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Língua Portuguesa / Estudos

gramaticais

Newton Luís Mamede

Adaptação

Henrique Campos Freitas

Kátia Maria Capucci Fabri


© 2020 by Universidade de Uberaba

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
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Pró-Reitor de Educação a Distância


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Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Editoração
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Revisão textual
Erika Fabiana Mendes Salvador

Diagramação
Andrezza de Cássia dos Santos
Douglas Silva Ribeiro

Ilustrações
Getty images. Acervo Uniube.

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube

Mamede, Newton Luís.


M31l Língua portuguesa / Estudos gramaticais / Newton Luís
Mamede. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2020.
148 p. : il.

Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.


Inclui bibliografia.
ISBN

1. Língua portuguesa – Gramática. 2. Língua portuguesa. I.


Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. II.
Título.

CDD 469.5
Sobre o autor
Newton Luís Mamede

Especialização em Língua Portuguesa, pelo PREPES – Programa


Regional de Especialização de Professores do Ensino Superior – da
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Aprovado em
concurso público na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como
professor de Língua Latina. Graduação em Filosofia (licenciatura plena)
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Santo Tomás de Aquino”
(Fista). Graduação em Letras com habilitação em Português-Francês
(licenciatura plena) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
“Santo Tomás de Aquino” (Fista). Professor de Língua Portuguesa na
Universidade de Uberaba (Uniube). Professor da Faculdade Presidente
Antônio Carlos de Uberaba, nos cursos de graduação em Direito e de
licenciatura em Pedagogia. Experiência na área de Letras, com ênfase
em Língua Portuguesa.
Sumário

Apresentação...................................................................................... VII

Capítulo 1 Gramática e estrutura morfossintática..................................1


1.1 Língua padrão e língua coloquial.............................................................................3
1.1.1 Língua padrão.................................................................................................3
1.1.2 Língua coloquial.................................................................................................... 5
1.2 Os estudos gramaticais da Língua Portuguesa.......................................................7
1.3 Classes de palavras..................................................................................................8
1.3.1 Palavras variáveis.........................................................................................10
1.3.2 Palavras invariáveis......................................................................................47
1.4 Conclusão...............................................................................................................58

Capítulo 2 Aspectos pragmáticos: usos e normas...............................61


2.1 A estrutura da sentença e a pontuação..................................................................64
2.1.1 Pontuação no período simples.......................................................................67
2.1.2 Pontuação no período composto..................................................................69
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção e.......................................................73
2.2 Acentuação gráfica.................................................................................................80
2.2.1 Posição da sílaba tônica...............................................................................84
2.2.2 Casos especiais............................................................................................88
2.3 Dificuldades mais frequentes da língua.................................................................91
2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê.................................................................91
2.3.2 Crase.............................................................................................................99
2.3.3 Palavras e expressões................................................................................ 111
2.3.4 Funções do pronome se.............................................................................126
2.3.5 Regência de alguns verbos........................................................................129
2.3.6 Emprego do pronome relativo que com verbos que regem preposição.........135
2.4 Conclusão.............................................................................................................135
Apresentação
Caro(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco!

Um livro, sozinho, não se basta. Guardado na estante ou escondido na


biblioteca, sua finalidade praticamente se anula.

Você está diante de um livro que apresenta as estruturas básicas para um


estudo sério e seguro do nosso idioma, a bela Língua Portuguesa. Não
importa o curso que você faça, para compreender e aprender os fatos
fundamentais da língua que você fala, para se comunicar de maneira
fluente, elegante e correta, o estudante de nível universitário precisa
dominar alguns detalhes do idioma que não se aprendem na simples
aquisição da linguagem coloquial, no ambiente familiar, no início da vida.

Este livro apresenta-lhe alguns desses detalhes. Não todos, evidentemente,


pois o universo do idioma é quase infinito. Mas o conhecimento básico já é
um porto seguro para uma boa comunicação em linguagem culta e formal.
Alguns assuntos você já estudou na educação básica. Agora, você vai
recordar e ampliar seus conhecimentos linguísticos.

No primeiro capítulo, “Gramática e estrutura morfossintática”, são


expostos alguns conceitos linguísticos de níveis de linguagem e de
tipos de gramática, bem como as classes gramaticais das palavras da
Língua Portuguesa, como substantivo, adjetivo, verbo, entre outras, e
suas situações de emprego e funcionamento, como flexões, ortografia,
significado e demais noções gramaticais.
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No segundo capítulo, “Aspectos pragmáticos: usos e normas”, são


apresentadas algumas situações da norma padrão ou nível culto da
Língua Portuguesa, com o foco na correção, ou, em outros termos, na
exposição da forma correta de palavras e de expressões, muitas vezes
empregadas de maneira desvirtuada por pessoas de nível escolar
elevado. São situações de uso frequente na fala e na escrita, no exercício
diário da prática da linguagem, que não podem ser ignoradas por quem
deseja expressar-se corretamente.

O livro tem finalidade acadêmica. Vazado em linguagem simples e


acessível, pretende contribuir para o estudo e a aquisição segura dos
fundamentos do idioma pátrio.

Bons estudos!
Capítulo
Gramática e estrutura
morfossintática
1

Introdução
Nas instituições de educação no Brasil, o estudo da Língua
Portuguesa vem passando, nas duas últimas décadas, por
algumas transformações decorrentes dos avanços dos estudos
linguísticos, mormente os praticados por novos pesquisadores,
ou “pesquisadores novos”, em seus trabalhos universitários,
monografias, dissertações de mestrado ou teses de doutorado.

As modernidades dos estudos têm fascinado os estudiosos de cursos


de pós-graduação e, consequentemente, influenciado professores
e estudiosos dos cursos de graduação, os quais, numa espécie de
“corrente”, transmitem aos alunos suas convicções, tendências e
simpatias por teorias e ideias modernas e “avançadas”.

Embora tais condutas sejam louváveis e benéficas da parte dos


estudiosos latinos, o termo gramática não pode deixar de ter ou
perder seu sentido ou seu valor. Não é humilhante saber gramática. É
importante, sim, conforme afirmado linhas atrás, conhecer vários
aspectos do estudo da língua, e não só a gramática. Mas desprezar
a gramática e considerá-la desnecessária torna o estudo da língua
incompleto, indefinido.
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Neste capítulo, iremos considerar os fatos da língua como objeto


de estudo da gramática.

Objetivos
Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• explicar as diversas modalidades de desempenho de uma


língua, principalmente a língua ou norma padrão e a língua
coloquial;
• justificar a necessidade de estudar gramática para um bom
conhecimento das estruturas da Língua Portuguesa;
• identificar situações morfológicas das classes de palavras e
de seu funcionamento para o correto desempenho na modalidade
culta da língua;
• compreender as regras da gramática e da estrutura morfossintática
aplicadas às diversas situações sociocomunicativas.

Esquema
1.1 Língua padrão e língua coloquial
1.1.1 Língua padrão
1.1.2 Língua coloquial
1.2 Estudos gramaticais da Língua Portuguesa
1.3 Classes de palavras
1.3.1 Palavras variáveis
1.3.2 Palavras invariáveis
1.4 Conclusão
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1.1 Língua padrão e língua coloquial

Nos estudos sobre a língua, são estudadas as variantes linguísticas,


entre as quais as mais conhecidas são a variante histórica, a geográfica
e a social, cada qual com suas divisões ou subdivisões.

Na variante social, a dicotomia que mais se destaca, ou para a qual


mais se chama a atenção, é a dupla língua padrão e língua coloquial.
Conforme o livro ou o autor, essas denominações podem variar, como
norma padrão, norma culta, nível formal, para a língua padrão, e nível
coloquial, língua oral, oralidade, para a língua coloquial.

1.1.1 Língua padrão

Essa é uma variante ou apenas um aspecto sob o qual a língua é


considerada. É o nível próprio da linguagem formal, em suas estruturas
gramaticais apresentadas ou expostas nos livros de estudo sobre a língua,
como as gramáticas, os dicionários, as obras dos escritores de renome
ou de elevada qualidade intelectual.

Essa, ainda, é o nível que identifica as chamadas pessoas cultas, dotadas


de escolaridade elevada, detentoras de cursos universitários ou simples
autodidatas de notório saber, quando escrevem ou quando falam. É o nível
presente nos textos científicos, literários, didáticos, oficiais, jornalísticos,
os quais são elaborados ou redigidos dentro das normas de correção
conforme as regras ou normas estabelecidas pela “gramática”.

Daí uma das denominações deste nível: norma padrão.

O termo primordial que caracteriza a língua padrão é correção. Trata-se


de não escrever “errado”, não transgredir a ortografia, o vocabulário, o
estilo, as normas ou as famosas regras de concordância verbal e nominal,
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de regência, de pontuação. E, ainda, de empregar corretamente as flexões


de gênero e número das palavras, as corretas flexões verbais, os termos
adequados nas construções de frases.

O que é necessário é escrever corretamente, isto é, sem erro. É esta


variante culta que determina as revisões de linguagem em gráficas,
editoras, jornais, secretarias e demais órgãos que utilizam a língua no
padrão culto em seus exercícios de trabalho.

IMPORTANTE!

A língua padrão apresenta as seguintes características:

• Escrita e pronúncia corretas, conforme estabelecidas nas gramáticas, nos


dicionários e na tradição de emprego pelas pessoas cultas.
• Adquirida por meio de estudo. Esta é a grande, a fundamental, a
primordial característica deste nível de uso da língua. Não vale aqui o
argumento de que “quem faz a língua é o povo”. Não. Neste nível, não
se considera o “povo”, em seu sentido puramente de categoria social.
A aquisição do nível culto, da norma padrão da língua, é decorrente
apenas de estudo.
• Aprende-se a norma culta, a língua padrão, estudando. Estudando:
e não ouvindo “os outros”, mesmo que esses outros sejam pessoas
detentoras de estudo. É muito comum ouvir doutores cometerem
desvios da norma culta, em pronúncia, em concordância, em vocabulário
e em outros aspectos da língua.
• Artificial, formal. Suas expressões não jorram espontaneamente da
boca ou da mente do falante, do emissor. É uma linguagem pensada,
ensaiada, cuidada, que pode ser alterada, modificada, transformada no
decorrer do discurso. O interlocutor, na fala ou na escrita, pensa antes
de se expressar. Simplesmente cuida da correção da linguagem.
• Vocabulário amplo, refinado, erudito, complexo. É uma característica
decorrente das duas anteriores. As palavras ou os termos empregados
são adquiridos individualmente, conforme o grau de estudo e de leitura
de seu usuário, e não por meio do simples convívio social e doméstico.
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• Estão presentes nas grandes obras dos grandes escritores. Por isso,
socialmente, as palavras são chamadas “palavras difíceis”, ou “palavras
bonitas”, pelas pessoas comuns.
• De emprego literário, jornalístico, científico didático, jurídico. Conforme
visto nas outras características, é o nível empregado e praticado nos
setores cultos e formais da sociedade.

1.1.2 Língua coloquial

Este é o nível que caracteriza propriamente a língua como produto


da racionalidade humana. Antropologicamente, o homem é o animal
dotado de linguagem articulada por meio de signos, de símbolos sonoros,
produzidos pela voz, que representam o mundo biossocial. É o nível da
voz do animal “homem”.

Biologicamente, os animais possuem “vozes”, como aprendemos nas


séries iniciais de nossa vida escolar. O cão late, o gato mia, o boi berra,
e assim por diante. Já o homem fala. Essa é a voz do animal racional,
do homem. Mas não é uma voz simplesmente “fisiológica” decorrente
do instinto animal. É a voz codificada pela língua, pelo idioma. Portanto,
racional.

A língua coloquial é a “verdadeira” língua do homem, ser social. É por


ela que ele se comunica e se interage na sociedade, ao longo de toda
sua vida. É o nível da conversa, independentemente de escolaridade,
de grau de instrução.

O habitante de cidade, o doutor universitário, o operário, o trabalhador


humilde, o habitante rural, o sertanejo, o analfabeto, qualquer pessoa,
ou qualquer ser humano é detentor da língua coloquial. É por meio dela,
como já o dissemos, que as pessoas se comunicam na sociedade. As
pessoas: qualquer pessoa.
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IMPORTANTE!

A língua coloquial apresenta as seguintes características:

• Da conversa diária, entre os falantes. Em casa, em família, com os


vizinhos e os amigos, na escola, no trabalho, na rua. O termo “coloquial”
tem origem latina, com ideia de “conversa”: fala entre pessoas.
• Adquirida desde a infância. A criancinha, por volta de um ano de
idade, ou antes, já começa a balbuciar os primeiros fonemas que irão
constituir as palavras e depois as frases articuladas para a expressão
do pensamento. Adquirida desde a infância e ao longo da vida. E não
por meio de estudo, como a língua padrão, ou nível culto da língua.
• A língua coloquial é aprendida em casa, com os pais, vizinhos, amigos.
É chamada muitas vezes de língua materna, por ser, tradicionalmente,
a mãe a primeira a ensinar a criancinha a falar.
• Natural, espontânea, informal. Se é o nível da conversa diária, a língua
é usada automática, simultaneamente ao pensamento. Por isso, não
ensaiada, não pensada anteriormente, não planejada. A língua é
articulada ou emitida com a naturalidade própria do falante, com seu
linguajar decorrente de sua cultura, antropologicamente falando.
• Vocabulário reduzido, simples. A quantidade de palavras é limitada, em
comparação com o vocabulário da língua culta ou padrão. São palavras
do quotidiano, aprendidas no dia a dia, de domínio de todos os falantes
de um grupo ou de uma comunidade. Mas o necessário para a pessoa
se comunicar durante toda sua vida.

Neste nível da língua coloquial não se considera a ideia de “certo e errado”.


É com base nessa característica que os estudiosos da Língua Portuguesa
proferiram a famosa afirmação de que “na língua não existe erro”.

É claro que isso não deve ser entendido ao pé da letra. Não se considera
erro, sim, na língua coloquial. Esta decorre do nível de cultura do falante.
O habitante sertanejo e analfabeto, mas não surdo-mudo, fala o idioma
pátrio satisfatoriamente. Uma frase como “nóis já armuçô” não pode ser
considerada “errada” se proferida por um sertanejo analfabeto.
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Errada por quê?

Esta é a “língua” própria de seu universo, de seu ambiente, de sua


vida social. Como, então, ele deveria falar? Ele não estudou para ter
aprendido que o “certo” é “nós já almoçamos”.

O conceito de correção de linguagem, de corrigir o errado para adotar o


certo, é próprio do nível culto da língua, da norma padrão, empregada
pelas pessoas instruídas, estudadas, cultas. Aí, sim, devemos cuidar da
correção, de “não errar”.

Uma concordância indevida, uma grafia errada, uma frase mal construída
ou ambígua ou uma palavra mal-empregada são desvios que se devem
corrigir no emprego culto da língua, para que a expressão seja adequada
ao nível cultural e intelectual de seu usuário.

Um desvio constatado num jornal, numa revista, num cartaz afixado


em lugar público, num texto de publicidade ou propaganda, num livro;
ou proferido oralmente por um palestrante, um pregador religioso, um
político, um professor, um advogado, um orador, agora, sim, se trata
propriamente do “erro” de linguagem, objeto de crítica ou zombaria das
demais pessoas.

1.2 Os estudos gramaticais da Língua Portuguesa

Os estudos gramaticais de uma língua, geralmente, Fonema

partem do princípio da compreensão dos fonemas, Menor unidade


linguística destituída
dos morfemas e das palavras, dos sintagmas e de sentido, passível
de delimitação na
das frases, e das unidades semânticas. Esses cadeia falada, isto é,
uma sequência de
estudos compõem as unidades linguísticas de sons. Caracteriza-se,
uma determinada área da Língua Portuguesa, ou normalmente, pela
substância sonora, ou
seja, da fonologia, da morfologia, da sintaxe e da seja, por representar
os sons de uma
semântica. língua (SAUTCHUK,
2018, p. 25).
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Esses, por sua vez, auxiliam na compreensão e no desenvolvimento


das competências linguísticas para uma melhor comunicação, seja oral
ou escrita, nas diversas situações comunicativas, pois saber aplicar
os conteúdos gramaticais com eficiência demonstra não só um nível
culto, mas também demonstra nossa capacidade de produzir e construir
significados que estão para além do que é materializado nos textos.

De acordo com a estudiosa Inez Sautchuk (2018, p. 26), é o conhecimento


dessa gramática “que comporta as regras essenciais constitutivas de sua
identidade, possibilita que todo falante de uma língua ‘saiba’ construir
frases e, com elas, expressar seus pensamentos”.

Para o início desse estudo, então, é necessário o conhecimento das


classes de palavras, isto é, a divisão elaborada a fim de que as palavras
fossem estudadas isoladamente, desconsiderando-se a função que
exercem dentro da frase ou da oração, com o objetivo de analisá-las
por meio de seus aspectos semânticos (de sentido) e funcionais nas
produções textuais e os efeitos de sentido que elas produzem na
interação com os interlocutores.

1.3 Classes de palavras

As classes de palavras de uma língua são apresentadas na parte


das gramáticas denominada morfologia. Sendo a gramática dividida,
tradicionalmente, em fonética, morfologia e sintaxe, o estudo das classes
de palavras pertence ao ramo da morfologia. Esta, por sua vez, estuda
a estrutura e formação de palavras e as classes de palavras.
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Em português, existem dez classes de palavras, assim distribuídas:

• substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo


Variáveis

• advérbio, preposição, conjunção, interjeição


Invariáveis

As palavras variáveis são as que sofrem flexão ou modificação em


seu final como as desinências de gênero (masculino e feminino) e de
número (singular e plural) para algumas, como neste caso da palavra
gato (Figura 1):

Figura 1: Gato.

Gat -o
-a
-o-s
-a-s

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

A palavra é uma só, mas possui quatro “finais” ou terminações em suas


ocorrências de uso ou funcionamento da língua. Não são, portanto,
quatro palavras.

As palavras invariáveis são fixas, não apresentam modificações em


seu final, como no caso da palavra aqui, que permanece sempre nessa
forma.
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1.3.1 Palavras variáveis

1.3.1.1 Substantivo

Tradicionalmente, substantivo é a palavra que designa os seres, entendidos


estes como pessoas, animais e coisas, numa concepção concreta, e
como ações, sentimentos, qualidades, estados, numa concepção abstrata.

A palavra substantivo relaciona-se com substância. Designa, portanto,


o ser, entidade dotada de uma substância existencial. O substantivo é,
então, o nome de um ser.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

A importância dos substantivos

Os substantivos, como sabemos, são palavras que designam os seres em


geral, reais ou imaginários. Eles são responsáveis, na maioria das vezes,
por indicar a coerência de um texto, indicando o assunto de que se trata a
produção textual.

É importante lembrar que, geralmente, os substantivos são os mais


importantes em um texto, pois se no texto não tivesse substantivos, ele
(o texto) estaria sem sentido ou teria sentido incompleto. Eles, associados
a outras classes de palavras, articulam as ideias e as relações entre as
formas linguísticas presentes no texto, indicando certo efeito de sentido que
o produtor textual quer conferir à sua produção, produzindo, por exemplo,
ironia, humor etc.

Classificações do substantivo

A tradição de estudos gramaticais expõe as seguintes classificações do


substantivo:
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Concreto: designa o ser que tem existência em si mesmo, própria, e não


existente em outro ser. O substantivo concreto nomeia pessoas, animais
e coisas.

PESSOAS ANIMAIS COISAS

homem, menino,
cão, gato, macaco, urso, copo, cadeira, chave, livro,
criança, mulher, moço,
boi, leão, gafanhoto. martelo, alçapão, garfo.
José, Maria, Paulo.

Abstrato: designa o ser que não possui existência em si mesmo ou


independente, mas situações de concepção da razão (seres de razão).
O substantivo abstrato nomeia, principalmente, qualidades, sentimentos,
estados e ações.

QUALIDADES ESTADOS

bondade, beleza, honestidade. cansaço, magreza, pressa.


Sentimentos: amor, ódio, alegria, tristeza. Ações: corrida, soco, chute, beijo.

Aqui cabe uma explicação adicional, nem sempre compreendida pelas


pessoas, inclusive por alguns estudiosos do idioma.

Substantivo concreto não é sinônimo de seres reais. E substantivo


abstrato não é sinônimo de seres irreais ou imaginários. Essa confusão
é frequente nas escolas.

O substantivo amor é abstrato, mas o amor é real, ele existe de fato, não
é um ser apenas imaginário.

E o substantivo saci é concreto, embora o saci seja apenas uma criação


fictícia, um ser que não existe de fato.
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Comum: designa todos os seres de uma mesma espécie, ou uma


abstração.

menino, laranja, laranjeira,


COMUM árvore, país,COMUM
cidade, clima, aluno,
alma, anjo, jornal, mão.

