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São Leopoldo
2007
GUSTAVO ANDRADE DE ARAUJO
São Leopoldo
2007
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................3
1 A MUSICOTERAPIA................................................................................................5
1.1 Do Passado ao Presente..................................................................................5
2 O RETARDO MENTAL............................................................................................9
2.1 Características diagnósticas...........................................................................9
2.2 Funcionamento adaptativo............................................................................10
2.3 Níveis de gravidade do retardo mental.........................................................10
2.3.1 Retardo Mental Leve..............................................................................11
2.3.2 Retardo mental moderado.....................................................................11
2.3.3 Retardo mental severo...........................................................................12
2.3.4 Retardo mental profundo.......................................................................12
2.4 Diagnóstico diferencial...................................................................................12
3 O FUNCIONAMENTO MOTOR NO SER HUMANO..............................................14
3.1 A função do córtex cerebral...........................................................................14
3.2 Núcleos da base..............................................................................................15
3.3 Cerebelo...........................................................................................................16
3.4 Tálamo..............................................................................................................17
3.5 Contração muscular........................................................................................17
4 A MUSICOTERAPIA COM RETARDO MENTAL..................................................21
4.1 Modificação de comportamento....................................................................21
4.2 Metas de musicoterapia.................................................................................22
4.3 Musicoterapia para melhorar habilidades motoras.....................................22
5 A MUSICOTERAPIA NO DESENVOLVOMENTO DA MOTRICIDADE................25
5.1 Práticas clínicas aplicadas ao desenvolvimento da motricidade
fina e ampla..............................................................................................................26
5.1.1 Caso 1......................................................................................................26
5.1.2 Caso 2......................................................................................................28
6 A CONTRIBUIÇÃO DOS INSTRUMENTOS NA PRÁTICA CLÍNICA....................32
6.1 Seleção de instrumentos................................................................................33
6.2 Distribuição dos instrumentos.......................................................................34
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................38
8 REFERÊNCIAS.......................................................................................................41
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, a utilização da música com fins terapêuticos tem adquirido
importância na maior parte do mundo moderno. Embora o conceito de uma força
terapêutica vinculada à música seja tão antigo quanto nossa civilização, só
recentemente a música vem sendo considerada como um valioso instrumento no
tratamento e reabilitação de pacientes, principalmente na educação especial.
Durante os estágios de formação em musicoterapia foram desenvolvidos
trabalhos com diversos públicos. O que mais chamou a atenção foram os pacientes
portadores de deficiência mental, em específico os pacientes portadores de retardo
mental, pois estes, além de demonstrarem muita receptividade à música, são
pessoas muito afetivas, criativas e, a cada sessão, tinham sempre algo novo,
diferente e surpreendente para contribuir com o desenvolvimento individual e do
grupo no qual encontravam-se inseridos. Isso gerava grande entusiasmo e prazer
para prosseguir trabalhando e ampliando o processo de crescimento, tanto do
musicoterapeuta quanto do paciente durante cada encontro.
Este trabalho se constitui de revisão bibliográfica e demonstrará algumas
formas de atendimento à população com retardo mental, mas com maior
aprofundamento na área motora ampla e fina, pois percebeu-se, ao longo dos
atendimentos nos estágios proporcionados pelo curso de musicoterapia, que o fato
de os pacientes ampliarem suas habilidades motoras, através de instrumentos,
resultava em maior desenvolvimento na interação, independência e autonomia em
suas atividades de vida diária. O fato do autor deste trabalho possuir experiência
como baterista e, ao mesmo tempo, ser estudante de musicoterapia despertou um
interesse no desenvolvimento da motricidade a partir do uso dos instrumentos. Por
4
3
BROCHIER, Ângela Gomes; COVO, Gisele Raquel de Carvalho. A Musicoterapia na Prevenção e
Tratamento do Stress. Curitiba, FAP, 1998, monografia de conclusão da disciplina de
musicoterapia IV, Faculdade de Musicoterapia, Faculdade de Artes do Paraná, 1998, p. 07.
7
4
BRUSCIA, Kenneth E. Definindo Musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000, p. 286.
