder administrativo ou a admi-


nistração é o mesmo executivo, abstracção feita das suas
funcções governamentaes. (1)
Não me parece logico nem claro o pensaJI.lenb de Ribas
nessa parte de sua exposição.
Estou ·de a'Ccôrdo com o illustl'e jurisconsulto, quando
aflirma, que não existe um poder administrativo indepen-
dente do executivo.' No mais, não.
Distinctos me parecem em tudo esses poderes.
Basta considerar, que um é a cabeça que dirige, o outro
é O braço que' executa; um exerce juncções governamentaes,
ao passo que o outro só tem juncções administrativas.
Depois; não se comprehende bem como, não sendo dis-
tinctos os douspoderes (segunio entende Ribas),sómente um
possa exercer as funcções de gJverno, cabendo ao outro ape-
nas as funcções administrativas.
Si o' executivo e o administrativo são um e o mesmo

(7) Rib., obr, cit., pago M.


- 270-

poder, parece claro que não pó de haver laços de dependen-


cia ou independencia entre os mesmos.
Resumindo, pois, eu direi:
O Poder Executivo é essencialmente politico ou, por
isso mesmo, governamental.
Sua incumbencia é um pouco mais alta, visto que tem
e.flpecialmente por fim reaUrar a missão do Estado.
Ha, entretanto, entre as suas attribuições uma de que
participa o poder administrativo: a de executar as leis dessa
natureza.
E' esta, a meu ver, a razão de geralmente sc conside-
rar o direito administrativo um ramo do direito puQlico.
Qual, porém, a" parte de autoridade que lhe devo ser
confiada?
Certamente, a da organização, direcção e fiscalização de
todos os serviços publicos, neccssarios á vida, ao bem-estar e
á independencia dos governados.
Do exposto, logo se conclue" que a missão especial do
direito administrativo deve ser a gerencia pratica dos inte-
resses da communhão social.
E' assim, que lhe compete a execução de todas as leis
e regulamentos referentes aos serviços publicos a seu cargo j
serviços de interesse geral, collectivo ou individual; medidas
de conservação ou de prevenção, ou simplesmente locaes, ge-
raes ou individuaes. (8)
Para a consecução desses fios, que são os que constituem
a sua missão, cumpre-lhe organizar os meios praticos, neces-
sarios á realização do pensamento governamental.

Quanto á questão de saber o que se deve pensar da


administração, eu só poderei explical-à de ac{ ôrdo com o meu

(8) Rib., obro cit., pago 51.


- 271-

sentir. Eu penso que a administração é um bem, ou é UID


mal.
E' um bem si elIa, dentro da lei, se occupa principal-
mente de attender ás necessidades sociaes.
E' um mal, si de todo ~lheia a esse objectivo, que deve
ser a sua preoccupação principal, ella segue directriz opposta,
acreditando" que a organização costumaria da justiça admi-
nistrativa sempre foi superior· á sua organização legal.
Não sou um inimigo da administração; mas não deixo
de reconhecer que teem razão os seus detractores, quando,
na pratica, vêem constantemente abusos de toda a ordem, e,
em theoria, sustentar-se principio, como este: a adminis-
tração é impossivel se tem de conformar-se com a lei!
Finalmente, senhores, o que, em ultima analyse, se deve
pensar da. administração, é que elIa é sempre, na acertada
opinião de Batbi p , um reflexo do Governo, que a mesma re-
presenta. (9)
Si esse governo é mau, forçosamente a administração
sel-o-á tambem.
Quando aqui me refiro ao mau governo, está claro que
não cogito sómente do poder executivo.
Do governo tambem faz parte o poder legislativo,
a quem cabe principalmente a responsabilidade das leis pre-
judiciaes ao paiz:
E por isso, diz Ribas: «O legislador é a intelligencia
que formula a reg1'a, ao passo que a administração é a
força 'n~ecanica que a execlda.
«E' a administração quem transporta o pensamento le-
gislativo do mundo subjectivo para o objectivo, quem o torna
sensivel e activo, quem o traduz em pkenomenos materiaes
8ociaes». eO)

(9) Bloek, Diet de la Polit., vol. {,O, pg. i3.


('0) l\ih., Qbr. cit., pago 66.
- 272-

Esses phenomenos se podem assim resumir, em se tra-


tando da organizaç?io de um regimen administrativo, como,
por exemplo, o nosso:
Em primeiro Ioga r, a discriminação das competencias
entre os poderes constitucionaes instittlidos.
No que conccrne á ordem administrativa, tem-se a
designação desses poderes: a creação das repartiçÕes publicas;
a regulamentação de cada um dos serviços a seu cargo; a
nomeação dos funccionarios necessarios ao seu movimento; o
estabelecimento da hierarchia entre os mesmos; a determi·
nação de suas attribuições, direitos e deveres, e mais da pe-
nalidade a que estão sujeitos.
Tudo isso faz parte do regimen, que é assim regulado
por leis especiaes. Essas leis ou se referem a direitos prÍ\'a-
dos, ou a direitos publicos, em cujo numero figuram as re-
lações do direito internacional privado.
. São leis positivas, regulando e assegurando o uso e goso
dos direitos individuaes.
n. Quanto á hierarchia administrativa, é uma necessidade
na vida da administração.
E' o nnico meio, embora fallivel, de haver, no meca-
nismo do governo, e principalmente nas repartições publicas,
a ordem, o respeito e a obediencia, que formam a disciplina
tão necessaria nas relações entre os proprios funccionarios e
entre estes e os administrados.
No 1.0 gráu de hierarchia está o Presidente da Re-
publica, como chefe da nação e do Estado; depois seguem-se
os seus ministros, e assim, em ordem descendente, os cbe-'
f~1i! das repartições publicas, aos quaes os demais funcciona-
rios são subordinados .conforme a ordem de sua jerarchia.
Muitos desses func.!ionarios são considerados, por' força
dos cargos que exercem, orgãos da administração.
Mas, em que se distinguem esses orgãos dos demais
funccionarioB ?
Como' sabeis, a palavra orgão vem do latim - organum
- 27il -

e significa parte de um ser organizado, destinada a exerccr


uma funcção necesearia ou util á vida.
Neste sentido, a palavra ol'gão é empreg.lda em seu
sentido natural.
Mas, além àeste, ella é tambem empregada em sentido
figurado, ou technico; it;to é, em sentido peculiar a uma arte
ou a uma sCiencia, e como tal se considera cada uma das
partes que,. numa ou outra, exerce juncção especial.
Assim, por exemplo, os orgãos de uma locomotiva; o
ol'gão da lei, que é o juiz; o jornal. que é o orgão de um
partido. '
Ainda no s(;ntido figurado, a palavra orgão pouco dif-
fere da palavra agente, que, etymologicamente, quer dizer
-- tudo o que actua ou opéra; ou, mais especialmente (como
no caso dc que nos occupamos) aquelle que t1'ata dos neflo·
cios de outrem, do Estb.do, por exemplo.
E' assim, que, com toda a propriedade, os funccionarios
publicos podem ser indistinctamente considerados orgãos ou
agentes do Estado.
Penso, per isso, cem Houriout, que todas as distincções
entre orgãos e Çlgentes da administração são rãs; esses agen-
tes, por sua vez, fambem são orgãos. (11)
OrgãoE', portanto, ou agentes da administração são in-
termediaI ios revestidos de poder e de autoridade para torna-
rem não só conhecidaE', como obrigatorias, as determinações
da lci e a vontade da administração.
Esses orgãos, p"rém, variam de' natureza, a, por isso,
são smccptiveis de uma di visão.
lIa uns cujas funcçõ:!s elIes exercem singular ou indivi-
dualmente, ha. outro!', que 8ão representados por entidades
eoUectivas; e, neste ultimo caso, suas dcciSÕts são tomadas
por maioria de votos.

(11) Huuriout, Uroi!' AdIP., pago


D1BEIl'O ADJUIIISTRAUVO 18
Quando se trata, porém, de ns tornar conhecida!':, elIas
~empre !:Ie r('ferem tI, entirlarle de que emanam: o Tribunal
de Contas, por exempln, o Conselho Superior do Emino, etc.
E ' certo que cada um dos membros de que se compõem
eSsas corporaçfies encarna uma fracção do poder publico,
fxerce, por assim dizer, uma particula de autoridade.
Quereis ver de que modo?
lmaginae que um ou mais drsses membros não se acham
. investidos dos neces!larios poderes para o exercicio de suas
funcções; que a nomea~lo que obtiveram não tem os requi •.
sitos legaes. A consequencil1 é que nenhum delles encarna ou
exerce fracç!io alguma de poder ou de autoridade.
Tem-se depois disdo; que todas as pequenissimas partes
desse poder ou autorinade só te em força decisoria em seu
co'njuncto, o que flignifiea que um membro de um Tribunal
ou Conselho não póde deliberar por si só.
Em vez di!'so, as suas deliberações são sempre toma-
das por maioria.
Não assim, porém, quando o orgão ou agente da admi-
nistração age individualmente no exercicio de attribuições,
que, nesse caracter, lhe .são conferidas por lei.
Em tal caso, sua decisões impõem obediencias j são obri-
. gatorias.
Em geral se considera agente da administração aquelIe,
que exerce funcção propria, mas delegada.
Não me parece rigorosamente exacta esta enunciação
caractcrisfca do' agente administrativo, porque, em verdade,
consoante a fórma do nosso regimen, todos os cargos se exer-
cem ou por eleição óu por ddegação.
O Conselho Superior do Ensino, por exemplo, como or-
gãodo Gov:erno, as funt'ções qne exerce são deleg:ldas.
Apesar di~so, porém, na fórma do nosso direito, o agen-
te é o encarregado de uma funcção, ou missão publica; exer-
ce, portanto, peder.
Os que de todo I!e consideram desprovidos de qualquer
- 275-

parcella de autoridade são os auxiliares da administração.


Como taes, são simples executores de ordens, ~judantes de
trabalho e serviços a cargo da administração. Sua coopera·
ção é,por as~im dizer, puramente material.
Devo, entretanto, obser,ar, que nem sempre tem sido
esta a significação attribuida pelas nossas leis administrativas
ás palavras au:âliar da administração.
O certo é, porém, que não pune ainda desct>brir a razão
de, na trchnica administrativa, d:\r"se outra intelligencia
áqudla expres~ão.

lII. Passando á ultima parte do ponto, eu direi que


actos ele reforma ou de suppressão de serviços admisnistra-
vos só se justificam quando ri clamados p~lo bem geral da
nação e pela propri:\ conveniencia do Estado.
E' um aEsumpto que se prestaria a longo desenvol vi-
mento, si aqui eu pudesse ou devesse entrar em minucias que
não comporta o objectivo da nossa lição, que não é, de certo,
um trabalho de organização ou reforma administrativa.
Por isso, como simples modo de tornar conhecida a opi-
nião da cadeira a respeito de uma importante reforma admi-
nistrativa, que tanto tem preoccupado a opinião publica - a
do Tribunal de Contas, eu direi:
E' deyéras para lamentar que, estando essa reforma ha
mezes convertida em lei, ainda não se conheçam até ageraos
seus termol'.
Isto deixa Buppor que o Ccngresso votou uma lei, para
cuja t'xectição a opportunidadc, apesar de tantos mezes decor-
ridos, ainda nào chegou! "
Relativamente a esse Tribunal, vós o sabeie, é uma ins-
tituição, que tem o SlU principal fundamento em expressa
disposição da Constituição Federal, art. 89. (App. XIII).
An'tes já "elIe havia bido instituido pelo Decreto n. O 966-A.'
de 1890 (do Governo Provisorio) art. 1.0 (App. XIII).
*
- 270 -

:E:m 1893 foi esse Tribunal reform ado, O que signi6ca


que se resentia de grandes defeitos, ou de sensiveis lacunas
o Decreto de sua organização.
Qlle ainda o decreto de 1893 não foi trabalho q \le satis-
fizesse as necessidades claquelle ramo da publica administra-
ção, prova-o evidentemente o facto de, dous annos depois, ter
sido apresentado no senado um novo projecto, boje convertido
em lei pelo Decreto n.O 392, de 8 de Outubro de 1896, logo
em srguida regulamentado pelo Decnto n.o 2.409, de 23 de
Dezembro do me. mo anp.o. (App. XIII).
Por esses dous ultimos decreto!', o Tribunal de Contas
tem jurisdicção propria e privativa sobre as pessoas e as
rnaierias sujeitas á sua compelencia, e abrange lodos os res-
ponsaveis por dinheiros, valores e material pertencentes á
Republica, ·ainda mesmo que l·e8idam fóra do paiz; Decreto
n.O 392 cit., art. 2.° (App. XIU). '
Ainda por força desse mesmo decreto, o Tribunal de
Contas funccionl\: 1.°) como fiscal da administ1·oção finan-
cei1·a; 2.°) como Tl'ibunal dp. Justiça com jurisdicçi'io con-
tenciosa e graciosa; Decreto n.O 392 cito art. 2.°, §§ 1.0 e
2-.0 (App. XIII).
Dahi, dOllS graves inconvenientes, que logo decorrem da
esdruxula organização dada ao mesmo Tribunal:
L 0) o de ha.ver no paiz uma terceira Justiça, da qual o
legislador constituinte jámais cogitou e nem podia cogitar j
2.°) o da antinomia, qU9 logo se nota entre as disposi-
ções dos citados Decretos de 190ô (392 e 2.409) e as leis,
que passaram para a Justiça Federal as att'rlbuições conten-
ciosas até então pertencentes ao Tribunal do Thesouro
Nacional.
Depois, por mais de um motivo não se justifica a actual
'organização do Tribunal de Contas.
Bastará attentar para os termos explicitos e c~aros da
'Constituição da Republica (art. 55), para o proprio logar, que
occupn no corpo da .mesma Constituição a secção IIl,exclu-
- 277-

sivamente consagrada ao Poder Judiciario, para se' vêr, desde


logo, que no numero dos ju'-zos e tribunaes federaes, que a
Comtituição permitte ao Congresso crear, não está o Tribu-
nal de Contas, instituição puramente administrativa, sem juris-
dicção alguma contenciosa, e, portanto, sem attribuições do
poder judiciario. (App. XIII).
E' uma anomalia, que nem está de accôrdo com as ten-
dencias liberaep, fr'ancamente manifestadas desde o tempo do
regimen imperial, nem hoje se póde admittir em face da
organização dada ao poder judiciario federal, que, como sabeis,
é um dos orgãos da soberania naciom11 e um dos poderes
constitucionaes da Republica; Consto art. 15. (App. XIU).
E, se rião, vêde o que a e&te respeito escreveu o Dr.
Pedro Lessa:
«SãO processadas e julgadas pelos juixes federaes, com
appellação para o Supremo Tr.ibunal Federal, todas as cau;'
sal! propostas contra o governo da União, ou Fazenda Nado.
nal, fundadas em disposições da Constituição, leis e regula-
mentos do poder executivo, ou em contractos celebl'ados com
o mesmo governo (lettra b, do art. 60.) (Do Pyder J udiciario)·
«Se approximarmos esta disposição da regra geral da
lettra c, do mesmo art. 60, que entrega á .Justiç'l Federal o
process? e julgamento de quaesquer cau~as, propostas pelo
governo da' União contra pari, 'culares, e VICE-VERSA, teremos
patenteado a competencia da Justiça da União, p'.lra proces~
sar e julgm' todos 08 litigios, em que se pleitete um interesse
da União, seja qual fôr a natureza desse interesseD.
«Sob, o regimen imperial havia um certo numero de
questões, em que era interessada a Fazenda Public'J., para
cujo proceSso e julgamento se outorgava competencia á pro.-
pria administ1'ação. Tinhamos o contencioso administrativo,
mais ou menos organizado de accôrdo com os prinéipios res-
pectivos do direito trancex».
«Pelas citadas disposições dI), Constituição Federal foi
claramente revelado o pensamento dQ legislador constituinte
- 278 -

de abolir o contencioso administratit'o, conjiandÇJ-se aos


Tribunaes Jlldiciarios a attribltição de processar e julgar 08
feitos} que antes eram da competencia dos Tribunaes admi-
nistrativos» .
«Já no periodo monal'chico, 08 melhores estadistas pa-
trios prOpltgnavam a extincção do contencioso administrativo.
Eis a este respeito a opinião do Visconde de Ouro Pre-
tI): ( O contencioso administrativo é úutra invenção franceza,
que se procU1:ou imitar entre nós quanto aos nego cios geraes,
tentando ·se por vezes estendel-o tambem ris pl'ovincia8, espe-
cialmente no projecto do Ma~quez de S. Vicente, estudado
no Conselho de E.<:tado.
« Devia-se, entretanto, ter em vista que sómente "azues
de conveniencia politica determinaram a creação dessa ins-
tituição 110 pal:z em que mais desenvolveu-se, a França, tra-
tando-se de justijif!al-a por meio de distincções subtis, sem
base no terreno do di,·eito)).
«Ao envez de alguns estadistas nObsos, Minghetti, que o
acham já estabelecido em todos os Estados da Italia, cuidou
logo de o ir abolindo para ,'esfituir aos Tribunaes Judicia-
rios as attribuições deUes retiradas, a fim de constituirem a
competencia dessa jurisdicção anormal, que converte em juiz
a mais Im·te das partes litigantes».
«Taes foram os intuitos do seu projecto de lei de 27 de
abril de 1861. Elle observava com razão que, onde quer que
a inamovibilidade do~ magistrados é preceito de lei governa-
mental, a existenda de um Tribunal dG Contencioso Adminis-
trativo é altenttido contra a ConstituiçãO)).
«A aboHção do contencioso administrativo importou,
pois, em satisfaxer uma necessidade de ordem jurídica, já
,'econhecida e proclamr!da 80b a monarchia em nosso paix)).
(Pedro Less., obro cit., pago 143-145).
279 -

Depois r.idSO, senhorcs, o que principalmente me impede


de participar do enthusiasmo quc despertou no paiz a creação
do Tribunal de CJntas é o f<l.cto de o mesmo não ter corres-
pondido até hoje aos fins para que foi instituido.
U ma só consideração bastaria. para pôr em evidencia a
verdade de meu asserto.
Supponha-se a recusa do Tribunal em conceder registro
de um credito, autorizado pelo Presidente da Republica. Em
tal caso, o que logo se comprehcnde é que, em nenhuma hy:
pothesf", insif,tindó o mesmo Tribunal em sua recusa, póde esse
credito ser registrado ou inscripto.
Tal, porém, não acontece, pois, em muitos casos, os cre-
ditos impugnados teem sido registrados sob protesto!
Vale dizer que, em absoluto, se annulla por completo a
razão fundamental da lei, pela impedição opposta á flscaliza-
ção do Tribunal.
Em conclusão: tanto pelos fundamentos expostos, como
por outros, que aind~ poderiam ser additados, talvez fosse
preferivel, não a reforma, ma8 a 8uppra8são do Tribunal de
Contas. .

DECIMA SEXTA LIÇÃO

·1 - Governo do Estado; sua origem e classificações. 11- Rela~


cões do Estado com os seus funccionarios. UI - Da vitali~
ciectade, aposentadoria e demissão ad nutum. IV-Do mon-
tepio.

Meus senhores:

I - Em direito publico não ha Estado, politicamente or~


ganizado, que não tenha governo.
E porquc? Porque o Estado, que não tivesse governo,
forçosamente haveria de ser o reinado da anarchia.
Estado e governo, portanto, são termos correlativoól,
idéas que se completam por intimas ligações que existem en-
tre si.
Foi na familia onde primeiro se fez sentir a necessidade
de governo ..
Nas antigas Roma e Grecia cada gens #nha o seu chefe.
A associação primitiva, cref:'c?ndo naturalmente com o
tempo, passava por gradações successivas sob denominações
differentes.
Assim se constituiu a cidade, á qual precederam a
phratria, a curia e a plebe. A cidade, portanto, nasceu da
confederação das famílias e das tribus. C)
A exemplo da primeira cidade, assim constitu~da, for-
maram-se outras cidades.

(1) Fustel de CouI., A Cid. Ant., voI. 2. 0 , pag ...


- 281-

Do S..:U cODjllncto, por uma especie de convenção, moti-


vada pela necessidade de se defender, formava o povo, que
então habitava. uma dada circumscripção territorial, o que
hoje se chama um paiz, um Estado. (2)
Constituidas as cidades, novas divisões appareceram de-
terminadas pela distincção, que já existia, chamada das
classe!!.
A família não se desmembrava.
Permanecia unida pelos laços da religião, do parentesco
ou do sangue; mas, chega.da. a um curto numero de gera-
ções, novos ramos se constituiam, edahi a divisão do povo
em classes de patricios, clientes e escravos.
A esse tempo, já os povos haviam comprehendido a ne·
cessidade de melhorar as suas condiçõds sociaes.
Sobrevieram, por isso, lucta,s e revoluções em que toma-
vam parte as cidades sabinas, latinas e etruscas. CS)
As sociedades precisavam de governo j mas de governo,
que não ddsprezass6 08 dirdt08 dos pl~beu8, que já então
constituiam a maioria do povo.
Queriam um governo que não fosse ao mesmo tempo
rei e cht'fe religioso, summo sace1'dote do lar publico, presi-
dente da assembléa, juiz e chefe do exercito. (4)
Foram os athenicnses que inventaram o governo popu-
lar, quando em Athenas se fazia distinc.ção entre os Eupa-
triadas e os Thetas j quando em Sparta existia a classe dos
iguaes e inferiores j quando em Eubéa predominava a classe
dos càvalheiros sobre a do povo.

(2) Klüber, Droit des (Jens, § 20.


(3) Fust. de Coul., obr: cit., pago 7.
(4) Fust. de Coul., obro ci!., pago 7.
- 282 -

Conhecida assim a origem do governo nas primitivas


aggremiações humanas, notemos ainda, que, no campo do di-
reito politico, não ha uniformidade no modo de pensar dos
autores a respeito do que seja governo.
Cada cabeça, cada séntença.
São multiplas as fórmas de Estado, como são sobre-
modo variados os sy"temas de governo até hoje conhecidos.
A começar pelos gregos, entre os quaes a soberania
emanava da força, elIes estabeleceram a seguinte classi-
ficação:
1.0) Monarchia ou guvcrno de um só, degenerando em
tyranniaj
2.°) Aristocracia, governo dos grandes e dos ricos,
podendo degenerar em olygarchia j
3.°) Democracia, governo do conjuncto dos homens
livres, que podia, pela corrupção, transformar-se em dema-
gogia ou ochlocracia (5).
Temos, depois disso, as seguintes classificações:·
- De Montesquieu, que dizia:
Ha tres especies de governo:
1.") A Republica onde o povo, ou só parte delle, tem
o soberano poder.
Neste grupo se compl'ehendem a democracia e a aris-
tocracia j
2. a ) A Monarchia, onde um só governa, mas por leis
fixas e estabelecidas j
3,a) O Despotismo onde uni só, sem leis e sem regras,
arrasta tudo por sua vontade e pcr seus caprichos (6) j
- De Silvestre Ferreira, que ensina, que as differentes
fórmas de governo se podem reduzir a duas.
1.0) Monarchia ou governo em que li direcç!lo do poder

(5) Encyclop. Port., vol. 5,°, pago 336.


(6) Encyclop. Port., vol. 5.°, pago 336.
- 283-

executivo não é confiada sinão a uma só pessoa debaixo de


diversas condiçõés, que dá logJ.r a diversas eFpecics de mo-
narchia;
2.°) A olygarchia, em que a direcção do podH execu·
tivo é confiada a um corpo conectivo (1) ••
- De Bluntschli, que começa por dividir as fórmas do
governo em fundamentaes e secundarias.
As primeiras referem-se aos gOlJ61'nantes, c são: ideocra-
da, democracia, aristocracia e monarchia.
As segundas referem-se aos gOlJernados, e são: despo-
ticas, semi-lim'es e livres.
Na ideocracia o povo se considera dependente de um
ser sobrenatural, não podendo ser abatido, nem ferido pelas
suas censuras.
Na democracia a nação, longe de obedecer a um prin·
cipio abstracto, é a propria soberania governando-se por Si
mesma; é gove?'nante no seu conjuncto, gO'/Jel'nada nos seus
individuos.
Na a1'/stocracia ha uma classe ou uma tribu mais ele-
vada que governa, scndo todas as outras governadas, embora,
isoladamente, os mcmbros daquelLa sejam tambem gover-
nados.
Na 'monarchia, o governo encontra-se concentrado num
homem, que é soberano e não subdito, personificando o Estado
e a unidade da Nação.
São despoticas as fórmas em que a multidão dos sub·
ditos se encontra privada de qualquer direito politico.
São semi-li'vres aquellas em que só uma parte limitada
dos cidadãos participa dos ncgocios publicos.
São livres aquellas em que a generalidade dos cidadãos
é admittida ao 'exercicio de determinados direitos politicos (8).

(7) Encyclop. cit., vol. 5.°, pago 336.


(8) Bluntsch., l'heOl', Génér, qe l'État, pago ~81.
284

Outros publicistas moderno8, partin~o da origem da


autoridade, clal!sificam as fórm!\B de governo do seguinte
modo:
1.0) A opiniito que faz descer a autoridade do céo, de
DcuEl, da força que produz a monarchia, a theocracia, a
tyrannia;
2.° O systemll, que deriva do poder a soberania, conduz
á democracia, á republica e muitas ve:zes á dictadura.
Além das classificações referIda!!, ha um~ outra que se
conoca entre os extremos das mesmas, e vem a ser a que
considern o poder como a ewp,'essão da 1'Uzão pura, O me·
diador de tod09 os elementos sociaes.
E' o regimen mixto ou constitucional. (9)

Como vêdes, toda essa variedade de classificações pro-


cede de uma s6 causa - a variedade das fórmas de go-
verno.
Da fórma do regimen adoptado por um povo dependem
a natureza e a constituição do seu governo, corporificado no
Estado. ..
E, si, como refere a historia, cada povo tem a sua
fórma peculiar de governo, sempre consoante á indole e ao
temperamento do mesmo, os habitos por elle contrahidos
desde a sua origem, os usos e costumes, que formam, por as-
sim dizer, o fundo de sua educação e do seu caracter, que se
transmittem pela tradição, de idade a idade, a consequencia é
que diversificam os systemas de governo, como variam as
condições ethnogenicas e ethnographicas dos povos.
Depois, não cabe aqui indagar qual o ~elhor systema
de governo, porque a nossa lição não é de direito constitu-
cional.

(9) Encyclop. cit., pago 336.


riz mençllo das opmlOes dcs autores, em relaç~o a08
principios expostos, sómente para mostmr a verdade do meu
asserto: não !ta Estado, politicamente organizado, que não
tenha gove1'1lO.
Vem dahi a infinidade de suas especies, na opinião dos
publicistas citados, com as denominações e classificações, de
'1ue YOS dei noticia.
Devo, porém, dizer-vos que apenas menciono, mas não
adopto nenhuma °daquellas classificaçõel'.
De todas, a que me parece melhor ,é a de Bluntschli, e,
tpdavia, não satisfaz.
Eu penso qUIl, rigorosamentt', todas as fórmas de go-
o

,erno, até hoje conhecidas, podem, sem inconveniente, redu-


zir-se a duas: monal'chia e l'epublica. E' essa a sua diviz,ão
fundamental.
Depois di~so, por excepção, a dictadura.
A monnrcliía, ou o governo de um só, cc mo era nos
tempos &ntigos; heje, entretanto, podendo ser l~iga ou theo-
cratica, unitnria ou dualista, confederada ou f<.:derativa, cons-
titucion:.l ou aLsoluta, democratiea ou aristocratiea, livre ou
semi-liYrt', e tambem temperada.
A republica, como governo de um só, e, portanto, uni-
taria, ou federath-a, ou confederada.
Monarchia ou republica ainda podendo ser, como é ge-
1 almente, constituc:onal e representativa.
Si o não é, o governo de qualquer deUas é autocratico,
isto é, absoluto; podendo ser, além disso, despotico.
Faço essa distincção, porque b absolutismo foi sempre
considerado um systema de governo, em quanto o despotismo
não pl.ssa de um attentado.
Tem-se, depois disso, a dictadura, que póàe ser exercida
tanto no regimen republicano, como no monarchico. E', nos
modernos governos represt'ntativos, o exercido tempora1'io e
(ln()rmnl do poder legisla tiro pelo ministeria, ou poder exe-
cutivo.
-- 28G -

Em outros termos: é o que se púde dizer a suspenslto


das garantias outorgadas pela Constituição ao povo, decre-
tada pelo poder ou autoridade, que assim se tornou abso-
luta.
Logicamente, pois, no meu entender, a ideocracia e a
theocracia, a democl"acia e a aristocracia não são sinão attri-
butos ou qualidades que caracterizam cada uma das duas'
fórmas principaes,em que se di~ide o governo. Não p.lFSlm,
por consequencia, de denominações representativas de idéa3,
que se distinguem pelas suas significações oppostas e pecu-
liaridade de cada um dos seus typos, em que se differenciam,
pela representação, emfim, daquellas duas fórmas de perce-
pção intellectual, que determinam a naturez~ do governo,
mas que não são governo.
Eu chamo governo, dizia Rousseau, o exerticio legifimo
do poder ex€cutivo, o principe o~, magistrado, homem ou,
corporação, encarregada da administração CO).
Vê-se dessa defini~ão que a primeira caracteristica do
governo é o poder executivo, que o mesmo encarna.
A segunda é que elle abrange indistinctamente todos os
systemas, que se conhecem! de governar.
A terceira é que o governo póde ser de um só, ou de
mais de um representante do poder, isto é, póde ser indiii·
dual ou collectivo.
Depois disso, Romseau emprega a palavra administração
no sentido de governo, mas commumente n:io l~ assim.
Em todos os regimens politicos actuaes o gOl:erno differe
da administração, como isto eu já tive oecasião de demon!!tl'ar
t: m uma das hçõE's anteriores.

Examino, por ebte modo, a defini<;fio de Roul!scau, unica-


mente para mostrar que a mesma em nada ~ contraria á
divisão, que estabeleci, dos systemas de governo.

(10) COllll'. Soe., pago


A minha' divisão comprrh \nele tambeII1 O governo
collfctiz·o. .
Tão fómente eu n<'go que seja governo nquillo, qUf", no
fund~, ~ó se póde considerar qualidade ou au.,.ibuto do
mesmo.
A verdade é que a democracia e a aristocracia são hoje
consideradas ideias, que podem servir de principio fundamen-
tal tanto á monarchia, como á republica, conforme a in·
flllpncia, a acção preponderante das mesmas num ou noutro
regimen.
E' assim que muitas vezes se diz - republica demo-
cratica, mOllarchia aribfocratica, ou vice ·1)e'1's'l.
O que não é logieo é emprestar-s p , por exemplo, á
palavra democracia a ml'sma significação de governo que, de
facto e de direito, compete á monarchia ou á Repllblica.
A exp"essão governo póde' tomar-se em dous sentidos:
OIL como complexo de in.'Itituições politicas, de que se compõe

o direito publico do Estado, ou como o poder que preside á


direcção política ge1·a1., confundindo-se até certo ponto com
o conceito do poder execittü'O (11).
Particularizando um ·caso, eu direi que, no primeiro
sfDtido, e na fórma do nosso regimm, participam do governo
(tomada esta palavra na accepção geral) os tres poderes, que
eu chamo constitucionaes da R~publica - o legislativo, o exe-
cuti'fO e o judiciario.
No 2.° sentido, isto é, em accE'pção mais restricta ou
especial, o poder governamental do Estado pertence princi-
palmrnte ao poner executivo· e administrativo, este ultimo,
conf.Jrme já limos, como uma sub· divisão do penultimo.
Os dons outros poderes (legislativo e judiciario) par-
ticipam da fuocção do governo pela colaboração que prestam
a bem e no interesse da realização dos fins do Estado.

(11) Encyclop. cil., pago S!36.


- 2Sg

lI. Sabido o que se deve entander por governo, resta


conhecer a natureza de srias relaçõ~s com os fonccionarios da
União.
Courcelle Seneuil, procuraudo synthetizar a missão' do
governo, assim o define:
« O governo é o encarregado de fazer 1'espeitar o estado

de propriedade estabelecido pelas leis, de ?;elar pela obser-


vancia e pela execução dos contractos, de preparar e dirigl:r
a defesa do paiz contra os inimigos no exterior (12).
Vê-se dessa definiçãl), que a mesma está longe de
comprehender todos os fins do Estado, e ainda menos a q 11asi
infinita modalidade, em que se trarluz a missão do governo.
Depois c1e~sa definição, passa Courcelle Seneuil a. occu-
par-se das funcçõl;s do Estafo e dos seus agentes e func-
cionarios, estabelecendo uma distincç'io entre as condições
destes e as rIos funccionarios qttl) '1:ivem da industria.
Não me parece que tenha importancia para o nosso es-
tudo essa distincçã(\.
O q'le principalmente nos importa conhecer é a ordem e
a natureza das relações do Estado com os seus funcciona1'i08. '
Essa questão, apesar de longamente debatida, ainda é
objecto de funda divergencia entre os que. della Ee ieem oe-
cupado.
«A idéa de funccionario, diz Viveiros de Castro, impli-
ca a de autoridade (imperium ou jurisdictio), exercendo um
dos dÚ'eitos de subemnia I).
(( Os empregados, pelo contrario, não teem autoridade
nem esphera de acções '{!l'oprias; fão auxi!iarls e subordina-
dos dos funccionarios C~)).
Esta é, a meu vêr, a real distincção entre o funcciolla-
r,io e o empregado publico, si bem que, na linguagem usual,

(12) J.,'Étude du Droit, pago 114.


t1') Bic. Adm.,pag. f>l:.t
~gg -

muitas yczes sejam indistinctamente empregadas as duas re-


feridas expressões.
Po.sada, co.nsiderando. os funecio.nario.s co.mo. elemento do
organismo administrativo, os divide em Teprúentativos e pro-
fissionaes, e burocraticos.
« Os primeiros, diz eIle, são os que consagram todo o
seu tempo ás funcções publicas, os que não teem outra occu-
pação, nem podem tel-a segundo a lei, e percebem a 1'emune-
1'ação sufficiente para viverem sem recorrer a outros meios. l)
Quanto ao.s segundo.s, Po.sada o.s confunde com o.S pri-
meiros, como se vê da seguinte explicação.:
Um systema de administração que descansa completa-
mente, ou principalmente, em funcciolla1'ios profissionaes se
denomina systema buroc1'atico (1'). o-
Os funecionarios ainda se dividem em electivos o.U de
nomeação, podendo esta ser feita livremente, ou em virtude
de concurso.
São estcl'l, de facto, o.S dQUS unicos processos adoptados
pelo no~so regimen para as nomeações de todo.s os funceiona-
rios; nenhum deUes, porém, é respeitado. na pratica, o que si·
gni:6.ea que nenhum deUes exprime, em verdade, o. pensamen-
to da lei.
No. tocante á eleição, ebta, no Brasil, foi sempre consi·
derava uma farça.
E quanto aos concursos (diga-se ainda a verdade) em re-
gra, quando o governo annuncia um concurso, já tem, de an-
temão, assentado qual será o nomeado.
De modo que,. entre nós, o concurso não passa de um
artificio, com que se procura illudir os simplol'ios, que ainda.
acreditam no valor das habilitações e do merecimento!
Pareceria melhor que, em vez disso, fosse adoptado 0.,
systema das no.meações por livre escolha dQ governo.

('4) Vivo de Castro., o.b, cit., pago 517.


