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CNj^È PODER JUDICIÁRIO

O . NÍ'-:l\$ TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
4 5 REGISTRADO(A) SOB N°

ACÓRDÃO I mii um um mu mu mu um mu mi mi
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Apelação n° 990.10.280880-7, da Comarca de Estrela D
Oeste, em que é apelante MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA
(JUSTIÇA GRATUITA) sendo apelados NETWORK ASSESSORIA
E SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA e BANCO PANAMERICANO
S/A.

ACORDAM, em 8 a Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos


Desembargadores CAETANO LAGRASTA (Presidente) e
SALLES ROSSI.

São Paulo, 01 de setembro de 2010.

THEODURETO CAMARGO
RELATOR
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

8a CÂMARA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO


APELAÇÃO N° 990.10.280880-7
APTE: MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA
APDO: NETWORK ASSESSORIA E SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA. E BANCO
PANAMERICANO S/A.
(VOTO n° 2.608)

EMENTA: DECLARATORIA
INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO - LETRA DE
CÂMBIO - AUSÊNCIA DE ACEITE DA SACADA
- EMISSÃO EM SUBSTITUIÇÃO A CHEQUE
PRESCRITO - FRAUDE - FALTA DE BASE
JURÍDICA PARA O SAQUE DO TÍTULO -
RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO
- DANOS MORAIS - OCORRÊNCIA - RECURSO
PROVIDO

Cuida-se de apelação, respondida e bem processada,


por meio da qual quer ver a apelante reformada a r. sentença de
primeiro grau (fls. 145/146) que julgou improcedente a ação
declaratória de inexistência de débito cumulada com indenização
por danos morais ajuizada por Maria Pereira de Oliveira em face
do Banco Panamericano S/A. e Network Assessoria e Serv. Emp.
Ltda.

Pretende a autora seja reconhecida a irregularidade


do protesto de uma letra de câmbio nula, pois sacada em
substituição de cheque prescrito. Pretende, ainda, seja
declarada a inexigibilidade do titulo, bem como a ilegalidade
da conduta dos réus, com a conseqüente condenação ao pagamento
de indenização pelos danos morais sofridos.
PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO

8a CÂMARA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO


APELAÇÃO N° 990.10.280880-7
APTE: MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA
APDO: NETWORK ASSESSORIA E SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA. E BANCO
PANAMERICANO S/A.
(VOTO n° 2.608)

É o relatório.

O MM. Juiz de primeiro grau julgou a ação


improcedente, pois a autora teria, intencionalmente ou por
esquecimento, ocultado a verdade dos fatos, já que teria
afirmado na inicial nunca ter mantido relação comercial com as
requeridas. Esse fato foi contrariado pelo Banco Panamericano
S/A. que comprovou ter a autora contraído empréstimo (fls.
119), tendo dado em pagamento um cheque que não foi pago e que
foi substituído pela letra de câmbio ora em discussão.

No entanto, a despeito de a autora ter afirmado na


inicial que nunca manteve relação jurídica com os réus, após
apresentadas as contestações, reconheceu a existência de um
empréstimo firmado com o Banco Panamericano S/A. no ano de
2002. Esclareceu que, por fazer muito tempo da contratação, se
esqueceu do empréstimo. Asseverou, ainda, que a discussão na
ação se limita à ilegalidade do protesto da letra de câmbio
irregularmente sacada contra ela.

De fato, na articulação da causa de pedir e nas


diversas manifestações da autora nos autos, ela afirma
incisivamente que a requerida Network, agência de cobranças,
agindo materialmente em benefício do banco seu cliente, teria
providenciado o saque de uma letra de câmbio, em substituição a
um cheque prescrito, em que o emitente original figurava como

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APELAÇÃO N° 990.10.280880-7
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APDO: NETWORK ASSESSORIA E SERVIÇOS EMPRESARIAIS LTDA. E BANCO
PANAMERICANO S/A.
(VOTO n° 2.608)

sacado e o banco como tomador e sacador, levando-o, então, a


outro Estado da Federação, diverso do domicílio das partes,
para efetuar o protesto e assim dificultar a defesa do
prejudicado e exercer uma coação.

Esse relato, na realidade, sugere a possibilidade


de ocorrência de uma prática que recentemente se tornou
notória, pelas notícias publicadas em jornais de grande
circulação, que davam conta precisamente da existência de
empresas de cobrança que usavam desse mecanismo anômalo para
fraudulenta e abusivamente realizar protestos de títulos de
todo o país em um único determinado Estado da República,
aproveitando das peculiaridades de certas facilidades
operacionais proporcionadas por cartórios extrajudiciais
locais.

