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Relatório parcial
Equipe Executora: Jonas Vinicius Albuquerque da Silva Santos - Bolsista PIBIC / CNPq
Caxias – MA
2022
ESTUDOS ESTATÍSTICO-LITERÁRIOS EM LITERATURA
LUSÓFONA: JUNÇÃO DE ESFORÇOS ENTRE A LINGUATECA E O PORTAL
MARANHÃO
Projeto de Pesquisa
A literatura é um fenômeno presente na sociedade desde seus primórdios, seja de forma oral
ou escrita. A criação literária é algo extremamente complexo, que pode ser vista como um
todo que possui suas inúmeras particularidades, podemos dizer, por exemplo, que quase toda
literatura produzida no ocidente recebeu influência dos textos homéricos, mas que cada um se
torna especial da sua forma. Para tanto, buscou-se formas de organizar a sexta arte, tornando-
a mais palpável e de maneira que pudesse ser ensinada de forma mais didática, assim surge
uma das formas mais conhecidas que é a organização a partir daquilo que ficou conhecido,
mesmo que com inúmeras controvérsias, de Escolas Literárias. Porém, essa não é a única
maneira de analisar a história da literatura, apesar de ser válida e merece destaque quando
estamos explorando qualquer obra ou conjunto. Com os adventos da tecnologia, a literatura
também encontra espaço no mundo virtual, Franco Moretti (2007) observa como os
computadores nos deram a possibilidade de analisar um conjunto de obras de maneira mais
fácil e rápida, e assim escreve seu livro Distant Reading. Em seus escritos, o italiano analisa a
maneira como os dados computacionais da literatura permitem que possamos explorar um
conjunto enorme de obras de maneira que buscamos nesse conjunto (corpus) apenas o que nos
interessa e assim podemos fazer uma leitura sem precisar ler manualmente todos os livros que
ali estão presentes. Essa maneira de análise abre portas para diversos vieses a serem
explorados, e tendo como base estudos da Universidade de Olso e textos de Santos (2021),
utilizamos a ferramenta AC/DC disponível no site linguateca.pt para analisarmos como os
autores do século XIX exploram a roupa em seus livros. Após a leitura de textos de
Monteleone (2019) e Monteiro e Ferreira (2005), conseguimos perceber aspectos sociais e
econômicos que existem em volta do vestuário desse período e assim analisarmos utilizando o
AC/DC e o corpus literateca, que possui apenas autores lusófonos em domínio público em sua
composição.
Como afirmado pela autora, a moda é uma dimensão social tão rica que seria capaz
de contar todo o trajeto histórico ocidental da humanidade, o que levanta a questão: qual
diálogo poderia se estabelecer entre o retrato da sociedade através da escrita e a moda? Ao
passo que a literatura é um campo da arte tão abastado quanto a moda, e como apontado por
Candido (2014) traz dimensões de uma sociedade. Refinando mais a questão: como a
moda, um aspecto social, está sendo representada dentro da literatura?
Estudos relacionando esses campos da arte já foram feitos e nota-se que há uma
riqueza de possibilidades dentro dessa temática. Santos (2021) desenvolveu uma pesquisa
que aponta a forte menção da roupa nas obras literárias lusófonas e ressalta que:
Como podemos ver, o autor defende que não é possível ler totalmente os aspectos
de um determinado conjunto de livros através da leitura próxima (close reading), não
1
[...] a canon of two hundred novels, for instance, sounds very large for nineteenth-century Britain (and is
much larger than the current one), but is still less than one per cent of the novels that were actually
published: twenty thousand, thirty, more, no one really knows - and close reading won’t help here, a novel a
day every day of the year would take a century or so… And it's not even a matter of time but of method: a
field this large cannot be understood by stitching together separate bits of knowledge about individual
cases, because it isn't a sum of individual cases: it's a collective system, that should be grasped as such, as a
whole [...]
apenas pelo tempo, e sim porque essas obras funcionam como um todo que deve ser
analisado como um tal. O Distant Reading, apesar de ser inicialmente estudado por Moretti,
já existia antes da publicação de seus estudos, o que ele faz é analisar como essa nova
forma está se desenvolvendo e também a nomeia. É nesse conceito que pautamos esta
pesquisa, na leitura através de um todo, nesse caso, no Brasil e Portugal do século XIX.