Próprio: designa o indivíduo, um ser de uma espécie.

Carlos, Rio de Janeiro, Brasil,


PRÓPRIO
Jornal do Comércio.

Coletivo: é o substantivo comum que, morfologicamente palavra do


singular, designa conjunto de seres de uma espécie. O substantivo
coletivo, todavia, pode ter flexão de plural, quando designa mais de um
coletivo, como arquipélagos, as constelações, as turmas.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Alguns exemplos de substantivos coletivos:

Arquipélago: ilhas.
Banda: músicos.
Cardume: peixes.
Constelação: estrelas.
Corja: velhacos, vadios, desordeiros.
Esquadrilha: aviões.
Fauna: animais de uma região ou país.
Flora: vegetais de uma região ou país.
Junta: bois, médicos, examinadores.
Matilha: cães caçadores.
Nuvem: gafanhotos.
Prole: filhos.
Quadrilha: ladrões.
Turma: pessoas, alunos.
Vara: porcos.
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Flexão do substantivo

O substantivo apresenta as flexões de gênero e de número.

• Gênero

Os gêneros são o masculino e o feminino. Em português não ocorrem


substantivos do gênero neutro, como em algumas línguas, geralmente
o latim e o grego.

Particularidades genéricas

Além das situações regulares de formação do gênero feminino, com a


desinência -a, o substantivo possui as seguintes particularidades:

a) Substantivo comum de dois – Possui uma só forma, sem flexão para


o gênero masculino e para o feminino. A distinção entre os gêneros se
faz pelos termos determinantes do substantivo, como o artigo, o adjetivo,
o numeral.

Exemplos:

o colega estudioso / a colega estudiosa


o pianista famoso / a pianista famosa
o personagem estranho / a personagem estranha
dois jovens bonitos / duas jovens bonitas

Observação!

O substantivo personagem é comum de dois, isto é, pode ser masculino


ou feminino, conforme se refira a homem ou a mulher. “O personagem
famoso” designa um homem. “A personagem famosa” designa uma
mulher.
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É comum vermos esse substantivo empregado sempre como sobrecomum,


isto é, só no gênero feminino para se referir aos dois sexos. Errado. Até
obras de estudos linguísticos ou literários adotam essa forma errada do
feminino para designar homem ou mulher.

Uma frase de uma questão de prova, por exemplo, como “qual é a


personagem principal do romance?” significa que o professor elaborador
da questão deseja que o aluno informe a personagem “mulher”, e não
um personagem “homem”.

A afirmação de que esse substantivo é só feminino é falsa,


enganosa, pode até induzir o aluno a erro em questões de
avaliações escolares.

b) Substantivo sobrecomum – Possui um só gênero para os dois sexos.


Atenção: o gênero é um só. Há substantivo só masculino e substantivo
só feminino.

Exemplos:

• a criança (feminino): designa o ser do sexo masculino e o do


feminino.
• a testemunha (feminino): designa um homem ou uma mulher.
• o cônjuge (masculino): designa o homem ou a mulher, no casamento.
• o monstro (masculino): designa tanto um ser do sexo ou do gênero
masculino quanto do feminino.

Veja que não existe a forma feminina “monstra”!!

c) Substantivo epiceno – É como o sobrecomum, mas designa apenas


animais. Possui, portanto, um só gênero para os dois sexos.
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Exemplos:

• a onça (feminino): designa o macho e a fêmea.


• a águia (feminino): designa o macho e a fêmea.
• a cobra (feminino): designa o macho e a fêmea.
• o jacaré (masculino): designa o macho e a fêmea.
• o crocodilo (masculino): designa o macho e a fêmea.
• o tatu (masculino): designa o macho e a fêmea.

O gênero desses substantivos é determinado pelas palavras


“macho” ou “fêmea”: o jacaré macho/o jacaré fêmea; a
cobra macho/a cobra fêmea.

d) Substantivo heterônimo – É um substantivo de um só gênero para


designar o sexo masculino, e “outro” substantivo para designar o sexo
feminino.

Exemplos:

• o homem /a mulher
• o bode / a cabra
• o cavalo / a égua
• o carneiro / a ovelha
• o boi / a vaca
• o burro / a mula

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Outras particularidades

Além das particularidades apresentadas, ocorrem outras situações de


feminino dos substantivos, consideradas irregulares ou extravagantes.
Exemplos:
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• o poeta / a poetisa
• o maestro / a maestrina
• o imperador / a imperatriz
• o embaixador / a embaixatriz (mulher do embaixador), a embaixadora
(a titular da função)
• o perdigão / a perdiz
• o sacerdote / a sacerdotisa
• o profeta / a profetisa
• o bispo / a episcopisa
• o papa / a papisa
• o frade / a freira
• o frei / a sóror
• o marajá / a marani
• o judeu / a judia

Note que é errada a flexão do feminino “bispa”, muito frequente nos dias
atuais devido à existência de mulheres que detêm esse título em certas
religiões.

• Número

Os números são o singular e o plural. Além das situações regulares de


formação do plural com a desinência -s, como em livro / livros, casa /
casas, merece destaque a flexão de plural dos substantivos compostos,
de largo emprego na língua oral e na escrita.

a) Plural de substantivos compostos

1 – Substantivos compostos constituídos de dois substantivos, de um


substantivo e de um adjetivo, de um adjetivo e de um substantivo, ligados
por hífen: ambos os elementos flexionam-se no plural.
UNIUBE 17

• couves-flores (substantivo + substantivo)


• cirurgiões-dentistas (substantivo + substantivo)
• amores-perfeitos (substantivo + adjetivo)
• guardas-noturnos (substantivo + adjetivo)
• guardas-civis (substantivo + adjetivo)
• altos-relevos (adjetivo + substantivo)
• terças-feiras (numeral adjetivo + substantivo)

No caso de substantivo composto de dois substantivos em


que o segundo determina o primeiro com ideia de finalidade
ou semelhança, a tradição gramatical determina que somente
o primeiro flexione-se no plural, embora livros didáticos e certas
gramáticas permitam a flexão de ambos. Mas a flexão só do
primeiro é a mais ortodoxa, sendo, portanto, a preferível.

bananas-maçã mangas-espada palavras-chave


escolas-modelo navios-escola pombos-correio

2 – Substantivos constituídos de elementos não ligados por hífen: só o


segundo flexiona no plural.

claraboias pontapés
girassóis vaivéns

3 – Substantivos constituídos de verbo e substantivo: só o segundo


elemento flexiona no plural.

beija-flores guarda-chuvas
pega-ladrões
furta-cores guarda-roupas
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4 – Substantivos constituídos de dois substantivos ligados por preposição:


só o primeiro flexiona no plural.

pés de moleque fogões a gás


pães de ló mulas sem cabeça

Observação!

Às vezes, a preposição é subentendida, ou ausente:

horas-aula (de aula)


mestres-escola (de escola)

5 – Substantivos constituídos de dois verbos antônimos, ou de verbo e


advérbio, ligados por hífen: ambos permanecem invariáveis, ficando a
noção de plural a cargo dos elementos determinantes desses substantivos.

os bota-fora os perde-ganha
os leva-e-traz os pisa-mansinho

6 – Substantivos constituídos de palavras onomatopaicas: só o último


elemento flexiona no plural.

reco-recos tique-taques
tico-ticos bem-te-vis

7 – Substantivos compostos cujo primeiro elemento é constituído de


palavra invariável: só o segundo elemento flexiona no plural.

alto-falantes
ex-diretores
(note que “alto”, neste caso, é
sempre-vivas
advérbio, palavra invariável)
vice-presidentes
abaixo-assinados
UNIUBE 19

b) Plural dos diminutivos

Os substantivos no grau diminutivo sofrem flexão de plural de modo


peculiar. A flexão apresenta as seguintes situações:

• Ocorre apenas no final da palavra, como nas formas primitivas.

Exemplos:

ÁRVORE: árvore-s > arvore-zinha-s


PÉ: pé-s > pe-zinho-s

• Ocorre em duas posições da palavra: no meio e no final.

Para os substantivos terminados em -r, a letra -e da desinência -es fica


após a palavra primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da
palavra, depois do sufixo.

TRATOR: trator-es > trator-e-zinho-s


MOTOR: motor-es > motor-e-zinho-s
MULHER: mulher-es > mulher-e-zinha-s
BAR: bar-es > bar-e-zinho-s

EXPLICANDO MELHOR

Prefixo e sufixo são morfemas que se juntam às palavras a fim de formar


novas palavras. Ambos são, na verdade, afixos. O nome prefixo ou sufixo é
dado dependendo do lugar que ocupam na palavra. Ou seja, se estiver antes
do radical, é prefixo, mas se estiver depois do radical, é sufixo.

Morfema: menor unidade de uma palavra que possui significado.


20 UNIUBE

Se a letra S for parte da palavra primitiva no singular, e não


a desinência de plural, permanece essa letra S no seu lugar
próprio do radical primitivo, e não é substituída pela letra Z,
consoante de ligação. Exemplos:

pires > pires-inho, pires-inho-s


lápis > lapis-inho, lapis-inho-s

Note que, aqui, não ocorre a consoante de ligação -z- antes do sufixo
-inho. A letra S de “pires” e de “lápis” é parte da palavra primitiva, e não
desinência de plural.

Para os substantivos terminados em -ão, o processo é o mesmo: apenas


a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo. As letras dos
ditongos -ão, -ãe, -õe permanecem na ou após a palavra primitiva, antes
do sufixo.

Irmão: irmão-s > irmão-zinho-s


pão: pã-es > pã-e-zinho-s
coração: coraç-ões > coraç-õe-zinho-s
limão: lim-ões > lim-õe-zinho-s

Para os substantivos terminados em -L, a letra -i da desinência -is fica


após a palavra primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final
da palavra, depois do sufixo.

jornal: jorna-is > jorna-i-zinho-s


móvel: móve-is > move-i-zinho-s
papel: papé-is > pape-i-zinho-s
UNIUBE 21

1.3.1.2 Adjetivo

Adjetivo é a palavra que indica qualidade, estado, característica, aspecto,


modo de ser do substantivo. Sua acepção primordial é de modificação
do substantivo.

Exemplos:

livro novo
casa nova
cidade grande
menina bonita
carro branco
rua estreita
conta errada

Sintaticamente, o adjetivo é o determinante do substantivo e com ele


concorda, podendo, portanto, palavras de outras classes gramaticais
funcionarem como adjetivo.

Exemplos:

dois livros (numeral)


duas revistas (numeral)
uns livros (artigo indefinido)
umas revistas (artigo indefinido)
estes livros (pronome)
meus filhos (pronome)
22 UNIUBE

Classificação do adjetivo

O adjetivo pode ser restritivo ou explicativo.

Restritivo

ADJETIVO

Explicativo

• indica aspecto acidental do substantivo. É o adjetivo


propriamente dito, no uso diário da linguagem, como nos
RESTRITIVO exemplos citados no conceito de adjetivo.
• Ex.: livro novo, casa nova, cidade grande, menina
bonita, carro branco.

• indica aspecto essencial ou inerente ao substantivo.


Seu uso é restrito, portanto, aos casos de necessidade
EXPLICATIVO de clareza na comunicação, constituindo uma forma de
pleonasmo:
• Ex.: gelo frio, fogo quente, água mole, pedra dura.

Um caso de uso necessário do adjetivo explicativo pode ser notado no


conhecido provérbio água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
UNIUBE 23

Flexão do adjetivo

O adjetivo, assim como o substantivo, apresenta flexão em gênero e


número.

• Gênero

Na situação de noção de gênero, o adjetivo pode ser biforme e uniforme.

Biforme: o feminino é formado pelo acréscimo de desinências, especialmente


e com maior índice de ocorrência a desinência -a.

novo(a) / casa nova


bonito(a) / menina bonita
limpo(a) / roupa limpa
hospitaleiro(a) / cidade hospitaleira

Uniforme: o adjetivo permanece invariável em gênero.

menina inteligente
mulher elegante
pessoa feliz
atitude louvável

• Número

Nas situações de flexão de número, merece destaque o plural dos


adjetivos compostos nos seguintes principais casos:

1 – Adjetivos compostos formados de dois ou mais adjetivos: só o último


elemento flexiona no plural.

camisas amarelo-claras
clínicas médico-cirúrgicas
24 UNIUBE

nações latino-americanas
conferências luso-brasileiras
conferências luso-franco-brasileiras
reações físico-químicas

Note que, neste caso, a flexão só do último elemento é


dupla, isto é, flexão de número e de gênero. Em “conferências
luso-franco-brasileiras”, só o elemento “brasileiras” é que se flexiona
no plural e no feminino, ficando os anteriores na forma invariável
masculina.

2 – Adjetivos compostos constituídos de adjetivo e substantivo: ambos


os elementos permanecem invariáveis.

camisas verde-água
saias vermelho-sangue
blusas amarelo-limão
paredes azul-piscina

Graus do adjetivo

Um aspecto das noções gramaticais do adjetivo são os graus, conhecidos


como comparativo e superlativo, merecendo destaque, neste estudo,
o grau superlativo e suas subdivisões.

a) Superlativo relativo

De superioridade: o mais...de.
Ex.: João é o mais estudioso dos alunos.
De inferioridade: o menos...de.
Ex.: João é o menos estudioso dos alunos.
UNIUBE 25

b) Superlativo absoluto

Analítico: forma-se com o acréscimo de palavras com o sentido de


intensidade: muito, excessivamente.

Aquele prédio é muito alto.


O aluno foi excessivamente elogiado.
Aquele homem é muito pobre.
O exercício é muito fácil.
Suas palavras foram muito doces.

Sintético: forma-se com o acréscimo dos sufixos -íssimo, -rimo, -imo.

Aquele prédio é altíssimo.


O aluno foi elogiadíssimo.
Aquele homem é paupérrimo.
O exercício é facílimo.
Suas palavras foram dulcíssimas.

O grau superlativo absoluto sintético constitui um dos aspectos de


domínio da língua culta ou da norma padrão em português, pois grande parte
dos adjetivos nesse grau são formados a partir do radical em latim, e não
em português. São os chamados superlativos absolutos sintéticos eruditos.

Essa situação é traço apenas da variante culta da língua. Sua modificação


ou adulteração decorre de ignorância do usuário da língua quanto à
norma padrão de uso do idioma. É o que ocorre com alguns adjetivos,
especialmente com o superlativo do adjetivo magro: macérrimo.

Na sociedade, é comum ouvir-se a palavra “magérrimo”, pronunciada por


pessoas cultas, como apresentadores e locutores de televisão, atores,
professores universitários, palestrantes. Pessoas mais simples, por sua vez,
ouvem os doutoress pronunciarem essa forma errada e a adotam como correta.
26 UNIUBE

A forma erudita provém do adjetivo magro em latim: macer. Com o


acréscimo do sufixo formador do grau superlativo -rimo, formou-se o
adjetivo macérrimo.

A pronúncia “magérrimo” não se justifica por se tratar de palavra erudita, e


não vulgar. Portanto, se se pretende usar o superlativo absoluto sintético
do adjetivo “magro” na forma vulgar, deve-se falar magríssimo, forma
correta, e não a forma ridícula e errada “magérrimo”.

São, portanto, dois superlativos, um vulgar, magríssimo, e outro erudito,


macérrimo. A forma “magérrimo” simplesmente não existe, pois não
deriva nem do adjetivo “magro”, em português, nem do adjetivo “macer”,
em latim. Então, “magérrimo” não provém de radical primitivo nenhum,
nem do português, nem do latim.

A título de informação, mencionamos os seguintes adjetivos no grau


superlativo absoluto sintético erudito:

agudo: acutíssimo
amargo: amaríssimo
áspero: aspérrimo
benéfico: beneficentíssimo
benévolo: benevolentíssimo
célebre: celebérrimo
comum: comuníssimo
cristão: cristianíssimo
cruel: crudelíssimo
doce: dulcíssimo
fácil: facílimo
fiel: fidelíssimo
humilde: humílimo
incrível: incredibilíssimo
íntegro: integérrimo
UNIUBE 27

livre: libérrimo
magro: macérrimo
magnífico:magnificentíssimo
maléfico: maleficentíssimo
malévolo: malevolentíssimo
negro: nigérrimo
nobre: nobilíssimo
pessoal: personalíssimo
pobre: paupérrimo
sábio: sapientíssimo
sagrado: sacratíssimo

1.3.1.3 Artigo

Esta classe é mencionada neste estudo apenas como informação, pois


seu emprego é natural e espontâneo na sociedade falante, restando raros
casos de emprego estilístico ou regional.

Sua característica principal é a de acompanhar e preceder o substantivo:

o livro, um livro, a casa, uma casa, os livros, umas casas

O artigo classifica-se em:

DEFINIDOS O, A, OS, AS.


ARTIGOS

UM, UMA, UNS,


INDEFINIDOS
UMAS.
28 UNIUBE

1.3.1.4 Numeral

Numeral é a palavra da língua que exprime a ideia ou noção de número.


Não se trata dos símbolos aritméticos ou matemáticos. Trata-se da
palavra que nomeia os números.

O numeral classifica-se em: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário.

CARDINAIS ORDINAIS MULTIPLICATIVOS FRACIONÁRIOS

exprimem exprimem exprimem ideia exprimem ideia


os números ideia de ordem de número de número
básicos. em série. multiplicado. dividido

um, dois, primeiro, dobro, triplo, meio, um terço,


doze, oitenta, segundo,
quádruplo, um quinto,
duzentos, décimo segundo,
quatrocentos. octogésimo. quíntuplo. um oitavo.

No emprego dos numerais na língua falada, requer maior atenção a


denominação dos numerais ordinais, bastante “judiados” pelas pessoas
que falam em público, tais como locutores de jornais e de telejornais,
apresentadores de programas de televisão, palestrantes, oradores.

A seguir, apresentaremos apenas os numerais cardinais seguidos das


respectivas denominações como numerais ordinais, nas dezenas e nas
centenas.

Cardinais Ordinais Dezenas


dez décimo
vinte vigésimo
trinta trigésimo
quarenta quadragésimo
cinquenta quinquagésimo
sessenta sexagésimo
setenta setuagésimo ou septuagésimo
oitenta octogésimo (Atenção: octogésimo, e não “octagésimo”)
noventa nonagésimo
UNIUBE 29

Centenas
cem centésimo
duzentos ducentésimo (e não “duocentésimo”)
trezentos trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo
quinhentos quingentésimo
seiscentos sexcentésimo ou seiscentésimo
setecentos septingentésimo
oitocentos octingentésimo
novecentos nongentésimo ou noningentésimo

1.3.1.5 Pronome

Você já estudou as situações morfológicas e sintáticas do adjetivo, nas


quais consta a classe gramatical do pronome. A menção do pronome na
classe do adjetivo deve-se a uma de suas funções sintáticas análoga à
do adjetivo, que é a de modificador do nome substantivo.

No presente capítulo, apresenta-se a classe do pronome em sua


estrutura mórfica com as respectivas classificações e subdivisões, bem
como algumas situações sintáticas de funcionamento do pronome.

Etimologicamente, pronome é uma palavra que ocorre “em lugar


do nome”. Por extensão, pronome é a palavra que substitui o nome
substantivo ou a ele se refere como determinante na estrutura sintática
da frase. Essa dupla função na frase determina o conceito de pronomes
substantivos e pronomes adjetivos para todos os tipos de pronomes.
Assim, temos:

Pronomes substantivos: substituem o nome substantivo, funcionando


como núcleo de um termo sintático.
30 UNIUBE

Eu cheguei. (Pronome pessoal sujeito da oração)


Vou comprá-lo. (Pronome pessoal objeto direto da oração)
Não lhe direi a verdade. (Pronome pessoal objeto indireto)
Isto é muito bom. (Pronome demonstrativo sujeito)
Tudo está consumado. (Pronome indefinido sujeito)
Ninguém me viu. (Pronome indefinido sujeito – ninguém;
pronome pessoal objeto direto – me)

Pronomes adjetivos: determinam o nome substantivo, exercendo a


função sintática própria do adjetivo, como adjunto adnominal.

Meu filho viajou. (Pronome possessivo adjunto adnominal do sujeito)


Quero ver minha filha. (Pronome possessivo adjunto adnominal do
objeto direto)
Esse livro é meu. (Pronome demonstrativo adjunto adnominal do
sujeito)
Quero ler essa revista. (Pronome demonstrativo adjunto adnominal
do objeto direto)
Comprei outro carro. (Pronome indefinido adjunto adnominal do
objeto direto)
Outras denúncias foram apresentadas. (Pronome indefinido adjunto
adnominal do sujeito)

Classificações do pronome

Morfologicamente, o pronome apresenta as seguintes classificações:


pessoal, possessivo, demonstrativo, indefinido e relativo. Num caso à
parte, cita-se também o pronome interrogativo.

a) Pronomes pessoais

Como o nome sugere, designam as pessoas do discurso. Subdividem-se em


pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo.
UNIUBE 31

• Caso reto: exercem a função sintática de sujeito da oração.

