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Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Editoração
Patrícia Souza Ferreira Rosa
Revisão textual
Erlane Silva Nunes
Diagramação
Jessica de Paula
Ilustrações
Rodrigo de Melo Rodovalho
Depositphotos. Acervo Uniube
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
CDD 808.899282
Sobre as autoras
Kátia Maria Capucci Fabri
Todo esse percurso é proposto para ser realizado em obras literárias que
contemplem a linguagem verbal e/ou a linguagem visual, imagética, e
ambas dialogando no mesmo nível, com o mesmo valor significativo na
composição da narrativa.
VIII UNIUBE
Introdução
O capítulo introdutório do livro de Literatura Infantil busca
apresentar a visão da literatura destinada às crianças e a
sua importância como formadora de um leitor infantil criativo,
participativo e encantado por livros. Por muito tempo destinava-
se apenas à transmissão de normas e valores do mundo adulto,
totalmente distanciada do deleite e da fruição. Essa postura
atribuiu aos textos literários uma função exclusivamente educativa,
afastando-se das bases da Literatura Infantil que a fundamenta
como fenômeno de linguagem e arte.
Objetivos
Ao final dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja
capaz de:
• Explicar a relação entre a sociedade e o desenvolvimento da
criança;
• Reconhecer os primeiros gêneros textuais destinados às
crianças;
• Discorrer sobre a Literatura Infantil e, especificamente, sobre
a brasileira;
• Refletir sobre a importância da Literatura Infantil para o
desenvolvimento da criança.
UNIUBE 3
Esquema
1.1 Panorama geral da Literatura Infantil
1.1.1 As fábulas: origem, história e características
1.1.2 A origem dos contos de fadas
1.2 A Literatura Infantil no Brasil
1.3 O que é Literatura Infantil?
1.4 A importância da literatura para o desenvolvimento da criança
1.5 Conclusão
SAIBA MAIS
Você já ouviu falar de preceptor? Sabe quem é e o que fez esse profissional?
A figura do preceptor teve bastante importância nos séculos mencionados
nesse item, porque foi ele o responsável pelo ensino e formação de crianças
e adolescentes. Os preceptores eram mestres que geralmente habitavam
na mesma residência que seus aprendizes, participando da vida doméstica
e sendo responsáveis pela instrução geral do aluno a ele confiado. Pode-se
afirmar que o preceptor é o precursor do professor. (BITTAR & FERREIRA
JÚNIOR, 2002 apud BELLOCCHIO, 2019).
Esse gênero possui uma peculiaridade que o distingue dos demais textos
que é a presença do animal, colocando-o em uma situação tipicamente
humana e quase sempre exemplar como o leão representa a força, o
poder; a raposa é o símbolo da astúcia; o lobo, por sua vez retrata a
dominação, o poder etc.
Como foi uma das primeiras espécies narrativas a surgir, logo foi
reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (sec. VI a.C.) e aperfeiçoada
séculos mais tarde pelo escravo romano Fedro (séc. I a. C). No séc. XVI,
ela foi descoberta e recriada por Leonardo da Vinci, mas sem grande
repercussão. (COELHO, 2012).
EXEMPLIFICANDO!
A CIGARRA E A FORMIGA
A cigarra, sem pensar em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno e, então,
sem provisão na despensa,
como saída, ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até o bom tempo voltar.
─ “Antes de agosto chegar,
pode estar certa a Senhora:
pago com juros, sem mora.”
Obsequiosa, certamente,
a formiga não seria.
─“Que fizeste até outro dia?”
perguntou à imprevidente.
─ “Eu cantava, sim, Senhora,
noite e dia, sem tristeza.”
─ “Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança, agora...”
UNIUBE 9
É possível inferir, inclusive, que a cantora ao levar uma vida de festa, não
conseguiu obter alimentos para nutrir-se e, assim, encontrava-se “sem
provisão na despensa”. Tal situação de pobreza é apresentada como
resultado de uma atitude impensada. Nessa condição precária submete-
se a um empréstimo de qualquer alimento a ser pago em curto prazo e
com juros, sem qualquer exigência quanto à qualidade e/ou quantidade
do produto. A narração apresenta, assim, uma moral, ou seja, quem só
diverte deve padecer e ainda suportar a zombaria de quem trabalha.
aos filhos dos nobres. Perrault evidencia suas intenções: “seus contos
pretendem conter uma moralidade louvável e instrutiva, mostrando
que a virtude é sempre recompensada, e o vício é sempre punido,
estabelecendo uma relação direta entre a obediência e a possibilidade
de uma boa vida” (TATAR, 2004).