, DIREITO. ADMINISTRA.TIVo. 10
- 2nd-

Não seria lt'gaJ, mas teria, pelo menos, o merÍto da síD_


ceridade.
Os candidatos não veriam burlados os seus esforços pelo
ludibrio do seu direito nesse processo de mystiHcação.
Haveria, além disso, economia de trabalho, de dinheiro
e de tempo, o que não é pouco, principalmente para quem
apenas conta com o seu esforço.
,Além de que, si o governo acaba. quasi sempre. fazendo
a escolha pelo arbitrio, é prcferivtl que o faça ás claras, sem
ess;:), f"l1aciosa apparencia de legalidade, que tanto depõe con-
traa seriedade da administração.

Ccnforme eu disse, não ha accôrdo entre os escriptores


sobre a natureza juridica das relações do El5tado com os s(us
funccionarios.
Uns consideram essas relações sob o ponto de vista da
subordinação absoluta dos mesmos ao poder que representa o
Estado.
Outros, porém, com raz1,o, limitam essa. subordinação.
Em principio, o Estado manda e dispõe dos serviços do
funccionario, sem que este possa invocar direito algum contm
a ordem recebida.
Esse principio, porém, EÓ é absoluto para os partidarios
da omni potencia do Estado.
Julgo desnecessario dizer que me não alisto entre os
partidarios dessa doutrina, porque a considero erron.ea.
O funccionario tem o dever de obedecer ás ordelis dos
seus superiores legitimos, mas dentro da lei.
Fóra dabi, nada o obriga á sujeição absoluta da obedien-
eia passiva.
Em vez disso, o nosso Codigo Pena], no art. 229, dispõe:
. «O que executar ordem ou l'equisição illegal será con-
liderado obrando com.o 8i tal ordem ou requisição não exi8-
291

tira, e Fnnido pelo excesso de pode1' ou jurisdicção que cOm,·


meiteJ'J,
A tanto, por conseqnencia, não póde chegar a convenieÍl-
cia, a necessidade, o poder da disciplina official, o poder do
mando do Estado na~ relações com os seus funccionarios,
Elltá· exactamente nessa limitação, imposta pp-Ia. lei aos
poderes do Estado, uma das excellencias dos regimens consti-
tncionael', comparados com os governos absolutos,
Ainda sob o ponto de vhta das relações dos funcciona-
rios com o Estado, alguns escritores admittem a existencia
de um 'Cinculum juri8 entre a administração e o empregado.
O serviço publico, no conceito de Stein, é uma vocação,
uma profisrão e não um simples encm'go; ha, por conse-
quencia, um vinculo, que prende o empregado ao Estado,
determinalld'J direitos e deveres entre os mesmos. C5)
A nota commum dessas opiniões é o reconhecimento de
caracter bilateral e até contractual da relação de emprego.
No nosso ~egimen., esta questão se reduz, não a simples
affi.rmação theorica, mas !lo determinações positivas, expres-
sas na lei,
O Governo não póde excluir arbitrariamente nenhum
funccionario do Estado do exercicio de suas funcções.
Este é o principio sobre que assenta o nosso direito;
esta é, pelo menos, a jurisprudencia uniformemente assentada
pelo Supremo Tribunal Federal.
Sendo esta a regra, soffre elIa, comtudo, excepções, que
a confirmam,
Taes são, por exemplo, os casos de malversações, abusos
e omissões dos funccionarios publicas, previstos e capitulados
nos arts, 207 e 238 do Codigo Penal, e os de demissão ad
nulum, de que logo me occuparei,

(1") Vivo de Castro, obro cit., pago 5!l!O.


*
lIl. Os funccionarios publiccs federaes, na conformidade
do nosso direito, podem ser assim classificados: am,.oviveis e
inamovíveis.
São amoviveis quando podem ser transferidos ou priva-
dos do emprego: são inamoviveis quando não podem sel-o
senão em casos excepcionaes, expressamente previstos em lei.
Os primeiros ainda se consideram temporarios; os segun-
dos tambem se chamam permanentes.
No numero dos temporarios figuram os funccionarios em
com missão, os unieos' a quem a lei não contempla na distri-
buição doa seus benen.eios.
A' classe dos permanentes pertencem «;>s funceionarios
vitalicios, que, por sua vez, se dividem em duas ordens: uma
daquelles que ~ão vitalicios e inamoviveis desde a investidura
do cargo, como 08 magistrados, por exemplo; outra dos que
só adquirem essa qualidade depois do exercicio de suas fun-
cções durante um determinado numero de annos de effecti-
vidade.
A lei, que aetualmente regula, entre nós, ao vitaliciedade
dos funccionarios federaes, é a,de n.O 2.924, de 1915, cujo
art. 125 dispõe:
IL O funccionm'io ou empregado publico federal, salvo
os empregados em commissão, que contam dez ou mais annos
de serviço publico federal sem ter soffrido penas no cumpri-
mento de seus deveres, s6 pode1'á ser destituido do mesmo
cargo em virtude de sentença judicial, 'ou mediante processo
administrativo» •
Mas, e~sa lei, send0 do orçamento da despeza geral da
Republica para o exercicio de 1915, é de duração annua; O
art. 125 supra transcripto não póde deixar de ser uma dispo-
sição abrogada.
Dê-se, porém, de barato que ainda esteja em vigor; ao
respeito da mesma eu vos affirmo, que é uma disposição tão
defeituosa, quanto injusta.
Notae que o artigo citado (125), sem razão alguma
- 293-

baseada em direito, exclue da garantia, que eshbelece em


favor do empregado publico federal, o funccionamento em
commissão.
Deduz-se, por consequencia, que o émpregado em com-
missão não é o mesmo que os demais empregados publicos
federaes, a quem a lei concede aquella regalia. E si o é, a
desigualdade de sua condição, injustamente estabelecida pela
lei, torna-se patmte i a injustiça, com que assim é ferido o
empregado em commissão, não tem justificação possivel!
Ao passo que a disposição citada garante a vitaliciedade
ao proprio empregado publico federal, sem exclusão daquelle
que ne;nhuma parcella exerce de a,utoridade, como já tivemos
occasião de demonstrar, nega esse direito ao funccionario em
commissão!
Não vale o argumento do caracter 'instat·el, ou tempora-
rio da commissão, porque a verdade é que ha commissões,
que permanecem, se prolongam e se conservam durante
maior numero de annOEl, do que o estabelecido pelo art. 125
citàdo.
O mais interessante é que o governo, para fugir á dif-
ficuldade, tem chegado ao extremo de negar que o emprega-
do em com missão sf'ja funcciollario publicaI
Nega, por consequEncia, o governo aquillo que a lei
expressamente otfirma: isto é, que o empregado em commis-
são é funccionario publico I '
Oo11oca, B.nalmente, o mesmo governo abaixo de um
simples porteiro ou senente àe repartição o empregado em
commissão, tal como aquelle, que tem aitribttições definidas
em lei, que exerce parte da publica aulm·idade e que, por
vezes, no desempenho de sua com missão, chega até a repre-
sentar o proprio governo, exercendo a funcção fiscal do
Estado!

Quanto á situação dos funccionarios, elles ainda se divi-


dem em activo8 ou passivos, conforme estão no e~ercicio do
- 20J-

emprego, ou aposentados, verificada a condição de invalidex,


estabrlccida na Con:stituição nos seguintes termos:
II A aposentadoria só poderá se1' dada a (unccionarios

em caso de invalidez no serviço da nação; art. 75.


Este é o preceito constitucional; mas o facto é que se
contam ás centenas as aposentadorias concedidas a funcciona-
rios perfeitamente válidos, e (o que mais é!) com todos os
vencimentos!
Depois de assim aposentados como inl'aZidos} voltam de
novo á actividade, dedicando· se a outras profissões ou em-
pregos, muitas vezes mais lucrativos ou rendosos.
Como isto, senhores,é edificante!
. Que belIo exemplo de igualdade democratica, dado á
mocidade de hoje, que será o governo de amanhã!
Voltando 20 art. 125 da Lei n. 2.924, de 1915~ notae
que a Constituição preceitua que a aposentadoria sómente
seja concedida ao funcciona1'io publico que 8e invalidar no
serviço da nação,' art. 75.
O pensamento da Constituição é aSóim traduzido por J.
Barbalho:
«E' um dever do governo amparar aos que, no serviço
publico, 'se tenham inutilizado li> •
Si, pc is, como vimos, no nosso direito se faz distincção
entre o funccionario e o empregado publico; aquelle exer-
cendo attribuições definidas em lei, e, portanto, parcella de
autoridade, estl', pelo contrario, privado de toda jurisdicção
ou poder de mandar, a conscquencia é que, na pratica, nin-
guem se entende relativamente ao assumpto.
E' a confusão da lei, produzindo a barafunda na appli-
cação da mesma, como pafso a demonstrar.
Si, na tcchnica administrativa, ha realdistincção entre
o funccionario e o empregado publico (ederal, é um erro
empregarem-se indistinctamente eS8es termos como si fossem
expressões synonymas, como se faz entre nós.
Si o pensamento do art. 12ó da Lei de 1915 tem
- 295

sómente por fim garantir a conservação do empregado


publico federal, a consequeneia. é que é uma disposição
defeituosa, porquE', constitltcionalmente, não dá a esse em-
pregado o direito á aposentadoria.
Nos termos da Constituiç'io, sómente póde ser aposen-
tado o funccionario publico, e este, technicamente, não é o
mesmo que empregado publico.
Si, como se deve suppor, o citado art. 125 abrange 1'n-
distinctamente tanto o funccionario, como o empregado publico
federal (como aliás nelIe é expresso), razão em direito não ha
para negar-se a vitaliciedade ao empregado em commissão.
Esse empregado, pela autoridade decorrente das pro-
prias funcções que exerce, é (e não pode deixar de ser) fUDC-
cionario publico!
A elIe, portanto, é igualmente exten~ivo o art, 75 da
Constituição da Republica.
A este respeito, não se quer vêr que a razão funda-
mental da vitaliciedade e da aposentadoria não eE>tá na
natureza do emprego ou funcção exercida pelo individuo, e
sim no recorihecimento, da parte do governo, dos serviços por
elIe prestados ao Estado.
Vem aqui de molde a autorizada opinião de João Bar-
balho a semelhante respeito:
c( Em todos os poros cultos (diz elIe) O governo vae pela
aposentadorz'a em auxilio dos funccionarios, que lhe deram
o melhor de seu tempo, de sua actividade e sacrificaram-lhe'
sua saude, no momento em que elles se hão tornado impres-
taveis para a continuação do serviço, nem mais podendo,
fóra delle, ganhar por outro modo a vida li. (Comment. à
Const, pago 342).
A verdade é que a palavra commúsão é o thema a que
se apega o governo para negar ao funccionario que a exerce
o direito á vitaliciedade, qualquer que s<'ja o numero de
annos, que o mesmo tenha de effeetivo exercicio e de bons
serviços prestados á causa publica,
- 296-

E' esta, e não tem sido outra, a logt'ca official.


:Mas, essa logica é erronea; participa do erro de falsa
doutrina e de falso raciocinio.
Dabi a confusão da lei, d,ispondo de encontro ao que é
express~ na Constituição da Republica; art. 75.
Vem dahi a injustiça praticada pelo governo, privando
do beneacio da aposentadoria o funccionario em com missão,
quando tudo se resolveria facilmrnte e com toda justiça si o
mesmo lhe concedesse esse direito sempre que contasse o
tempo exigido para as outras eepecies de funccionarios, na
fórma do disposto nas respectivas leis.
De tudo isso, finalmente, resulta a barafunda a que me
hei referido e da qual não póde escapar apropria jurispru-
dencia dos nossos tribunaes, em manifesto desaccôrdo com os
principios doutrina rios do nosso direito e com o disposto na
Constituição da Republica a semelhante respeito.
Talvez me objectem que a censura não cabe tanto ao
governo, mas principalmente á lei.
A' primeira vista, parece que assim é; na realidade, não!
A lei, si por tal modo é injusta, a culpa é dos que
a fazem!
Governo e Congresso, portanto, são connz'ventes nessa
injustiça tão clamorosa, quc chega a ser qualificada por
J. Barbalho - uma ingratidlio da nação. (Obr. cit. p~g. 312).
Incontestavelmente, esse rigor do governo, com referen-.
cia aos empregados em com missão, seria muito mais justificado
na concessão das aposentadorias! •.•

A demissão ad nutum é uma particularidade do nOSfO


direito, que assim se differencia do direito norte-americano.
Nos 'Estados Unidos não ha demissão ad nutum, como
.ha no Brasil para certas classes de funccionarios, taes como os
empregados em commissão, os representantes do ministerio
publico; etc,
- 297-

NaqueIla Republica é garantido ao funccionario publico


o exercicio do seu cargo emquanto bem servil-o.
E' o que claramente se deprehende da Constituição
Norte-Americana, que assim dispõe: /I O Presidente, o Vice.
Presidente e todos os funccionarios .civis dos Estados Oni-
dos serão destituídos (removed) dos respectivos cargos, si, em
consequencia 'de julgamento político (inpeachment) forem
condemnados por traição, corrupção, Olt por outros graves
crimes e delicias (rnisdemeanors) ",. art. II, secção 4."
Sem julgamento, portanto, nenhum itmccionario civil,
naquella Republica, é demittido do seu cargo.
Entre nós não é assim.
Alli, a lei é uma só para todos os funccionarios CiVlS,
desde o Presidente da Republica até o da mais inferior gra-
• dnação.
Aqui, de modo contrario.
Comparado,. nesta parte, o nosso direito com o direito
norte-americano, vê-se que existem entre os mesmos notaveis
differenças, que assim se resumem:
Alli, o principio geral é o da tempc,ralidade de todos os
funccionarios, com' excepção unicamente dos juizes tanto do
Supremo Tribunal como dos tribnnaes inferiores, que são
considcradosvitalicios; Consto cit., art. UI, secção 1.&
Aqui, nós temos além àa vitaliciedade dos magistrados e
de outros funccionarios com esse predicado desde a investi.
dura, a vitaliciedade de ontros que não podem ser destitui-
dos de seus cargos desde que contarem dez annos ou mais
de serviços I' Lei n. O 2.964, de 1915, art. 125 .
. Rigorosamente, pois, tanto um como outro direito não
assentam em principios sem excepções.
O direito norte-americano parece, com effeito, melhor
orientado quando estabelece o principio da mobilidade para
todos os funccionarios civis, com a unica excepção dos juizes
doa seus tribunaes; mas} ainda assim, não está isento da cri-
- 298-

tica, que se póde f~zer a esse principio sob o ponto de vista


do seu illogismo e do imprevisto de suas conclusões.
Eu me explico: os juizes daquelles Tribunaes são decla-
radamente vitalicios (Const., art. lU, scrç. 4. n); mas, isso
não obstante, serão destituidos dos cargos si commetterem
crimes ou delictos pelos quaes sejam cOl1demn~dofl.
Ora, quanto ao resultado, a sua condição é a mesma dos
outros juncccionarlos civis, que não são vitalicios, mas que
apesar disso não serão destituidos dos cargos sinfio por for(y,
de sentenç'l condAmnatoria; Consto cit., art. II, secção 4. a
A distincção, portanto, consagrada pela Comtituiç1.o ame-
ricana, além de illogica, é falha nas SUlS consequencias.
Depois disso, vê-se dessa Constituição, que, nos Esta-
dos Unidos, o processo é um só e o julgamento é sempre po-
lítico para todos os casos de destituição dos funccionarios ci-
vis da União ,. Const., art. lI, secção 4."
No Brasil, porém, o nosso direito difrere em tudo da-
quelh', pois, além da demissão ad nutum, em que o funccio-
nario póde 1!er destituido á vontade do governo, ha ainda
dous processos para o mesmo fim: o judicial e o adminis-
trativo; Lei n.O 2.964, de 1915, art. 125.

IV. O montepio dos funccionarios federaes no Brasil


data do Decreto n.O 942, de 31 de Outubro de 1890, que o
creou de modo obrigatorio para os empregados do Ministerio
da Fazenda. (App. XIV).
Posteriormente, estendeu-se esse beneficio aos outros
Ministerios civis.
Assim: para o da Justiça e Negocios Interiores, pelos
Decretos ns. 956 e 1.036, de 6 e 14 de Novembro de 1890,
e 2.448 de 1 de Fevereiro de 1897; para o Ministerio da
IndustriaJ Viação e Obras Publicas, pelo Decreto n.o' 1.045~
de 21 de Novcmbro de 1890, e para O Ministerio do E~te·
- 2~)9 -

rior, pelo Decreto n. O 1.092 do mesmo mez e anno. (lS)


(App. XIV).
O âm da instituição é prover á subsistencia e amparar
o futuro das familias dos empregados publicos, quando (stps
fallecerem) ou ficarem inhabilitados para se sustentarem de-
ct'ntemente. C7 )
O modo por que se constitue o montepio e se faz a dis-
tribuição de seu beneficio se encontra eshbelecido nos decre-
tos citado!!.
A questão do montepio tem sido, por vezes, agitada
pplo governo e levada ao Congresso, para o fim de se modi-
ficarem algumas diFpoEições das leis que o regula.m.
Dcvido a isso, o governo, autorizado pelo Congresso,
sURpendeu as contribuições para o montepio, pelo Decreto n. °
490, de 16 de Dezembro de 1897. (App. XIV).
Ainda, depois disso, foi o montepio restabelecido pelo
Decreto D. O 8.904, de 16 de Agosto de 1911, estando Rctual-
mente de novo suspenso pela. Lei n. o 3.089 de 8 de .Janeiro
de 1916. CApp. XIV).
Finalmente, não ha, por emquanto, solução deânitiva a
este respeito, e até que o Congresso resolva sobre a sua re-
forma decisiva, temos funccionarios com montepio (os anti·
gos) e funccionarios sem montepio - os nomeados posterior-
mente ao Decreto n.O 3.089 de 1916, art. 107. (App. XIV).
Bem razão teve o deputado Castro Pinto quando, na
sessão de 24 de Setembro de 1907, discutindo um projecto
1I0bre instrucção publica, disse: « •.• reformas e reformas, 'e
tudo no mesmo >l.

(16) Vivo de Castr., obro cit., pago M6.


(17) Vivo de Castr., obro cit., pago 04(3.
DECIMA SET1MA LIÇ.:tO

l-Divisão trichotomica da administração, a saber: adminis-


tração federal, administração estadual e administração,
municipal. Cómpetencia privativa de cada uma das admi-
nistrações. II - Centralização e descentralização. III - Selr-
government e self-administration.

Meus senhores:
Já vimos, na 15.& lição, os diversos sentidos em que
commummente se emprega a palavra admim'stração " o logar
que lhe compete entre os poderes politicos; a parte de
autoridade que lhe cabe como ramiJ;cação de um desses po-
deres (o exe?utivo); a missão, emfim, que lhe é destinada
como au~iliar do governo na direcção geral dos negocios do
paiz.
Ainda ha, porém, depois disso, importantes considerações
a fazer a respeito da administração.
Preciso é, pois, completar a explanação dos principios
fund~mfntaes Eobre que fIla aEsenta antes de entrar no estudo
dos elementos formativos de cada uma de suas especies.
E', sem duvida, de capital importancia a differença que
de facto existe entre a política e a admini~traçl'io.
O poder politico, ou, mais propriamente, o governo é a
vontade que delibera; a administração é o instrumento dessa
vontade. C)
Isto, porém, quanto ás medidas dependentes da colla-
boração dos dous poderes.

(1) Garn. pagcs, Dict. dt' la Polit., pago 28.


- 301 -

Sob esse ponto de vista existem entre eUes laços ntio só


de união, como de mutua dependencia, por onde se verifica
que a poHtica não pode mat'char sem o conCU1'SO da admini&-
tração (Bluntschli, La Polit" pag, 390),
«Em geral, o poder politico nâo entra nos detalhes, que
formam a parte que cabe aos administradores, u
Ao poder politico incumbe a idéa, a orientação, o de-
lineamento do plano a seguir, ao passo que o que diz respeito
a detalhes pertence ao poder administrativo,
Ha, entretanto, entre os negocios commettidos ao governo,
medidas de caracter especial, que, sendo da competencia
exclusiva do poder político, sómeate por este podem ser de-
cretadas.
Assim, por exemplo, o indulto e a commutação das
pen'1.s, nos crimes sujeitos á jurisdicção federal, são Rctos
de politica interna) incluidos nas attribuições do poder execu-
tivo da União; (Conbt. Feder., alto 48 n. 6), os quaes, por
sua natureza, não podem caber á administração (App. XV).
Esses actos, tntendendo com o principio representativo
da soberania nacional, devem, por i~so, emanar de 'autorida-
de mais alta, por força de interesses de ordem politica ou
governamental a bem da propria conveniencia do Estado.
São medidas de caracter ora interno, ora externo, cujo
alcance, indo, por vezes, além das fronteiras do paiz, por
isso Ee consideram de natureza essencialmente governamen-
tal ou politica.
Desta sorte, (abstrahindo dos actos dapolitica interna) a
declaração de guerra, os tratados de paz, de commercio e
de alli~nça, as nomeações dos membros do COlopO diplomatico
e dos agentes consulm'es, as relaçues com os Estados fstran-
geiros, etc., são medidas ou aetos do governo directamente
exercidos pelo poder executivo, embora devam, após isso,
ser submettidoE', uns á atPl'ovação do Congresso, outros á
approração do Senado, na fÓl'ma do disposto na Constituição
da Republica, art. 48n8. 12 e 16 (App. XV)
(:;ompaI adas essas attribuições com as da admínistraçtio,
logo se evidencia quanto ellas differem entre si.
A acção da administração é, por assim dizer, toda in-
terna; não vae além da circumscripção territorial do paiz,
salvo os casos de simples relações do governo com os beus re-
presentantes diplomaticos, consulares e outros acreditados no
estrangeiro.
Fóra dl;\Li, os limites do seu horisonte, como diz Batbif',
não l!te pel'mitlem 1'e1' senão uma parte dos interesses que
assim lhe é circw1Iscripta.
Não é outra tambem a lição de Blunts~hli no seu excel·
lente livro La Politique, pago 300.
Depois, procedentes da mesma origem, visando fins
comm1lns, animados por um mesmo espirito, é assim que os
dous referidos poderes (conJuncta ou singularmente) conse·
guem, dentro da esphera que 1I/es é propri(~) 1'euZisar a missão
do Estado por mâos semelhantes. (2)
Por força desse principio, a administração vem a ser
a1'istocratica em toda a parte onde o gOllerno fôr conduzido
pela oligarchia dos senhores; burocratica tias monm"chias
absolutas; finalmente, sujeita ás influencias parlamentares
nas fIlollarchias constitucionaes. (3)
Cunforme as idéas ou principias predominantes, a admi-
nistração, como bem pondera Batbie, será sempre o reflexo do
governo que ella representa: tal polltica, tal administração.
E' o que, noutros termos, doutrina Manoel Culmeiro
nesta phrase synthet:ca e expressiva: «Et gobiel'no 110 es liutO
un escudo, es tambien una palanca. (4)

(2) B1ock, Did. de la Polit., vol 1.0, p~g. 18.


cal Block, Dict. de la Polit., vol. 1. 0 , pago 18.
(4) DerrchoAdrn., tom. ],0, pgs. 11 e 1~.
Por outro -lado, a acção administrativa póde ser posití Vll
ou negativa. E' nt'gativa quando, por exemplo, procura im-
pedir a perturbação da ordem publica, faxendo o possirel
por se manter c,/da cidadão no limitte de seus direitos.
E' a missão especialmente destinada á policia adminis-
trativa.
A administração é positiva quando dirige certos serviços
de interesse geral, de cujos beneficios ou vantagens ficariam
privados os administrados e o proprio Estado si este, na impos-
sibilidade de os confiar á iniciativa individual, não procurasse,
por outros meios, a sua dfectividade tanto no interesse geral
da nação, com a bem da realização dos fins do Estado.
Assim; por exemplo, quando a administração manda
deseccar um pantano para purificar uma atmosphera putrida,
construir um caminho ou abrir um caLai que tenha por fim
facilitar a communicação com um ~entro de producção ou de
consumo, age e não impede; pratica, por consequencia, acto
directo e positivo. (5)
QuaI\to á sua natureza, ell!lo ainda póde ser centralizada
ou descentralizada.
Como exemplo da 1." apresentarei a administração, que
tivemos no regimen mcnar('hico, onde os aetos mais simples
dependiam do poder central.
Como exemplo da 2.", tem-se a administração organizada
nos moldes do nosso actuul regimen federativo.

M. Colmeiro, estudando a administração em seus princi-


pios fundamentaes, doutrina que a mesma deve reunir cinco
caracteres que lhe são proprios.

n Dlock, (,ur. cit., pago iS.


-304 -

Deve ser: 1.0) analoga ás leis politicas do pai~; 2,0)


essencialmente activa j 3.°) centralzzada;, 4.°) independente;,
5.°) 1·esponsavef.
E accrescenta que a actividade da admini'ltração com-
prehende quatro outras qualidades que lhe são nccessarias:
generalidade, perpetuidade, promptidão e enel'gia.
Justificando esses caracteres e qualidade!', Colmeiro adduz
razões que aqui procurarei resumir:
- A ordem natural das sociedades (diz ~lle) e as forças
dos principios luctam incrssantemente pOl' fazer penetrar a
unidade nas leis e a analogia entre as instituições de cada
paiz;
- A administração deve ser activa, de modo que não
passe do movimento exaggerado a um esteril repouso;
- A administração tem por missão velar por todos os
intereEses sociaes, de m~neira que em c1da centro adminis-
trativO ella represente o govtlrno em todas as direcções;
- Os processos lentos na acção administrativa manifes-
tam a fraqueza do poder e tiram ás medidas por elle decre-
tadas o merito da previdencia e da opportunidade;
- Uma administração fraca logo se perde na opinião
publica; sem nenhuma força moral, suas ordens serão desres-
peitadas; as leis não serão cumpridas;
- A centralização é condição essencial á administração
de todos os Estados;
- De que lhe serviriam a vigilancia, a promptidão e a
energia si a sua acção pudesse, a todo o instante, ser entra-
vada! Logo, é preciso que seja independente. .
- Que seria dos administrados si a administraç?to fosse
irresponsavel ?
Ainda e, depoi", disso, emitte Colrneiro dous outros con-
ceitüs, que convem referir: 1.0) a administração deve ser ci1;il
e nào milztar; :2.°) no exercicio de suas attl'lbuiçõtls, a sua
acção deve ser limitada, intervindo apenas nos casos, em que
iôr insufficiente a acti, idade individual.
ZÓ5 -

A Ll-:U 'vÉlr, senhores, todos 08 princlplOs estabeleoidos


por Colmeiro são fundamentalmente verdadeiros, menos o que.
se refere á centralização: porque, conforme já tive occasião
de demonstrar, os povos prosperam e avançam em civilização,
e podem ser bem governados tanto no regimen da adminis-,
tração centralizada, como descentralizada. -
E si, entre esses systemas, eu prefiro a descentralização"
é porque me parece o que melhor se concilia com as legiti-
mas aspirações de um povo livre,
No que concerne ao principio de só mente ter logar ~
intervenção do poder adminl:strativo nos casos de insuffi~
ciencia da actividade individual, é o mesmo que tem sido
sempre por mim sustentado em anteriores lições a respeito
de tantas leis, que nos opprimem até na ordem das cousas
habituaes.
Ides vêr a confirmação de meu juizo nesta expressão
rigorosamente exaeta, que é, além disso, uma advertencia:
"OS abusos são a causa primaria da anm'chia e das revolu-
ç'ües. Nos Estados fundados sob o principio da ,divisão dos
poderelJ, o abuso da administração obst1'ue o governo; o
abuso de governo paralysa a administração, o abuso da legis~
lação fax perece1' tanto a admip,istração como o governo (6) ;
Quanto á administração militar, é preciso primeiro dis7
tinguil-a do militarismo, que, a julgar pela historia, tem sido,
causa da ruina de muitos Estados ou nações.
Eu penso que,quando Colmeiro emittiu aquelle conceito,
eram outras as condições de vida, de independencia e de
estabilidade tanto dos povos, como dos governos.
Então a ambição, o egoísmo, as rivalidades e os interes~
ses de uns e outros eram mais ou menos disfarçados.
Havia antagonismos, invejas, antipathias reciprocas, lutas

(6) Garnier Pagés, obro cit., pago


DlREITO ADMINISTllATIVO
- Sâ(j -

de inferesses appostos, mas, em tudo as paíx~es se fEj-


freavam I
Govern(ls e povos procuravam salvar as apparencias.
Cada um deUes se esforçava por demonstrar ter por si o
direito.
Havia, quando mais não fôsse, um certo acatamento á
opinião dos outros povos e um certo respeito aos principios
fundamentaes da ordem juridica e da soberania dos povos.
Si, na impossibilidade de accôl'do, rompia a guerra, esta
nunca chegava a perturbar a paz do mundo, fazendo peri-
gar, como hoje, apropria existencia das nações.
Certamente por isso, na occasião presente, a segurança
dos meios de defesa é a principal preoccupação dos Estados
pequenos e fracos. .
Não ha mais guerra de raças e de crenças, mas guerra
de interesses commerciaes e economicol', de expansão e de
conquista, de dominação e de mando I
Dahi, as idéas do imperialismo em voga, as qnaes
accenderam a guerra actual entre as ~aiores potencias, com
grave perigo para o equilibrio das relações internacionaese
para a paz do mundo I
N otae que, mesmo entre· nós: uma profunda revolução se
tem .operado tanto sob o ponto de vista de nossa educação
civica, como de nossas condições sociaes•
. Nãll somos mais o povo descuidoso e tranquillo de outros
tempos. A guerra actual fez-nos despertar, para, vigilantes e
attentos, nos pôrmos em guarda!
Segundo a previsão dos mais competentes, tudo denota
que vamos passar por novas transformações de ordem social
e- politica.
Os povos vão comprehendendo que a Bóconfiança no
direito não basta; vale o direito "i elle dispõe da precisa
força material, para garantia de Bua existencia.
E tanto é assim, que Bluntschli observa:
« Sem direito a força é bestial; é o lobo que del'ora o
- 307-

éordeiro; unida aO direito, ella se torna d~qna da natureza


moral do homem» (Theor. Générale de l'État, pago 255).
O que actualmente se vê é que a civilisação retrocede,
e, na pratica, os factos sobrelevam ás theorias!
A politica utilitaria, no trato das relações internacionaes,
é hoje uma continua ameaça á integridade dos paizes livres
e independentes.
Nenhum delles se considera seguro de uma aggressão
ou invasão' estrangeira.
Ponhamos o optimismo á parte, e logo veremos a reali-
dade das cousas.
O principio da contra dicção nuncá deixou de existir e
de influir nas relações da vida dos povos.
E' isto o que se vê na historia •.•
« Os antigos germanos não reconheciam nem 8upporta·
vam poder algum absoluto,
O imperium, fundamento do Estado romano, lhes era des-
conhecido.
Antes de obedecer (diziam elIes) é preciso delibera?' e
votar). (Bluntschli, obro cit., pago 36.)
Hoje são, de todo, diversos os principios e a disciplina
. a que elles obedecem.
E, como esse, outros povos.
Isto, aliás, facilmente se comprehende deante dos factos.
Na actualidad(', são outras as idéas, outros os principios,
outras as theorias dominantes.
« Goul'ernement et g01l'l:el'nés forment ensemble l'État.
Les Pl'emieres ont le dro1't de commander, les seconds Te
devo ir d'obéir: voiTà la ?'egle» (Blunt8chJi,. Le Droit Public,
pago 419.)
O direito c(ntinua a 8fT, Eóm<>nte de nem!', o atiribufo
dos individuos, con: o dos PO,ú8, que SP, dizem livres; porém,
na realidade, o fundamento dos Estados actuaes é o direito
do ma:s forte.
"d&
DUO "~....

. ." Lançae uma' vista. retro~pectiva sohrea historía' aoS.


governos nestes dez ultimos annos, e logo tereis disso a prova.
O direito ainda se considera o principio fundamental da
exi~tencia de todas as sociedades politicas, mas o facto é que
não ha povo que desconheça a verdade de dous principios que
lhe são oppostos - vis vi l·epellitur,. se Tis pacem, para
bellu1n.
O direito do mais forte foi o principio pelo qual se
bateram os representantes das maior,es potencias na confe-
rencia de Haya; e, depois disso, o mesmo que ainda agora
alimenta o encarniçamento e a obstinação caprichosa da
peleja actual. •
No que nos diz respeito, muito antes da guerra já o
governo havia compt'ehendido a necessidade de dar nova
fórma á nossa organização militar.
Esse assumpto loi objecto de suas cogitações em 1907,
tanto que pela lei n.O 1.860, de 4 de janeiro de 1903, foi·
estabelecida a obrigatoriedade do tú'o de guerra e evoluções
militares nos estabelecimentos de instrucção superior e
secundaria.
Regulamentou essa lei o decreto n.O 6.947 do mesmo
anno, quP, após isso, tem súffrido alterações e reformas.
Partiu dahi o movimento geral, no Brasil, no sentido
~a instrucção da mocidade no manejo das armas, visto que é
principalment e aos moços que está confiado o trabalho da
defesa nacional.

Voltando á, questão da administração militar, não me


parece claro nem facil de comprehender o pensamento de
Colmeil'o.
A administração militar, contraposta á administração
civil, parece significar militarismo, systema politico que, com
apoio no exercito, tem sido por vezes posto em pratica assim
J)OS tempos antigos, como nos modernos.
~. 309

Penso, entretanto, "que nã) é disso qlle se cogita.


Nos proprios paizes em que a administração é caracte-
risticamente civil, como o nosso, eUa tem, por força, a sua
repartição financeira e outras, que Bluntschli com razão con-
sidera ramos espeeiaes ou technicos. da administração civil·
em geral (La Polit., pago 301).
Não é, não pó de ser de outra nr,tureza a administração
referente aos l\Hnisterios da Marinh:~ e da Guerra.
Com excepção desses casos, é verdadeiro o principio de
Colmeiro.
O governo propl'Íamente militar é sempre um mal; ê a
I!laior das ameças á liberdade e á independencia de um povo.
As forças armadas teem missão tão nobre e elevada a
cumprir, que seria um crime de lesa-patria o deixarem des-
virtnal-a a politica!
Foi o que succedeu á França no iR brumario quando
Bonaparte, usando da violencia e da força, estabeleceu o
governo consular, que foi, como sabeis, o primeiro passo para
a dieta dura militar.
Felizmente, é sempre de duração ephemera o poder des-
potico e absoluto de todo o governo dessa natureza.
Os povos tambem se enganam.
A revolução franceza, que havia pretendido pôr termo,
em França, ao poder absoluto de um rei, acabou por entre-
gaI-a ao poder absoluto de um governo feliz (7).
No que nos diz respeito, nunca fomos um povo de voca-
ção para as armas, como eram, por exemplo, os romanos e
gregos.
A nossa posição, em face dos acontecimentos hodiernos,
é determinada pela necessidade de precauções que os factos
e as circumstancias ·aconselham.