Singular Plural
1.ª pessoa: eu nós
2.ª pessoa: tu vós
3.ª pessoa: ele / ela eles / elas

• Caso oblíquo: exercem a função sintática de complementos da


oração, distribuídos em objeto direto, objeto indireto e complemento
nominal. Alguns são de intensidade átona, presos ao verbo, e outros
possuem intensidade tônica, ocorrendo precedidos de preposição.

Singular Plural

1a pessoa: me, mim, comigo nos; conosco

2a pessoa: te, ti; contigo vos; convosco

3a pessoa: se, si; consigo; o, a; lhe se, si; consigo; os, as; lhes

• Caso oblíquo: exercem a função sintática de complementos da


oração, distribuídos em objeto direto, objeto indireto e complemento
nominal. Alguns são de intensidade átona, presos ao verbo, e outros
possuem intensidade tônica, ocorrendo precedidos de preposição.

Singular Plural

1.ª pessoa: me, mim, comigo nos; conosco

2.ª pessoa: te, ti; contigo vos; convosco

3.ª pessoa: se, si; consigo; o, a; lhe se, si; consigo; os, as; lhes

Particularidades de alguns pronomes

Os pronomes pessoais oblíquos de terceira pessoa O, A, OS, AS, que


exercem apenas a função sintática de objeto direto, sofrem as seguintes
transformações, com a mesma função sintática de objeto direto:
32 UNIUBE

• LO, LA, LOS, LAS: depois de formas verbais terminadas nas letras
R, S ou Z, letras que se eliminam.

Quero comprá-lo (compraR-O). Fê-lo (feZ-O).


Compramo-lo (compramoS-O). Fê-las (feZ-AS)

• NO, NA, NOS, NAS: depois de formas verbais terminadas em M ou


em ditongo nasal ÃO, ÕE, letras que permanecem.

Fizeram-no (fizeraM-O)
Fizeram-nas (fizeraM-AS)
Dão-no (dÃO-O).
Propõe-na (propÕE-A).

Quanto à relação com o sujeito e com o objeto direto e objeto indireto, os


pronomes oblíquos classificam-se em reflexivos e não reflexivos.

• Pronomes reflexivos: o complemento é da mesma pessoa do


sujeito. Este pratica a ação em si mesmo.

Exemplos:

Eu me feri.
Tu te feriste.
Ele se feriu.
Nós nos ferimos.
Vós vos feristes.
Eles se feriram.

• Pronomes não reflexivos: O complemento é de pessoa diferente


da pessoa do sujeito. Este pratica a ação em outro ser, e não nele
mesmo.
UNIUBE 33

Exemplos:

Ele me feriu.
Eu te feri.
Ele nos feriu.
Eu os feri.
Nós o ferimos.
Eu vos feri.

Alguns pronomes pessoais do caso oblíquo são só reflexivos.

Ele se feriu.
Ele ficou fora de si.
Ele fala consigo mesmo.

Outros são só não reflexivos.

Eu o feri.
Eu a conheço.
Eu falo com ele.

Sintaticamente, alguns pronomes funcionam como objeto direto e como


objeto indireto:

Ele me viu. (objeto direto)


Ele me entregou o dinheiro. (objeto indireto)
Eu te conheço. (objeto direto)
Eu te entreguei o dinheiro. (objeto indireto)

Outros funcionam ou só como objeto direto, ou só como objeto indireto.


34 UNIUBE

a) Só objeto direto: o, a, os, as e suas transformações.

Eu o conheço.
Há tempo não a vejo.
Quero encontrá-lo.
Encontraram-no.

b) Só objeto indireto:

Vou entregar-lhe o dinheiro.


Eu lhe mostrei o erro.
Não lhes devo explicação.
Vou dizer-lhes a verdade.

Constitui erro, desvio da norma culta, dizer “Eu lhe conheço”, “Há tempo
não lhe vejo”, pois o pronome lhe não funciona como objeto direto, e os
verbos “conhecer” e “ver” são transitivos diretos.

b) Pronomes possessivos

Indicam as pessoas do discurso a quem uma coisa pertence, isto é, ideia


de posse. Daí o nome “possessivo”.

Esse conceito determina as seguintes situações para as noções de


posse:

Um só possuidor e uma só coisa possuída, ou singular do possuidor e


singular da coisa possuída:

1a pessoa: meu / minha


2a pessoa: teu / tua
3a pessoa: seu / sua
UNIUBE 35

Exemplo: Meu livro sumiu (um só livro pertencente a um só possuidor).

Um só possuidor e mais de uma coisa possuída, ou singular do possuidor e


plural da coisa possuída:

1a pessoa: meus / minhas


2a pessoa: teus / tuas
3a pessoa: seus / suas

Exemplo: Meus livros sumiram (mais de um livro pertencente a um só


possuidor).

Mais de um possuidor e uma só coisa possuída, ou plural do possuidor


e singular da coisa possuída:

1a pessoa: nosso / nossa


2a pessoa: vosso / vossa
3a pessoa: seu / sua

Exemplo: Nosso livro sumiu (um só livro pertencente a mais de um


possuidor).

Mais de um possuidor e mais de uma coisa possuída, ou plural do


possuidor e plural da coisa possuída:

1a pessoa: nossos / nossas


2a pessoa: vossos / vossas
3a pessoa: seus / suas

Exemplo: Nossos livros sumiram (mais de um livro pertencente a mais


de um possuidor).
36 UNIUBE

c) Pronomes demonstrativos

Indicam o lugar em que uma pessoa ou coisa se encontra ou o tempo em


que um fato ocorre, em relação às pessoas do discurso.

Perto da 1a pessoa: este, estes / esta, estas / isto


Perto da 2a pessoa: esse, esses / essa, essas / isso
Afastado da 1a e da 2a pessoa: aquele, aqueles / aquela, aquelas /
aquilo

Os pronomes isto, isso e aquilo não possuem flexão de gênero nem


de número.

Alguns exemplos:

Este relógio que está comigo é novo (relógio perto da 1a pessoa – a


que fala).
Esse relógio é novo? (relógio perto da 2a pessoa – com quem se
fala).
Aquele relógio é novo (relógio distante da pessoa que fala e da
pessoa com quem se fala).

Nas indicações de tempo, as relações são:

Tempo simultâneo ao momento da fala: este, estes / esta, estas.


Tempo não simultâneo ao momento da fala: esse, esses / essa,
essas; ou: aquele, aqueles / aquela, aquelas.

Alguns exemplos:

Neste ano choveu muito. (no ano em que ocorreu a fala).


Esta semana passou muito depressa. (a semana em que ocorreu
a fala).
Em 1960, completei dez anos. Nesse ano, a cidade de Brasília foi
inaugurada. (a fala não ocorreu em 1960).
UNIUBE 37

No enunciado acima, pode ser, também, “naquele ano”.

Note que os pronomes demonstrativos podem ter a combinação com


algumas preposições:

DE: deste, desta, dessa, daquele, daquelas.


EM: neste, nesta, nessa, naquele, naquelas.

d) Pronomes indefinidos

Referem-se a pessoas ou coisas de modo vago, impreciso.


Morfossintaticamente, são todos da 3.ª pessoa, do singular ou do plural.
Alguns se referem a pessoas e a coisas, outros só a pessoas, outros só
a coisas.

Os principais são:

algum, alguns / alguma, algumas / algo


nenhum / nenhuma / nada
alguém
ninguém
todo, todos / toda, todas / tudo
outro, outros / outra, outras / outrem
certo, certa / certos, certas
muito, muitos / muita, muitas
bastante, bastantes
pouco, poucos / pouca, poucas
cada / vários
qualquer, quaisquer
38 UNIUBE

Alguns exemplos:

Alguns livros foram destruídos.


Tenho muitos amigos e muitas amigas.
Tenho bastantes amigos.
Certas coisas não devem ser ditas.

Os pronomes nada, alguém, ninguém, tudo e cada não possuem flexão


de gênero nem de número.

Exemplos:

Alguém me chamou?
Ninguém me viu.
Nada se perde.
Tudo lhe agrada.
Cada coisa em seu lugar.

e) Pronomes relativos

Referem-se a termos citados anteriormente. Os principais são:

O QUAL OS QUAIS CUJO CUJOS ONDE QUANTO QUANTOS


QUE QUEM
A QUAL AS QUAIS CUJA CUJAS AONDE QUANTA QUANTAS

Alguns exemplos: O livro que comprei é bom.


O pronome “que” retoma o substantivo “livro”.

As pessoas que chegaram estão com fome.


O pronome “que” retoma o substantivo “pessoas”.

Esse é o autor cujas obras foram premiadas.


O pronome “cujas” retoma o substantivo “autor” e indica
ideia de posse (obras do autor).
UNIUBE 39

1.3.1.6 Verbo

Neste item, é apresentada a estrutura do verbo com os detalhes necessários


ao seu estudo e à sua compreensão.

Detalhes da estrutura mórfica expõem os elementos constitutivos


do verbo, como radical, vogal temática, desinência modo-temporal e
desinência número-pessoal.

Tais morfemas são expostos na formação dos tempos e modos de verbos


regulares e irregulares. Acresce, ainda, a apresentação de quadros de
conjugação e formação dos tempos, com as formas primitivas e as
derivadas.

Classificação dos verbos

Quanto à conjugação, os verbos classificam-se em:

REGULARES IRREGULARES ANÔMALOS DEFECTIVOS ABUNDANTES AUXILIARES

Regulares são os verbos que não sofrem modificação ou alteração


em seu radical ou nas desinências dos verbos considerados modelos ou
paradigmas para os demais verbos da mesma conjugação, tradicionalmente
assim expostos:

1a conjugação: mand-ar
2a conjugação: vend-er
3a conjugação: part-ir

Como exemplo, o radical mand- do verbo “mand-ar” é o mesmo em todas


as pessoas de todos os tempos e modos. Assim também as desinências
de cada tempo e modo são as mesmas para todos os verbos da mesma
classe.
40 UNIUBE

As desinências e a vogal temática, para o tempo presente do modo


indicativo dos verbos da 1a conjugação, regulares, são:

-o
-as
-a
-amos
-ais
-am

Isso significa que qualquer verbo da 1.ª conjugação se forma, no tempo


presente do modo indicativo, com o acréscimo dessas terminações (vogal
temática e desinências) aos respectivos radicais.

Exemplos:

Eu mand- / fal- / cant- / estud- o


Tu mand- / fal- / cant- / estud- as
Ele mand- / fal- / cant- / estud- a
Nós mand- / fal- / cant- / estud- amos
Vós mand- / fal- / cant- / estud- ais
Eles mand- / fal- / cant- / estud- am

Irregulares são os verbos que sofrem alteração em seu radical ou


nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas da
respectiva conjugação a que pertencem.

Assim, por exemplo, o verbo faz-er, cujo radical original é faz-, possui, nas
flexões de pessoas, números, tempos e modos, as seguintes alterações
do radical, constituindo, portanto, mais de um radical:

faz-: faz-emos, faz-em


faç-: faç-o, faç-am
UNIUBE 41

fiz- :fiz, fiz-emos


fez-: fez
far-: far-ei, far-ia
feit-: feito

A ocorrência de verbos irregulares é vasta em português. O conheci-


mento de cada um deles, com as devidas variações de radical e de
desinências, é necessário e importante para o bom desempenho da
língua no nível culto ou norma padrão.

Alguns exemplos de verbos irregulares, apresentados com a separa-


ção dos diferentes radicais:

diz-er / dig-o / diss-e


traz-er / trag-o / troux-e
da-r / de-r
te-r / tenh-o / tiv-e
ve-r / vi-ram
vi-r / vie-ram
pô-r / ponh-o / pus-eram
cab-er / caib-o / coub-e
sab-er / saib-a / soub-e

• Anômalos são os verbos irregulares que se formaram com radicais


de verbos diferentes na sua etimologia latina. São apenas os verbos
ser e ir.

se-r / se-rei; e-ra / e-ram; fo-r / fo-ram


i-r / i-rei; va-mos / va-is; fo-r / fo-ram

• Defectivos são os verbos que não possuem todas as formas ou


não se conjugam completamente. Subdividem-se em defectivos
impessoais e defectivos pessoais.
42 UNIUBE

• Defectivos impessoais: designam fenômenos da natureza, como


chover, ventar, trovejar. Tais verbos empregam-se apenas na 3a
pessoa do singular dos tempos e modos ou nas formas nominais.

São denominados impessoais porque não possuem sujeito,


sendo as orações constituídas por eles analisadas como
orações sem sujeito.

São também impessoais, em português, o verbo haver, no sentido de


“existir” ou de tempo decorrido, e o verbo fazer, no sentido de tempo
decorrido. Assim, pois, são empregados apenas na 3a pessoa do singular.

Exemplos:

Houve reclamações. (e não “houveram”)


Havia crianças na rua. (e não “haviam”)
Caso haja vagas,... (e não “hajam”)
Se houver dúvidas,... (e não “houverem”)
Faz dez anos que ele se formou. (e não “Fazem”)
Ele se formou faz dez anos. (e não “fazem”)

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Em locuções verbais com verbo impessoal, os verbos auxiliares também se


tornam impessoais, não sofrendo, portanto, flexão de plural.

Exemplos:

Vai haver reclamações. (e não “Vão”)


Pode haver muitos candidatos. (e não “Podem”)
Deve haver vagas. (e não “Devem”)
Vai fazer dez anos que ele se formou. (e não “Vão”)
Está fazendo dois meses que ele morreu. (e não “Estão”)
UNIUBE 43

• Defectivos pessoais: são verbos que possuem sujeito, mas não se


conjugam em todas as formas, faltando algumas pessoas em alguns
tempos.

Exemplo:

a) abolir – No presente do indicativo não possui a 1a pessoa do singular,


ficando assim sua conjugação nesse tempo e modo:

Eu ..............
Tu aboles
Ele abole
Nós abolimos
Vós abolis
Eles abolem

Por não possuir a 1a pessoa do singular, não possui, também, nenhuma


das seis pessoas do tempo presente do modo subjuntivo, que é uma
forma derivada daquela pessoa do presente do indicativo. Não existe,
portanto, uma forma do verbo “abolir” para uma frase como esta, por
exemplo:

Ex.: O reitor quer que eu .................. este artigo do regimento.

Quando ocorre semelhante situação, supre-se a defectibilidade do


verbo empregando-se um verbo sinônimo ou de significado análogo ou
equivalente.

Exemplo:

O reitor quer que eu [elimine, retire] este artigo do regimento.

São também defectivos, entre outros, os verbos reaver, precaver-se,


colorir, falir, adequar.
44 UNIUBE

Abundantes são os verbos que possuem mais de uma forma para


a mesma estrutura número-pessoal ou modo-temporal, ou de forma
nominal, geralmente do particípio. Neste caso específico do particípio,
ocorre dupla denominação: particípio regular e particípio irregular.

a) Particípio regular: formado com as vogais temáticas -a, para os


verbos da 1a conjugação, e -i, para os verbos da 2a e da 3a conjugação,
e da desinência -do, acrescidas ao radical do respectivo verbo, sempre
regular.

b) Particípio irregular: formado por um radical regular ou irregular de um


verbo, sem a vogal temática e com a desinência -o. Alguns exemplos
de particípio abundante:

REGULAR IRREGULAR
matar matado morto
aceitar aceitado aceito
imprimir imprimido impresso
pagar pagado pago
ganhar ganhado ganho
gastar gastado gasto
eleger elegido eleito
entregar entregado entregue

O emprego de uma ou de outra forma dos particípios abundantes se faz


da seguinte maneira:

Particípio regular: com os verbos auxiliares ter e haver.


Exemplos:

Eu tinha aceitado o convite.


Eu havia aceitado o convite.
Ele tinha imprimido o texto.
UNIUBE 45

Ele havia imprimido o texto.


O povo tinha elegido o deputado.
O povo havia elegido o deputado.

Particípio irregular: com os demais verbos auxiliares, como ser, estar,


ficar, continuar, parecer.
Exemplos:

O convite foi aceito.


O convite está aceito.
O convite ficou aceito.
O convite continua aceito.
O convite parece aceito.
O texto foi impresso.
O texto está impresso.
O texto ficou impresso.
O deputado foi eleito.
O deputado está eleito.
O deputado ficou eleito.

Note que existem verbos que não são abundantes no particípio, sendo
alguns só regulares, e outros só irregulares.

Alguns verbos de particípio só regular:

chegado (chegar) – não existe o particípio “chego”.


falado (falar) – não existe o particípio “falo”.
trazido (trazer) – não existe o particípio “trago”.

As formas irregulares desses verbos são largamente empregadas por


pessoas cultas, instruídas, como se fossem corretas, havendo pessoas
que até “corrigem” as que falam corretamente. São, portanto, erradas
as seguintes expressões:
46 UNIUBE

Fui à casa do Alfredo, mas ele ainda não tinha chego. (correto: chegado)
O deputado tinha falo a verdade. (correto: falado)
O funcionário não tinha trago o dinheiro. (correto: trazido)

Alguns verbos de particípio só irregular:

coberto, descoberto (cobrir, descobrir)


dito (dizer)
escrito (escrever)
feito (fazer)
visto (ver)

• Auxiliares são os verbos que servem para a formação e conjugação


de tempos compostos ou locuções verbais.

Os principais verbos auxiliares são: ser, estar, ter, haver.

Como exemplos de emprego de verbos auxiliares, citam-se os mencionados


no emprego dos particípios regulares e irregulares dos verbos abundantes,
no item anterior.

Conjugações

Em português, conforme exposto no item da classificação dos verbos,


existem três conjugações, identificadas pela vogal temática que,
geralmente, antecede a desinência -r do infinitivo. As denominações são
feitas pelos numerais ordinais primeira, segunda e terceira.

Primeira conjugação: -ar (mandar, falar, cantar)


Segunda conjugação: -er (vender, receber, escrever)
Terceira conjugação: -ir (partir, dividir, repetir)
UNIUBE 47

O verbo pôr não constitui conjugação à parte. Pertence à segunda


conjugação, conforme se aduz das pessoas em que a vogal temática -E
está presente:

pus-E-r
pus-E-sse

1.3.2 Palavras invariáveis

1.3.2.1 Advérbio

Advérbio é a palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e outro


advérbio, indicando-lhes uma circunstância. Sintaticamente, o advérbio
é o termo que determina uma dessas três classes de palavras.

Advérbio modifica verbo:


Ele estuda muito. Elas estudam muito.

Advérbio modifica adjetivo:


Ele é muito alto. Elas são muito altas.

Advérbio modifica outro advérbio:


Ele mora muito longe. Elas moram muito longe.

Classificação do advérbio

Morfologicamente, o advérbio classifica-se nas seguintes circunstâncias:

De lugar: aqui, ali, lá, longe.


De tempo: agora, já, cedo, tarde, ontem, hoje, nunca.
De modo: bem, mal, melhor, pior, claramente, calmamente.
48 UNIUBE

De intensidade: muito, bastante, pouco, mais, menos, tão.


De dúvida: talvez, porventura, acaso, quiçá, provavelmente.
De afirmação: sim, realmente, perfeitamente, deveras.
De negação: não.

Locuções adverbiais

Denomina-se locução adverbial o conjunto de duas ou mais palavras


que equivalem a um advérbio. Neste caso, classifica-se e analisa-se a
expressão toda, e não cada uma das palavras que constituem a locução.

Algumas locuções adverbiais:

às mil
às vezes às claras às ocultas às pressas
maravilhas

de vez em pouco a
de cor em breve de propósito
quando pouco

Algumas locuções adverbiais podem ter os advérbios delas derivados e


a elas equivalentes:

em breve: brevemente
às pressas: apressadamente
às claras: claramente
de propósito: propositalmente

1.3.2.2 Preposição

Preposição é a palavra invariável que liga dois termos entre si, dentro da
oração, estabelecendo entre esses termos uma relação de complemento ou
de subordinação sintática e semântica.
UNIUBE 49

Exemplos:

Eu gosto de doce (relação de complemento do verbo).


Ele confia em Deus (relação de complemento do verbo).
Comprei um anel de ouro (noção de matéria, determinante do substantivo
“anel”).
Trabalhamos para viver (relação de finalidade ligada ao verbo).

Principais preposições: de, em, para, por, com, sem, contra, sobre, sob,
entre, desde, ante, antes, após.

