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HOJE ACORDEI

livreto eletrônico

PRA LUTA
Intelectuais pela
universidade pública

organização:

Phellipe Marcel
Iuri Pavan
Mauro Siqueira

Rio de Janeiro
2017

(...) quando Alan Greespan testemunhava ao
Congresso em 1997 sobre as maravilhas econô-
micas que conduzia, ele disse explicitamente que
uma das bases de seu sucesso econômico era a
imposição daquilo que chamou de ‘maior inse-
gurança trabalhista’. Se os trabalhadores estão
mais inseguros, isso é mais saudável para a socie-
dade, porque se trabalhadores estão inseguros não

reivindicarão aumentos, não entrarão em greve,
não pedirão benefícios; eles servirão a seus mes-
tres alegre e passivamente. E isso é ótimo para a
saúde econômica das corporações.”

Noam Chomsky, em “Enquanto as universidades


caminham para um modelo de negócios corporativo,
a precariedade está sendo imposta pela força”

Aqui está algo que se dispõe a um acordo ini-
cial: universidade é uma instituição social destinada
ao ensino superior pluridisciplinar, com vistas à
formação de quadros intelectuais e ao cultivo do
conhecimento em sua totalidade possível. É uma
das mais antigas instituições do mundo. A Índia
teve universidades, progressivamente destruídas,
desde o século V. Na Europa, reconhece-se a Uni-
versidade de Bolonha (fundada em 1088 na cidade
italiana homônima) como a primeira universidade
europeia. Na África, além das universidades islâmi-
cas criadas antes do ano 1.000 a.C., outras foram
criadas no período equivalente à Idade Média
europeia, como a famosa Universidade de Sankore
(século XII) em Tombuctu, no atual Mali. Acen-
tuamos a palavra instituição social para marcar uma
diferença estratégica entre ela e organização.”

Raquel Paiva & Muniz Sodré, em


“Universidade: o que é mesmo?”

Prezamos mal a profissão de professor,
mas a despeito disso sonhamos com o encontro
ou o reencontro com um grande professor. Ao
menos, esse encontro ou reencontro se dá na
ficção, literária ou cinematográfica.
No cinema, pensemos no professor Mark
Thackeray, de Ao mestre, com carinho (1967),
vivido por Sidney Poitier; no professor John
Keating, de Sociedade dos poetas mortos (1989),
vivido por Robin Williams; no professor Joe
Louis Clark, de Meu mestre, minha vida (1989),
vivido por Morgan Freeman; no Mr. Holland
de Adorável professor (1995), vivido por Richard
Dreyfuss; no professor Dewey Finn, de Escola
de rock (2003), vivido por Jack Black; no profes-
sor François Marin, de Entre os muros da escola
(2008), vivido por François Bégaudeau; na pro-
fessora Catharina, de Uma professora muito malu-
quinha (2010), vivida por Paola Oliveira; por
fim, nos professores Jack Marcus e Dina Del-
santo, de Palavras e imagens (2014), vividos por
Clive Owen e Juliette Binoche.”

Gustavo Bernardo Krause, em


“O professor pode ser o herói do filme?”

A mídia tem um papel central na (des)cons-
trução da imagem da Uerj na opinião pública.
Em jornais da década de 1980, a crise instaurada
no estado e a falta de repasse de verbas para a
Uerj foram notícias frequentes.

Na transição para a década de 1990 houve muitas
denúncias de falta de manutenção estrutural, bem como
de pagamento de técnicos-administrativos, docentes e
terceirizados. A leitura das denúncias sofreu influência da
perspectiva neoliberal em crescimento no Brasil, formu-
lada no pensamento de Milton Friedman e Friedrich
Hayek durante a crise econômica vivida nos anos 60, de
acordo com a qual o Estado é culpado pela crise.”

