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FUESPI
2013
S5861v Silva, Assunção de Maria Sousa e.
Visão panorâmica das literaturas africanas de língua
portuguesa / Assunção de Maria Sousa e Silva. – Teresina :
FUESPI, 2013.
135 p.
ISBN :
Vice-presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Vice-reitor da FUESPI
Nouga Cardoso Batista
Coordenadora da UAB-FUESPI
Márcia Percília Moura Parente
Coordenadora do Curso de
Licenciatura Plena em Letras – Português
Ailma do Nascimento Silva
Coordenadora de Tutoria
Maria do Socorro Rios Magalhães
UAB/UESPI/NEAD
Coordenadora de Produção de Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),
Material Didático NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Cândida Helena de Alencar Andrade Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182
Autora do Livro Web: ead.uespi.br
Assunção de Maria Sousa e Silva E-mail: eaduespi@hotmail.com
OBJETIVOS
• Entender os porquês da inclusão das literaturas africanas de língua portuguesa
no ensino de Letras no Brasil;
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Saiba mais
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Glossário
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Atividades de aprendizagem
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Resumo
Atividade complementar
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Para finalizar
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UNIDADE 2
LITERATURA ANGOLANA
OBJETIVOS
• Compreender o contexto e as condições de produção para a identificação das
temáticas desenvolvidas da literatura angolana;
2. Literatura Angolana
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Mapa Angola
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Saiba mais
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Glossário
Saiba mais
Para saber mais sobre a Casa dos Estudantes do Império (CEI): site
http://www.dw.de/casa-dos-estudantes-do-imp%C3%A9rio-ber%C3%A7o-de-
l%C3%ADderes-africanos-em-lisboa/a-16233230.
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Leitura complementar
Atividade de aprendizagem
Consciencialiazação
Medo no ar!
em cada esquina sentilenas vigilantes incendeiam olhares
em cada casa
se substituem apressadamente os fechos velhos
das portas
e em cada consciência
fervilha o temor de se ouvir a si mesma
Acontece que eu
homem humilde
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Atividade complementar
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Agostinho Neto
http://eportuguese.blogspot.com.br/2009/09/antonio-agostinho-neto.html
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Criar
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho-sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos.
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
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Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas
[do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
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com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Fonte:http://resistente.3e.com.pt/joomla/index.php?option=com_content&view=article&i
d=39:antonio-jacinto-poeta-angolano&catid=2:trabalhos-publicados)
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Monangamba
Quem?
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- Quem?
̶ “Monangambééé...”
Poema da alienação
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“remexe remexe
paga dinheiro
vem dormir comigo”
“monangambééé”
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Glossário
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Sô Santo
Banquetes p´ra gentes desconhecidas
Lá vai o sô Santo... Noivado da filha durando semanas
Bengala na mão Kitoto e batuque pró povo cá fora
Grande corrente de ouro, que sai da Champanha, ngaieta tocando lá dentro...
lapela Garganta cansado:
Ao bolso... que não tem um tostão. “coma e arrebenta
e o que sobra vai no mar...”
Quando sô Santo passa
Gente e mais gente vem à janela: Hum-hum
- “Bom dia, padrinho...” Mas deixa...
- “Olá!...” Quando Sô Santo morrer,
- “Beçá cumpadre...” Vamos chamar um Kimbanda
- “Como está?...” Para ngombo nos dizer
- “Bom-om di-ia sô Saaanto!...” Se a sua grande desgraça
- “Olá, Povo!...” Foi desamparo de Sandu
Ou se é já própria da Raça...”
Mas por que é saudado em coro?
Porque tem muitos afilhados? Lá vai...
Porque tem corrente de ouro descendo a calçada
A enfeitar sua pobreza?... A mesma calçada que outrora subias
Não me responde, avó Naxa? Cigarro apagado
Bengala na mão...
- “Sô Santo teve riqueza...
Dono de musseques e mais musseques... ... Se ele é o símbolo da Raça
Padrinho de moleques e mais moleques... ou a vingança de Sandu...
