No 12° capítulo do seu livro “Construindo o primeiro projeto de pesquisa em
educação e música”, Maura Penna apresenta algumas reflexões acerca da análise dos dados coletados no campo. Um equívoco bastante recorrente, e que é ressaltado por Penna, é o ato de considerar os dados coletados como o resultado final da pesquisa. É necessário que haja articulação entre a descrição dos dados e a interpretação dos mesmos, sempre norteados pelo problema da pesquisa. Durante esse processo, é importante que os dados sejam relacionados com a literatura acadêmica da área estudada, tornando a revisão bibliográfica um fator determinante para que a interpretação dos dados seja efetiva. Mas, é preciso ter atenção tanto na consistência da utilização de técnicas específicas para análise, quanto à adequação do referencial teórico aos objetivos pretendidos, e se necessário, continuar a busca durante toda a pesquisa por fontes bibliográficas mais pertinentes. Ainda nesse contexto, no seu texto “Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações” (2009), Silverman nos alerta sobre essa falta de flexibilidade ao lidar com concepções teóricas, o que pode levar os pesquisadores a direcionar os dados para se adequar àquela teoria anteriormente escolhida. Silverman também apresenta, de maneira bastante superficial, algumas características em forma de questões, que são apontadas por ele como essenciais para que a pesquisa seja coerente em todas as suas etapas de desenvolvimento. Ele critica ainda a falta de rigor científico de algumas pesquisas qualitativas, rotulando como “anedotismo” a forma como os dados são utilizados nessas pesquisas. Voltando ao texto de Maura Penna, a autora apresenta algumas possibilidades de organização e apresentação dos dados coletados durante a pesquisa, como a descrição de cenas e longa citações, ou quadros numéricos, que são comuns nas pesquisas quantitativas, mas podem ser utilizados para apresentar panoramas gerais de dados para posterior análise qualitativa. Como um bom exemplo desses processos, Penna cita o capítulo 6 do texto de André (Etnografia da prática escolar, 2010), no qual nos é apresentado todo o procedimento metodológico de uma pesquisa sobre a formação de professores para a atuação nos primeiros anos do ensino fundamental. A autora analisa todo o processo de delimitação dos objetos de pesquisa, as dificuldades encontradas durante o percurso, e mostra como a auto-reflexão do pesquisador é essencial para que se alcance os objetivos almejados.