EXEMPLIFICANDO!
O Gato de Botas
Um moleiro não deixou para os três filhos nada além de seu moinho, de seu
burro e de seu gato.
Imediatamente fez-se a partilha dos bens, sem ser preciso chamar o
advogado e o tabelião, que logo teriam devorado todo o pobre patrimônio.
O mais velho ficou com o moinho e o segundo com o burro, restando ao
mais novo apenas o gato.
Este último, incapaz de se consolar com a modesta parte que lhe coubera,
dizia:
– Os meus irmãos, trabalhando juntos, poderão ganhar a vida honestamente;
mas eu, depois que tiver comido o meu gato e fizer com o pelo dele um
rolinho para esquentar as mãos, irei morrer de fome [...].
12 UNIUBE
MORAL
PESQUISANDO NA WEB
PONTO-CHAVE
A Bela Adormecida;
Branca de Neve e os Sete Anões;
Chapeuzinho Vermelho;
A Gata Borralheira;
O Ganso de Ouro;
Os Sete Corvos;
Os Músicos de Bremem;
A Guardadora de Gansos;
Joãozinho e Maria;
O Pequeno Polegar;
14 UNIUBE
As Três Fiandeiras;
O Príncipe Sapo e dezenas de outros. (COELHO, 2012)
EXPLICANDO MELHOR
PESQUISANDO NA WEB
Ainda que a Literatura Infantil tenha alçado novos rumos, nota-se nos
livros marcas infantis de domínio quase absoluto de exemplaridade,
carregadas de moralidade, de aspectos religiosos e atribuição exclusiva
à mulher quanto ao funcionamento ideal da família. E, com isso, todos
os preconceitos do adulto estavam presentes nas contos “morais e
educativos”, dessa época.
Era uma vez uma barata chamada Dona Baratinha. Dona Baratinha era
uma barata muito limpinha, que gostava de tudo bem ajeitadinho, por
UNIUBE 19
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
A frase Era uma vez... é ancestral e ainda nos dias de hoje tem a função
de despertar o desejo de conhecer uma boa história, não é mesmo?
Ao ouvi-la nossos sentidos imediatamente se aguçam, ficamos mais
curiosos, alegres, emocionados, completamente envolvidos pelo
novo, seduzidos pelas palavras, e, assim, rapidamente embarcamos
no mundo imaginário da Literatura Infantil. Essa literatura, como arte
verdadeiramente genuína, é, sem dúvida, uma porta aberta para a
construção da consciência-de-mundo dos pequenos leitores. É no ato
de ler e ouvir histórias que eles compreendem o seu contexto e como
ele se organiza.
IMPORTANTE!
Em contrapartida, nos dias de hoje, livros, que rompem com essa estrutura
socialmente construída e aceita por décadas, têm se popularizado no
mercado literário. Sob esse viés, convido-lhe a conhecer a história de uma
menina negra chamada Lelê, personagem principal do livro “O cabelo de
Lelê” da autora Valéria Belém com ilustrações de Adriana Mendonça, 2007.
Vale a pena conhecer a obra na íntegra, disponível no youtube.
Assim, ela
Fuça aqui
Fuça lá
Mexe e remexe até encontrar
O tal livro muito sabido que
Tudo aquilo pode explicar.
(Belém, 2012, p.13)
EXEMPLIFICANDO!
PESQUISANDO NA WEB
Convidamos você para apreciar essa bela história contada pelo grupo TIC
TIC TATI no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=R_0wb38we_w.
Acesso em 20 de maio de 2019.
Esse livro possui vários aspectos que permitem uma leitura envolvente,
dentre eles, destacamos as ilustrações ricas em cores e expressividade,
o enredo que acumula as ações dos personagens. Acompanhe no trecho
a seguir:
Vejamos:
1.5 Conclusão
Referências
CORAZZA, Sandra. M. Infância & Educação: era uma vez...quer que conte
outra vez? Petrópolis: Vozes, 2002.
COELHO, Nelly Novaes. A Literatura Infantil. 3ª ed. São Paulo: Quíron, 1987.
ROCHA, Ruth. A fantástica máquina dos bichos. São Paulo: Salamandra, 2009.