8
Japão, Estados Unidos entre outros, nos congressos internacionais. Diante dos
resultados terapêuticos, que vêm sendo publicados, a Musicoterapia se propagou
para as mais diferentes áreas de aplicação, como doenças, traumas, incapacidades
físicas, perdas sensório-motoras, distúrbios psiquiátricos, problemas de conduta ou
emocionais, drogadição, distúrbios de comunicação, dificuldades nos
relacionamentos, abusos, desvantagens, retardo mental e distúrbios de
aprendizagem. Ela também é utilizada para promover uma auto-avaliação, para
estimular o crescimento e o desenvolvimento, para acelerar ou melhorar o
aprendizado, para controlar a dor, para dar assistência ao parto, para acompanhar
exercícios físicos, para tratar problemas musicais, psiquiátricos, geriátricos e
deficiências neurológicas.
2 O RETARDO MENTAL
1
As questões que serão abordadas a seguir estão baseadas nos livros, DSM IV - Manual de
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. American Psychiatric Association,
Washington, E.U.A, 1994. Disponível em: <http:// www.psiqweb.med.br/dsm/dsm.html > Acesso em:
05 de março de 2007.
AMERICAN ASSOCIATION ON MENTAL RETARDATION. Retardo Mental: definição,
classificação, e sistemas de apoio. Tradução Magda França Lopes. 10ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2006.
10
2
DSM IV, 1994. p. 40.
12
anteriormente superior de funcionamento. Uma vez que pode ser difícil determinar o
nível anterior de funcionamento em crianças muito pequenas, o diagnóstico de
demência pode não ser apropriado até que a criança esteja com 4 a 6 anos de
idade. Em indivíduos com menos de 18 anos, o diagnóstico de demência é feito, em
geral, apenas quando a condição não é caracterizada satisfatoriamente pelo
diagnóstico de Retardo Mental. Além disso, é preciso considerar que as condições
de saúde ocasionalmente afetam a avaliação da inteligência e o comportamento
apresentado pelo paciente durante a testificação.
3 O FUNCIONAMENTO MOTOR NO SER HUMANO1
1
As questões abordadas neste capítulo estão relacionadas à teoria descrita por MACHADO, Ângelo
B.M. Neuroanatomia Funcional. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
2
MACHADO, 2002, p. 257.
15
4
Quando ocorre alteração ou lesão unilateral na região do subtálamo.
17
3.3 Cerebelo
3.4 Tálamo
6
Os núcleos são Putâmen, Globo pálido, Claustrum e o Caudado.
7
Conjunto de axônios do S.N.C.
8
Conjunto de todos os nervos motores e sensitivos do hemisfério correspondente (direito ou
esquerdo).
9
Cruzamento dos nervos motores e sensitivos.
10
Saliência dos nervos motores e sensitivos na região anterior do bulbo.
11
Região que faz a ligação do nervo com o músculo.
12
Região da fibra muscular especializada no armazenamento de cálcio para que haja contração
muscular.
20
CEREBRAL
Figura 2: representação esquemática das vias motoras somáticas. MACHADO, 2002, p.315.
4 A MUSICOTERAPIA COM RETARDO MENTAL
4
ATTERBURY et al. apud DAVIS, p. 90.
5
DAVIS, Willian B.; GFELLER, Kate E.; THAUT, Michael H., 1999. p. 81.
23
6
LATHOM apud DAVIS, 1980, p. 83.
24
se ao compasso da música requer certa dose de trabalho mental, já que existe uma
conexão entre a música ouvida e o movimento que corresponde. Este movimento
pode expressar um sentimento ou um estado de ânimo, ou representar uma imagem
mental, uma improvisação que o paciente realiza em nível de suas próprias
experiências. Em primeiro lugar, os movimentos que utilizam o espaço sem que haja
deslocamento, como, movimentos de braços ou pernas, agachar-se ou estirar-se
são de fácil realização, pois neles o corpo do paciente é o ponto central e é a partir
daí que se irradia o movimento. É mais fácil fazer movimentos simétricos do que
assimétricos, pois estes últimos requerem melhor controle motor. A música deverá
ajudar a tornar mais harmoniosos os movimentos que o paciente com retardo mental
executa em sua vida diária, tais como caminhar, saltar, correr, inclinar-se, ajoelhar-
se, ou deitar-se. Sustentar um objeto real ou imaginário, não necessariamente um
instrumento musical, confere significado e realidade a um determinado movimento.
Pouco a pouco, a expressão corporal deverá converter-se em uma atividade
ordenada, planejada para o controle individual dos movimentos e para a organização
de cada individuo em relação ao grupo, da mesma forma como ocorre em qualquer
atividade musical. Na expressão corporal deseja-se ao individuo maior liberdade
para usar sua imaginação e eleger sua própria interpretação da música. Além disso,
mover-se em conjunto com a música proporciona a muitos pacientes uma sensação
de segurança e um prazer instintivo.