Macho de amantes e mais amantes,
Beça-nganas bonitas (Poemas, 1961; No reino de Caliban
Que cantam pelas rebitas: II Antologia panorâmica de poesia
“Muari-ngana Santo africanas de expressão portuguesa,
dim-dom 1974, p. 166-167)
ualó banda ó calaçala
dim-dom
chaluto mu muzumbo
dim-dom...”
Sô Santo...
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Glossário
Kuakié:amanheceu!
Makèzu: composto de cola e gengibre. Desjejum tradicional de composto
de noz de cola, também conhecido como obi, fruto das plantas pertencentes
ao gênero Cole da subfamília Sterculioideae e gengibre, que é mastigado.
Baixa: centro da cidade. No tempo colonial, habitado pelos brancos.
Mbundu kene muxima: O quimbundo (as pessoas) não têm coração.
Musseques: bairro de lata periférico da Luanda, geralmente de terrenos
arenosos (Um – onde; seke, areia)
Beça-nganas: raparigas
Muari-ngana: senhor, patrão, chefe
Ualó banda ó calaçala: ei-lo subindo a calçada
Kitoto: cerveja de milho
Chaluto mu muzumbo: de charuto ou cigarro nos lábios
Kimbanda: (quimbanda), curandeiro
Ngombo: deus da verdade
Atividades de aprendizagem
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Rapariga
Filha de Tembo
organizo o milho
a falta de limite...
Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.
***
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VOU
para o sul saltar o cercado.
(TAVARES, Paula. Amargos como frutos, Poesia reunida,
p. 55)
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Venho de um sul
Vim ao leste
dimensionar a noite
em gestos largos
que inventei no sul
pastoreando mulolas e anharas
claras
como coxas recordadas em Maio.
Venho de um sul
medido claramente
em transparência de água fresca de amanhã.
De um tempo circular
liberto de estações.
De uma nação de corpos transumantes
confundidos
na cor da crosta acúlea
de um negro chão elaborado em brasa.
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O Sul
Atividade de aprendizagem
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Atividade de aprendizagem
Leitura complementar
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Atividade complementar
Fórum: Socialize o pequeno texto que você elaborou sobre o conto “Estória
da galinha e do ovo” de Luandino Vieira.
Resumo
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Para finalizar
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UNIDADE 3
LITERATURA MOÇAMBICANA
OBJETIVOS
• Conhecer as fases e momentos decisivos da literatura moçambicana;
3. Literatura Moçambicana
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Mia Couto
http://catracalivre.com.br/sp/tag/mia-couto/
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Paulina Chiziane
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/265-generos-em-
noticias/16623-o-feminismo-negro-de-paulina-chiziane
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Atividades de aprendizagem
Atividade complementar
Saiba Mais
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surgiram coleções como Karinga (para obras em prosa), Timbila (para obras
de poesia) e Início (para obras de jovens escritores). A revista Charrua, já
extinta, foi uma das vias de divulgação de jovens escritores, da qual fazia
parte Ungulani Ba Ka Khosa. Para além das publicações, a associação
também organiza conferências, jornadas e debates que visam a divulgação
da literatura moçambicana no país. Para tal, foi instituído o Círculo de
Leitores da Associação dos Escritores Moçambicanos (CLAEMO). O
escritor José Craveirinha foi o primeiro presidente da associação. (Fonte:
http://www.infopedia.pt/$associacao-dos-escritores-mocambicanos-(aemo))
Glossários
José Craveirinha
http://www.triplov.com/acacio/craveirinha.html
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Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/BLBLluiscarlospatraquim01.html)
Patraquim escreveu Monção, edições 70/INLD, Maputo, 1980. A
inadiável viagem, AEMO (Associação Dos Escritores Moçambicanos),
Maputo, 1985. Vinte e tal novas formulações e uma elegia carnívora, ALAC,
Lisboa, 1992. Mariscando luas, de parceria com Ana M. Leite e Chichorro
(pintura), Veja, Lisboa, 1992. Lidemburgo blues, caminho, Lisboa, 1997.
