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Rudolf von Ihering já inicia sua obra Teoria Simplificada da Posse, declarando que uma
das características pela qual se distingue o jurista de qualquer outro homemestá na
diferença radical que se estabeleceentre as noções de posse e de propriedade, bem
verdade que, na linguagem comum, essas expressões são empregadas
comoequivalentes. Porém aqui cabe salientar que o possuidor de uma coisa móvel nem
sempre é o seu proprietário.
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Aluna do Curso de Bacharelado em Direito da UNEB, 5º semestre. E-mail: queila_14cf@hotmail.com
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Professor Curso de Bacharelado em Direito da UNEB, componente curricular: Direito Civil IV –
Direitos Reais
Ihering trata ainda desse tema no Direito Romano, onde a posse do proprietário tem
uma forma muito mais ampla, o proprietário tinha o direito de recuperar a sua posse se
outro a tivessem tirado. Esse direito era o reivindicativo, e para que essa ação tenha
validade não havia necessidade de o réu possuir em suas mãos a coisa, no momento da
demanda, mas que se supunha a existência da posse na pessoa do réu. Havia também a
actiopubliciana destinada ao bonaefideipossessor (possuidor de boa-fé).
O proprietário conserva sua propriedade mesmo depois de ter perdido a posse. Uma vez
que posse e propriedade não confundem, poderá a propriedade nascer sem posse, da
mesma forma, era de se esperar, que uma simples convenção sem entrega da posse fosse
o bastante para transferir a propriedade. Desde o Direito Romano se exige o ato da
tradição para esse fim. A propriedade não aparece sem posse senão na aquisição a título
de herança ou legado. A posse, entre vivos, é indispensável para se chegar à
propriedade. A aquisição da propriedade das coisas sem dono tem também por condição
a apropriação da posse. Em todos esses casos, a posse tem importância somente como
um ponto de transição momentânea para a propriedade.
Devemos considerar que há outro modo de aquisição da propriedade em que ela passa
de um estado de transição para uma situação duradoura, temos aqui a usucapião,
contudo é preciso que concorram certas condições, as mesmas a que se refere à proteção
jurídica da boa-fé contra terceiros. A prescrição também revela a estreita correlação
entre posse e a propriedade, pois a posse novamente surge como caminho que leva à
propriedade, contudo mais demorado, por faltarem às condições que concorrem.
Na teoria da posse, a doutrina não trata dos casos em que a posse aparece como
condição de aquisição da propriedade. Esta fica a cargo da teoria da propriedade. Aqui a
posse aparece como tão-somente uma das múltiplas condições de que depende o
nascimento do direito. A idéia fundamental da teoria da posse é o direito que tem o
possuidor de preservar sua relação possessória até que se encontre alguém que o abale.
O possuidor é protegido contra todo ataque que esbulhe ou perturbe a sua relação
possessória.
As coisas sobre as quais um direito de propriedade não é possível, não podem ser objeto
de posse no sentido jurídico, sendo preciso aplicar-se a mesma regra aos que não podem
ser proprietários. Onde a propriedade não é possível, objetiva ou subjetivamente, a
posse também não o é. Em certos casos em que o proprietário tenha abandonado, por
meio de contrato, a coisa a outrem, com a reserva de ser-lhe devolvida posteriormente
com ou sem condições (posse derivada), o Direito Romano concede a posse a certos
detentores temporários (enfiteuta ou colono hereditário) e nega-se a outros (colono e aos
arrendatários ordinários).
Para que haja posse é preciso que na pessoa do possuidor exista a mesma vontade que
na do proprietário (animus domini). Essa vontade existe no proprietário real, mas
também no putativo e naquele que se apoderou da coisa alheia, mas ela não existe
naquele cuja posse se deriva do proprietário e reconhece a propriedade de outrem.
Segundo Ihering, Savigny considerava razão para o Estado garantir a posse ao possuidor
injusto como garantia da paz e da ordem pública. Segundo o Direito Romano, o
possuidor natural e as pessoas incapazes de possuir deveriam ter igualmente direito a
serem protegidos, por ser da mesma forma esta garantia procurada em defesa da paz e
ordem pública, quer seja na própria pessoa ou na pessoa do possuidor jurídico. Do
mesmo modo, a posse se protege em atenção à vontade da pessoa. Isto explica a razão
da proteção possessória, dada no Direito Romano, com o intuito de dar proteção à
propriedade.