Introdução
Objetivos
Ao final dos estudos deste capítulo, você deverá ser capaz de:
• mostrar em que consistiu a fase de transição da literatura-
juvenil no Brasil, considerando a sua diferença em relação
à Fase inicial – estudada no capítulo anterior – da produção
literária nacional;
• explicar como o nacionalismo e o desejo de uma língua
nacional estiveram na base da produção literária desse
momento;
• apresentar as relações entre literatura infantojuvenil e escola,
tendo em mente os aspectos pedagógicos, moralizantes e
autoritários que perpassaram a produção literária desse
período;
• caracterizar a importância da produção literária infantojuvenil
de Monteiro Lobato, distinguindo sua singularidade em
relação às outras produções contemporâneas.
Esquema
2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do
Brasil
2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil
brasileira
2.3 Conclusão
EXPLICANDO MELHOR
EXEMPLIFICANDO!
IMPORTANTE!
PESQUISANDO NA WEB
https://digital.bbm.usp.br/view/?45000025027&bbm/7452#page/1/mode/2up
Depois, pesquise também outras obras.
Vale muito a pena!!!
CURIOSIDADE
PESQUISANDO NA WEB
Agora, sugerimos que faça uma entrevista com pessoas que foram
crianças entre 1977 e 1986 e pessoas que foram crianças entre 2001 e
2007. Pergunte a elas o seguinte.
2.3 Conclusão
De modo indireto, durante esse período contemplado neste capítulo,
constata-se que a escolarização beneficiou a produção literária
infantojuvenil no que diz respeito ao aumento do público leitor, habilitando-
o para entrar no universo letrado, ou seja, garantindo o acesso aos bens
culturais. De modo direto, a escolarização certamente beneficiou o
mercado editorial, que produziu especificamente para o ambiente escolar.
Século XX
Contos Pátrios (1904) – Olavo Bilac e Coelho Neto
Histórias de nossa terra (1907) – Julia Lopes de Almeida
Através do Brasil (1910) – Olavo Bilac
Referências
BILAC, Olavo; BONFIM, Manuel. Através do Brasil. Francisco Alves, RJ, 1948, 36
ed. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: https://www.unicamp.br/
iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/00atraves.htm. Acesso em: 31 jul. 2018.
UNIUBE 57
BILAC, Olavo. NETTO, Coelho. Contos Pátrios. Francisco Alves, RJ, 1931, 27 ed.
(ilustrado por Vasco Lima). In: Universidade Estadual de Campinas. Disponível em:
https://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/0contos.htm.
Acesso em: 31 jul. 2018.
LAJOLO, Marisa; João Luís (Orgs.) CECCANTINI. Monteiro Lobato livro a livro:
Obra infantil. São Paulo: Unesp: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
Introdução
Neste capítulo, embasamos nossas discussões iniciais a partir de
Coelho (2000). Essa autora apresenta-nos os estágios psicológicos
da criança e a necessária adequação dos textos às diversas etapas
do desenvolvimento infantil e juvenil. Para Coelho, os estágios se
subsdividem em categorias que são: o pré-leitor (primeira infância
e segunda infância), o leitor iniciante, o leitor em processo, o leitor
fluente e o leitor crítico.
Objetivos
Ao final dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja
capaz de:
• enumerar e explicar os estágios psicológicos da criança;
• relacionar os estágios psicológicos da criança com a
adequação aos textos literários;
• refletir sobre a literatura como arte e ação pedagógica;
• discutir a respeito do papel da literatura e do livro na escola;
• explicar a poesia como uma atitude criativa;
• elaborar propostas de leituras para diferentes fases do
desenvolvimento do leitor infantil.
• relação às outras produções contemporâneas.
Esquema
3.1 A literatura e os estágios psicológicos da criança
3.2 Literatura infantil: arte literária ou pedagógica?
3.3 O papel da literatura na escola
3.4 O livro em sala de aula
3.5 A leitura: o que perceber, o que discutir...
3.6 Propostas de leituras para diferentes fases do desenvolvimento
do leitor:
