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A conversação no trabalho inclusivo: a experiencia do Projeto

Trabalhar é Legal com o procedimento metodológico da conversação.

Apresentação Oral em GT

Autor(es): Angélica Fortes Ferreira de Souza, Anali Ferreira de Jesus

A CONVERSAÇÃO NO TRABALHO INCLUSIVO: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO TRABALHAR É


LEGAL COM O PROCEDIMENTO METODOLÓGICO DA CONVERSAÇÃO

Angélica Fortes Ferreira de Souza


grupopesquisa1@yahoo.com.br

Anali Ferreira de Jesus


analijf@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo apresenta o procedimento metodológico da Conversação que têm sido utilizado nos
grupos semanais formados pelos participantes do Projeto Trabalhar é Legal. Estes grupos semanais
constituem uma das atividades do referido projeto que possui várias ações voltadas para a
empregabilidade da pessoa com deficiência e a orientação às empresas envolvidas no projeto. Inserindo
no mercado de trabalho de Nova Lima, Belo Horizonte alunos e ex alunos da Escola Ana Nascimento de
Educação Especial e da rede Municipal de Ensino da cidade de Nova Lima Minas Gerais. Os grupos de
conversação aplicada ao Trabalho Inclusivo têm constituído uma experiência inovadora destacando se
atualmente como um diferencial junto às empresas parceiras da instituição e a trabalhos similares
oferecidos no mercado. Nos encontros semanais onde participam as pessoas já inseridas no mercado
formal de trabalho e aquelas que aguardam a chamada em processos seletivos organizados pela
Coordenação do Projeto. Observa se que a metodologia oferece a possibilidade da elaboração sobre as
relações subjetivas no trabalho, na sociedade, na família além de possibilitar inúmeros ganhos
secundários como a própria manutenção de um ambiente de trabalho mais favorável à permanência deste
trabalhador.

PALAVRAS CHAVE: Conversação, Trabalho, Significantes, Associação Livre.

INTRODUÇÃO

O Projeto de Educação Inclusiva implementado na Escola Ana do Nascimento Souza de Educação


Especial, prevendo uma maior participação da família, das instituições, dos órgãos públicos e da
comunidade em geral, no reconhecimento e desenvolvimento das potencialidades dos portadores de
necessidades especiais, a partir da sua singularidade foi ao longo dos anos alcançando também outras
interfaces sociais para além da esfera educacional. Visualizando ser de fundamental importância, que a
sociedade participe ativamente de todas as ações voltadas para o resgate da cidadania daqueles que, por
serem portadores de necessidades especiais, foram ao longo dos tempos, considerados inválidos, dignos
de “dó” e consequentemente, alijados das atividades e do convívio com os demais, considerados
“normais”. Alcançou se finalmente nos últimos anos a esfera do mercado formal de Trabalho através da
elaboração e implementação do Projeto Trabalhar é Legal.
Essa perspectiva da participação da sociedade no processo de inclusão alicerçado sobre a
ressignificação da representação social de deficiência possibilitou a busca e utilização de novas
metodologias que escutassem as particularidades, angústias chegando se a metodologia da
Conversação.
O projeto da Conversação aplicada ao Trabalho surgiu assim da necessidade de fornecer um espaço de
interlocução, aprendizado e troca de experiências entre os participantes do projeto Trabalhar é Legal.
Possibilitando também a ressignificação das angustias e conflitos, vivenciados no cotidiano do
trabalhador, especialmente daquela pessoa com deficiência inserida através da Lei 8.213 91. Esta
legislação bem fiscalizada nos últimos 02 anos veio estabelecer a reserva legal de cargos, ficando mais
conhecida no Brasil como lei de cotas. Na construção do projeto Trabalhar é legal foi a legislação
inicialmente consultada a partir da qual somara-se os demais estudos. Esta legislação estabeleceu no
Brasil a obrigatoriedade de as empresas com cem (100) ou mais empregados preencherem uma parcela
de seus cargos com pessoas com deficiência. A saber:
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, 2007.
1 O PROJETO TRABALHAR É LEGAL

. O Projeto surgiu a partir da perspectiva do Projeto de educação inclusiva implementado em 2006, na


