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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Pós-graduação em Direito do Trabalho , Processo do
Trabalho e Previdenciário

RESENHA DO ARTIGO OU CASO

“ EM DIA DE SANGRIA FISCAL, GOVERNO ANUNCIA


MUDANÇAS NAS REGRAS DO SEGURO-DESEMPREGO”

GRAZIELLI DOS SANTOS RECHE

CAMPO GRANDE / MS
2018
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O governo implementou mudanças nos critérios de adesão a benefícios


previdenciários que devem acarretarem economia de 3% do produto interno bruto. Com
as referidas alterações fará jus ao seguro-desemprego o trabalhador que tenha
trabalhado pelo menos 18meses, no caso de primeiro emprego; 12 meses, no caso do
segundo emprego e seis meses, a partir do terceiro emprego.
No dia 29 de dezembro de 2014 foi publicada na revista Veja a notícia de que o
governo anúncio mudanças nas regras do seguro-desemprego, tornando, assim mais
rígidos os critérios para recebimento do benefício.
A reportagem, de 2014, dava ciência aos leitores da aprovação de modificações
importantes na lei do seguro – desemprego, explicando os principais pontos de
mudança. Numa tentativa de economia feita pelo governo, os critérios para recebimento
do benefício se tornaram mais rígidos. Com a altearão da lei, só terá direito ao seguro-
desemprego aquele trabalhador que tiver pelo menos 18 meses de trabalho em seu
primeiro emprego, 12 meses de trabalho em seu segundo emprego, e 6 meses de
trabalho a partir do terceiro e emprego. Anteriormente, a lei previa a concessão do
benefício era de 1 mês. A mudança, segundo o governo, acarretaria uma economia de
18 bilhões de reais em 2015, o que equivale a 3% do PIB brasileiro. Houve ainda a
justificativa de que de janeiro a novembro de 2014 teria havido um rombo recorde de
18,31 bilhões de reais e à medida que a de extrema importância para o equilíbrio das
contas do governo.
Vemos na mudança da lei uma tentativa do governo de tentar cobrir o rombo da
previdência, que em 2013 havia alcançado 60 bilhões de reais. Entretanto, vale aqui
destacar que as alterações legislativas propostas pelo governo no sentido de tentar
estabelecer um equilíbrio de gastos e uma diminuição nos gastos da previdência, e m
sua maioria, só afetam os setores mais pobres da população, aprimorando assim as
desigualdades sociais. Como informado pelo ministro da casa civil à época, 74% dos
pagamentos do seguro-desemprego são feitos a quem está entrando no mercado de
trabalho, na primeira ou segunda vez que a carteira é assinada. Deste modo, tentou- se
justifica que a mudança era necessária para uma economia. Ocorre que aqueles que
estão ingressando no mercado de trabalho são justamente aqueles que mais precisam do
benefício, pois se sabe que são as pessoas em maior situação de vulnerabilidade e tal
medida, como dito alhures somente prejudica o s se tores mais necessitados da
3

população. Sem dúvidas as contas do governo precisam manter um maior equilíbrio,


mas este não deve se dar em detrimento dos mais pobres. Pelo contrário, deve -se cobrar
uma participação maior dos setores mais ricos da sociedade. Poderia, por exemplo, ser
cobrado imposto sobre grandes fortunas, os incentivos fiscais dados a grandes e
empresas e bancos os também poderiam ser feitos de maneira mais equilibrada.
Atualmente, temos que o trabalhador brasileiro está sendo de notoriamente
prejudicado com modificações na legislação como a reforma trabalhista e o projeto de
reformada previdência, mas pouco ou quase nada é feito para os se tores mis abastados
também pague m esta conta. Deste modo tem- se que a mudança na lei do seguro-
desemprego não foi positiva prejudicando o trabalhador brasileiro que já tanto perdeu
com a reforma trabalhista e ainda terá mais a perder se a reforma da previdência for
aprovada.

REFERÊNCIA:

VEJA. Título: Em dia de sangria fiscal, governo anuncia mudanças nas regras do
seguro-desemprego. Subtítulo: Critérios para o recebimento dos benefícios ficarão mais
rígidos e haverá ainda carência para o pagamento de pensão por morte e abono salarial
disponível em: Data de acesso 30/04/2018.
G1. Título: Mudanças no seguro-desemprego valerão somente dentro de 60 dias.
Subtítulo:MP´s com alterações em benefícios sociais foram publicadas nesta terça. Para
o seguro-defeso, porém, mudanças começam dentro de 90 dias. Disponível em: Data de
acesso 30/04/2018
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GRAZIELLI DOS SANTOS RECHE

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM ÁREA


URBANA: PERTINÊNCIA DA APLICAÇÃO DAS REGRAS
DO ATUAL CÓDIGO FLORESTAL EM CURSOS D’ÁGUA
Artigo Cientifico Jurídico apresentado como exigência
parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso à banca examinadora da
Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande, sob a
orientação do Professo Fernando de Alvarenga
Barbosa.