Pelo que se vê da cambial reproduzida às fls. 60, a


devedora, ora apelante, não chegou a aceitar a letra.

Em conseqüência, conclui-se que, a rigor, não se


obrigou cambialmente, "só ensejando ao credor a ação ordinária
em que mister se faz referência à origem do título" (cf. AMADOR
PAES DE ALMEIDA. Teoria e prática dos títulos de crédito. 8 a
Ed., São Paulo: Ed. Saraiva, 1984, n. 14, p. 3 0 ) .

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PANAMERICANO S/A.
(VOTO n" 2.608)

Assim, evidente a conduta ilegal dos apelados em


substituir um cheque prescrito por uma letra de câmbio e
proceder a protesto em outra unidade da Federação. No caso, ao
que parece, o banco credor, provavelmente com o escopo de fugir
da manifesta prescrição do cheque, resolveu sacar uma letra de
câmbio em substituição ao título original.

Outrossim, não havia fundamento jurídico para o


saque da letra de câmbio, e menos ainda para seu protesto,
inclusive por falta de aceite. 0 crédito que o banco réu
entendia existir a seu favor deveria ser cobrado com base no
cheque emitido pela apelante no ano de 2002, na praça de sua
emissão, sem necessidade da referida cambial, absolutamente
inútil, e que só serviu para pressionar psicologicamente a
devedora, acabando por atingir a idoneidade de seu nome com o
protesto indevido.

Assim, forçoso é convir que tanto o saque da letra


de câmbio em substituição a um cheque prescrito, quanto o seu
protesto, são indevidos.

Consoante a jurisprudência, trata-se de dano in re


ipsa, de cunho extrapatrimonial, que independe de provas.

Segundo o entendimento do Egrégio Superior Tribunal


de Justiça, o dano moral decorre do próprio ato lesivo de
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(VOTO n° 2.608)

inscrição indevida junto aos órgãos restritivos de crédito.


(STJ-4a T., REsp 556214-AM, Rei. Ministro Jorge Scartezzini, DJ
17.12.2004, P. 560).

No mesmo sentido: "A indevida inscrição em cadastro


de inadimplente, bem como o protesto do título, geram direito à
indenização por dano moral, independentemente da prova objetiva
do abalo à honra e à reputação sofrida pelo autor, que se
permite, na hipótese, presumir, gerando direito a ressarcimento
que deve, de outro lado, ser fixado sem excessos, evitando-se
enriquecimento sem causa da parte atingida pelo ato ilicito"
a
(STJ-4 T., REsp 457.734/MT, rei. Min. Aldir Passarinho Jr., j .
22.10.2002, DJU de 24.02.2003, p. 248).

Nesses termos — e sem perder de vista o caráter


inibitório, de autêntico desestímulo ou advertência, dessa
modalidade de reparação civil, salientado pelo saudoso CARLOS
ALBERTO BITTAR e consagrado pela jurisprudência (cfr. Reparação
civil por danos morais. São Paulo: RT, 1993, n. 36, ps.
219/226; RSTJ 137:486 e STJ-RT 775:211) -, o quantum
indenizatório deve ser arbitrado em R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) .

Afinal, "na fixação da indenização por danos


morais, recomendável que o arbitramento seja feito com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nivel sócio-
econômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida,-.
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(VOTO n° 2.608)

orientando-se pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela


jurisprudência com razoabilidade, valendo-se de sua experiência
e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades
de cada caso" (STJ-4a T., REsp 135.202-0-SP, j . 19.05.98, rei.
Min. Sálvio de Figueiredo).

2. - CONCLUSÃO - Dai por que se dá provimento ao


recurso para julgar procedente o pedido, declarar a
inexigibilidade da letra de câmbio, cancelando-se o seu
protesto, e arbitrar a indenização por danos morais que os réus
deverão pagar à autora, de forma solidária, no valor
equivalente a 50 (cinqüenta) salários mínimos, juros de mora de
1% ao mês, contados a partir desta data, consoante orientação
dominante no STJ; invertidos os ônus sucumbenciais em vista do
resultado ora proclamado, fixa-se a verba honorária em 10%
sobre o valor da condenação atualizado.

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