Ainda que já bem depois dos cinquentas, só posso afirmar
que tenho algumas certezas sobre o que não quero, não gosto, desprezo, abomino, e sobre algumas coisas em que não creio. Mas sobre o que quero, gosto, …, e sobre aquilo em que, aparentemente, acredito, não estou certo de quase nada. Para não dizer de nada, mesmo. Em boa verdade, estou mais certo e seguro daquelas minhas repulsas quase que inteiramente viscerais do que dos meus ideais bem articulados e racional e limpidamente fundamentados. E, no entanto, como me é fácil e divertido criá-los! Talvez, precisamente, por isso… Aliás, nem sequer estou seguro de se esta minha forma de tudo olhar está certa ou errada, é boa ou má, e nem sequer se me é prazerosa ou benéfica, ou não. E, compreensivelmente, não estou nada interessado em convencer os demais ou em conquistar discípulos. Tenho, até, receio de que me apareça algum. Não saberia como agir, ficaria preso de movimentos… Mas de uma coisa estou certo: abomino e desprezo quem quer que me apareça pela frente regurgitando fés e certezas. E quanto mais beatíficas maior é o meu horror. Sim, a expressão é essa, horror. Horror e exaspero. É que as há com roupagens bem beatíficas… Refiro-me às crendices fundamentalistas de toda a sorte, que arrebatam hordas de idiotas úteis. Úteis à malvadeza. Por isso, só me pode faltar a pachorra para quem depende de crenças benévolas e reconfortantes para viver… E, sobretudo, para morrer… Que as circunstâncias me sejam propícias para me aguentar à bronca quando chegar a minha hora!