5 A MUSICOTERAPIA NO DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE
1
BOXHILL; LATHOM; MOORE e MATHENIUS apud DAVIS, 1999, p. 81.
26
5.1.1 Caso 1
2
FRASER, Louise Whitbeck. LA MUSICOTERAPIA COMO PROGRAMA BASICO PARA EL NIÑO
IMPEDIDO. In GASTON, E. Thayer, 1968, p.107.
27
A seguir, cada criança localiza seu ombro direito e coloca sobre ele a sua
mão esquerda. Então gira todo o braço direito formando círculos completos, ao
compasso da música e repete: “estou girando o braço sobre meu ombro...”. Em
seguida faz-se o mesmo com o outro braço. Para as pernas podem empregar-se
exercícios similares, com algumas pequenas variações. Quando a perna direita se
move desde o quadril, a criança pode desenvolver equilíbrio, sustentando-se
colocando a mão direita no encosto de uma cadeira. Recomenda-se realizar o que
está sendo feito cantando, como por exemplo: ”estou movendo minha perna desde o
quadril...”. Desta maneira, a criança pode aprender os nomes das articulações do
corpo.
Pode-se, também, tentar melhorar a postura das crianças fazendo-as
marchar ao redor do salão, seguindo o pulso da música, sustentando objetos sobre
suas cabeças. A música deve começar lentamente e, na medida em que a postura
da criança for melhorando, aumentar o andamento. No começo, os movimentos
simples são introduzidos quando a criança caminha formando círculos com os
braços soltos, como se fossem asas. Esta combinação de movimentos pode ser
difícil para as crianças. Muitas sentem grande tensão, que as leva a manter os
braços junto ao corpo, formando um ângulo semelhante à posição fetal. Portanto, é
necessário que os movimentos sejam realizados repetidas vezes, com paciência, até
que se desenvolva um movimento livre no espaço com os braços estendidos. A
criança com um nível pequeno de deficiência tende a realizar movimentos com mais
facilidade, acompanhando o ritmo que é executado, e pode auxiliar ao permitir que
os outros observem como se faz.
As crianças podem ser estimuladas a realizarem outros movimentos
utilizando uma fina capa de seda quadrada de um metro ou menos. Primeiro ela
aprende a sustentar uma ponta da capa e, em seguida, a correr na medida em que
observa como esta capa fica ondulada atrás dela. É possível criar variações na
atividade, como tentar sustentar a capa no alto, como se fosse uma bandeira, ou dar
voltas em círculo observando os movimentos da capa. Posteriormente, a criança
sustenta as pontas com cada mão e aprende como a manta flutua no alto, como se
fosse uma nuvem. A criança aprende a desfrutar do movimento com a capa e, ao
escutar um estímulo musical, pode utilizá-la de acordo com a imaginação sugerida
pela música escutada, como, por exemplo, transformar-se em um pirata com sua
faixa na cintura, como um cowboy com um lenço no pescoço ou flutuar como se
28
5.1.2 Caso 2
3
BITCOM, Carol H. EL CONJUNTO DE TAMBORES COMO MEDIO TERAPEUTICO. In GASTON,
E. Thayer, 1968, p. 112.
29
Às vezes a contagem de números era substituída por “da, da, da, bum” (o
bum significava baixar a baqueta). A velocidade variava. As batidas eram muito
lentas durante um período de cinco minutos e logo depois ficavam aceleradas. Esta
execução foi praticada de forma individual e com o terapeuta para desenvolver o
controle e a coordenação motora. Depois que o musicoterapeuta e os pacientes
haviam trabalhado individualmente, agrupavam-se em grupos de dois ou três para
realizar prática adicional. Eventualmente, todos os membros do grupo trabalhariam
juntos novamente. Com o fim de controlar o grupo, o terapeuta recomendava o
cumprimento exato das regras estabelecidas no programa das atividades.
Durante três semanas, os pacientes e o terapeuta passaram meia hora por
dia trabalhando com uma só das baquetas. Logo o fizeram com a outra baqueta. A
mesma técnica foi aplicada para treinar a mão direita e, em seguida, a mão
esquerda. Os pacientes sempre sustentavam uma baqueta enquanto aprendiam a
usar a outra. Em uma semana conseguiram fazer uso correto da baqueta direita.