(7) Rapos. Bot., Hist. Univ., p~g. 369,


- 310 ---

Não nos podem ser indiflerentes as graves complicações


internacionaes destes ultimos annos.
Natural é, portanto, esse movimento geral, q~le, partindo
do centro (a capital da Republica), vale por um brado de
alérta em ddesa do paiz !
Não tem outra explicação a fundação no Brasil de tantas
ligas ou associações destinadas a promover os meios necessa-
rios ao resguardo da nossa soberania e da integridade do
nosso territorio.
São dignas, pois, de applausos essas linhas de tiro for-
madas em todos os Estados, o serviço militar obrigatorio, a
arregimentação da mocidade brasileira, que vibra de enthu-
eiasmo -ao se aprestar para a guerra em caso de necessidade!
A differença entre esse movimento, que inflamma de
patriotismo os nossos jovens patrícios de hoje e aquelle
que incitava a mocidade grega e romana nos tempos.antigos,
está em que alli os moços se entregavam aos exercicios
gymnastícos e militar( s por uma natural vocação para a
guerra, ao passo que, entre nós, nunca houve isso!
Vinham dos seus antepassados as manifestações belli-
cosas, as tendencias imperialistas, a sêde de conquistas do
governo de cada um daquelles Estados, as attitudes e as ma-
nift:stações guerreiras de ambos aquelles povos.
Para os moços daquelles tempos a disciplina militar
primava entre as outras disciplinas.
Era a consequencia daos leis impostas pelos seus legisla-
dores e homens de Estado, que consideravam afuncção mais
importante do cidadão o exercicio militar.
E, si hoje o mesmo su~cede entre nós, outra é a causa;
impelIe. nos um principio vital- o da nososa propria conser-
vação.

lI. Conforme o nosso regímen politico, consubstanciado


na Constituição de 24 de Fevereiro, temos tres especies de
administração, e dabi a divisão a que se refere o ponto.
- 311-

Temos, por consequencia, a administração dividida. em


tres partes: a. primeira comprehendendo a administração fe.
, deral; a segunda a administração estadual; e a terceira a.
administração municipal.
Na Republica, reorganisou o serviço' da administração
geral a lei n. 23, de 30 de outubro de 1801, que assim,
dispõe:
- : II Os serviços da administração federal distribuem-se

pelos seguintes Ministerios: '


- Ministerio da Fazenda,·
- Ministen·o da JusUça e Ne,qooios Interiores ;
- Ministerio da Industria, Viação e Obras Publicas;
- Ministerio das Relações Exteriores;
- Ministerio da G!J,erra;
- Ministerio da Marinha (art. 1.0).
Posteriormente, pelo decreto n. 1.606, de 29 de de·
zembro de 1906, creou-se mais o Ministerio dos Negocios
da Agricultura, lndustria e Gommercio.
Ficaram, em consequencia disso, a cargo desse Mi-
nisterio:
1.0) a agricultura e a industria animal;
2. 0 ) a indulitria de mineração e todas as industrias
novas;
3. 0 ) o commercio (decr. cito art. 2.°).
Esse ultimo ministerio teve a sua primeira regula-
mentação pelo decreto n. 7.501, de 1909 até 11 de agosto
de 1911, quando de novo foi regulamentado pelo decreto
numero 8.899, daquelle anno.
Temos, portanto, que a administração federal se divide
actualmente por sete lVIinisterios, cada um delles presidido
por um ministro de Estado, que a Constituição considera au.
xiliar do Presidente da Repltblioa (art. 49).
Bão da competencia privativa do Ministerio,da Fazenda
todos os negocios concernentes á Fazenda Publica, ao The-
souro Nacional e ás Repartições Fisco,es ao elle subordina·
..:.:,- 3-12

das; ao· Tribunal de Contas; á Divida Publica, inte~~a e


externa e á Caixa de Amortização; aos bens do dominio fe- .
deral; aos lançamentos de impostos; á arrecadação, distri-
buição e contabilidade. das rendas federaes; á escripturação
relativa. a pensionistas, aposentados, reformados e emprega-
dos de repartições extinctas; á Casa da Moeda, á Imprensa·
Nacional e ao Diario O!ficial; aos Bancos de Emissão, de
Depositos e Descontos (lei n. 23 de 1891 citada, art. 2.°); e,
por ultimo, á Caixa de Conversão J creada pelo decreto
n. 1.575, de 6 de Dezembro de 1906.
-São da competencia do Ministerio da Justiça e Nego- .
cios Interiores: os serviços e negocios relativos á adminis-
tração da justiça local do Distr'icto Federal e á administração
da Justiça Federal tanto neste districto, como nos Estados, á
Policia do District9 Federal, bem como á administração do
Corpo de Bombeiros, tudo o que fôr concernente ao desenvol-
vimento das sciencias, letras e artes, á instrucção e educaçao
e seus respectivos institutos nos limites da competencia do
Governo Federal, bem como os demais serviços que pertencem
ao actual Ministerio do Interior. (Lei n.o 23 de 1891; citada,
art. 4).
Esse ministerio corresponde ao do Imperio no tempo da
monarchia.
-Compete ao .Ministerio da Indwsi1'ia, Viação e Obras
Publicas, entre outros serviços, a garantia de juros a empre-
sas de vias-ferreas, a navegação dos mares e rios no que fôr
da competencia do governo federal, a administração e custeio
das vias-ferreas pertencentes li União, bem como o s~rviço do·
pagamento de juros, ou de subvenções a empresas ou compa-
nhias particulares e a fiscalização respectiva, as obras publicas
em geral, inclusive as dos portos e o serviço de telegraphos
e correios. (Lei n.O 23 citada, art. 6,°);
Além desses, menciona a lei outros serviços, que passa-
ram para o Ministerio da Agricultura.
- -Ao Mim'8terio - -das Relaçõ68 -Exteriore8 compete o'
- 313-

expediente e despacho dos negocios referentes a commissões


de limites, congressos, conferencias e reclamações internacio--
nae!', corpo diplomatico e consular, etc.
-Ao Minislerio da Guerra competem os negocios rela-
tivos á instrucção militar, arsenaes, fortalezas, fabricas de mu-
nições, o levantamento da carta geral da Republica e o Su-
premo Tribunal Militar;
- Ao Ministerio dà Ma?'inha competem os serviços do
Almirantado e capitanias de portos, de construcções navaes,
arsenaes, repartição dos pharoes, depositos navaes, etc.
Em relação a esses dous ultimos ministerios a Consti-
tuição dispõe:
« Todo o brasileiro é obrigado ao serviço militar em de-
fesa da patria e da COllslitU"ção, na fôrma das leis federaes,
art. 86.
« O exercito federal compor se-ha de contingentes que os
Estados e o Distl'icto Federal são obrigados a fornecer, cons-
tituidos de cpnfonnidade com a lei de fixação de forças.
« Uma lei federal determinará a organização geral do
Exercito, de accôrdo com o n. O 18 do art, 34; art. 87, § 1.0
«A União se encarregará da instrucção militar dos cor-
pos e armas e da instrucção militru' superior; art. 87, § 2,°
aFica abolido o l'ecrutamento militar forçado; art. 87, §'3,o
« O exe1'cito e a?'mada compor-se-hão pelo volnntariado
sem premio, e, em falta deste, pelo sorteio previamente orga-
nixado.
«Conca?'rem para o pessoal da armada a Escola Naval,
~s de Aprendixcs lYlal'Ütheil'os e a marinha mercante mediante
sorteio; art 87, § 4. 0
Quanto ao Ministerio da Agricultura, já vimos em resumo
"Os serviços que lhe competem.
Os actos do Poder Executivo sob a fórma de decretos ou
regulamentos, são expedidos com a assignatura do Presidente
da Rrpublica e do minjstro respectivo (lei n,O 23, de 1891,
cito ad. 9,°),
- 314-

Os demais actos são despachados e assignados, ou rubri-


cados pelo ministro que os expede, ou, conforme o caso, pelos
directores da respectiva secretaria, de accôrdo com as normas
regulamentares; (Lei n.O 23, cito art. 9.°, § 1.0)
Os avisos não podem versar sobre interpretação de lei
ou regulamento, cuja execução esteja exclusivamente a cargo
do poderjudiciario; (Lei n.O 23, cito art. 9.°, § 2.°)
Os ajustes, convenções e tratados celebrados pelo Presi-
dente da Republica são sujeitos á ratificação do Congresso,
mediante um projecto de lei formulado pclo P6der Executivo
nos termos do art. 29 da Constituição; (Lei n.O 23, cito art.
9.0, § 3.0)

Acabo de dar-vos (tão resumidamente quanto possivel)


uma idéa da administração geral no Brasil.
. Seria, realmente, mais instl'uctiva a nossa lição, se nella
eu pudesse fazer o estudo comparado da actllal administração
republicana com a do antigo regimen.
Isto nos levaria muito além do limite, que aqui nos é
imposto.
Passaremos, pois, a tratar ds. administração estadual.
A este respeito dispõe a Constituição da Republica:
«Incumbe a cada Estado prover, a txpensas proprias,
ás necessidades de seu' governo e administração; art. 5.°
E', como vêdes, o mesmo principio regulador das neces-
Eidades do governo e da administração federal.
Ainda aqui claramente se percebe a distincção, que de
facto existe entre a política e a administração.
Politicamente, os Estados p6dem inc01'po1'ar-se entre si,
subdividir-se, ou desmembrar-se, para se annexarem a ou-
tros, ou f01'mm'em novos Estados, comtanfo que o façam de
accôrdo com as normas prescriptas pela Constituição Pede-
ral; art. 4,0
Administrativamente, é da competencia exclusiva d08
- 315·-

mesmos E8tados decretar impostos, 1.0, sobre a expol·tação de


mercadorias de sua propria Pl'oducção; 2.°, sobre immoveis
ruraes e urbanos,' 3.°, sobre transmissão de propriedade; 4.°,
sobre indllstrias e profissões; Consto Fed., art. g.o
Tambem compete exclusivamente aos Estados decretar:
a) taxa de sello quanto aos actos emanados de seus respecti~.
vos governos e negocios de sua economia; b) contribuições
concernentes aos seus telegraphos e correios.
Politicamente, cada Estado reger-se-ha pela Constituição
e pelas leis que adoptar, respeitados os. principios constitu-
cionaes da União; Consto cit., art. 63. .
Aqui se tem, portanto, a fonte dos poderes tanto políti-
cos, como administrativos de cada Estado na federação bra-
sileira. .
De accôrdo com este dispositivo constitucional se tem
feito a organização administrativa de cada um dos referidos
Estados, com excepção unicamente do Estado do Rio Grande
do Sul, que, em varios pontos, se afastou dos principios esta_
belecidos pela Constituição da Republica.
Resumindo a materia referente á organização dos Esta-
dos, direi:
Seus poderes, como os da União, egualmonte ie dividem
em legislativo, exectttivo e judiciario, sendo que o executivo,
por sua vez, se divide em poder político ou governamental e
poder administ,rativo.
". Em materia de attribuições, ha actos da competencia
exclusiva dos Estados, e actos, que conjunctamente pertencem
a este e á União.
Assim, por exemplo, como a União, 08 Estados podem
estabelecer taxas de sello, linhas telegraphicas e correios
estaduaes, respeitados, como vimos, os preceitos da Consti.
tuição.
Ra, além disso, outros actos, que eu chamarei de com-
petencia positú'a e competencia negativa dos mesmos Es~
tados,
- 316-

No 1.6 caso, estão a incorporaçlo e a incumbencia a


que se referem os arts. 4.° e 5.° da Constituição citada.
'No 2.° se incluem as expressas prohibições contidas nos
seus arts. 11, 62 e 66.
Ra, finalmente, ainda poderes facultativos dos Estados,
como se vê do art. 65.
Assim, conhecidos os principios basicos das organizações
estaduaes, cumpre não esquecer a capital importancia, pri-
meiro, das jm,tiças locaes, depois a autonomia dos munici-
pios, em que principalmente se. funda a organização dos Es-
tados; Consto cit., art. 68.

Conforme ainda o disposto nesse artigo, resulta a sub-


divisão referente á administração municipal.
Occupando·se deste assumpto, diz J. Barbalho: «.A
Constituição projectada pelo Governo Provisorio estabelecia
clausulas para a organização dos municípios D.
« Era o poder central regulando objecto alheio á sua
competencia ». (8)
Por felicidade, não vingou a idéa do Governo Provisorio,
e assim ficou assegurada a autunomia dos municípios em tudo
quanto respeite ao seu peculiar interesse; Const., art. 68.
Vingou o principio liberal da autonomia dos municipios
brilhantemente sustentado por uma pleiade de illustres repre-
sentantes da nação desde o regimen imperial. ..
Devido a isso, abstracção feita deste districto, que, tendo
sido declarado a séde da União, teve, por esta circunstancia,
uma organização s1ti generis, todos os demais municipios se
organizaram de accôrdo com as seguintes bases estabelecidas
pela CODstituição, art. 68:
1.°) Completa autonomia. no que respeita ao seu peculiar
interesse ,.

(8) Comment. á Const., pago ~81.


· &11-

2. Ó) fiJlectit'idade da administração local;


3.°) Faculdade de celebrm'em com um ou mais mttníd-
pios do mesmo Eotado os ajustes necessarios para a realiza-
ção de obras de l'esiricia competencia de cada um em seu
respectivo territorio; .T. Barb., cemment. cit., pago 282.
Quanto ao Districto. Federal, a primeira conces~ão que
lhe fez o governo provisorio da Republica foi equipara l-o a
um Estado; decreto n. ° M8 de 1890, art. 365.
Promulgada a Constituição, a primeira lei que estabele-
ceu a organização municipal deste Districto foi a de n. o 85,
de 20 de setembro de 1892.
Temos, depois disso:
1.°) a consolidação das leis federaes sobre a organização
municipal deste Districto approvada pelo decreto 11.0 5.160.
de 8 de março de 1904, por onde se vê que o governo a que
a mesma consolidação se refere se assemelha ao governo dos
Estados,· sem embargo das anomalias, que se notam em vá-
rias de suas disposições.
2.°) o decreto D.O 1.955, de 17 de setembro de 1908,
que regula o proccsso das infracções de leis e posturas mu-
nicipaes;
3.°) a lei n.o 1.978, de 15 de outubro do mesmo anno,
que manda abonar aos intendentes municipaes, quando em
sessões extra01'dinarias, o mesmo subsidio que percebem
quando em sessões ordinarias, e suppl'ime a inelegibilidade
do empregado municipal ou, fede1'al, aposentado para o
cargo de intendente municipal.
Essa lei, ~lo menos na sua ultima parte, é evidente-
mente inconstitucional.

Compar.mdo-se e organização dos nossos municípios com


.8 das municipalidades norte-americanas, vê-se bem que ha
entre tllas pontos de semdhança, mas tambem dífferenças
essenciaes.
Nos Estados Unidos os direitos das municipalidades sito
muito mais limitados e restrictos.
E' de Cooley esta affirmação:
« Que o povo em foda a parte tenha o direito de go.<wr
do governo p1'oprio (SELF-GOVERNMENT) é, sem duvida, prin-
cipio mais adequado ás instituições republicanas; mas
mmca foi considerado como principio de direito o poder dti- .
xar-se a uma communidade local a faculdade de lançar às
bases de suas instituições e erigir um systema de governo
sem a direcção e a limitação impostas por uma autoridade
superio1' ».
Mas, onde o direito norte-americano é inteirament~ di·
verso do direito brasileiro, mostrando ser menos liberal do
que o nosso, é no ponto assim referido por Cooley:
« Uma concessão de direito oude prh'ilegios feita a uma
'TIlunicipalidade ou a um município por motivos publicos não
é um contracio, mas uma lei para o bem publico >l.
« Semelhantes comparações crearam-se como necessarias
ao governo, e os seus poderes e privilegies devem estar 8U-
jeitos a modificações legislativas e revogaveis a todo, o
tempo >l.
Terá razão o grande constitucionalista citado?
Tenho duvidas, aliás bem fundadas, a semelhante res-
.
peIto.
.
Primeiramente, quem conhece a historia da formação
das nações' modernas, sabe perfeitamente que vem da mais
_alta antiguidade a autonomia da admilâstl'nçãv communal.
Alexandre Herculano, em brilhante estudo que fez das
condições de existencia- dos conselhos portuguezes e durante
o dominio gothico, escreveu:
« A :ma historia na época dos fodos prova-nos que a
exislencia dos conselhos municipaes l1{íO fOI:, na sua e,~sencia,
uma jÓ1'mula então ignota, itma plwse accidental nas tenta-
tivas de organizaçãO, em que /Se deoale1'am, no seu berço, de
nações modernas, mas sim uma tradição do mundo ani/go l ·
e'nvolta na qual elle legava ás novas sociedades Um aos prírt ~
cipaes elementos da liberdade popular J). Oes. Oant., Hist.
Univ., voI. 7.°, pago 165.
E devido a isso, depois de ter affirmado que o munici-
palismo resistiu á dissolução pohtica e soeial do imperio, elle
conduiu ser o mesmo o principio vivificadol', a pedra angu-
lar da republica.
Fustel de Ooulanges, tratando do espirito municipal na
autiguidade, nos diz:
c: Cada cidade, por exigencia da sua "eligião propria,
devia estar absolutamente independente. Cada, uma dellas
devia ter o seu codigo particular, pois que cada uma tinha a
.sua religião e a lei derivava da religião. Cada uma devia
ter a sua justiça soberana e não podia haver justiça superior
á sua cidade. Cada cidade tinha direito á sua autonomia;
ella dominava astiÍm um conjuncto que comprehendia os
seus cultos, direito, governo, toda a sua independencia reli-
giosa e politica ». (A' Oid. Ant., voI. 1.0, pago 357 e 361).
Deante desta verdade, de todo contraria ao principio
doutrinado por Oooley, o que se conclue é que o direito nor-
te-americano, sob esse ponto de vista, é um poder refractivo
contraposto á historia.
O que nos dizem Fustel de Ooulanges e Alexandre Her-
culano basta para con,encer de que o municipalismo não foi
creado pelo governo.
Pelo contrario j sendo a primeira aggregação da vida
em sociedade, e, por isso, a fórma, por assim dizer, organica
primaria de toda a sociedade, parece claro que precedeu á
existencia do govern~ do Estado.

ItI. Passo' agora a occupar-me da centralização e descen-


tralização administrativa, remate da lição de hoje.
O fimples enunciado' das duas expres8ões deixa ver clara-
mente que uma tem signifieação opposta á da outra.
No prím'eír~ desses regimens o govLrnó central é túdo ;-,
a nação é tutelada pelo Estado. Todos os poderes se enfeixam
nas mãos do governo geral, de modo que os negccios mais
simples de natureza administrativa dependem de seu placet.
Centralização, pois, quer dizer - concentração de poderes,
noção radicalmente opposta á descentralização, que consiste,
no dizer dos autores, na repartição pelos governos dos Ebtauos '
e dos rrunicipios dos poderes que entendem com a adminis-
trl:1ção dos publicos negocios peculiares a cada um dos ditos
Ef>tados ou municipio!".
Combatendo a centralização administrativa, diz Lastarria,
que não é condição de unidade e de ordem publica, mas de
oppressão.
EUa é inc01Jipativel com o gOI'erno democratico rep1'esen-
tativo, que deve conciliar o 1'egimen do direito em um povo
livre com a plena independencia de todos os elememtos sociaes.
A descentralização ad llinistrativa, pois, é uma necessidade das
'
nações modernas (Polit. Posit., pago 452).
NFto estou longe de concordar com Lastarria desde que
se me permitta uma restricção.
A ..descentralização é, com effeito, a fórma de adminis-
tração que a todas parece preferivel, se se trata de povos
• instruidos e cultos.
Será, entretanto, um mal se fôr applicada ao governo de'
um povo ignorante, affeito á inercia, carecido de estimulos e
de actividade propria.
Em tal caso, a descentralização deve ser gradual.
Deve ser concedida aos poucos, c?nforme as condições
sociaes do povo e na proporção das necessidades, que se âze~
rem sentir no curso normal da vida da nação.
Foi o que se deu entre nÓ3 no regimen monarchico.
O acto actdicional foi uma medida opportuna, decretada
por força de necessidades, cuja Ba~isfação o paiz reclamava.
Tem-se dito que o acto, por insufficíente, não satisfez; e dahi
Os acontecimwtos que abreviaram a queda da monarchia.
- S2f-

Não é exacto!
A monarchia cahiu por eft'eito de outras causas que n~o
cabe aqui apreciar.

IV. Resta-nos vê r, depois disso, o que vem a ser o .elj-


government e a seLf-administration.
Este assumpto constitue, em verdade, um dos problemas
mais transcendentes· do direito publico moderno.
Litteralmente, self-governm.ent significa - poder sobre si
mesmo.
Juridicamente, porém, é conhecido pelo systema inglez
de administração, em que os cidadãos não abandonam ao
poder central senão os nego cios superiores ás suas proprias
forças, ou os que teem necessidade de ser dirigidos por vistas
de conjuncto.
No fundo, pode-se dizer que corresponde ai. descentra-
lização. .
E a self-administration? Que se deve entender por esse
regimen?
Conhecer um e· outro em seus elementos fundamentaes,
dit-tinguil-os entre si-eis a grande difficuldade! •• _
A meu vêr, são dous systemas de administração local,
que em tudo se assemelham, existindo apenas, entre 0.,8 mes-
mos, esta differença, aliás notada por Bluntschli: o self-go-
vern1llent tem o caracter aristocratico, e na Inglaterra é prin-
cipalmente exercido pela .qentry; a self-administration, pelo
contrario, é uma instituição democratica, em que tomam
parte os cidadãos em geral.
Se o self-govermnent é, como se diz, a liberdade abso~
lu.ta em tttdo o que corcerne á administração local, eu o
comprehendo tratando-se, por exemplo, do seu paiz de origem
- a Inglaterra; não assim, porém, nos Estados Unidos,
onde, como já vimos, os governos locaes não gOBam em abso-
luto dessa liberdade.
DIBEITO ADMINISTRATIVO
..... 3~2-

Ú facto, porém, é que, apesar disso, nos diz nluntschli:


« Les Anglais et les Américains du Nord sont fiers de leur
self-go vemment )).
Se assim é, tem razão Jean Cruet quando diz: c Os Es-
fados Unidos, em 1787, tentaram uma transposição republi-
cana da COllstitU1'ção ingIeza, mas conceberam-na ,çob um as-
pecto que ella havia cessado de apresentar no sewIo prece-
dente, e é 1101' isso que a Constituição americana é no fundo
mais monarchica que a Constitui-ção ingleza )). (A Vid. do
Dir" pago 306). '
E, com effdto, assim é:
Haja vista o facto de, naquella Republica, as municipa-
lidades, além de não terem liberdade nem: autonomia, não
têm dü'eitos estaveis, taes são as limitaçõcs e restricçõ~s que
lhes são impostas pelo direito norte ameri('ano; (Cooley, obro
cit., pag.)
Depois, se, no dizer de Lorenz von Stein, a selj-admi-
nistration não é um principio, mas um organismo perma-
nente do poder executivo, com um caracter locai e indepen-
dente, tendo, além disso, objecto, funcção e direitos que lhe
são prop}'ios, o que se conclue é que não existe nos Esta~os
Unidos essa especie de administração communal; primeiro,
porque, (segundo Cooley) aUi o municipalismo não tem inde-
pendencia nem mesmo nos negocios de seu peculiar interesse
e ainda menos objecto, fttncção e di,;eitos que lhes sejam pro-
prios.
Finalmente, outra distincção que ainda se póde fazer
entre o self-government e a self-administration é a seguinte:
O self-govemment deve (conforme doutrina Bluntschli), a
stta o1'igem e o seu caracter ao Estado, e não á '1-,ontade da
sociedade. E', por isso, uma creação da lei positiva e não do
direito costumeiro.
A ~elf-administration, pelo contrario: a sua essencia é a
actividade espontanea e o concurso ordenado dos cidadãos no
8psterna ordenado do Estado. EUa é, pois, a união da socie-
- 323-.

dade e do Estado, da liberdade civica e do dever pUblico


(Blunt., La Polit., pago 57).
Assim, por exemplo, as nomeações dos juizes de paz na
Inglaterra, do Conselho da Prefeitura em França, as funcç~es
communaes e outras semelhantes são fórmas que Bluntschli
considera de or,qaniza<;ão publica e de exercicio legal da self-
administration.
Em relação ao Brasil, e do mesmo modo, existem, na
I sua actual organização administrativa, cargos e funcções, que
caracterizam perfdtamente tanto o self-government, como a
self-administtation. .
Os cargo!', por exemplo, de membros da Junta da Caixa
de Amortizlção e do Conselho da Caixa Economica e Monte
do Soc ~orro, não podem deixar de se considerar como per-
tencentes ao self-govermnent.
Semelhantemente, a nomeação dos membros dos conse-
lhos municipaes com o exercicio gratuito de suas funcç~es,
são Rctos que (como outros, que ainda poderiam ser aponta-
dos) revelam o caracter da selfadministration.
,

, .


DECIMA OITAVA LIÇÃO

I - Da jurisdicção administrativa e sua divisão. lI. - Em que se


. distingue a jurisdicl:ão graciosa da contenciosa. IH - "
Funcções jurisdiccionaes e espontaneas.

Meus senhores:
Antes de sabermos o que se deve entender por jurisdicção
administrativa e como ella se divide, notemos que .o seu con-
ceito é o de um poder que se exerce por funcções.
Entre estas, na technica adlI!inistrativa, ha, como fiz
sentir na 8. a lição, differenças essenciaes.
Alli eu disse, que tanto o poder governamental ou
politico, como o administrativo, exercem funcções que lhes
são proprias, umas previ8ta~, definidas, taxadas na lei, outras
apenas provindas da faculdade, implícita e necessaria, de
agirem os dous poderes cada um na orbita de suas
attribuições a bem e no interesse da coIlectividade ou nação.
E então accrescentei: conforme a natureza dessas
funcções, elIas se dividem em consultivas e activas, directas
e indirectas,' graciosas e contenciosas, e jurisdicciollaes e es·
lJontaneas.
Podemos, depois disso, na licção de hoje, entrar no
estudo da jurisdicçtlo administmtiva e de sua divisão na
fórma do nosso direito.

Façamos, primeiro, a distincção, que de facto existe,


entre a jurisdicção que se diz administrativa e a jurisdicção,
que compete á justiça ou ao poder judicial.
- 325

Bluntschli, tratando dcssa distincção, observa:


cà administração velá pelo bem publico, o tribunal
mantem a lustiça entre os particulares. Uma (a adminis·
traçiló) parte da ideia do Estado; a outra protege os direi-
tos privados (justiça civil) e sempre se refere aos indivíduos»;
Le Droit Publ., pago 232.
E' tambem a lição de Ribas, que diz: «a administração
executa as leis de interesse geral; o poder judicial as de in·
teresse privadoD.
A meu vêrJ a principal distincção que, de facto existe,
entre as duas referidas jurisdicções assenta antes na natureza
do oqjecto sobre que ambas se exercem.
E' a natureza desse objecto (acto ou facto) que deter-
. mina a competencia dos dous referidos poderes, demarcando
assim os limites da jUTisdieção de cada um delles.
Assim, o dever de velar pelo bem publico não cabe SÓ-
mente á administração. .
Delle tawbem participa o governo e a propria justiça,
cada qual na esphera que lhe é propria.
Quando, por exemplo, a justiça toma conhecimento da
violação de um direito e o pune, tambem patrocina o bem
publico.
Conseguintemente, o que cumpre é attentar plJ.ra a
natureza do acto offensivo, objecto desse direito, pàra assim
saber a que Juiz ou Tribunal deve competir o processo e o
julgamento do litigio (no civel) ou do acto culpavel (no
crime). .
Não tem outro fundamento a existencia do poder legal
exercido pela autoridade publica. para a manutençlto da
ordem juridica, para anel observancia da lei na sua appli-
cação e para a consequente punição das suas infracções.
Esse poder é o que, na tecbnologia do direito, se conhece
por jurisdicção, que póde ser (sob essa relação) civii ou cri-
minal.
Ainda em relação á justiça, a ~ua jurisdicção não se
- 326-

liinita ao julgamento dos casos de direito privado, como deixa


I!uppôr a doutrina citada.
O poder da justiça' singular, ou dos tribunaes judiciarios,
vae muito além disso.
Si a violação do direito é de ordem pessoal ou patrimo-
nial, de natureza prejudicial ou referente ao direito interna-
cional privado, em todós !lsses casos a justiça, agindo juris-
diccionalmente, conhece das infracções da lei e da violação do
direito, que p6de ser de um simples particular ou de pessoa
jurídica de direito publico interno, tal como a Unitto, cada
um dos Estados ou o Districto Federal, cada um dos munici-
pios legalmente constituidos, etc.; (Cod. Civ., art. 14).
(App. XVI).
De outra sorte, teriamos que admittir, que, dada a vio-
lação do dirrito de qualquer dessas pessoas, não haveria jus-
tiça ordinaria para conhecer da especie.
Mesmo em relação á justiça penal, nilo é menos verda-
deira a minha affirmação.
Supponha-se o crime de moeda falsa.
Esse crime, como logo se vê, é de ordem interna e pre-
judica principalmente o Estado.
Quem processa e julga esse erime?
Sem duvida, :;lo justiça civil ou ordinaria.
Não parece, portanto, verdadeira a distincção estabele-
cida sob o fundamento de que a administração parte da idéa
do Estado, e a justiça da protecçt1o aos direitos privados .
. Por outro lado, a distincçlto entre o governo e a justiça
não assenta sómente no principio, que Bluntschli considera
fundamental, da separaçi'ro dos poderes.
Bem ao contrario, depende tambem dos actos ou factos
a que já me referi.
Na jurisdicç!to administrativa actuam principalmente os
factos, sobre os quaes a autoridade, mesmo sem provocação
de qualquer especie, precisa agir no interesse da commu·
nhão social.
- 327

Na jurisdicção judicial, pelo contrario; quasi sempre


constituem objecto de sua arção os actos.
Essa acç~o é sempre provocada, e esses actos hnto podem
ter como fundamento a pratica de UlD crime, a violação de
um direito pessoal ou patrimonial de ordem privada, como a
violação de um direito de outra natureza, praticada na esphera
de relações, que entendem com pessoas juridicas de direito
publico interno, e, por consequencia, com a ordem publica.

Depois disso, entrando no assumpto principal de nOllsa


lição, inquiram.os:
Que significa, na sciencia administrativa, a palavra.
jurisdicção?
Essa palavra vem do latim jus (direito) e dicere (dizer).
Em sua significação propria, ella exprime o poder não
só de julgar; como de applicar a Ipi aOB casos sujeitos ao
seu conhecimento, acção e deliberação no interesse dos admi-
nistrados.
E' o que, com a sua grande aUloridade, ensina Caban-
tous, quando diz:
.. «Pois que a ju1'isdicçãO, em geral, é o poder do juiz, a
jurisdicção administrativa não é Otttra cousa Si1lão o poder
dos juizes administrativos,. Dir. Adm., pago 424.
AssilD, em Fl'Ilnça todo o juiz era magistrado mesmo
administrativo.
E Cabantous accrescenta: Em Roma se designava pelo
nome de imperiu1n o coníuncto de dous attributos essenciaeEl
ao poder executivo: - o poder de cOE'rção (potestas gladii) e
o direito de presidir os actos solemnes da vida civil (juris
dictio ).
Chamava-se imperium merum o poder de coerção sem
jurisdicção; dizia-se - imperium mixtum qui etiam juris dictio
inest o poder de. coerção naquelles casos que se suppunham
tambem uma sorte de jurisdicção.
- 328-

Era assim que os magistra,dos municipaes, por E'xemplo,


tinham jnrisdicção, mas sem o pJder de coel·ção. (Cab., obro
cit., pago 445).
Tudo isso, como se vê, não passa d~ subtilezas, em qu~
sempre abundou o direito romano.
Actualmente, ante o feitio das instituições modernas, sob
o imperio do principio de separação entre a ordem judiciaria
ea ordem administrativa, todas aquellas expressões romanas
teem apenas o valor de uma reminiscencia historiea.
O que se não deve esquecer é. que. do poder de julgar,
exercido pela administração, nasce a jurisdicção que se deter-
mina por tres objectos principaes: o territfJrio, as materias e
as pessoas.
Cada um desses.objectos limita, em direito, o poder de
sua autoridade e o exercicio de sua acção.
Isto significa. que o poder jurisdiccional da administraçlio
não póde ir além dos limites que lhe são traçados na lei.
Com razão .doutrina Boncenne: jurisdicção ~ o poder da
juiz; a competencia ê o limite desse poder (Théor, de l~
Proced., introd., chap. VI).
Garnier Pagés, nomeando os tres objectos que determi-
nam a jurisdicção, apresenta, em substituição das pesioas 1 Q.
exercido de certas profissões.
Nada influe, entretanto, sobre a verdade do principio, a
opinião divergente C}.e Garnier; no fundo, o rcsultado é Q
mesmo.
Na conformidade do principio limitativo da jurisdicção,
pejo territorio, pelas materias e pelas pessoas, o que se tem
como certo é que a administração não póde ir além da divi~
são territorial em que a mesma se e:l(erce; não se applioa q
aS8umptos estranhos á sua compcteneia; não obriga a pessol.\!l
que não estE'jam sujeitas á sua autorida1e.
Respeit~ndo esse principio, a administração, dentro da;
orbita de suas attribuiçõef', conhece dos factos, das necessi~
dades, dos serviços de sua competeucia, para, ele aççôrdo com
- 3~9-

a lei, resolver e traduzir em actos materiaes externos as suas


resoluções.
Donde, muito logicamente se pó de c~ncluir: a juris-
dicção é o poder i a competencia é l\> medida? o limite desse
podert

Mas, além dissc., iI. iurisdicção ainda se divide em admi-


nistrativa, civil, criminal, commercial e militar; em jurisdicção
t>oluntaria 011 dracitJsa e contenciosa,. em jurisdicção propria
e jurisdicção delegada " em jUrhdicção ordinaria e excepcional,
ou extraordinaria,' em jurisdicç~o de :pfimeira e de ultima
instanda. (Dict. de la Conv., voI. 11, pago 724).·
Além (~eS8aS, ainda havia as jurisdicç(ies re~l.• senhorial
e municipal; a jurisdicç~o leiga a a ecdesillstica. .
Abstrahindo-se das tres primeiras, at! dUafll ultimas espe-
ci~ qe jll"risdicção Il,inda subsistem na realidad a •
O certo é, porém, que essa multidão de jurisdicçõesf
80hretudõ fiíl lidministração, tem o grande inconveniente de
multiplicar os conflictos e a8 instancias de competencia, o que
aggravli a. .~jtua~~o das partes, protrahindo ao mesmo tempo
a solüçi'to dos negocios.
Por isso, Feraud Giraud eO'lll justa razão a censura.
M~i!1 E'~tremad07 Garnier Pagés emitte esta opinião sobre
. 6 cãéb j «l1ojej p01' applicação do prinâpio de que todos 08

francezes são ig1taé~ pu'ante (/, lei, a jurisdícfjão é a mesma


pour tout le monde e nenhuma inf{úencia, exerce a qualidade
das res.qO(ls: (D~ct~ qe la Polit., pago 5(1<1); ••
Seja) porJm, c~mo fÔr, 6 qUe, a respeito de lanta.s dlVl.-
'" 1ogo le perceb6 é que ha um pl'lnCl
'SQeB ' 'pl'\)~ fundamental
_ ._ llJ.
1
que mesmas' ohedecem, e vem a ser: cada espe<lle de Jun:IS-
3.8
' ~ partICIpa
d lCçao , , da natureza do ob'~ect o em questão " e dahl a-
- .. ~ d i) genCro. na grande varIe
d lVISM . d ade de tantas
. espeClcs.
- '" ti Amos o exero-
ParI!: tgrn~~ m,aj§ pJ!j.ra a pr~posJçao, ~r,y:
Fl~ ee ~m crimer fPxnmu~ :~ ?Y1?V:
. .~ ;: t j
- 330

E' claro que, nesse caso, a jurisdicção só poderá ser da


justiça civil, mas 'de natureza criminal.
Se, em vez disso, se tratar de negocio aflecto á admi-
ni8tr~ção, a jurisdicção é administrativa.

