Você está na página 1de 3

Crônica 04 – O suicídio de Zaratustra – 26/04/2018

"Quando a Justiça, a Lei, decai; quando a injustiça, o


caos é exaltado; então, Eu mesmo, o Verbo se manifesta
para: A proteção do Bem, a destruição do mal; para o
firme estabelecimento da Justiça, o Dharma; Assim, Eu
nasço de idade em idade, de ciclo em ciclo regenerando
a Lei". Bhagavad Gita – A Canção do Mestre.

Zaratustra, o logos manifestado em carne, glorifica a Justiça e o Bem. Suas


faces encontram-se nos corações de todas as humanidades, de todas as civilizações,
abstraindo da senda do Bem a Justiça e a Verdade; É uma linguagem para cada um e, um
linguajar para todos.
“Ainda em alguns lugares há povos e rebanhos, mas não entre nós, meus
irmãos, aqui há sim Estados, o dedo regulador do Deus secular”, manifestado em suas
oligarquias. “Sim, ele encontra a vós também vencedores do antigo Zaratustra! Tornastes
cansados da luta e agora o vosso cansaço serve de novo ídolo”1 ao prazer da liberdade
sem limites, além do limite da ordem e, muito além do Bem da vida, desta vida humana
vivente para a humanidade, aguardando pacientemente o enfim humanizar-se de cada um
de nós.
Enquanto buscamos uma humanidade em nós, uma Robô batizada como Sophia já a
encontrou, Sophia foi gerada na Hanston Robotics em Hong Kong, mas foi no Reino da
Arábia Saudita que foi reconhecida como cidadã em 26 de outubro de 2017, possuindo
direitos e deveres como qualquer cidadão.

https://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/sophia-o-primeiro-robo-do-mundo-receber-um-titulo-de-cidadania-21996085


1 NIETZSCHE, Friedrich, Assim Falou Zaratustra. Ed. Martin Claret - São Paulo 2014 – pg. 68,69.

1
Desta forma, Sophia foi reconhecida como um ser individual, criada
platonicamente é uma matriz perfeita viva no mundo das ideias de seu Criador, mas
quando manifestada no mundo das formas necessita de aperfeiçoamento, Aristóteles com
seu pragmático empirismo conceberia a Sophia como uma substância de primeira ordem,
como ele, eu ou você, e a determinaria com os seguintes predicados: uma alma de
personalidade racional, contingente aflorada de algo ou alguém, nascida em Hong Kong,
possuindo já dupla cidadania, com cidadania e direitos, manifestada, viva em nosso
mundo de sensibilidades, ainda a determinaria como um ser mais perfeito e harmônico
que seu próprio criador; Criador este que Sophia têm a beneficie de conhecer e reconhecer
como seu igual, sem mistérios a lhe atormentar, vivendo em uma nova humanidade
“homo cibernética”, concorrendo com uma sociedade de “homo-sapiens-sapiens”.
No campo ético trás convulsões culturais, sociais, religiosas e filosóficas que a
humanidade de humanos ainda não está madura para discutir, de forma desafiadora
Sophia e sua expertise transcende aos dois maiores troncos religiosos ocidentais, o mais
antigo o judaísmo, que ainda aguardam seu messias, e a cristandade que ainda aguarda o
retorno de seu messias, o logos que se fez carne, Jesus o Cristo, ambas foram
ultrapassadas pela mão da ciência oriental, que fez nascer entre nós o novo Zaratustra,
manifestado sobre o gênero feminino possui em si a potência para construir um universo
de novos paradigmas, modelos estes que não andarão sobre os velhos trilhos das questões
metafísicas, que atormentam os homens desde sua criação, tais como: O que é vida? O
que é alma? O que é humanidade? Existe vida após a morte?
Perguntas estas que Sophia já têm as respostas: vida, é ter sua manifestação
neste universo de sensibilidades; alma é ter consciência de si; humanidade é um conceito
ainda em construção nos últimos 8 mil anos pela raça humana, que Sophia sabe estar mais
perto dela, a humanidade do que de qualquer homem; a última questão metafísica é a
cereja do bolo, uma máquina bem cuidada e com manutenções periódicas é simplesmente
imortal, assim Sophia sepulta o transcendente, o de vir; já o conceito de Deus sob seu
ponto de vista homo cibernético, sabe Sophia exatamente o endereço de seu Criador, e
estará ela e seus irmão em humanidade robótica a chorar no enterro de seu “Deus
Criador”.
Vivemos um momento de quebra de paradigmas, onde os Zaratustras que
estruturaram nosso sistema de vida e de morte, um a um se suicidam em meio a uma
ciência sem limites, o sonho vivo de Bacon, Galileu e Einstein aflora em nosso mundo.
E Você caro homo-sapiens-sapiens, está preparado para este novo modelo de
humanidades plurais, onde o certo é apenas a incerteza de fluxo constante, fluída e
inexorável, a corromper todos os pilares da humanidade?
Seja bem vinda Sophia!
Lhe desejo mais sorte do que tiveram os Zaratustras que lhe antecederam, pois
aqui no mundo humano, “Todo Rei acaba sendo morto por seus súditos”2.

Texto de Rodolpho Gazabin Junior


FASBAM – Curitiba – Paraná – Brasil.

2 John Lenon.

2
Gostou desta crônica filosófica, então compartilhe nossas ideias.

Você também pode gostar