Simone Ricco, em
“Na dura poesia concreta dos
nossos dias: Uerj resiste, e existe”

O enfrentamento da crise [dos
anos 1970 no Brasil], pelo capital,
implicou uma profunda alteração em
todo o sistema produtivo com o con-
junto de transformações conhecido
como ‘reestruturação produtiva’. Além
disso, também implicou o acirramento
da competição internacional e uma
reconfiguração do Estado de modo a
torná-lo mais adequado à defesa dos
interesses das classes dominantes. Para
os trabalhadores, isso implicou um
crescente desemprego, a diminuição do
valor da força de trabalho e, portanto,
um enorme aumento da exploração.”

Ivo Tonet, em
“Universidade pública:
o sentido da nossa luta”


(…) encontram-se, nos dois lados do
Atlântico, os mesmos argumentos de ‘choque’: as
melhores universidades do mundo, norte-america-
nas (…), muito ricas, seriam financiadas graças ao
orçamento privado. Além disso, as grandes revolu-
ções tecnológicas recentes (…) só teriam sido possí-
veis graças a um financiamento privado da pesquisa,
mais significativo e com mais iniciativas à inovação.
É importante desconstruir esses dois argumentos.
As universidades americanas dependem, em 69%
de seu orçamento, de dinheiro público. O restante
não provém de empresas (que contribuem com no
máximo 4%), mas do mecenato e das fundações
(12%) e das taxas de inscrição dos estudantes (15%).
Se os Estados Unidos nos mostram um exemplo, é
muito mais do sucesso do financiamento público
do ensino superior e da pesquisa, por um lado, e da
fragilidade do financiamento estudantil, por outro.”

Maud Chirio, em
“O conhecimento não é uma mercadoria”


Subordinar as pesquisas à ótica da inovação
tecnológica, submetendo-as à exigência da lucra-
tividade e da maximização do lucro, introduz prin-
cípios estranhos e opostos ao desenvolvimento da
pesquisa científica básica, exigência fundamental
ao desenvolvimento tecnológico. Quem financia a
pesquisa básica em países dependentes é o Estado,
regulando e projetando, com políticas científicas
definidas, a produção de conhecimentos que refor-
çam o desenvolvimento científico com abrangên-
cia e diversidade preservadas. (...) Manter o caráter
público e garantir o financiamento e a autonomia
das universidades, como ainda determina a Cons-
tituição, é principio ético daqueles que defendem
um futuro ao avesso da barbárie.”

Vera Salim, em “Defender a Uerj: recusa à lógica


privatista neoliberal do ensino superior brasileiro”

(…) todos os golpes de estado e ditaduras foram feitos
contra os direitos da classe trabalhadora e com o objetivo de
resguardar os lucros do capital na sua face interna e externa.
O que tem de novo neste golpe
é uma crise mundial do capital
e uma voracidade e rolo com-
pressor sobre os direitos dos
trabalhadores sem precedentes.
Os direitos sociais e subjetivos
postos na Constituição de 1988,
muitos sequer regulamentados,
são o alvo do atual golpe.”

Gaudêncio Frigotto, em
“O golpe de estado e o desmanche
da universidade e esfera pública”

Aqui o que está em jogo não é apenas o futuro do estado ou
da própria universidade. Está em jogo que modelo de socie-
dade que queremos e que lugar a educação superior de qua-
lidade, que reúne ensino, pesquisa e extensão na formação de
estudantes, terá no país. A Uerj está sendo sacrificada por seus
acertos, não por seus erros.
Há, no mercado, quem
queira ocupar o lugar tão
duramente trilhado pela
Universidade Popular que
é a Uerj. Estamos no olho
do furacão.”

André Lázaro &


Tatiane Alves Baptista,
em “No olho do furacão”


A universidade pública tem sido um espaço de produção de
laço social, onde o outro está presente em sua alteridade mesma,
em toda a força das contradições que ocasiona, se constituindo,
dessa forma, como um lugar de resistência à mercantilização
das relações sociais. Nesse sentido, a universidade pública e o
financiamento público de centros de pesquisa têm garantido
historicamente condições minimamente democráticas para o
exercício da reflexão. Sua principal força é e sempre foi possibi-
litar a formulação de um pensamento crítico, e pese aos emba-
tes da história, defender um espaço de liberdade de pensamento
e expressão, impossível se atrelado à lógica do financiamento
privado.”

Lauro Baldini & Monica Zoppi Fontana, em


“Universidade pública: um espaço
democrático para o trabalho intelectual”

uerj, tipo um everest, qnd eu era criança passava na
porta, apontava e dizia “eu vou estudar aí, ó” , uerj por
um ano inteiro da minha adolescência um bicho de
sete cabeças naquele vestibular q me tirou o sono mas
me pintou o corpo no ano seguinte, uerj toda cinza
por fora, só quem anda pelos corredores sabe o
qnt é colorida por dentro, a universidade mais
colorida do rio de janeiro inteiro sim
senhoras e senhores, com mt orgulho,
lá tem cor e amor pra caramba.
conheci amigxs pro amor e pra
guerra, juntxs nas lutas
até hj uerj afora.
uerj q tanto me deformou as faculdades, o pen-
samento, o sentimento, as crenças, q mexeu com
a minha visão, com o coração, acabou com meu
espírito, comeu meus antigos livros e me trouxe
novos, pensadores lado a lado ou xerocadxs. uerj q
mexeu com meu calendário e bagunçou as esta-
ções do ano. uerj q me deu a real dimensão da
importância das perguntas, do afeto pra acolher
as perguntas feitas e mtas vezes a falta de resposta,
q me deu a pesquisa e a cachaça como método,
a presença dxs professores, alunes e funcionárixs
como guia, uerj q me permitiu tudo isso pq é de
graça: um dia, eu caloura, fui pedir dinheiro na rua
por estar nela, hj eu vou pra rua pedir dinheiro pra


que ela continue. #uerjresiste #souuerj”

Beatriz Ras, postado em 11 de janeiro



É necessário defender essa universidade, necessá-
rio dizer que temos o DIREITO DE SER UERJ:
O direito de ter uma universidade pública, gra-
tuita e de qualidade! O direito que tanto batalhamos:
o direito de estudar! Depois de tanta luta pra entrar,
agora querem nos tirar o direito de ser UERJ!
Uma das melhores universidades do Brasil e da
América Latina está fechada graças ao governo cri-
minoso do PMDB, que por anos vem afundando
o estado do Rio de Janeiro, e agora joga a conta da
crise nas costas do povo trabalhador do RJ. (...) A
UERJ é conhecida por ser a primeira universidade
a ter uma política inclusiva de acesso por cotas. A
UERJ é conhecida por ter professores/as de exce-
lência. A UERJ é conhecida por ter estudantes de
fibra, estudantes de resistência, estudantes que são
referência em seus cursos e no cotidiano das lutas
estudantis.
Por isso o dever de todo e qualquer estudante,
que sonha, que estudou ou estuda na UERJ é lutar!
Resistir por essa universidade...
Quando falamos de uma universi-
dade popular, falamos de UERJ. A
UERJ não é cara ao Estado, ela é
necessária! A universidade deve ser
para todos e deve estar à serviço
do povo. #uerjresiste #souuerj”


Silvia Maria, postado em 25 de
janeiro
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Reitor
Ruy Garcia Marques

Vice-reitora
Maria Georgina Muniz Washington

EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Conselho Editorial
Bernardo Esteves

Erick Felinto

Glaucio Marafon (presidente)

Jane Russo

Maria Aparecida Ferreira de Andrade Salgueiro

Italo Moriconi (membro honorário)

Ivo Barbieri (membro honorário)

Lucia Bastos (membro honorário)

Imagens gentilmente cedidas por:


Glauco Bressan capa; José Alexandre 2-3 15, 22, 25; Tatiana Castro 4;

Andrei Holanda 6-7, 8-9; Leila Gibin 11; Izabelle Vieira 12-13, 18-19;

Fernando Rey 16-17; Silvia Maria 20-21; Anderson Câmara quarta capa.

EdUERJ
Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã
CEP 20550-013 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Tel./Fax.: 55 (21) 2334-0720 / 2334-0721
www.eduerj.uerj.br
eduerj@uerj.br
Em breve, muito mais. A luta não pode parar.

Rio de Janeiro
2017

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