n. Vejamos agora em que se differencia a jurisdicção


graciosa da contenciosa, tanto sob o ponto da administração,
como da ordem judiciaria.
. Como eu já tive occasião de dizer, a ju~tiça só decide
sobre direito e só age em especie e por pmvocação da parte;
decreto n. 848 de 1890, art. 3.°, in fine. (App. XVI).
A administração, pelo contrario: conhece tanto dos direi-
tos como de interesses, mesmo sem provocação.
No judiciario não ha jurisdicção propriamente gl'acioso:,
mas ha jurisdicção voluntaria; ReguI. n. 737, de 1850, arts.
21 e 22; Cod. do Comm., arts. 390 a 392. (App. XVI).
Na administração, além da jurisdicção graciosa, ha tam-
bem a jurisdicção voluntaria, visto que outra cousa não é,
em ultima analyse, o acto da autoridade administrativa no
exercicio de uma fUDCção espontanea.
No judiciario, a jurisdicção é una, DO sentido de não
conhecer de interesses, mas sómente de direitos.
Ao contrario, a jurisdicção administrativa é dupla, pois
conhece tanto de direitos, como de interesses. No primeiro
caso é contenciosa, no segundo é graciosa.
Se bem me recórdo, eu já tive oecasião de occupar-me
dessas duas especies de jUlisdicção, na S.a lição, onde eu
disse:
/I Ainda em relação ás funcções j urisdicionaes devo
advertir:
- Que, si o administrador age em virtude de provocação
ou requerimento dos administrlldos, proferindo decisão pro ou
contra os mesmos, e~erép-, neste caso, acto de jUl'isdicção ;
- 531 -

Que as pretcnções das partes podem fundar-se em inte-


resses ou em direitos;
Que, .parallelamente a essas duas ordens de pretenções,
a jurisdicção administrativa, bf'm como a judiciaria, ainda se
divide em graciosa e contenciosa.
No 1.0 caso, a administração, tomando conhecimento da
reclamação sómente baseada em meros interesses, .exerce a
}u1'isdicção graciosa " no 2.°, porém, visto que se trata de fazer
valer direitos, já não tem o administrador a mesma liberdade
de acção: a jurisdicção é contenciosa.
E visto que o direito' assim reclamado nada mais é do
que o inferes~e profegido pela lei, é dever do poder adminis-
trativo proteger e garantir esse direito.
Com referencia á jurisdicção graciosa, si a decisão do
administrador é ('ontraria ao interesse reclamado, nenhum
direito de reparação cabe ao reclamante por esse fundamento.
Si, p~rém, em vez de interesse, a reclamação versa sobre
direito, claro está que se trata de jurisdicção contenciosa,
C81:'0 em que, da decisão contraria ao mesmo, a parte preju-
dicada tem, não só recurso, como o .direito de indemnisação,
si o mesmo não fôrprovido.
A razão fllodamental dessa distincção é que a jurisdicção
graciosa é essencialmente discl'icionaria.
No caso o administrador póde obrar como jlllgar conve-
niente aos interesses geraes e desprezar os 1'ndividuaes.
Contraria interesse!", mas não fere direitos.
O mesmo, porém, não se dá tratando-se' de negocios
sujeitos á jurisdicção contenciosa.
Fallando-Ihe os administrados em nome de seus direitos,
a administração é obrigada a respeital.os, cingindo-se aos
textos da lei, regulamentos e contractos de onde eUes
emanam.
E' claro que, pensanrlo assim, estou longe de concordar
com a opinião dos que sustentam que os intere.sses da admi-
nistra9ão sobrelevl\Dl QS direitos dos administrados.
- 332-

Póde ser esta a theoria domin'mte, mas, coherente com


os prill(~ipios que professo, eu a condemno em absoluto.
Finalmente, entre as jurisdicções graciosa e contenciosa,
ha ainda a fazer as seguintes distincções :
Do acto de jurisdicçlto graciosa póde a parte recorrer,
sem dependencia de prazo, para a propria autoridade melhor
informada; ao passo que o acto de jurisdicção conteneiosa
passa em julgado e firma direito entre as partes, como na
esphera judiciaria, quando deUa não se recorre para a supe-
rior instancia no prazo legal.
A jurisdicção graciosa, pelo contrario, raramente tem
formulas solemnes e prazos fataes~ emquanto a ~ontenciosa
não póde dispensaI-os, embora as suas formulas sejam mais
simples do que as da ordem judiciaria.
Ao quanto hei exposto. resta accrescentar: as jurisdicções
graciosa e contenciosa exprimem poderes, que a administração
muito legitimamente exerce, por força do seguinte principio
emanado do Direito Romano:
(I Cui jurisdictio data Bat, ea quoque concessa esse vi-
dentur, sine quibus jurisdictio explicari non potest): r. 3.°
do Dig. liv. 2. 0, tit. 1.0

Vem aqui a proposito notar a transformação por que


passou na Republica o nosso direito administrativo na parte
referente á jurisdicção contenciosa.
No regimen imperial, essa jurisdicção pertencia aos trio
bunaes administrativos.
Tinhamos entre outros juizes e tribunaes o Tribunal do
Tbesouro e o Conselho do Estado, aquelle para decidir con-
fenciosamente sobre os negocios que interessavam ao fisco ou
á Fazenda Nacional, este com voto apenas consultivo para
deânitivamente decidir sobre o mesmo o Imperador.
Sobrevindo a Republica, a jurisdicçãO contenciosa deixou
de pertencer aos juizes e tribunaes administrativos, é passou
ao poder j udiciario federal.
Foi isso o que eu mostrei em termos positivos e claros
na ló. a lição, onde eu disse:
«Pelos decrs. n.O B 392, de 8 de outubro de 1896 e 2.40.9,
de 28 de dez. do mesmo únno, o Tribunal de Contas tem jtt-
"isdicção propria e privativa sobre as pessoas e as materias
sujeitas á sua competencia, e abrange todos os responsaveis
por dinheiros, valores e material pertencentes á Republica,
ainda mesmo que residam f6ra do paiz,. decr. 392 cit., art. 2.°
Ainda por força desse mesmo decr., o Tribunal de Con-
tas funcciona: 1.0) como fii!cal da administração financeira;
!.O) como Tribunal de .Justiça, com jurisdicção contcnciosa e
graciosa; decr. 39~ cit., art. 2.°, §§ 1.0 e 2.°
E então accrescentei:
PoJr mais de um motivo, não se jU.'Jlifica a actllai orga-
nização do Tribunal de Contas.
Bastará attentar para os termos explicitos e claros da
Consto da Republica (art. 3ó), (App. XVI) para se vêr desde
logo que, no numero dos juizes e tribunaes federaes, que a
lei permitte ao Congresso crear, não está o Tribunal de Con-
tas, instituição puramente administrativa sem jttrisdicção
alguma, contenciosa, e portanto, sem attl'ibuições do Poder
Judiciario.
E' uma anomalia, que nem está de accôrdo com as ten-
denci~s liberaes, manifestadas desde o antigo rl'gimen, nem
hqje se póde admittir em face da organização dada pela Consti-
tuição da Republica ao Poder J udiciario Federal, para o qual,
por força da mesma. Constituição, passou a jUl'isdicção con-
tenciosa antes exercida pelo Thesouro Nacional, como tribu-
nal administrativo.
Em apoio de minha argumentação citei a opinião do Sr.
o

Ministro Pedro LesBa, que assim doutrina:


(I Em face da leUl'a <', do art. 6'0 da Constituição Fede-

?al, é patente a competellcia da JlI~tiça d'ol União para pro-


- 384-

Cessar e jitlgar todos os litígios em que se pleiteia Um ínte·


resse da União, seja qual fôr a natureza desse interesse,. O
Poder Jud., pags. 14/3 e 145.
11 Pelas cúúdas disposições foi claramente revelado o pen-

samento do legislador cOllstituinte de abolir o contencioso


administrat:vo, confiando-se aos lribunaes Judicial'ios a
atlribuição de processar e julgar os feitos, que antes eram
da competenc'"a dos tribunaes administrativos.
Antes do Ministro Pedro Lessa, já o eminente juriscon-
sulto Visconde de Ouro Preto havia se manifestado nesse
sentido, aflirmando:
«A abolição do contencioso administrativo irnpo1'tou,
pois, em satisfazer uma necessidade de ordem juridica, já
7'econhecidu e proclamada sob a 1JZonarchia em nosso paiz»).
lPedro Lessa, obro cit., pago 143.)
Nem é outro o pensamento da ultima reforma da Admi-
nistração Geral da Fazenda Publica, pela lei n. 2.083, de 30
de Janeiro de 1909 e. pelo regulamento' que baixou com o
decreto n. 7,7õ1 daquelle mesmo anno, quando no art. 43
assim preceitúa: (App. XVI).
« Nas questões de caracter contencioso, em que se t'enti-
larem direitos decorrentes de factos administrativos, como
noS reCltrSOs interpostos dos actos de lançamento e arreca-
dação de impostos, nas reclamações referentes a concessões
de obras publicas, estradas e linhas de navegação, e outros
actos de qualquer natureza, montepios, meios soldos, aposen-
tadorias, jubilações, fianças, incorporaçues de bens no domí-
nio da Nação, alienação de proprios nacionaes, e sernpre que
o ministro da fl1zenda o determinar é obl'igatoria a intel'po-
sição de parecer do procurador geral da Fazenda Publica.»

UI. Semelhantement~, em uma outra de minhas lições,


eu vos dei, em traços geraes, a noção das funcções jltrisdi-
cionaes e eXjJontaneas.
- 336-

Ánalysando as funcções administrativas (diz Rihas)


encontramos certas distincções que, por sua delicadeza, esca-
pam ao, primeiro olhar, e, por isso, tem dado occasião a con-
fusões e err08 deploraveis, que convém deslindar.
Attenda-se que umas vezes a adminiotração obra por
movimento interno e expontaneo, quer promulgue medidas
geraes, locaes ou individuaes. Outras vezes obra sob o impulso
ou a instigação de pessoas naturaes ou juridicas, que se dizem
lesadas por actos seus anteriores.
No 1.0 caso ella tem plena liberdade de obrar ou con-
servar-se inerte, conforme as suas proprias inspirações. No 2.°
caso, eUa não póde deixar de obrar. (Rib., obro cit., pago 113.)
Aqui tendes, pois, a c~pital distincção, que, de facto e
de direito, ordinariamente se faz entre as funcções jurisdic-
cionaes e expontaneas da administração.
Isto confirma o que eu disEe no começo de minha lição:
o conceito da jurisdicção administrativa é o de um poder que
se exerce por funcções.
A jurisdicção é o poder da autoridade administrativa,
como O é egualmente da autoridade ,iudiciaria. A competencia
é a medida, o limite desse poder.
E' esta a lição dos maiores publicistal', e nomeadamente
de Roncenne.
Notae ainda que, no exercicio da funcção contenciosa,
os agentes da administração obram jurisdiccionalmente, são
verdadeiros magistrados administrativos, de c~jas decisões
cabe recurso.
Será tambem assim no exercici o da funcção expontanea?
Em principio não é, porquc não ha processo contradicto-
rio, nem ha julgamento. .
1\fas, pelas suas consequencias, o acto resultante da fun-
cção expontanea, si é oftensivo de um direito adquirido, devia
dar logar não só a reclamaç'io e a recurso, como até ao
indemnização.
APPENSOS
APPENSO I

Lição l. a

- O positivismo é, como se sabe, a systematizaç~o de


uma doutrina philosophica por A. Comte.
E' um systema, cuja tendencia se resume em encarar a
vida pelo lado pratico, pelo lado util, pelo lado do interesse. (l)
Até ahi, nada de novo nem de mais.
Antes de Comte já se conhecia a celebre doutrina utili-
taria de Bentham, da qual foram predecessores Aristippo,
Epicuro, Hobbes e outros.
Essa doutrina tem como ponto de partida este postulado:
c Sendo o. prazer o unico bem da vida, deve S81' da mesma
a unica regra» (').
Póde-se, portanto, affirmar que Comte, em rigor, nada
inventou.
O que fez foi reduzir a systema as idéas de seus pre-
decessores, fundando uma escola política e religiosa, de que
se tornou chefe.
Em synthese, o positivismo se resume:
I - No desprezo da indagação, do conhecimento da causa

(1) Encyclop. Port., voi. 8.', pago 84!.


(I) M. Guyot-La Mor. Angl., pago ~6.
340

primaria, para, de generalização em=generalização, chegar


á formação de um systema positivo do universo (3).
II - Em consequencia disso, cada ramo de conhecimento
está sujeito, no seu caminho, a passar successivamente por
tres estados theoricos: o estado theologico, ou ficticio ; o estado
metaphysico ou abstracto " o estado scientifico ou positivo e).
IH - Todas as sciencias, que Comte dispõz em ordem,
por 'meio de uma classificação rigorosa conforme a natureza.
de cada uma dcUas, convergem (diz e11e) progressivamente
para a sociologia, sciencia final e univel'sal ,(5).
IV - Com o estado metapbysico, o espirito critico, o
livre exame destruiu toda a. bierarcbia e exerce uma acção
toda negativa. Convêm, por isso, organiza1' positivamente as
sociedades. E' preciso, para isso, crear um poder espiritual,
distincto do poder politico, que assegure a liuperiol'idaae do
direito sobre a força. Haverá na sociedade duas classes: a
classe especulativa, composta de sabios, de pbilosophos, de
artistas, etc., e a classe activa de commerciantes, industriaes
e agricultores. A sociologia é a sciencia mais alta., porqtle a.
JW,manidade é a Realidade mais.comprehensiva que ~onhe.
cemos (6).
V - A religião positiva não é, de fórma. alguma, tbeo·
lcgica; não faz appello a algum sel' transcendente; consiste
num epforço de systematização dos sentimentos. A Humani-
dade será o unico fim do culto (1).
Não sou, em rigor, um misoneista.
Apesar disso, não posso admittir como verdades, dignas
de serem acceitas, as innovações do positivismo.
Sem razão Comte considera. fictício o estado theologico.

(3) Encyclop. Port., voI. 8, pago 84~.


(') Encyclop. Port., voI. 8, pago 842.
(5) Encyclop. Port., voI. 8, pago 842.
(6) Encyclop. Port., voI. 8, pago 842.
(7) Encyclop. Port., vol. 8, pago 84:~.
- 341

Se fidicio quer dizer coulJa que só exi.çte na imaginação;


cousa, portanto, simulada, apparentf', illusoria, Comte avança
uma proposiçã,o, que tem contra si o testemunho humano e a
verdade da historia.
A theologia é, philosophicamente, uma sciencia tão real,
como qualquer outro conjuncto de conhecimentos, que mereça
este nome, como o proprio positiviemo, por exemplo. .
~Por consequencia, o estado della resultante não é, não
póde ser ficticio.
Se é combatido, principalmente por causa da sua parte
dogmatica, isto é outra questão; alêtn de que, o positivismo
tambem tem o seu dogma.
O positivismo, desprezando a indagação da causa pri-
maria, nega a existencia de Deus, a quem substitue pela
Humanidade, a quem divinisa, como a mais alta expressão
, da realidade que se conhece.
Temos, portanto, o orgulho do homem tornando-o idolatra
de si mesmo I
Não é outra cousa a religião de um ido lo, o culto de
uma falsa deusa - a Humanidade, como se sabe, sempre su-
jeita ás contingencias da fragilidade, que, lhe sendo inquieta,
lhe não permitte ser impeccavel em todos os seus actos, e
nem attingir ao estado de perfeição em todas as suas obras.
Tão contradictorio com os seus principios é esse systema
de philosophia, que Littré e Stuart l\Iill recusaram acceital-o
in totum, por esse fundatnento.

Tem-se, depois delle, o evolucionismo, que, em os nossos


dias, impulsiona todas as sciencias para o ponto de vista
historico; isto é, para a investigação e busca, em tudo, das
origens rudimentares e das leis, que presidem á evolução (8).

(8) Encyclop. cit., pago 842,


-. 342 -- .

:gssa theoria esteve em vigor ha cêrca de dois seeulos,


até que caducou, sem embargo de ter sido applicada ás mais
oppostas sciencias por Tnrgot, Condol'cet, Kant, Laplace e
outros (9).
Para se ter materialmente a idéa da mesma, um ani-
mal adulto era representado em miniatura no germ~n de
que provinha. .
Foi Herbert Spencer que tentou, por uma synthese au-
daciosa, fundada na sciencia positiva, tudo relacionar no
mundo moral, como no mundo phYiiico, com a lei da equiva-
lenda das forças, estabelecendo que todos os phenomenos são
conve'1'tiveis entre s!', desde a possibilidade dos corpos brutos,
os mais humildes, até. ás mais altas manifestaçõ~s da psy-
e
chologia. O)
A evolução consiste, segundo elIe, na .passagem do ho-
mogeneo para o heterogeneo, do simples para o complexo,
por meio de differenciações e integra.ções successivas, se-
.gundo uma norma rythmica necessaria, de que por toda a
parte se observa a confirmação. (11)
Como se vê, não é um systema, que, pela clareza ou
pela evidencia de seus principios, esteja ao alcance de todas
as intelligencias..
Não póde, portanto, pretender uma acceitação universal.
Tem, de facto, um prindpio que toda a gente logo com-
prehende - o consubstanciado neste pensamento de Pelletan :
« Le monde marche, l' humanité s' avanC'e !l. '

No mais, Spencer, depois de ter sustentado que, por si


só, a sciencia era tudo, reconheceu o erro da sua doutrina, a
ponto de repudiar as suas proprias idéas no livro CI Facts and
Comments :t, o ultimo que escreveu.
Nesse livro, O grande moralista-philosopho, completa-

(11) Encyclop. cit., pago 84~.


(10) Encyclop. cit., pago 8t2.
(11) Encyclop. cit., pago ~4~.
- 843 -

mente tiesilludido, acabou p~r s. convencer tanto do erro,


como da inutilidade da sua doutrina.
Verificou e confessa, que a sciencia jd não basta, para
fazer o hom.em definitivo, porque, apesar delta, a humani-
dade evolue mais para o mal, do quepar~ o bem.

E que direi do monismo?, .•


Quem primeiro, no Brasil, se occupou desta doutrina foi'
Tobias Barreit.o. E' deU e esta affirmação: s6 o monismo nos
. pode dar a verdadeira concepção do direito.
. Acompanhei com interesse tudo quanto Tobias Barretto
e!lcrp.vell sobre este assumpto, e confesso que jámais me con-
venceram os seus argumento!'.
O monil'mo é creação de Grethe e Lamarck, augmen-
tada e desenvolvida por Hreckel, que, por vezes, do mesmo
se occupou na sua Historia Natural da Creação, e, por ul-
timo, mais desenvolvidamentp, em notavel discurso que pro-
feriu em uma reunião de naturalistas e medicos allemãel!l, e
que publicou, após isso, como monographia.
O monismo parte da concepção causal ou mecanica do
uni~e,.so, que, noutros termos, é igualmente conhecida por-
concepção monistica ou unitaria, em opposição á theoria dua-
listica, implicitamente contida em toda a eroplicação teleolo-
gica do mundo. (12)
. Assenta, portan!o, sobre phenomenos que resultam das
forças physico-chimicas do Universo.
E', antes do mail:l, uma concepção puramente maferia-
lista, que, a prevalecer, aluiria por completo não só as cren-
ças, como a organização de todas as sociedades actuaes.
Procurando refutar a theoria espit'itualista, o monismo
combate o monotheismo, sobre. que a J;Ilesma principalmente
assenta, Occupando-se da cosmogonia mosaica, affirma que a
mesma não passa de uma lenda oriental. Considera, alé~

(12) Hreckel, Hist. de la Crrat., pago 15.


- 344-

disso,hypothetica, a creação do mundo por Deus, apesar de


reconhecer (notae bem) a crença vulgar, a opinião da maio-
ria, que não só acredita, como está convencida da verdade
dessa crf'ação.
Não comprehende como a escola espiritualista considera
a natureza organica e a sua fórma morphologica como uma
obra premeditada do Creador.
Prefere explicar a origem do homem por processos natu-
raes e mecanicos, isto é, por uma evolução lenta e gradual da
especie animal, e assim affirma ser um facto o parentesco real
do homem com os animaes anthropoides, seus semelhantes.
E de invenção em invenção, chega, por ultimo, ao
absurdo de sustentar que o homem descende do seu ancestral
- o macaco, sem disso offerecer outra prova além das affir-
mações hypotheticas, que, ainda agora, não conseguiram ser
tidas como verdadeiras I
Que grande honra, para nós, o descendermos todos dos
primatas, os altos áignitarios (na expressão de Hreckel) do
reino animal! . ..
Felizmente, apesar disso, ainda hoje cada um está no di-
reito de pensar como entender e de ser, como disse Frederico
o Grande, bemaventurado á ~ua vontade.
Usando desse direito, eu rejeito o monismo não sómente
pela falsidade dos seus principios, como tambem pelos males,
que adviri~m de suas consequencias.
. A respeito delle póde-se repetir o .que já foi dito, quando
appareceu o livro de Darwin - «A Origem das Especies li :
é urna obra de pura imaginação; urna especulação phanta-
sista, um sonho engenhoso. C3 )
No dominio, por exemplo, da psychologia e do direito,
todas as suas theorias não passam de simples hypotheses
scientificas, muitas dellas apenas assentando em verdades
hypotheticas, em atfirmagões contradictorias.

(18) Hrec/{el, Hist, Nat., pago 585.


- 345-

E' de notar, que o monismo, ao passo que combate a


theoria dualistica, e nega que o homem seja um composto
de materia e espírito, admitte não só a existencia da a 7ma
humana, 'como a alma 1W. animaes. Ct )
E' assim que Haeckel nos diz:
« Como todos os animaes, e como todos os vegetaes, os
protistas teem uma alma. "
Conclusão: conforme as proprias affirmações de Haeckel,
animaes, vegetaes e protistas, além da substancia organica,
que se denomina CQ1'pO, têem uma alma!
Logo, além de illogico, é evidentemente falso o systema
unitario do uni1;el'so, sobre que principalmente se baseia o
monismo, em contraposição á opinião dualistica, teleologica
ou vital, base da escola espiritualista.
Quando ha pouco dissemoE', que rejeitavamos o monismo
não só pela falsidade dos seus principios, como pelos males
que adviriam de' suas consequencias, tivemos principalmente
em vista os principios superiores da ordem juridica na vida
em sociedade.
De que não estavamos enganados a este respeito, ides
.ter a prova.
Haeckel, um dos fundadores do· monismo, tratando da
justiça, faz uma confissão, que "implica pelo menos o reconhe.
cimento da inutilidade do seu systema.
E' assi~ que elle não só reconhece, como confessa, que
a Justiça, bem como o nosso systema de governo e de nossa
educação nacional, e toda a nossa organização social e mo-
ral, estão ainda no estado bm·baro. ('li)
E, com tudo, accrescenta: o monismo será fi, religião do
futuro.
« Devemo.~ orgulhar-nos de haver sltpplantfJ,do os nossos

(14) Hrockel, ohl·. cit., pago 5D3.


(15) HrockeJ, obro cit., pago 598,
a1Zcestraes animaes e haurirmos des.'1e facto a segurança
consoladm'a, que, de uma maneira geral, a humanidade se-
guirá a 'ria gloriosa do progresso, e attingirá um gl'áu de
perfeição intellectual cada vez mais elevado. Ç6) .
Primeiramente, não vemos como conciliar este pensa-
mento de Hroekel com a sua anterior affirmação, de que es-
tamos ainda no estado barbaro,
A quantos millenios existe o mundo, e,apesar de decor-
ridos tantos secllloEl, a humanidade ainda se acha em estado
de barbaria, conforme affirma HroekeI.
Antes de mais nada, este asserto é o mais formal des·
mentido ao poder da evolução,
Deante da affirmação categorica de Hroekel, é licito des-
crer d'aquella consoladora segurança com que o grande Na-
turalista assevera que a humanidade seguirlí a via gloriosa
do progresso, e atfingil'á um gráu de perfeição inlelleclual
cada l'ee mais elevado.
_ Responde a este optimiomo infundado o grave pensador
Spencer, chefe tambem de uma escola, que obedece ao
mesmo principio funoamental-o evolucionismo.
Diz Spenccr: « Por toda a parte se Ze/Janta o grito ins-
trui, instrui, inst1"lti! Por loda a parte se pensa que as es-
colas servirão para levantar o nível humano; se pensa que
se os homens souberem o que é o bem, o praticarão; se aCI'e-
dita que urna proposição admitlida íntelleclualmente p'6de
transformar· se em acção moral e o desmentido quotidiano
da (sperança nuo basta a prevalecer contra este erro. D
« Embora se 'cej'T, que, em proporção com o augmento de
escolas, cresce o nU11lérO de tratante!', dos '1.'elhacos, dos falsifi-
cadores de alimentos, dos corruptores, dos agentes de negocios
pouco dignos, - apesar de tudo a opinião não muda.» 7 ) e
(16) Haechl, obro cit., pago Ó98.
(17) Corr, daMan" de 1'7 de Julho de 1\lO!, aJ't, de Med, de Al-
buquerque,
- 341-

Resumindo quantJ aqui t<:nho dito a respeito do monÍs·


mo, sustento que é um systema, que não se póde admittir
como verdadeiro:
1.0) Por partir de um falso supposto - a concepção
unitm'ia do universo, a qual importa o mesmo que admittir
haver effeito sem causa;
2. 0 ) Por ser evidentemente contradictoria com muitos
dos proprios principios em que se baseia;
3.°) Por assentarem em simples hypotheses (reconhe-
cidas e confessadas pelos proprios monistas) muitas das suas
affirmações;
4.°) Finalmente, porque, theoria francamente matel'ia-
lista, o monismo é, por isso ml smo, profunda e substlincial-
mente contrario li. crença e ao sentimento da maioria de to-
dos os povos.
São estas as razões porque, em minha lição inaugural,
eu disse: «O nosso estudo, visando o conhecimento da ori-
gem do direito, primeiro no estado de natureza, depois no
de 'razão e de' coexistencia social, sómente póde ser feito no
vasto campo de sua' Philosophia, modernamente substituida
por tres ,outras sciencias, ..:.... positivismo, evúlucionismo e mo-
nismo, nenhuma das quaes, nem todas conj1J.nctamente, nos
podem dat: o conhecimento exa<:to e perfeito d'esse direito.»

D~cr. n.b 11.530, de 1915.


Art. 177 - « O curso de direito comprehenderá as ma·
terias seguintes:
1.0 anno-Philosophia do Direito, etc.»

Codigo Civil Brasilei1'o:


Art. 4.° - « A personalidade civil do homem começa do
nascimento com vida, mas a lei põe a salvo desde a conce·
pção os direitos dos nascituros.»
APPENSO II

LiçãO 2. a

Constt'tuição Federal:
Art. 72 - A ÇJonstituição assegura a brazileiros e a ef-
trangeiros tesidentes no paiz a inviolabilidade dos direitos
concernentes á liberdade, á segurança individual e á proprie-
dade nos termos seguintes:
§ l,o-Ninguem pôde ser obrigado a fazer, ou deixar
de fazer alguma cousa, sinão em virtude da lei.
§ 2.o-Todos são iguaes perante a lei.
A Republica não adruitte privilegio de nascimento, des-
conhece foros _de nobreza, e extingue as ordens honorificas
existentes e todas as suas prerogativas e regaliaE', bem como
os titulos nobiliarchicos e de conselho.
§ 3. 0 - Todos os individuos e confissões religiosas podem
exercer publica e livremente o seu culto, associando-se para
esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do di-
reito commum.
§ 4.° -A Republica só reconhece o :casamento civil,
cuja celebração será gratuita.
§ 5.° - Os cemiterios t2rão caracter secular e serão
administrados pela &utoridade municipal, ficando livre a to-
dos os cultos religiosos a pratica dos respectivos "ritos em re-
lação aos seus crentes, desde que não offendam a moral
publica e as leis.
- 349-

§ 6.° - Será leigo o ensino ministrado nos estabeleci.


mentos publicos.
§ 7.° -Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção
ófficial, nem terá relações de dependencia, ou alliança com o
Governo da União, ou o dos Estados.
§ 8.° - A todos é licito associarem-se e reunirem-se li.
vremente e sem armas; não podendo intervir a polícia sinão
para manter a ordem publica.
§ 9. 0 - É permittido a quem qu<;r que seja representar,
mediante petição, aos poderes publicos, denunciar abusos das
autoridades e promover a responsabilidade dos culpados.
§ 10 - Em tempo de paz, qualquer póde entrar no
territorio nacional ou delle sahir, com a sua fortuna e bens,
como e quando lhe convier, independentemente de passaporte.
§ H-A casa é o asylo inviolavel do individuo; nin-
guem póde ahi penetrar, de noite, sem consentimento do mo·
rador, sinão para acudir a victimas de crimes, ou desastres,
nem de dia, sinão nos casos e pela fórma prescripta na lei.
§ 12 - Em qualquer assumpto é livre a manifestação
do pensamento pela imprensa, ou pela tribuna, sem depeno
dencia de censura, respondendo cada um pelos abusos que
commetter, nos casos e pela fórma que a lei determinar. Não
é permittido o anonymato.
§ 13 - Á excepçlo. do flagrante delicto, a prisão não
. poderá executar· se, sinão depois de pronuncia do indiciado,
salvo os casos determinados em lei, e mediante ordem escri·
pta da autoridade competente.
§ 14 - Ninguem poderá ser conservado em prisão sem
culpa formada, salvas as excepções -especificadas em lei, nem
levado á prisão, ou nelIa detido, si prestou fiança idonea, nos
casos em que a lei a admittir •
. § 15 - Ninguem será sentenciado, sinão pela autori·
dade competente, em virtude de .lei anterior e na fórma por
ella reguláda.
§ 16"': Ao~ aCcUell-d9S se ~ssegllrará. na lei a mais
- 350-

plena defesa, com todos os recursos e meios essenciae8 a ella,


desde a nota de culpa, entregue em 24 horas ao preso e
assignada pela autoridade competente, com os nomes do
accusador e das testemunhas.
§ 17 - O direito de propriedl1de mantem-se em toda
a sua plenitude, salva a desapropriação por necessidade, ou
utilidade publica, mediante indemnização prévia. As minas
pertencem aos proprietarios do s610, salvas as limitações que
forem estabelecidas por lei a bem da exploração deste ramo
de industria.
§ 18 - É inviolavel o sigillo da correspondencia.
§. 19 - Nenhuma pena passará da pessoa do delin-
quente.
§ 20 - Fica abolida a pena de galés e a de bani-
mento judicial.
§ 21 - Fica igualmente abolida a pena de morte, reser-
vadas as disposições da legislação militar em tempo de guerra.
§ 22 - Dar-se-ha o habeas-corpus sempre que o indivi-
duo soffrer ou se achar em imminente perigo de soffrer vio-
lencia, ou coacção, por iUegalidade ou abuso de poder.
§ 23 - Á t'xcepção das causas, que, por sua natureza,
pertencem a juizos especiaes, não haverá fôro privilegiado.
§ 24 - É garantido o livre exercicio de qualquer pro-
fissão moral, intellectual e industrial.
§ 25 - Os inventos industriaes pertencerão aos seus au-
tores, aos quaes flcarágarantido por lei um privilegio tem-
porario, ou será concedido pelo Congresso um premio razoa-
veI, quando haja conveniencia de vulgarizar o invento.
§ 26 - Aos aútores de obras literarias e artisticas é ga-
rantido o direito exclusivo de reproduzil.as pela imprensa,
ou por qualquer outro processo mecanico.
Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo
tempo que a lei determinar.
§ 27 - A lei assegurará tambem a propriedade das .
marcas de fabrica.
- 351

§ 28 - Por motivo de crença ou de funcção religiosa,


nenhum cidadão brasileiro poderá ser privado de seus direi.
tcs civis e políticos nem eximir-se do cumprimento de qual-
quer dever civico.
§ 29 - Os que allegarem motivo de crença religiosa
com o fim de se isentarem de qualquer onus que as leis da
Republica imponham aos cidadãos, e os que acceihrem con-
decorações ou titulos nobiliarchicos estrangei ros, perderão
todos os direitos politicos. .
§ 30 - Nenhum imposto de qualquer natureza poderá
ser cobrado sinão em virtude de uma lei que o autorize.
§ 31.~ E' mantida a instituição do jury. _
Art. 74 - As patentes, os postos e os cargos inamoví-
veis são garantidos em toda a sua plenitude.
Art. 75 - A aposentadoria só poderá ser dada aos func-
cionarios publicos em caso de invalidez no serviço da Nação.
Art. 76 -Os officiaes do Exercito e da Armada só per-
derão suas patentes por condemnaçãoem mais de dous annos
de prisão, passada em julgado nos tribunaes competentes.
Art. 77 - Os militares de terra e mar terão fôro espe-
cial nos delictos militares.
§ 1.0 - Este fôro compôr-se-ha de um Supremo Tribu-
n,al Militar, cujos membros serão vitalicios, e dos conselhos
necessarios para a formação da culpa e julgamento dos cri-
mes.
§ 2.° - A organização e attribuições do Sup~emo Tribu-
nal :Militar serão reguladas por lei.
Art. 78 - A especHicação das garantias e direitos ex-
pressos na Constituição não exclue outras garantias e direi-
tos não enumerados, mas resultantes da forma do governo
que elIa estabelece e .dos principios que consigna.

Consto Fed.:
Art. 1.0 - A Nação Brasileira adopta como forma de
governo, sob Q regimen representativo, a Republica Federa-
- 352-

tiva proclamada a 15 d~ Novembro de 1889, e constitue-se,


por união perpetua e indissoluvel das suas antigas provín.
cias, em Estados Unidos do Brasil.

Consto Fed.:
Art. lô -O Poder Legislativo é exercido pelo Congres-
so Nacional, com a sancção do Presidente da Republica.
§ 1.0 -O Congresso Nacional compõe-se de dous ramos:
a Camara dos Deputados e o Senado.
§ 2.° - A eleição para Senadores e Deputados far se·ha
simultaneamente em todo o paiz.
§ 3.° - Ninguem póde ser, ao mcsmo tempo, Deputado
e Senador.

Consto Fed.:
Art. 41 - Exerce o Poder Executivo o Presidente da
Republica dos Estados Unidos do Brasil, como chefe electivo
da Nação.
§ 1.0 - Substitue o Presidente, no caso de impedimento,
e succede·lhe, no de falta, o Vice-Presidente, eleito simulta-
neamente com eUe. .
§ 2.° - No impedimento, ou falta do Vice-Presidente,
serão successivamente chamados á Presidencia o Vice-Presi-
dente do Senado, o Presidente da Camara e o do Supremo
Tribunal Federal.
§ 3.° - São condições essenciaes para ser eleito Presi-
dente, ou Vice-Presidente da Republica:
1. o - Ser brasileiro nato;
2. 0 -Estar no exercicio dos direitos políticos;
3.° - Ser maior de 35 annos.
- 353-

Const. Fed.:
Art. 55-0 Poder Judiciario da União terá por orgãos
um Supremo Tribunal Federal, com séde na Capital da Re-
publica, e tantos juizes e tribunaes federaes, distribuido3 pelo
paiz, quantos o Congresso crear.

Consto Fed.:
Art. ll5 - Incumbe, outrosim, ao Congresso, mas não
privativamente:
1. 0 _ Velar na guardada Consti~ição e das leis, e pro-
videnciar sobre as necessidades de caracter federal.

DIREITO ADMINISTRATIVO
APPENSO
.
lU .
LiçãO 4."