Combinação

Morfologicamente, algumas preposições podem combinar-se com


palavras de outra classe gramatical, como os artigos e alguns pronomes,
situação denominada combinação. Exemplos:

de: do, da, dos, das (combinação com os artigos definidos),


deste, desta, destes, destas (combinação com os pronomes
demonstrativos),
dele, dela, deles, delas (combinação com pronomes pessoais),

em: no, na, nos nas (combinação com os artigos definidos),


num, numa, nuns, numas (combinação com os artigos indefinidos),
neste, nesta, nestes, nestas (combinação com pronomes
demonstrativos),
nele, nela, neles, nelas (combinação com pronomes pessoais),
noutro, noutra, noutros, noutras (combinação com pronomes
indefinidos).

por: pelo, pela, pelos, pelas (combinação com os artigos definidos).


50 UNIUBE

Locuções prepositivas

Denomina-se locução prepositiva o conjunto de duas ou mais palavras


que equivalem a uma preposição.

Algumas locuções prepositivas:

abaixo de, acima de, acerca de, a fim de, além de, a respeito de, na conta
de, ao redor de, a par de, apesar de, depois de, diante de, em torno de,
em vez de, por causa de, através de, junto a, por detrás de, para com.

Nota: as locuções prepositivas terminam sempre por uma preposição.

1.3.2.3 Conjunção

Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações entre si, dentro
do período, estabelecendo entre essas orações relações de coordenação e
de subordinação.

Daí sua divisão em conjunções coordenativas e conjunções subordinativas.

EXEMPLIFICANDO!

As conjunções são palavras da língua que têm como função ligar orações
ou termos de mesmo valor gramatical, por exemplo:

• Concluiu o relatório, mas não o enviou ao diretor. (conjunção adversativa).


• Fez a entrevista e entregou o currículo. (conjunção aditiva).
• Deixou de comparecer à reunião, pois estava adoentado. (conjunção
explicativa).
• Conseguiu vencer as metas da empresa, portanto foi promovido à
coordenador. (conjunção conclusiva).
• Durante a assembleia, ficou estabelecido aos presentes que, ao final,
cada membro vota na primeira opção ou na segunda, não sendo
permitido o voto nulo. (conjunção alternativa).
UNIUBE 51

Conjunções coordenativas

Ligam orações coordenadas, isto é, orações que não exercem função


sintática em outra oração. Semântica e sintaticamente, possuem as
seguintes classificações:

ADITIVAS ADVERSATIVAS CONCLUSIVAS EXPLICATIVAS ALTERNATIVAS

a) Aditivas: ligam simplesmente duas orações sem qualquer ideia


subsidiária ou secundária. São elas: e, nem.

Exemplos:

João estuda e trabalha.


João não estuda nem trabalha.

Constitui desvio da norma culta o emprego do conjunto “e nem”


quando empregado como simples adição de orações ou de termos
da oração.

Exemplos:

Não estuda e nem trabalha. (forma errada)


Corrija-se: Não estuda nem trabalha. (forma correta)

Ele não leu o livro e nem o jornal. (forma errada)


Corrija-se: Ele não leu o livro nem o jornal. (forma correta)

b) Adversativas: ligam orações com ideia de oposição, advertência,


ressalva, entre outras. As principais são: mas, contudo, porém, todavia,
no entanto.
52 UNIUBE

Exemplos:

Esse aluno estudou, mas foi reprovado.


Você pode sair. Leve, porém, o paletó.
Os negócios foram bons, todavia houve alguns prejuízos.
Ele recebeu o dinheiro, no entanto as notas eram falsas.

Algumas conjunções adversativas podem ocorrer no início, no meio ou


no final da oração.

Exemplos:

No início da oração: Ele estudou, porém foi reprovado.


No meio da oração: Ele estudou, foi, porém, reprovado.
No final da oração: Ele estudou, foi reprovado, porém.

Constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma


conjunção adversativa na ligação de duas orações, como em:
“Ele estudou, mas porém foi reprovado”.

c) Conclusivas: ligam orações com ideia de conclusão. As principais


são: logo, portanto, pois (no meio ou no final da oração), por conseguinte,
por isso.

Exemplos:

Esse aluno estudou, portanto será aprovado.


Ele não estudou, por isso foi reprovado.
Ele foi aprovado em primeiro lugar, é, pois, muito estudioso.
UNIUBE 53

d) Explicativas: ligam duas orações de modo que a segunda explique


a primeira. As principais são: que, porque, pois (no início da oração),
porquanto. Exemplos:

Corra, que a polícia está chegando.


Ande depressa, meu filho, pois vai chover.
Choveu esta noite, porque o chão está molhado.

e) Alternativas: ligam dois pensamentos de ocorrência alternada. As


principais são: ou (repetida ou não), já...já, ora...ora, quer...quer.

Exemplos:

(Ou) Você estuda ou vê televisão.


Naquela cidade, ora faz frio, ora faz calor.

Conjunções subordinativas

Ligam orações subordinadas, isto é, orações que exercem função


sintática em outra oração, denominada oração principal.

Classificam-se em:

CONJUNÇÕES
SUBORDINATIVAS

ADVERBIAIS INTEGRANTES
54 UNIUBE

a) Integrantes: ligam orações subordinadas substantivas à oração


principal. São elas: que, se.

Exemplos:

Quero que você viaje hoje mesmo.


Não sei se ele vai viajar hoje.

b) Adverbiais: ligam orações subordinadas adverbiais à oração principal.


Subdividem-se em:

• Causais: porque, pois, já que, desde que (com verbo no indicativo),


uma vez que (com verbo no indicativo), como (no início do período
ou antes da oração principal). Exemplos:

Ele não foi pescar porque estava chovendo.


Como estava chovendo, ele não foi pescar.
Esse menino não vai passear, uma vez que obteve notas muito
baixas.
Já que você atrasou o pagamento das parcelas, seu contrato foi
cancelado.

• Condicionais: se, caso, contanto que, desde que (com verbo no


subjuntivo e infinitivo), uma vez que (com verbo no subjuntivo).
Exemplos:

Ela vai pescar se não chover.


Caso chova, ela não vai pescar.
Uma vez que você obtenha boas notas, eu deixo você passear.

Constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma


conjunção condicional na ligação de duas orações, como em “Se
caso” você vier, traga o dinheiro.
UNIUBE 55

Corrija-se: Caso você venha, ...


Ou: Se você vier, ...

• Concessivas: embora, ainda que, por mais que, conquanto.


Exemplos:

Embora esteja chovendo, ele vai pescar.


Ele não consegue vencer o jogo, por mais que se esforce.
Ainda que você implore de joelhos, não lhe perdoarei.

• Comparativas: que, do que, como, quanto, assim como. Exemplos:

Ele chorou como uma criança. Jorge estuda mais que seu irmão.
Jorge estuda tanto quanto seu irmão.

• Conformativas: como, conforme, consoante, segundo. Exemplos:

Ele agiu como seu pai recomendou.


O mecânico trabalhou conforme recomendei.
Segundo consta no regimento, a matrícula pode ser cancelada.

• Consecutiva: apenas a conjunção que, precedida de palavras de


valor intensivo como tão, tal, tamanho, tanto, na oração principal.
Exemplos:

O orador falou de tal maneira, que comoveu os ouvintes.


A moça chorou tanto, que seus olhos ficaram inchados.
Ele é tão rico, que comprou uma ilha e um avião.

• Temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, até que,


desde que, sempre que, logo que, assim que. Exemplos:

Enquanto o orador falava, muitas pessoas dedilhavam o aparelho


celular.
Ainda chovia muito quando o avião pousou.
Ficarei na sala até que todos os alunos terminem a prova.
56 UNIUBE

Desde que ele se casou, nunca mais foi pescar.


Depois que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.
Assim que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.

• Finais: para que, a fim de que, porque. Exemplos:

Venha cedo, para que você não fique em pé durante a cerimônia.


Estude bastante, a fim de que seja aprovado.

• Proporcionais: à proporção que, à medida que, quanto mais... tanto


mais, quanto mais...tanto menos, quanto menos...tanto menos, quanto
menos...tanto mais. Exemplos:

O funcionário ia salvando o texto à medida que o digitava.


Quanto mais eu estudo, (tanto) mais aprimoro meus conhecimentos.

Locuções conjuntivas

Denomina-se locução conjuntiva o conjunto de duas ou mais palavras


que equivalem a uma conjunção.

Algumas locuções conjuntivas:

já que, visto que, desde que, uma vez que, ainda que, por mais que, a
menos que, contanto que, à medida que, à proporção que, antes que.

Note que algumas conjunções são homônimas, isto é, pertencem


a mais de uma classificação. O que as diferencia e identifica é
o sentido em cada contexto.
UNIUBE 57

Exemplo:

desde que: 1 – causal; 2 – condicional; 3 – temporal.


como: 1 – causal; 2 – comparativa; 3 – conformativa.

1.3.2.4 Interjeição

Interjeição é a palavra invariável que exprime emoção ou sentimento


súbito, como alegria, dor, espanto, saudação, chamamento ou vocativo,
medo, indignação, advertência, desagrado.

Exemplos:

admiração ou alegria: ah! oh! oba! viva!


animação: eia! avante!
dor: ai! ui!
espanto ou exclamação: oh! puxa!
saudação: oi, olá! salve! viva!
chamamento ou vocativo: ó, ô, alô.
medo: uh! ui! credo!
indignação: fora! morra! abaixo!
advertência: cuidado! devagar!
desagrado: oh! ora bolas!
desejo: oxalá! tomara!
silêncio: psiu! silêncio!

Locuções interjetivas

Denomina-se locução interjetiva o conjunto de duas ou mais palavras


que equivalem a uma interjeição.

Algumas locuções interjetivas

ai de mim! quem me dera! ó de casa, bem feito! muito bem! valha-me Deus!
58 UNIUBE

1.4 Conclusão

A gramática é um dos pilares de uma língua, pois não existe língua sem
gramática. A simples fala de um sertanejo analfabeto possui gramática.
Quando um caminhante encontra outro e pergunta “Cê tá bão?”, existe,
nessa fala, uma estrutura gramatical: “cê”, para a 3.ª pessoa do singular;
“tá”, forma verbal na mesma pessoa para concordar com o sujeito “cê”;
“bão”, masculino, para se referir ao sexo masculino do interlocutor. E, na
resposta do outro, “tô”, há também uma estrutura gramatical: “tô”, na 1.ª
pessoa do singular, para concordar com o sujeito “eu”.

Os interlocutores não disseram “cê tô” e “eu tá”. Essas relações entre
as palavras constituem a gramática da língua, em qualquer de suas
modalidades ou níveis, tanto culta, elevada, quanto coloquial. Estudar
gramática é apreender e aprender os elementos constitutivos do idioma
para o bom domínio desse maravilhoso objeto de estudo no campo do
conhecimento científico da língua que falamos.

Resumo
Neste capítulo, você viu alguns tópicos da estrutura da Língua Portuguesa
que constituem elementos da gramática descritiva e da gramática
normativa. São situações que tornam possível o bom desempenho da
língua na modalidade culta, ou na língua padrão. Foram apresentados
aspectos ortográficos, morfológicos, sintáticos e semânticos, entre outros,
com destaque para o tópico referente às classes de palavras, pois esse
conteúdo constitui o seguro alicerce para o bom domínio do idioma.
UNIUBE 59

Referências

ANDRÉ, Hildebrando Afonso de. Gramática ilustrada da língua portuguesa. São


Paulo: Moderna, 1979.

AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de


Janeiro: Delta, 1964.

BARRETO, Mário. Novos estudos da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Presença, 1980.

BECHARA, Evanildo Cavalcante. Moderna gramática portuguesa. São Paulo:


Nacional, 1982.

. Lições de português pela análise sintática. Rio de Janeiro: Fundo


de Cultura, 1970.

. Novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua


portuguesa. Santos: Editora Brasília, 1974.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro


Técnico, 1976.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. Porto Alegre: Globo,1953.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2001.
60 UNIUBE

LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976.

. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo, 1986.

SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino- português. Rio de Janeiro:


Garnier, 2000.

SAUTCHUK, Inez. Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)
sintática. 3. ed. Barueri: Manole, 2018.

TORRES, Artur de Almeida. Moderna gramática expositiva da língua portuguesa.


Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.

VOCABULÁRIO Ortográfico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Global, 2009.


Capítulo
Aspectos pragmáticos:
usos e normas
2

Introdução
A correta expressão do pensamento por meio de linguagem
verbal é peculiaridade de uma língua, ou idioma. No nível culto,
ou norma padrão, existem estruturas próprias e distintas da
simples comunicação coloquial diária. São situações de pronúncia,
de escrita ou ortografia, de flexão de palavras e, acima de tudo, de
significado. A palavra certa para o lugar certo é uma questão
de respeito com a identidade daquilo que desejamos expressar.
Essa identidade tem a mesma natureza da identidade de uma
pessoa, por exemplo, em todas as suas marcas. Se a palavra
possui tantas letras, e eu elimino, acrescento ou troco uma letra,
eu adulterei a identidade dessa palavra. Ela passa a ser outra
palavra, como no caso de um nome próprio de pessoa: se o
nome é, por exemplo, Eliana, e eu escrevo ou falo Eliane, deixou
de ser a pessoa a quem desejo referir-me. Eu falei ou escrevi o
nome errado. É outra pessoa.

O mesmo ocorre com a estrutura de uma língua. Se, na escrita,


a palavra tem a letra “S”, e eu grafo “Z”, deixou de ser o termo
que eu desejava expressar. Se a forma verbal se refere a um
sujeito de determinada pessoa e número, e eu expresso essa
62 UNIUBE

forma em outra pessoa ou em outro número, deixou de ser a


expressão pretendida por mim, o que “autoriza”, de certa forma,
o interlocutor a entender de maneira diferente a minha ideia ou
o meu pensamento.

Neste capítulo, serão apresentadas situações práticas de emprego


correto de diversos aspectos da língua, tanto no campo da
ortografia quanto da morfologia, da sintaxe e da semântica, entre
outros. O leme deste tópico é a norma padrão, ou nível culto da
Língua Portuguesa. Isto é: a forma correta da palavra, da expressão,
da frase, dos termos estruturais da língua.

A falta de estudo ou o “esquecimento” do que foi aprendido no


passado são os principais culpados dos desvios ou erros praticados
por pessoas de certa cultura intelectual em suas falas ou em
seus escritos. Muitas e muitas vezes são erros cometidos por
professores, escritores, palestrantes, ou por qualquer pessoa que,
por ofício, fala em público ou ao público. O descuido e o hábito
sedimentado para a expressão errada fazem a pessoa pensar
que o errado é certo, e esse erro se alastra e se torna uma
espécie de paradigma para outras pessoas menos instruídas ou
menos escolarizadas.

A quantidade desses erros ou desvios é enorme. Aqui serão


expostos apenas alguns fatos dos mais frequentes e geralmente
apresentados em gramáticas, livros didáticos ou simples manuais
de boa linguagem, para estudiosos ou autodidatas.
UNIUBE 63

Objetivos
Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:

• explicar algumas normas de pontuação, acentuação gráfica


e ortografia;
• realizar a forma correta da pronúncia e da escrita de palavras e
expressões;
• mostrar a relação entre morfologia e sintaxe;
• explicar as variantes ortográficas e semânticas presentes nas
palavras.

Esquema
2.1 A estrutura da sentença e a pontuação
2.1.1 Pontuação no período simples
2.1.2 Pontuação no período composto
2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção e
2.2 Acentuação gráfica
2.2.1 Posição da sílaba tônica
2.2.2 Casos especiais
2.3 Dificuldades mais frequentes da Língua Portuguesa
2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê
2.3.2 Crase
2.3.3 Palavras e expressões
2.3.4 Funções do pronome se
2.3.5 Regência de alguns verbos
2.3.6 Emprego do pronome relativo que com verbos que
regem preposição
2.4 Conclusão
64 UNIUBE

2.1 A estrutura da sentença e a pontuação

Em outra obra e/ou gramáticas são expostos os elementos constituintes


da oração e do período, ou, por extensão, constituintes da frase ou
sentença. O conhecimento das estruturas oracionais ou frasais conduz
ao conhecimento das situações e normas de pontuação, para a correta
expressão do pensamento.

Neste item, serão retomadas essas estruturas para o estabelecimento


do emprego dos sinais de pontuação ocorrentes no uso diário do
idioma, nos textos escritos. Sim, os sinais de pontuação constituem
recursos da língua escrita, e não da língua falada. Nesta, os recursos de
compreensão da mensagem são as inflexões de voz, a entonação e
outras situações de expressão oral.

Na escrita, os sinais de pontuação determinam significados e orientam o


leitor às inflexões de voz e de entonação, no caso da leitura dos textos
escritos. Esses sinais possuem, portanto, dupla finalidade semântica e
de orientação de leitura.

Frase mal pontuada pode gerar confusões, ambiguidades e


mal-entendidos. O mau emprego dos sinais de pontuação constitui erro
não só sob o aspecto gramatical ou ortográfico, mas de entendimento
real daquilo que se deseja comunicar. Isto é, o emissor deseja
comunicar ou informar uma coisa, mas diz outra. Nesse caso, a “culpa”
do mal-entendido não é do leitor, mas de quem produziu e redigiu o
texto. Como ocorre no seguinte diálogo (Figura 1) de um texto mal
pontuado:
UNIUBE 65

Figura 1: Visualizando a barata.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

– Você matou a barata?


– Matei Maria.

Coitada da Maria!... Com a falta da vírgula na fala do segundo personagem,


quem morreu assassinada foi a Maria, e não a barata!

Agora chegou a vez de conhecer a estrutura sintática da frase constituída de um


período simples. O conhecimento dos termos da oração é indispensável para
a aprendizagem o correto desempenho no emprego dos sinais de pontuação.

A frase com o “desvio” na fala do segundo personagem do diálogo citado


possui a seguinte estrutura sintática:

Sujeito: simples, eu. (Atenção: sujeito simples, e não “oculto”, numa


correta análise, conforme dispõe a Nomenclatura Gramatical Brasileira).

Predicado verbal: matei Maria.


Objeto direto: Maria. Isto é, “eu matei Maria”.
66 UNIUBE

Essa é a análise da frase, tal como foi redigida. No contexto em que foi
redigido todo o texto, é provável que o personagem tenha desejado dizer
que matou a barata, informando isso à personagem Maria. Nesse caso,
a redação da frase deveria ser:

– Matei, Maria.

Redigida com a pontuação correta, com emprego da vírgula depois


da forma verbal “matei”, a frase possui esta estrutura sintática:

Sujeito: simples, eu.

Predicado verbal: matei (com o objeto direto a barata subentendido).


Vocativo: Maria.

Agora, sim, a assassinada, a falecida foi a barata. A Maria está salva!


A vírgula salvou sua vida...

EXEMPLIFICANDO!

Resta dizer, nesta espécie de introdução ao assunto, que os sinais de pontuação


podem ser empregados, também, como recursos estilísticos, e não apenas
como obediência cega às regras decorrentes da estrutura sintática da frase.
As aspas, como indicação de ironia ou de sentido pejorativo; as reticências,
como interrupção intencional em casos de humor ou de quebra do enunciado;
a vírgula, em situações de ênfase, são casos frequentes nas páginas de
escritores e redatores em geral. Como se pode ver nos seguintes enunciados:

Você foi reprovado? Então deve estar “satisfeitíssimo” (sentido irônico).Ele


disse que não veio fazer a prova porque seu candidato perdeu a eleição...
Esse “candidato” era um semianalfabeto.

O uso das aspas indica realce, ironia, crítica, recurso da linguagem, criando
sentido contrário ao literal.
UNIUBE 67

2.1.1 Pontuação no período simples

No período simples, ou seja, na oração, os sinais de pontuação devem ser


empregados entre os termos da oração. Como o sinal em que mais se “erra”
é a vírgula, destacaremos, neste estudo, o seu emprego. Para isso, devem
ser observadas algumas normas ou regras.

Principais casos de emprego da vírgula

a) Entre os termos da oração que mantêm estreita ligação lógica de


pensamento, na ordem direta, não se usa a vírgula, como:

Entre o sujeito e o verbo:

Emprego incorreto: Meu irmão caçula, ganhou uma bicicleta ontem.


Emprego correto: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta ontem. (Figura 2).

Figura 2: Menino de bicicleta.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


68 UNIUBE

Entre o verbo e o objeto direto ou objeto indireto:

Emprego incorreto: Meu irmão caçula ganhou, uma bicicleta ontem.


Emprego correto: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta ontem.

Emprego incorreto: Meu irmão caçula gosta, de doce de goiaba.


