Você está na página 1de 5

ADOÇÃO

A adoção é a forma mais conhecida, porque mais antiga, de filiação


sócio afetiva. Consiste em, por escolha, tornar-se pai e/ou mãe de alguém com
quem, geralmente, não se mantem vínculo biológico algum. Trata-se de “um
parentesco eletivo, pois decorre exclusivamente de um ato de vontade”. Daí ser
uma fiel consagração da vontade afetiva como elemento desencadeador de
efeitos jurídico-familiares.

A medida da adoção é também conhecida como colocação em família


substituta por pressupor que a família originária seria a genética, da qual o
adotado será separado. Discorre que a inserção do mesmo na nova entidade
familiar sócio afetiva requer, quando já tenha ele relação filial fixada, a sua
prévia desconstituição. Os pais precedentes hão de ser destituídos do poder
familiar (se houver motivo) ou dar permissão à adoção. Se desconhecidos, tais
ações serão impraticáveis.

A adoção por concessão parental é discutível. Sugere a disposição


unilateral de uma relação tipicamente bilateral. Com o condão de desfazer a
filiação anterior, a concordância dos pais não só equivale à renuncia do seu
direito de ser mãe e pai, mas à abdicação do direito dos filhos de assim os ter.
A aquiescência parental somente será capaz de ensejar o fim da relação filial
precedente à adoção quando somada a um dos seguintes aspectos. a)
Coincidir com a válida concordância do filho; b) e/ou a medida adotiva se
apresentar como melhor à satisfação dos interesses do adotando.

O vínculo de filiação não se extingue com a maioridade, portanto, não é


correto afirmar que seja exigível a concordância dos pais para que ocorra a
adoção do menor de 18 anos. O que se extingue com a maioridade é o poder
familiar e adoção se apresenta prejudicial ao vínculo de filiação, que
permanece após o filho ter atingido a idade adulta. Qualquer pessoa pode ser
adotada. Menor ou maior de idade. Antes da Constituição Federal de 1988, o
Código Civil de 1916 fazia a distinção entre a natureza da adoção do adulto em
relação à da criança e do adolescente. A do adulto era considerada simples,
revogável e relativa em seus efeitos parentais. Essa poderia ser concretizada
em cartório através de escritura pública. A adoção de menores era considerada
adoção plena e definitiva, criava parentesco extensivo e deveria ser
processada judicialmente. Com o advento do novo diploma civil, toda a adoção
é integral, irrevogável e judicial, como estipula o art. 1.619 do Código Civil.

Para ser adotante deve-se ter a maioridade civil e a diferença mínima


de idade de dezesseis anos em relação ao adotado. A Lei 8.069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA) trazia a redação dissonante à regra do
Código Civil quanto a idade exigida do adotante. O CC determina que o
adotante deveria ter dezoito anos completos, já o art. 42 do ECA dispunha que
os adotantes deveriam ser maiores de vinte e um anos. Com isso a doutrina
passou a interpretar que não se exige a idade de vinte e um anos, mas a
qualidade de maior do adotante também para a adoção das crianças e
adolescentes. Essa dissonância foi corrigida pela Lei 12.010/2009.

Também quanto à legitimação para ser adotante, o ECA exclui dos


ascendentes de segundo grau em diante, bem como dos irmãos do adotando.
Visa evitar a ambiguidade que adviria da criação do vínculo filial entre aqueles
que já são parentes de grau bastante próximo. A vedação não alcança os tios e
sobrinhos, bem como os primos.

E estado civil daquele que pretende adotar é fator irrelevante para


admissão da medida. Solteiro, casado, separado, divorciado ou viúvo; todos
podem adotar e podem fazê-lo individual ou conjuntamente. Neste último caso
a lei faz uma ressalva. Para que ocorra a adoção conjunta se faz necessária a
existência de relação familiar atual entre os adotantes, admitindo
excepcionalmente que esta tenha sido estabelecida em momento anterior ao
tempo da adoção. |Nesse sentido, o ECA admite que os separados ou
divorciados promovam a adoção de uma mesma pessoa desde que o estágio
de convivência ente o adotando e os adotantes tenha sido iniciado quando
ainda havia convivência conjugal ou de companheirismo e desde que haja
acordo sobre a guarda e a visitação do adotado. Se o ordenamento não veda a
possibilidade de duas pessoas adotarem, ainda que não são mais casadas ou
não mais vivam em união estável, o que na verdade se faz é autorizar que a
adoção conjunta se dê mesmo por casais que não tem qualquer liame legal ou
até afetivo. Negar de antemão ao par homoafetivo que constitui família o direito
a uma comum adoção seria uma postura, além de desprovida de qualquer
razão, preconceituosa. A resistência à concessão de direitos aos pares
homoafetivos foi abrandada, após pensamento sedimentado pelo STF, em uma
decisão de 05 de maio de 2011. Ao reconhecer que a união homoafetiva, que
atenda aos critérios próprios de entidade familiar, o STF admitiu que dois
homens ou duas mulheres titularizem todos os direitos derivados da condição
de familiares, em paralelo ao que se dá como união estável.

