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“Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger,
Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor e
jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os
tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (At
13.1-3)
Uma das primeiras coisas que podemos observar como resultado da ação missionária do
Espírito Santo em Atos é o chamado ou vocação de obreiros para a missão. Em Atos o
cronograma de Cristo para a igreja é cumprido à risca pelo Espírito. Sua missão é glorificar a
pessoa de Jesus Cristo na continuação do que Ele começou a fazer e ensinar através de
homens e mulheres que O amam.
O texto bíblico relata que “havia na igreja de Antioquia profetas e mestres” (At 13.1).
Breve histórico
Antioquia (da Síria), também conhecida como Antioquia do Orontes por causa do rio de mesmo
nome, era a mais famosa das dezesseis Antioquias fundadas por Seleuco Nicátor em memória
de seu pai Antíoco, por volta do ano 300 a. C. Nos tempos do Novo Testamento Antioquia era
a capital da província da Síria, a terceira cidade do império romano, célebre por sua riqueza,
cultura e imoralidade.
Com exceção de Jerusalém, nenhuma outra cidade esteve tão ligada aos primórdios do
cristianismo como Antioquia. Lucas registra em At 6.5 que certo Nicolau abandonara o
paganismo grego e se tornara membro de uma sinagoga judaica em Antioquia.
Durante a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão, alguns cristãos subiram para o norte
até Antioquia (At 11.19), cerca de 480Km de Jerusalém, e ali pregaram aos judeus. Logo
chegaram outros que levaram o evangelho aos gregos também (At 11.20), e como ocorresse
ali muitas conversões, a igreja de Jerusalém enviou Barnabé a Antioquia. Vendo a graça de
Deus naquela cidade, Barnabé foi até Tarso e trouxe Saulo consigo para o auxiliar (At
11.25,26). Durante um ano eles permaneceram em Antioquia ensinando muita gente.
Profetas e mestres
“Disse o Espírito Santo: Separai-me agora” (At 13.2). A expressão ‘afori/sate d//h/ moi (Separai-
me agora) é totalmente enfática. A partícula grega d//h/ (agora) pode ser traduzida também
como “agora mesmo”, “já”, “neste momento”, “imediatamente”. O verbo ‘afori/sate (separai) que
é um aoristo do imperativo ativo de ‘afora/w, somado ao pronome pessoal moi favorece uma
tradução assim: “Separai para mim mesmo de uma vez por todas”. A urgência do Espírito
Santo para aquela missão é inquestionável. Além disso, a expressão ‘afori/sate d//h/ moi é uma
das identificações da soberania do Espírito Santo no livro de Atos. A iniciativa de escolher e
enviar missionários para onde quiser é uma prerrogativa do Espírito (cf. At 16.6-7). O Senhor
Jesus já havia dito aos Seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo
contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso
fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda”
(Jo 15.16). Em Atos a soberania do Espírito Santo é levada a sério. Ao contrário do que se vê
hoje em dia, especialmente no meio pentecostal, em que pessoas por atrevimento ou
ignorância talvez, dizendo-se cheias do Espírito Santo, querem fazer dEle o capacho de seus
caprichos. Na Bíblia o Espírito Santo manda e Seus servos obedecem (At 13.2). Entretanto, Ele
não age despoticamente. Em Atos o Espírito e a igreja trabalhavam, por assim dizer, em
parceria (cf. At 15.28).
Os chamados
A ordem do Espírito Santo para a igreja de Antioquia era, então, a seguinte: “Separai-me agora
mesmo a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2). Duas coisas são
evidentes nesta declaração. A primeira diz respeito aos chamados ou vocacionados pelo
Espírito Santo. O Espírito manda separar Barnabé e Saulo. Quem eram Barnabé e Saulo
senão a nata da Igreja Primitiva? O Espírito Santo é exigente. E Ele sempre vai pedir o melhor
para missões. Isso tudo pede uma reflexão séria por parte da igreja brasileira, pois não são
poucos os erros cometidos nesse particular. Quantas vezes nossos presbitérios enviam para o
campo ou juntas de missões aquele candidato que não se saiu muito bem no seminário, ou até
mesmo aquele pastor que sobrou na distribuição de campo porque nenhuma igreja local o quer
por ser fraco de púlpito ou algo parecido? O Espírito Santo não precisa de e nem quer sobras.
O Espírito exige sempre o melhor para a Sua obra. Não que a pessoa chamada pelo Espírito
seja a melhor por sua capacidade e habilidade naturais, pelo contrário, será sempre alguém
que o próprio Deus deverá capacitar com a Sua graça (cf. I Co 15.9,10; 2 Co 3.5; Ef 3.7,8).
Uma coisa é certa: Se não é o melhor que a igreja manda para o campo, então não é o enviado
do Espírito. Missões não é uma alternativa de trabalho para quem fracassou no ministério!
É interessante notarmos que João Marcos não estava entre os vocacionados pelo Espírito
Santo. Pelo menos não naquela ocasião. Lembremos que Marcos já havia viajado com Paulo e
Barnabé anteriormente (At 12.25). Depois, acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem
missionária (At 13.5), mas logo desistiu (At 13.13-15), tornando-se o pivô da separação entre
Paulo e Barnabé na segunda viagem missionária (At 15.36-41). Tudo indica que Marcos não
era o missionário certo (pelo menos até aquele momento) para a obra missionária. O Espírito
Santo não somente conhece o campo missionário mas também o perfil do missionário certo.
A segunda coisa que observamos na declaração do Espírito é que Ele sempre vocaciona para
uma missão específica. “Para a obra a que os tenho chamado”, diz o texto bíblico. Há tempos
Paulo e Barnabé estavam sendo trabalhados pelo Espírito. Os dois missionários trabalharam
juntos algumas vezes (cf. At 12.25). Como conseqüência disso o chamado para a missão
passa a ser na verdade uma confirmação, isto é, o chamado de Paulo e Barnabé não
aconteceu ali (At 13.2), mas apenas confirmou o que todo mundo, inclusive eles, sabia. Isto
está claro no uso que Lucas faz do verbo proske/klhmai, imperfeito médio de kale/w, que indica
uma ação ocorrida no passado mas confirmada no presente. Quer dizer, o Espírito confirmou
perante a igreja de Antioquia o chamado de Paulo e Barnabé. “Quando o crente é chamado
pelo Espírito, o mesmo Espírito o revela à igreja” (3).
NOTAS
2. Simon J. Kistemaker, Exposition of the Acts of the Apostles, p. 455. Para outras interpretes
veja Orlando Boyer, Atos: O Evangelho do Esprito Santo, p. 169.
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