O osso côncavo, Caminho, Lisboa, 2005. Foi distinguido com o Prémio
Nacional de Poesia, Moçambique, em 1995.
IV) Por fim, Eduardo White tende a recuperar, conforme Fonseca
[em pdf] “as marcas e os lugares da moçambicanidade e faz um pacto com
o que é o sustentáculo da vida: os sentimentos de afetividade pela terra e
pelos homens que povoam ‘o país dos sabores’. O escritor publica: Amar
sobre o Índico (1984), Homoíne (1987), O país de mim (1988), Poemas
da ciência de voar e da engenharia de ser ave (1992), Os materiais do
amor (1996), O desafio à tristeza (1996) e Janela para oriente (1999).
Fonseca [em pdf] acrescenta que ele “faz parte da geração que viveu a
experiência da guerra e suas adversidades, [...] redimensiona a sua voz
poética arrumando as aflições, as carências individuais, para atingir o todo,
a coletividade inserida num cenário histórico e envolvido num processo de
transformação constante”.
I ) Noémia de Sousa
Se me quiseres conhecer
Se me quiseres conhecer,
estuda com olhos bem de ver
esse pedaço de pau preto
que um desconhecido irmão maconde
de mãos inspiradas
talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.
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Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre minha alma de África,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
duma canção nativa, noite dentro...
Saiba mais
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II) Craveirinha
Nem nada!
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
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Naturalidade
Europeu me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam.
Mastro
Mastro,
Eis que dentro deste instante
O mundo se principia a iniciar.
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Musgo verde
Sal das praias
Resto que nutro
No hálito quente dos animais.
(Amar sobre o Índico, 1984, p. 15)
sobre a casa
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(PATRAQUIM,In.http://www.lusofoniapoetica.
com/artigos/luis-carlos patraquim/Metamorfose.
html)
Atividade de aprendizagem
Leitura complementar
Atividade complementar
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Resumo
Para finalizar
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UNIDADE 4
LITERATURA CABOVERDIANA E GUINEENSE
OBJETIVOS
• Discutir a relação dos textos literários caboverdianos e guineense com a
situação ou contexto sócio-histórico e cultural e Cabo Verde e Guiné Bissau,
respectivamente;
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Vera Duarte
http://brasilcaboverde.blogspot.com.br/2010/10/vera-valentina-benros-de-melo-duarte.html
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Sabia mais
4.1.2.3 (Enxerto 2)
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não pode ser considerada, no entanto, como uma totalidade, mas antes
como uma série de valores compósitos por vezes, na medida em que nas
ilhas crioulas se encontram lado a lado formas de modernismo gritante
a que se opõem arcaísmos tenazes. Por isso o poeta começa por lutar
contra o isolamento forçado que fez muito naturalmente do mar a rota
de esperanças raramente satisfeitas. O homem de Cabo Verde é um ser
inquieto, sempre atormentado pelo desejo e pela esperança da partida.
Trata-se duma esperança ilusória mas à qual não pode furtar-se, dadas as
condições econômicas da ilha: o homem é o ser da fome. A opressão que
o cabo-verdiano sente ao contacto com esta terra árida, desolada durante
longos e intensos períodos de seca geradores de forma, domina toda a
poesia local. No vértice da pirâmide social, os poetas fazem-se assim
eco dum povo que protesta contra o condicionamento geoeconômico do
arquipélago, que nenhuma intervenção técnica eficaz melhorou. É por isso
que grande número de poemas canta o drama do povo perante a seca, os
homens morrendo com os animais, rebentando por caminhos perdidos à
procura de água e pasto. Outros poemas exprimem, em contrapartida, a
esperança de que venha chuva e outros ainda entoam o cântico exultante
do povo depois da chuva, quanto todo o arquipélago entrevê um ano de
abundância que fará recuar por muito tempo o espectro da fome. A hora da
partida (hora di bai) representa no complexo psicológico do homem cabo-
verdiano um sentimento colectivo: o sentimento de que a emigração constitui
a única solução válida para os problemas económicos. E é naturalmente na
hora da partida que surge a inquietação provocada pela ruptura dos laços
que prendem o ser humano à sua terra natal: o ritmo pelágico, na hora da
partida, não anula os laços telúricos tradicionais do homem cabo-verdiano.