Falando de adoção unilateral, há a hipótese de o companheiro ou


cônjuge tornar-se adotante do filho do outro. Essa é uma prerrogativa
concedida a tais pessoas e tem a peculiaridade de manter intacta a relação
parental preestabelecida. Nesse caso, o adotando que era filho apenas de um
dos componentes do casal, deverá se tornar de ambos.Nesse caso, as
providências processuais serão as mesmas exigidas em todas as adoções. Se
o adotando tiver outro ascendente registral, será preciso a destituição de seu
poder familiar ou a obtenção do seu consentimento favorável à adoção.

A sentença que decreta a adoção gera seus efeitos regulares após o


trânsito em julgado. A partir daí está criado o novo vínculo de parentesco ao
adotado, desligando-o definitivamente dos seus familiares originais, salvo para
fins de impedimento matrimonial. Não resta qualquer direito do adotado para
com os familiares e nem dos familiares com o adotado, como poder familiar,
alimentos e herança.

A partir da CF88 só existe a adoção plena. Portanto os elos parentais


não se resumem aos adotados e adotantes. Ou seja, se o adotado tiver filhos,
netos, etc., eles também se tornarão familiares dos adotantes.

A alteração familiar promovida pela adoção será transferida para o


registro civil do adotado. No mesmo deverá constar os nomes dos adotantes
como pai e/ou mãe e dos pais destes como avós. Será realizada também a
substituição do patronímico da família anterior pelo da nova família. Se o
adotado for menor poderá sofrer mudança no prenome. Se a modificação do
prenome for solicitada pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando. A Lei
12.010/09 prevê a obrigatoriedade não só da oitiva do adotado, acerca da
alteração nominal, mas, sobretudo, o respeito à sua vontade. Todo esse
procedimento será sigiloso. Há a possibilidade de prestar certidão como
medida imprescindível a salvaguardar direitos, desde que com requerimento
fundamentado e judicialmente aceito.

A Lei 12.010/09 garantiu o direito ao adotado de ter acesso ao


processo de adoção, visando conhecimento de sua origem biológica.

A decisão judicial que concede a adoção é naturalmente constitutiva,


mas pode assumir feição declaratória na circunstância de o adotante falecer no
curso do processo.

O ordenamento jurídico ainda permite a adoção internacional


compreendendo algumas especificidades de ordem procedimental e algumas
peculiaridades relativas ao estágio de convivência dos envolvidos. Esse deverá
acontecer em território nacional e deve durar no mínimo trinta dias,
independentemente da idade do adotando.

Código Civil de 2002

Adoção:

Art. 1.619: “A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da


assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se,
no que couber, as regras gerais da Lei n. 8.069/90”.

Poder Familiar:

Art. 1.630: “Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto


menores”.

Art. 1.632: “A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união


estável não alteram as relações entre os pais e filhos senão quanto ao direito,
que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.”

Extinção do Poder Familiar:

Art. 1.635: Extingue-se o poder familiar:

[...]

IV – pela adoção;

.
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. 8.069/90

Art. 39, § 1º: “A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se


deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da
criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo
único do art. 25 desta Lei.”

Art. 25: “Entende-se por família natural a comunidade formada pelos


pais ou qualquer deles e seus descendentes.”

Parágrafo Único: “Entende-se por família extensa ou ampliada aquela


que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal,
formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
e mantém vínculos de afinidade e afetividade.”

Art. 45: “A adoção depende do consentimento dos pais ou do


representante legal do adotando.”

§ 1º: “O consentimento será dispensado em relação à criança ou


adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do
poder familiar.”

§ 2º: “Em se tratando de adotando maior de 12 anos, será também


necessário o seu consentimento.”

Art. 2º: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito
anos de idade.”

Você também pode gostar