Secretaria Municipal de Educação de Nova Lima, na ocasião, como uma das ações do novo marco
regulatório de educação inclusiva do município. Visando não somente incluir o aluno no mercado formal
de trabalho, mas promover a autonomia produtiva deste e indiretamente muitas vezes da sua rede familiar
Já nos contatos e reuniões iniciais com os empresários e orgãos representativos da Indústria, feitos pela
técnica responsável em 2008 via se boa receptividade, mas muita incerteza quanto ao que viria em
função da crise financeira mundial vivenciada pelas empresas em 2008. Cortes, perdas, falência o futuro
estava um tanto incerto. Percebíamos pelo tom das conversas que a inclusão das pessoas com
deficiência não estava na pauta imediata das organizações, mesmo nas empresas que possuíam
legalmente a obrigatoriedade da inclusão. Frente às milhares de demissões o foco da empresa e dos
empregados era conseguir sobreviver à crise e a incerteza do que estava por vir. Neste período as ações
do projeto tiveram foco na adoção de novas medidas como a psicóloga estava assumindo recentemente o
projeto era necessário conhecer o público alvo o que foi possível com a implantação do diagnóstico
profissiográfico na Escola de artes e Ofícios(EAO) manhã e tarde, o estabelecimento de metas semestrais
mensuráveis, o estreitamento da relação de trabalho com o Projeto Parceria Pedagógica(1) através das
visitas semanais da psicóloga ao Educação de Jovens e Adultos (EJA) com a equipe ida da psicóloga a
EJA educação de Jovens. Percebeu se também que uma grande parcela do público alvo estava nestes
segmento. Posteriormente com os resultados positivos crescentes do projeto foram sendo descortinados
e abarcados outros públicos como os alunos em situação de evasão escolar que voltaram motivados pelo
fator trabalho. Os alunos em faixa etária de 14 a 16 anos com diagnóstico de deficiência mental cuja
realidade ainda não era contemplada pelo mercado de trabalho apesar de haver legislação pertinente
sobre o assunto. Fato este que esta sendo equacionado neste ano de 2011 com a parceria da instituição
com entidades responsáveis por programas voltados para este público como a Associação
profissionalizante do menor e a ONG Rede Cidadã. No trabalho de captação de novas parcerias realizado
também no primeiro semestre de 2011 conseguiu se inserir a instituição na listagem do Ministério do
Trabalho fato que ampliou substancialmente a procura das empresas pelos trabalhos prestados através
do projeto Trabalhar é Legal.

Assim como pode se observar com passar do tempo o projeto foi ampliando suas parcerias internas e
externas, sua área de abrangência , atuação e alcançando vôos maiores. Atualmente podemos destacar:
a) Parcerias Internas na instituição - dialoga se com vários espaços destacando se
Ø escola de artes e ofícios;
Ø parceria pedagógica;
Ø ofina de mães;
Ø oficina de teatro;
Ø oficina de Percurssão;
Ø complementação;
Ø horta.

b) Parcerias Internas entre secretarias municipais – observa se um início de trabalho em rede destacando
se
Secretaria de Educação:
Ø Educação de Jovens e Adultos EJA;
Ø Centro Psico pedagógico CPP;
Ø Projeto Vida Nova;
Ø Fórum Intermunicipal do Trabalho;
Secretaria de Meio Ambiente:
Ø Centro de Convivência Ambiental;
Secretaria Saúde:
Ø Capes;
Ø Ambulatório de Saúde Mental.
c) Parcerias externas
ONG Verde Novo através do Centro Vocacional Tecnológico e do Viveiro de Mudas, PUC MG projeto
Sociedade Inclusiva, Federação das Indústrias de Minas Gerais FIEMG, ONG Rede Cidadã, Assprom,
Centro de Vida Independente CVI de Belo Horizonte, Assembléia Legislativa de Minas Gerais com a
Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Coordenadoria de Atenção a Pessoa com Deficiência
do Estado de Minas Gerais CAADE, Conselho Municipal de Ação Social de Nova Lima, Associação
Comercial de Nova Lima, Centro de Diretores Lojistas CDL de Nova Lima.