Consto do Imperio:
Árt. 1.°-0 Imperio do Brasil é a Ássociação Politica de
todos os Cidadãos Brasileiros. ElIes formam uma Nação livre,
e independente, que não admitte com qualquer outra laço al-
gum de união ou federação, que se opponha á sua indepen-
dencia.· .
Art. 2.°-0 seu territorio é dividido em Provindas na
fórma em que actualmente se a,~ha, as quaes poderão !!ler
subdivididas, como pedir o bem do Estado.
Árt. 11-0s re·presentantes. da Nação Brasileira são o
Imperador e a Assembléa Geral. .
Art. 16-Cada uma das Camaras terá o tratamento
de - Áugustos e Dignissimos Senhores Representantes da
Nação. .
Art. 90-As nomeações dos Deputados e Senadore!!l
para a Ássembléa Geral e dos membros do~ Conselhos Oe-
raes das Provincias, serão feitas por eleições indirectas, ele-
gendo a massa dos Cidadãos activos em Ássembléas Pa.ro-
chiaes os eleitores de Provineia; e estes os Representantes da
Nação e Provincia.

Constituição Fede7'aZ:
Árt. l.°-Á Nação Brasileil'a adopta como fÓrma de go'-
verno, sob o regimen representativo, a Republica Federativa
proclamada. a. 15 de Novembro de 1889, e constitue-se por
- 355-

união perpetna e indissolnvel das suas antigas provincias, em


Estados Unidos do Bra8il.
Art. 2. 0 -Cada uma das antigas provincias formará um
Estado, e o antigo município neutro constituirá o Distncto
Federal, continuando a ser a capital da Uni1to, emquanto não
se der execução ao disposto no artigo seguinte.
Art. 16-0 Poder Legislativo é exercido pelo Con-
gresso Nacional, com a sancção do Presidente da Republica.
. § 1.°-0 Congresso Nacional compõe-se de dous ramoal:
a Camara dos ,Deputados e o Senado.
§ 2. 0 -A eleição para Spnadores e Deputados far-se-ha
simultaneamente em todo o paiz.
§ 3. 0 -Ninguem póde ser ao mesmo tempo Deputado e
Senador.
Art. 28~A Camara dos Deputados compõe-se de re-
presentantes do povo eleitos pelos Estados e pelo Districto
Federal, mediante o suffragio dirccto, garantida a represen-
tação da minoria.
§ 1.°_0 numero dos Deputados será fixado por lei em
proporção, que não excederá de um por setenta mil ha.bitan-
tes, não devendo esse numero ser inferior a quatro por Es-
tado.
§ 2.0-Para este fim mandará o Governo Federal pro-
ceder, desde já, ao recenseamento da população da Repu-
blica, o qual será revisto decennalmente.
Art. 30-0 Senado compõe-se de cidadãos elegiveis
nos termos do artigo 26 e maiores de 35 annos, em numero
de tres Senadores por Estado e tres pelo Districto Federal,
eleitos pelo mesmo modo por que o foram os Deputados. .
Art. 26-São condições de elegibilidade para o Con-
gresso Nacional:
1.0) Estar na posse dos direitQs de cidadão brasileiro e
ser alistavel como eleitor. ,
2.0) Para a Camara, ter mais de quatro annos de cida-
dão brasileiro, e para o Senado mais de seis.

Esta disposiçllo ni\:o comprehende os cidadrtos a que re-
fe,re-se o n.- 4 do' art. 69. '
. Art. 69 n,l' 4- São cidadrtos brasileiros 08 estrangei-
ros, que, achando..:se no Bràsil aos 1~ de Novembro de 1889,
Dio declararam, dentro em seis mezésdepois 'de entrar em
vigor a Constituiç!\o, o animo de conservar a nacionalidade
de origem.
Art. 63 - Cada Estado reger-se- ha pela Constitu.ição e
pelas leis que adóptar, respeitados os principios contitucio-
naes da União.
Art. !l.°-:-08 Estados podem encórporar.se entre si, sub-
.. divj.dir.se.;. o.u desmembrar-se, para se. annexfW a outros, ou
format novos Estados, mediante acquiescencia das respectivas
a8Íi1embléas legislativas, em dul,lS sesslSes annuaes sucpeasivas,'
e approvaÇlo do Oongresso Nacional.
APPENSO IV

Llçao 5. a

Consto Federal:
Art. 67 -Salvas as excepções especificadas na. Consti-
tuição e nas leis federaes, o Districto Federal é administrado
pelas autoridades municipaes. ~
§ unico. As despezas de caracter .local, na Capital da.
Republica, incumbem exclusivamente á autoridade muni-
cipal.
Art. 68-0s Estados organizar-se-hão de fórma que
fique assegurada a autonomia dos municipios em tudo quanto
respeite ao seu peculiar intereilse.

Âcto Addicional (Lf'i n.O 16 de 12 de Agosto de 1834),


Art. lO-Compete ás mesmas Assembléas legislar: ••.
§ ã.o-Sobre a fixação das despezas municipaes e pro-
vinciaes, e os impostos para ellas necessarios, comtanto que
este8 não prejudiquem as imposições geraas do Estado.
As Camaras poderão propôr os meios de occorrer ás des-
pt'zas dos seus municipios.

Consto Federal:
. Art. lã-São orgãos da soberania nacional o Poder Lc-
.gislativo, o Extcutivo e o J udiciario, harmonicos, e indepen-
dentes entre si.
APPENSO'V
\ .

Lição 6. a

Consto E'ederal :
É da competencia exclusiva da União decretar:
1.0 - Impostos ,sobre a importação de procedencia es-'
trangeira j
2. o - Direitos de entrada, sahida e estada de navios,
sendo livre o commereio de cabotagem ás mercadorias nacio-
naes, bem como ás estrange,iras que já tenham pago imposto
de importação .
. 3. 0 _ Taxas de seIlo, salvo a restricção do art. 9. 0 ,
§ 1.0, n.O 1.
4.° - Taxas dos correios e telegraphos.
§ LO-Tambem compete privativamente á União:
1.° - A instituição de bancos emissores j
2.° -A Cl'eação e manutenção de alfandegas.
§ 2.0-0s impostos decretados pela União devem ser
uniformes para todos os Estados.
§ 3.0 - As leis da União, os actos e as sentenças de
. suas autoridades serão executados em todo o paiz por func·
cionarios federaes, podendo, todavia, a execução' das primei-
ras ser confiada aos governos dos Estados, mediante annuen-
cia destes.

A.rt. 9.° •••


§ l~o - Tambem compete exclusiVllmente aos Estado,
decretar:
- 359 -

1.0 - Taxa de seHo quanto aos actos emanados de seus


respectivos governos e negocios de sua economia.

Art. 35 -Incumbe, outrosim, ao Congresso, mas Iiito


privativamente:
1.0 - Velar na guarda da Constituição e das leis, e pro-
videnciar sobre as llec~ssidadcs de caracter federal;
. 2.°- Animar, no paiz, o desenvolvimento ·das "letras, ar-
tes e scienciap, bem como a immigl'ação, a agricultura, a in-
dustria e o commercio,sem privilegios que tolham a acção
dos governos locaes; .
3.° - Crear instituições de ensino superior e secundarios
nos Estados;
4. °- Prover á iustrllcção secundaria no Districto Fe-
deral.
Art. 49 - O presidente da Republica é auxiliado pelos
Ministros de Esta~o, agentes de sua confiança, que lhe sub-
screvem os actos, e 'cada um deHes presidirá a um dos Mi-
nisterios em que se dividir a administração federal.
Art. 50 - Od Ministros de Estado não poderão accumu·
lar o exercicio de outro emprego ou funcção publica, nem
ser eleitos Presidente ou Vice-Presidente da União, Depu-
tado ou Senador.
Art. 8.- -E vedado ao Governo Federal crear, de
qualquer modo,. di .. tincções e preferencias em favor dos por-
tos de uns contra os de outros Estados.
Art. 9.° - É da competencia exclusiva dos Estados de.
cretar impostos:
1.0 - Sobre a exp)rtação de mercadorias de I!ua propria
. producção i
2. o - Sobre immoveis ruraes e urbanos;
3. ° - Sobre industrias e profissões;
§ 1.° - Tambem compete exclusivamente aos Estados
decretar:
1. d .,.... Taxa de sello quanto aos actos emanados de seUs
re~pectivos governos e negocios de sua economia.
2.° - Contl'ibuições concernentes aos ~eus telegrapbos e
correIOS.
§ 2.° - É isenta de impostos no Estado, por onde se
exportar, a producção dos outros Estados.
§ 3. 0 -Só é licito a um Estado tributar a importação
de mercadorias estrangeiras quando destinadas ao consumo
no seu territorio, revertendo, porém, o producto do imposto
para o Thesouro Federal.
§ 4. o -Fica salvo aos Estados o direito de estabelece-
rem linhas telegraphicas entre os diversos pontos de seus
te rritorios, e entre estes e os de outros Estados, que ·se não
acharem servidos por linhas federaes, podendo a União des-
aproprial-al', quando fôr de interesse geral.
Art. ll-É vedado aos Estados, como á União:
1.0 - Creal'" impostos de transito pelo territorio de um
Estado, ou na passagem de um para o outro, sobre productos
de outros Estados da Republica, ou estrangeiros, e bem assim
sobre vehiculos, de terra e agua, que os transportarem;
2.° - Estabelecer, subvencionar, ou embaraçar o exer-
cicio de cultos religiosos;
3.° -- Prescrever leis retroacti vaso
Art. 89 - É instituido um Tribunal de Contas para li-
quidar as contas da receita e despeza e verificar a sua leg&li-
dade, antes de serem prestadas ao Congresso. Os membros
deste Tribunal serão nomeados pelo presidente da Republica,
com approvação do Senado, e sómente perderão os seus loga-
res por sentença.
Art. 60 - Compete aos juizes ou Tribunaes Federaes
processar e julgar:
b) todas as causas propostas contra o Governo da União
ou Fazenda Nacional, fundadas em disposições da Constitui-
. ção, leis e regulamentos do Poder Executivo, ou em contra-
j.\tos celebrados com o mesmo Governo.
- 361-

Con~t. do 1mperio =.
Art. 170 - A receita e desp~za da Fazenda Nacional
será encarregada a- um Tribunal, debaixo do nome de The-
8ouro Nacional, aonde em diversas Estações, devidamente
estab~lecidas por lei, se regulará a sua administração, arre-
cadação e contabilidade, em reciproca correspondencia com
as Thesourarias e Autoridades das Provincias do Imperio.
Art. 171 - Todas as contribuições directas, :í. excepção
daquellas que estiverem applicadas aos juros, e amortisação
da Divida Publica, serão annualmente estabelecidas pela As·
semb!éa Geral, mas continuarão até que se publique a sua
derogação, ou sejam substituidas por outraE'.
Art. 172.- O Ministro de Estado da Fazenda, havendo
recebido dos outros. Ministros os orçamentos relativos ás des·
pezas das suas Repartições, apresentará na Camara dos De·
putados, annualmentr, logo que esta estiver reunida, um ba-
lanço geral da receita e despfza do Thesouro Nacional do
anno antecedente, e egualmente o orçamento geral de todas
as despezas publicas do anno futuro, e da imp0l'tancia de to-
das as contribuições e rendas publicas.

Lei de 4 de Outub1'O de 1831:


Art. l,O - Haverá na Capital do Imperio um Tribunal
denominadó - Thesouro Publico Nacional-, o' qual será
composto deuIÍl. Presidente, um Inspector Geral, um Conta-
dor Geral e um Procurador Fiscal, que terão todos o titulo
de Conselho, e serão de nomeação do Imperador.

Lei n.O 242, de 29 de Nov. de 1841:


Art. 1.0 - Fica resta:belecido o privilegio do fôro para
as causas da Fazenda Nacional, e creado 9 Juizo privativo
dos Feitos da Fazenda da \rimeira Instancia.
- 362-

Consto do Imperio: ,
Art. 179, § 17 - A' excepc;ão das' causas, que por
sua natureza pertencem a Juizos particulares, na conformi-
dade das leis, não haverá fôroprivilegiado, nem commlS-
sões e&pecÍaes nas causas civeis ou crimes.

Decl'. 71.° 3.084, de 1898 (.1. a p,1.rle):


Art. 37 - Nas causas que se moverem contra a Fa-
zenda ou contra a União os prazos e dilações concedidas ao
procurador da Republica, para responder, arrazoar ou dar
provas serão o triplo das determinadas no processo commum.
Art. 40 - Das sentenças proferidas con~ra a Fazenda
deve o juiz appellar ex-officio para o Supremo Tribunal Fe-
deral, qualquer que seja a natureza delIas, excedendo o valor
de 2.000;S000, comprehendendo-sc nesta disposição as justifi.
cações e habilitações, de que trata o artigo 149, sem o que
serão inexequiveis. Não se entendem, porém, contra a Fa-
zenda as sentenças que se proferirem em causas particulares,
a que os procuradores da Fazenda sómente tenham assistido,
porquanto destas só se appelIará, por parte da Fazenda, si os
procuradores d'clla o julgarem preciso.
Art. 149 (referido) - Sendo necessaria a habilitação
judicial de herdeiros e ccssionarios de credores da Fazenda
Nacional, para a cobrança das dividas passivas desta, deve o
interessado promoveI-a no juizo seccional, com citação do pro-
curador da Fazenda, juntando desde logo:
a) documento authentico da respectiva r'epal'tição de Fa-
zenda, que demonstre a existellcia da divida de quantia
certa, devidamente liquidada;
b) certidão de obito do credor da Fazenda.
A prova da legitimidade e identidade da pessoa deve
ser feita por meio de documentos originaes e authenticos e
por testemunhas fidedignas. Excedendo a divida de 2.000;5000,
ha appella~ão ea:·officio da septença que julgar provada a
-- 363-

habilitaç ~o. O" processos ultimados dos habilitantes lhes ser~o


entregues independenttmente de traslado.
'Art. 41 - Sendo a Fazenda condemnada por sen-
tença a algum pagamento, estão livres de penhora os bens
nacionaes, os quaes não pedem ser alienados sinào por acto
legit!lativo. A sentença será executada depois de haver pas-
sado em julgado e de ter sido intimado o procurador da Fa-
zenda, si este não lhe offerecer embargos, expedindo o juiz
precato ria ao Thesouro, para effectuar-se o pagamento. I nstr.
do Conto de 18õ 1, art. 14.
Quid jurls, si o Thesouro recusar o pagamento depre-
cado? ..
Art. 42 - A venda ou arrematação em hasta publica na
execução dos particulares não extinguirá o onus dos bens
obrigados à Fazenda.
Art. 45 - A Fazenda gosa do b,meficio de restituição
in integrum, e póJe allegal-o nos mesmos casos em que este
beneficio cabe aos' menores. .
Art. 46 - Os procuradores da l!"azenda podem dar de
suspeitos os juizes e escrivães sem serem obrigados a cau-
cionar.
Art. 47 - Não podem ser dados de suspeitos; mas
elles mesmos se poderão declarar suspeitos ou inhibidos de
funccionar nas causas em que forem partes seus inimigos ca-
pitaes, intimos amigos, parentes por consanguinidade ou aflios
até o segundo gráo e em que elles forem particularmente in-
teressados na decisão. Todavia, não obstante estas razões de
suspeição, elIes requererão as primeiras citações das partes, e
perpetuarão ~s causas em juizo, quando da demora possa vir
prejuizo á Fazenda Nacional; e, quando assim o tiverem feito,
se darão por suspeitos para o seguimento.
Art. 49 - Poderão exigir de qualquer tribunal, repar-
tição publica e cartorio de escrivão ou tabelIiào Oi documen-
tos que julgare m precisos ou convenie:ntefl, para' a defeza da
F~z{llàa, os quafs lhes serão subministrados sem despezas,
- 864-

Decr. Legisl. n.O 686, de 10 de &t. de 1900:


Art. 1.0 - E' o Puder Execlüivo autorizado, dentro do
actual exercicio, a fazer as necessarias operações de credito
para dar e:x:ecução ás sentenças da Justiça Federal, passadas
em julgado, mediante accôrdo com os respectivos credor~B
sobre o quantum a liquidar. .
Art. 2.° - Na faltado supracitado accôrdo, o Governo
solicitará do Congresso Nacional os necessar.ios creditos.

Decr. n.O 516'0, de 8 de Março de 1904:


Art. 35 - O juiz dos Feitos da Fazenda l\Iunicip~1 é
competente para conhecer e julgar definitivamente, em La
instanci.a, touas as causas civeis em que a Fazenda Munici-
pal fôr autora ou ré, assistente ou oppoente, ou devam, por
ser eUa interessada, intervir os seus procuradores.
Art. 36 - E' privativa a jurisdicção do juizo dos Fei-
tos, em 1.a instancia, para o processo e julgamento das cau-
sas liscaes, que tenham por objecto a cobrança da divida
activa da Municipalidade, e provenientes:
a) de contracto celebrado com a administração;
b) de alcance dos responsaveis perante a Fazenda Mu-
nicipal;
c) de impostos, contribuições, fó1'os, laudemios e multas,
que se lhe devam;
d) de damno causado aos bens municipaes.
Art. 38 - Competem á. Fazenda lVIllnicipfll todos os fa-
vorel.' e privilegios, de que presentemente goza e de que ve-
nha a gozar a Fazenda Federal.
Art. 39 - Nas causas que se moverem contra a· Fa-
zenda Municipal, os prazos e dilações concedidos aos procu-
radores dos Feitos, para arrazoar ou dar provas, serão o tri-
plo dos determinados em lei.
Art. 40 - A alçada d·) juiz dos Feitos da F:lzenda Mu-
nicipal é de 2:000!~OOO.
- 365-

Excederão sempre da alçada do Juizo, em bmeficio da


Faz~nda 1\Iunicipal, as .causas em que eUa fôr interessada.
D.1S nppdlações e aggravos, nas causas excedentes da alçada,
conhece a Côrte de Appellação.
Art. 41 ~- No processo executivo fiscal vers1.rá origina-
riament.e a penhora sobra os predios ou seus rendimentos, a
juizo do representante da Fazenda Municipal.
Art. 42 - As desapropriações, em qlie fôr interessada a
Municipalidade, serão reguladas pela mesma lei que vigorar
para a União.
Art. 43 - Os processos de infracção de leis e posturas
municipaes 8ão isentos de seUos e taxa judiciaria. Quando,
porém, condemnado o réo, á importaneia das custas por eEte
devidas se addicionará a dos seUos e taxa.
Art. 44 - Não podem as autoridades judiciarias, quer
federaes, quer locaes, modificar ou revogar as medidas e
RctOEl administrativos, nem conced!'!r interdictos possesso rios
contra actos do Governo Municipal exercidos 1'atione imperii.
Art. 46 - Os autos lavrados pelos funccionarios admi-
nistrativos· municipaes farão fé sobre os factos a que se refe-
rirem até proTa em contrario e independentemente da confir-
mação em juizo pelos altos funccionarios.
Art. 48, § 3.0 - A appeUação só poderá ser interposta
(no processo de infracção de leis e posturas municipaes) na
mesma. audiencia em que fôr proferida a sentença, quando a
parte estiver presente, por si ou seu procurador; e, no caso de .
revelia, 48 horas dep~is do publicada no jornal oillcial da
Prefeitura a acta do julgamento. Em qualquer dos casos, só
poderá seguir a appellação si o infractor pagar, ou depositar
. a importancia da multa dentro do prazo oe oito dias.
Art. 50 - Os proceesos e diligencias referentes a pre-
dios, terrenos ou obras, correrão contra os respectivos pro-
prietarios sem dependencia de citação do outro conjuge,
quando casados, segundo o regimen commum, ou contra seus
procuradores, quando conhecidos.
- 866-

Art. 55 - Nenhum procedimento judicial poderá ser in-


tentado, nenhuma escriptura publica. Pllderá 'ser lavrada, ne-
nhuma partilha, divisão, transmissão ou entrega de bens será
julgada por sentença, desde que se refiram a pessoas, nego-
cios ou bens EUjeitos a impostos municipaes, sem que haja
quitação dos impostos respectivos, devendo os competentes co-
nhecimentos ou certidões constar dos alludidos actos, sob
pena de multa de 100$ a 500$ ás autoridades, ou aos
funccionarios, que em taes netos intervierem. A multa será
imposta pelo Prefeito e cobrada executivamente.

Decr. n.O 9.885, de 29 de Fevereiro de 1888:


Art. 13, § unico - Na execuçAo para a cobrança dos
impostos relativos a immoveis, far-se-ha a penhora nos ren-
dimentos di) immovel, si estiver alugado ou arrendado, assi-
gnando o inquilino ou rendeiro termo de deposito dos rendi-
mentos futuros, para recolhel-os á estação fiscal á proporção
que se fôrem vencendo e até a quantia necessaria para paga-
mf'nto do imposto, da multa accr~scida e custas. Não es-
tando o immovel arrendado, e não dando o devedor outros
bens á penhora, far-se ha esta no mesmo immovel. Sendo
uBufructuario o devedor, execntar-se-ha o usufructo, e só no
caBO de não haver lançador, será (·xcutida a propriedade
plená.

Causas Fi8cae8.- São dignaI! de ponderação as conside-


raçõep, que aqui se transcrOv0m, do Commellt. á Constituição
por J. Barb'llho:
- « R~leva ponderar qUf', si as causas intentadas pela
Fazenda Nacional, ou contra eIla, só podem correr perante a
Justiça Federal, não lhe cabem, entretanto, procedimentos
judiciaes cspeciaes seus, distinctos dos que prevalecem para
os particulares; obr. cit., pago 250.
- 367

- «Mal avisada nesta parte, a legislação processual repu-


blicana conserv'ou a anomalia de privilegias fiscaes (o gripho
é nosso), que não se compadecem com a natureza e indole do
novo regimen. A i'azenda Nacional, quando entra na arena
forense, não vem sinão como litigante e ahi é egual a qual-
quer outro, não póde pretender uma posição excepcional e
superior aos demais pleiteap.tes. Pri vilegios 'explica-se que
os tivesse a Faxenda Real num regimen que era de privile-
gios e que até os admittia na legislação penal, v. gr.,
punindo diversamente o ndalgo e o plebeu; mas hoje a
Fazenda não é do Rei, é Nacional, e a nação professa o dogma
da. eguaIdade; obro cit., pago 250.
- «O direito que a legislação ordinaria tem conferido á
Fazenda Publica de, ao inverso do que se dá com todos os
mais litigantes, começar pela execução a cobrança do que lhe
é devido, o cerceamentl) da defesa nas causas uscaes, o
sequestro immediato de todos 08 bens do devedor, indepen-
dente de justificrlção nos casos não já de insolvabilidade
sómente, mas mesmo nos de não ser elle encontrado, ou
achar-se ausente, a restituição ininteg1'urn, as dilações nas
suas causas com maior extensão que as concedidas á outra
parte, etc., são excepções e privilegios que incorrem tambem
" na mesma censura. Em 1831, epoea quc assignala entre nós
grandes conquistas liberaes no domínio politico e na legisla-
ção, supprimiu·se a jurisdicção contenciosa do antigo Conse-
lho de Fazenda, e foi eommettida aos juizes territoriaes (Lei
de 4 de Outubro daquclIe anno.)
Veio mais tarde o e"spirito de reacção contra eUas e quasi
todas annuHou.
Reformou-se, a titulo de interpretação, o Acto Addicio-
nal; fez-se a lei de 3 de Dezembro de 1841; restaurou-se,
por lei ordinaria, o Conselho de Estado, supprimido por lima
reforma constitucional. A Fazenda Nacional readquiriu, pela
lei n.O 242, de 29 de Novembro de 1841, seu privilegio de
{Ôl'O, e deu-se lhe iui~o privativo parI\. todl\.5 as causas, em
- 368 -

que ella jôsse interessada por qualquer modo, e temos


vigente ainda o violento executivo fi..~cal, privilegio que as
constituintes de 1823 supprimirdm, cuja abolição o sabia
Pimenta Bueno (Dir. Publ. Brasil., pago 426), e que com toda
a propriedade o deputado Paranhos l\fantenegro, num notavel
discurso sobre o proj ecto, de que resultou a lei n. o 242 de 20
de Nov. de 1894, dizia merecer," não a qualificação de acção,
mas a de violencia judiciaria, que se devel'ia abolir. (Annex.
da Cam. dos Deput., 1894; sessão de 23 de Out.); obro
cit., pago 32~.

Lei de 4 de Outubro de 1831 :


Art. 90 - Fica ex tine to o actual Erario e o Conselho
de Fazenda, etc.
Art. 91- A judisdicção contenciosa, que exercitava o
mesmo Conselho extincto, fica pertencendo aos Juizes Terri-
toriaes, com recurso para. a Relação do districto, guardados
os termos de direito.

Lei n.O 242, de 29 de Novembro de 1841:


Art. 1.0 - Fica restabelecido o privilegio do fôro para
as causas da Fazenda Nacional, e creado o Juizo Privativo
dos Feitos da I!'azenda de Primeira Instancia.

Dec. n.O 1.939, de 28 de Agosto de 1908:


Art. 9.° - A prescripção quinquennal, de que gosa a
Fazilnda Federal (Dec. n.O 857, de 12 de Novembro de 1851, .
arts. 1.0 e 200) se applica a todo e qualquer direito e acção
que alguem tenha contra "a dita Fazenda, e o prazo da pres-
cripção corre da data do acto ou facto do qual se originou o
mesmo direito ou acção, salvo interrupção pelos meios legaes.
- 369-

Instrucções do Conlenc,'oc;o, de 10 de A ?I'il de 1851 :


Art. 17 - D~verão ter em lem brança (os procuradores
dos Feitor! da Fazenda) q 11fl á Fazenda. Nacional compete o pri-
vilegio da restituição in inf,egrum nos termos d4 Ord., liv. 3.",
tit. 41, para opportunamente fazerem deIle o uso que convier
a bem deUa.

Ord., liv. 3.°, tit. 41, pl'.


a Se contra algum menor de 25 annos fôr dada injusta-
mente alguma sentenç!l., assim como se os autos do processo
fossem justamente ordenados, e por elIes o menor não rece-
besse aggravo, e segundo os merecimentos do processo hou-
vera de sahir a sentença por elh-, e sahio contra eIle, poderá
pedir restituição co.ntra a sentença, a qual lhe será concedida,
e por ella tornado ao estado em que era, antes da sentença
ser contra elle dada.

Dec. n.o 8.084 de 1908 :


Art. 52 - (Parte Quinta).
Compete á Fazenda Nacional a via executiva para a
cobrança das dividas activas do Estado, que forem certas e
liquidas, provenientes:
a) dos alcances dos responsaveis;
b) dos tributos, impostos, contribuições lançadas e multas;
c) dos contractos ou de outra origem, posto que não seja
rigr.rosamente REcaI, quando disposição expressa de lei ou
contracto assim o autorizar.
§ unico.. O pagamento das multas, quer amigavelmentr,
quer pelo meio executivo, não obsta á restituição de parte
ou de toda a importancia, no caso de relevação ou reducção
decretadas pelas autoridades competentes, administrativas ou
iudiciarili.s. Estas autoridades transmittirão logo ás estações
fiscaes a copia authentica das dec~sõesJ contendo relevação
ou reducção das multas, para effectuar-se a re~tituição, ou
procedcl':sc como de direito fôr.
DJHBITO AD&U!'!lSTa4TITO ,.
- 370

Dec. n.O 1.939, de 1908:


Art. 9. 0 - A prescripção quinquennal de que gosà a Fa-
zenda Federal (Dec. n.O 857 de 12 de Nov. de 1851., artp.
1.0 e 2.°) se applica a todo e qualquer direito e acção que
alguem tenha contra a dita Fa~enda, e o prazo da prescri-
pção corre da data do acto ou facto, do qual se originar o
mesmo direito ou acção, salvo a interrupção por meioslegaes.

Dec. n. O 857, de 1851 (referido).


Art. 1.0 - A prescripção de ::> annos, posta em vigor
pelo art. 20 da Lei de 30 de Novernb ode 1841, com re-
1

ferencia ao Capitulo 209 do Regimento da Fazenda, a res-


peito da divida pa~siva da Nação, opera a completa desone-
ração da Fazenda Nacional do pagamento da divida, que
incorre na mesma prescripção.
Art. 2.° - Esta prescl'ipção comprehende:
1.0) O direito que algu~m pretenda ter 8. ser declarado
credor do Estado, sob qualquer titulo que seja.
2.°) O dirlJito que alguem tenha a haver pagamento de
uma divida já reconhecida, qu~lquer que seja a natureza
dcHa.

Lei n.O 221, de 1894:


Art. 13 - Od juizes e Tribunaes Federaes processarão
e julgarão as causas que se fundarem na lesão de direitos
individuaes por actos ou decil:!ão das autoridades administra-
tivas da União.
Art. 51- Nas causas que se moverem contra a Fa-
zenda Nacional ou contra a União os prazos e dilaçõ~s con-
cedidas ao procurador da Republica para responder, arrazoar
ou dar provas serão o triplo dos determinados na lei.
·
APPENSO VI

LiçãO 7,a

Consto Fedeml:
Art. 72 - princ. - A Consto ass!lgura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos
concernentes á liberdade, á segurança individual e á proprie-
dade.
Art. 72, § 17 - O direito de propriedade mantem-se
em toda a sua plenitude, salva a desappropriação por neces-
sidade, ou utilidade publica, mediante indemnisação previa.
Art. 78 - A especificação das garantias e direitos ex-
pressos na Constituição não exclue outras garantias e direitos
não enumerados, mas resultantes da fórma de governo que
eUa estabelece e dos principios que consigna.
Art. 34, 2;° - Compete privativamente ao Congresso
Nacional autorizar o Poder Executivo a contrahir empresti-
mos, e,a fazer outras operações de credito.

*
APPENSO VII

LiçãO 8.&

Decr. n.O 13.069 de 12 de Junho de 1918:


Art. 1.0 - E' ~reado O Commissariado de Alimentação
Publica, composto de um commissario, um sub-commissario e
tantos auxiliares quantos fô,rem necessarios.
Art. 2.° - Ao Commissariado de Alimentação Publica
incumbe:
a) Verificar semanalmente O stok de generos alimentí-
cios e de primeira nEcessidade, existentes nos armazens, tra-
piche!", depositos e mais estabelecimentos congeneres, para o'
fim de conhecer da sua quantidadf', qualidade e procedencia,
respectivamente;
b) Inquirir do custo de produrção d'estes generos, dos
preços de acquisição nos centros prcductores ou á entrada dos
mercados, e dos preços pelos quaes são os mesmos vendidos
aos consumidores;
c) Adquirir por compra os generos referidos quando fôr
necef!sario, requisital-os ou desapproprial-os por necessidad~
publica, como medida excepcional do estado de guerra em
que nos achamos, para dar-lhes o destino conveniente;
d) Convencionar com 08 armazens e outros estabeleci-
mentos, ou casas idoneas para a venda de generos alimenti·
cios ou de primeira necef!sidade nas quantidades e limites de
preços estipulados, ou estabelecer armazens destinados ao
mesmo fim;
e) A ttender ás cooperativas operarias em tudo que fôr
possivel para que elIas alcancem o objectivo a que se pro-
põem;
f) Tomar quaesquer outras medidas attinentes ao justo
equilibrio entre as necessidades da exportação e as dQ con-
sumo interno do paiz.
APPENSO VIII

LiçãO 10.a

C01iSt. do Imperio:
Art. 179.°, § 32.° - A Constituição tambem garante a
instrucção primaria e gratuita a todos os cidadãos.
Lei de 15 de outubro de 1827:
Art. 1. ° - Em todas as cidades, villas e logares mais
populosos, haverá. as escolas de primeiras letras que fôrem
necessarias.
Art. 4.° - As e~colas serão de en~ino mutuo nas capi-
taes das provincias; e o serão tambem nas cidades, vil/as e
logares populosos d'ellas, em que fôr possivel estabelecer-sc.
Art. 5.° - Para as escolas de ensino mutuo se applica-
rão os edificios, que houver com sufficiencia nos logares
d'ellas, arranjando-se CGm os utensilios necessarios á custa da
Fazenda Publica e os professores que não tiverem a neces-
saria instru:lção d'este ensino irão instruir-se em curto prazo
e á custa dos seus ordenados nas escolás das capitaes.
Art. 6.° - Os professores E'n~inarão a lêr, escrever, as
quatro operações de arithmetica, pratica de quebrados, deci-
·maes e proporções, as noçõ~s mais geracs de geometria pra-
tica, a grammatica da lingua nacional, e as principios de
moral christã e da religião catholica e apostolica rom,ana
proporcionados á comprehensão dos meninos; pref!'lrindo para
as leituras a Constituição 00 Imperio e a IIlstoria do Brasil.
Art. l1. C - Haverá escolas de mminas nas cidades e
villas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho
julgarem necessario este estabelecimento.
Art. 12.0 - As Mestras, além do declarado no art. 6.°,
- 374-

com exclmão oas noções de geometria e limittindo a imtru-


eção da arithmetiea ás suas quatro operaçõel'1, ensinarão tam-
bem as prrndas que servem á economia domestica j e serão
nomeadas pelos Presidentes em Conselho aquellas mulheres
que, smdó brasileiras e de reconhecida honestidade, se mos-
trarem com mais conhecimentos nos exames feitos na fórma
do art. 7. 0
Art. 14.0 - Os provin:entos de Professores e Mestras
serão vitalícios j mas os Presidentes em Conselho, a quem
pertence a fiscalisação das escolas, os poderão suspender, e
só por sentença serão demittidos, provendo interinamente
quem substitua.
Art. 15.0 - Estas escolas serão rrgidas pelos estatutos
actuaes no que se não oppuzerem á presente lei j os castigos
serão os praticados pelo methodo de Lencastre.
Art. 16.0 - Nas provincias onde estiver a Côrte, per-
tence ao Ministro do Imperio o que nas outras se incumbe
aos Presidentes.

Acto addicional:
.A:rt. 10.0 - Compete ás Assembleias legil:!lativas pro-
vinciaes legil:!lar: .
§ 2. 0 - Sobre instrucção publica e estabelecimento!
proprios a promoveI-a, não comprehendendo as faculdades de
medicina, os cursos j uridicos, academias aclualmente existen-
tes, e outros quaesquer estabelecimentos de instrucção que
para o futuro fôrem creados por lei geral.

Con8t. da Republica:
Art. 35.0 -lncumbe, outrosim, ao Congresso, mas nito
privativamente:
2. 0 - Animar, no paiz, o desenvolvimento das letras,
artes e sciencias, bem como a immiglação, a agricultura, a
industria e o commercio, Sfm privilrgios que tolham a acção
'. dos governos locaes.
APPENSO IX

LiçãO 11.-

Decr. de 19 ~e No'Vembro de 1822 :


«Tendo-se de celebrar a Minha Coroação e Sagração,
como Imperador do Brazil e Perpetuo Dt'f~nsor, por una-
nime aeclamação dos Povo", e sendo de absoluta necessidade
fazerem-se as despesas necessarias para este solemne acto:
sou servido que, pelo Thesouro Publico, se entreguem a PIa-
cido Antonio Pereira de Abreu as quantias que por elIe fo-
rem pedidas, á vista das competentes contaslegalisadas, como
é de estylo, e da mesma fórma ás outras pessoas encarrega-
das da promptificação de varios objectos para o mencionado
acto, apresentando todos as suas contas com as formalidades
precisas para serem abonadas ao Thesoureiro-mór do mesmo
Thesouro as quantias qllf', na sobredita conformidade fôr en-
tregando. »

Codigo Civil Brasileiro:


Art. 65 - São publicos os bens do dominio nacional per-
tencentes á União, aos Estados, ou aos ~Iunicipios. Todos os
outros são particulares, seja qual fôr a pessoa a que per-
tencerem.
Art, 599 - Observados os regulamentos respectivos, li-
cito é pescar em aguas publica!', ou nas particulares, com
consentimento de seu ·dono.
Art. 600 - Pertence ao pescador o peixe, que pescar,
e ó qtie arpoado, ou farpado, perseguir, embora outro ()
colha.
Al t. 601- Aquelle que, sem permissão do proprietario,
pescar, em aguas alheias, perderá para elle o peixe, que apa-
nhe, e responder-Ihe-á pelo damno que lhe faça.
Art. 602 - Nas aguas particulares, que atravessem ter-
renos de muitos donos, cada um dos ribeirinhoi! tem direito
de pescàr de um lado, até ao meio deUas.
Art. 59 - Quem se assenhorear de coisa abandúnada,
ou ainda não apropriada, para logo lhe adquire a propriedade,
não sendo essa occupação defesa por lei.
Paragrafo ttnico. Volvem a nãó ter dono as coisas mo-
veis quando o seu as abandonar com intenção de renuncial-as.
Art. 593 - São coisas sem dono e sujeitas á apro-
priação:
1. Os animaes bravios, em quanto entregues á sua na-
tural liberdade.
lI. Os mansos e domesticados que não forcm assignala-
dos, se tiverem perdido o habito de voltai' ao logar onde cos-
tumam recolher-se, salvo a bypothesc- do art. 586.
IH. Os enxames de abelhas, anteriormente apropriados,
se o dono da colmeia a que pertenciam os não reclamar im-
mediatamente.
Art. 599 (referido). - Não se reputam animaes de caça
os domcsticados que fugirem a scus donos, emquanto estes
lhes andarem li procura.