3.7 Análise literária: Felizbrim, um amiguinho cheio de luz...
3.8 Conclusão
UNIUBE 61
Para que o convívio do leitor com a literatura seja efetivo, neste capítulo,
estudaremos os estágios psicológicos da criança, por considerarmos
fundamental compreender que a leitura é uma aventura cognitiva,
emocional, afetiva, portanto muitos são os fatores a serem considerados
antes de escolher uma obra para ser lida e recomendada
Pré-leitor
Leitor Leitor em Leitor Leitor
• Primeira infância
(dos 15/17 meses
iniciante processo fluente crítico
aos 3 anos)
(a partir dos 6/7 (a partir dos 8/9 (a partir dos (a partir dos
• Segunda infância anos) anos) 10/11 anos) 12/13 anos)
(dos 4/5 anos)
https://www.youtube.com/watch?v=_AxAnkqg-vk
INDICAÇÃO DE LEITURA
Por muito tempo o ensino nas escolas utilizou o livro infantil apenas
para transmitir normas e valores do mundo adulto, deixando de lado o
deleite e a fruição. Essa postura fragmentada atribuiu aos textos literários,
destinados à criança, uma visão exclusivamente educativa, minimizando-
a enquanto arte. “É possível perceber que entre esses dois extremos há
uma variedade enorme de tipos de literatura, em que as duas intenções
72 UNIUBE
De acordo com Zilberman (1982), por muito tempo, o livro para crianças,
desde sua origem, assumiu uma postura pedagógica. Com personalidade
educativa, a literatura infantil englobava normas e valores do mundo
adulto, preferindo o caráter lúdico. Para Santos (2011) a espécie literária
e a escola tinham relações metafóricas simultâneas e complementares
UNIUBE 73
Observa-se ainda nos dias de hoje que a leitura literária em sala de aula
vincula-se, muitas vezes, à noção de uma tarefa a ser cumprida num
determinado prazo, uma espécie de corrida contra o tempo, geralmente,
com a entrega de um resumo ou uma lista de questões, não é mesmo?
Sabemos que essa situação, com foco no ensino tradicional, necessita
UNIUBE 75
Pense na sua experiência com a literatura. Para começar, lembre qual foi o
seu primeiro contato com a literatura e quais foram os primeiros livros que
você leu? Quais autores e/ou pessoas foram essenciais para esse processo
de entrada no mundo da literatura?
E o que fazer?
O sapo
A sapa na lava pá
Na lava parqua na qua
Ala mara na la lagua
Na lava a pá parqua na quar
Mas qua chalá!
E sepe ne leve pé
Ne leve perque ne que
Ele mere ne le legue
Ne leve e pe perque ne quer
Mes que chelé!
I sipi ni livi pí
Ni livi pirqui ni qui
Ili miri ni li ligui
Ni livi i pí pirqui ni quis
Mis qui chilí!
O sopo no lovo pó
No lovo porquo no quo
Olo moro no lo loguo
No lovo o pó porquo no quor
Mos quo choló!
U supu nu luvu pú
Nu luvu purquu nu quu
Ulu muru nu lu luguu
Nu luvu u pu purquu nu quur
Mus quu chulú!
Veja que nessa letra, diversos sons com as vogais podem ser
trabalhados...
II
Professora
O que a bolhinhas fazem?
Todos
Pluc pluc pluc
III
Professora
O sapinho pula
E faz
Todos
up up up
IV
Professora
O sapinho pula
E faz
Todos
up up up
82 UNIUBE
Professora
rá rá rá
Todos
reche reche reche
crá crá crá (Resende, 1993, p. 128).
De acordo com Ferreira (2001, apud Alves, 2015, p. 11), poesia é “ a arte
de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em
que se combinam sons.” Pela poesia, estabelece-se um vínculo entre os
signos linguísticos e a linguagem estética. Essa relação provoca tanto a
área das emoções quanto a criatividade.
Convite
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não;
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam
Como a água do rio
84 UNIUBE
Essa poesia é encenada pelo Grupo Estalo e pode ser assistida em:
https://www.youtube.com/watch?v=GXvIAtCxSHs
[...]
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
O Pato
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há.
O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
(MORAES, 1981, p.370)
Acidente
Análise literária
Felizbrim, um amiguinho cheio de luz...
Metonímia
Além da personificação,
outros recursos de lingua- Consiste na substituição
gem são usados na página de uma palavra por outra,
baseada na relação que
9, observe: “Quando o existe entre ambas.
silêncio tomou conta da
noite, a casa, a rua, a cidade Ex.: “[...] suas mãos mais que
depressa abriram a vidraça
dormiam...”, temos nesse
[...]” Troca do todo “menino”
fragmento a metonímia, pela parte “suas mãos”.
pois em vez de dizer que as
Gradação
pessoas dormiam, usa-se
a casa, a rua e a cidade. E, Progressão de ideias
em ordem crescente ou
ainda, uma gradação em decrescente.
ordem crescente, ou seja,
do elemento menor “casa”, para o elemento maior “cidade”.
Esses recursos, juntamente com o uso das reticências,
contribuem para generalizar e intensificar o estado de
repouso (dormir) das pessoas que habitam esses locais.
Isso concorre também para nos levar a supor que o garoto, embora
tenha muitos amigos na rua, sinta-se só em casa, devido à ausência das
relações familiares, porém, esse fato não justifica a atitude do garoto
prender o vaga-lume em seu quarto.
3.8 Conclusão
Apresentamos neste capítulo algumas possibilidades de intervenção
pedagógica a serem realizadas, pelo(a) professor(a), respeitando os
estágio psicológicos das crianças de modo a aproximar o leitor infantil
com a linguagem escrita e imagética, por meio do mundo imaginário que
a literatura, vista como arte, permite a esse leitor.
Referências
ALVES, Ana Maria da Silva. A poesia infantil de José Paulo Paes em sala de
aula: uma proposta de leitura e abordagem do poema “convite”. Trabalho de
Conclusão de Curso. Universidade Estadual da Paraíba, 2015. Disponível em <http://
dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/7845/1/PDF%20-20Ana%20
Maria%20da%20Silva%20Alves.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2019.
MORAES, Vinícius. Arca de Noé. São Paulo: Editora CIA das Letrinhas, 2004.
PARR, Todd. Tudo bem ser diferente. Editora Panda Books, 2000.
Introdução
Neste capítulo, embasamos nossas discussões a partir de Coracine
(1995), de Resende (2013) e de Cascarelli (2007). Incialmente
trazemos três perspectivas do ato de ler, compreendendo que esse
ato ultrapassa a decodificação dos signos para alcançar a leitura no
discurso, ou seja, no contexto dos sujeitos que escrevem e leem,
envolvendo todos os acontecimentos históricos, sociais, culturais,
que cercam esses escritores e leitores.
Objetivos
Ao final dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja
capaz de:
• explicar a leitura como um ato de interação e de
transformação;
• especificar os tipos de leitura de acordo com os estudos
linguísticos;
• reconhecer a importância da leitura literária como fonte de
prazer;
• explicar a relevância do livro FLICTS e seu caráter inovador
para a literatura infantil;
• desenvolver a leitura crítica a partir de um texto com projeto
gráfico ousado;
• analisar o livro, observando as conexões entre a palavra
escrita e outros códigos não verbais.
Esquema
4.1 Reflexões sobre o ato de ler
4.2 A leitura literária: uma interação prazerosa
4.3 FLICTS: um livro inovador
4.4 O personagem Flicts e a idealização do real
4.5 Um breve olhar para as formas e as cores do livro FLICTS
4.6 Conclusão
UNIUBE 111
Além disso, já está claro, a partir dos estudos atuais, que ler não pode
estar conectado apenas a algo escrito, mas deve referir-se também
a todos os outros tipos de expressões que o ser humano é capaz de
realizar como a produção de imagens artísitcas, de gestos, de sinais
etc. A essa ideia acrescentamos que a produção dos textos está cercada
pelos acontecimentos históricos, sociais, culturais, que circundam o fazer
humano.
Vejamos:
Continuando a leitura:
Quais eram elas? Que brincadeiras ele queria inventar, participar, criar?
E na página 13, o autor ilustra com uma imagem que retoma as
anteriores, ou seja, um menino com olho grande, macaquinhos no sótão,
fogo no rabo e pernas longas e diz:
Pelas pistas apontadas por Ziraldo, tanto por meio das palavras quanto
pelas imagens, o que pode-se inferir, concluir?
Dessa forma, esse leitor ativo deve acionar inferências. Segundo Abaurre
e Pontara (1999, p. 76): “inferir algo pode ser definido como um processo
de raciocínio segundo o qual se conclui alguma coisa a partir de outra
já conhecida.”
EXPLICANDO MELHOR
Reforçando as ideias!
Diante isso, é necessário que esse professor se prepare para atuar com
seus alunos, e essa atuação exige conhecimento amplo de pesquisas
na área da leitura, de estudos que envolvam análises críticas de obras
infantis e, acima de tudo, muita leitura de livros infantis. E esse é um dos
objetivos deste livro de apoio, apontar para o professor possibilidades
de leituras de textos verbais e não verbais, dentro do território literário.
