A resistência de microrganismos a antimicrobianos vem se tornando um problema de
saúde pública que necessita cada vez mais de atenção por parte de órgãos governamentais e instituições de pesquisa. A utilização de antibióticos por longos períodos e de maneira indiscriminada pode levar a casos graves de resistência microbiana, na qual até mesmo os medicamentos de última geração não conseguem combater de maneira eficaz as doenças causadas por tais microrganismos. Além disso, o uso de antimicrobianos na agricultura e pecuária – além de colaborar para o aumento da resistência – causa poluição ambiental em larga escala, com a contaminação do solo e de lençóis freáticos que são utilizados para abastecimento de água para a população (SHARMA; AGRAWAL, 2016; WANG et al., 2016; SATHIYABAMA; PARTHASARATHY, 2016). Sendo assim, tem-se a nanotecnologia como uma ferramenta importante no desenvolvimento de novos tratamentos mais seguros e eficazes contra bactérias e fungos patogênicos, através da produção de nanopartículas utilizando diversos metais como cobre, zinco, titânio, magnésio, ouro e prata (SONI; PRAKASH, 2016). Os nanomateriais possuem propriedades únicas que chamam atenção de pesquisadores por todo o mundo, tendo estes um número elevado de aplicações em diversos ramos como medicina, ciência dos materiais, microeletrônica, armazenamento de energia, dispositivos biomédicos, dentre outros (BALLOTIN et al., 2016). A biossíntese de nanopartículas com atividade antimicrobiana pode ser considerada como uma forma de lidar com o problema de resistência bacteriana e fúngica de uma maneira barata, atóxica e que não causa vastos danos ambientais (ABDELGHANY et al., 2017). Um dos principais modos de produção de nanopartículas constitui na utilização de fungos endofíticos. Estes são microrganismos que habitam tecidos de plantas e não causam nenhum tipo de sintoma no hospedeiro, caracterizando-se como mutualismo, pois tais fungos oferecem proteção contra herbívoros, ataques de insetos ou patógenos que podem invadir tecidos vegetais (KUMAR et al., 2015). O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico das últimas publicações inovadoras entre os anos de 2015 a 2017 que extraíram fungos endofíticos a partir de plantas e os utilizaram para produção de nanopartículas, tendo estas como principal função a atividade antimicrobiana. Excluiu-se resumos, revisões e artigos científicos que utilizaram somente plantas ou somente fungos obtidos por outras fontes que não fossem vegetais. Também foram excluídos artigos os quais os autores publicaram as mesmas informações em revistas diferentes, sendo considerada apenas a publicação mais recente. Dezessete artigos foram encontrados, os quais serão apresentados a seguir.
2. Desenvolvimento
2.1. Fungos endofíticos
A Tabela 1 apresenta os fungos endofíticos que foram utilizados como produtores de
nanopartículas e suas respectivas fontes de obtenção.
Tabela 1 – Fungos endofíticos e espécies vegetais as quais habitam
Fungo(s) Planta hospedeira Autor(es) e ano Colletotrichum sp. Andrographis paniculata AZMATH et al., 2015 Guignardia mangiferae Citrus sp. BALAKUMARAN et al., 2015 Alternaria sp. Tridax procumbens KUMAR et al., 2015 Epicoccum nigrum Helianthemum hirtum (L.) MOHAMED, 2015 Miller Fusarium sp. Withania somnifera SINGH et al., 2016 Alternaria solani Solanum lycopersicum L. ABDEL-HAFEZ et al., 2016 Aspergillus niger Cupressus torulosa BISHT et al., 2016 Cladosporium cladosporioides Cladosporium sphaerospermum Alternaria alternate Curvularia luneta Penicillium sp. Calophyllum apetalum CHANDRAPPA et al., 2016 Penicillium sp. Glycosmis mauritiana GOVINDAPPA et al., 2016 Aspergillus versicolor Centella asiatica NETALA et al., 2016 Penicillium spinulosum Orchidantha chinensis WEN et al., 2016 Aspergillus clavatus Grãos de milho* YASSIN et al., 2016 Epicoccum nigrum Solanum lycopersicum L. ABDEL-HAFEZ et al., 2017 Nigrospora sp. Moringa oleifera ARIETA et al., 2017 Trichoderma harzianum Tomate* EL-MOSLAMY et al., 2017 Fusarium verticillioides Zea mays MEKKAWY et al., 2017 Alternaria sp. Raphanus sativus SINGH et al., 2017 Fonte: O autor. Nota: Yassin e colaboradores, bem como El-Moslamy e colaboradores, não citam em suas respectivas publicações qual a espécie de planta foi utilizada para obtenção do fungo endofítico utilizado para obtenção de nanopartículas.
Como pode ser observado, de um total de 21 fungos endofíticos, temos a prevalência
de espécies do gênero Alternaria (19%), seguido por espécies dos gêneros Penicillium (14%) e Aspergillus (14%) e por fim espécies dos gêneros Epicoccum (10%), Fusarium (10%) e Cladosporium (10%). As etapas de obtenção dos fungos consistiram na coleta do material vegetal, com posterior isolamento e identificação da(s) espécie(s) endofítica(s). Após a coleta, o material vegetal foi lavado, esterilizado (sendo o álcool etílico a 70% o principal agente esterilizante) e incubado em meio de cultura por um período médio de 8 dias (normalmente em ágar batata dextrose contendo algum tipo de antibiótico para evitar crescimento bacteriano), permitindo assim a formação de biomassa da espécie fúngica desejada. Diversos autores utilizaram extração de DNA e amplificação por PCR como forma de identificação de fungo endofítico (MOHAMED, 2015; NETALA et al. 2016; ABDEL- HAFEZ et al., 2017; EL-MOSLAMY et al., 2017), enquanto outros utilizaram técnicas mais comuns como identificação morfo-taxonômica (KUMAR et al.; 2015; ABDEL- HAFEZ et al., 2016; BISHT et al., 2016; CHANDRAPPA et al., 2016; GOVINDAPPA et al., 2016; SINGH et al., 2016; SINGH et al., 2017).
2.2. Biossíntese das Nanopartículas
A biossíntese de nanopartículas com atividade microbiana dos gêneros Penicillium,
Fusarium e Aspergillus foi discutida por Wassem e Nisar (2016) em um artigo de revisão, com demonstração do mecanismo de biossíntese intra e extracelular. 2.3. Atividade antimicrobiana