Na verdade podemos afirmar que entrevemos na poesia cabo-verdiana a
existência de dois ritmos que polarizam as grandes linhas de força da vida
coletiva. [...]
Deste modo descobrimos os dados duma tragédia eterna
que obriga ao êxodo de grandes massas de habitantes, quer para os
Estados Unidos (direcção cada vez menos tomada devido às dificuldades
econômicas e outras com que o cabo-verdiano depara) quer para São
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Atividade de aprendizagem
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Onésimo Silveira
http://www.rtc.cv/index.php?paginas=21&id_cod=5146
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Atividade de aprendizagem
(1) Prelúdio
E a vegetação
Quando o descobridor chegou cujas sementes vieram presas
à primeira ilha nas asas dos pássaros
nem homens nus ao serem arrastadas para cá
nem mulheres nuas pelas fúrias dos temporais.
espreitando
inocentes e medrosos Quando o descobridor chegou
detrás da vegetação. e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
Nem setas venenosas vindas do ar o pé direito na areia molhada
nem gritos de alarmes e de guerra
ecoando pelos montes. E se persignou
receoso ainda e surpreso
Havia somente pensando n’El-rei
as aves de rapina nessa hora então
de garras afiadas nessa hora inicial
as aves marítimas começou a cumprir-se
de voo largo este destino ainda de todos nós.
as aves canoras
(Jorge Barbosa, Caderno de um ilhéu,
Assobiando inéditas melodias.
1956; No reino do Caliban, p. 90-91)
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Pedirei IV
Suplicarei Saudade fina de Pasárgada...
Chorarei
Não vou para Pasárgada Em Pasárgada eu saberia
onde é que deus tinha depositado
Atirar-me-ei no chão o meu destino...
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue É na altura em que tudo morre...
(cavalinhos de nosso senhor correm no céu;
Não vou para Pasárgada a vizinha acalenta o sono do filho rezingão;
Tói Mulato foge a bordo de um vapor;
Gritarei o comerciante tirou a menina de casa;
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Um pilão fala
Árvores de fruto (7) Nova Largada
Ao meio dia
E tambores erguem Oh ídolo de pouca terra
Na colina De coração a bombordo
Um coração de terra batida Naquela homilia /
De terra & sangue /
E longe Em transfusão /
Do marulho à viola fria O peito já louco de marulho
Reconheço o bemol De coração a bombordo
Da mão doméstica
Que solfeja (Corsino Fortes, Árvores
e tambor, 1986, p. 27).
Mar & monção mar & matrimônio
Pão pedra palmo de terra
Pão & patrimônio. (9) Companheiro
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Atividade de aprendizagem
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para assim, sem abre mão de suas peculiaridades, cantar sua terra, seus
problemas e expressar uma identidade estético-literária. Diante deste breve
comentário, leia o poema “Vou me embora pra Pasárgada” de Manuel
Bandeira, “Anti-evasão” de Ovídio Martins e Itinerário de pasárgada, de
Oswaldo de Alcântara. Em seguida, explique as posições dos dois poetas
caboverdianos diante do tema em diálogo com Bandeira.
3 – Explique a condição do eu lírico em um dos poemas de Vera
Duarte.
Manuel Lopes
http://www.africanidade.com/articles/390/1/AAores-homenageia-escritor-cabo-
verdiano-Manuel-Lopes/Paacutegina1.html
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Textos em prosa
(1) Fragmento do conto “Galo cantou na baia”
“A última que fez entusiasmou deveras .(...) Foi depois dum baile
no Tolentino, na madrugadinha (...) com o vento do mar a bater-lhe na cara
e as ondas fosforescentes ali a dois passos rebolando na areia invisível,
‘como Vênus na sua luminosa aparição, parte onda parte mulher...ou meia
morna’.(...)