CAMPO GRANDE / MS
5

FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM ÁREA URBANA:


PERTINÊNCIA DA APLICAÇÃO DAS REGRAS DO ATUAL CÓDIGO
FLORESTAL EM CURSOS D’ÁGUA

GRAZIELLI DOS SANTOS RECHE

RESUMO

O presente trabalho teve como tema As áreas de preservação permanente em área


urbana: Pertinência da aplicação das regras do atual código Florestal em cursos d’agua.
Pretendeu-se verificar de que forma estes espaços vem sendo tratados e relacionados
com o processo de urbanização da cidade. Para tanto, foram buscados conceitos
pertinentes à matéria ambiental, como o conceito de meio ambiente e a definição de
área de preservação permanente. Analisou-se o tratamento atribuído ao direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental e destacaram-se
relevantes princípios da matéria ambiental. Trouxeram-se pressupostos conceituais
relativos ao tema urbanístico, como a definição de cidade, urbanização e urbanismo.
Analisou-se o Estatuto da Cidade e a questão da sustentabilidade do espaço urbano.
Abordou-se, também, a relação entre o Direito Ambiental e o Direito Urbanístico.
Examinou-se ainda a evolução e a aplicação do Novo Código Florestal e a
aplicabilidade de suas previsões em âmbito urbano. Por fim, analisou o conflito entre a
aplicação do Novo Código florestal em área Urbana.

Palavras-chave: Meio Ambiente. Novo Código Florestal. Áreas de Preservação


Permanente.
6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. ..5


1 A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O DIREITO CONSTITUCIONAL .............................................. 06
1.1 Plano Diretor e Estatuto da Cidade ....................................................................................................... 10
1.1.1 O Município e a aplicação das legislações ambiental Federal e Estadual .................................... 10
1.1.2 O Estatuto da Cidade ................................................................................................................... 11
1.1.3 Plano Diretor................................................................................................................................ 15
2 APLICABILIDADE DOS LIMITES IMPOSTOS PELO NOVO CÓDIGO FLORESTAL NO
MEIO URBANO ......................................................................................................................................... 18
2.1 Conceito de área de preservação permanente - APP............................................................................. 20
2.2 O alcance da aplicação do novo código Florestal para APP em meio urbano ..................................... 21
3 O CONFLITO ............................................................................................................................................ 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................. 25
7

INTRODUÇÃO

O estudo tem por objetivo analisar das áreas de preservação permanente em área
urbana: pertinência da aplicação das regras do atual código florestal em cursos d’água
considerando as novas situações trazidas pelo novo código florestal no ordenamento
jurídico brasileiro através da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Considerando-se a
aplicação do mesmo, entre outras determinações, exigi a recuperação de margens de rios
e o reflorestamento do que já foi desmatado.

O ramo do Direito Ambiental é um conjunto de princípios e normas que sancionam as


atividades humanas que venham lesar o meio ambiente, independentemente do fato de
que estas ocorram de forma direta ou indireta.
O objetivo geral da pesquisa consiste em apontar os principais os conflitos da
aplicabilidade do atual código florestal nas áreas de preservação permanente em área
urbana considerando a pertinência da aplicação das regras do atual Código Florestal em
cursos d’água

A escolha do tema se justifica pelo fato de consciência ambiental e doo meio ambiente
ter adquirido atenção especial nas últimas décadas, devido a escassez dos recursos
naturais e qualquer iniciativa relativa à sustentabilidade é de grande importância para
a humanidade. Sendo assim, tem-se nesse contexto a relevância do tema escolhido, já
que a tutela ambiental é de interesse de todos.

A metodologia a ser utilizada no trabalho consiste basicamente na pesquisa


bibliográfica, que será consultada com a finalidade de estudar e investigar previamente
elementos que poderão dar uma visão mais ampla sobre as questões que envolvem as
mudanças trazidas pelo novo Código Florestal. Para tanto, o estudo será fundamentado
no amplo leque de fontes que se encontra disponível em periódicos, em artigos da
internet, na legislação, entre outros que possam trazer informações e reflexões a
respeito do assunto. Assim, proceder-se-á com um levantamento dos materiais
disponíveis, os quais serão fichados um a um após a leitura cuidadosa dos mesmos a
fim de compor um conjunto de informações que serão selecionadas e classificadas de
acordo com as exigências que o tema requer e que já se encontram pré-definidas para
direcionar o estudo.
8

1. – A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E O DIREITO CONSTITUCIONAL.

Na abordagem do referido tema podemos verificar que até a década de 70, ainda não
havia permeado às formulações jurídicas um conceito amplo de meio ambiente que
pudesse substancialmente nortear uma corrente política ambiental.

No mesmo sentido é o enfoque de Carvalho:

Foi somente após o surgimento de um conceito científico proporcionando


uma visão globalizante do fenômeno ambiental, sobretudo informado pela
noção de ecossistema, que se permitiu embasar-se consistentemente a
disciplina jurídica do ambiente. 1

A percepção de natureza não evoluiu muito desde o dia do descobrimento até a


atualidade. A riqueza e a importância da preservação do meio ambiente que
primeiramente surpreendeu, apenas foram reconhecidas pela Constituição Federal de
1988, ou seja, depois de passados 488 anos.