SAIBA MAIS
Conhecendo Ziraldo
Ele ficou famoso nos anos de 1960 com o lançamento da primeira revista
brasileira em quadrinhos: “A Turma do Pererê”. Em 1969, publicou seu
primeiro livro infantil, FLICTS, a história de uma cor que não encontrava
seu lugar no mundo. Nesse livro, ele usou o máximo de cores e o mínimo de
palavras e conquistou fãs no mundo todo. A partir de 1979 concentrou-se na
produção de livros para crianças. Sua lista de títulos é enorme, vamos citar
alguns: O menino maluquinho, O planeta lilás, O bichinho da maçã, Coleção
ABZ, Vovó Delícia, Menina nina, O menino mais bonito do mundo, O Joelho
Juvenal, Os dez amigos, entre muitos outros.
http://www.ziraldo.com/livros/home.htm. Acesso em 31 de mar.2019.
Então perguntamos:
Vamos à história
Intertextualidade
Ziraldo, ao trazer os contos de fada, provocando
uma intertextualidade, traz também os clássicos É a relação que se
estabelece entre
da literatura infantil que encantaram e continuam textos, quando um
deles faz referência
encantando os leitores de todas as idades. Há a elementos
existentes no outro.
uma chamada para o universo fascinante da (ABAURRE e
PONTARA. 1999,
literatura. p. 79).
A narrativa continua:
Uma cor rara e triste, porque não se harmoniza no universo dos chamados
“normais”. Vamos nos aprofundar, então, na jornada de um personagem
que luta pela busca de sua identidade. Essa luta é de extrema angústia,
pois é constituída de veredas repletas de desencontros. A posição do
narrador marca o embate entre Flicts e o seu em torno. Vejamos:
“Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts.” (PINTO, 1989, p. 7, 9, 10, 11).
“Será que eu
não posso ter um cantinho
ou em uma faixa
em um escudo
ou em brasão
em bandeira ou estandarte?”(PINTO, 1989 p. 24).
e
parou
de
procurar
subindo
[...]
sumindo
e
sumindo
sumiu”
“a lua é Flicts”
“E hoje
com dia claro
mesmo com o sol muito alto
quando a lua vem de dia
brigar com o brilho do sol
a lua é azul (PINTO, 1989, p. 41).
IMPORTANTE!
Flicts pede:
As cores respondem:
Esse percurso conflituoso, feito por Flicts, leva-o a dar início a uma
jornada de reflexão sobre os fatos que o cercam. Há um choque de
posicionamentos entre os que são semelhantes e o diferente. A
reprovação dos iguais, que pertencem à caixa de lápis de cor, traz Flicts
para uma realidade inesperada, causando solidão, como verificamos na
voz do narrador:
E mais
Uma vez
UNIUBE 131
deixaram
o frágil e feio e aflito
Flicts
na sua branca
solidão. (PINTO, 1989, p. 23).
“E o pobre Flicts
procura
alguém
para ser seu par
um companheiro
um amigo
um irmão...” (PINTO, 1989, p.31).
Flicts não faz parte das cartelas das cores primárias e secundárias.
Um outro projeto gráfico que vamos analisar está no início do livro. Esse
recurso usado pelo autor trata da cor vermelha. Nas páginas 6 e 7 o tom
vermelho invade completamente essas páginas. Isso significa, conforme
Cascarelli (2007), força, poder. Somente, ao final da página 7, no canto
direito, o narrador diz:
“Não
tinha
a força
do
Vermelho.” (PINTO, 1989, p. 7).
Já, na página 13, Cascarelli (2007) analisa o tamanho da letra, usada por
Ziraldo, na voz do narrador, em uma página em branco:
“Nada que seja Flicts.” (PINTO, 1989, p. 13).
136 UNIUBE
“E nas noites
Muito claras
Quando a noite é toda dela
A Lua é de prata e ouro
Enorme bola
Amarela”
UNIUBE 137
“MAS
NINGUÉM
SABE
A
VERDADE
(a não ser os astronautas)
que
de perto
de pertinho”
“a lua é Flicts”
4.6 Conclusão
Editado no mesmo ano em que o homem foi à Lua pela primeira vez,
Flicts é uma daquelas obras que resistem ao tempo, tal como a viagem
de Neil Armstrong (primeiro astronauta a pisar na lua) que confirmou: “
a lua é Flicts”.
<https://fragmentosliterarios.blogspot.com/2016/05/resenha-flicts-ziraldo.
html>
UNIUBE 139
Referências