Emprego correto: Meu irmão caçula gosta de doce de goiaba.

b) Com o adjunto adverbial no final da oração (ordem direta), é opcional


o emprego da vírgula. Em outra posição, usa-se a vírgula.

Ordem direta: Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta no dia de Natal.
Meu irmão caçula ganhou uma bicicleta, no dia de Natal.
Ordem inversa: No dia de Natal, meu irmão caçula ganhou uma bicicleta.
Meu irmão caçula ganhou, no dia de Natal, uma bicicleta.

c) Em qualquer situação de palavras intercaladas entre os termos de


ligação lógica, usa-se a vírgula.

Ela, porém, não acreditou em mim.


O rapaz estava, portanto, enganado.
Ele foi aprovado em primeiro lugar. É, pois, muito estudioso.

A pobre criança estava, talvez, muito assustada.

d) Com o termo sintático denominado vocativo, usa-se a vírgula, qualquer


que seja sua posição dentro da oração.
UNIUBE 69

– Você matou a barata?


– Matei, Maria.
– Meninos, vamos passear hoje. Vamos, meninos, passear hoje. Vamos
passear hoje, meninos.

e) Com o aposto explicativo, usa-se a vírgula.

Machado de Assis, autor de Dom Casmurro, nasceu no Rio de Janeiro.


Admiro Machado de Assis, autor de Dom Casmurro.

f) Entre termos independentes entre si, não ligados por conjunção,


usa-se a vírgula.

O teatro, a música, a poesia, a oratória, tudo transmite emoção à plateia.


Devemos praticar a honra, a justiça, a honestidade, a caridade, o amor.

g) Usa-se a vírgula para indicar omissão do verbo.

Clodoaldo foi ao cinema. Geraldo, ao teatro. (foi)


Valentina prefere a cidade. Sua mãe, o campo. (prefere)

2.1.2 Pontuação no período composto

No período composto, empregam-se os sinais de pontuação entre as


orações do período. Repetindo a advertência feita no caso do período
simples, destacaremos, aqui, o emprego da vírgula. Para isso, devem
ser observadas algumas normas, ou regras.
70 UNIUBE

Principais casos do emprego da vírgula

a) Entre as orações coordenadas assindéticas, usa-se a vírgula.

A mulher aproximou-se do portão, abriu-o, contornou a casa, sumiu


no corredor.
Vim, vi, venci.
Os meninos brincam, os jovens estudam, os adultos trabalham, os
velhos aguardam.

Orações coordenadas assindéticas são as que não possuem conjunção,


entre as orações. Já as sindéticas são as introduzidas por conjunções.

b) Com as orações subordinadas adverbiais depois da oração principal


(ordem direta), é opcional o emprego da vírgula. Noutra posição (ordem
inversa), usa-se a vírgula.

Figura 3: Os meninos brincam.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


UNIUBE 71

Ordem direta:
Os meninos brincavam no jardim quando a festa começou.
Os meninos brincavam no jardim, quando a festa começou.

Ordem inversa:
Quando a festa começou, os meninos brincavam no jardim.
Os meninos, quando a festa começou, brincavam no jardim.

Nesses exemplos, a oração “quando a festa começou” é subordinada


adverbial temporal.

Ordem direta:
Os alunos fizeram greve porque o calendário foi modificado.
Os alunos fizeram greve, porque o calendário foi modificado.

Ordem inversa:
Porque o calendário foi modificado, os alunos fizeram greve.
Os alunos, porque o calendário foi modificado, fizeram greve.

Nesses exemplos, a oração “porque o calendário foi modificado" é


subordinada adverbial causal.

c) Embora não se trate de uma norma rígida, recomenda-se o uso da vírgula


entre a oração principal e a oração subordinada adverbial consecutiva.

Era um vendaval de tamanha proporção, que as árvores envergavam


e quebravam.
O orador falou de tal maneira, que os ouvintes foram às lágrimas.
O muro era tão alto, que nem os gatos o escalavam.
A mocinha chorou tanto, que seus olhos ficaram inchados.
72 UNIUBE

d) Nas orações subordinadas adjetivas, a explicativa se distingue da


restritiva pela presença da vírgula. Note que esse emprego determina,
também, distinção de significado das orações.

Restritivas:
O homem que trabalha vence.
A cidade em que ele mora é progressista.

Explicativas:
O homem, que é um animal racional, é dotado de livre arbítrio.
Rio de Janeiro, que já foi a capital federal, é cidade maravilhosa.

Agora veja estes dois enunciados:

Enunciados As praias do litoral paulista que estão poluídas


São frases, foram interditadas para o público.
orações escritas
ou faladas em As praias do litoral paulista, que estão poluídas,
um determinado
contexto. foram interditadas para o público.

No primeiro enunciado, a oração “que estão poluídas” é subordinada


adjetiva restritiva, por isso está ligada à oração principal sem vírgulas.
Isso significa que, no universo das praias do litoral paulista, existem dois
tipos de praias, as que estão poluídas e as que não estão poluídas, e só
as que estão poluídas é que foram interditadas para o público.

No segundo enunciado, a oração “que estão poluídas” é subordinada


adjetiva explicativa, por isso está intercalada com as duas vírgulas. Isso
significa que todas as praias do litoral paulista estão poluídas, e todas
foram interditadas para o público.
UNIUBE 73

2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção e

Um equívoco muito corrente, até entre pessoas de escolaridade


universitária, é a afirmação de que “não se usa vírgula antes da
conjunção e”. Nada mais falso, enganador e perigoso. Uma falta de
vírgula antes dessa conjunção pode gerar confusões e ambiguidades
desagradáveis. E, entre as pessoas de escolaridade universitária,
incluem-se, lamentavelmente, professores e escritores.

O emprego da vírgula com a conjunção e ocorre nas seguintes situações:

Nenhuma vírgula Antes da conjunção

Antes e depois da
Depois da conjunção
conjunção

Explicando:

Nenhuma vírgula

Não se usa vírgula antes nem depois da conjunção “e” quando o termo
imediatamente anterior e o imediatamente seguinte a ela forem da
mesma função sintática. Exemplos:

O Antenor e o Diógenes foram aprovados. (entre dois sujeitos)


Conheço o Antenor e o Diógenes. (dois objetos diretos)
Confio no Antenor e no Diógenes. (dois objetos indiretos)
Os responsáveis são o Antenor e o Diógenes. (dois predicativos do
sujeito)
O trabalho foi realizado pelo Antenor e pelo Diógenes. (dois agentes da
voz passiva)
Os dois rapazes ficarão aqui hoje e amanhã. (dois adjuntos adverbiais
de tempo)
Eles trabalham em Uberaba e em Uberlândia. (dois adjuntos adverbiais
de lugar).
74 UNIUBE

Esta é a situação que gerou o equívoco de que “não se emprega vírgula


antes da conjunção" e. E o equívoco é tão frequente e tão contundente,
que até professores “corrigem” frases escritas corretamente, quando a
vírgula é necessária, e mandam eliminar ou cortar a vírgula...

Vamos, então, desfazer esse equívoco na regra seguinte.

Vírgula antes da conjunção:

Esta regra se reporta à regra anterior, pois o foco é a função sintática


dos termos antecedentes e consequentes à conjunção.

Usa-se a vírgula antes da conjunção “e” quando o termo imediatamente


anterior e o imediatamente seguinte a ela não forem da mesma função
sintática. Exemplo:

O Juvenal, reitor da Universidade, e o Osvaldo viajaram ontem.

Nessa oração, ou nesse enunciado, o termo imediatamente anterior à


conjunção “e”, “reitor da Universidade”, é aposto, e o termo imediatamente
seguinte, “o Osvaldo”, é sujeito, isto é, o segundo núcleo do sujeito
composto “o Juvenal e o Osvaldo”. Ocorre que o primeiro núcleo do sujeito,
“o Juvenal”, está seguido do aposto explicativo “reitor da Universidade”,
que vem entre vírgulas. A vírgula antes da conjunção, na frase apresentada,
é a segunda vírgula que isola o aposto, portanto vírgula necessária, e
não opcional ou estilística. Muito menos, “errada”.

No exemplo seguinte, a falta da vírgula pode ser desastrosa: O Carlos


matou um coelho, e o Jorge, um tatu.

Nesse enunciado, o termo anterior à conjunção “e”, “um coelho”, é


objeto direto da oração anterior, e o termo seguinte, “o Jorge”, é o sujeito
UNIUBE 75

da segunda oração. Então, por serem termos de funções sintáticas


diferentes, o emprego da vírgula é necessário, ou, numa afirmação de
norma gramatical, obrigatório.

Todavia, apesar dessa obrigatoriedade, encontram-se desvios dessa


natureza em páginas de livros e de órgãos da imprensa, resultado do
equívoco aqui mencionado.

Agora veja a mesma frase, sem a vírgula antes da conjunção “e”:

O Carlos matou um coelho e o Jorge, um tatu.

Retirada a vírgula, o coitado do Carlos teria cometido um homicídio,


pois teria matado “um coelho e o Jorge”, já que, sem a vírgula, o termo
imediatamente anterior e o imediatamente seguinte seriam da mesma
função sintática, isto é, dois objetos diretos, conforme visto na regra que
impõe nenhuma vírgula antes da conjunção.

EXEMPLIFICANDO!

Outros exemplos:

Estavam no aeroporto o presidente do clube, muito abatido, e o tesoureiro.


Chove muito no verão, e a chuva some no inverno.
A cidade agrada aos jovens, e os velhos preferem o sertão.
A menina chorava, querendo comida, e sua mãe não lhe dava atenção.

Vírgula depois da conjunção

Esta situação é análoga à anterior. Usa-se a vírgula depois da conjunção


“e” quando, entre a conjunção e o segundo membro da adição, for
76 UNIUBE

intercalado outro termo. Ocorrido isso, repete-se a situação de o termo


imediatamente anterior e o imediatamente seguinte não serem da
mesma função sintática. Exemplo:

O Juvenal e, algumas vezes, o Osvaldo viajam a serviço.

Entre a conjunção “e” e o segundo núcleo do sujeito composto, “o Juvenal e


o Osvaldo”, foi intercalado o termo “algumas vezes”. Essa intercalação
interrompeu a ligação lógica entre os dois núcleos do sujeito, de forma
que o termo imediatamente anterior à conjunção, “o Juvenal”, é sujeito,
e o termo imediatamente seguinte a ela, “algumas vezes”, é adjunto
adverbial. Portanto, os termos antes e depois da conjunção não exercem a
mesma função sintática, o que torna necessário, obrigatório, o emprego da
vírgula depois da conjunção.

EXEMPLIFICANDO!

Outros exemplos:

Venha aqui amanhã e, se puder, traga o dinheiro. Chove muito no verão, e,


no inverno, a chuva some.
Você vai formar-se em Direito e, com a graça de Deus, poderá ser um
grande juiz.
Compre pão, leite, bolacha e, se o dinheiro der, uma barra de chocolate.
Ela vai a Goiânia e, provavelmente, a Brasília.

Vírgula antes e depois da conjunção

Aqui, ocorrem os fatos das duas regras anteriores. Usa-se a vírgula


antes e depois da conjunção “e” quando ocorrerem duas intercalações,
uma entre o primeiro membro da adição e a conjunção, e outra entre a
conjunção e o segundo membro da adição. Exemplo:
UNIUBE 77

O Juvenal, sempre, e, algumas vezes, o Osvaldo viajam a serviço.

A primeira impressão é de que a conjunção ficou “entre” duas vírgulas.


Mas não é bem assim. A conjunção “e”, no exemplo citado, liga, de fato,
os sujeitos “o Juvenal e o Osvaldo”. Mas, entre o primeiro sujeito, “o
Juvenal”, e a conjunção “e”, foi intercalado o termo “sempre”, adjunto
adverbial; e, entre a conjunção “e” e o segundo sujeito, “o Osvaldo”, foi
intercalado o termo “algumas vezes”. Essa dupla intercalação determinou
duas interrupções, duas quebras na ligação “o Juvenal e o Osvaldo”.
Daí a necessidade, a obrigatoriedade, do emprego das duas vírgulas.

EXEMPLIFICANDO!

Outros exemplos:

Venha aqui amanhã, conforme combinamos, e, se puder, traga o dinheiro.


Você vai-se formar em Direito, tenho certeza, e, com a graça de Deus, será
um grande juiz.
Compre também bolacha, não se esqueça, e, se o dinheiro der, uma barra
de chocolate.

Para finalizar o estudo da pontuação, refletimos acerca do seu emprego,


ou seja, compreendendo-a para além da estrutura da frase e alcançando
o discurso, que implica o uso na situação e seus efeitos de sentidos.
É no contexto que as relações humanas, as práticas discursivas se
concretizam, tanto por meio da fala quanto da escrita.
78 UNIUBE

Vejamos um exemplo, que diz respeito a um bilhete, deixado pelo


responsável da segurança, Sr. Luiz Alberto, de uma gráfica. Esse bilhete
trata de um pagamento, referente às horas-extras do mês anterior, e foi
colocado sobre um envelope com o dinheiro, na mesa do gerente.

No bilhete, o Sr. Luiz Alberto escreveu:

Esse envelope é do João não para sua namorada também não


é para o Álvaro entregar ao chefe do setor jamais para o José
da área de vendas não é para a Rosa.
Luiz Alberto

Observe que o recado, além da falta do receptor, está sem pontuação, e


isso vai causar conflitos no entendimento do texto. Alguns funcionários
leram o recado e o compreenderam de acordo com as expectativas deles.
Assim, a ausência de pontuação vai interferir no sentido do texto
elaborado pelo segurança. Não é possível identificar o receptor, o que
vai desencadear uma grande confusão na empresa.

O texto falado ou escrito deve ter como objetivo agir sobre o outro, para
isso é necessário um ajustamento dos propósitos do locutor/escritor
com o seu interlocutor (ouvinte/leitor). Esse ajustamento depende, entre
muitos aspectos da norma culta, da pontuação, responsável pela coesão
e coerência dos textos.

Na sequência, apresentamos as diferentes leituras feitas por funcionários


da gráfica.
UNIUBE 79

O primeiro a ler o bilhete foi João, que colocou a pontuação conforme


seu interesse e o leu da seguinte forma:

Esse envelope é do João. Não para sua namorada.


Também não é para o Álvaro entregar ao chefe do setor.
Jamais para o José da área de vendas. Não é para a Rosa.
Luiz Alberto

O José compreendeu que o bilhete era para ele e, portanto, o leu


assim:

Esse envelope é do João? Não. Para sua namorada? Também


não. É para o Álvaro entregar ao chefe do setor? Jamais.
Para o José da área de vendas . Não é para a Rosa.
Luiz Alberto

Vejamos como a Rosa fez a leitura do recado:

Esse envelope é do João? Não! Para sua namorada? Também


não. É para o Álvaro entregar ao chefe do setor? Jamais!
Para o José da área de vendas? Não. É para a Rosa.
Luiz Alberto

Observamos que a relação das palavras na estrutura do texto só será


efetivada, com sucesso, se o autor conseguir conexões com o leitor,
seguindo as normas gramaticais registradas na Gramática Tradicional/
Normativa.
80 UNIUBE

Lembramos que esse exemplo está em uma prática discursiva formal


escrita, ou seja, envolvendo interações profissionais, sociais, que exigem
do emissor um cuidado ao produzir o texto, para que seus objetivos
sejam alcançados.

Na sequência, deste capítulo, abordaremos mais um tópico gramatical


que diz respeito à acentuação gráfica.

2.2 Acentuação gráfica

Para o estabelecimento das regras de acentuação gráfica, consideram-se


dois critérios:

SAIBA MAIS

posição da sílaba tônica:


palavras oxítonas
palavras paroxítonas
palavras proparoxítonas
monossílabos tônicos

casos especiais: casos que não dependem da posição da sílaba tônica.

Para iniciarmos esta parte de nossos estudos “Aspectos pragmáticos:


usos e normas”, exemplificamos com uma prática discursiva, ou seja,
uma situação de interação entre dois sujeitos: Uma candidata à vaga de
secretária em uma empresa de informática e o responsável pelo setor
de recursos humanos dessa empresa. (Figura 4).
UNIUBE 81

Figura 4: Uma situação comunicativa.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Na Língua Portuguesa, há inúmeras palavras, cujo


Interlocutores
sentido vai depender da situação comunicativa.
São os emissores
Essa situação envolve interlocutores, espaços, (falante ou escritor
tempo, objetivos, finalidades, ou seja, em que da mensagem) e os
receptores (ouvinte
condições de produção, o acontecimento ocorre. ou leitor).

No caso, há:

sujeitos: a concorrente à vaga, Marta, e o responsável pela entrevista,


Sr. Antônio;
local: uma empresa de informática;
tempo: em uma segunda-feira, no período da manhã;
objetivos: conseguir o emprego e selecionar um profissional;
finalidade: preencher uma vaga para o setor de secretaria.

Agora, vamos apresentar o diálogo, chamando atenção para a importância


da acentuação gráfica em um texto escrito. A ausência dela pode causar
incompreensão na leitura e, consequentemente, ruídos na interação, ou
seja, qualquer elemento que cause interferência no ato comunicativo.
Neste exemplo, os ruídos estarão presentes caso não seja usado o
acento gráfico adequadamente.
82 UNIUBE

Após as apresentações iniciais, o diálogo ocorre da seguinte forma:

Sr. Antônio: Em nossa empresa, o candidato, se aprovado, terá um


período de prática, acompanhado pelo setor de recursos humanos.
Nesse período, o candidato aprovado pratica por um mês os diferentes
serviços oferecidos pela empresa.
Marta: Já tenho experiência na área de secretaria, pois trabalhei por dois
anos como secretária, em um escritório de advocacia.
Sr. Antônio: Pelo seu currículo, observei que você tem experiência. Caso
seja aprovada, durante uma semana, o futuro funcionário experiencia a
rotina da empresa.
Marta: Estou muito satisfeita com este diálogo inicial. Percebo que o
senhor não tem dúvida da minha trajetória anterior e, também, não duvida
da minha competência.
A entrevista continua com outras perguntas e respostas.

O nosso objetivo é mostrar que as palavras assinaladas no texto não


seriam motivo de cuidado, de alerta em uma relação de oralidade entre
os interlocutores, entretanto, na língua escrita, a exigência da acentuação
é essencial, visto que as palavras sublinhadas têm significados diferentes
das que não necessitam do acento.

SAIBA MAIS

Vejamos!

Façamos uma análise das palavras:


Prática – substantivo que indica o ato ou efeito de praticar. Palavra
proparoxítona.
Pratica – verbo, conjugado na 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo, que indica a ação de praticar, de realizar algo. Palavra paroxítona,
sílaba tônica ti.
UNIUBE 83

Secretaria – substantivo com o sentido de local ou repartição, podendo ser


pública ou privada e que efetua diferentes serviços administrativos. Palavra
paroxítona (sílaba tônica ri),
Secretária – substantivo, que significa responsável por atendimentos, por
correspondências, agenda da empresa etc. Palavra paroxítona.
Experiencia – verbo experienciar, conjugado na 3a pessoa do singular, com
o sentido de experimentar, de submeter à experiência. Palavra paroxítona,
sílaba tônica ci.
Experiência – substantivo que significa a obtenção de conhecimentos pela
prática. Palavra paroxítona, com acento circunflexo.
Dúvida – substantivo com o sentido de incerteza. Palavra proparoxítona.
Duvida – verbo conjugado na 3a pessoa do singular, presente do indicativo,
com o significado de desconfiar, não acreditar. Palavra paroxítona, sílaba
tônica vi.

Observamos que as palavras da Língua Portuguesa têm, na língua


falada, sons diferentes, e isso é apontado pela tonicidade das sílabas,
ora mais forte, ora mais fraca. Já na língua escrita, essa tonicidade é
marcada pelo acento gráfico, sendo obrigatório o uso dos acentos de
acordo com a classificação da palavra, o seu sentido e as normas de
acentuação da gramática.

Assim, o estudo da acentuação gráfica diz respeito aos conhecimentos


acerca dos acentos agudo (´), grave (`), circunflexo (^) e til (~), sendo que
o til marca a nasalização da vogal.

Portanto, há regras específicas conforme a sonoridade e o significado


da palavra.

Dessa forma, exemplificamos com o diálogo entre Sr. Antônio e Marta a


importância, na língua escrita, do emprego adequado dos acentos para
que o texto alcance os objetivos no momento de interação, ou seja, atinja
os propósitos dos interlocutores durante a prática comunicativa.
84 UNIUBE

2.2.1 Posição da sílaba tônica

Palavras oxítonas

São acentuadas as palavra oxítonas terminadas em A(S), E(S), O(S),


EM, ENS.

A(S) – sofá(s), jacá(s), xará, oxalá.