Cada uma das sessões diárias terminava com cinco minutos ou mais de
marcha. Eram selecionados diferentes membros do grupo para que fossem lideres.
Os pacientes formavam filas e marchavam ao redor do salão cantando: “esquerda,
direita, esquerda, direita...”. Alguns não conseguiam coordenar a palavra esquerda
com o pé esquerdo. O terapeuta marchava junto com o grupo, mas aos poucos
permanecia de pé observando, comentando, estimulando ou também assistindo a
vários pacientes. Por meio de um apito, indicava quando deveriam começar ou
parar a atividade.
Quando os pacientes demonstravam menor interesse pelas atividades com
baquetas, dedicava-se maior tempo à marcha. Cadeiras e outros objetos eram
distribuídos pelo ambiente de maneira que formassem uma espécie de caminho;
também havia um grande espelho, onde os pacientes podiam observar-se e deste
modo melhorar sua postura e seu movimento motor, fino e amplo. Em algumas
ocasiões era utilizada a música de uma marcha, que os ajudava a relaxar das
tensões que surgiam durante o período de trabalho com as baquetas. Se um
paciente marchava bem, solicitava-se que o fizesse sozinho para que os demais
pudessem observá-lo e fazer comentários. Se um deles tinha dificuldades, outro, que
marchasse melhor, o auxiliava e praticavam juntos.
Depois de quatro semanas de prática, lhes foram entregues tambores. Então
surgiu no grupo certa insegurança e uma conduta possessiva. Continuamente havia
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em um grupo muito grande. As sessões devem ocorrer uma vez por semana, no
mínimo, e com duração média de 45 minutos cada.
com que o paciente desenvolva o movimento de elevar e baixar os braços, sem que
seja solicitado pelo terapeuta.
O violão é muito utilizado para trabalhar movimentos finos, pois a mão que
faz os acordes necessita de destreza e coordenação motora muito refinadas. Mas
esse instrumento também vem sendo muito utilizado para trabalhar a motricidade
ampla, especificamente para o braço. Com o instrumento preparado em afinação
“aberta”, o paciente utiliza apenas a mão que irá tocar, próxima à caixa de
ressonância do violão para produzir som, enquanto a outra mão, que seria a que faz
as notas dos acordes, servirá apenas para segurar o violão. Assim o paciente tem
total liberdade para tocar e realizar movimentos amplos, utilizando apenas uma das
mãos, fazendo movimentos de cima para baixo e de baixo para cima com a força e
velocidade que quiser, sem preocupar-se com a formação do acorde, o qual já está
pronto. Esta técnica é muito utilizada, pois dessa forma o musicoterapeuta improvisa
cantando ou tocando junto com o paciente de forma livre, mas sempre dentro de
uma estrutura musical pré-estabelecida, o que ajuda a elevar a auto-estima do
paciente por meio da experiência na relação com o outro, onde ambos estão em
sincronia, de igual para igual.
Os instrumentos que melhor trabalham os movimentos de motricidade
ampla, em específico, são o pau de chuva e os chocalhos. O pau de chuva é um
instrumento grande e, para tocá-lo, é preciso movê-lo, como se fosse uma
ampulheta, virando-o de um lado para o outro, segurando suas extremidades cada
uma com uma mão. Isso obriga o paciente a mover os dois braços ao mesmo tempo,
fazendo movimentos amplos. Já os chocalhos podem variar de forma e tamanho. Há
aqueles chocalhos que possuem formas bem pequenas, como um ovinho, (o que
facilita para os pacientes que tem dificuldades para abrir bem a mão e conseguir
segurá-lo) e há formas maiores, como chocalhos construídos com garrafas de
refrigerante de dois litros, (para pacientes que já possuem maior habilidade motora
com as mãos). Dependendo do tipo de debilidade a ser trabalhada, escolhe-se o
instrumento no tamanho e na forma adequada. Muitas são as vantagens na
utilização do chocalho, porque esse instrumento pode ser tocado de diversas
formas: pode-se começar fazendo pequenos movimentos com as mãos junto ao
corpo e, aos poucos, ir expandindo para movimentos mais amplos como, por
exemplo, braços bem esticados para frente e para trás, procurando tirar um som
mais forte do instrumento.
36
ALVIN, Juliette. Musica para el niño Disminuido. Buenos Aires: Ricordi Americana,
1965.
BERNE, Robert M.; LEVY, Matthew N. Fisiologia. 4ª ed. St. Louis: Guanabara,
1998.
FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico. 14ª ed.
Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2005.
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