Cita-se, para enfatizar, a fundamentação de Leite e Canotilho:

Tantos anos após, ainda há fartura em “terra e arvoredos” [...] o país mudou.
Passou de Colônia a Império, De Império a República; alternou regimes
autoritários e fases democráticas; viveram diferentes ciclos econômicos;
fomentou a indústria; promulgou constituições, a começar pela de Dom
Pedro I, de 1824; aboliu a escravatura e incorporou direitos fundamentais no
diálogo do dia-a-dia. Como é evidente, tudo neste período evoluiu, menos a
percepção da natureza e o tratamento a ela conferido. Somente a partir de
1981, com a promulgação da lei n. 6.938/81 2, ensaiou-se o primeiro passo
em direção a um paradigma jurídico-econômico que holisticamente tratasse e
não maltratasse a terra, seus arvoredos e os processos ecológicos essenciais a
ela associados.3

1
CARVALHO, Carlos Gomes de. Introdução ao Direito Ambiental. 4ª ed. São José: Conceito, 2008, p.
17.
2
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
3
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 57 e 58.
9

No Brasil, a expressão meio ambiente é utilizada pela primeira vez numa


Constituição no ano de 1988. Importante salientar que a emenda Constitucional 1/1969
utiliza pela primeira vez num texto constitucional a expressão ecológica4.
Pode-se considerar que tal previsão legal constitui um avanço no que diz respeito ao
meio ambiente.

Nesse sentido, registram Leite e Canotilho:

Só em meados da década de 70 os sistemas constitucionais começaram,


efetivamente, a reconhecer o ambiente como merecedor da tutela maior; esse,
sem dúvida, um daqueles raros momentos, que ocorrem de tempos em
tempos, em que o senso de civilização é redefinido. Há, em tal constatação
um aspecto que impressiona, pois na história do direito poucos valores ou
bens tiveram uma trajetória tão espetacular, passando, em poucos anos, de
uma espécie de nada-jurídico ao ápice da hierarquia normativa, metendo-se
com destaque nos pactos políticos nacionais.5

A nossa Carta Magna prevê em seu artigo 225 6 que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Neste sentido, Machado 7, afirma que o direito ao
meio ambiente equilibrado é de cada um, como pessoa humana, independentemente de
sua nacionalidade, raça, sexo, idade, estado de saúde, profissão, renda ou residência.

A constitucionalização do meio ambiente é uma irreversível tendência


internacional, que coincide com o surgimento e consolidação do Direito Ambiental. 8

O Direito Ambiental é uma ciência nova, porem autônoma. Essa independência


lhe é garantida porque o Direito Ambiental possui os seus próprios princípios diretores,
presentes no artigo 225 da CF9.

4
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
5
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 60.
6
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
7
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
8
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
9
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
10

Sobre o assunto, Silva comenta:

A constituição de 1988 for, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da


questão ambiental. Pode-se dizer que ele é uma constituição eminentemente
ambientalista. Assumiu o tratamento da matéria em termos amplos e
modernos. Traz um capítulo específico sobre o meio ambiente, inserido no
título da ordem Social”. Mas a questão permeia todo o seu texto,
correlacionada com os temas fundamentais da ordem social. 10

A constituição de 1988 demostra efetiva preocupação com o meio ambiente,


tamanha a preocupação e tal o destaque que retrata fielmente a proteção do meio
ambiente. Depois de um longo período praticamente esquecido, o tema surge no
ordenamento pátrio demonstrando a preocupação do constituinte com o cenário
ambiental atual11.
Nesse sentido, preleciona Machado:

Na verdade, o texto supremo catou com indisputável oportunidade o que está


na alma nacional – a consciência de que é preciso aprender a conviver
harmoniosamente com a natureza -, traduzindo em vários dispositivos aquilo
que pode ser considerado um dos sistemas mais abrangentes e atuais do
mundo sobre meio ambiente. A dimensão conferida ao tema não se resume, a
bem ver, aos dispositivos concentrados especialmente no capítulo VI do
Título VIII, dirigido à ordem social – alcança da mesma forma inúmeros
outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos títulos e
capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria . 12

O texto constitucional empregou figuras genéricas: Poder público e coletividade;


como sendo aquelas obrigadas a preservar e defender o meio ambiente. Há que se
destacar que poder público abrange os três poderes sendo eles executivo, legislativo e
judiciário13.

Nesse sentido, especifica Machado:


O Poder Público é a coletividade deverão defender e preservar o meio
ambiente desejado pela constituição, e não qualquer meio ambiente. O meio
ambiente a ser defendido preservado é aquele ecologicamente equilibrado.

10
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 8ª ed. São Paulo: Malheiros editores. 2010.
11
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
12
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 8ª ed. São Paulo: Malheiros editores. 2010.
13
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
11

Portanto, descumprem a Constituição tanto o poder Público como a


coletividade quando permitem ou possibilitam o equilíbrio do meio
ambiente.14

A Constituição Federal estabeleceu às presentes e futuras gerações como


destinatárias da defesa e da preservação do meio ambiente. O artigo 225 consagra a
ética da solidariedade entre as gerações, pois as gerações presentes não podem usar o
meio ambiente fabricando a escassez e a debilidade para as gerações vindouras 15.

No mesmo sentido é o enfoque de Leite:

A ecologização da constituição não é cria tardia de um lento e gradual


amadurecimento do direito ambiental, o ápice que simboliza a constituição
dogmática e cultural de uma visão jurídica de mundo. Muito ao contrario, o
meio ambiente ingressa no universo constitucional em pleno período de
formação do direito ambiental. A experimentação jurídica ecológica
empolgou simultaneamente, o legislador infraconstitucional e o
constitucional. 16

Para Leite e Canotilho, portanto, a constitucionalização da preocupação com a


preservação do meio ambiente não é tardia, mas ocorre justamente no momento em que
surge o Direito Ambiental.

1.1 Plano Diretor e Estatuto da Cidade

Treze anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, em 10 de julho de


2001, foi aprovada e sancionada a Lei nº 10.257, com o nome de Estatuto da Cidade,
passando a viger a partir de 10 de outubro de 2001.

14
Ibidem p. 137
15
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
16
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, 2ª ed., p. 64
12

O Projeto de Lei nº 5.788/90, após onze anos tramitando desde 1990 pelo Congresso
Nacional e algumas mudanças, foi aprovado e transformado, finalmente, na Lei que
traça as diretrizes gerais para o ordenamento urbano, conforme explicitado na
Constituição Federal.

A grande ênfase dada ao planejamento municipal através do Estatuto da Cidade,


adequado a vários princípios que regem o direito ambiental, diz respeito ao equilíbrio
ambiental, numa preocupação constante com a necessidade de preservar a natureza,
corrigindo os erros e inconsequências já cometidos por nossa geração e pelas gerações
passadas, para legar às gerações futuras uma cidade que ofereça todas as condições de
vida saudável e bem estar dos munícipes.

1.1.1 O Município e a aplicação das legislações ambiental Federal e Estadual

A constituição federal confere, indistintamente, à União, aos Estados e ao Distrito


Federal a competência para proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas e de preservar as florestas, a fauna e a flora (art. 23 VI e VII).
Apropriado explicar que, qualquer dos entes públicos mencionados tem competência
para aplicar a legislação ambiental, ainda que essa legislação não tenha sido de autoria
do ente público que a aplica.

Assim, o município não pode legislar sobre águas, mas pode, e deve aplicar a
legislação federal de águas no ordenamento do território municipal. Não há competência
privativa da União para legislar sobre a maioria dos bens constantes do art. 20 da CF.
Dessa forma, a própria União deve sujeitar-se às regras emanadas dela mesma, dos
estados e dos Municípios, conforme os quatro parágrafos do art. 24 e do art. 30, I e II
ambos da CF 17.

17
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
13

1.1.2 Estatuto da Cidade

O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) foi introduzido no ordenamento jurídico


brasileiro com o objetivo de regulamentar os mandamentos constitucionais contidos nos
art. 182 e 183 da Carta Magna, com a finalidade de regular o uso da propriedade urbana
em benefício da coletividade, da segurança e do bem estar dos cidadãos 18.

Tal mandamento foi ditado para todo o território nacional e visa a uma estrutura de
vida nacional, tanto assim, que cabe aos municípios a maior parte de sua explicitação e
aplicação mediante leis próprias19.

Para que haja uma ordenação do crescimento e transformação da cidade e do campo


é indispensável à existência do plano diretor. Porém, não se pode esperar que o plano
diretor contivesse ou preveja tudo, limitando a capacidade criativa dos munícipes;
também não podemos crer que liberdade de iniciativa se torne uma forma de desrespeito
aos limites mínimos estabelecidos nas legislações vigentes 20.

Nesse sentido, sintetiza Machado:

O Plano Diretor tem prioridade sobre outros planos existentes no Município


ou que possam vir a ser instituídos. O termo Diretor tem dimensão jurídica
considerável, pois é um plano criado pela lei para dirigir e para fazer com que
outras leis municipais, decretos e portarias anteriores ou posteriores tenham
que se ajustar ao plano diretor.21

18
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
19
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
20
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
21
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª.ed. rev., atual. e ampl.. São
Paulo: Malheiros Editores, 2010, p. 403.
14

Percebe-se assim, que a intenção do legislador ao criar a lei 10.257/2001, foi


estabelecer uma linha dorsal, sendo que as outras legislações existentes ou que venham
a existir tenham que se adaptar àquela 22.

Pode-se afirmar que a função social da propriedade urbana é cumprida quando


esta atende às exigências fundamentais de uma política de desenvolvimento e de
expansão urbana, expressa no plano diretor.

No mesmo sentido é o enfoque de Fiorillo:

[...] a origem das cidades se dá em decorrência das grandes mudanças da


organização produtiva, na medida em que referida organização transformou,
ao longo da história, a vida cotidiana da pessoa humana, provocando, de
maneira crescente, um grande salto no desenvolvimento demográfico.23

Essas mudanças na organização produtiva acabam por influenciar o surgimento das


cidades, a partir do momento em que o excedente produzido passa a ser distribuída para
a maioria e teoricamente para toda a população, a cidade ainda se contrapõe ao campo,
mas este dualismo não mais é inevitável e pode ser superado 24.

A lei 10.257/2001, como instrumento que passou a disciplinar no Brasil, mais que o
uso puro e simples da propriedade urbana, as principais diretrizes do meio ambiente
artificial, fundado no equilíbrio ambiental e em face do tratamento jurídico constante na
nossa Constituição Federal especialmente em seus art. 182 e 183 25.

Nesse sentido, argumenta Fiorillo:

Assim, na chamada execução da política urbana, torna-se verdadeiro afirmar


que o meio ambiente artificial passa a receber uma tutela mediata (revelada
pelo art. 225 da CF, em que encontramos a proteção geral ao meio ambiente
enquanto tutela da vida em todas as suas formas, centrada na dignidade da
pessoa humana) e uma tutela imediata (que passa a receber tratamento

22
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
23
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11ª ed. rev., atual. e
ampl.. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 441.
24
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
25
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
15

jurídico aprofundado em decorrência da regulamentação dos arts. 182 e 183


da CF) relacionando-se diretamente ás cidades. É, portanto, impossível
desvincular da execução da política urbana o conceito de direito à sadia
qualidade de vida, assim como o direito a satisfação dos valores da dignidade
da pessoa humana e da própria vida.26

A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e da propriedade urbana, garantindo o direito à cidades sustentáveis.
Entende-se por cidade sustentável o direito a terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e
ao lazer, para os presentes e futuras gerações. (art. 2º, I, do Estatuto) 27.

Cita-se, para enfatizar, a fundamentação de Sirvinskas:

Cuida de uma das diretrizes do Estatuto da Cidade que tem por finalidade
evitar “o crescimento desordenado que gere efeitos negativos ao meio
ambiente, o uso inadequado dos imóveis, a proximidade de usos
incompatíveis, a poluição e a degradação ambiental, sendo preconizada a
proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído,
patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico como
orientação para o conteúdo da função social dos imóveis; a aplicação de
qualquer um dos instrumentos previstos no art. 4º da mesma lei que não
tenham como objetivo o alcance de tal diretriz não encontra respaldo nas
normas gerais de política urbana.28

Sob a visão do autor, a política urbana deve estar sempre voltada para o bem estar
das pessoas, prezar pela melhora em sua qualidade de vida bem como jamais se afastar
dos valores da dignidade da pessoa.

No mesmo sentido é o enfoque de Fiorillo:

A Lei 10.257/2001, considerada a mais importante norma regulamentadora


do meio ambiente artificial, tendo como objetivo principal o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,

26
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11ª.ed.rev.,atual. e
ampl.. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 449
27
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
28
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 8ª ed. rev., atual e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2010, p. 705.
16

mediante algumas diretrizes gerais, criou a garantia do direito as cidades


sustentáveis. 29

Ainda que o art. 41 da referida lei expressa que o plano diretor é obrigatório
apenas em alguns casos:

Art. 41.O plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;


II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos
previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.
§ 1o No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados
no inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do
plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas.

§ 2o No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser


elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano
diretor ou nele inserido.

Analisando-se mais profundamente as situações em que é obrigatória a


existência de Plano Diretor, percebe-se que ele vai além do que aparenta. Assim, boa
parte dos Municípios enquadra-se em algumas situações sendo assim obrigado a ter seu
plano diretor 30.

As cidades brasileiras cresceram de forma extremamente desigual e predatória.


Diante deste cenário, a elaboração do Plano Diretor pode contribuir para a construção de
cidades em que prevaleça o interesse coletivo, que sejam capazes de incluir os
indivíduos e se desenvolvam em sintonia com o meio ambiente e com a região. Além do
mais, o Plano Diretor é uma ótima oportunidade de debater o futuro que se quer para as
cidades, estimulando a construção da cidadania 31.

29
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11ª ed. rev., atual. e
ampl.. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 449.
30
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
31
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
17

1.1.3 Plano Diretor

A política de desenvolvimento Urbano é traçada pelo plano diretor, que é criado por
lei municipal e determina as diretrizes e estratégias para o desenvolvimento urbano e
econômico da cidade e orienta os investimentos públicos. Pode-se dizer que é uma lei
municipal que cria um sistema de planejamento e gestão da cidade, determinando quais
serão as políticas públicas a serem desenvolvidas nos próximos dez anos em todas as
áreas da administração pública. É ele quem vai determinar para onde a cidade deve
crescer e se desenvolver 32.

Nesse sentido, descreve Sirvinskas:

A partir do plano diretor é que se estabelecerão as diretrizes do uso e


ocupação do solo urbano. Com base neste plano surgirá um novo Código de
edificações, que estipulará normas rígidas e racionais do uso e ocupação do
solo urbano. Sem esse plano a cidade crescerá desordenadamente... Podemos
assim conceituar plano diretor como o conjunto de normas legais e técnicas
disciplinadoras da expansão urbana e do desenvolvimento socioambiental,
tendo por finalidade o bem estar individual e social da comunidade local . 33

O art. 182 da Constituição Federal, em seu caput diz que a política de


desenvolvimento urbano executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei tem com objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes. O instrumento básico dessa
política é o plano diretor e, é ele que norteará os rumos do desenvolvimento saudável e
sustentável da comunidade municipal 34.

O Plano Diretor (criado pela lei 10.257/2001 e disciplinado nos art. 39 a 42) é o
instrumento que reúne as regras para o desenvolvimento do Município e as formas de
ocupação do território municipal, especialmente o urbano, com base no entendimento

32
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
33
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 8ª.ed. rev., atual e ampl. São Paulo:
Saraiva, 2010, p. 708.
34
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
18

das funções econômicas, das características ambientais, sociais e territoriais do


Município, assim como de sua região de influência 35.

No mesmo, está prevista a aplicação dos instrumentos presentes no Estatuto da


Cidade, tais como: Parcelamento e Edificação Compulsórios, IPTU Progressivo no
Tempo, Direito de Preempção, Transferência do Direito de Construir e Outorga Onerosa
do Direito de Construir 36.

De acordo com a Constituição Federal (art. 182), o Plano Diretor é instrumento


básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana do município.

Nesse sentido, define Machado:

Plano Diretor é um conjunto de normas obrigatórias, elaborado por lei


municipal específica, integrando o processo de planejamento municipal, que
regula as atividades e os empreendimentos do próprio poder público
municipal e das pessoas físicas ou jurídicas, de Direito privado ou Público a
serem levados a efeito no território municipal.37

A cidade pode ser entendida como o espaço territorial onde vivem os seus
habitantes, de forma que o direito de propriedade não é ilimitado, mas sim atrelado ao
cumprimento da sua função social 38.

A função social da propriedade urbana é cumprida quando esta atende as exigências


fundamentais de uma política de desenvolvimento e de expansão urbana, a qual é
39
expressa no plano diretor .

O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de


expansão urbana e será obrigatório para os Municípios com mais de vinte mil

35
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
36
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
37
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª ed. rev., atual. e ampl.. São
Paulo: Malheiros Editores, 2010, p. 403.
38
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
39
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
19

habitantes. Essa exigência deve ser obrigatória não só para os Municípios com mais de
20 mil habitantes, mas também para aqueles que tenham população inferior. São tantos
os benefícios que a cidade passa a ter que não é possível imaginar um Município sem
Plano Diretor. Dentre os benefícios, instrumentalizados pelo plano diretor pode-se citar
a organização, o crescimento e a aplicação do princípio da função social 40.

2 A APLICABILIDADE DOS LIMITES IMPOSTOS PELO NOVO CÓDIGO


FLORESTAL NO MEIO URBANO

O Código Florestal de 1965 foi revogado pela Lei Federal n° 12.651 de 25 de março
de 2012, que apresentou consideráveis novidades e mudanças gerando divergentes
comentários e críticas da doutrina a respeito do Novo Código Florestal.

No Novo Código Florestal, conceitua a Área de Preservação Permanente no texto


trazido no artigo 3º, inciso II, entendendo-se esta como a área protegida, coberta ou não
por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Os pressupostos caracterizadores de uma Área de Preservação Permanente,


conforme estabelecido na norma, representam a sua função ambiental e, como matéria
de legalidade, devem estar presentes na área que se pretenda declarar como de
preservação permanente. Portanto, esclarece Paulo de Bessa Antunes que somente as
áreas que efetivamente desempenham funções ambientais podem receber a designação
41
de APP .

Os artigos 4º e 6º estabelecem dois grupos de Áreas de Preservação Permanente – no


mesmo sentido que o Código anterior – quais sejam respectivamente: as áreas
designadas como de preservação permanente por força da própria lei e as áreas de
preservação permanentes criadas por força de ato do Poder Público.

40
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
41
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dos Tribunais. 2009.
20

Relevante destacar que o Poder Público poderá declarar certo local como Área de
Preservação Permanente no intuito de assegurar condições de bem-estar público,
conforme a redação do artigo 6º, inciso VII. Trata-se evidentemente de conceito aberto,
que requer adequada regulamentação.

Na esteira dos diplomas florestais anteriores, a Lei n° 12.651/2012, em seu artigo 8º,
estabelece que a intervenção ou supressão de vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente poderá ocorrer em casos de utilidade pública, de interesse social ou em
situações que causem baixo impacto ambiental.

A correta definição para os termos utilidade pública, interesse social e as hipóteses


que caracterizam atividades de baixo impacto ambiental estão previstas no artigo 3º do
novel diploma. Ressalta-se a importância destes conceitos e exemplos, uma vez que
com base em tais conceitos se dará a autorização para supressão da vegetação de
preservação permanente.

Enquanto o sistema anterior previa três hipóteses para caracterizar o interesse social
legitimador de intervenção em Áreas de Preservação Permanente, o Novo Código
Florestal estabeleceu um conjunto com 12 situações, sendo que as hipóteses ainda
poderão ser ampliadas pelos Estados, uma vez que aos Conselhos locais permite-se a
declaração de atividades de baixo impacto ambiental 42.

Destaca-se ainda que o legislador, conforme disposto na alínea “e” do inciso VIII do
artigo 3º do referido Código, admite a possibilidade de criação de nova hipótese para
supressão de área de preservação permanente em caso de utilidade pública para
atividades similares àquelas dispostas no rol do mesmo inciso, inexistindo alternativa
técnica e locacional ao empreendimento proposto, o que revela o potencial de
interferência assegurado ao Poder Público.

A proteção das Áreas de Preservação Permanente não tem por objetivo apenas
tutelar a vegetação, mas sim outros recursos naturais, como o solo e a água 43 . Tal

42
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
43
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dos Tribunais. 2009.
21

constatação é perceptível a partir do próprio conceito trazido pela Lei Florestal, onde
são reveladas as funções ambientais deste espaço, conforme já destacado.

Na região urbana, as áreas de preservação permanente representam uma série de


funções, tais como, a proteção do solo contra desastres associados ao uso e ocupação
inadequados em encostas e topos de morro; proteção dos cursos hídricos em prevenção
a enchentes, poluição e assoreamento; manter a permeabilidade do solo, evitando assim
inundações; propiciando a recarga dos aquíferos de modo a garantir o abastecimento
público; constituir refúgio para a fauna; atenuar o desequilíbrio climático típico de
centros urbanos, como o excesso de aridez e a formação de ilhas de calor 44.

Podemos verificar que a função das áreas de preservação permanente em meio


urbano é acentuada, uma vez que, além de constituir um elemento fundamental para o
equilíbrio natural que independe da localização em área urbana ou área rural – também
auxiliará, indiretamente, na segurança dos habitantes contra desastres naturais e
desconfortos causados pelas interferências desmedidas no meio ambiente natural.

Destaca-se, ainda, que a manutenção das Áreas de Preservação Permanente em meio


urbano valoriza a paisagem e propicia um espaço de lazer e recreação aos habitantes das
cidades e aproximação com os elementos da natureza.

A soma de todos estes fatores expressa, em síntese, a função das Áreas de


Preservação Permanente em área urbana de propiciar uma maior qualidade aos seus
habitantes.

2.1 Conceito de área de preservação permanente – APP

É necessário que antes de se analisar a questão relativa às APP se verifique


previamente os conceitos que envolvem o tema, de modo a facilitar o entendimento do
tema proposto.

44
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
22

APP são áreas onde, por imposição da lei, a vegetação não pode ser alterada pela
ação do homem, com o objetivo principal de preservar os recursos hídricos e a
biodiversidade, e a satisfação da coletividade. A legislação vigente é bastante rígida no
que se refere às APP admitindo a supressão da mesma apenas nos casos de utilidade
pública ou interesse social legalmente previsto.

Neste sentido, informa Araújo:

As cidades, não raro, nascem e crescem a partir de rios, por motivos óbvios,
quais sejam, além de funcionar como canal de comunicação, os rios dão
suporte a serviços essenciais, que incluem o abastecimento de água potável e
a eliminação dos efluentes sanitários e industriais. Ao longo desses cursos
d’água, em tese, deveriam ser observadas todas as normas que regulam as
APP. Na prática, todavia, essas e outras APP têm sido simplesmente
ignoradas na maioria de nossos núcleos urbanos, realidade que se associa a
graves prejuízos ambientais, como o assoreamento dos corpos d'água, e a
eventos que acarretam sérios riscos para as populações humanas, como as
enchentes e os deslizamentos de encostas.45

O mesmo autor afirma ainda que as normas que regulam as APP são confusas
sendo que não há consenso sobre o assunto especialmente no que se refere à questão
urbana. Esta confusão contribui para o descumprimento dessas normas em áreas
urbanas.

2.3 O alcance da aplicação do novo Código Florestal para APP em meio urbano

O entendimento quanto à aplicabilidade ou não dos limites de APP impostos pelo


Novo Código Florestal tem causado uma nítida sensação de insegurança jurídica para
todos que se encontram inseridos neste contexto.

O Código Florestal, tanto nas suas versões passadas como na atual, é reconhecido
como importante instrumento de proteção ambiental. Concebido para regular
principalmente o uso e a ocupação do imenso território rural brasileiro, sua aplicação
nas áreas urbanas tem se mostrado desafiadora frente à ocorrência de inúmeros conflitos
e situações de insegurança jurídica. Neste contexto, a regulamentação das Áreas de

45
ARAÚJO, Sueli Mara Vaz Gama de, As Áreas de Preservação Permanente e a Questão Urbana.
Consultoria Legislativa de Meio Ambiente e Direito Ambiental. Estudo/ago. Brasília: Câmara dos
Deputados, 2002.
23

Preservação Permanentes (APP) nos espaços urbanos constitui uma questão que precisa
ser discutida pelo poder público e pela sociedade.

Recentemente, durante o III Seminário Nacional sobre o tratamento das Áreas de


Preservação Permanente em Meio Urbano, realizado em Belém do Pará, um dos temas
foi exatamente “O novo Código Florestal e sua aplicação em áreas urbanas: uma
tentativa de superação de conflitos? 46
”. Segundo as autoras do texto, em seu
pensamento conclusivo apontaram a reflexão de urgência do enfrentamento da questão,
ou seja, a necessidade de discussão de uma legislação específica de proteção de áreas de
preservação permanente, revestidas ou não de vegetação, para áreas urbanas
47
.Legislação esta que ao mesmo tempo em que possibilite o reconhecimento das
distintas realidades urbanas existentes no país, garanta a preservação e recuperação
ambiental das áreas de APP, baseadas na identificação das funcionalidades prestadas
por estas áreas.

Ainda que se tenha pouco tempo de aplicação da Lei Federal 12651/2012, as


experiências consolidadas ao longo das últimas décadas tem demonstrado que é
desaconselhável optar por tentativas de melhor adequá-la, através de emendas ao atual
texto ou leis complementares, como foi à opção adotada para o Código Florestal
anterior. A produção de uma nova legislação exclusivamente voltada à regulação das
APP no espaço urbano impõe-se como a alternativa mais apropriada.

Diante de todo o exposto entendesse que o Código Florestal vigente em cursos


d´água em áreas urbanas consolida, é medida extrema e impeditiva a todo e qualquer
progresso econômico.

46
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
47
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: A gestão ambiental em foco. 6ª ed., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais. 2009.
24

3. O CONFLITO ENTRE CRESCIMENTO URBANO E PROTEÇÃO DE


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.

Atualmente as cidades vivem o constate conflitos entre dois direitos fundamentais, o


direito ao meio ambiente equilibrado e o direito à moradia. E consequentemente, o
conflito entre a legislação ambiental e a urbanística. É onde também se explicitam os
conflitos de interesse entre os que constroem, tais como o setor imobiliário formal, os
movimentos de moradia, e o poder público.

Antes desta alteração, o Código Florestal não fazia qualquer referencia às restrições
impostas pelas faixas estabelecidas para as áreas de preservação permanente APP em
áreas urbanas. Além disso, desde 1986, com a alteração dada pela Lei Federal
7511/1986, as faixas de APP adotadas para cursos d’água passam a serem maiores que
as faixas não edificantes definidas pela lei, ainda que cada faixa tenha sido concebida
com propósitos e objetivos diversos, protegendo bens e funcionalidades distintos.

A aplicação das normas do Novo Código Florestal para as APP é bastante limitada e
se sobrepõe a leis e normas municipais voltadas ao uso e ocupação do solo.
Naturalmente, inúmeros conflitos legais resultam em um quadro de insegurança
jurídica.

São poucas as menções efetuadas no Código Florestal para os espaços urbanos


dizem respeito à regularização fundiária de interesse social em assentamentos inseridos
em área urbana de ocupação consolidada e que ocupam APP, e de interesse específico
dos assentamentos em APP não identificadas como áreas de risco. Porém, a lei não
discute a continuidade de atividades urbanas em APP já consolidadas há tempo nem
novas ocupações naquelas ainda não consolidadas.
25

CONCLUSÃO

Por meio deste trabalho, podemos verificar a pertinência, e os reflexo das alterações
da legislação ambiental em relação ao Novo Código Florestal, que se retratam por meio
das evidencias do reconhecimento da importância da preservação dos recursos hídricos,
do meio ambiente e consequentemente, proporcionar uma melhor qualidade de vida
para a sociedade. Ao mesmo tempo sabe-se que outro motivo para essas alterações é
beneficiar o agronegócio.

Sobre a legislação, cabe destacar que a leis federais e estaduais possuem influência
direta no país, mas, compete ao município atuar de forma complementar a estas Leis,
especificando as peculiaridades locais.

Quanto à alteração do Código Florestal, esta deve ser um marco de forma a induzir o
cumprimento das regras e por isso deve ser redigida de forma clara e se adequar a
realidade do país para enfrentar o desafio de equilibrar a necessidades e o evidente
crescimento urbano e preservação ambiental.

As cidades são o maior exemplo da versão artificial do meio ambiente, hoje


considerada o habitat natural do homem moderno.

Nesse contexto, a legislação ambiental, diante de tanta degradação em tempos


pretéritos, vem restringindo com a devida razão, a utilização dos recursos naturais e até
mesmo a limitação das tecnologias para o alcance dos anseios humanos na
modernidade.

Entretanto, a bandeira mais atual é a do desenvolvimento sustentável, que nada mais


é do que a coexistência da preservação ambiental para os presentes e futuras gerações e
o progresso social e econômico.

Precisamos efetivamente verificar a real pertinência da aplicação das regras contidas


no atual código florestal em cursos d´águas em áreas urbana. Para a devida aplicação do
respectivo código deve-se observar a descaracterização da função ambiental das APP’s
urbanas, onde a mesma é totalmente distinta da função ambiental nas áreas rurais.
26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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