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Maio 2009
Abstract: The paper ahead analyzes the critical positioning of Nietzsche of the German
historicism, in special in its exponential hegelian, partisan of a providencialist
perspective of the History, in which God would establish the state of progress in the
Earth by means of the innumerable social transformations in the civilization. For
Nietzsche, such perspective removes the importance of the singular action of the men of
the gift, therefore the individual, according to historicist conception, would be a mere
instrument of a metaphysical principle, that would exert in the world its later objectives
of moral improvement of the humanity in elapsing of the time.
Keywords: Nietzsche; Historicism; Progress; Providence; Vitality.
Introdução
Segundo a análise de Nietzsche, a corrente historicista, de forte herança idealista
e moral, seria uma das principais causas do declínio da cultura alemã oitocentista. O
historicismo se consolida principalmente a partir da filosofia da história elaborada por
Hegel, que preconiza a existência de uma racionalidade absoluta e providencial,
intrínseca ao mundo em que vivemos, conduzindo continuamente a humanidade ao
estado de progresso. Como contraponto aos princípios metafísicos e universalistas dessa
visão de mundo, Nietzsche redige a “Segunda Consideração Intempestiva”, ensaio que
versa acerca da importância e prejuízo do uso do conhecimento histórico para a vida, e
de que modo tal conhecimento, em decorrência da influência intelectual do idealismo
alemão, está recheado de conotações metafísicas que retiram da ação concreta humana o
seu ímpeto criativo. Vejamos então como se desenvolve esta questão polêmica.
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Doutorando em Filosofia do PPGF-UFRJ/Bolsista do CNPq - Rio de Janeiro-RJ, Brasil.
E-mail: renunbitt@yahoo.com.br. http://lattes.cnpq.br/5173102478506111
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REVISTA LITTERIS No 2 ISSN: 1982-7429 www.revistaliteris.com.br
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externos que independiam da singularidade especial deste grande tipo humano; retira
assim, de qualquer grande evento ou personalidade a sua adequada aura de
grandiosidade, caracterizando tudo aquilo que é considerado extraordinário como mito
ou ilusões perpetuadas pela tradição ao longo dos séculos. A história crítica julga e
condena (NIETZSCHE, 2003, p. 25). Outro problema do uso inadequado da
historiografia crítica consiste na interpretação dos fatos do passado através do enfoque
valorativo do presente, pois o investigador, ao invés de buscar a compreensão daquilo
que aconteceu analisando e interpretando as peculiaridades desse evento de acordo com
a visão de mundo de sua época, privilegia uma leitura anacrônica de um dado objeto de
investigação.
Após as explanações precedentes, podemos dizer que, conforme a compreensão
nietzschiana, os três citados gêneros historiográficos existentes só encontram
plenamente o que lhes cabe em um único solo e sob um único clima: em qualquer outra
condição a história se transforma em uma excrescência desertificadora, gerando o
crítico sem necessidade, o antiquário sem piedade e o conhecedor do grande sem o
poder do grande, tal como salienta Nietzsche (2003, p. 24-25). Nessas condições, de
acordo com as metas, forças e necessidades, todo homem e todo povo precisa do
conhecimento do passado, não como um grupo de puros pensadores que apenas
contemplam a vida, não como indivíduos ávidos de saber, que só se satisfazem com o
saber e para os quais a ampliação do conhecimento é a própria meta, mas sempre apenas
para os fins da vida, e, portanto, sob o domínio e condição suprema desses fins (2003, p.
31-32).
Nietzsche considera que a cultura do Oitocentismo europeu sofria de uma
“ardente febre histórica” e ao menos deveria reconhecer sofrer dela (2003, p. 6). Essa
moléstia cultural se caracterizava por gerar uma crise de valores no âmago das forças
engendradoras da moderna sociedade européia, fazendo com que ela perdesse o seu
poder criador direcionado aos inúmeros meios de expressão da vida cultural. Essa
situação, segundo a concepção de Nietzsche, decorreria da estagnação e passividade da
própria sociedade européia oitocentista situação que, conforme citado, decorria da
legitimação de qualquer evento como resultado de um emaranhado processo histórico
empreendido pelas forças civilizatórias. Essa sociedade, incapaz de compreender o que
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Mas ela está doente, esta vida desagrilhoada, está doente e precisa ser curada.
Ela está enferma de muitos males e não sofre apenas da lembrança de seus
grilhões – ela sofre, o que nos diz respeito especialmente, da doença histórica.
O excesso de história afetou a sua força plástica, ela não sabe mais se servir do
passado como um alimento poderoso (NIETZSCHE, 2003, 94-95).
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possíveis de seu vir a ser até a sua auto-revelação: de modo que, para Hegel, o
ponto culminante e o ponto final do processo do mundo se confundiriam com a
sua própria existência berlinense (NIETZSCHE, 2003, p. 72-73.)
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Pensada como ciência pura e tornada soberana, a História seria uma espécie de
conclusão da vida e balanço final para a humanidade. A cultura histórica só é
efetivamente algo salutar e frutífero para o futuro em conseqüência de uma
nova e poderosa salutar corrente de vida, do vir a ser de uma nova cultura, por
exemplo; portanto, só se ela é dominada e conduzida por uma força mais
elevada e não quando ela domina e conduz. A História, uma vez que se
encontra a serviço da vida, se encontra a serviço de um poder a-histórico, e por
isto jamais, nesta hierarquia, poderá e deverá se tornar uma ciência pura, mais
ou menos como o é a Matemática (NIETZSCHE, 2003, p. 17).
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Será então que a vida deve dominar o conhecimento, a ciência, ou será que o
conhecimento deve dominar a vida? Qual destes dois poderes é o mais elevado
e decisivo? Ninguém duvidará: a vida é a mais elevada, o poder dominante,
pois um conhecer que aniquila a vida aniquilaria ao mesmo tempo a si mesmo.
O conhecer pressupõe a vida: ele tem, portanto, o mesmo interesse na
conservação da vida que todo e qualquer ser tem na continuação de sua própria
existência. (2003, p. 96).
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Considerações Finais
Podemos dizer que as críticas de Nietzsche ao historicismo oitocentista fazem
parte de um longo processo de contestação empreendido pelo pensador contra toda uma
tradição filosófica pautada na supressão do sentido imanente da existência em prol da
legitimação de um parâmetro essencialmente transcendente. Na sua concepção, o
historicismo oitocentista, grande devedor da interpretação metafísica da História
desenvolvida por Hegel, manifesta uma desvalorização da importância efetiva da ação
humana desenvolvida no plano concreto, uma vez que o fundamento do real estaria
situado na esfera do Absoluto, o puro abstrato. A idéia de progresso, alardeada nessa
perspectiva como o motor da ação humana, também recolheria a sua importância
autêntica da dimensão abstrata, doadora do sentido do mundo histórico no qual se
encontra o homem, governado, na verdade, pelo estatuto divino. O estado de progresso,
sendo considerado como a marcha da humanidade rumo ao aprimoramento infinito, não
poderia ser alcançado pelo homem na própria imanência, de modo que o mundo
concreto seria apenas um passaporte para o estado de perfeição absoluta, alcançável
somente na esfera supra-sensível. Esta compreensão idealista, de acordo com a
perspectiva nietzschiana, retiraria a importância axiológica do mundo concreto,
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Referências bibliográficas
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____________. A Gaia Ciência. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia
das Letras, 2001b.
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