E(S) – café, rapé, jacaré(s), você(s), José.
O(S) – cipó(s), xodó, pivô(s), avô(s), avó(s), Jacó.
EM – alguém, ninguém, convém, mantém, convêm, mantêm.
ENS – parabéns, convéns, manténs.

Daí se conclui que as palavras oxítonas que terminam em outras letras


NÃO são acentuadas:

I(S) – juriti(s), saci(s), repeti(s), dividi(s), caqui (fruta)


U(S) – tatu(s), urubu(s), chuchu(s).
L – jornal, final, papel, anel, funil, anzol, caracol, azul.
R – (o melhor exemplo são os verbos no infinitivo) mandar, vender,
partir.
UM, UNS – mutum, mutuns, algum, alguns.
Z – rapaz, feliz, feroz, avestruz.

Palavras paroxítonas

Uma regra bastante prática consiste no inverso da regra das palavras


oxítonas: SÃO acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas
letras das palavras oxítonas NÃO acentuadas: I(S), US, R, L, N, X, PS
e demais terminações.

E NÃO são acentuadas as palavras paroxítonas que terminam nas letras das
palavras oxítonas acentuadas: A(S), E(S), O(S), EM, ENS.
UNIUBE 85

Paroxítonas acentuadas:

I(S) – júri(s), tênis, lápis, cáqui (cor)


US – vírus, Vênus, ônus.
R – éter, dólar, caráter.
L – móvel, notável, útil.
N – hífen, gérmen, glúten.
X – tórax, ônix, Félix.
PS – fórceps, bíceps, tríceps.
OM, ONS – iândom (espécie de avestruz americano), prótons,
nêutrons.
UM, UNS – álbum, fórum, álbuns, fóruns.
Ã(S), ÃO(S) – órfã(s), órfão(s), órgão(s).

Além dessas terminações, são acentuadas as palavras paroxítonas


terminadas em ditongo, seguido ou não de S.

vôlei, jóquei(s), úteis, fáceis, notáveis (ditongos decrescentes), água(s),


lírio(s), espécie(s), Mário, Flávio, Cláudia (ditongos crescentes).

Nota: Observe que os nomes próprios da Língua Portuguesa seguem as


mesmas normas ortográficas dos substantivos comuns. É falsa, portanto,
a afirmação de que nomes próprios têm grafia livre.

Observe o exemplo a seguir:

Na festa da empresa, no final de ano, comemoram juntos Nádia, Fátima,


Marília e Vítor. (Figura 5).
86 UNIUBE

Figura 5: Festa de final de ano.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Para cada nome próprio – Nádia, Fátima, Marília e Vítor – o acento foi
usado de acordo com as regras de acentuação que estamos estudando
nesta parte.

Continuando...

Agora, as palavras paroxítonas NÃO acentuadas. Note que são as


mesmas terminações das palavras oxítonas acentuadas:

A(S) – casa(s), boneca(s), cantava(s).


E(s) – doce(s), deve(s), dote(s).
O(S) – carro(s), livro(s), inimigo(s).
EM – jovem, homem, item.
ENS – jovens, homens, itens, hifens, germens.

Atenção: Note que as paroxítonas terminadas nas letras ENS não são
acentuadas, mesmo que no singular o sejam, quando terminadas em N:

hífen (com acento) hifens (sem acento)


gérmen (com acento) germens (sem acento)
hímen (com acento) himens (sem acento)
UNIUBE 87

CURIOSIDADE

Existe uma terminação de palavras paroxítonas NÃO acentuadas que não


consta nas terminações das palavras oxítonas acentuadas. É a terminação
AM. Ocorre que não existe essa terminação em palavras oxítonas
portuguesas. Assim, temos:

AM – falam, andam, mandam, estudam, falaram, andaram, mandaram,


estudaram.

Essa terminação constitui, foneticamente, um ditongo nasal /ãw/. Ela NÃO


ocorre, como vimos, em palavras oxítonas. Quando esse ditongo nasal
ocorre nas palavras oxítonas, a grafia é ÃO. Assim, temos:

Terminação AM – para palavras paroxítonas: falam (presente), falaram


(passado).
Terminação ÃO – para palavras oxítonas: irmão, estão (presente), estarão
(futuro).

Palavras proparoxítonas

Esta é uma situação única: todas as palavras proparoxítonas são


acentuadas:

Sábado, cômodo, exército, parâmetro, rápido, espírito, Nóbrega,


Mônica.

Monossílabos tônicos

São acentuados os monossílabos tônicos terminados em A(S), E(S), O(S).

A(S) – pá(s), vá(s), lá, cá.


88 UNIUBE

E(S) – fé, vê(s), ré(s).


O(S) – nó(s), dó, pó(s).

Daí se conclui que os monossílabos tônicos terminados em outras letras


NÃO são acentuados:

I(S) – vi, ri(s), ti, si, lis


U(S) – tu, nu(s), pus R – dar, ver, vir.
L – mal, sal, rol.
Z – paz, fez, fi
OM, ONS – dom, dons
UM, UNS – rum, zum, zuns. Ã(S), ÃO(S) – fã(s), mão(s).

Também NÃO são acentuados os monossílabos tônicos terminados em


ditongo, seguido ou não de S.

vai(s), cai(s), rei(s), foi, viu, riu, fui, rui (do verbo “ruir” ou o nome próprio
Rui).

2.2.2 Casos especiais

As regras de acentuação estabelecidas sob este critério são independentes


da posição da sílaba tônica na palavra, como vimos no primeiro critério.
Isso quer dizer que as regras agora apresentadas podem ser uma
espécie de “exceção” das regras anteriores. A rigor, não constituem
exceção, pois dependem de outro critério. São as seguintes:

Ditongos abertos

São acentuados os ditongos abertos ÉI(S), ÉU(S), ÓI(S) das palavras


oxítonas e dos monossílabos tônicos.
UNIUBE 89

Monossílabos tônicos: réis, réu(s), véu(s), rói(s), dói.


Palavras oxítonas: anéis, carretéis, chapéu(s), herói(s), destrói(s).

Atenção: Se a palavra for paroxítona, os ditongos NÃO são acentuados:


geleia, Galileia, assembleia, heroico, estoico.

Vogais I e U dos hiatos

São acentuadas as vogais I e U, tônicas, que formam hiato com a vogal


anterior, quando isoladas ou seguidas de S.

raízes (ra-í-zes), países (pa-í-ses), país (pa-ís), Luísa (Lu-í-sa), Luís


(Lu-ís).
baú (ba-ú), baús (ba-ús), Itaú (I-ta-ú), saúde (sa-ú-de), balaústre
(ba-la-ús-tre).

SAIBA MAIS

Exceções:

Mesmo preenchendo os requisitos mencionados, a vogal “i” NÃO é


acentuada quando seguida de NH ou precedida de outra vogal “i”. Exemplos:

rainha (ra-i-nha), campainha (cam-pa-i-nha). Xiita (xi-i-ta), Mariita (Ma-ri-i-ta)


Nos demais casos, essas vogais NÃO são acentuadas: raiz (ra-iz), juiz
(ju-iz), ruir (ru-ir), sair (sa-ir).
Raul (Ra-ul), paul (pa-ul).
90 UNIUBE

Acentos diferenciais

O acento diferencial ocorre apenas em palavras homógrafas (as que


apresentam mesma grafia ou mesmas letras). São de três tipos:

a) Acento diferencial de timbre

Diferencia timbre fechado de timbre aberto. Existe APENAS na forma


verbal pôde, do pretérito perfeito do indicativo, para diferenciar da forma
pode, do presente do indicativo do verbo “poder”.

Nos demais casos de palavras homógrafas, mas não homófonas (timbres


diferentes), NÃO se usa acento. A diferença de timbre se faz pelo sentido
ou pelo contexto. Exemplos:

o jogo (ô) / eu jogo (ó)


o esforço (ô) / eu esforço (ó)
sede (ê) / sede (é)
o governo (ê) / eu governo (é)

b) Acento diferencial de intensidade

Diferencia palavra tônica de palavra átona, quando homógrafas. Existe


APENAS na forma verbal pôr, palavra tônica, para diferenciar da
preposição por, palavra átona.

Nos demais casos, NÃO se usa acento. Exemplos:

para (do verbo “parar”) / para (preposição).


pelo (ê), substantivo / pelo (combinação da preposição “por” com o
artigo “o”).
UNIUBE 91

c) Acento diferencial morfológico

Diferencia a 3a pessoa do plural da 3a pessoa do singular do presente do


indicativo APENAS dos verbos ter e vir.
Ele tem, vem. Eles têm, vêm.

SAIBA MAIS

As formas compostas desses verbos, por serem oxítonas, seguem as


mesmas regras dessas palavras, mudando apenas o tipo de acento, agudo
para circunflexo para distinguir, nas mesmas pessoas, o plural do singular.

Exemplos:

Ele retém, mantém, contém, entretém (singular: acento agudo).


Eles retêm, mantêm, contêm, entretêm (plural: acento circunflexo)

Ele convém, intervém, provém, sobrevém (singular: acento agudo).


Eles convêm, intervêm, provêm, sobrevêm (plural: acento circunflexo)

2.3 Dificuldades mais frequentes da língua

Este tópico apresenta alguns fatos da norma padrão ou língua culta que,
frequentemente, geram confusões, dúvidas e os desagradáveis desvios,
eufemismo de “erros”. São situações de várias ordens, em especial
ortográfica, morfológica e sintática.

Iniciamos esta parte explicando o emprego das palavras por que, porque,
por que e porquê.

2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê

A dificuldade do emprego dessas palavras está na escrita, portanto


é necessário que o produtor de texto tenha conhecimento das regras
92 UNIUBE

impostas pela gramática normativa. Cada palavra deve ser escrita


corretamente, pois elas têm funções e sentidos diferentes conforme o uso.
A seguir apresentamos um texto narrativo, com diálogos para começarmos
a compreender esse conteúdo. (Figura 6).

SAIBA MAIS

Figura 6: Pedro no zoológico.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Certo dia, um garoto chamado Pedro resolveu visitar o zoológico de sua


cidade. Chegando lá, espantou-se ao ver vários macacos presos em uma
área fechada e perguntou para o guarda do local:
– Por que os macacos estão presos neste lugar fechado?
O senhor respondeu:
– Porque eles gostam de pegar o que os visitantes estão comendo, e isso
é perigoso.
Caminhando um pouco mais pelo local e com muita admiração, Pedro
interrogou o vigia:
– Mas, seu guarda, eu não entendo o porquê de uma girafa ter o pescoço
tão comprido!
O vigia explicou por que as girafas são assim: “Sabe, garoto, dizem
os estudiosos que há milhares de anos havia girafas com pescoço de
vários tamanhos. Com o passar do tempo, aquelas de pescoço comprido
UNIUBE 93

conseguiam se alimentar porque comiam as folhas das árvores mais altas,


e com a seca da grama, as de pescoço mais curto ficaram sem alimentos
e foram morrendo.
Também, Pedro queria saber por que as tartarugas andam tão devagar.
O vigia, bastante surpreso com o interesse do visitante, comentou:
– Você é um garoto muito esperto.
Imediatamente, ele respondeu:
– Mas, o senhor diz isso por quê?

Podemos observar nessa narração que foram empregados diferentes


porques, cada um com uma função e com um sentido apropriado à
interlocução. Esses aspectos dependem dos objetivos dos interlocutores
no momento da prática discursiva, ou seja, da interação.
A seguir elucidamos o que a gramática normativa registra sobre esse
conteúdo.

Por que, porque, por quê e porquê: em que estrutura sintática


podemos usar essas palavras? (Figura 7).

Figura 7: Em que estrutura sintática podemos usar essas palavras?

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


94 UNIUBE

O primeiro ponto a considerar é que se trata de quatro palavras


independentes ou autônomas, tanto ortográfica quanto morfológica e
sintaticamente. Portanto, não existe uma palavra sozinha, uma palavra
única que seja o plural das quatro. É frequente vermos em livros, em
apostilas, até em gramáticas, o título “Estudo dos porquês”... Erro tão
gritante quanto humorístico.

A palavra porquê, escrita dessa forma, é um substantivo, resultado da


substantivação da conjunção subordinativa adverbial causal porque.
Todo conhecedor elementar de gramática sabe que uma palavra de
qualquer classe morfológica pode transformar-se em substantivo, como:

o não, um não, aquele não (substantivação do advérbio);


o velho, o novo, um velho, um novo (substantivação do adjetivo);
o falar, o agir, um andar, aquele andar (substantivação do verbo);
um ai, aquele ai, vários ais, os meus ais (substantivação da interjeição);
o porquê, um porquê, os porquês, seus porquês, dois porquês
(substantivação da conjunção).

Esta última, por ser substantivação da conjunção subordinativa adverbial


causal porque, passa a ser um substantivo sinônimo dos substantivos
causa, motivo, razão. E, na condição de substantivo, pode ter plural e
determinantes sintáticos, como os mencionados acima: o porquê, um
porquê, os porquês, seus porquês, dois porquês.

Então a frase título de livros e apostilas “Estudo dos porquês” significa


“Estudo das causas” e deveria fazer parte de tratados de filosofia e não
de livros didáticos de português...

Explicando cada um:

a) Por que: Trata-se de duas situações morfológicas. São duas palavras: a


preposição “por” e o pronome interrogativo “que”.
UNIUBE 95

A expressão é usada para as frases interrogativas diretas e indiretas,


no início ou no meio de frase. Ou, numa linguagem mais didática: não
no final de frase. Exemplos:

Interrogação direta:
Por que ele foi embora?
Por que o Orlando não veio à escola?
Por que ela está chorando?
Por que a água evapora?

Interrogação indireta:
Não sei por que ele foi embora.
Quero saber por que o Orlando não veio à escola.
Diga por que ela está chorando.
Explique por que a água evapora.
Perdi o ônibus: eis por que cheguei atrasado.
O Marcos não disse por que terminou o noivado com a Olga. (Fig.8)
Olga não compreendeu por que Marcos terminou o noivado com ela.

Olga não compreendeu por que Marcos terminou o noivado com ela.

Figura 8: Marcos e Olga.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


96 UNIUBE

b) São duas palavras: a preposição “por” e o pronome relativo “que”.

A expressão “por que”, neste caso, equivale às expressões “pelo qual”,


“pela qual”, “pelos quais”, “pelas “quais”. Exemplos:

O susto por que passei foi grande (pelo qual).


A rua por que andei está escura (pela qual, por onde).
O motivo por que ele faltou não foi esclarecido (pelo qual).
Os meios por que venci foram honestos (pelos quais).
As dificuldades por que ele passou foram grandes (pelas quais).
As causas por que luto são justas (pelas quais).
Os caminhos por que passei foram árduos (pelos quais).

Por quê: São duas palavras: a preposição “por” e o pronome interrogativo


“quê”.

A expressão é usada para as frases interrogativas diretas ou indiretas,


no final de frase. Exemplos:

Interrogação direta:
Ele foi embora por quê?
O Orlando não veio à escola por quê?
Ela está chorando por quê?
A água evapora por quê?

Interrogação indireta:
Ele foi embora, não sei por quê.
O Orlando não veio à escola. Quero saber por quê.
Ela está chorando. Diga por quê.
A água evapora. Explique por quê.
O Alfredo terminou o noivado, mas não disse por quê.
Marcos renunciou ao cargo, não se sabe por quê.
UNIUBE 97

d) Porque: É conjunção, que pode ser:

Coordenativa explicativa:
Venha cedo, porque há poucos lugares.
Corra, porque vai chover.
A chuva deve ter sido forte, porque a árvore caiu.
Choveu, porque o chão está molhado.

Subordinativa adverbial causal:


Ela está chorando porque foi reprovada.
O Orlando não veio à escola porque perdeu o ônibus.
A árvore caiu porque a chuva foi muito forte.
O chão está molhado porque choveu.

Subordinativa adverbial final: em que a conjunção “porque” é sinônima


da locução “para que”. Trata-se de emprego raro.

É necessário que estudemos, porque possamos vencer na vida.


Vigiai e orai porque não entreis em tentação.
Comecei a rezar porque a tempestade terminasse.

e) Porquê : Conforme dito linhas atrás, trata-se da transformação da


conjunção subordinativa adverbial causal porque em substantivo. Para
tanto, escreve-se porquê. Note que, nesta condição, o substantivo
“porquê” é, como dissemos, sinônimo dos substantivos “causa”, “motivo”,
“razão”, conforme o contexto. E, ainda, como substantivo, pode ser
determinado por mais de uma classe de palavra, e não apenas pelo
artigo definido “o”, conforme muitos pensam e afirmam equivocadamente.
98 UNIUBE

Exemplos:

Quero saber o porquê de seu atraso (o motivo, a causa).


A ciência investiga o porquê dos fenômenos na natureza (a causa).
A ciência investiga os porquês dos fenômenos na natureza (as
causas).
Desconheço o porquê da renúncia do presidente (a causa, o motivo,
a razão).
Tudo tem seu porquê (sua causa, sua razão).
Será que tudo tem um porquê? (uma causa, uma razão).
Esse porquê não me convence (esse motivo).
A renúncia do presidente tem, no mínimo, dois porquês (duas
causas, duas razões, dois motivos).

Resumindo:

Por que
→ no início de
frases interrogativas
diretas:
Porquê
Por que não
participou da equivalente
reunião? Porque a “o motivo”,
Por quê “a causa”:
equivale a pois
→ em caso de (por esta razão): no final da frase: Gostaria de
frases interrogativas Você está alegre descobrir o
indiretas: – Faltei porque por quê? porquê (o
Perguntaram por estava doente. motivo) de
que ( motivo) você tantos impostos.
faltou à reunião.
→ com o sentido
de “por qual razão”:
– Você sabe por
que (razão) não
fui à reunião.
UNIUBE 99

2.3.2 Crase

2.3.2.1 Conceito e estrutura morfossintática

Este é um dos conteúdos bastante “odiados” por usuários da língua,


principalmente estudantes.

Todavia, em termos de entendimento ou de aprendizagem, o assunto é


bastante simples, ou, mesmo, elementar.

Como conceito morfossintático, crase é a fusão da preposição a com o


artigo definido feminino a(s) e com os pronomes demonstrativos iniciados
pela letra a (aquele, aqueles, aquela, aquelas, aquilo).

A marca ortográfica da crase se faz pelo acento grave (`). Note que o
nome desse acento ou sinal gráfico é acento grave, e não crase.

Então, crase é isto (Figura 9):

Figura 9: Formação da crase.

Preposição Preposição
a a

Artigo Crase: Pronome Crase:


definido à, às demonstrativo: àquele(s)
feminino: aquele(s), àquela(s)
a(s): aquela(s), àquilo
aquilo

Fonte: Acervo do autor.


100 UNIUBE

Com o artigo definido:

Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e


o termo seguinte é antecedido do artigo definido feminino singular ou
plural “a” / “as”. Exemplos:

Vou a a escola. – Vou à escola.


Entreguei o livro a a professora. – Entreguei o livro à professora.
Ele se dirigiu a as alunas. – Ele se dirigiu às alunas.
Ele foi a a missa. – Ele foi à missa.
Não devemos dizer isso a as crianças. – Não devemos dizer isso às
crianças.

Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada
aqui apenas para mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se
fundiram numa só.

Com os pronomes demonstrativos:

Ocorre a crase, então, quando o termo anterior rege a preposição “a”, e


o termo seguinte é um pronome demonstrativo iniciado pela letra “a”.

Exemplos:

Entregue o livro a aquele aluno. – Entregue o livro àquele aluno.


Entregue o livro a aqueles alunos. – Entregue o livro àqueles alunos.
Entregue o livro a aquela aluna. – Entregue o livro àquela aluna.
UNIUBE 101

Entregue o livro a aquelas alunas. – Entregue o livro àquelas alunas.


Refiro-me a isto, e não a aquilo. – Refiro-me a isto, e não àquilo.

Atenção: Note que a grafia com os dois “aa” é errada. Foi empregada
aqui apenas para mostrar a ocorrência dessas duas vogais que se
fundiram numa só.

2.3.2.2 Emprego da crase com o artigo definido

A maior parte dos casos de emprego da crase com o artigo definido é de


não usar crase.

A rigor, pode-se afirmar que existe apenas uma regra para o emprego da
crase, que coincide com o conceito:

• Usa-se a crase quando ocorre a fusão da preposição “a” com o


artigo definido feminino “a” / “as”.

Essa regra gera a outra, a do não uso:

• Não se usa a crase quando faltar um dos dois “aa”, ou a preposição,


ou o artigo definido.