Consto fi'edel'al:
Art. 3.° - Fiea pertencendo á União, no planalto cen-
tral da Republica, uma zona de 14.400 kilometros quadra-
dos, que será opportunamente demarcada, para nella estabe-
lecer-se a futura Capital Federal.
§ uníco - Effcctuada a mudança da capital, o actua1
D;stricto Federal passará a constituir um E,t ldo.
Art. 64 - Pertencem aos Estadoi! as minas e terras de-
volutas situadas nos seus respectivos territorios, cabendo á
União sómente a porção de territorio que fôr inruspensllvel
para a ddesa das fronteiras, fortificações, conatrucções mili-
tares e estradas de ferro federaes.
§ unico - Oi! proprios nacionaes, que não forem neces-
8arios para serviços da União, passarão ao dominio dos Esta-
dos, em cujo território estiverem situados.

ll1str. de 14 de Novembro de 1832:


Art. 4. o - Hão de considerar-se terrenos de marinhas
todos os que, blnhados pela.s aguas do mar, ou dos rios nave-
gaveifil, vão até á distancia de 15 braç'ls craveiras para parte
da terra, contadas estas desàe os pontos a que chega o prea-
mar medio.

Decr. n.o 4.105 de 22 de Fevereiro de 1868:


Art. 1.0 -A concessão directa ou em hasta puhHca dos
terrenos de marinha, dos reservados para a servidão publica
nas margens dos rios navegaveis e de qlle se fazem os na-
vegaveis, e dos accrescidos natural ou artifici'llmente aos di-
tos terrenos, regular-sc-á pelas disposições do presente decreto.
§ 1.0 - São .terrenos de marinha tojos os que banhados
pelas aguas cio mar ou dos rios navegaveis vão até a di:;tau-
cia de 15 braças craveir.ls (33 metros) para a parte de terra,
contadas desde o pontJ a que cheg.:l. o preamar medio. E~te
ponto refen-se ao estado do logar no tempo da execução da.
lei de 15 de novembro de 1831, art. 51 § 14. (lnstr. de 14
de novo de 1832, art. 4.°).
§ 3.° -São terrenos accrescidos todos o que natural ou
artificialmente se tiverem formado ou formarem além do
ponto determinado nos § 1.0 e 2.° para a parte domar, ou
das aguas dos rios. (ReaoI. de Oons. de 31 de jan.o de 1852,
e Lei n.O 1.114 de 27 de set.O de 1860, art. 11 § 7.°).

Av. n.O 313 de 12 de julho de 1833:


Declara que a respeito das medições de terrenos de ma-
rinha deve observar-se a maior e menor enchente da maré
de uma lunação, e tomado O ponto medio d'tlle contar-se as .
15 braças.

Lei n.O 601 de 18 de setembro de 1850:


Art. 3.° - São terras devolutas:
§ 1.0 ~ As que não se acharem applicadas a algum uso
publico nacional, provincial ou municipal.
§ 2.° - As que não se acharem no dominio particu-
lar por qua1quer titulo legitimo, nem forem havidas por·ses-
marias e outl"aS conceSbões do governo geral ou provincial,
não incursas em commisso por falta do cumprimento das
condições de II;Iedição, confirmação e cultura. .
§ 3.° - As que não se acharem dadas por sesmarias, ou
outrasconceSbões do governo, que, apesar de incursas em
commiBso, forem revalidadas por esta lei .
. § 4.° - As que não se acharem occupadas por posses,
que, apesar ,de nl1:o se fundarem em' titulo legal, forem legi-
timadas por esta lei.

Regul. n.o 1.318 de 80 de janeiro de 1854:


Art. 72 - Serão reservadas terras devolutas para colo-
379

nisação e aldeiammto de indigenafl nos districtos onde exis-


tirem hordas selvagens.

Lei: n.o 2.672 de 20 de OUf,ub1:0 de 1875:


Art. 1.°"7 O governo fic~ autorisado para alienar as
terras das aldeias extinctas que estiverem aforadas, obser-
vando as disposições seguintes:

§ 3.° - As terras em que estiverem ou em que possam


ser fundadas villas ou povoações, e as que forem necessarias
para logradouros publico!", farão parte do ·patrimonio das res-
pectivas municipalidades, e por estas serão cobrados os res-
pectivos fóros para abertura e melhoramentos das el:tradàs
vicin!l.es.

. í':' _.
APPENSO X

Liçao 12.-

j Ord. Livro 3.°, Tit. LXXV:


§ 1.0 - E posto que de tal sentença seja appellado, nito
será por isso feita por Direito valiosa, ainda que a appella-
ção pareça acto approvativo della, pelo qual pal'ece o appel-
lante approvar a tal nullidade; porque pois a sentença de
principio foi nenhuma, já por nenhum acto seguinte póde ser
confirmada, salvo por Nós de certa sciencia, porque o Rey
he Lei animada sobre a terra, e pode fazer Lei e revogaI-a,
quando vir que convem fazer assi.

Constituição do Impe'1'io:
Art. 13.0 - O poder legislativo é delegado á assem-
bléa geral com a sancção do Imperador.

G'onst-ituiç:ão da Republica:
Art. 16. 0 - O poder legi3lativo é exercido pelo Con-
gresso Nacional, com a sancção do Presidente da Republica.
Art. 34. o - Compete privativamente ao Congresso Na-
cional:

27,0 - Conceder amnistia,


- 381 -

Codigo Civil Brasileiro:


Art. 1603 - A successão legitima defere-se na ordem
seguinte:

IV - Aos coUateraes.
Art. 5.° da Introducção-« Ninguem se excusa alle-
gando ignorar a lei; nem com o silencio, obscuridade, ou in-
decisão della exime o juiz de sentenciar ou despachar. I)

'..:/o-t

, I~:, : • • . ' >., . '.


APPENSO. XI

Llçlo 13.'

Const, do Imperio:
Art. 1.0 - O Imperio do Brasil é a associação politica
de todos os cidadãos brasileiros. Elles formam uma nação
livre e independente, que não admitte com qualquer outra
laço algum de união ou federação, que se opponha á sua in-
dependencia. .
Art. 2.° - O seu territorio é dividido em provincias na
fórma em que actualmente se acha, as quaes poderão ser sub-
divididas como pedir o bem do Estado.
Art. 3.° - O seu governo é monarchico-hereditario,
constitucional e representativo,
Art. 9.° - A divisão e harmonia dos poderes publicos é
o principio conservador dos direitos do cidadão, e o mais se-
guro meio de fazer effectivas as garantias que a Constituição
offerece.
Art. 10 - Os poderes políticos reconhecidos pela Cons-
o tituição do Imperio do Brasil são quatro: o poder legislativo,
o poder moderador; o poder executivo e o poder judicial.
Art. 15 - E' da attribuição da assembléa geral:
1.0 - Tomar juramento ao Imperador, ao Principe Im-
perial, ao Regente ou Regencia.
2,° - Eleger a Regencia ou o Regente,·e marcar os li-
mites da sua autoridade.
3.° - Reconhecer o Principe Imperial como SUccessor do
throno na primeira reunião logo depois do seu naschneilto.
- 383-

4.° - Nomear tutor ao Imperador menor, caso seu pac


o não tenha nomeado em testamento.
5.° - Resolver as duvidas que occorrerem sobre a suc-
cessão da corôa.
6.° - Na morte do Imperador, ou vacancia do throno,
instituir exame da administração que acabou e reformar os
abusos nella introduzidos.
7.° -Escolher nova dymnastia no caso da extincção da
imperante.
8.° - Fazer leis, interpretai-as, suspendel-as e revo-
gal.as.
9. o - Velar na guarda da Constituição e promover o
bem geral da nação.
10 - Fixar annua)mente as despez!l.s publicas e repar-
tir a contribnic;ão directa.
11 - Fixar annualmente, sobre ao informação do go-
verno, as forças de mar e terra, ordinarias e extraordinarias.
12 - Conceder ou negar a entrada de forças estran-
geiras de terra e mar dentro do Imperio ou dos portos delle.
13 - Autorizar ao governo para contrahir empresti-
mos.
14 - Estabelecer meios convenienbs para pagamentos
da divida publica.
15 - Regular a administração dos bens nacionaes e
decretar a sua alienação.
~6 - Crear. ou supprimir empregos publicos e estabe-
lecer-lhes ordenados.
17 - Determinar o peso, valor, inscripção, typo e de-
nominação das moedas, assim como o padrão dos pesos e -
medidas.
Art. 81 -Estes conselhos terão por principal objecto
propor, discutir e d~liberar sobl'e os negocios mais interes-
santes das suas provincias, formando pr~jectos peculiares e
accommodado! ás suas localidades e urgencias.
Art.' 142. - Os coneelheiro!! sef&O ouvidos em todos os
- 384-

negocios graves, e medidas geraes da publi,.la. admini"trJ.çllJ ;


principalmente sobre a declaração de guerra e ajustes de paz,
negcciações com as nações estrangeiras, assim como todas as
occasiões em que o Imp.erador se proponha exercer qualquer
das attribuições proprias do poder mcderador, indic~das no
art. 101, á excepção do § 6.°
Art. 101 (referido)- «O Imperador exerce o poder mo-
derador:
1.0 - Nomeando senadores na fórma do art. 43.
2.° - Convocando a assembléa geral extraordinaria-
mente nos intervallos das sessões, quando assim o pede o
bem do Imperio.
3.° - Sanccionando os decretos e reeoluções da assem-
bléa geral, para que tenham força de lei; art. 62.
4.° - Approvando e suspendendo interinamente as reso-
luções àos conselhos provinciaes; arts. 86 e 87.
5.° - Pro rogando on adiando a assembléa geral e dis-
fJolvendo a camara dos deputados nos casos em que o eXigir
a salvação do Estado; convocando immediatamente outra,
que a substitua.
6.0 - Nomeando e demittindo livremente os ministros
de Estado.
7.° - Suspendendo os magistrados nos casos do art. 154.
8.° - Perdoando e moderando as penas impostas aos
réos condemnados por sentença.
9.° - Concedendo amnistia em caso urgente e que ~ssim
aconselhem a humanidade e bem do Estado.»
Art. 165 - Haverá em cada provincia um presidente
nomeado pelo Imperador, que o poderá remoycr quando en-
tender que assim convem ao bom serviço do Estado.
Art. 167 - Em todas as cidades e villas ora existentes
e nas mais que para o futuro se ercarem, haverá camaras,
ás quaes compete o governo economico e municipal das mes-
JDas cidades e villas.
Art, 170 - A receita e de~peza da. Fazepda Nacional
- 385-

será encarregada a um Tribunal debaixo do nome de - The-


souro Nacional, aonde em diversas estações devidamente es-
tabelecidas por lei que regulará a sua administração, arreca-
dação e contabilidade em reciproca correspondencia com as
thesourarias e autoridades dBs provincias do Imperio.
Art. 179 - A inviolabilidade dos direitos civis e poli-
ticos dos cidadãos brazileiros, que tem por base a liberdade,
a segurança individual e a propriedade, é garantida pela
Oonstituição do Imperio pela maneira seguinte: '

2. 0 - Nenhuma leí será estabelecida sem utilidade pu-


blica.
3. 0 - À sua disposição não terá effeito retroactivo.

ConstituiçãO Federal:
Art. 72 - A Oonstituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros re8identes no paiz a inviolabilidade dos direitos
concernentes á liberdade, á segurança individual e á proplie-
dade nos termos seguintes:

§ 3.e-'rodos ·são eguaes perante a lei. A Republica


não admitte privilegio de nascimento, desconhece fóros de no-
breza e extingue as ordens honorificas existentes e todas as
suas prerogativas e regalias, bem como os titulos nobihar-
chicos e de conselho.

DlJlBITO ADIUI!iIS~lU.UVO
APPENSO XII

Li9ãO 14.a

Actualmente, não é mais esta a organização politica da


Allemanha, a qual, vencida pelos alliados, só mais tarde po-
derá saber a sorte que lhe reserva o desmoronamento do
Imperio.
Por emquanto ainda é cedo para prever qual será o go-
verno definitivo da Allemanha e até onde a levarão as con-
dições da paz que lhe são impostas pelos alliados.

o mesmo -em relação á Austria-Hungria.


.:""
~(

APPENSO XIII

LiçãO 15.a

Consto Fedeml:
Art. 89. - É instituido um Tribunal de Contas para li-
quidar as contas da receita e despeza e verificar a sua lega-
lidade antes de serem prestadas ao Congresso.
Os membros desse Tribunal serão nomeados pelo Presi-
dente da Republica, com approvação do Senado, e sómente
perderão os seus logares por sentença.
Art. 55 - O poder judiciario da União terá por orgãos
um Supremo Tribunal Federal com séde na capital da Re-
publica e tantos juizes e Tribunaes federaes, distribuidos pelo
paiz, quantos o Congresso creou.
Art. 15 - São orgãos da soberania nacional o poder le-
gislativo, o executivo e o judiciario, harmonicos e independen-
tes entre si.

Decr. n.o 966-A, de 1890:


Art. 1.0 - É instituido um Tribunal de Contas, ao qual
incumbirá o exame, a revisão e o julgamento de todas as
operações concernentes á receita e despeza da Republica.

Decr. n. o 1.582, de 1893:


Art. 1.0 - O numero, classe e vencimentos dos empre-
gados do Thesouro Federal, Tribunal de Contas, Caixa de
Amortisação, Casa da Moeda, Alfandega do Rio de Janeiro e
*
388 -

dos Estados e Delegacias Fiscaes, será, a partir do dia 1 de


Janeiro de 1894 em deante, o fixado e constante das Tabellas
annexas e que a este acompanham.

Decr. n.o 892, de 1896 :


Art. 1.0 - O Tribunal de Contas, instituido no art. 89
da Constituição, terá a sua séde na Capital Federal e juris-
dicção em toda a Republica.
Art. 2.°_ O Tribunal de Contas tem jurisdicção pro-
pria e privativa sobre as pessoas e as materias sujeitas á sua
competencia; abrange todos os responsaveis por dinheiros,
valores e material pertencentes á Republica, ainda mesmo
que residam f6ra do paiz.
Agindo como Tribunal de Justiça, as suas decisões defi-
nitivas teem força de sentença judicial.
§ 1.0 - Funcciona o Tribunal de Contas:
1) Como fiscal da administração financeira;
. 2) Como . Tribunal de Justiça com jurisdicção conten-
Closa e graCIOsa.
§ 2.° - Exercita sua funcção fiscalisadora, instituindo
exame prévio sobre os actos que entendem com a receita e
despeza e revendo as contas ministeriaes.

Decr. n. O 2.409, de 1896:


Art. unico. - Fica ~pprovado o Regulamento, que a
este acompanha, expedido para a exccução do Decreto Le-
gislativo n. O 392 de 8 de Outubro ultimo, que reorganiza o
Tribunal do Contas, revogadas as disposições em contrario.
A~PENSO XIV

L1çao 16.&

necr. n.O 942-A, de 1890 :


Art. 1. o ~ O montepio dos empregados de fazenda dos
Estados Unidos do Brasil tem por fim provêr á subsistencia
e amparar o futuro das familias dos mesmos empregados,
quando estes fallecerem ou ficarem inhabilitados para susten-
taI·as decentemente .

. Decr. n.O 956, de 1890:


Art. 1.0 - E' applicado aos funccionarios activos, apo-
sentados ou reformados do Ministerio da Justiça o montepio
obrigatorio creado pelo Decr. n.O 942-A de 31 de Outubro
de 1890, que será executado de accôrdo com o presente na
parte que respeita ao referido Ministerio.

Decr. n.o 1.036, de 1890 : .


Art. 1.0 - E' applicado aos funccionarios activos e apo-
sentados do Ministerio do Interior o montepio obrigatorio
creado pelo Decr. n. O 942-A, de 31 de Outubro de 1890,
que será executado de accôrdo com o presente na parte que
respeita ao referido Ministerio.

Decr. n.O 1.. 045, de 1890:


Art. 1.0 - E' applicado aos funccionarios publicos acti-
vos, aposentados ou reformados, do Ministerio dos Negocios
- S90-

da Agricultura, Oommercio e Obras Publicas o montepio


obrigatorio creado pelo Decr. n. O 942-A, de 31 de Ontubro
de 1890, que será executado de accôrdo com o presente na
parte que respeita ao referido Ministerio.

Decr. n. O 1.092, de 1890:


E' applicado aos funccionarios activos e aposentados do
Ministerio das Relações Exteriores o montepio obrigatorio
cre8do pelo Decr. n. o 942-A, de 31 de Outubro de 1890,
que será executado de accôrdo com o presente na parte rela-
tiva ao referido Ministerio.

Decr. n.O 2.448, de 1897 :


Oonsolida as disposições relativas ao montepio dos func-
cionarios dos ex-Ministerios da Justiça, Interior e da Instru-
cção Publica, Oorreios e Telegraphos. .

Decr. n.O 490, de 1897 :


Art. 37 - O Governo suspenderá a admissão de novos
contribuintes para o montepio dcsde a data da presente lei,
devendo submetter ao Oongresso na proxima legislatura um
p~ojecto de refo~ma d'aquella instituição.

Decl'. n. O 2.221, de 1909:


Art. 42 - Fica revogado o art. 37 da lei n. o 490, de
15 de Dezembro de 1897, para o âm de serem admittidos a
contribuir para o montepio dos funccionarios publicos todos os
empregados federaes que, em virtude daquella lei, teem sido
privados dessa vantagem.
Para esse fim o Governo submetterá ao Congresso, nos
primeiros dias da proxima sessão, um projecto de reforma
daquella institui'ção, precedido de CÍrcumstanciil.da exposição,
- 391 -

discriminando por exerClclO e categorias de pensionistas as


despezas que se fizerem pela verba 5.& do orçamento do Mi-
nisterio da Fazenda.

Lei n.O 2.356, de 1910:


Art. 94 - Fica revogado o art. 37 da lei n.O 490, de
15 de Dezembro de 1897, sendo desde já admittidos novos
contribuintes ao montepio dos funccionarios civis, que reco-
lherão de uma só vez, ou por prestações mensaes, conforme o
Governo determinar, os juros e contribuições a que estão
sujeitos, a contar da data da citada lei.

Dec. n.o 8.904, de 1911 :


Dá instrucções para a execução do art. 84 da citada
o
lei ·n. 2.356, de 31 de Dezembro de 1910.

Lei n.O 3.089, de 1916:


Art. 107 - Fica suspensa a admissão de novos con-
tribuintes ao montepio dos funcci~narios publicos.

, .
APPENSO XV

LiçãO 17."
Constituição Federal:
Art. 48 -Oompete privativatnente ao Presidente da Re-
publica:

6.° - Indultar e commutar as penas nos crimes sujeitos


á jurisdicção federal,. salvo nos casos a que se referem os
arts. 34 n.o 28 e 52, § 2.°
Art. 34 (referido) - Oompete privativamente ao Oon-
gresso Nacional:

28 - Oommutar e perdoar as penas impostas por crime


de responsabilidade aos funccionarios federaes.
Art. 52 (referido) - Os :Ministros de Estado não são
responsaveis perante o Congresso, ou perante os Tribunaes,
pelos conselhos dados ao Presidente da Republica.

§ 2.o-Nos crimes communs e de responsabilidade serão


processados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal, e, nos
connexos com os do Presidente da Republica, pela autoridade
competente para o julgamento deste.

Consto FederaZ:
Art. 48 - Oompete priv.ativamente ao Presidente da
Republica:
-- 393 -

12 - Nomear os membros do Supremo Tribunal e os


ministros diplomaticos, sujeitando a nomeação á approvação
do senado.

16 - Entabolar negociações internacionaes, celebrar


ajustes, convenções e tratados, sempre ad referendum do
Congresso, e approvar os que os Estados celebrarem na con-
formidade do art. 65, submettendo-os, quando cumprir, á
autoridade do Congresso.
Art. 65 (referido) - E' facultado aos Estados:
1.0 -Celebrar entre si ajustes e convenções sem cara-
cter político.
2.° - Em geral todo e qualquer poder, ou direito que
lhes não fôr negado por clausula expre8sa ou implicitamente
contido nas clausulas expressas da Constituição.

Constituição Federal:
Art. 49 ~ O Presidente da Republica é auxiliado pelos
Ministros de Estado, agentes de sua confiança, que lhe sub- .
screvem os aetos, ~ cada um delles presidirá a um dos Mi-
nisterios em que se dividir a administração federal.
Art. .1. 0 - Os Eatados po dem incorporar-se entre si,
subdividir-se ou desmembrar-se, para se annexar a outros ou
formar novos Estados, mediante a acquiescencia das respecti-
vas assembléas legislativas, em duas sessões annuaes successi-
vas, e ~pprovação do Congresso Nacional.
Art. 5.°_ Incumbe a cada Estado prover, a expensas
proprias, ás necessidades do seu governo e administração j a
União, porém, prestará soccorros ao Estado que, em caso de
calamidade publica, os solicitar.
Art. 11- E' vedado aos Estados, como á União:
1.0 - Crear impostos' de transito pelo territorio de um
Estado, ou na passagem de um para outro, sobre productos
394 -

de outros Estados da Republic8, ou estrangeiro, e bem assim


sobre os vehiculos de terra e agua, que os transportarem;
2.° - Estabelecer, subvenciar ou embaraçar o exercicio
dos cultos religiosos;
3.° - Prescrever leis retroactivae.
Art. 62 - As justiças dos Estados não podem intervir·
em questões submettidas aos Tribunaes Federaes, nem an-
nular, alterar ou suspender as Ruas sentenças ou ordens. E
reciprocamente, a Justiça Federal não pode intervir em ques-
tões submettidas aos Tribunaes dos Estados, nem annular,
alterar ou suspender as decisões ou ordens destes, e?Cceptua-
dos os casos expressamente declarados nesta Constituição.
Art. 66 - E' defeso aos Estados:
1.0' - Recusar fé aos documentos publicos, de natureza.
legislativa, administrativa, ou judiciaria da União, OI! de
qualquer dos Estados; '"
2.° - RejeÍtar a moeda, ou a emissão bancaria em cir-
culação por acto do Governo Federal;
3. o - Fazer, ou declarar guerra entre si, e usar de re-
presalias;
. 4.° -. Denegar a extradicção de crjminosoil, reclamad'os
pelas justiças de outros Estados, ou do Districto Federal, se-
gundo as leis da União por que esta materia se reger.
Art. 68 - 08 Estados organisar-se-hão de fórma nue
fique assegurada a autonomia dos municipios em tudo quanto
respeite ao seu peculiar interesse.

Decr. n.O 848, de 1890:


Art. 365 - Para os effeitos da presente lei o Districto
Federal é equiparado ao Estado.
APPENSO XVI

. LiçãO 18."

COd1'gO C/vil Brasileiro:


Art. 14 - São pessoas juridicas de direito publico in-
terno:
I. A União.
11. Cada um dos seus Estados e o Districto Federal.
lII. Cada um dos Municipios legalmente constituidos .
.. ~.

Decr. n.O 848, de 1890:


Art. 3. o - Na guarda e applicação da Constituição e
das leis nacionaes a magistratura federal s6 intervirá em es-
pecie e por provocação de parte.

ii- Decr. n.O 737, de 1850:


Art. 21 - Estabelece os casos de jurisdicção voluntaria
e administrativa dos juizes de direito do commel'cio.
Art. 22 - Aos mesmos juizes compete,?, nas Provin-
cias em. que houver .Tribunal do Commercio, e nos termos
que ficarem longe ou f6ra da residencia delle, as attribuições
dos arts. 87, 347 c 463 do Codigo, e todas as diligencias
que os mesmos Tribunaes lhes incumbirem.

Constituição Federal:
Art. 55-0 Poder Judiciario da União terá por orgãos
- 396-

um Supremo Tribunal Federal, com séde na capital da. Re·


publica, e tantos juizes e Tribunaes Federaes distribuidos
pelo paizJ quantos o Congresso crear.

Lei n. O 2.083, de 1809:


Reforma o Thesouro Federal e dá outras providencias .

. '

('

"
, ~. .
,INDICE

-
INDICE

A
Academia de Altos Estudos; liç. La, pago 11.
Acção administrativa; pode ser positiva ou negativa; liç. 1T,
pag.303.
Actos da competencia exclnsiva do Estado (União FederalJ,
liç. 6.a, pago tOO.
Ados de gestão; \iç. 7. a , pago a5.
Actos de imperio; !iç. 7.a, pago 25.
Actos vedados li União Federal; !iç. 6.a, pago 100.
Administração: sciencia da - j Uç. 1.a , pago 20.
Administração: a - e a lei; Iiç. 3.", pàg. 60.
Administração: orgãos da -;- i \iç. 15, pago 272.
Administração: o que pode ser a- j liç. 17, pago 303.
Administração: agentes da - j liç. 15, pago 264.
Administração: seus caracteres i Iiç. 17, pago 30lJ..
Administração: auxiliares da - j liç. 15, pago 265.
Administração e justiça; Iiç. 18, pago a25.
Administração estadual; liç. 17, pago 314.
Administração federal; liç. 17, pago 315.
Administração geral; sua organisa~ão; liç. 17, pago 314.
Administração militar; liç. 17, pags. 305 e 308.
Administração municipal; liç. 17, pago 316.
Administração publica; sua organisação j liç. i5, pago 263.
AUemauha: o direito administrativo na - j lição 14, pago 255.
AlUança dos Estados: vide - Federação.
Aposentadoria; liç. 16, pago 292.
Austria Hungria: o direito administrativo na-; liç. 14, pago 256.

·B
Belgica: o direito administrativo na - j liç. 14, pago !50.
Bens: sua divisão; liç. H, pago 193.
Bens communs administrados pelos Estados; liç. 11, pago 206.
:".
400

Bens da corôa; !iç. it, pags. 193-194.


Bens dominiaes; !iç. 11, pago 194.
Bens patrimoniaes dos Estados; Jiç. 11, pago 200.
Bens patrimoniaes dos municipios; liç. H, pago 200.
Bens patrimoniaes da União (ou do Estado); !iç. 11, pago 199.
Bens publicos: dominio dos - ; liç. 11, pags. 194-195.
Bens vagos; !iç. i 1, pago 205.
Bona·, pecunia e res; liç. 11, pago 199.
Brasil: sua situação; \iç. 3.", pago 61.
Brasil: o - no tempo do Imperio; liç. La, pago 72.

c
Calamidade publica; liç. 8. a, pago 154.
Caridade: o Estado não faz caridade; liç. S.a, pago 15~.
Centralização; liç. 17, pago ;{04-.
Centraltzação administrativa; !iç. 17, pago 319.
Centralização e descentralização: qual dos dous regimens é (}
preferivel; \iç. 14, pago 258.
COdificação do direito administrativo; \iç. 14, pago 260.
Commercio: dever do Estado de proteger 0-; liç. 9.", pago 171.
Competencia: como se define a - ; liç. 18, pago 335.
Constituição do Imperio: seu confronto com a Consto da Repu-
blica; liç. 13, pago 233. .
Constituição Republicana: critica de Jean Cruet a essa Const .•
liç. 13, pago 242.
Cousa: definição de - ; \iç. ti, pago i94..

D
Delegação de poderes; \iç. 2.", pago 4.i,
Demissão ad nutnm; \iç. 16, pago 296.
DescentraUzação administrativa; !iç. 17, pago 319.
Dever de protecção do Estado nos casos de calamidade pu-
blica; !iç. S.", pago i5~.
Dinamarca: O direito administrativo mr-; liç. 14, pago 249.
Direito: como varía 0-; liç. i. a, pags. 15 e 22.
Direito: o - precede á lei; liç. l.n, pago 15.
Direito: o - ante os principios da escola positivista e evolucio-
nista; \iç. 3.", pago 57.
Direito: o - e a força; liç. 3.·, pago 59.
401

Direito: theoria de Hobbes sobre 0-; !iç. 3. a , pago 54


Direito administratiVo: o - como complexo de leis; !iç. a, pago
209.
Direito administrativo: sciencias auxiliares do - ; liç. i'!l, pago
221.
Direito administra t:vo : seu objecto; liç. 12, pago 213.
Direito administrativo: seu estado actual nos paizes cultos; liC.
14, pago 244:.
Direito de propriedade: vide - Domínio; liç. 11, pago 193.
Direito em these; !iç. 1.", pago 15.
Direito-faculdade; liç. ta, pago 15.
Direito privado (auxiliar do Direito administrativo) ; \iç. 12, pago
221.
Direito publico; \iç. '!l.a, pags. 40-4,1.
Direito Publico Positivo (auxiliar do Direito administrativo); \iç.
12, pago 221.
Dominfo: em que consiste 0-; liç. 11, pago 193.
Dominio; como se divide o - (publico e privado; util e directo);
liç. 11, pags. 194 a 197.
Divisão dos poderes do Estado; liç. 2. a , pago 43 e liç. 8.", pago
142.
E

Economia privada; liç. 9. a , pago 168.


Economia publica; !iç. 9. a , pago i68.·
Empregado publico; liç. 16, pago 292.
Emprestimos féderaes; \iç. 7. a , pago 133.
Emprestimos estaduaes; \iç. 7. a, pago 134.
Ensino: reforma do - ; \iç. 3. a , pago 66.
Ensino desofficializado; liç. lO, pago 18t.
Ensino livre; !iç. i. a , pago 12.
Ensino profissional; liç. 10, pago 177~
Equidade; \iç. 12, pago 224.
Erario' publico; !iç. 6. a, pago 100.
Estado; seu fundamento; liç. 2. a • pago 34.
Estado: o - no tempo da dominação romana; \iç. 2. a , pago 36.
Estado: o - e Luiz XIV; liç. 2. a , pago 36.
Estado: verdadeiro conceito do - ; /iç. 2. a , pago 37.
Estado: como Duguit e A. Comte o consideram, pago 38.
Estado: deveres primordiaes extensivos á ordem Pllblica; liç. 2.&,
pag.46.
DlREITO ADMINIIITRATIVO
- 402-

Estado: fins do - ; Iiç. 2. a, pago 46.


Estado: o - e o individuo; liç. 2.", pago 47 e liç. 3. a , pago 54.
Estado: sua missão; liç. 2. a, pago 47.
Estado: organisação do - ; liç. 3.", pago 51.
Estado moderno; Iiç. 3.". pago 56.
Estado: conceito politico do-; liç. 4. a , pago 68.
Estado e União: synonimia desses vocabulos; liç. 4. a, pago 71.
Estado universal; liç. 4.", pago 82.
Estado (h('je União Feuerali; liç. 6.", pago 100.
Estado: dever tributario do-; liç. 6. 8 , pago 102.
Estado: divisão dos poderes do - ; liç. 8.a, pago 142.
Estado: poderes discricionarios do - j liç. 8.a, pago 150.
Estado: funcções do - ; como ellas se dividem j liç. 8.", pago 142.
Estado: poder governamental do - ; liç. 8. a, pago 140.
Estado: deveres do - nos casos de calamidade publica j liç. 8.",
pago 146.
Estado: da acção do - no dominio economico do paiz j liç. 9. a,
pago 159.
Estado:'o - e a instrucção publica; liç. 10, pago 175.
Estado: governo qo - ; liç. 16, pago 280. .
Estados Federaes: suas relações com o poder central da União;
liç. 41, pag 68.
Estados Unidos da Amerlca do Norte: o direito administrativo
nos-; liç.14, pago 257.
Estados: organisação administrativa dos -; liç. 17, pago 312.
Estados: actos de compettncia positiva e competencia ne>gativa
dos - ; liç. 1.7, pago 316 ..
Estatistica (como auxiliar da administração); liç. 12, pago 222.
Ethnographia (como auxiliar da administração); liç. t2,·pag. 222.
Evolução; liç. 10, pago 175.
Evolucionismo: synthese deste systema, app. I, pago 341.

Fazenda Nacional: vide Emrio Publico.


Federação dos Estados: seus corollarios; liç. 4. a, pago 71.
Finanças; liç. 9.", pago 157.
França: o direito administrativo na -; liç. 14, pago 2M.
Funcclonario publico: em que se distingue do empregado pu·
blico; tiç. 16, pago 288.
- 403-

Funccionarios publicos : relações do Estado com os - i liç. 16,


pag.288.
Funcciouarios: suas espécies; !iç. Hi, pago 289.
Fl1ncções expont~neas; !iç. 18, p3g. 334..
Fun::ções jurisdiccionaes; \iç. 8. a, pago H4, e !iç. 18, pago '334.

Hespanha; o direito administrativo na - ; \iç. 14" pago 254.


Hierarchia administrativa; liç. 15, pago 272.
Hobbes j o sensualismo de sua doutrina; Iiç. 3.a., pago 55.
Hollnnda: o direito administrativo na - j !iç. 14, pago 250.
Homem: 0 - 110 conceito de Krause: !iç. 2. 8 , pago 48.

Ignorancia. das leis administrativas; !iç. i2, pago 223.


Imperlalismo; !iç. 17, pago :-\06.
Imposto; liç. a.a, pago 10:!.
Incongruencia do art. 60, letra d da Constituição da Repu-
blica; liç. B.a, pago 106.
Individuo: O - e o Estado; !iç. :t a, pago 50.
Industria: deveres do Estado de proteger a - ; !iç. Çl. a, pago t71.
Ingla.terra: O direito administl"ativo na - ; !iç. 14, pago 246.
Instrucção Publica; !iç. 10, pago ·I75.
Instrucç10 Publica; a --;- e o doutrina Hrekeliano j !iç. 10,
pago '180.
Instrucção Publica: a-na opinião de Troplong; !iç. '10, pago 182.
Instrucção Publica: a - no regimen do Imperio; !iç. 10, pago
182.
Instrucção Publica: a - na Repub!ica; !iç. 10. pago '183.
Instrucção Publica: estudo comparado da-no Brasil com a de
varios paizes da Europa e da America; liç. iO, pago 1~6.
Instrucção Publica: a- na Hepublica Argentina; liç. iO, pago
HJO.
ItaHa: o direito administrativo na - ; liç. 14, pago 256.
Interesse geral; liç. 14, pago 25!J ..
Interesse particular; !iç. 14, pago 259.
Irresponsabilidade do poder legislativo; !iç. 7.", pago 132.
~ 404-

J
Jurisconsulto: sciencia do -; !iç. 5.", pago 88.
Jurisdicção: como se define; Iiç. 18, pago 324.
JUrisdicção administrativa; sua divisão; !iç. 18, pago 329.
Jurisdicção graciosa e contenciosa; !iç. 8 a, pago 14,7.
Jurisdicção contenciosa; !iç. 18, pago 329.
Jurisdicção graciosa; liç. 18, pago 329.
Justiça: dualidade da-; liç. 13, pago 242.