Quando sinto que estou para ‘ter morna’, procuro sombra. E sombra
com mar diante. Só com mar diante...
A mesma inquietação voltou a formigar-lhe lá dentro, transformada
em vagas palavras confusas e em notas de música sem sentido. Esta,
não obstante, já revelava um ritmo embalado, de remo na forqueta, mas
era, por enquanto, uma melopéia estranha, elementar, quase reminiscente,
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Glossário
Saiba mais
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cabo%20verde&f=false .
Leitura complementar
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http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/14152011-01.pdf
Sobre a literatura caboverdiana, Simone Caputo faz percurso teórico do
início até a atualidade no artigo Metamorfoses da literatura cabo-verdiana
do nascimento à atualidade: da produção de Manuel Lopes aos novos
paradigmas visuais. Disponível em http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/mes/08.
pdf .
Atividade complementar
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Mapa Guiné-Bissau
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99,7% da população muito anos depois de Cabo Verde que teve a seu
primeiro liceu em 1860. A imprensa chegou à Guiné apenas em 1879,
enquanto que nas outras ex-colônias isto se deu em 1842 e 1857. Os
expedientes oficiais (boletins) com secções literárias começaram a existir
apenas a partir de 1880 e perdura até 1974. A primeira editora, a Editora
Nimbo, que teve uma duração passageira, chegou em 1987, depois da
independência. Tudo isso e além da falta de bibliotecas, de editoras, e de
ações por parte da União Nacional de Artistas e Escritores contribuíram
para o limitado desenvolvimento da literatura. Mesmo diante desses
entraves, podemos identificar quatro fases na literatura de Guiné Bissau,
segundo Filomena Embaló, escritora e teórica desta literatura que nasceu
em Angola, mas é guineense de coração. Vamos a suas considerações
sobre a periodização da literatura guineense:
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Visão Panorâmica das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
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“Mãe África
Vexada
Pisada
calcada até às lágrimas
confia e luta
e um dia a África será nossa…”
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Fui levado
a conhecer a nona sinfonia
Beethoven e Mozart
na música
Dante, Petrarca e Bocácio
na literatura
… Mas de ti mãe África ?
Que conheço eu de ti ?
a não ser o que me impingiram
o tribalismo, o subdesenvolvimento
e a fome e a miséria como complementos…
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“Quisera
nesta vida
… afagar teus cabelos
sugar o doce dos teus olhos
transportar em arco-íris
o néctar da tua boca
e juntos caminharmos
ante a ânsia e o sonho …”
“A vida
nasce de gotas de Amor
- a morte
acontece no tempo
entre mim e a vida
paira um vácuo
- com sorriso
aguardo o destino.
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Glossário
Saiba mais
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Abdulai Silá
Mistida (Fragmento)
[...]
– Afinal, quem és tu? – indagou algo intrigada Mama Sabel (...)
– Eu sou a mulher dele...
– De quem?
– Do professor!
– Mas qual professor? (...)
– E quantos professores nesta terra é que foram afastados dos
seus alunos, das suas escolas, das suas famílias? Quantos?
– Hmmm?
– Um só!
– Tens a certeza?
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Glossário
Atividade de aprendizagem
1 – Você tem acima poemas de Odete Semedo, retirado do livro “No fundo
do canto em que a autora escreve em português, mas também no seu
dialeto crioulo. Diante do contexto literário de Guiné Bissau, explique porque
a autora tem a preocupação de poetisar bilíngüe.
2 – Quem seria esse “eu” e o “tu” na interlocução que se realiza no poema
“Bissau é um enigma”. Jusfique o estado emocional do eu lírico.