Importante:

Um recurso adotado para esclarecer o emprego da crase com o artigo


definido em caso de dúvida é substituir o termo antecedente que rege a
preposição “a” por outro, que rege a preposição “de” ou a preposição “em”.
102 UNIUBE

Se, na substituição, ocorrer “de” ou “em”, e não “da” ou “na”, é porque


faltou o artigo. Então não ocorre a crase, o “a” é só preposição, não
devendo, pois, ser assinalado com o acento grave. Exemplos:

Começou a chover.
Parou de chover. – E não: “da” chover

Não diga isso a ninguém.


Não gosto de ninguém. – E não: “da” ninguém.

Não confio em ninguém. – E não: “na” ninguém.

Não diga isso a Pedro.


Sou amigo de Pedro. – E não “da” Pedro. Confio em Pedro. – E não
“na” Pedro.

Ele foi a São Paulo.


Ele saiu de São Paulo. – E não: “da” São Paulo. Ele mora em São
Paulo. – E não: “na” São Paulo.

Cheguei a casa muito tarde.


Saí de casa. – E não: “da” casa.
Eu estava em casa. – E não: “na” casa.

Em todos esses casos, o “a” é só preposição, pois o termo seguinte não


admite a anteposição do artigo “a”.

Se, na substituição, ocorrer “da” ou “na”, é porque houve a combinação


da preposição “de” ou “em” com o artigo “a”, isto é, o termo anterior rege
preposição, e o termo seguinte é precedido do artigo “a”. Neste caso,
ocorre a crase. Exemplos:
UNIUBE 103

Ele foi à igreja ontem.


Ele saiu da igreja ontem. – “da” (de a)
Ele estava na igreja ontem. – “na” (em a)
Ele foi à grande São Paulo.
Ele saiu da grande São Paulo. – “da” (de a)
Ele vive na grande São Paulo. – “na” (em a)

Cheguei à casa da namorada muito tarde.


Saí da casa da namorada. – “da” (de a)
Eu estava na casa da namorada. – “na” (em a)

Outro recurso muito eficiente é substituir o complemento feminino por


um masculino. Se aparecer “a”, não se usa crase; se aparecer “ao”,
usa-se a crase:

Entreguei o livro à aluna. (... ao aluno)


Eles conversaram face a face. (... luta corpo a corpo)

• Não se usa crase antes de palavras masculinas.

Esta é a regra fundamental, pois decorre do próprio conceito. Se crase é


a fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a”, conclui-se
que antes de nome masculino não ocorre crase porque o artigo definido
que o precede é masculino, “o”.

Refiro-me a Pedro, e não a Josué.


Graças a Deus.
Ele fez isso a pedido da professora.
Dedico esta obra a meu pai.
104 UNIUBE

• Não se usa crase antes de verbo.

Começou a chover.
Estou disposto a colaborar.
Ele se limitou a ficar calado.
Ela estava a conversar com o marido.

• Não se usa crase antes de pronome pessoal.

Ele se referiu a mim, e não a ela.


Venha a nós o vosso reino.
Conhece-te a ti mesmo.
Comunico a Vossa Senhoria o resultado do concurso.
A você, minha amada, dedico estes versos.

Nota: Com os pronomes pessoais de tratamento a senhora e a senhorita,


usa-se a crase, já que eles se iniciam pelo artigo “a”:

Dedico à senhora estes versos.


Comunico à senhora que os resultados dos exames estão prontos.
Informo à senhorita que sua matrícula foi autorizada.

• Não se usa crase antes de pronome demonstrativo.

Ele sempre vem a esta cidade.


Não se meta a isso.
Diga a essa mulher que não volte mais aqui.

• Não se usa crase antes de artigo indefinido.

Refiro-me a uma pessoa morena e alta.


Ele entregou o pacote a uma aluna.
Ele se entregou a uma vida desregrada.
UNIUBE 105

• Não se usa crase entre palavras repetidas, como face a face


(Figura 10):

Figura 10: Face a face; cara a cara.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Eles conversaram face a face.


Foi um diálogo franco, cara a cara.
Tome esse remédio gota a gota.

• Não se usa crase antes do substantivo “casa” quando indeterminado,


não acompanhado de qualquer adjunto adnominal. Neste caso, o
substantivo “casa” não é precedido do artigo “a” e tem o sentido de
lar do referente.

Ontem cheguei a casa muito tarde.


Paulo voltou a casa para buscar o dinheiro.
Espere um pouco, vou a casa e volto logo.

Nota: Se o substantivo “casa” estiver determinado por qualquer adjunto


adnominal, usa-se a crase, pois, neste caso, esse substantivo é precedido
do artigo “a”:

Ontem cheguei à casa da namorada muito tarde.


Paulo voltou à casa velha para buscar o dinheiro.
Espere um pouco, vou à casa dele e volto logo.
106 UNIUBE

• Não se usa crase antes de nome de cidade quando indeterminado,


não acompanhado de qualquer adjunto adnominal:

Amanhã vamos a Belo Horizonte.


Eles chegaram a Campinas antes do almoço.
Os empresários querem voltar a São Paulo.

Nota: Se o nome de cidade estiver determinado por qualquer adjunto


adnominal, usa-se a crase, pois, neste caso, o nome da cidade é
precedido do artigo “a”.

Amanhã vamos à maravilhosa Belo Horizonte.


Eles chegaram à Campinas de Carlos Gomes.
Os empresários querem voltar à grande São Paulo.

• Não se usa crase antes de pronome indefinido:

Não diga isso a ninguém.


Refiro-me a alguma aluna que goste de escrever.
Dirija-se a qualquer pessoa, a toda gente que você vir lá.

Nota: Com o pronome indefinido outra/ outras, ocorre ou não a crase,


conforme o contexto admita ou não a anteposição do artigo “a”.

Sem o artigo: tratando-se de várias moças (sentido vago, impreciso):

Não entregue o pacote à Geralda, entregue a outra moça. (Isto é, a uma


outra moça qualquer).

Com o artigo: tratando-se de apenas duas moças. (Isto é, se não é uma,


só pode ser a outra):

Não entregue o pacote à Lídia, entregue à outra moça.


UNIUBE 107

Observe que depende da situação comunicativa.

• Não se usa crase antes do substantivo “distância”, quando não


acompanhado de qualquer determinante.

Ele me chamou a distância.


A Uniube aderiu ao programa de Educação a Distância.

Se, porém, o substantivo “distância” estiver determinado, usa-se a crase.

Ele me chamou à distância de cem metros.


Eles estavam à distância de dois quilômetros do inimigo.

• Não se usa crase antes do substantivo “terra”, quando tem o


significado chão firme em oposição ao ar ou à água.

Os marinheiros voltaram a terra, ao notarem defeito no navio.


Chegando a terra, todos se dirigiram ao hospital.

• Com o pronome relativo “que”, usa-se ou não a crase conforme o


contexto, isto é, conforme ocorra ou não a anteposição do artigo “a”.

Sem o artigo: Não sei a que moça você se refere.

Neste caso, o sentido é vago, impreciso, não ocorrendo, pois, a anteposição


do artigo.

Com o artigo: São duas moças. Refiro-me à que está sentada, e não à
que está em pé.

• Antes de nomes femininos de pessoas, é opcional o emprego da


crase, conforme se anteponha ou não o artigo definido “a”.
108 UNIUBE

Diga a Márcia que eu a amo. (Gosto de Márcia – só a preposição)


Diga à Márcia que eu a amo. (Gosto da Márcia – preposição com artigo)

Antes de pronome possessivo feminino, é opcional o emprego da crase,


conforme se anteponha ou não o artigo definido “a”.

Refiro-me a sua irmã. (Gosto de sua irmã – só a preposição)


Refiro-me à sua irmã. (Gosto da sua irmã – preposição com artigo).

Atenção: Note que o emprego da crase é opcional porque o artigo


também é opcional. Se não for possível a anteposição do artigo, então
não ocorrerá a crase. O não emprego da crase é obrigatório. E, se houver
a presença do artigo, então o emprego da crase será obrigatório.

Refiro-me a suas irmãs. – Obrigatório o não emprego da crase, pois a


palavra “a” antes de palavra no plural é só a preposição. Se houvesse o
artigo, teria de ser “as”, no plural.

(Confronto: gosto de suas irmãs).

Refiro-me às suas irmãs. – Obrigatório o emprego da crase, pois a


palavra “as”, no plural, é artigo, já que não existe preposição no plural.
Então esse “às” é a contração da preposição “a”, regida pelo verbo
anterior, com o artigo feminino plural “as” anteposto ao pronome feminino
plural “suas”.

(Confronto: gosto das suas irmãs, e não “da” suas irmãs).

2.3.2.3 Emprego do acento grave em locuções

Além de seu emprego para indicar a crase, o acento grave é empregado


nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas cujo núcleo é
constituído de substantivo feminino.
UNIUBE 109

Trata-se de uma situação em que não ocorre a crase, isto é, a fusão da


preposição “a” com o artigo definido feminino “a” / “as”, embora possa
acontecer coincidência. Mas só coincidência.

A necessidade do emprego do acento grave nessas locuções tem o


sentido de evitar ambiguidade, confusão com o “a” ou “as” artigo, que
transformaria o termo em objeto direto, e não em locução adverbial,
prepositiva ou conjuntiva.

a) Locuções adverbiais

Algumas locuções: Locução adverbial

Conjunto de duas
ou mais palavras
à tarde, à noite, à faca, à máquina, à tinta, à vista, que tem a função
às claras, às escuras, às apalpadelas, às mil de um advérbio: à
noite: (advérbio de
maravilhas. tempo).

Note que são apenas expressões constituídas de substantivos femininos


como núcleo. Portanto as de núcleo masculino não se grafam com o
acento grave, como:
a cavalo, a prazo, a esmo.

Exemplo:

Meu primo estuda à noite.

Esse enunciado quer dizer que o sujeito “meu primo” frequenta escola no
período noturno, sendo o termo, pois, adjunto adverbial de tempo. Caso
a redação fosse: Meu primo estuda a noite, o enunciado queria dizer que
o sujeito “meu primo” tem como objeto de estudo a noite, isto é, ele é um
astrônomo, um cientista que estuda, pesquisa, analisa a noite. O termo
“a noite”, então, é objeto direto do verbo “estudar”.
110 UNIUBE

Observação: O único caso de locução adverbial que a norma padrão


autoriza deixar sem o acento grave é para as locuções adverbiais de
instrumento, ou meio, desde que não ocorra ambiguidade. Caso ocorra,
o emprego do acento grave é obrigatório. Exemplos:

O rapaz abriu à faca.

Esse enunciado está com o objeto direto subentendido. O rapaz abriu


alguma coisa usando a faca como instrumento. Então o termo “à faca” é
adjunto adverbial de instrumento. O acento grave é obrigatório, pois sua
ausência determinaria outro sentido ao enunciado:

O rapaz abriu a faca.

O enunciado quer dizer que o rapaz abriu uma faca, daquelas que
parecem canivete, tendo a lâmina dobrável, guardada dentro do cabo.
Então o termo “a faca” é objeto direto.

Veja, agora, estes enunciados.

O rapaz abriu a lata a faca.


O rapaz abriu a lata à faca.

Neles, o objeto do verbo “abrir” está expresso, “a lata”. Portanto não


existe a possibilidade de interpretar o termo “a faca” como objeto direto
do verbo, mas apenas como adjunto adverbial de instrumento. Então o
emprego do acento grave é opcional.

b) Locuções prepositivas

Locução Algumas locuções:


prepositiva
à maneira de, à moda de, à custa de, às custas
Conjunto de duas
ou mais palavras
de, à vista de, à luz de, à sombra de, à força de, à
que funcionam espera de, à procura de.
como uma
preposição: a fim
de = para.
UNIUBE 111

Exemplos:
O rapaz venceu à custa de muito sacrifício.
Vivemos à procura da felicidade.

c) Locuções conjuntivas
Locução
conjuntiva
As principais, ou praticamente únicas, são:
Conjunto de duas ou
mais palavras que
funcionam com o
à proporção que, à medida que. valor de conjunção:

apesar de =
Exemplos: embora.

O aluno aprende à medida que estuda.


A ansiedade dos torcedores aumentava à proporção que o tempo corria.

2.3.3 Palavras e expressões

2.3.3.1 MAU / MAL

MAU – É adjetivo, portanto determina substantivo.

Antônimo: BOM.

Exemplos: mau aluno, mau jeito, mau cheiro, mau hálito, mau humor
(bom aluno, bom...).

MAL – Pertence a três classes de palavras:

Advérbio. – Antônimo: BEM.


112 UNIUBE

Exemplos: mal-acabado, mal resolvido, mal-acostumado, mal-humorado


(bem-humorado, bem...).

Substantivo. – Antônimo: BEM.

Exemplos: fazer o mal, praticar o mal, evitar o mal, pessoa do mal (fazer
o bem...).

Neste caso, tem a flexão de plural: os males.

Exemplos: Muitos são os males do progresso.


Devemos fugir dos males da tecnologia moderna.

Conjunção subordinativa adverbial temporal.

Exemplos: Mal cheguei, a chuva caiu.


Mal os pais saíram, as crianças começaram a algazarra.

2.3.3.2 ONDE / AONDE

ONDE – Corresponde a termos que regem a preposição EM: morar,


estar, ficar, estudar.
em que lugar? – lugar em que.

EM – Ideia de repouso (em oposição a movimento).

Exemplos: Onde você mora?


Onde seu irmão estuda?
A rua onde moro é asfaltada.
A escola onde ele estuda é de boa qualidade.
UNIUBE 113

AONDE – Corresponde a termos que regem a preposição A: ir, chegar,


voltar.
a que lugar? – lugar a que.

A – Ideia de movimento, direção (em oposição a repouso).

Exemplos: Aonde você foi ontem?


Aonde seu irmão chegou?
A igreja aonde fui ontem é bonita.
A cidade aonde ele chegou é pequena.
... que a família comece e termine sabendo aonde vai.

2.3.3.3 ENTRE MIM E ELE

No tópico dos pronomes pessoais, vimos que os


Pronomes
de caso oblíquo exercem a função sintática de pessoais de caso
reto
complemento, e os de caso reto exercem apenas
Eu, tu, ele(a),
a função sintática de sujeito. Portanto as expressões nós, vós, ele(a)
s. Pronomes
“entre eu e ele”, “entre eu e você” e demais da pessoais do caso
mesma natureza são erradas, pois os pronomes oblíquo: me, mim,
comigo; te, ti,
pessoais EU e TU são apenas do caso reto, portanto contigo; o, a, os, as,
se lhe, ele, ela, si;
exercem apenas a função sintática de sujeito. As nos, nós, conosco;
vos, vós, convosco;
expressões com a preposição “entre”, nos casos os, as, se, lhes,
eles, elas, si.
aqui referidos, são complemento, e não sujeito. Por
isso devem ser construídas apenas com as formas
pronominais oblíquas MIM e TI. Os demais pronomes pessoais do caso
reto, sim, esses podem ser do caso reto, quando sujeitos, e do caso oblíquo,
quando complementos.
114 UNIUBE

Exemplos: Os atritos foram entre MIM e TI. (e não entre eu e tu)

Os atritos foram entre TI e MIM. (e não entre tu e eu)

Entre MIM e ele houve acordo.

Entre ele e MIM houve acordo.

Nunca houve desentendimento entre MIM e você.

Nunca houve desentendimento entre você e MIM.

O assunto será tratado apenas entre MIM e o Alfredo.

O assunto será tratado apenas entre o Alfredo e MIM. (e não


entre o Alfredo e eu)

O caso será decidido entre MIM e os alunos. (e não entre eu


e os alunos)

Em todos esses casos, não se usam as formas EU nem TU.

Você viu que a ordem dos pronomes não interfere em seu emprego,
como “entre mim e você” ou “entre você e mim”.

É evidente que alguma forma de enunciar pode soar estranha. Mas esse
estranhamento não deve interferir no emprego correto das expressões.
Para atender à função poética da linguagem, escolha a forma que tenha
melhor sonoridade.

2.3.3.4 MEIO / MEIA

A palavra “meio” classifica-se como numeral fracionário adjetivo ou como


advérbio.
UNIUBE 115

Numeral fracionário: neste caso, tem função mórfica de adjetivo,


pois determina substantivo, tendo, portanto, as flexões de gênero e de
número: meio, meia, meios, meias. Exemplos:

Figura 11: Meia maçã (metade)

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

meio quilo, meia dúzia.


meios termos – Detesto pessoas que só dizem meios termos.
meias palavras – Detesto pessoas que só dizem meias palavras.

Advérbio. Nesta classificação, a palavra determina ou modifica adjetivo


e é invariável, não tendo, portanto, flexões.

Exemplos: A menina está meio adoentada.


A moça é meio loira.
A máquina está meio estragada.
Essa pergunta é meio atrevida.
Ela ficou meio preocupada.
Elas ficaram meio preocupadas. (um pouco)
116 UNIUBE

2.3.3.5 HÁ / A

HÁ – Emprega-se esta forma nas frases em que a ideia é de tempo


passado, ou tempo decorrido. Equivale à forma verbal FAZ, na mesma
acepção.

Exemplos:
Ele mora nesta cidade há dez anos. / ...faz dez anos. (e não
“fazem”)
Há dez anos que ele mora nesta cidade. / Faz dez anos que...
(e não “Fazem”)
Ele chegou há duas horas. / ...faz duas horas. (e não “fazem”)
Há duas horas que ele chegou. / Faz duas horas que... (e não
“Fazem”)
Estamos aqui há muito tempo.
Os dinossauros existiram há milhões de anos.
Há muito que não o vejo.
Há muito não se vê tanta corrupção política.

A – Emprega-se esta forma nas frases em que a ideia é de tempo futuro


ou de distância.

Exemplos:

(Tempo futuro): Meu filho vai casar daqui a dois anos.


De hoje a dois anos será o casamento do meu filho.

Ou

OBA! Estamos a um mês das próximas férias.(Figura 12).


UNIUBE 117
Figura 12: Férias

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Distância : A casa fica a vinte metros da esquina.


A vinte metros da esquina, vire à direita.
Estamos a dois quilômetros do inimigo.

2.3.3.6 AO ENCONTRO DE/ DE ENCONTRO A

O desconhecimento da primeira dessas expressões difundida na sociedade


até nos meios cultos ou intelectuais faz com que a segunda delas seja usada
no sentido da primeira. “Exatamente” um sentido oposto, contrário.

AO ENCONTRO DE (DO, DOS, DA, DAS) – Esta expressão tem ideia


de situação favorável, agradável, boa.

Exemplos: Júlia foi ao encontro dos filhos e do marido. (Figura 13)


Figura 13: ...ao encontro de...

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


118 UNIUBE

Outros exemplos:

A urbanização do bairro veio ao encontro do desejo dos moradores.


A prorrogação das férias veio ao encontro da expectativa dos alunos.
O aumento do salário veio ao encontro das aspirações dos funcionários.

DE ENCONTRO A (AO, À, AOS, ÀS) – Esta expressão tem ideia de


situação desfavorável, desagradável, ruim.

Exemplos:

O carro foi de encontro ao poste, mas ninguém se machucou. (Figura 14)


Figura 14: ...de encontro a....

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Esta reforma da Previdência vem de encontro à dignidade do trabalhador.


A anulação do concurso veio de encontro às expectativas dos candidatos.
A paralisação das obras veio de encontro ao desejo dos moradores.
UNIUBE 119

2.3.3.7 CONOSCO, CONVOSCO / COM NÓS, COM VÓS

A preocupação com o falar corretamente, com o errar e com o ser


ignorante faz muitas pessoas exatamente errarem neste tópico, pois
aprenderam que a expressão “com nós” é errada. Mas existem as duas
formas.

CONOSCO, CONVOSCO – Esta forma pronominal é resultante da fusão


da preposição COM e dos pronomes NÓS e VÓS.

Tal forma é usada apenas quando o pronome pessoal “nós” ou “vós”


não é seguido de determinante ou de aposto.

Exemplos: O diretor quer conversar conosco.


Ele vem falar conosco.
Devemos ser sinceros para conosco.
Deus esteja convosco.
Vós deveis ser sinceros convosco.
Ela vai passear conosco.

COM NÓS, COM VÓS – Aqui se trata do pronome pessoal seguido de


determinante ou de aposto. Neste caso, não se usa a forma sintética ou
aglutinada do pronome e da preposição.

Exemplos: O diretor quer conversar com nós alunos.


Ele vem falar com nós dois.
Devemos ser sinceros para com nós mesmos.
Deus esteja com vós todos.
Vós deveis ser sinceros com vós mesmos.
Ela vai passear com nós três.
120 UNIUBE

2.3.3.8 MELHOR / MAIS BEM

Aqui está outra situação em que as pessoas instruídas, intelectuais,


professores, palestrantes, mestres e doutores erram com frequência,
“pensando” que estão falando corretamente. E, muitas vezes, “corrigem”
os que não erram, ou até mesmo zombam dos que acertam.