L
Lei - fundamento da ordem social; liç. La, pago 15.
Leis; sua divisão; !iç. 12, pago 217.
Leis no regimen da monarchia; !iç. 12, pago 220.
Leis no regimen republicano; Iiç. 12, pago 2:10.
Leis constitucionaes e administrativas votadas no. Imperio ;
!iç. 13, pago 235.
Leis anachronicas ainda em vigor no Brasil; !iç . .13, pago 240.

M
Monismo: app. I, pago 343.
Montepio; liç. 16, pago 298.
Municipalidades; seus privilegias, !iç. 6.", Pago 109.
Municipalidades norte-americanas; !iç. 17, pago 317.
Municipios; !iç. ri. a, pago 88.

N
Nação: condição de sua existencia; critica ás idéas de Duguit
subre este ponto; liç. 2."~ pago 38.

o
Obrigatoriedade do ensino; liç. 10, pago 182.
Orçamentos: como são feitos no Brasil. Apreciação de várias
doutrinas a semelhante respeito; Iiç. 9 a, pago 168 a 171.
Organisação politica e administrativa dos iistados j !iç. 1.",
pago 26.
- 405 ~

Parlamento inglez; Iiç. 3.&, pago 65.


PAscal: a lei e o direito no seu conceito; liç. LR, pago 22.
Patrimonio: liç. 11, pago 197.
Poder administrativo; liç. 1.", pago 25 a 31 e liç. 2.", pago 45.
Poder governamental e administrativo do Estado; liç. 8. a,
pago i42.
Poder legislativo; vide - irresponsabilidade do - .
Poder legisle.tivo no Brasil; liç. 4. a, pago 79 a 82.
Poderes politlcos do Estado; seu fundamento; liç. 2. a, . pago 3r.,.
Poderes do Estado; sua delegação; liç. 2.", pag.4-1.
Poderes do Estado: sua divisão; \iç. ~ta. pago 43.
Policia Administrativa; liç. 17, pago 303.
Polit!ca: a-julgada pelo Presidente da Republica (Dr. Wenceslau
Braz); liç. 3 a, pago 61.
Politlca e administração: em que se distinguem; liç. 17, pags.
300 e BOI. .
Portugal: o direito administrativo em - ; liç 14, pago 254.
Posse: em que se distingue do dominio; liç. 11, pago 194.
Positivismo; app. I, pago 339. .
Prefeitura Municipal; vide - Municipalidade, seus privilegios.
Prescripção quinquennal; lit;. 6. a , pago 118.
Principios oppostos aos privilegios da União; liç. 6.", pago
109.
Principios utllitarios de Bentham; !iç. 3.", pag 58.
Privilegios da União; liç. 6.", pago 105.

R
Reformas: abuso de -; liç. 1. a, pago 32.
Regimen administrativo francez; !iç. '\.", pago 31.
Regimen economico: critica á opinião de Orlando a este res· .
petto; liç. 9.", pago '159
Regimen financeiro; liç. 9.", pago 160.
Regimen representativo; liç. 13, pago 241.
Representação: theoria da - ; !iç. 7. a, pago 121.
Republica Argentina: direito administrativo na - ; liç. 14, pago
':2õ7.
Republica Argentina: a instrucção publica na - ; liç. iO,. pago
H17.
·- 406 -

Responsabilidade civil do Estado pelos actos de seus pre-


postos; !iç. 7. a, pags. 120 a 126.
Responsabilidade dos juizes; !iç. 7. a , pago 129.
Ricorsi: lheoria dos - ; !iç. 3. a, pago u6.

s
Salus populus suprema lex est: inversão desta maxima; Jlcif1:
2. a , pago 4,7.
Self-administration; Jiç. 17, pag. 321-
Self-gouvernment; liç. 17, pago 3:l1.
Serviço milit6r: obrigatoriedade do-; Jiç. 17, pago 310.
Sciencias auxiliares do direito administrativo; \iç. 12, pago 221.
Sciencia da administração: a - no regimen do Imperio; liç. 13,
pag.233.
Sciencia da administra~ão: a - no regimen republicano; !iç. 13,
pago 237. .
Sciencia da administraç ão (au~i1iar do direito administrativo) ;
!iç. 12, pago 221.
Sciencia da adminil;tração: synthese historica da - desde os
tempos coloniaes até o advento da Repub!ica; !iç. 13, pago
226.
Sciencia da administração: a - no regimen colonial; !iç. 13,
pag. 226.
Syndicatos operarias; !iç. 9. a , pago 174.
Systemas de governo; liç. 16, pago 282.
Soberania nacional: a - no conceito de Duguit; refutação de
sua doutrina; !iç. 9.", pago 38.
Soberania dos Estados; !iç. 4. a , pago 72 ..
Soberania dos Estados na União Norte-Americana; !iç. 4. a,
pag.75.
Soberania dos poderes constitucionaes da União; iIlogismo
da ConstitlJição Brasileira a este respeito; !iç. 5. a , pago n7.
Soccorros publicas; liç. 8. a , pago 150.
Sueda e Noruega: o direito administr ativo na - ; Iiç. !4, pago
~48.
Suissa: o dir3ito administrativo na - ; Iiç. i4, pago 255.

T
Theoria organicista de Spencer : crilica a essa theoria; !iç. 5.2
pago 89.
- 401-

Trabalho: dever dO Estado de proteger 0-; \iç. !l.", pago 171.


Tribunal de Conta~ j !iç. 15, pago 275 e !iç. 18, pago 333.

u
União e Estado: vide E~tado e União.
~!lUlo: o que é a -; \iç. 5.", pago 84.
J;f:lllão: em que elIa se distingue dos Estados, de que se compõe;
!iç. 5,a, pago Dó.
União e Fazenda N acionai ou Federal: constitucionaimente
formam uma só entidade, mas logicamente são entidades
diversas; Iiç 6.", pago 106.
União; seus privilegios; liç. 6. a , pago i07.

v
Vitaliciedade; liç. i6, pago 292.
·:

..

BIBLIOGRAPHIA

DIREITO ADMINIS'rRATIVO

Bibliographia

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Rapo$o Botelho - Historia Universal.
Ribas -lHreito A"dmioistrativo.
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Ubierno e Cascales - Derecho Administrativo.
Veiga Cabral- Direito Ã.dministrativo.
Vico - Sdenza Nuova.
Viveiros de Castro - Direito Administrativo.
CATALOGO DAS EDICÕES
,
',..
\

.LI VltAllJ A CIlIJZ COIJTINHO


- DE

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usRilll. em'. tOCW8 08 leinpos. . ' . . • • .. . ..., ,;',
, . - ,Na ·fi" .4.4. linha 27. onil" . sê ' "., - ' l~!l,i.~la.t;';o. ezeoU:,~i,,:o :,,~ : :'.:., ~:
jurid'fco, - h'la-!le i - ' legislatillO, executivo :e·.judicic"rio. ./
, - 'Na; :DI': .. 4i\~ ..linha 3.". oonh,i-J" uma virgula ~nk" . o su~ta·n.tl ~:õ'- ·. ;;~:
- ' }9.,tado .·e a prepoelcâo - conro. , ... . " ' ..•. ' ' . : .... '.: "'\>
,.-:, Na .pg: 78. 7.' lInka,.onde se lê - , Q àelimembfameíÚó. oú a ·anner·"':<\· . ·
' . xiLo - tela:-'se - o ' ~8me1nbrlloiriút'to Olt' a' annexalfãO : ' : .' ,. . ". ; ; ~; ': ' .l~ ...

;~;sC!'e~a~~~:. .11.2: ;~. li~ha•. O~d; 'se l~ ~' ~Zt~~ri«~~~'·~~~ :~_fieI~~~.' ,~:·.'··;i:,'X~
, .,.:.,. Na : P'g 227 ./ .24!.';;. linh'a; ' ~ , feche-se',' '0 .' par.entheB!S~ :n:( p~lByra ." / '
. -·~· · O~(f4ep1; ., ~· 1"-:" '! ' -.," " i".~ ' ,./ _ "~ '>"':- ', ' I. 'i>'f., ! .
. - ,' Na ' pg . 265 ~' 17.~ - IlQha " o~ se lê (no começ:(j ' do .J periodo,r, " "
li: i.:..!. l~la-&e - ~ E'. ' f '" J, ,l. - .. • : . 1 - ', • I, \ "",'1 !
: ." ~ Na pg274. )2.· · lInh~,. em .vez de -ob'6d-sená!~~" ~ : ·IéIIi:~se : '." ; ;>J;,;~
ob6,"enoia. " ' : ' " -', : ', '.: ~ , :: .: .,,- ..:.. ';., ~,... \: ~. ~.~r~··,~ " ~ (~:~':'\'L;'~1
, . "":'Na, pg '281. tO." ' llnh+ em ~z de ,- 'C'ltrto ' - .e!a~ !!1e .--.:
óilrto': ;' ~','>;;l
, . I ~ ~ Na pg 334. ,lAl." ,ltnhá: lógo"no .começo do 'perlndo. on;d~. 3e 11\ - ,)' "';'-;1
. n~m '\ O1ltr9. "'7' lela-'ro -;- M~ .é onhl! : " . " - . ... .. '. '.; "'V(
'. .li"" / \, ~< \: ,:>:p ~:. J. '! ':,' >:;:, ,:~" '~-"" ~' .' " "- ,~'~':~;~i\(::~\~~i~
o .. ..: ..'a .. o ' l..:.·. .:""bpúd, · peJt:J "Dl. · Le"nHlo1.; · eti'eÜ·tc L~o: ·
pes, 1 volume encadernado . . . 5~OOO
Co digo do Processo Criminal, pelo Dl'. Vict'ute _'\lves
de. Paula Pessoa. annotado e accolllmodado ao
fõro pelo Dl'. PoÍltes de l',liranda, 1 grosso vo,
lume, no prélo .
Co digo Penal da Republica dos Estados Unidos do
Brasil, por Ulll magistrado mineiro, 1 volume en-
cadernado. 5~OOO
CATALOGO 'DAS EDICÕES ~

nA

LIVRARJA CIlUZ COUTINHO


- DE ~

J. lU BEIRO DOS SANTOS: EDI'l'OR

82 - Rua de S. José - 82
. RIO DE JANEIRO -~----_.

1919

Telepbone li," 3429 - Endere~o telegraphico - LIVROS

Aggravos - Theoria e Pratica dos Aggravos, pelo


Dr. Martinho Garcez, t gmsso volume de cerca
de 600 paginas. 1\114, encadernado. • . . . 18j,000
Assessor Forense Commert:;ial, por Teixeira de Frei~
tas, accommodado á nova legislação, por um diR-
tincto advogado, 1 volume encadernado . . . 15~OOO
Assessor Forense Civil, pelo Dr. Nabuco de Araujo,
t grosso volume encadernado. . . ' . • 15$000
Alienados nos Tribunaes, POt' Julio de Mattos, 3 vo-
lumes encadernados. . . . ..... 12~OOO
Appellações e Aggravos, de Gouvêa Pinto, nova edi-
(~ão, accommodada á legislação brasileira, 'I vo-
lume encadernado . • . . . . • • . 10$000
Apontamentos sobte as Formalidades do Processo
Civil, de Antonio Pimenta Bueno, nOVR edição,.
accom modada ao fôro por João de Sá e Albuquer-
que, UlI!, 1 volume encadernado. . . . . 10$>000
Arrazoudos e Estudos de Direito, por :Franklin Do-
ria. 'I ·volume encadernado.. ...•. 8~000
Assignação de Dez Dias, por Almeida Oliveira, edi·
çáo de Hllii, .\ volume encadernado. . .• 8~000
. Casas (Tratado das), por Almeida Lobão, nova edi-
ção, 1915, 1 grosso volume encadernado • . . 10$000
Cambial (A) no Direito Brasileiro, pelo Dl'. Panlo de
Lacerda, ~.a edição, 19'13,1 grosso volume enca-
dernado. . . . . . . • • . .•. 15~OOO
Camaras Municipaes, pelo Dl'. Levindo Ferreira Lo-
pes, 1 volume encadernado • . • . . . .' 5$000
Co digo do Processo Criminal, pelo Dr. Vicente Alves
de Paula Pessoa, annotado e accommodado ao
fôro pelo Dl'. Pontes de l\liranda, 1 grosso vo-
lume, no prélo.
Codigo Penal da Republica dos Estados Unidos do
Brasil, por um magistrado mineiro, 1 volume ~n-
cadernado . 5,si000
2

Codigo Penal e o Jury commeotadosde accôrdo com


as ultimas leis e a moderna Jurisprudencia, sen-
do, portanto, o melhor guia dos Juizes de facto,
pelo Dr. José Julio de Freitas Coutinho, 1 grosso
volume encadernado. 5~000
Codigo Penal Brasileiro - Commentado pf'lo Dr. Gal-
dino Sequeira, obra importante, no prélo. '! vol.
Co digo Civil Brasileiro - Annotado p'elo Dl'. M,~noel
Paulo Merêa, lenle de Legislação Civil Comparada
na Universidade de Coimbra, 1 volume encader-
nado. i~$OOO
Codigo Civil Brasileiro - Acaba de sahir do prélo a
18 s edição do Codigo Civil, precedida de uma
synthese historica e critica, um minucioso indice
alphabetico e remi"sivo e uma cuidadosa revisão
feita e garantida pelo Dr Paulo de Lacerda, de
accôrdo com as ultimas emendas ff'itas pelo Con-
gresso de 1919. Um grosso volume de mais de
500 paginas, f'ncadernat;ão souple. 10$; só a en-
cadernação vale 7JOIJO O valor d'esla obra está
garantido pela venda. Em um anno venderam-se
trinta mil exemplares.
Codigo Civil Brasileiro (Projecto), por Clovis Bevi-
laqua, 8 volumes brochados, 2U.,1; encadernados. 30ll'iOOO
Codigo Commercial Brasileiro- Annotado e compa-
rado com a doutrina nacional e estrang· ira, e já
de aceôl'do com o Codigo Civil, pelo Dr. Bento
Faria, 2 grossos vo!umps com mais de g.OOu pa- "J
ginas, 3 sedição, 19'1.&}. erlcadf'rnad,·s.. . f'0~OOO
Conferencia da Paz em Haya Aclas e Discursos,
, pel,o Consf'Jbeiro Huy Barbosa, 1 volume bro-
chado, 8~OOO e encadernado . . _... :lO~OOO
Contabilidade Puolica do Brasil - Estudos criticos de
direito financeiro. contabilidlldf' e adminislração
publica, por Vi cozo Jardirn, 1917, ohra importante
no assumpto, 1 grosso vulume brochadu, 8~, en-
cadernado. . • . . . •.. . '10&000
Constituição da Republica dos Estados Unidos do
Brasil-Commentada e comparada com as cons-
tituições de outros paizf's e com toda a jurispru-
dencia referente, e um Hi~torico da Constituição,
pf'lo Dr Carlos MaXImiliano, Ministro da Jus-
tiça, 1 grosso volume de cerca de 1.000 paginas
{lUISI, encadernado.. ...,.' 25iBOOO
Consolidação das' L~is da Justiça Federal- Decreto
n.O 3.081J" de 5 de Novemllro de 18!-l8, annotado
pelo Dr. José Tavares Bastos, edição de HH5, 2
p;rossos volumf's encadernados . . . , . 30~OOO
Consolidação das Leis Civis, por Teixeira de Freitas,
annotada pelo Dr. Martinho Garcez, 5. a edição,
i915, 1 grosso volume de cerca de 1.300 paginas,
encadernado • 30~OOC
Compendio de Theoria e Pratica do Processo Civil
Comparado com o Commercial e dp herme/leu-
tica juridica accommodada ao fô['o, pelo Dr. Vi-
cente Ferrer, 1 volume encadernado. . . • • i5$OO()
Criminalidade da Infancia e da Adolescencla, por
Evaristo de Moraes, 1 voLume brochado . . . 5~OOO
Crimes Federaes « da Alçada do Juiz Sin~ular e sua
Lei Processual D, estudo critico seguido de um
appendice onele vem 0 - iolercamblo das Senten-
ças Peuaes, pplo UI'. José Tavares Bastos, 1915,.
1 volume encadernado.. .. 7~OOO
Compendio de Dlreit,. Militar, pplo Dl'. Espirito San-
to, 2 ~rossos volumps encadernados •.. 15$()00
Contrabando e seu pj'ocesso, por A P. de Araujo ü~
Corrêa i volume brochado, ~WOll, encadernado. 4~000
Criminosos Astutos e A'ortunado3, estudo de psy-
chiatria criminal e Bocial. de Lino Ferriani, tra-
ducção de Henrique de Carvalho, t915, i volume
encadernado . ." •...
Conaolidação das Leis, Decretos e Aclos Officiaes re-
lalivos ao Mpio S"ldu do Exercito e da Armada,
dOR Montepios Civil e Militar e de outras insti-
tuições destinaoa,.; a amparar as familiaR dos se\'-
ventuarios da. Repu bl ica Brasilei ra, orga.[lizado
por SH lalhwl di' Paiva, 1 grosso volume brocha-
do, D~OOO: encadernado. • . • •.. 8~OOO
Consolidaç~o das LE:iS do Processo Civil, 3 a edição,
1915: commentada pelo Conl"elheiro Ribas, com a
..collaboração de spu filho Dl'. Julio Ribas, 2 gros-
'Sos volnmes, encadernados emjJlm . . , . 25&000
Consolidação (N "va) das Leis Civis, pelo Dl'. Carlos
de Carvalho, I grosso volume encadernado 30$00
Crimiaologia, estudo sob['e o delicto e a r<,paração
ppnal. por R Garofalo, trao ucção portugueza de
Julio de Mattos, I volume encadernad(l'. . t.0~00
Casamellto CiVIl fLe. do , - DE'crf>to uumero 181. de '!4
de Janeiro de IRIJO, commelltado pelo Dr. João ele
SI e Albn.querque, conLendo um eomplpto formu-
lario em appendice. 1 vol encadernado, l!115 . 4~OOO
Crime e repressão. psychologia criminal para medi-
'cos e .iurisconsultos, de Aschafl"enbllrg, tr'adu-
cção portu~ueza. 1 volume encadernado . . 8&000
CoUectaneas juridh'''s; J urisprudeucia, Doutrina e
Decisões Administrativas. por Anlonio Augusto
Velloso, ~ vulumes encadernados • ., 25,'1000
Casamento Civil (Co) - (PrOef'8S0 de habilitação, cele-
. bração e prova.\cl,;ões de nnllidade e annullação.
Desquite) Fo\'mulario e annotação pratica do
«Codigo Civil· Bra",ildro'J. Obra ulili"sima, não
só para as partes, como para OR juizes, officiaes
de registro, advogadol!l, etc., se~uido do Det;reto
ll.O 1':&.3i3, de il de Janeiro de 1917, referente ao
Registro Civil, por J. Ribeiro, 1 volume cart. 5&000
Materias contidas n'esle importante livro: commenta-
rios aos arts. 180 a ~ll8 do Codigo Civil; processo
e formulario da habilitação para o casamento;
formulario do casamento; acções de nullidat1e e
annullação do casamento; desquite (commenta-
rios aos arts. 315 a 329) e formulario da acção de
desquite e desquite amigavel: appendice com o
Decreto n.O i~.343 de 3 de Janeiro de 1917 .
.Contractos (Dos)- De accôrdo com o Codigo Civil, por
J. Ribeiro, 2 volumes cart. . . . . . . • 10'000
Indiee das materias do 1.0 vol. - I. Generalidades-
lI. Oa compra e venda - a) Da retrovenda; b)
Da venda a contento; c) Da perempção ou prefe-
rencia; d) Do pacto de melhor comprador; e) Do
pacto commissorio (com os respectivos formula·
rios) - lII. Da troca - IV. Da locação - I. a)
De co usas ; b) Da locação de predios - lI. Da
locação de servÍI;os (com os respectivos formula-
rios - Da empreitada (com o respectivo formula-
rio) - Revalidação do se11o. lndice das materias
do 2.° voJ.- L Do commodato - lI. Do mutuo-
IH. Do deposito. Secção I (Do deposito vo·
luntario).Secção II (Do deposito necessario) -
IV. Da edição - V. Da representação dramati-
ca - VI. Da Sociedade - VII. Da parceria ru-
ral. Secção 1. Da parceria agricola - Secção
11. Da parceria pecuaria - VIII. Dll fiança. Se-
cção I. Disposições geraes - Secção lI. Dos ef-
feitos da fiança - Secção IH. Da extincção da
fiança - IX.. Revalidação do sello. As indica-
ções sobre o se110 federal e os respectivos formu-
larios de escripturas publicas e instrumentos
particulares acompanham, por commodidade de
consulta, as varias especies de contractos.
Direito de Familll, pelo illustre jurista Dr. Pontes
de Miranda. Exposição technica e systematica
do Codigo' Civil Brasileiro, 1 voi. encadernado. 1.8'000
Direito de Retenção, pelo Dr. Carneiro Pacheco, 1 vo-
lume encadernado . . . . '. • . . . . lO~OOO
Direito Romano (Elementos de), por F. M<lckeldey,
traduzido, annotado e comparado, pelo Dr. Ben-
to de Faria, 1 volume encadernado. . . . . 15~000
Direito das successões, pelo Dr. Lacerda de Almeid'a,
1 grosso volume encadernado . . ..• '!lB~OOO
DivisA0, Demarcação e Tapumes, de accôrdo com o
Codigo Civil Brasileiro, contendo a Lei de Tor-
rens e o novo Regulamento para o registro Tor·
rens no E. do Rio de Janeiro, ainda em vigor e
de difficil acquisição, com um extenso Formulario,
1.918, pelo Dr. João Gonçalves do Couto, 1 volu-
me cartonado. . . . . . . . • . . 5$000
Direito Penal Militar Brasileiro, pelo Dr. Luiz Car-
penter, 1914, i volume encadernado. • . • . 5'000
Decreto n.o 2.110 (Peculato e Notas Falsas), de l'O
de SE'tembro de Hl09, com o calculo das penas,
por um dos mais illustres magistrados da Justi-
ça Federal, 1 volume encadernado. . . • . 3~OOO
Direito das Cousas, pelo Dr. Lacerda de Almeida, edi-
ção de 1910,2 volumes encadernados. . • . 40~OOO
Diccionarlo Jut'idico, de Pereira e Souza, posto ao
corrente da sciencia juridica moderna, pelo
Dr. Pontes de Miranda. Esta obra monumental,
que é um trabalho de grande utilidade doutrina-
ria e pratica, sabirá em fasciculos de 19!.8 paginas,
nas, a 5~000 A obra toda, em 3 grossos volumes,
de mais de 1.0no paginas cada um. . . . . 100~00
Diccionario da Legislação Commercial Brasileira,
por A. de Souza Pinto, 2 grossos volumes enca·
dernados. • . . . . . • : • . • . 25~000
Direito das Cousas, pelo Dr. Martinho Garcez; edição
de 1915, 1 grosso volume de mais de 800 pagi-
nas. encadernado • . . . • • • • . 25i!{)OO
Direito Publico Constitucional, pelo dr. Augusto
OIympio Viveiros de Castro, edição de 1914, 1
grosso volume encadernado. . • • • . . 18$000
Direito Administrativo, pelo Dr. Augusto Olympio
Viveiros de Castro, S.a edição de :1.914, 1 grosso
volume encadernado . • • . . • . • . iPJlOOO
Direito da FamiUa, pelo Dr. Martinbo Garcez, edição
de 1914, i grosso volume encadernado. • . . 23$000
Divisão, DemarcaQão e Tapumes, pelo Dr. Levindo
Ferreira Lopes, S.a edição, 1915, 1 grosso volume
encadernado.. . .' _ . • . . • . • . 10'000
Diccionario da Liugna Portugueza, por Candido de
Figueiredo, 2.a edição, contendo as duas ortbo-
graphias, a classica e a phonetica, 2 grossos volu-
mes encadernados . . • • . . . . . . 50&000
Direito Internacional, de loão Cabral, t volume en-
cadernado. . . . • . . . • . 10~OOO
Digesto Portuguez, pelo Dr. Corrêa Telles, 2 volumes
encadernados, nova edição • . . • _ • . 12~000
Dlr~.to Civil (Curso), pelo Conselheiro Dr. Antonio
Joaquim Ribas, nova edição, 1915, 1 f!;rosso vo-
lume encadernado . . • • . . . • _ • 25~OOO
Direito Civil, por Coelho da Rocha, 2 grossos volu-
m~s encadernados. • . • . • • . . . 10&000
Direito Commercial. de Cesar Vivanti, traduzido pelo
Dr. J. Alves de Sá, :I. grosso volume encader-
nado • . . • . . . • . . . _ . 8$000
Divorcio - Tratado theorico e pratico do Divorcio, pe-
lo Dr. Almachio Diniz, commentando a lei do
divorcio, com a doutrina nacidnal e estrangeira
e com a jurisprudencia nacional dos casos jul-
gados sobre oassumpto, com um excellente foro'
mulario e Um appendice, 1 grosso volume enca-
dernado . . 10&()()O
Direito Civil Brasileiro - 'l'heoria Geral do Direito
Civil, de accôrdo com o projecto do Codigo Civil
Brasileiro. pelo Dr. Martinho Garcez, 1 grosso
volume, 1914, encadf'rnado ., •.. 23&000
Direito Penal Militar, pelo Dr. Chrysolito Chaves de
Gusmão. Estudo completo sobre o direito mili-
tar. Livro indispensavel aos Advogados e Milita-
tares e especialmente aos alu.mnos da cadeira
de dir'eito penal militar, este livro é um dos mais
completos, pois, além de estar de accôrdo com o
programma das Escolas de Direito, satisfaz pie·
namente ás exigencias dos Mestres, 1 grosso vo-
lume encadernado . . .... .. 15")()()
Direito Constitucional, pelo Dr. Alfredo Varella, 1 vo-
lume encadernado . • ......• 8;1000
Direito Criminal. de R. Garraud, traducção portugue-
za, 2 grossos volumes, encadernados em um, edi-
ção de i~15 . . . • . . . . . . . . 15'000·
Direito Romano (Estudos de), pelo Desembargador
Affonso Claudio,'\ grosso volume de 460 paginas. 15"000
Direito das Acções, de Corrêa TelJes, com annotações
do Dr. Pontes de" Miranda de accôl'do com o Co-
digo Civil Brasileiro, 1918, obra imp'H'tantissi-
ma, 1 grosso volume, encadernado . .'. • 15'000
Divina Comedie, de Dante Aligbieri, traducção de Jo-
sé Xavier Pinheiro, ~ a edit,;ão, cuidadosamente
revista, accrescirla' de 'j5 estampas de Gustavo.
Doré, enriquecida com um autographo do tradu-
ctor e acompanhada de um completo Rimario or-
ganizado pelo filho do traductor, J A.. Xavier Pi-
nheiro, 2 grandes volumes ricamente impressos
e com capa artistica, com o retrato de Dante es-
tampado • . • • . . • • • . . • • 20~OOO
A mesma obra, enc. de luxo, com folhas dou-
radas, propria para presente, obra de muito luxo. 60JOOO

Formularios Jacintho Ribeiro dos Santos, de accordo


com o Co digo Civil Brasileiro
N. I. do Casamento Civil, por J. Ribeiro, t volume car-
tonado. . • . • . • • • . . . . • 5~OOO
N. 11. Das Procurações, por J. Ribeiro, 1 volume car-
tonado. • . . . • . . . • • • • . 5~OO
Ns. III e IV. Dos Contractos, por J. Ribeiro, 2 volu-
mes cal'tonados. • • • . • . • • • . 10.1000
N. V. Testamentos e Successões, pelo Dr . .M.arlinho
Garcez, 1 volume cartonado. . . • . " ~OOO
N. VI. Inventario e Partilhas, pelo Dr. Levindo Fer-
reira Lopes, a.a edição, t volume cartonado.. 5&6000
N. VII. Da Posse e das Acções Possessorlas, por J.
Ribeiro, I volume cartonado ' . ' • • • . 5&6000
N. VIII. Das Hypothecas e Acções Hypothecarias,
pelo DI'. Mal'linho Garcez, 1 volume cartonado • 5íOOO
N. IX. I>as Fallencias, pelo Dr. Sá Albuquerque, 4. a
edição, 1 volume cartonado . • . . . . . 5~OOO
N. X. Promptuario da Legi·slação Eleitoral, pelo Dr.
Edgar CosIa. 1. volume cartona do. . . . .
N. XI. Divisão, Demarcação e Tapumes, contendo
5tOOO .
em appendice a lei Torrens, pelo Dr. João Gon-
çalves do Couto, 1 volume cartonado. • . . 5~OO
N. XII Do P~'nhor e da Antichnse. Penhor conven·
cional. Penhor lf'gal. Prnhor Hgricola. Caução
de titulos de cff'dito. Penhor mercantil. Anti-
chrf'se.· Commenttlrio, formulario e acçõE."s, por
J. Ribpil'O. 1 volume cartouado. . • . • . 5$000
N. XIII. Dt's Sociedades Anonymas. Commentario
dos tpxtos legues. i IlcllL ive o artigo 1.364 do Co-
digo Civil e fl}rmulario extrfUo, por J. Ribeiro,
1 volume cartonado. . • ..... . 5$000
N. XIV. Dos Seguros Terrestres e M"ritimos. Com~
mentario ao Codigo Civil e do Codigo Commer-
cial, com extenso f'_'rmll'ario, por J. Ribeiro, 1
volume carlonado • . . . . . • . • . 58000
:tol'. XV. Dos Libellos (de Caminha), com annotações
relativas ao Direito Civil actual. Obra preciosa
e utilissima, por J. Ribeiro, I volume cartonado. 5$000
N. XVI. Constituição Federal, annotada, por J. Ri-
beiro. 1 volume cartonado . . . . . • . 5~OOO
N. XVII. Processo e Formulario Policial, pelo Dr.
Armando Vidal Leite Ribeiro, i vulume carto-
nado . . . . . . . . . . . • . . 5~OOO
Di'9'orcio - Theoria e pratica do divorcio, pelo dI'. AI-
machio Diniz, 1916, 1 grosso volume encader-
'nado • . . . . •.....•. lQ~OOO
Direito Penal- Sciencia Penal em direito positivo,
de Adolpho Prins, traducção portllgueza, 1 gros-
so vol., Hl15, encadernado . . . . . . . 10$000
Dos Privilegios creditorios, pelo Dl'. Carneiro Pache-
co, i grosso volume encadernado. . . . . 10$000
Estatutos dos Funccionarios PUblicos, com um pre-
facio do Dl'. Gui.marães Natal, um volume bro-
chado, 7"000; encad!'l'nado.. . . . . . • 10$000
Execuções, pór Almeida Oliveira, 1 grosso volume,
1915, encadernado. . . . . • . • • . -IO~OOO
Fallencias - Lei u.o 2. O~4, de 17 de Dezembro de H108,
pelo Dl'. Sá e Albuquerque, 4." edição, HH8, 1
volume eUN\dernado . . • . • . . . . 5$000
Familia e Divorcio, pelo Dl'. Sampai.o e Mello, t volu-
me encadernado. . . . . . • • . . . 81000
Fallencias - Lei 11. 0 2.024 de "17 de Dezembro de HJ08,
pelo Dr. Bento de Faria, 5." edição, 1913, 1. gros-
so volume encadernado • . • . . . . . 151)000
Fianças ás Custas, pelo Dl'. Almeida Nogueira (lente
em São Paulo), 1 volume cartonado . ' . • . 5ol1000
F01'malidades do Processo Civil, pl'lo Dl'. Pimenta
Bueno, nOVfl edição. accommodada ao [ôro pelo
Dr, J"ão de Sá e Albuquerque, edir;iio de lHl1,
1 volume encadernado... . 1(j~()OO
Hypot]'ecas e Acções Hjpothecarias, pelo Ur. l\lar-
tinho Gal'cez,1 volume cartonado .' . . . . 5~OOO
• Materias contidas neste livro: Secção I. Da jurisdicção
da hypoLheca. Do objeclo da hypoLheca. Da com-
prehensão da hypotheca. Da segunda hypotheca
sobre o immovel hypothecado Do direito de
credor da l!egllnda hypotheca. Da remissão da
hypotheca anterior. Da remissão pelo adquirente
do immo\'el. Dos que podem licitar. Da proroga-
ção da hypotheca. Do valor dos immo\'eis hypo-
thecados. Do reforço da hypotheca legal. Da
substituição da hypotheca legaL Do direito de
credor hypothecario no caso de insolvencia ou
fallencia do devedor. Da nullidade das hypothe-
cas conLrabidas nos quar('nta dias precedentes
á declaração da fallencia. Da hypolhecajudicial.
Da hypotheca de llavios. Da acção de credor hy-
pOlhecario.
Secção 11. - Das pessoas a quem a lei confere hypo-
theca legal. Da validade das hypothecas legaes.
Da cessão ou renuncia da hypotheca legal da
mulher casada. Quando se deve considerar cons-
t.Unida a hypotheca legal da mulher casada. Da
bypotheca da mulhereslrangeira sobre immoveis
sitos no Brasil. Da hypotheca legal dos menores
e inLerdictos. Contra quem é conferida a hypo-.
theca legal dos menores e interdictos. Das ohri-
gações garantidas por hypotheca legal dos me-
nores e j"terdictos. Das obrigações garantidas
por hypotheca legal dos monores e inlerdictos.
Da hypotheca legal dos menorf:'S e interdictos
estrangeiros. Da hypotheca dos filhos menores
sobre os immoveis do pae administrado!' dos
bens adventícios. Da hypotheca legal das igre-
jas, mosteiros, misericordias e corpOraç(leS de
mão-morta. Da hypotheca legal da Fazenda
Publica, dos Estados e das Municipalidades.
Da bypotheca legal do Estado, do cffeodido
e a dos seus herdeiros sobre os immoveis
do criminoso. Da hypotheca legal do co·
herdeiro pela torna ou reposição. Da satisfâção
do offendido quando não bastarem os bens do
criminoso. Do prazo da inscripção e da. especia·
lisação da hypotheca.
Secção I1I. - Da inscripção bypothecaria: actos pre-
paratorios, ordem e duvida sobre a legalidade
da inscripção, inscripção de duas hypothecas
no me8mo dia, quem póde requerer a inscripção.
a quem incumbe requerer a inscripção da hypo·
9

theca legal da mulher casada e dos incapazes.


