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DE ARACAJU
RESUMO
Análise das condições de trabalho nas fábricas têxteis de Aracaju, no início do século
XX, a partir do discurso literário presente na obra “Os Corumbas” de Amando Fontes.
Foram realizadas pesquisas bibliográficas e documentais de caráter exploratório
utilizando autores como: Certeau (2006), Dantas (2004), Fontes (1937), Engels e Marx
(2003), Netto e Braz (2008), Romão (2000) e Santos (2010). Com isso, observou-se que
a rotina de trabalho nas fábricas era caracterizada por uma estrutura precária
comprometendo a qualidade de vida dos trabalhadores.
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Era exatamente dessa forma que se sentiam os operários das diversas fábricas de
Aracaju, submetidos a condições de trabalho insalubres, como falta de estrutura sanitária
nas fábricas provocando doenças. Os operários passaram a encarar um cotidiano
caracterizado por situações, muitas vezes, mais difíceis que as vivenciadas no campo,
tendo que responder a um mercado sedento por produtividade e lucros, sem levar em
consideração o atendimento aos direitos e necessidades básicas dos operários.
Diante da necessidade do capital e perante toda situação vulnerável da classe
operária é possível analisar a verdadeira função do trabalho e perceber que é através
dele que o ser social se constrói. Segundo Netto e Braz “foi através do trabalho que, de
grupos de primatas, surgiram os primeiros grupos humanos - numa espécie de salto que
fez emergir um novo tipo de ser, distintos do ser natural (orgânico e inorgânico): o ser
social”. (2008. p, 34). O trabalho fornece ao homem a possibilidade de suprir suas
necessidades básicas ao mesmo tempo em que, cria novas necessidades e aprende
novas experiências neste contexto. Porém, como se construir um ser social em um lugar
sem as estruturas necessárias para esta construção? Como construir-se social em meios
que preza pelo individual? Esses questionamentos surgem ao analisarmos as situações
dos operários das fábricas de Aracaju, no início do século XX.
Vários eram os problemas enfrentados pela classe operária como, por exemplo, o
pó do algodão, presente em todos os setores e baixa luminosidade que aumentava ainda
mais o risco de acidentes de trabalho. O depoimento de um ex-operário da Sergipe
industrial S.R.: Manoel Jorge dos Santos, afirma que: “lá é um calor medonho, quando a
gente está na seção da engomadeira. Há dias que com dois minutos está molhado de
suor” (ROMÃO, 2000, p. 94).
As situações difíceis de certa forma obrigavam as pessoas a submeterem-se a
situações fora dos padrões de qualidade de vida. Visto isto, diretamente no romance Os
“Corumbas”, a personagem de Clarinha, uma menina de treze anos, que segundo o autor
trabalhava doente para sustentar a mãe, ganhando quatrocentos réis por dia. uando
Albertina percebe a sua fragilidade e incapacidade de trabalho, pede para que a mesma
volte para casa, visando sua melhora. Com isso, Clarinha responde: “ Não, Não! Ela me
bate! Diz que eu tenho é preguiça.” (FONTES, 1937, p22).
O controle dos salários é mais uma estratégia do modo de produção capitalista
para manter a eterna dependência do homem ao capital. Esta situação é visível em frases
da personagem Rozenda que ao reclamar de sua condição econ mica, mesmo estando
empregada em uma das fábricas t xteis de Aracaju, se expressa de forma revoltosa e
triste: “ ois eu tenho é ódio. Trabalhar que nem formiga e viver assim esmolambada...”
(FONTES, 1937, p.16).
Dentro do contexto operário das fábricas têxteis de Aracaju eram possíveis
encontrar várias mulheres, crianças e pessoas de todas as idades trabalhando. Esse
trabalho promove uma reprodução mais rápida do capital investido pelo burguês,
conforme Marx:
O trabalho dos homens é tanto mais suplantado pelo das mulheres quanto
menores são a habilidade e a força exigidas pelo trabalho manual, ou, em
outras palavras, quanto mais se desenvolve a indústria moderna. As
diferenças de idade e de sexo... Não tem importância social para a classe
operária. Todos são instrumentos de trabalho, cujo preço varia segundo a
idade e o sexo. (MARX, 2003, p.33).