d)Empresas: M Martam, Mata Nativa, Ideal Cosméticos, Ricardo Eletro, Mac Donalds, Supermercados
BH, mais recententemente em julho de 2011 Coca Cola FEMSA e Saritur.
e) Número de participantes trabalhando até a data de 22/07/2011: 45
f) Vagas captadas em aberto até a data de 22/07/2011: 120
g) Serviços Oferecidos
Ø Elaboração de Projetos para inclusão de pessoas com deficiência nas empresas;
Ø Orientação aos setores de Recursos Humanos e Departamento Pessoal das empresas parceiras nos
assuntos pertinentes a inclusão e todos os subsistemas de RH;
Ø Recrutamento e seleção;
Ø Adequação quanto as técnicas de Seleção de Pessoal;
Ø Análise de Acessibilidade;
Ø Contratação;
Ø Processos de Desligamentos;
Ø Análise do material utilizado para capacitação;
Ø Orientação das equipes e gestores das empresas parceiras quanto aos aspectos da inclusão;
Ø Encaminhamentos diversos dos participantes para atendimentos na rede municipal de saúde,
confecção de documentos pessoais, capacitação, retornos em situações de evasão escolar;
Ø Realização de visitas monitoradas das empresas a instituição para sensibilização da equipe e gerência
envolvendo: Oficina Teatral, oficina de percussão;
Ø Venda de produtos e brindes para empresas confeccionados pela oficina de Mães e Escola de Artes e
ofícios;
Ø Orientação financeira para famílias e participantes;
Ø Assessoria quinzenal dos lideres imediatos envolvidos nos processos de inclusão;
Ø Acompanhamento quinzenal aos participantes em seu local de trabalho;
Ø Orientação dos participantes e familiares quanto aspectos sobre direitos e deveres no trabalho: férias,
faltas, licenças, etc;
Ø Acompanhamento semanal dos participantes através da realização dos Grupos de Conversação.

2 CONVERSAÇÕES: POSSIBILIDADES E CONSTRUÇÕES

A Conversação é um dispositivo clínico criado pelo psicanalista Jacques-Allain Miller na década de 1990,
com o objetivo de abrir campo para a palavra entre os psicanalistas e desde então vem sendo muito
utilizada para atuação psicanalítica no campo da educação.
Segundo Miller:

A conversação é um modo de associação livre caso seja exito. A associação pode ser coletivizada na
medida em que não somos donos dos significantes. Um significante chama outro significante, não sendo
tão importante quem o produz em um momento dado. Se confiamos na cadeia de significantes, vários
participam igualmente. Pelo menos é a ficção da conversação: produzir – não uma enunciação coletiva –
senão uma associação livre coletiva, da qual esperamos um certo efeito de saber. Quando as coisas me
tocam, os significantes de outros me dão ideias, me ajudam e, finalmente, resulta – às vezes – algo novo,
um ângulo novo, perspectivas inéditas. (SANTIAGO, 2007)

Sendo assim, a proposta da Conversação consiste em abrir espaço para que a palavra seja utilizada de
forma livre, sem pré-conceitos, sem formatos estabelecidos, possibilitando que seja construído um saber
de si mesmo, a partir do sem-sentido vindo do Outro. Ou seja, o que pode aparecer na fala do Outro
poderá tocar o ponto de real do sujeito, desencadeando um desenrolar de significantes e podendo
proporcionar um deslocamento do mesmo de um gozo alienante e, porque não dizer, sintomático, para
uma re-significação possibilitada através do destravamento das identificações, que abre espaço para o
aparecimento do sujeito desejante.
Contudo, é importante destacar que as conversações não têm o objetivo de substituir uma identificação
por outra que seja melhor ou que atenda a um ideal. Conforme Santiago, as conversações conduzidas
pela ética da psicanálise têm o uso da palavra como causalidade psíquica e não em benefício de uma
psicoterapia científica, generalizada e generalizante, que desconhece o sujeito (SANTIAGO, 2007).
É fundamental que a diferença se faça presente nos grupos de conversação, pois eles não se prestam a
formatar ou modular comportamentos e ideias, além do que a diferença é que possibilitará que cada um
demonstre o real, que tem sentido singular e que não pode ser consensualizado, tipificado – dando
abertura para que surjam diferentes respostas dos sujeitos.
Sendo o grupo de conversação um espaço para o uso da fala, faz-se necessário que o mediador esteja
atento para que o grupo não caia no gozo do blá-blá-blá, “deve-se estar atento ao momento de não só
abrir as comportas mas também de fechá-las. Eric Laurent adverte de que deve haver um corte: uma vez
instalada a Conversação pelo dom da palavra, esta terá seu lugar e ao final se recolherá” (SANTIAGO,
2007).
Mas, o que difere os grupos operativos psicanalíticos dos grupos de conversação? O grupo artificial
pesquisado por Freud é uma espécie de organização, de combinação, que podemos desenhar, em
termos cartesianos, com uma linha vertical que se dirige ao Um, ao chefe, e uma linha horizontal que se
dirige ao coletivo dos semelhantes, dos pares, dos irmãos, dos colegas. “Todo grupo artificial se mantém
nessa tensão entre dois vetores, embora algo faça com que essa tensão não seja sentida. (...) o grupo
artificial opera como tal porque ninguém que está nele sabe que se trata de um grupo artificial.” (Digaí-
Maré, 2008) .
Neste tipo de grupo a característica fundamental é a presença do Um, ou seja, da figura do líder,
responsável pela manutenção do mesmo, bem como pela ordem e orientação dos membros. Sem a
presença do líder este grupo facilmente se desfaz.
O cartel, tipo de grupo proposto por Lacan “é um pequeno grupo de trabalho, sem líder, voltado,
sobretudo, para o estudo e a elaboração de textos, mas igualmente para a realização de pequenas
tarefas que Lacan situa na base da instituição criada por ele, a Escola.” (Digaí-Maré, 2008) . Neste
formato a figura do Um, é substituída pelo mais-um, ou seja, sempre a produção de um saber será
proporcionada pelo desejo de cada um em produzir pela escolha em comum e a liderança percorre o
grupo podendo todos os participantes exercerem tal papel em diversas situações.
Em todos os dois formatos de grupo, tanto o artificial quanto o cartel, há a proposição de transmissão de
um saber, sendo ele construído em conjunto ou transmitido por um líder.
Já os grupos de conversação, possuem como metodologia a estratégia de interrogar os discursos
prontos, problematizando o que já se estabeleceu, através do discurso do Outro, questionando supostos
saberes. Por utilizar da oferta da palavra, não apresenta ponto de chegada, pois mais importante do que
aonde chegar é o caminho percorrido para tal. Os encontros têm um calendário determinado, sendo
reservado determinado número de reuniões e, além disso, são estabelecidas regras, juntamente com os
participantes, para que o espaço de conversa seja bem aproveitado por todos. Não objetiva apresentar
soluções para os problemas já que, perante a alienação do gozo, o problema pode tornar-se solução.
Nestes grupos, estar atento às surpresas e ao mal estar que se produz é de suma importância, pois é daí
que se abre a possibilidade do novo, através da emergência do real.
Os grupos de conversação objetivam extrair do coletivo o sujeito, é a busca pelo que há de
particularidade, de singular, dentro daquelas características que unem os participantes.
Apesar da proposta de atuação da Conversação prever que os encontros do grupo devem ocorrer em um
tempo determinado, contemplando um determinado número de reuniões, optou-se pela manutenção das
reuniões dos grupos de conversação sobre o trabalho dentro do Projeto Trabalhar é Legal, pois o objetivo
é que a partir dos encontros de conversação, os participantes se sintam mais confiantes em relação a
seus desejos, podendo criar novas dimensões para sua atuação, deixando o lugar a eles suposto pelo
Outro e, possam assim finalizar as suas participações nos encontros.
Trata-se da idéia de que o processo analítico pode ser realizado em ciclos, e que cada um desses, tendo
sido atravessado, encontra seu fim.

2.1 O grupo de conversação sobre o Trabalho: A etapa inicial

A necessidade de criação de um grupo de Conversação surgiu a partir do momento em que alcançamos a


etapa de inserção das pessoas nos postos de trabalho no ano de 2009. Sendo a metodologia da
Conversação já usualmente estudada e aplicada na instituição anteriormente ao chamado Grupo de
Mães. A experiência de utilizar a mesma metodologia agora em um contexto da temática trabalho, surgiu
direcionada pela coordenação como uma forma de dar voz, vez a este trabalhador que em sua grande
maioria tinha pela primeira vez acesso ao mercado formal de trabalho. E que chagava a esta etapa após
muitas vezes anos de espera pela própria falta de oportunidades.
A primeira fase compreendeu o planejamento do trabalho. Ou seja: período de levantamento bibliográfico,
supervisão semanais para estudo da metodologia e formatação do grupo de trabalho. Paralelamente o
projeto transcorria nas etapas de: divulgação junto as empresas e comunidade, captação das vagas,
visitas monitoradas das empresas a instituição, e a execução dos processos de recrutamento, seleção,
admissão, treinamentos introdutórios junto aos gestores e equipes.

2.2 A execução

Procurou se também inserir as empresas parceiras e seus gestores na elaboração do cronograma físico e
da logística uma vez que a participação dos funcionários inseridos pelo projeto Trabalhar é legal
dependeria destas autorizações dos empregadores. Envolvendo questões trabalhistas e de
deslocamento. Elaborou se uma carta de autorização indo a técnica pessoalmente negociar e discutir com
cada setor de Recursos Humanos e Departamento Pessoal das empresas parceiras do projeto Trabalhar
é Legal. Para explicitar a idéia e a importância da liberação dos funcionários em dia e horários
previamente determinados sem prejuízo da própria remuneração destes ou da qualidade do serviço
prestado. As autorizações foram entregues e recolhidas em dia previamente agendado. Efetuando se
assim um levantamento sobre os horários mais votados para execução dos grupos. Sendo a discussão
desta esta com os empregadores importante para que os funcionários pudessem efetivamente
comparecer as atividades uma vez que haveria a necessidade de ausentar se no meio do expediente de
trabalho uma vez na semana.
Os primeiros participantes desta nova etapa do projetoe m 2008 foram as empresas M Martam, Ricardo
Eletro, Mac Donalds totalizando cinco 5 participantes. Especificamente na empresa Mac Donalds
destacamos nesta turma precursora alguns ganhos significativos a saber: todos estes alunos atualmente
já passaram por período de férias na empresa, três deles tiveram premiações como funcionários destaque
do mês, tendo também a oportunidade de ver sua área de atuação ampliada a outras atividades dentro da
rede alimentícia em que atuam.
Esbarramos atualmente apenas na questão de adaptação dos materiais utilizados para os treinamentos
nesta rede multinacional, nem eles esperavam segundo relatos dos gerentes este avanço, pensavam em
cumprir a cota e manter as pessoas incluídas nos mesmos postos de trabalho mas o empenho e esforço
dos participantes têm surpreendido a cada dia até mesmo a área de RH. Sendo as metodologias
utilizadas no projeto como a Conversação um diferencial citado por todos na empresa.

2.3 O grupo na atualidade e seus significantes

Possuímos desde o início, dois grupos havendo atualmente a demanda para criação de pelo menos mais
dois 02 grupos sendo um deles no período da manhã. Diferentemente do início, onde a composição era
inteiramente de pessoas que já estavam inseridas nos postos de trabalho. Neste terceiro trimestre de
atuação dos grupos ocorreu uma mudança significativa no fluxo de entrada do participante. Hoje após o
contato inicial o participante passa pelas etapas de acolhimento, diagnóstico profissiográfico, inserção nos
grupos. Sendo que atualmente esta sendo feito uma listra de espera para a abertura de novos grupos que
iniciarão suas atividades no segundo semestre de 2011.
O dispositivo utilizado tem na "associação livre coletivizada" o ponto forte de sustentação, pois ela permite
que o "objeto de estudo" seja analisado a partir de uma multiplicidade ou proliferação de significantes.
A associação livre coletiva produziu assim um efeito do saber sobre temas que já permeavam a realidade
deste sujeito e que a partir do trabalho passaram a ter contato com novas realidades.
Vale ressaltar que antes do grupo de conversação iniciar suas atividades, e estando já alguns
participantes trabalhando, pode se observar certa angústia destes por não terem ainda um espaço da
palavra fora do seu ambiente de trabalho. Mesmo a Coordenadora indo semanalmente ao local de
trabalho dos participantes não havia ali espaço adequado para elaboração destes significantes. Percebeu
se assim uma certa angústia inicial dos trabalhadores, sendo que tivemos dois pedidos de demissão
inicialmente coincidência ou não estes ocorreram bem no período de férias da instituição época em que a
técnica atuava ainda sozinha e que onde também não haviam os grupos de conversação. Os grupos
inicias sofreram mudanças desde o início, são abertos, e para alguma empresas é emitido um relatório
com a freqüência dos funcionários que são encaminhadas mediante este controle.
. Possuímos desde o início uma lista de chamada semanal, e as regras do grupo são lembradas cada vez
que iniciava se um novo participante. Atualmente algumas falas e registros são feitos manualmente pelas
psicólogas responsáveis pela condução das conversações. Estes registros são úteis posteriormente nos
estudos de caso. O grupo ao longo do tempo foi percorrendo temáticas que refletiam os momentos
vivenciados no trabalho e os temas invariavelmente voltavam quando do início de um novo participante,
que entrava no processo anterior de admissão já vivenciado pelos demais. O positivo da metodologia é
que uma palavra puxa outra palavra não havendo um saber pré determinado. E também não se esta ali
apenas sendo benevolente, dando a palavra. O que diferencia as conversações conduzidas pela ética da
psicanálise das benevolências é o uso da palavra no dispositivo analítico. Onde não se espera os efeitos
da língua acabam operando. Se fossemos categorizar poderíamos dizer sobre os principais palavras que
repousaram nos grupos desde o início, e que invariavelmente tomam a cena novamente. A saber: Valor
do dinheiro, namoro, regras do trabalho, deveres, respeito no local de trabalho, equipe, diferenças no
ritmo de trabalho, medicação para quem trabalha, crises convulsivas no ambiente de trabalho,
promoções, namoro no trabalho, namoro na web, violência doméstica, violência moral no trabalho, limite
entre o brincar e o ofender, controle financeiro. Algumas palavras remetem a significantes de outros,
dando como diz Miller 2005, idéias. Presenciamos mais recentemente ao fim do semestre um episódio
que certamente produziu associação livre coletiva quando um dos participantes que já era órfão de mãe
perdeu o pai e viu perante a realidade já enunciada no grupo de ter de resolver suas próprias questões
cotidianas sozinho, uma vez que não teria mais o pai que insistia em fazer tudo por ele. Buscou no
mesmo dia do falecimento as técnicas e o grupo da semana iniciando a elaboração deste luto e a
construção desta esta nova etapa.
Outras pessoas lembraram da perda de um ente querido, sendo tocados pelos significantes do outro que
certamente produziram outros significantes, gerando assim no grupo idéias do que fazer para garantir
maior autonomia em questões práticas do cotidiano. Como o uso de cartões, senhas, custo fixo mensal
para se manter, herança, direitos de falta do trabalhador ao perder um parente. Enfim a ética da
psicanálise onde sujeitos desejantes foram capazes de sustentar uma experiência dolorosa mais
significativa através da palavra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o início das suas atividades os grupos constituíram se como espaços para explicitação do
enunciado o que se diz, e da enunciação o que se quer dizer. Nos grupos inicias todos vivenciavam a
etapa da descoberta de que o trabalho formal finalmente chegara. Cada etapa do processo seletivo, do
recrutamento, aos procedimentos admissionais foram preparando o terreno para que o viria a seguir. Uma
vez que os grupos começaram a funcionar bem depois do início das primeiras admissões realizadas pelo
projeto. Percebeu se com isto, como a metodologia da conversação possibilitou para aqueles que
puderam participar dos grupos desde o início do seu contrato de trabalho, uma certa condição mais
positiva frente aos desafios a medida que o uso da palavra foi abrindo a possibilidade da invenção
subjetiva.
.
A cada encontro iam sendo trazidas situações ocorridas no decorrer da semana de trabalho, que
angustiavam o sujeito naquilo que ele criou de fantasia para dar conta do real. As falas iniciais
expressavam palavras como: Nova rotina “Agora eu preciso aprender como chegar ao Shopping sozinha
meu pai não vai me levar sempre” dizia uma das primeiras participantes E.S.V., 23 anos e assim foi a
partir da sua elaboração, esta etapa durou os impressionantes 8 dias. O tempo que ela levou para
começar a ir sozinha da sua casa para a loja de ônibus intermunicipal, ressaltando se que a mesma não
havia anteriormente vivenciado esta rotina. Mas isto foi possível também graças aposta dos pais que até
hoje sustem esta independência continua. Completando se este ano dois anos de atuação no BH
Shopping ela terá seu segundo período de férias, tendo tido a oportunidade de atuar em outra loja da
mesma rede. Percebeu se também nela a melhora crescente da auto estima um maior cuidado com os
aspectos físicos e de higiene. Para trabalhar aprendeu inclusive a maquiar se e as colegas da loja
presentearam a participante com um kit de maquiagem e produtos de beleza logo no início. Bem
adaptada ela hoje neste semestre já diz sobre mudanças no trabalho, na vida pessoal querendo novos
desafios como todo trabalhador, como mulher.
Foi impressionante ver como em cerca de um mês os significantes foram mudando. Nesta nova etapa da
vida destes participantes, antes vistos como incapazes, dependentes Entretanto, no início da participação
dos sujeitos no projeto percebe se que quando questiona se sobre o sujeito que existe ali naquele corpo,
todo aquele saber se desfazia em um não saber. A partir da desconstrução desse saber é que surge a
possibilidade de construir e se deparar com algo não percebido antes. A cada encontro então, eram e são
trazidas novidades sobre este sujeito desejante descobrindo o mundo e a si próprio. Descobertas não de
um sujeito portador de necessidades especiais e dependente e sim, portador de desejos, anseios, sonhos
como todo ser humano.
No trabalho, semanal da conversação são elencados continuamente pelo grupo temáticas que
sinalizavam em direção à ressignificação da deficiência e o papel elementar que o trabalho tem causado
no processo de autonomia desse sujeito.
Têm sido visível também o impacto e a importância que o apoio dos pais tem sobre a construção da
autonomia deste indivíduo. Que de sujeitos que davam trabalho, passaram a ser desejantes deste.
Apropriando-se da sua cidadania que em todo percurso histórico fora negada pela própria família e
sociedade. Atentas a este aspecto iniciamos ao fim deste semestre um primeiro encontro coletivo, que
rendeu reflexões significativas em direção ao trabalho e a autonomia. O que futuramente gerará um
possível grupo de conversação a ser organizado.
.

A conversação aplicada ao trabalho inclusivo vem assim gerando bons frutos sendo uma metodologia de
pesquisa em grupo que considera as particulares dos sujeitos e que têm possibilitado de uma certa forma
perante a trabalho similares do mercado. Conforme relatos das empresas parceiras, a própria
permanência e satisfação das pessoas em seu ambiente de trabalho. Uma vez que a enunciação
coletivizada pelos participantes consegue produzir de maneira inovadora como um efeito de saber, neste
caso sobre o mundo do trabalho.
Assim poderíamos arriscar a dizer que de uma certa forma, contribuímos com este trabalho para a saúde
mental deste trabalhador, em uma prática que pode ser expandida para toda a empresa que têm
aprendido a se humanizar com os processos de inclusão.

REFERÊNCIAS

BERGO, Renata Silva; GERBER, Saulo Pfeffer. Grupo de conversa: um espaço diferenciado de
socialização.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. A Inclusão das Pessoas com Deficiência no Mercado de
Trabalho. 2. ed. Brasília: MTE, SIT, 2007.

RODRIGUEZ, Sandra S. Caldas. Sofrimento Psíquico e Trabalho: possibilidades de inclusão e construção


de cidadania. Belo Horizonte: IEC PUC Minas. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização Saúde
Mental na Prática Contemporânea, 2010.

SANTIAGO, Ana Lydia Bezerra; MIRANDA, Margarete Parreira; VASCONCELOS, Renata Nunes.
Pesquisa em psicanálise e educação: a conversação como metodologia de pesquisa. 2007.

SENRA, Ana Heloísa; DEBBIO, Guilherme Mendonça Del; VIDIGAL, Mariana Furtado. Projeto:
Participação da família na Educação Inclusiva do Município de Nova Lima: A construção de Um Novo
Saber.
RODRIGUEZ, Sandra S. Caldas. Sofrimento Psíquico e Trabalho: possibilidades de inclusão e construção
de cidadania. Belo Horizonte: IEC PUC Minas. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização Saúde
Mental na Prática Contemporânea, 2010.

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