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Atividade complementar
Resumo
Para finalizar
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UNIDADE 5
LITERATURA SÃO-TOMENSE
OBJETIVOS
• Saber sobre o contexto literário são-tomense;
5. Literatura São-tomense
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O Batuque
I
Nestas noites assim de tanto frio
Noites de nostalgia,
Noites de medo e azar
Em que o vento p’la serra uiva sombrio,
A minha alma repleta de agonia
Voa aflita p’ra o meu distante lar
Noites da minha terra!...
Èbrias de encanto e de perfume que erra...
Noites faulhando lume qual se os astros
Descessem e na terra então, de rastros
Reluzissem!
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Visão Panorâmica das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
(foto) II) Francisco José Tenreiro (1921 – 1963) , que publicara Ilha de
nome santo, em 1942, na coleção neo-realista Novos cancioneiros, em
Coimbra, torna-se, segundo Manuel Ferreira (1976, p. 423) o “primeiro
poeta verdadeiramente africano de expressão portuguesa”. O poeta são-
tomense era também geógrafo, sociólogo, crítico literário e professor. A sua
tese de doutoramento (Faculdade de Lisboa) em 1961, é obra pioneira nos
estudos sobre São Tomé e Príncipe, mas na poesia, Tenreiro impulsiona
a literatura são-tomense. Seu poema “Coração de África”, conforme Mata
(1995, p. 338), que
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Atividades de aprendizagem
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(Enxerto)
Nascida em Santana da ilha de São Tomé, São Tomé e Príncipe,
em 1961, Maria da Conceição de Deus Lima, estudou jornalismo, trabalhou
na imprensa escrita e televisionada de seu país. Participou ativamente
da cultura da ilha, fundando em 1993, o semanário independente “O país
Hoje”, já extinto. Estudou no King’s College de Londres, onde se licenciou
em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros. Atualmente é jornalista na
BBC, tem publicado três livros de poemas “O Útero da Casa” (2004), “A
Dolorosa Raiz do Mincondó” (2006) e “O país de Akendenguê” (2012).
Considerada uma das vozes de destaque na poesia africana do período
pós-colonial, começou a escrever na década de 70, e em 1979, participou
da Sexta Conferência de Escritores Afro-Asiático. A partir deste período,
Lima começou a publicar poemas em jornais e antologia, sendo esses
recolhidos e publicados no seu primeiro livro supracitado.
Conceição Lima sobressai-se no contexto da literatura são-
tomense cuja preocupação estética apresenta uma superação da fase
de “panfletização e sloganização da escrita” advinda da voz de Alda
Espírito Santo, momento em que, segundo Inocência Mata, “a ideologia se
sobrepunha ao trabalho da palavra poética” (Mata, 2010, p. 71). Lidar com
as palavras surge de suas relações familiares. Em encontro4 com alunos
do Colégio de Amorim, Póvoa de Varzim/Portugal (2009), Conceição Lima
reporta-se ao ensinamento do pai sobre o poder da palavra. Quando
pequena, o pai compunha canções para a mãe quando esta ficava zangada
com ele e então Lima percebia que as palavras então tinham poder de lhe
voltar à tranquilidade, visto que a mãe voltava às pazes com o pai. Todavia,
a menina também notava que as palavras feriam, já que a zanga da mãe
também era porque antes o pai a tinha magoado através de palavras. Lendo
os poemas de Lima, há de se reparar a força que as palavras impõem nos
4 “Encontro emocionado de Ivo Machado e Conceição Lima com alunos do Colégio de
Amorim” http://www.cm-pvarzim.pt/, 2009.
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a) PROPOSTA
b) A HERANÇA
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c) AFROINSULARIDADE
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Glossário
Saiba mais
Leitura complementar
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Atividade complementar
Fórum:
A poetisa Conceição Lima produz uma poética intensa e densa que discorre
sobre a imaginada nação são-tomense explorando diversos aspectos. Leia
e se possível releia os poemas aqui elencados e discuta com seus colegas
sobre a forma como ela apresenta o seu lugar, a sua terra.
Resumo
Para finalizar
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Referências Bibliográficas
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AVALIAÇÃO DO LIVRO
Prezado(a) cursista: