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O Espírito Santo e a Santificação1

“Quem tem uma visão superficial da


salvação deprecia a doutrina da santi-
ficação” – John F. MacArthur, Jr., Cómo
Enfrentar a Satanas, Barcelona: CLIE.,
1994, p. 95.

Introdução:

“Deus escolhe o Seu povo para que seja crente e santo. (...) Você pode
aproximar-se de Jesus Cristo como um pecador, mas não pode aproximar-se
dEle como uma pessoa eleita enquanto sua santidade não for visível”, conclui
2
Spurgeon.

A Palavra de Deus demonstra enfaticamente que a nossa salvação não é um fim


em si mesma; antes, é o início da vida cristã, por meio da qual nos tornamos filhos
de Deus e progredimos em santificação até a consumação de todo propósito de
Deus em nossa vida.

Devemos estar atentos para o fato de que a salvação (justificação, regeneração,


união com Cristo), não é a linha de chegada da vida cristã; antes, é o ponto de parti-
3
da. Nós não nascemos espiritualmente “acabados”, antes, fomos gerados espiritu-
almente para o nosso crescimento, amadurecimento completo. O perdão indica a
nossa restauração, para que possamos agora, neste estado de convalescença, nos
alimentar da Palavra em oração, nos fortalecendo espiritualmente. O Deus que nos
4
regenera é o mesmo que nos preserva saudável nesta nova vida.

D.M. Lloyd-Jones (1899-1981) exorta-nos quanto a isso:

"Cristianismo não é você parar na conversão e no conhecimento de

1
Palestra ministrada na Escola Dominical da Igreja Protestante Reformada de Maringá, Maringá, Pa-
raná, no dia 12 de outubro de 2008.
2
C.H. Spurgeon, Eleição, São Paulo: Fiel, 1984, p. 25.
3
“O novo nascimento não produz o produto acabado. A nova coisa nascida de Deus a-
cha-se tão longe de estar completa como o bebê recém-nascido uma hora atrás. Esse novo
ser humano, no momento em que nasce, é colocado nas mãos de poderosas forças mode-
ladoras que em grande medida determinarão se ele será um cidadão correto ou um crimi-
noso. A única esperança para ele é poder escolher mais tarde as forças que o modelarão,
e, pelo exercício do seu poder de escolha, colocar-se nas mãos certas. Nesse sentido ele se
modela a si próprio, e finalmente é responsável pelo resultado” (A.W. Tozer, O Poder de Deus,
2ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p. 115).
4
Vejam-se algumas boas analogias sobre a justificação e a santificação em Augustus H. Strong, Te-
ologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, Vol. II, p. 606-607.
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que os seus pecados estão perdoados, e, então, contentar-se com isso


pelo resto da vida; cristianismo é ingressar e desenvolver-se rumo à medi-
da da estatura da plenitude de Cristo. Precisamos desenvolver nossas
mentes e nossas faculdades, se é que desejamos tomar posse disso. Se nos
contentamos com menos que isso, não passamos de crianças em Cristo,
5
e somos indignos deste glorioso evangelho".

1. Definição de Santificação:

Santificação é "a graciosa e contínua operação do Espírito Santo pela qual


Ele liberta o pecador justificado da corrupção do pecado, renova toda a
sua natureza à imagem de Deus, e o capacita a praticar boas obras", define
6
Berkhof.

Santificação, portanto, é o processo sobrenatural que se inicia com a regenera-


ção, consistindo no progressivo abandono do pecado em direção a Deus. Deus nos
chamou à Santidade, a pertencermos exclusivamente a Ele, a fim de que habitados
pelo Espírito Santo, tenhamos em nossos corações o registro feito pelo próprio Espí-
rito: "Santidade ao Senhor"!

Deus é absolutamente santo, majestoso em Sua santidade (Ex 15.11; Sl 99.9; Is


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6.3) e deseja do Seu povo uma vida de santidade.

2. Pressupostos da Santificação:

A doutrina da santificação pressupõe que não somos perfeitos; ela está relacio-
nada com o homem pecador, cônscio de seus pecados, mas que, ao mesmo tempo,
insatisfeito com a sua prática, deseja se aperfeiçoar espiritualmente.

O ponto relevante aqui é que esta insatisfação com o pecado, acompanhada pelo
desejo de santificar-se, pertence ao homem que foi gerado de novo pelo Espírito que
agora nele habita, despertando em seu coração desejos santos de crescimento e
amadurecimento espiritual. "Santidade é a naturalidade do homem espiritual-

5
D.M. Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecio-
nadas, 1992, p. 254. Do mesmo modo, veja-se J.C. Ryle, Santificação, São José dos Campos, SP.:
FIEL., 1987, p. 39.
6
L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 536.
7
“Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, terrível
em feitos gloriosos, que operas maravilhas?” (Ex 15.11). “Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e pros-
trai-vos ante o seu santo monte, porque santo é o SENHOR, nosso Deus” (Sl 99.9). “E clamavam uns
para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da
sua glória” (Is 6.3).
8
“14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ig-
15
norância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós
mesmos em todo o vosso procedimento, 16 porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo”
(1Pe 1.14-16).
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mente ressurreto". É o Espírito, como “santificador Espírito de Cristo” que é,
Quem infunde em nós este novo desejo, levando-nos a usar os recursos concedidos
por Deus para este mister. Portanto, o fato é que, ou buscamos a santidade ou, na
verdade, nunca fomos eleitos por Deus. Esta é a verdade bíblica pura e simples:
Não há eleição e conseqüentemente vida cristã, sem santificação.

Destaquemos dois pressupostos fundamentais:

A) A Regeneração:

O novo nascimento é condição fundamental para que possamos falar de San-


tificação; “A regeneração está para a santificação, como o nascimento para
11
o crescimento. A nova vida da alma começa com a regeneração”. A re-
generação é a marca distintiva de todos os filhos de Deus; sem regeneração não há
12
adoção; os filhos foram regenerados; os regenerados são os filhos de Deus. Deste
modo, este assunto pertence à esfera daqueles que crêem em Cristo, aceitando os
Seus méritos salvadores como suficientes para a sua salvação, tendo, assim, o co-
ração regenerado pelo Espírito. A santificação é um processo que tem início em
nossa conversão, e a santificação a pressupõe. Portanto, não existe regeneração
13
sem santificação; ou seja: a regeneração se torna real na santificação.

A regeneração é um ato, que dá início a um processo; é, em outras palavras, "o


14
começo de um caminho de vida".

O homem não regenerado pode até achar interessante o assunto e tentar mudar
o seu comportamento, todavia, isto não resolve a questão: "a razão e a consciên-

9
J.I. Packer, Na Dinâmica do Espírito, São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 104. Em outro lugar, Packer
detalha: “Santidade é o objeto de nossa nova criação. Nascemos de novo para que possa-
mos crescer até a semelhança de Cristo. Santidade, é na realidade, a saúde verdadeira de
uma pessoa” (J.I. Packer, O que é santidade e por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed.
ger. Vitória sobre a Tentação, 2ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 35). John Murray (1898-
1974) coloca este ponto da seguinte maneira: “O Espírito Santo é o Agente controlador e diretor
em cada pessoa regenerada. Por conseguinte, o princípio fundamental, a disposição go-
vernante, o caráter prevalecente de cada pessoa regenerada é a santidade – ela é ‘espiri-
tual’ e se deleita na lei do Senhor segundo o homem interior” (John Murray, Redenção: Con-
sumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 158). Do mesmo modo, Charles
Hodge (1797-1878), havia escrito: “Um estado de salvação é um estado de santidade. As duas
cousas são inseparáveis; porque a salvação não é só a redenção da pena do pecado, mas
também livramento do seu poder” (Charles Hodge, O Caminho da Vida, New York: Sociedade
Americana de Tractados, (s.d.), p. 275). (Veja-se também, A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São
Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 51).
10
Confissão de Fé de Wetminster, X.3.
11
Francisco L. Patton, Compendio de Doutrina e a Egreja, Lisboa: Typ. A Vapor de Eduardo Rosa,
1909, p. 96.
12
“A marca mais garantida pela qual os filhos de Deus devem distinguir-se dos filhos deste
mundo é a regeneração operada neles pelo Espírito de Deus para sua inocência e santida-
de” [J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1987, (Rm 8.9), p. 269].
13
Veja-se: J.C. Ryle, Santificação, São José dos Campos, SP.: FIEL, 1987, p. 40.
14
Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las
Iglesias Reformadas/Editorial La Aurora, 1969, p. 78.
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cia podem levar um homem a mudar de conduta, mas não podem levá-lo a
15
mudar de coração".

B) A Justificação:

Se a regeneração é o início da santificação, a justificação é o fundamento ju-


16
dicial da santificação. A justificação e a santificação não podem ser separadas,
17
sem se perder de vista a verdadeira dimensão da vida cristã. Na justificação, por
graça, fomos declarados livres da culpa, amparados na justiça de Cristo. Na santifi-
cação, a santidade de Cristo é-nos aplicada internamente pelo Espírito de Cristo, o
18
Espírito de santidade.

Na regeneração recebemos um coração novo, com uma santa disposição; na jus-


tificação Deus nos declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais fo-
ram pagos definitivamente por Cristo; por isso, já não há nenhuma condenação so-
19
bre nós; estamos em paz com Deus, amparados pela justiça de Cristo. Na justifi-
cação Deus declara que já não há mais culpa em nós; na santificação Ele nos purifi-
ca da corrupção. Na justificação temos uma mudança em nossa condição legal; a
20
santificação envolve uma transformação moral.

Enquanto não formos gerados por Deus, declarados justos, por intermédio da jus-
tificação, não há santificação. "Aqueles que são justificados, também são sem-
21
pre santificados; aqueles que são santificados sempre foram justificados".

Somos declarados justos pela justiça de Cristo. A justificação nos transfere de


uma condição de condenado para a de herdeiro de Deus (Jo 3.18; At 13.39; Rm
22
3.28,30; 5.1; Gl 2.16; 3.24/Rm 8.1,7). A justificação – que ocorre fora de nós – não
produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser; no entanto, é uma vocação

15
Charles Hodge, O Caminho da Vida, p. 280. “O homem pode gabar-se de um grande melho-
ramento moral, e, todavia, não ter nenhuma experiência da santificação” (L. Berkhof, Teo-
logia Sistemática, p. 536). Veja-se R.C. Sproul, O Ministério do Espírito Santo, São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 1997, p. 93ss.
16
Veja-se: L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 540.
17
Veja-se: D. M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 1996, p. 100.
18
Veja-se: Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book
House, 1984, p. 474.
19
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”
1 31
(Rm 5.1). “ Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. (…) Que
32
diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não
poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente
33
com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os
justifica” (Rm 8.1,31-33).
20
Veja-se: Francisco L. Patton, Compendio de Doutrina e a Egreja, p. 96.
21
J.C. Ryle, Santificação, p. 53. (Vd. também, p. 74).
22
Cf. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 121.
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incondicional à santificação, conforme a vontade de Deus. Deus chama pecado-
res, todavia, não deseja que eles continuem assim; antes, infunde neles a justiça de
Cristo, dando-lhes um novo coração, mudando as inclinações de sua alma, habili-
24
tando-os a toda boa obra (Ef 2.8-10). "Cristo a ninguém justifica, a quem ao
25
mesmo tempo, não santifique." Todavia, a realidade do pecado ainda existe
em nós; o justificado é simultaneamente justo e pecador (“Simul justus et peccator”),
26
conforme expressão de Lutero (1483-1546).

Fazendo outro paralelo entre a justificação e a santificação, podemos dizer que


enquanto a justificação nos livra da condenação do pecado, a santificação nos livra
27
de sua contaminação. “....Na justificação, Deus imputa a justiça de Cristo; e
na santificação, o Seu Espírito infunde a graça e dá forças para ser pratica-
da. Na justificação, o pecado é perdoado; na santificação, ele é subjuga-
28
do”. (destaque meu) (Rm 3.24,25; 6.6,14). "Pela justificação de Cristo os cren-
tes passam legalmente a ter vida; pela santificação são tornados espiritual-
mente vivos; pela primeira recebem, o direito à glória; pela segunda são tor-
29
nados dignos da glória".

A nossa justificação é pela graça mediante a fé (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7). "....A
fé é o instrumento pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo co-
30
mo sua justiça".

Paulo, diante do rei Agripa, testemunhando a sua conversão e o seu chamado


ministerial para trabalhar entre os gentios, relata as palavras de Cristo a ele dirigi-
das: "Para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de
Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança en-
tre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.18).

23
“É certamente verdade que somos justificados em Cristo Tão-somente pela misericórdia
divina, mas é igualmente verdade e correto que todos quantos são justificados são chama-
dos pelo Senhor para que vivam uma vida digna de sua vocação. Portanto, que os crentes
aprendam abraçá-lo, não somente para a justificação, mas também para a santificação,
assim como ele se nos deu para ambos os propósitos, para que não venham a mutilá-lo
com uma fé igualmente mutilada” [João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.13), p. 274].
Veja-se: também: João Calvino, Efésios, (Ef 2.10), p. 63.
24
“A justificação é unicamente pela fé. A santificação não é unicamente pela fé. A totali-
dade da vida cristã é uma vida de fé, porém na santificação temos que agir, e desenvolver,
despir-nos e vestir-nos; como o apóstolo nos diz em todos esses pormenores que nos oferece
aqui. [Ef 4]” (D.M. Lloyd-Jones, As Trevas e a Luz, São Paulo: Publicações Evangélicas Seleciona-
das, 1995, p. 130).
25
João Calvino, As Institutas, III.16.1.
26
Veja-se: G.C. Berkouwer, Faith and Sanctification, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1952, p.
71ss.
27
Veja-se: A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986,
p. 45.
28
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 77.
29
George Whitefield. Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo: Publicações E-
vangélicas Selecionadas, (s.d.), p. 8.
30
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 73.
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3. A Trindade e a Santificação:

As Escrituras Sagradas nos ensinam que o Deus que nos chama à santidade está
comprometido com a nossa santificação. A Santíssima Trindade opera eficazmente
em nós para que sejamos santos. Por isso, fundamentados na Palavra de Deus, po-
demos dizer que o Deus Trino é o Autor de nossa santificação. Daí a oração de Pau-
lo: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo” (1Ts 5.23).

Creio também, que deve estar claro, que todos nós somos responsáveis por nos-
sa santificação, no sentido de usarmos os meios concedidos por Deus para este
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fim. No entanto, agora a nossa ênfase, é na ação primeira de Deus.

Apesar de sabermos que não podemos separar a obra da Trindade de forma arbi-
trária, para uma visão melhor do assunto, mostraremos biblicamente, como as três
pessoas da Trindade agem de forma eficaz em prol de nossa santificação.

A) O Pai:

Jesus orou ao Pai para que santificasse os seus discípulos: "Santifica-os na


verdade" (Jo 17.17). Do mesmo modo orou Paulo: “O mesmo Deus da paz vos santi-
fique em tudo” (1Ts 5.23). Ambas as orações além da confiança, ressalta o fato de
que o Deus Pai é poderoso para nos santificar, o que de fato Ele faz. O Pai que nos
escolheu em Cristo, nos disciplina (Hb 12.5-11), propicia todos os meios para que
cresçamos em nossa fé, desenvolvendo a nossa salvação (Fp 2.13/Hb 13.20-21).

B) O Filho:

O Filho além de orar ao Pai para que nos santificasse, Ele mesmo se ofereceu
por nós para que a nossa santidade fosse real. Sem a obra do Filho, a Sua oração
em nosso favor não teria eficácia. Nós somos santos e santificados em Cristo Jesus.
Por isso, Paulo, escrevendo à Igreja de Corinto, pôde dizer: "À Igreja de Deus que
está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus” (1Co 1.2).

Em outro lugar, Paulo, inspirado por Deus, declara: "Cristo amou a igreja, e a si
mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra” (Ef 5.25-26. Vd. Tt 2.14).

A santificação é algo tão vital para a Igreja que Cristo se entregou por nós, a fim
de que sejamos santos; Ele não se limitou a exigir isto de nós; Cristo se entregou
para que este propósito fosse possível. Entre a realidade terrível de nosso pecado e
um alvo, que poderia ser etéreo, Cristo se entrega por nós para que a nossa realida-

31
John Murray acentua: “A santificação envolve a concentração do pensamento, do interes-
se, do coração, mente, vontade e propósito, em direção à soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus e ao desempenho da totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus
instituiu com o fim de atingir essa destinação” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada,
p. 166).
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de seja transformada, cumprindo assim, o Seu propósito de santificação em nós. Je-


sus Cristo tornou-se também, para nós, o exemplo perfeito de santificação, o qual
devemos perseguir (Hb 12.2/1Pe 2.21; 1Jo 2.6).

C) O Espírito Santo:

A Bíblia atribui mais especificamente a nossa santificação ao Espírito Santo.


Ele nos regenera e renova (Jo 3.3,5; Tt 3.5), guiando-nos a fazer a vontade de Deus
(Rm 8.14). Ele habita em nós, testificando que somos filhos do Deus Santo (Rm
8.16), capacitando-nos a desejar agradar a Deus através da nossa obediência.

Paulo, falando aos coríntios, faz um rol de pecados que caracterizavam a vida de
alguns daqueles irmãos antes de se converterem a Cristo; depois conclui: “Tais fos-
tes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justifi-
cados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).

Aqui temos a oportunidade de ver a relação entre a obra do Filho e a do Espírito.


Somos santificados no nome de Cristo, pela operação do Espírito. O Espírito aplica
nos eleitos de Deus os méritos redentores de Cristo.

Deus leva a efeito o objetivo de nossa eleição, de forma especial, através do Es-
pírito: "....Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do
Espírito e fé na verdade” (2Ts 2.13). "Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai,
em santificação do Espírito, para obediência....” (1Pe 1.2).

Nesta operação, o Espírito tem como objetivo nos tornar santos conforme Ele o é,
visto ser Ele "O Espírito de Santidade" (Rm 1.4); o Espírito Santo. “O Espírito Santo
32
é o espírito da santidade e produz santidade dentro de nós”.

Por outro lado, a Palavra de Deus também nos mostra que devemos estar com-
prometidos com a santificação de nossos irmãos, intercedendo por eles, para que
Deus realize a Sua obra em sua vida: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tu-
do; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis
na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”, ora Paulo (1Ts 5.23).

Considerações Finais:

Concluindo estas anotações, destacamos: A santificação é um processo que tem


início no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados
do mundo (sendo santificados), para crescermos, progredirmos em nossa fé (santifi-
cação). O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação
(1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). O mesmo Espírito que nos regenerou por
meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que
vivamos de fato, como novas criaturas que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do
Espírito, porque Ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito
não somente testifica que somos filhos de Deus, mas, também, nos ensina pela Pa-

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Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 629.
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lavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14).

Maringá, 11 de outubro de 2008.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

33
Vejam-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoe-
kema, Salvos pela Graça, p. 37.

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