Nas fábricas de Aracaju, os operários do sexo masculino recebiam mais que as
operárias do sexo feminino e menores. Cada fábrica oficialmente podia contratar até dez
indivíduos menores de idade, com salários estabelecidos em tabelas. Entretanto, os
interiores das fábricas revelavam a constante exploração do trabalho infantil, com a
presença de diversas crianças em atividade diárias, descumprindo O Código de Menores
de 1927 e da lei de férias.
A necessidade de produtividade trouxe para as fábricas têxteis o aumento da carga
horária de trabalho, firmando-se agora ininterruptamente, “proveio o desacordo de
haveres as fábricas estabelecido o trabalho noturno, sem, entretanto, aumentar o preço
dos salários” (FONTES. 1971.p.60). Suas jornadas de trabalho variavam entre 10 e 14
horas, onde nem mesmo o decreto federal de n° 21.364, de 4 de maio de 1932 que
dispõe sobre a duração de oito horas para o trabalho industrial, eram obedecidos pelas
fábricas, causando ainda mais uma certa indignação social nos operários de todo o
Estado. Indignação esta estupidamente acalmada pela presença de diversas pessoas que
se encontravam fora das fábricas, desempregadas, em situações decadentes provocando
nos operários ativos um inevitável medo e aquietação por não desejarem também perder
seus postos de trabalho. Toda esta situação se encontra visível nas falas de Celestino e
Zé Afonso, que se sentem injustiçados ao verem os operários trabalhando à noite pelo
mesmo valor que o dia, apesar de desejarem mudanças, eram limitados pela percepção
da força repressora burguesa:
A indignação de Albertina durou pouco, até perceber que sua situação econômica
era mais gritante que aquele constrangimento. Era, de certa forma, obrigada por causa da
necessidade a voltar para a fábrica:
A gente ficou pensando que tem mesmo uma sorte triste. Contra ela não
há remédio que sirva, porque a môça que trabalha numa fábrica pode ser
boa e direita como fôr, que não adianta. É sempre tratada de resto, com
desprezo... Todos torcem a boca pra um lado e vão dizendo: É uma
operária...Como se tôdas fossem iguais!... (FONTES 1971, p.140-141.)
Além destes grandes riscos à saúde pelas péssimas condições estruturais das
fábricas, também ocorriam acidentes de trabalho eram frequentes nos interiores das
mesmas. Além disso, os operários que possuíam restrições ao trabalho não dispunham
da assistência necessária à sua reabilitação, caso da irmã da personagem Isabel que
após vinte anos de trabalho para uma das fábricas de tecidos de Aracaju, encontrou-se
impossibilitada de continuar exercendo suas funções laborais, devido a doenças geradas
pelo trabalho, passou a ser desprezo pela fábrica que reduzia constantemente os
remédios oferecidos para o tratamento de sua doença.
Em meio a todo esse contexto de exploração, apresenta-se a ideologia comunista
através do personagem de Zé Afonso que almejava “A melhoria geral dos ordenados, a
diminuição das horas de serviços, tudo que, enfim pudesse dar ao operário de Sergipe o
conforto e o bem-estar que o trabalhador do Rio e de S. aulo já gozava” (FONTES, 1971
pp.56-57). Já o personagem Pedro possuía o desejo de mudança das estruturas
capitalistas em busca da igualdade, surgindo nele, o desejo de lutar pelos direitos dos
operários.
A necessidade de lutar pelos seus direitos torna-se constante. A concepção de que
as coisas poderiam ser diferentes encontra-se visível nos pensamentos de quase todos
os operários. Conforme Marx, essa luta nem sempre é bem vinda, greves, manifestações
e movimentos operários organizados, de certa forma ameaçam a manutenção da
burguesia, tendo esta que diretamente intervir repressivamente como se pode notar a
seguir:
Segundo relatos de Fontes (1971), mesmo com toda indignação da classe operária
pela ausência da conquista e cumprimentos de seus direitos, esta não consegue exercer
grande pressão devido ao exército industrial de reserva, os desempregados, que
contribuem para a diminuição do poder de luta dos operários, ameaçando-os através dos
fantasmas das demissões e substituições imediatas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: Uma Introdução Crítica. São Paulo.
4 ed. Cortez. 2008.