Sempre que constatamos esses desacertos, reportamos ao que dissemos


no item referente à língua culta, cuja aquisição ou aprendizagem se faz
por meio de estudo. Mas estudo sério, de gramática, de linguística, de
literatura e demais fontes.

MELHOR – Trata-se da forma sintética do comparativo de superioridade


do advérbio “bem”.

Exemplos:

A Vilma canta melhor que (ou: do que) sua irmã.


Esse mecânico trabalha melhor que (ou: do que) o outro.
Na fazenda vive-se melhor que (ou: do que) na cidade.
Suporta-se melhor a cólica do próximo que (ou: do que) a própria.

MAIS BEM – Esta é a forma analítica do comparativo de superioridade


do advérbio “bem”. É empregada apenas quando modificadora de forma
verbal no particípio.

Exemplos:

Nossos alunos estão mais bem preparados que os das outras


escolas.
O professor está mais bem informado que o diretor.
UNIUBE 121

Este trabalho está mais bem realizado que aquele.


A sala é mais bem arejada que o quarto.
O galpão da igreja está mais bem construído que o do clube.
As partes da herança estão mais bem divididas agora.
Este texto está mais bem traduzido que o outro. O bolo está
mais bem repartido que o doce.
O assunto agora está mais bem debatido. As propostas estão
mais bem discutidas.
O assunto foi mais bem explicado pelo professor.

2.3.3.9 TAXA, TAXAR, TAXADO / TACHA, TACHAR, TACHADO

TAXA: percentual, alíquota, valor. Derivados: TAXAR, TAXADO.

Figura 15: Taxa.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Exemplos: A taxa de inscrição é de R$200,00.


O governo vai taxar a frequência às praias.
O governo ainda não taxou a frequência às praias.
122 UNIUBE

TACHA: tipo de prego. Derivados: TACHAR, TACHADO.

Os termos derivados são empregados, geralmente, em sentido figurado,


metafórico, com ideia de acusar de, acusado de. Exemplos:

A escola vai tachar alguns alunos de provocarem brigas durante o


recreio.
O pai da moça tachou o rapaz de vagabundo.
Um determinado deputado foi tachado de corrupto.

2.3.3.10 VIAGEM, VIAJEM / HAJA, AJA

Nestes casos, o problema é apenas de grafia ou escrita, e não de pronúncia.


São situações de ordem fonética, ortográfica, morfológica e semântica.

VIAGEM: substantivo. Exemplos: A viagem foi demorada.


Desejo-lhe boa viagem.
Vou fazer uma viagem amanhã.

VIAJEM: flexão do verbo viajar na terceira pessoa do plural do presente


do subjuntivo.

Exemplos: Quero que vocês viajem ainda hoje.


O chefe manda que o Acácio e o Norberto viajem à capital
federal.
É bom que eles viajem imediatamente.

Veja a ocorrência das duas formas na mesma frase: Quero que vocês
viajem amanhã e façam boa viagem.

HAJA: flexão do verbo haver na terceira pessoa do singular do presente


do subjuntivo.
UNIUBE 123

Exemplos: Espero que haja vagas.


É bom que não haja desistências.
Haja vista os escândalos praticados pelos políticos.

AJA/AJAM: flexão do verbo agir na terceira pessoa do singular e do


plural do presente do subjuntivo.

Exemplos: Espero que você aja / que vocês ajam com justiça.
Os pais querem que o filho aja / que os filhos ajam com
honestidade.
É preciso que o professor aja/que os professores ajam com
elegância.

2.3.3.11 Verbo ADEQUAR

Trata-se de um verbo bastante “judiado” nas falas de pessoas instruídas,


autodidatas ou até detentoras de escolaridade de nível superior:
professores, oradores, palestrantes, pregadores religiosos. Constantemente
ouvimos frases como: “o texto não se adequa ao assunto”, “isso não se
adequa à realidade do aluno”. Emprego totalmente errado.

Esse verbo é defectivo, não possuindo, portanto, todas as formas de


pessoas, tempos e modos. Possui apenas as formas arrizotônicas,
isto é, as pessoas ou formas em que a vogal tônica ocorre depois do
radical. O radical do verbo “adequar” é adequ-. Então não existem as
pessoas em que a vogal tônica seria o “e”. Isto é, não existem as formas
rizotônicas desse verbo.
124 UNIUBE

Fica, então, assim o verbo “adequar” em alguns tempos e modos:

Presente/Indicativo Presente/subjuntivo Pret. Imperfeito Indicativo

Eu.... Eu... Eu adequ-ava


Tu..... Tu... Tu adequ-avas
Ele... Ele... Ele adequ-ava
Nós adequ-amos Nós adequ-emos Nós adequ-ávamos
Vós adequ-ais Vós adequ-eis Vós adequ-áveis
Eles ... Eles Eles adequ-avam

Note que o tempo pretérito imperfeito do indicativo é completo porque


todas as pessoas são arrizotônicas, isto é, todas têm como tônica a vogal
temática -a, depois do radical.

Aqui não vale, também, aquele argumento de que, faltando a primeira


pessoa do singular do presente do indicativo de um verbo defectivo,
consequentemente não haverá todo o presente do subjuntivo. Não. O
caso aqui é outro, a regra é outra.

Agora surge a dúvida, ou a intrigante questão: como proferir, então, uma


frase em que o verbo “adequar” é defectivo, isto é, uma forma que não
existe para esse verbo? A resposta é simples: as formas inexistentes de
um verbo defectivo são substituídas pelas formas de um verbo sinônimo
ou de significação análoga ou equivalente.

As frases mencionadas no início deste item, como erradas, ficam assim:

O texto não se “adequa” ao assunto. – Errado


... não se adapta... / ... não se ajusta... – correto

Isso não se “adequa” à realidade do aluno. – Errado


... não se adapta... / ... não se ajusta... – correto
UNIUBE 125

2.3.3.12 Plural de nomes próprios de pessoas

Fato bastante corrente na sociedade, em especial pelo rádio e pela


televisão, é a referência a famílias pelos nomes ou sobrenomes das
pessoas. Ocorre que essas referências são sempre no singular, o que
não é correto. Trata-se de erro, simplesmente. O correto, o certo é o plural.

Exemplos: (Figura 16)

Figura 16: A família dos Oliveiras.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

O lar dos Andrades está em festa. (e não “dos Andrade”)


Os Oliveiras vão promover movimentada festa junina. (e não “os
Oliveira”)
Os Cunhas e os Sousas vão unir as famílias, com o casamento
de seus filhos (e não “os Cunha e os Sousa”).
No clã dos Ferreiras, os festejos do Natal são muito animados.
(e não “dos Ferreira)
126 UNIUBE

A melhor prova de que esta norma é correta, exata, ortodoxa, é o título


de uma das obras do escritor português Eça de Queirós, Os Maias. Seria
um absurdo se o livro se intitulasse “Os Maia”...

2.3.4 Funções do pronome se

Neste tópico serão apresentadas apenas as situações do emprego do


pronome se que interferem na concordância verbal: índice de indeterminação
do sujeito e pronome apassivador (partícula apassivadora).

• Índice de indeterminação do sujeito

Esta situação ocorre com verbos não transitivos diretos. Então, com
verbos intransitivos, transitivos indiretos e de ligação.

Neste caso, o verbo fica invariável, isto é, emprega-se apenas na 3.ª


pessoa do singular.

Com verbos intransitivos: Vive-se bem nesta cidade.


Estuda-se muito na minha escola.
Também se morre de tristeza.
Não se ri durante a missa.
Chora-se por pouca coisa.
Trabalha-se pouco nesta casa.
Dorme-se mal naquele hotel.

Com verbos transitivos indiretos:

Precisa-se de operários.
Não se precisa desses livros.
Necessita-se de estagiários.
UNIUBE 127

Acredita-se em almas penadas.


Confia-se pouco nas autoridades.
Não se confia nos políticos.

Com verbos de ligação: Não se é feliz quando se está triste.


Fica-se triste em velórios.

Note, mais uma vez, que em todos esses exemplos o verbo fica na
terceira pessoa do singular.

• Pronome apassivador ou partícula apassivadora

Esta situação ocorre apenas com verbos transitivos diretos.

Por tradição, costuma-se mostrar que a voz passiva pronominal ou sintética


corresponde à voz passiva analítica, com o verbo “ser”. (Figura 17)

Exemplos:
Vende-se um apartamento em edifício bem localizado.
Vendem-se apartamentos em edifício bem localizado.

Figura 17: Vendem-se apartamentos.

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.


128 UNIUBE

Vendem-se casas. / Casas são vendidas. (Exemplo tradicional, estereotipado...)


Alugam-se apartamentos. /Apartamentos são alugados.
Corrigiu-se o erro. / O erro foi corrigido.
Corrigiram-se os erros. / Os erros foram corrigidos.
Verificar-se-á a falha. / A falha será verificada.
Verificar-se-ão as falhas. / As falhas serão verificadas.

Importante. Neste caso, o sujeito é expresso, determinando, portanto, a


concordância do verbo com ele, isto é, no singular ou no plural, conforme o
número do sujeito.

Atenção: Não se trata de sujeito indeterminado.

Exemplos:

Vende-se casa. / Vendem-se casas.


Aluga-se chácara. / Alugam-se chácaras.
Cumpriu-se o programa. / Cumpriram-se os programas.
Corrigiu-se o erro. / Corrigiram-se os erros.
Verificar-se-á a falha. / Verificar-se-ão as falhas.

Far-se-á prova bimestral. / Far-se-ão provas bimestrais.


Não se busca lucro. / Não se buscam lucros.
Nunca se descobriu o culpado. /Nunca se descobriram os culpados.
Para isso, consideram-se o locutor, o interlocutor, a finalidade
e a situação. / Para isso, considera-se o locutor, o interlocutor, a
finalidade e a situação.

Note que, no último par de exemplos, o verbo ficou no plural para


concordar com o sujeito composto “o locutor, o interlocutor, a finalidade e
a situação”. Por se tratar de sujeito composto depois do verbo, ou sujeito
posposto, a forma do verbo no singular também é correta, para concordar
com o sujeito mais próximo, conforme prescreve a regra. Mas não a única
forma correta.
UNIUBE 129

SAIBA MAIS

Repetimos que, com verbo transitivo direto, o pronome se não indica


sujeito indeterminado. Como a maior ocorrência na Língua Portuguesa é
dessa situação, os usuários da língua, falada ou escrita, “pensam” que esse
pronome indica apenas sujeito indeterminado e escrevem o verbo sempre
no singular nas frases de voz passiva. Por isso existem as famosas placas
ou os famosos anúncios com a concordância errada: vende-se casas,
vende-se móveis usados, aluga-se apartamentos, conserta-se calçados, e
tantos outros.

2.3.5 Regência de alguns verbos

Em outra obra e também em gramáticas normativas estão relacionados


alguns verbos cuja regência oferece dificuldades ou confusão em seu
emprego na modalidade culta da língua portuguesa. É uma relação com
finalidade didática, com os verbos apresentados com mais frequência em
gramáticas ou em livros didáticos.

Neste tópico, constam apenas as situações de verbos empregados quase


só de forma errada na língua falada e na escrita, por pessoas, conforme
o afirmamos por mais de uma vez, dotadas de escolaridade elevada:
escritores, intelectuais, doutores.

A frequência com que tais verbos são empregados de forma errada, mas
por pessoas “importantes”, transformou o erro em “acerto” para as demais
pessoas, principalmente as que são dotadas de menor preparo intelectual
ou escolar. Estas veem naquelas o modelo, o paradigma do bom uso da
língua. Então, o que elas proferem é imitado. Mesmo que seja o erro.
130 UNIUBE

• Morar, residir, situar

É comum vermos frases mal redigidas, como se fossem corretas, com


esses verbos e nomes deles derivados tendo por complementos termos
construídos com a preposição “a”: residente à rua tal, situado à rua
tal. Erro até presente em formulários impressos, com os espaços para
preenchimento do cliente ou freguês.

Emprego totalmente errado. Mesmo praticado por advogados, juízes,


oficiais de cartório.

Esses verbos regem a preposição EM.

Na redação de frases, os complementos de verbos e nomes deles


derivados podem ter as combinações NO, NA, NOS, NAS.

Portanto, as construções de frases com qualquer desses verbos ficam


assim:

Ele mora na rua Antônio Borges. (e não “à”)


Ele reside na praça da República. (e não “à”)
A loja está situada na avenida Artur de Oliveira. (e não “à”)
O abaixo assinado, residente na rua Leopoldino Machado,.. (e não “à”)

• Deparar

Esse é outro verbo empregado de forma errada como se fosse certa.


Erro cometido, também, como dissemos, por intelectuais, professores,
escritores.
UNIUBE 131

Trata-se de um verbo que admite três construções, das quais duas são
praticamente ignoradas pelo grande público, mesmo intelectual. Portanto,
pouco usadas. A terceira forma, sim, é a que muita gente conhece e
emprega erradamente.

As três construções que esse verbo admite são:

Deparar algo a alguém: “O hoteleiro deparou-me um refresco”. Isto é:


proporcionou-me. (FERNANDES, 1953, p. 188).

Algo deparar-se a alguém: “Ao hoteleiro deparou-se um refresco”. Isto


é: apresentou-se-lhe aos olhos. (FERNANDES, 1953, p. 189).

Essas duas formas não são conhecidas do grande público. São mais de
emprego literário, erudito, clássico.

Deparar com. – Atenção: DEPARAR COM e não “deparar-se com”.

Portanto, nesta construção, o verbo “deparar” é transitivo indireto com a


preposição COM, e NÃO pronominal.

Exemplos: “O hoteleiro deparou com um refresco”. Isto é: deu com um


refresco. (FERNANDES, 1953, p. 189).

Então deparei com a realidade. (e não “me” deparei)


Eu sempre deparo com dificuldades (e não “me” deparo)
Eu ia andando distraído, quando deparei com o pai dela. (e não
“me” deparei)
Muitas vezes o aluno depara com dificuldades (e não “se” depara)
O homem sempre depara com problemas. (e não “se” depara)
Em nossa caminhada, sempre deparamos com dificuldades (e não
“nos” deparamos).
132 UNIUBE

Deparo sempre com obstáculos. (e não Deparo-“me”)


Deparamos sempre com obstáculos. (e não Deparamo-“nos”)

Atenção: Não confunda, neste caso, o emprego do pronome se nas


frases com sujeito indeterminado. Aí, sim, há o emprego do pronome,
mas não como parte de um verbo pronominal. Por se tratar de um
verbo transitivo indireto, “deparar com”, o pronome SE, com esse verbo,
funciona como índice de indeterminação do sujeito.

Exemplos: Na vida, depara-se muitas vezes com obstáculos.


Sempre se depara com obstáculos nesta vida.

• Implicar

Trata-se de mais um verbo empregado de forma errada como se fosse


correta, por pessoas instruídas.

No sentido de acarretar, ter como resultado, esse verbo é transitivo


direto, e não transitivo indireto com a preposição “em”.

Então, as expressões corretas ficam assim:

O atraso em até três prestações implica o cancelamento do


contrato. (e não “no”).
A infração disciplinar prevista no artigo 45 implica suspensão do
aluno. (e não “em suspensão”).
O conserto do veículo em oficina não autorizada implica a perda
da garantia. (e não “na”)
UNIUBE 133

• Pagar, perdoar

Esses verbos apresentam duas predicações:

Transitivos diretos – para a coisa que se paga ou que se perdoa;


Transitivos indiretos, com a preposição “a” – para a pessoa a quem
se paga ou a quem se perdoa.

Exemplos:

Você já pagou o liquidificador– (coisa: o liquidificador– objeto direto)


Você já pagou ao dentista? – (pessoa: ao dentista – objeto indireto)
Preciso pagar o conserto do carro. – (coisa: o conserto – objeto direto)
Preciso pagar ao mecânico. – (pessoa: ao mecânico – objeto indireto)
Deus perdoa o pecado. – (coisa: o pecado – objeto direto)
Deus perdoa ao pecador. – (pessoa: ao pecador – objeto indireto)

Com pronomes pessoais oblíquos:

O conserto do meu carro ficou pronto. Hoje vou pagá-lo. – (lo = o


conserto: coisa – objeto direto)
O dentista precisa do dinheiro. Hoje vou pagar-lhe. – (lhe = ao
dentista: pessoa – objeto indireto)

• Chegar, ir, voltar

Como são verbos que significam movimento, direção, regem a preposição


“a”, e não a preposição “em”, própria dos verbos que significam repouso.
Assim, as expressões corretas com esses verbos são:

Cheguei ao clube, ao teatro.


Cheguei à igreja, à casa da vovó.
Cheguei a Uberaba, a São Paulo.
134 UNIUBE

Ontem cheguei a casa muito tarde.


Vou ao clube, ao teatro.
Vou à igreja, à casa da vovó.
Vou a Uberaba, a São Paulo.
Vou a casa buscar o dinheiro.
Voltei ao clube, ao teatro.
Voltei à igreja, à casa da vovó.
Voltei a Uberaba, a São Paulo.
Voltei a casa para buscar o dinheiro.

• Namorar

No sentido de cortejar, galantear, ter como namorado, é transitivo


direto. É incorreto, errado, o uso frequente como transitivo indireto, com
a preposição “com”.

Exemplos:
Figura 18: Alfredo namora a Regina. (e não “com” a Regina).

Fonte: Getty images. Acervo Uniube.

Outros exemplos.

Ela está namorando um colega. (e não “com” um colega)


Ele já namorou duas colegas. (e não “com” duas colegas)
Eu já a namorei. (e não “já namorei com ela”)
Ela já me namorou. (e não “já namorou comigo”)
UNIUBE 135

2.3.6 Emprego do pronome relativo "que" com verbos que regem


preposição

Esta é uma situação bastante “agredida” na fala e na escrita, por pessoas


de certa cultura ou de escolaridade elevada, como já o dissemos em mais
de uma ocasião.

Na fala, e principalmente na escrita, a preposição regida pelo verbo


permanece antes do pronome relativo “que”, em frases como as
seguintes:

Goiabada é o doce de que eu mais gosto (gostar de).


Das moças que Paulo namorou, a Vera é a de que (de quem, da
qual) ele mais gostou (gostar de).
Dr. Jorge é o médico de que (de quem, do qual) falei (falar de).
Ele é o médico em que (em quem, no qual) confio (confio em).
“A Paixão de Cristo” é o filme a que assisti ontem (assistir a).
Ser ator é a profissão a que meu primo aspira (aspirar a).
Esta é uma lei a que (à qual) ninguém obedece (obedecer a).
Um dos filmes a que mais assisti e de que mais gostei é “A Lagoa
Azul” (assistir a, gostar de).

2.4 Conclusão

Os fatos apresentados neste capítulo constituem importante valor de


conhecimentos para qualquer estudioso, profissional ou usuário da
língua. São aspectos de uso prático e quotidiano, nas diversas formas de
expressão linguística. Estudá-los e compreendê-los é obrigação de toda
pessoa instruída para um satisfatório e coerente conceito na sociedade,
não só para ser respeitada, mas também e principalmente para tornar-se
o paradigma da boa comunicação e expressão em Língua Portuguesa.
136 UNIUBE

A comunicação somente se efetiva com sucesso, caso o locutor e o


interlocutor estabeleçam interação. Para isso, além do conhecimento
de mundo, que é adquirido pelas leituras, pelas experiências de vida,
também o conhecimento linguístico, por meio das normas registradas
nas gramáticas, é de fundamental importância tanto para a vida pessoal,
dependendo da situação, como para a vida profissional, pois o mercado
de trabalho está cada vez mais seletivo e exigente.

Resumo
Neste capítulo, você viu algumas situações de correção de linguagem
e de estruturas morfossintáticas da Língua Portuguesa. São situações
decorrentes, em geral, de conteúdos morfológicos. Foram apresentadas
algumas normas de pontuação, de ortografia, de grafia de palavras e de
expressões, de crase, de algumas estruturas sintáticas de emprego do
pronome “se” e de regência verbal. Todos esses conteúdos constituem
seguro alicerce para o bom domínio do idioma.

Referências
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São Paulo: Moderna, 1979.

AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de


Janeiro: Delta, 1964.

BARRETO, Mário. Novos estudos da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Presença, 1980.

BECHARA, Evanildo Cavalcante. Moderna gramática portuguesa. São Paulo:


Nacional, 1982.

. Lições de português pela análise sintática. Rio de Janeiro: Fundo


de Cultura, 1970.
UNIUBE 137

. Novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da


língua portuguesa. Santos: Editora Brasília, 1974.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro


Técnico, 1976.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978.

FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. Porto Alegre:


Globo,1953.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2001.
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