A propriedade e a posse nada têm de comum e por isso não podem de forma alguma ser
confundidas. Dessa maneira, o direito não pode objetar ao autor que é proprietário ou
que tem um direito obrigacional sobre a coisa. A proteção possessória não foi
introduzida para o proprietário, mas para o possuidor. A proteção possessória do Direito
Romano não pode ser entendida senão do ponto de vista da propriedade. O
desenvolvimento histórico da proteção possessória assim como a organização
dogmática da teoria possessória por parte dos juristas romanos basta para demonstrar a
existência dessa relação legislativa entre a propriedade e a posse.
Dessa forma, é possível concluir que a posse constitui condição de fato da utilização
econômica da propriedade, o direito de possuir é um elemento indispensável da
propriedade, a posse é a guarda avançada da propriedade, a proteção possessória
apresenta-se como uma posição defensiva do proprietário, com a qual pode ele repelir
com mais facilidade os ataques dirigidos contra a sua esfera jurídica, nega-se onde quem
que seja que a propriedade seja juridicamente excluída, em tudo aparece a relação da
posse com propriedade. A questão, a saber, é se posse é um direito ou um fato, para a
maioria ela é um direito. A posse nasce puramente do fato, sem pressupor um direito. A
posse é um direito de uma espécie particular, por sua natureza diferente dos demais.
Para se aplicar a uma relação jurídica uma distinção teórica de caráter geral, é
necessário determiná-la com precisão.
A simples proximidade espacial da pessoa com a coisa não cria a posse; é preciso para
isso a vontade (animus), que estabelece um laço entre elas. A aquisição da posse não
pode ser procurada senão mediante um ato especial da vontade da pessoa dirigida para
esse fim. Para aqueles incapazes de vontade (etária ou mentalmente) é necessário o ato
do tutor. Essa vontade deve tentar possuir a coisa como própria. A falta desta vontade é
o que caracteriza a mera detenção. A diferença está, não na natureza particular da
vontade de possuir, a qual não tende nunca à apreensão da coisa, mas na disposição
legal que, conforme a relação, faz nascer, ora a posse, ora a detenção ou apreensão. A
simples declaração da vontade não é suficiente para adquirir-se a posse, é preciso
também à manifestação real da vontade.
Da mesma forma alguns bens imóveis também se acham livre de impedimentos físicos
para ação de terceiros. A posse se protege com o direito não para dar ao possuidor a
satisfação de ter poder físico sobre a coisa, mas para tornar possível o seu uso
econômico em relação às suas necessidades. Para certas coisas, o ponto de vista do
poder físico é perfeitamente exato: são aquelas que para serem garantidas devem ser
guardadas, sob sua proteção. Essas coisas são as que se podem guardar e defender. Em
resumo, existem duas formas de relação possessória entre a pessoa e a coisa, sobre
coisas que se podem guardar e defender.
Onde não há propriedade não pode haver posse, corresponde dizer onde não há direito
não pode haver pose de direito, ou, em linhas processuais, onde não há petitório não
pode haver possessório. Para a proteção possessória a possibilidade do direito e a
exterioridade de seu exercício são suficientes para reivindicar a proteção do Estado.
Para a quase-posse o que implica é uma pretensão de direito. A posse dos direitos é de
grande importância para a teoria possessória. A noção de posse deve compreender a
posse das coisas e a dos direitos. A posse dos direitos transpõe a exterioridade do
direito. A posse das coisas é a exterioridade da propriedade; a dos direitos é a
exterioridade dos direitos sobre a coisa alheia.
A posse das coisas no Direito Romano supunha, em primeiro lugar, uma perturbação ou
uma ameaça na posse de uma coisa imóvel e tendia à manutenção do estado existente
das coisas. Em segundo lugar, supunha um esbulho injusto de quaisquer coisas, móveis
ou imóveis, e a condenação do réu a restituí-los. Essa idéia está presente em várias
legislações em que o interesse na questão da posse é um elemento fundamental.
Referências