hypothecas de bens de responsaveis, responsa-
bilidade dos incumbidos de inscripção e especia-
lização, meio de invalidar a hypotheca, etc.
Secção IV. - Da extincção da hypotheca: especies
de extincção. Quando começa a ter effeito. Can-
- cellamento da in~cripção.
Secção V. - Da hypotheca em vias ft>rreas.
Secção VI. - Do Registro de Immoveis.
Das Acçôes e Execuções hypotbecarias; evolução da
acção hypolhecaria; rito: fórma executiva; em-
bargos do executado; embargos do Credor.
Formularios de Exectllivos hypotltecarios.
Historia e Pratica do Habeas-corpus. tralado theori-
co e pratico sobre Ghabpus-corpus», pelo Dr, Pon-
tes de Miranda, contendo toda a historia, a theo-
ria e a pratica do «habeas-corpus» na Inglaterra,
nos Estados Unidos e no BrasiL Obra unica no
Brasil. L grosso v()lume encadernado. . 10$000
Inventarios e Pat'ti1has - De accôrdo com o Codigo
Civil, 3" edição, pelo llr. Levindo Ferreira Lo-
pes, 1 volume cartonado , . ,5~OOO
Indice das materias contidas neste livro: Abertura de
testamento - Acçfío de petição de herança--'
Adjudicação-AppelIação- Aprovação de testa-
mento - Arrolamento - Ausentes - Autuação
-Auto de partilha-Avaliação-Avaliadores
- Beneficio de inventario -- Bens alheios - Bens
indivisiveis - Cabeça de casal- Citação - Col-
lação - Compromisso - Concurso de credores-
Contador - CUl'ador - Custas _. Declaração do
inventariante - Deliberação da partilha - De-
marcação - Descripção de bens - Direito e
acções - Direito e deveres do cabeça do casal-
Dividas passivas - Embargos - Emenda da par-
tilha - Encerramento do inventario - Esboço de
partilha - Escrivão - Escusas - Execução - Fé-
rias - Formula de partilha - Fôro competente
- Guias - Hasta publica - HomologaçflO de par-
tilha - Herdeiros - Impugnação - Imposto de
transmissão - Causa mortis - Imposto territo-
rial - Incapazes - Inscripção de hypotheca-
Inscripção de testamento - Inventariantes - In-
ventario Judicial - Juizo competente - Julga-
mento da partilha-Juramento -Juras-Lega-
taria - Liquidação-Lou vação - Menores-Adul-
tos - Partilha - Partilha amigavel- Prazos-
Precatorios - Processo de reclamação - Procu-
ração - Procuradores - Promotor da J ustiGa -
Prorogação do prazo- Questões de alta indaga-
ção - Recursos _. Registro - Remissão - Repo-
sição - Representantes da Fazenda - Revalida-
ção- Sel}o-Sentença - Sequestro-Sob partilha
- SOlwgadas - Successão - Suspeição - 'l'axa
de herança - Terras (partilha) - 'l'estamento -
'ritulo de herdeiro - Titulos de propriedade-
Titulo de divida publica- 'rutela - Valor da he-
rança.
Inventarios, Partilhas e Contas, por Menezes, anno-
ta do pelo Dr. Tavares Baslos, 7." edição, 19'14, 1
gl'OSSO volume de 600 paginas, encadernado. . 15$000
Injurias e Difiamações (Das), de .I. P. Frola, traduzi-
do pelo Dr. Sonza Costa, edição de 1!)15, ~ volu-
mes encadernados. . . . . . . . . . 12/1000
Legislação Comparada, pelo Conselhp.iro Candido Ma-
ria de Oliveira, t grosso \olume ey&adernado • 20/1000
Lei e Regulamentá Cio Imposto de Con§'ftlllo, allnota-
do e augmelltado de urna sinopse alphabetica,
pelo Dr. Carlos Barreto, ultima lei de HJlÜ, en-
cadernado .' .....•....• 5~OOO
Lei e Regulamento do Sello, annotada com decisõp.s,
ordens do Tbesouro Nacional e leis aue os têm
alterado até esta data, contendo a lei' das factu-
ras commerciaes: do mesmo auctor Dr. Carlos
Olym pio Barreto,' edição de 19H1, encadernado. 5~OOO
Logica das Provas, em materia Criminal, por Nico-
lao Fl'amarioo dei Malatesta, com o prefacio do
professor Emilio Brusa, traducção de J. AI ves de
Sá, 1911, ~ grossos volumes encadernados em 1. 12~000
Loglca Judiciaria (A) e a Arte de Julgar, de M. P. Fa-
bre,guettes, traduzido pelo Dr. Henrique P. de
Carvalho, 1 grosso volume encadernado . . •
Primeiro suplemento do Manual de Jurisprudencia,de
1914 e 1915, 1 volume encadernado, 12~000.
Libellos de Caminha (Dos), com allnotações relativas
ao Direito Civil actual. Obra preciosa e utilissi-
ma, por J. Ribeiro, 1 \'olume cartonado . . • 5~000
Loucura (A), por Julio de Mattos, estudo de clinica e
medicina legal, 2. 3 edição, revista e ampliada,
1913,1 volume encadernado. • . • . . • 6-'000
Letras de Cambio e Notas Promissorias, de accôrdo
com o Decreto n." 20H, de 21 de dezembro de
1908, pelo Dl'. Sá e Albuquerque, com os mode-
los das notas, 1 volume . . . . . . . . 1$000
Marcas de Fabrica e de Commercio e Nome Commer-
cial, pelo Dr. Bento de Faria, 1 grosso volume
encadernado. . . . . . . . . . . • 15,«000
Manual do Edificante, de Antonio Ribeiro de Moura
- Direitos do propriE'tario e do inquilino, acom-
modado ao fôro actual contendo a lei sobre des-
apropriação por utilidade publica. pelo Dl'. Sá
e Albuquerque, edição de 1915, 1 grosso volume
encadernado. . _ . ...•... 15l!OOO
Manual de ]urisprudencia Federal, pelo Dl'. Oc'tavio
Kelly, Juiz Federal do E. do Rio, edição de 1914,
1 grosso volume encadernado 13~OOO
Manual do Codigo Civil Brasileiro, ou :lO volumes de
Cf1rca de 500 paginas cada um. contencio o Com-
mentario completo do Codigo Civil Brasilpiro es-
cripto por 'J!.(') jurisconsultos, cada um deites es-
crpvendo 1 volume, segundo os plallos e coorde-
nação de Paulo de Lacerda. Assignatura por ca-
da 20 cadernetas.. .....•.•. 30&00,,"
Já se acham publicados os volumes XIX - Successão
Tpstamenlaria-arls. UH6 a 1..709, de Ferreira
Alves, 1 grosso volume de cerca de 500 paginas,
encadernado. . . . . _ • . • . . . 25~000
Volume XIV·- Direito das obrigações, parte relativa.á
Sociedade j Parceria Rural (agricultura e pecua-
ria) e Constituição da Rpnda. arts. ·1.3tí3 a L4ill,
pelo Dr. Clovis Bevilaqua, 1 grosso volume de
cprca de 500 paginas, encadernado. . . • •
Volume V - Direito de Familia. do Casamento - Arti-
gos 180 a al4j a cargo do Consplheiro Candido de
Oliveira, 1 grosso volume de cerca de boo pagi-
nas. . . . •........• 30$000
Volume XVIII - Direito das Successões - Das Suc-
cessões em geral-Artigos. 1.5'?'! a 1~025; a
cargo do Desembargador Hermenegildo de Bar-
ros, ·1 grosso 'volume com cerca de 700 paginas,
encadprnado. . . • . . . . . . . • 30~OOO
Volume 1-- Introducção. ArtiJl;os i a 7; pelo Dr. Paulo
de Lacerda, i grosso volume encadernado • . 30$000
Volump VII- Direito das Co usas (Da Posse). Artigos
lJ,85 a 523; pelo Dr. Astalpho de Rezende, i grosso
volume encadernado . . • • . . . • . 30$000
Volume IV -- Da Prescripção, pelo Dr. Luiz Frederico
S. Carpenter, 1 grosso volume encadernado. • ~~OOO

Medicina Legal, para uso dos estudantes, advoJl;ados,


autoridades f1 juristas, illustrado com 175 gra-
vuras, pelo Dr. B. Xavier de Barros, medico Le-
gista da Policia em São Paulo, 3.a edição revista
e augmentada, 1 grosso volume de 80i, paginas
encadernado. . . • _ . . • • • . • 10&000
Medicos e Magistrados, pelo Dr. Henrique Barreto
Praguer, Juiz de Direito no Estado da Bahia,
1 volume de 236 paginas, brochado, 4$000 j en-
cadernado. . . . _ . 5~OOO
Nova Escola Penal, pelo Dr. Viveiros de Castro, 'll.a
edição, '1913, 1 grosso volume encadernado. • 8$000
Nova Consolidação das Alfandegas, additado pelo
Dr. João de Sá e Albuquerque, 1 grosso volume
brochado, 7~000; encademado • 10$000
Nova Luz Sobre o Passado, 1 volume • 10"000
Novissima t.ei das Fallencias, pelo Dr. Bento de Fa-
ria., Decreto n.O 2.02lJ" de 17 de Dezembro de 1908
· 12
@;)cr--~

- 5. a edição de '1913, annotada e comparada com


a ~outri na e .iurisprudencia nacional e estran-
geua, '\ grosso volume encadernado " 15$000
Novissima Lei de FaUencias, Decreto numero ~:024,
annotado pelo Dr. João de Sá e Albuquerque,
contendo toda a lei annotada e um completo for-
mulario, 4." edição, consideravelmente augmen-
tada, cOl1tendo os accordans e julgados, 1 grosso
volume cartonado . . . . . • • . • . E,$OOO
Nullidades dos Actos jurídicos (obra premiada), 2."'
edição, pelo Dr. Martinho Garcez, '! grossos vo-
lumes encadernados 30$000
Obrigações, pelo Dr. Lacerda de Almeida, 2.a edição,
:1916, correcta e muito augmentada, 1 grosso vo-
lume encadernado. . . . . • • . . . ~3~OOO

Propriedade Litterarfa, A Convenção Litteraria com


a França de accôrdo com o projecto do Codigo
Civil, pelo Dr. Armando Vida I, :I. volume de 200
paginas, brochado, 5$000; encadernado 10.3000
Processo Criminal (Curso de), por Galdino Siqueira,
2." edição, revista e augrr:entada, 1 grosso volu-
me, 19:1.7, encadernado. . • . • . • . • 9!5~OOO
-LO Supplemento contendo os accordans do Supremo
Tribunal de :1.914. a i915, 1 volume encadernado 18/1)00
Processo Criminal Brazileiro (Apontamentos), pelo
Dl'. José Pimenta Bueno, 4. a edição annotada pelo
Dr. Vicente Ferrer de Barros Wanderley Araujo,
1910, 1 grosso volume de 636 paginas, encader-
denado. . , . . • . . . . . . • • 15100(}
Peculato e notas falsas, Decreto n. o 2: 110, de 30 de
Setembro de '1909, por um dos mais illustres ma-
gistrados da .Justiça I"ederal, 1 volunie cartonado 3~OO
Parecer sobre o Co digo Civil Brasileiro, pelo Conse-
lheiro Ruy Ba\.bosa, 1 volume brochado, 6$000 ;
encadernado. • 9~OOO
Praxe Forense, de Moraes Carvalho, annotada e acco-
, modada ao fôro pelo Dr. Levindo Ferreira Lopes,
edição de 1\nO, 1 grosso volume encadernado. 10"000
Privilegios Creditorios, pelo Dr. Carneiro Pacheco,
lente da Faculdade de Direito de Coimbra, 2. a
edição, 1914, 1 volume encadernado. 10'000
Penhor (Do) e da Antichrese - Penhor convencional.
, Penhor lega1. Penhor agricola. Caução de titulos
de crl:'dito. Penhor mercantil. Antichrese. Com-
mentario, formulario e acções, por .1. Ribeiro, 1
volume, cartonado . 561000
Posse (Da) e das Acções Possessorias, por J. Ribeiro,
:I. volume, carlonado. 51000
Procurações (Das)-Formulario complelo eannolação
pratica do Co digo Civil Brasileiro, obra indis-
pensavel aos advogados, particulares, tabelliães,
etc." por J. Ribeiro, i volume cartonado . . . 5~OOO
Materia contida neste livro: noções preliminares; espe-
cies de mandato, etc.; procurações em notas do
tabellião; procuração «apud acta~; procurac:ão
com caução «de ratio*; procuração por instrumen-
to particular do proprio punho; procuração por
telegramma; procurac:flO original por certidão e
em publica forma: pessoas que podem fazer pro-
curação por instrume'nto particular, escripto por
mão alheia e por ellas sómente assignado ; pode-
res das procurações (especificadamente); substa-
belecimento das procurações, sello que pagam as
procurações e substabelecimento; quem póde ser
procurador; falso illeR'timo e não bastante pro-
curador ; procurações passadas no extrangeiro ;
procurações em causa propria ; commentario aos
artigos do Codigo Civil (mandato) ; n formulas
de procurações e substabelecimentos; formulario
da revogação das procurações, e revalidação do
seUo.
Prescripçiio (A) em Direito Commercial e Civil, de
Almeida Oliveira, 1 volume encadernado . toJ;OOO
Primeiras Linhas sobre o Processo Orphanologico,
de Pereira de Canalho, annotado e acommodado
ao fôro pelo Dl'. Levindo Ferreira Lopes, :I. gros-
so volume encadernado. 15~OOO
Processo COJIl.mercial e Civil- Decreto n.O 737, de
Novembro de {&in, consideravelmente annot.ado,
seguido de um appendice pelo Dl'. Bento de Fa-
ria, edição de 1914., :I. grosso volume encadernado 1~OOO
Promptuario Municipal, pelo Dl'. Levindo Ferreira
Lopes, 1 volume . 4~OOO
Psychologia Judlciaria, de Umberto Fiore, traduzida
pelo Dl'. Henrique de Carvalho, 1915, 1 grosso
volume encadernado. . 4~OOO
Questões de Direito Penal, pelo Dl'. Viveiros de Cas-
tro, 1 volume encadernado. 12$000
Regimen Penitenciario, por Paulo Domingues Vianna,
segundo as prelecções do saudoso DI'. Lima Dru-
mond, com um prefacio do Sr. Conde de Affonso
Celso, 1914, 1 volume encadernado. . • . . '10$000
Regulamento da Nova Lei de FaUencia~. Decreto n.O
4:855, de g] de Julho de 1908, annotado pelo Dr.
Bento de Faria, t volu me encadernado. ' , ' . 7JlOOO .
Promptuario da Legislação em Portugal - Lei n.O
3:1;;0, de g] de Agosto del9lfl; Decreto n.O 'I:!!: Ifl3,
de 6 de Setembro de 1911;; Lei n.O 3:i08, de '27 de
Dezembro de 1916, e Decreto n"12:3\l1. de 7 de
Fevereiro de 1917, com um formulario completo
para o alistamento e processo eleitoral. por Edgar
Costa, Juiz da 7.a Pretoria Criminal do Districto
Federal. Em appenso: (Decreto numero 3:4:24, de
19 de Dezembro de 1917, e Lei n. 3:4M, de 6 de
Janeiro de HH8), 1 volume carlonado. . . • 5~OOO
Repertorio de Juriprudencia Criminal, ou o Codigo
Penal interpretado pela .Jurisprudencia dos tri-
bunaes, pelo Dr. Edgar Costa, 1 volume . uaWOO
RepertorfoJuridlco, importante trabalho do Dr. João.
de Sá e Albuquerque, contendo toda a legislação
em vigor e em ord"m alphabetica, 1 volume en-
cadernado.
Revisão dos Processos Penae9, pelo Dr, João Vieira
de Araujo, 1 grosso volume encadernado. :1.5$000
Repertorio da Legislação de Fazenda - Cqn tendo to-
das as leis. deCl'etos e avisos·collecionados em
ordem alphabetica até 1\J1 !i. pelo Dr, Carlos
Olympio Barreto (Funcionario de Fazenda), 2
'grossos volumes brochadQs, 30~OOO; encadernados. 35&O(r()
Revista de Direito Civil Commerclal e Criminal. di·
rigida pelo Dr, Bento de Paria. Assignalura
35&000, brochado j encadernado, õl~!IOO : volume
avulso, brochado, lis3(}UO; encadernado,1?iOOOO.
Estão IJublicados 50 volumes. - O lndice dos vo-
lumes 'I a 25 custa, brochado, 20~UOO j encader-
nado.

.
Roteiro do Jury, por Levindo Ferreira Lopes, 1 vol ume
Satisfação do damng causado pelo delicto, pelo Dr.
Silva Costa, 1 volume encadernado.
Sentenças e Despachos, pelo Juiz de Direito Augusto
Ribeiro Mendes. Excelll:'llte livro de Dirl:'ito, con-
tendo longa série de decisões, I:'sludos e notas do
autor sobre os mais variados, interessantes e im-
portantes casos juridicos. dia a dia venli lados no
FÔro. Foi festivamente recebido por toda a im-
prensa. que ·lhe teceu os maiores elogios, teudo
sido considerado de grande utilidade e indispen-
savel ,para uso e consulta diaria., aos juizes,
advogados, promotores de justiça, e a todos que
trabalham no fôro, 2 grossos e bellos volumes
encadernados. 25t1000
Sociedades Anonymas (Das) - Commentario dos tex-
tos legups, inclusive o art. 1.364, do Codigo Civil
e formulario exteruo, por J. Ribeiro, 1 volume
cartonalio . 5~OOO
Seguros Terrestres e Marítimos (Dos). - Commenta-
rio ao Codigo Civil e ao Codigo Commercial, com
extenso f'orrnulario, por J. Ribeiro, 1 volume car-
tonado . 5~OOO
Successões Testamentarias, pelo Dr. Lacrrda de Al-
meida, 1 grosso volume encademado. ~3$OOO
Systemas Penitenciarias, pelo Desembargador A. Be-
zerra da R. Moraes, 1 volume brochado, 5J;OOO;
encadernado . 8$000
Tapumes Ruraes de accôrdo com o Codigo Civil. pelo
Dr. Felicio Buarque, 1 grosso volume brochado,
7~OOO; encadernado. . 10$000
Tarifa das Alfandegas, com todas as modificações
atél\H7, por um habil.empregado da Fazenda, 1
grosso volume encadernado. 12~OOO
Testamento e Successões- Decreto n.ol.829, de 31 de
Dt'zembro de 1\107, pr]o Dr. Sá e Albuquerque,
2. a edição, 1912, 1 volume cartonado . 3~OOO
Terras Indivisas, pelo' Dr. Laccrdª de Almeida, i vo-
lume encadel'llado. • , . 6~OOO
Tres Escolas Penaes - Classica, 1\ nlhropologica e cri-
tica :efll.ndo comnarativo), pelo Dr. Moniz Sodl'é-
de Aragã.o. 2. 8 ed.ição correcta e augmentada. Um
grosso volume encademado . 15&1looo
Theoria das Provas em mataria Civil. de Neves de
Cast.ro, com nnnotações de accôrdo com o Cndigo
Civil, pelo Dr. Pontes de Miranda, 1918, obra im-
portante, L grosso volume enoadernaljo • . . -15&000
Testamentos e Successões (Dosl-Formulario e anno-
tações praticas do Codigo Civil, por Martinho
Garcez, .\ volume carlOnado. . . ' . . • . 5&000
Distribuição das materias contidas neste importante
li vro indispensavt'1 a todo o cil1adão: Do testa-
mento em geral-Da capacidade (.Iara fazer testa·
mento-Das formas ordiLlarias do test8mento-
Do test.amenlo publico-Do testamento' cerrado
- Do testamento particular-Das testemuLlhas'
testamen tari "s-Dos cod ici lIos- Do IS tpstamentos
esppciaes-Das disposições testamentarias em
geral-Bos eifeitos dos legados e seu pagamento
- Da caducidade dos legados-Da capacidade
parI! adquirir por testamento-Dos herdeiros ne-
cessarios - Das substituições-Da desherdação- .
16

Da revogacão dos testamentos-Do testamenteiro


-CodigoCivil-Da 1'órma do teslamento cerrado,
1... , 2. a , 3. a , 4,." e 5. a hypotheses-Formulario do
processo de execução de testamento-Formularia
de um processo de prestação de contas de tesla-
mental'ia-Acçües que nascem do direito here-
ditaria.
Theoria e Pratica dos Aggravos, pelo Dl'. Martinho
Garcez, 1 grosso \'olume encadernado, 19t 1 • 18$000
Theoria Geral do Direito CívU, pelo Dr. l\1artinho
Garcez, de accôrdo com o projecto do Codigo Ci-
vil Brasileiro, t grosso volume encadernado,
1914. 23~
Trabalhos da Commissão Especial do Senado sobre
o projecto do Codigo Civil, 1 volume brochado 4&6000
Tratado da Prova em materia criminal ou exposição
comparada dos principios da prova e suas' appli-
cações diversas na AUemanha. França, Ingla-
terra, etc., por l\littermayer, traducção de A. An-
tonio Spares, B.a edição accommodada afr nosso
1'ôro, pelo Dr. Pontes de Miranda. Um grosso
volume de mais de 600 paginas, encadernado . 15$000
Vademecum Forense, por Silva Caroatá, accommo-
dado ao 1'6ro, contendo todas as leis e julgados
até i9f3, pelo Dr: João de Sá e Albuquerque, 1
'grosso volume 'ehcadernado. . ' . • . • • tõ'OOO

...
Edições da LiTirBria eruzfoutinho

AGGRA VOS - TheOI'ia dos Aggravos pelo I CODIGO CIVIL BRASILEIRO (Projecto
r. Martinho Garêez, i grosso vol. de cer- por Bevilaqua, 8 vol. brochados, ~O~; enca
de 600 paginas, 19i4, enc. 18,wOO. dernados, 30~OOO. -
ASSESSOR FORENSE COMMERCIAL, por I CODIGO CO~ERCIAL BRASILEIRO: an-
eixeira de Freitas, accommodado á nova le- notado e comparado com a doutrina nacional
slação, por um distincto advogado, 1 volume e estrangeira pelo Dr. Bento Faria, -1 grosso
cadernado, 15~OOO. volume com cerca de ~.OOO paginas, ~.& edi-
ASSESSOR FORENSE CIVIL, pelo Dr_ Na- ção, 1 volume encadernado, 30$000.
co de Araujo, 1 grosso vol. oncadernado, CONSOLlDAÇÃO DAS LEIS CIVIS, por
~OOO. Teixeira de Freitas, annotado pelo Dr. Marti-
AGUAS, por Almeida Lobão, 1 voI. enc., nho Garcez, 5. a edição, f915, -1 grossovol.
,1000. de cerca de i.300 paginas, enc., 30~OOQ.
ALIENADOS NOS TRIBUNAES, por Julio COMMENTARIO DO MANIFESTO DO
Mattos, 3 voI. enc., U&OOll. PRINCIPE D. LUIZ DE ORLEANS, pelo Dr.
APPELLAÇuES E AGGRAVOS, de Gouvêa Alberto de Carvalho, 1 volume encadernado,
into, nova edição, accommodada á legislação 1~000.
asileil'a,1 volume enc., 10~000. COMPENDIO DE THEORIA E PRATICA
APONTAMENTOS SOBRE AS FORMAL!- DO PROCESSO CIVIL COMPARADO COM O
ADES DO PROCESSO CIVIL, de Antonio CO,v.."\lEHCIAL e de hermeneutica juridica
\ menta Bueno, nova edição accommodada ao accommodada ao fôro pelo Dr_ Vicente Ferrer,
, ro por João de Sá e Albuquerque, 19B, i 1 voI. enc., HiIlOOO.
lume encadernado, iOJOOO. CRIMES' FEDERAES ela Alçada do Juiz
ARRAZOADOS e estudos de Direito, por Singular e sua Lei Processual, estudo critir..o
ranklill DorLa, 1 volume enc., ~OOO seguido de um appendice onde vem o ---in-
: ASSIGNAÇAO DE DEZ DIAS, por Almeida tercambio das Sentenças Penaes pelo Dr. José
Jiveira, edição de 1915, i voI. enc., 8~000. Tavares Bastos, 1915, i vol. encadernado,
CASAS (TRATADO DAS) por Almeida Lo- 7~000 .
. lio, nova edição, 19i5, 1 grosso voI., enc., COMPENDIO DE DIREITO MILITAR, pelo
O~OOO. Dr. Espirito Santo, 2 grossos volumes enc.,
CAMBIAL (A) NO DIREITO BRASILEIRO, i5i!OOO.
elo Dr. Paulo Lacerda, 2.& edição, 1913, 1 CONTRABANDO E SEU PROCESSO, por
rosso volume enc., 15~000. A. P. dá Araujo Corrêa, 1 voI. broch., 2$000;
CAMARAS MUNICIPAES, pelo Dr. Levindo enc., 4$000.
erreira Lopes, 1 volume enc., 5$000. CRIMINOSOS ASTUTOS E AFORTUNADOS,
CODIGO DO PROCESSO CRIMINAL, pelo estudo de psychologia criminal e social, de
r. Vicenle Alves de Paula Pessoa, 1 grosso Lino Ferriani, traducção de Henrique de Car-
o\. flnc., 30$000. valho, i915, 1 vQI. eIlC., 6$000. .
CODIGO PENAL DA REPUBLICA DOS ES- CONSOLIDAÇAO DAS LEIS DO PROCESSO
;: ADOS UNIDOS DO BRASIL, por um magi~ CIVIL, 3. a edição, i915; commentada pelo
). rado mineiro, 1 vol. enc., 5.000. Conselheiro lIibas, com a collaboração de seu
CO DIGO DAS RELAÇ~ES EXTERIORES, filho Dr. Julio Ribas, 2 grossos vols. encs. em
voI. hroch., 8$000; enc., l1~OOO. um, 250'1000.
CONSOLIlHÇAO DAS LEIS DA. JUSTICA CRIMINOLOGIA, estudo sobre o delicto e a
EOERAL - lJecreto n. o 3.084., de 5 de ~o- reparação penal, por R. Garofalo, traducção
embro de 1898, annotado peb Or. José Ta- pOl'tugueza de Julio de Mattos, 1 volume enc.
ares Basto~, ediçlio de 1910, 2 grossos volu- 10~OOO. .
es encadernados, 30~OOO. GAZAMENTO CIVIL (LEI DO) - Decreto
CODlGO PENAL E O JURY commentados /l.0 181 de 24 de Janeiro de 1890 commentado
. e accôrdo com as ultimas leis e a moderna pelo Dl'. João de Sá Albuquerque já de
~ urispr~delJcia, sendo portanto, o melhor guia accôrdo com o Codigo. Civil.Brasileiro c?n-
i, dos JUizes de facto, pelo Dr. José Julio de tendo um completo formularlO em apendlce,
FreitasCoutinho, i grosso vol. enc., 5$000. 1 vol. enc.. , 1915,4$000.
EDIÇÕF$ DA LIVRAR.IA CR.UZ C?U:rINl1Ij)

CRIME E REPARAÇÃO,' psychologia cri- nal e estrangeira e com.a jurisprudencia na·


minai' para medicos e jurisconSultos, de cional dos casos julgados sobre o assumpto,
Aschaffenburg, lraducção portugueza, 1 voI. com um excellente formulario e um appendi<;e,
enc., ~OOO. i grosso voI. enc., iO~OOO.
DIREITO DE RETENÇAO, pelo Dr. Car- DIREITO CIVIL BRASILEIRO..,-- Theoria
neiro Pacheco, 1 voI. enc., 10~000. Geral do Direito Civil, de accórào com o pro-
DIREiTO ROMANO (Elementos de), por F. jecto do Codigo Civil Brasileiro, pelo Dr. Mar.
Mackeldey, traduzido, annqtado e comparado, tinho Garcez, - 1 grosso vol., 191&., enc.,
pelo Dr. Bento de Faria, 1 vol. enc., 15$000. ~3~000.
DIREITO PENAL MILITAR RUASILEIRO, DIREITO PRNAL MILITAR, pelo Dr. Chry.
peló Dr. Luiz Carpenter, 1914., 1 vol. enc., solito Chaves de Gusmão. Estudo completo so-
5~000. bre o direito militar. Livro indispenBavelao8
DEt:RETO 2.HO (PECULATO E NOTAS Advogados e Militares e especialmente aos
FALSAS), de 30 de Setembro de 1909, com o alumnos da cadeira de direito penal militar;
calculo das penas, por um dos mais illustres este livro é um dos mais completos, pois além
magistrados da justiça Federal, 1 vol. enc., de.estar de accórdo com o programma das Es-
3JUOO. - colas de Direito, satisfaz plenamente ás exi·
DIREITO DAS COUSAS, pelo Dr. Lacerda gendas dos Mestres. 1 grosso volume enc.,
de Almeida, edição de 1910, 2 volumes encs., 15JOOO.
4,0~000. ' DIREITO CONSTITUCIONAL, pelo' Dr. AI·
DICCIONARIO DA LEGISLAÇAO COMMER- fredo Varella, 1 vol. enc., 8~OOO.
CIAL BRASILEIRA, por A. de Souza Pinto, DIVISÃO E DEMARCACÃO DE TERRAS
2 grossos volumes enc., 25~000. _ pelo Dr. João de Sá e Alb·uquerque, i grosso
DIREITO DAS COUSAS, pelo Dr. Martinho voI. cartonado, 1011000.
Harcez ; eàição de 1915, 1 grosso voI. de mais DIREITO CRIMINAL, de R. Garraud, tra-
de 800 paginas, rnc., i5$000. ducção portugueza, ~ grossos volumes encader-
DIREiTO PUBLICO CONSTITUCIONAl.- nados em um, edição de 19Hí, 15$000.
pelo Dr. Augusto OIympio Viveiros de Castro, DIREiTO PENAL _ Sciencia Penal em di-
edição de 191&., 1 grosso voI. encadernado, reito positivo, de Adolpho Prins, traducc;ão
181000. portugueza, 1 grosso vol., '1915, encadernado,
. DIREiTO ADMINISTRATIVO, pelo Dr. Au- 10,",000.
gu~to Olympio Vivp.iros de Castro, 3. a edição, DOS PRIVILEGIOS CREDITORIOS, pelo
edição de 191&., 1 grosso voi. encadernado, Dr. Carneiro Pacheco, 1 grosso vol. enc.,
18~000. 10$000.
DIREITO DA FAMILIA, pelo Dr. Martinho ESTATUTOS DOS FUNCCIONABIOS PU.
Garcez, edição de 1914, 1 gl·. vol. encadernado, BLICOS, com um prefacio do Dr. Guimarães
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pelo Dr. Levindo Ferreira Lopes, 3." edição, volume 1\J15 ~ncadernado, 10$000.'
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DICIONARIO DA LlNGUA PORTUGUEZA, Dezembro de 1908 pelo Dr. Sá e Albuquerque,
por Candido de Figueiredo, 2.a edição, con- 3." edição 191~ i vol. enc., 5&000.
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DIREITO INTERNACIONAL, de João Ca- FALLENCIAS- Lei n. O 2.02&., de 17 de
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ltDIÇl5ES D4 1 "l';JZ COUTINlIO

GUIA PRATICO para inslrueção dos Proc,,~ ~ RAL, pelo Dr. Oelavio Kelly, Juiz Federal de
s Criminaes, por Uans Gross, professor de E. do Hio, edição de 1914" 1 grosso vol. eDe' l
Di reito Penal na Universidade dp Gras tradu- 131000.
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lheiro Canditlo taria d livf ira, 1ro so Or. Bento de Faria. Decreto n.O ~ . OM de 1
"01. ne. 2 d Dez('mbro d 1!l08 - 5." ediçllo de 1913
LEI UR IL co)) cçiio compl eta d(' de annolnda comparada com a doutri na e jori8'
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nal 'por ic lá Fr:lIllarino rll'l Mala tl' tn, 0 01 OBI\IGA OJ8S, )1('10 Or. Lacerda de A llÍleid~
O pf fo io do prof' SO l' Emilio Ilru a, Imdu" ,!,n ri iç.io. !IHi cort!'ela e muito augmentada
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ICA JI 1111:[ m (AI E A ABTE DE Y(, I1(:1o Lilt rari n com a França de accOrd(
'\ 1\ , .Ir f . P . I-·abr. ~ II! I ll'~, trad uzido rom o )1rojt'clo do Codigo Ch-il, pelo Or. Ar
lo Dr. \I 'nriq ll P. d ' Carvnlho 1 gro. \) vol. mando "ida l. - lU volume de '1 00 paginasl
n . i'! O. hroc h., í~OO() ; (, I1C., 10~OOO. - o,
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d c1inica ,. Ulf'di ina Irgul _," rdi~':io r C\' Í'ta tanw ntos\ pelo DI'. Jo~c Plll~enta Bueno, 4:~
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LEr!lr\. DE C,\ MlllO c. 'o ln Promi . orins, I3m'os W.~ rl cic l'l ~y A"nuJo, (}!l'!O, 1 gr~sso , vo-
d ncc(lrdo c.om o Dl' n·t 11 .° 2.0,1- ,cl ~ I ele IUlUe c!r O.IG pag ll1:ls. encadernado, 1 õ~OOO.
&I'roh r dI' HlOH prlo DI' . ~á Alh ll q u ~ rq u , P I~f: U L ,n'O E NOTAS FALSAS, Decrelu
com ~ m .1<-100 d:H no la!' , I vol. , l ;SOOO. n.O ~ .110" ~ e .30 de Se l ~r~ lJro de 1909, ~or
I n(:t\~ IlE FA lI lI lCo\ 1'0 \lE t;OmI EH· II Tll dos l11 alS I1luslrcs lIl agLstrados da Justiça
1 E 'm!1': m ml Ellr: IA 1., )1l' lo Dr. lIenlo F deral, :' , volu rno c~rlon~<l~,,~JOOO. I
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annotado e accommodado ao fóro pelo Dr. Le- te livro de Direito, contendo longa sétie de
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PROCESSO COMMERCIAL E CIVIL - De- sos jurídicos, dia a dia ventilados no Fó.ro.
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ravelmente ~nnotado, seguido de um appen- que lhe teceu os maiores dogios, tendo sidO
dice pelo Dl'. Bento de Faria, edição de 1914, considerado de grande utilid~d~ e indesp~nsa­
i grosso vaI. enc., iõ.llOOO. vel para uso e consulta dlal'la, aos JUIzes,
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· cio do Sr. Conde de Affonso Celso, i9U, 1 A,meida, 1 vaI. cnc., 6~OOO. .
, volume cnc., 10sS000. THEOHIA E PRATICA DOS AGGRA VOS,
REGULAMEN1'O DA NOVA LEI DE FAL- pelo Dr. Martinho Garcez, 1 grosso vaI. enc., '.
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de 1908, annotado pelo Dr. Bento de Faria, 1 THEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL,
, vaI. enc., 7~000. pelo Dr. Mal'tinho Garcez, de accôrdo com o
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balho do Dl'. João 'de S1 Albuquerque, con- vaI. ellC., 19i4, 23,!i000. _
tendo toda a legislação em vigor e em ordem TRAB ..\LHOS DA CmUllSSAO ESPECIAL
alphabetica, 1 vol. anc. 20~000. DO SENADO SOBRE O PllOJECTO DO CO-
REVIS .... O DOS PROCESSOS PENAES, pelo DIGO CIVIL, 1 vai. br., 4$000.
Dl'. João Vieira de Araujo, 1 grosso vaI. enc., TRATADO DA PHOVA E~l MATE RIA CRI-
HhIlOOO. .MINAL, por Mitlcrmayer, traducção de A.
REPERTORIO DA LEGISLAÇAO DE FA- Antonio Soares, 2." edição, 1909, 1 gr. vaI ..
ZENDA - Contendo todas as leis, decretos e enc., iO&iOOO.
avisos colleccionados em ordem alphábetica, VOCABUL.-\RIO JURIDICO, de Teixeira de
até i9'!ü, pelo Dr. Carlos Olympio Barreto Freitas, accommodado ao fôro Brasileiro, pelo
(FuncClonario da Fazenda), 2 gr. vais. brs., Dr. Vicente Ferrer, 1915,1 volume encader-
30&i000. nado de cerca de '1.300 paginas, 20~000.
· ,REV~Sr;-\. DE ~IREI~q ÇIVIL E COMMER- V ADEMECUM FORENSE, por Silva Caroa-
· CIAL E CRIMlt'l AL, dmglda pelo Dl'. Bento tá accolllmodado ao f6ro contendo todas as
de Faria. As~ignatura 35~, brocho e fine., leis e julgados até 1913,' pelo Dl'. João de Sá~
51,!i000; vaI. avulso, brocho 12&3; encader-\ e Albuquerque, i. gré'sso vaI. encadernado'
nado 15~. Estão publicados 36 volumes. - O 15~OOO.
JACINTI'l;O RIBEIRO DOS SANTOS (editor Proprit'tario)
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