2. OBJETIVOS:
Objetivo Geral:
Objetivos Específicos:
3. METODOLOGIA:
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES:
BR: 7.764
BR: 6.624
BR: 9.962
BR: 15.060
BR: 40.987
Um estudo da moda desenvolvido por Brandini (2012) aponta que durante o século
XIX houve inúmeras transformações provenientes das revoluções industriais que estavam
acontecendo na Europa, o que influenciou diretamente a vida privada e consequentemente a
moda e a literatura. Como ressaltado pela autora:
Vemos que o século XIX apresentou uma revolução nas estruturas da vida social
e no âmbito privado no Ocidente graças ao desenvolvimento industrial, a
ascensão do capitalismo e a redefinição de valores e códigos morais da vida
urbana, elementos formadores da condição que concebemos como
‘modernidade’. A noção de progresso constituiu a base das transformações
materiais e sociais ocorridas na época. O poder da tradição sucumbiu em face do
poder descentralizado da inovação e a sedução do novo estilizou a vida urbana e
as relações humanas, gerando novos padrões de feminilidade e apresentação da
imagem pública (BRANDINI, p.2, 2012).
Pode-se notar a partir das frases retiradas dos resultados distribuídos por
concordância como os autores eram influenciados pelos ideais da moda que estavam sendo
repassados pela Europa. Estariam esses autores usando as influências literárias para mostrar
para o público como os novos princípios exportados da Inglaterra deveriam fazer parte dos
costumes das sociedades brasileira e portuguesa?
Também é digno de ressalva que o Brasil, durante as primeiras décadas do século
XIX ainda era colônia portuguesa, e Portugal foi um país sob a proteção britânica, já que a
família imperial veio se refugiar em terras brasileiras devido aos ataques franceses
liderados por Napoleão. Mesmo que isso represente apenas o começo daquele período,
podemos considerar que impactou o resto do século como pode ser visto nas obras literárias
analisadas em que o vestuário é um dos principais aspectos descritos da sociedade
brasileira.
Já na literatura brasileira, esse período foi predominantemente dominado pelo
romantismo, movimento literário que veio após o arcadismo, e deu um salto para a
construção da identidade cultural brasileira. Sobre o romantismo brasileiro e seus
escritores, Bosi (2015) aponta:
Apesar disso, as imigrantes provenientes da Europa não são as únicas que possuíam
identidade visual e merecem destaque. Durante o século XIX e até hoje, excluímos muitas
vezes as pessoas que foram forçadas a vir ao Brasil como escravas, o seu impacto na cultura
brasileira pode ser visto até hoje, seja na comida, língua e também na roupa. Porém, para os
africanos e seus descendentes, muitos elementos da sua cultura se misturaram com fatores
europeus para conseguirem continuar a existir, essa mistura pode ser vista no que hoje
chamamos de afro-brasilidade.
Segundo Monteiro e Ferreira (2005):
Do ponto de vista estético e formal, a roupa que se originou de tal conjuntura é o que
ficou conhecido como traje de crioula, formado basicamente por uma saia rodada, o
camisu, com bordado conhecido como richelieu ou com renda renascença, o torço ou
turbante, branco ou colorido, e o pano-da-costa, podendo em diferentes ocasiões ser
acrescido das jóias, como correntões e balangandãs e da bata sobre o camisu [...]
(MONTEIRO; FERREIRA, p. 390, 2005).
Esse trecho mostra como a descrição das roupas usadas por escravas também estava
presente na literatura, uma vez que a camisa de renda e o turbante são destacados nos textos
lidos como uma das principais roupas dessas mulheres da época. Também podemos observar
que o autor opta por descrever o traje, mostrando como a vestimenta também é um fator
importante para a caracterização das baianas.
REFERÊNCIAS:
BRANDINI, Valéria. (2012). Moda, comunicação e modernidade no século XIX: a
fabricação sociocultural da imagem pública pela moda na era da industrialização. Revista
Interin, 6(2).
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 13 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul,
2014. MORETTI, Franco. Graphs, maps, trees. 2. Ed. New York: Verso, 2007.
BOSI, Alfredo. História Concisa da literatura brasileira. 50 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
MORETTI, Franco. Distant reading. Londres; Nova York: Verso, 2013.
ALMEIDA, Julia Lopes de. O livro das noivas. Rio de Janeiro: Castorino Mendes, 1929.