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O DISCURSO SOCIAL DO EMPREENDEDORISMO CRIATIVO: ESTUDO DE

CASO EM GRUPO DO FACEBOOK


Bibiana Silveira-Nunes 71 70F

Sandra Portella Montardo 72 71F

Marsal Avila Alves Branco 73 72F

Palavras-chave: Empreendedorismo Criativo; Facebook; Discurso Social.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente artigo é etapa na construção de dissertação sobre o tema


empreendedorismo criativa e o uso de plataformas digitais. Em estudo piloto, realizamos
primeira aproximação empírica ao campo estudado, buscando esclarecer entendimentos
iniciais e generalizações rasas (SILVEIRA-NUNES; MONTARDO, 2017). Aqui,
aproximamo-nos novamente desse grupo, agora focando no discurso social construído pelo
agrupamento de empreendedores criativos, especificamente, o uso de grupos do Facebook.
Trata-se de observação exploratória no ambiente digital, monitorando as interações
dos sujeitos no grupo. O objetivo é identificar questões a serem observadas durante e nortear
1257 o estudo de campo de pesquisa qualitativa em curso, buscando identificar temas no discurso
social do empreendedorismo criativo que possam orientar futuras inserções no campo. Este
movimento de aproximação inicial justifica-se pela necessidade de ”esboçar uma idéia [sic]
das características e dos limites que determinam o território que quer explorar”
(CHARAUDEAU, 2008, p. 13).
O território explorado é o de empreendedores que usam plataformas digitais para
estabelecer seu empreendimento. Especificamente, nos aproximamos de grupos do Facebook
administrados por empreendedores, visando entender esse universo. Neste momento de
primeira aproximação, limitamos o estudo a grupo previamente observado no estudo piloto
mencionado (SILVEIRA-NUNES; MONTARDO, 2017), a saber, o grupo Empreenda sua
paixão – Grupão (NEGÓCIO DE MULHER, 2017a), estabelecido pela empresa Negócio de
Mulher para agrupar empreendedoras criativas que tenham participado do seu curso sobre
empreendedorismo (NEGÓCIO DE MULHER, 2017b), de mesmo nome do grupo.

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Especialista em Artes Visuais, SENAC; Mestranda em Indústria Criativa. Contato:
bibianasilveira@gmail.com.
72
Doutora em Comunicação Social, PUC; Professora no Mestrado em Indústria Criativa. Contato:
sandramontardo@Feevale.br.
73
Doutor em Ciências da Comunicação, Unisinos; Professor no Mestrado em Indústria Criativa. Contato:
marsal@Feevale.br.
Começamos o artigo com Considerações iniciais, seguidas por breve Referencial
Teórico e Procedimentos Metodológicos. A seguir, colocamos Observações e Análise,
seguidas de Considerações Finais e Referências.

REFERENCIAL TEÓRICO

Para o presente estudo, definimos empreendedorismo como a criação de


empreendimentos 1) baseados na inovação, com o objetivo de criação e captura de valor,
concretizando uma oportunidade identificada; 2) que usam como matéria-prima a criatividade
e o capital intelectual (BOURDIEU, 2007); 3) baseados na construção e exploração de redes
sociais (JACKSON, 2008; TURKAT, 1980); 4); cuja atuação se dá mediada por plataformas
digitais (PARKER; VAN ALSTYNE; CHOUDARY, 2017). São empreendedores indivíduos
responsáveis por organizar, operar e assumir os riscos associados à essa concretização
(DORNELAS; SPINELLI; ADAMS, 2014; MUZYKA; BIRLEY, 2001). E, por seu estilo,
empreendedores podem ser definidos como artesãos ou oportunistas (SMITH, 1967), ou
qualquer posição no continuum entre esses dois extremos, sendo nosso objeto de estudo mais
associado ao extremo artesão. (SILVEIRA-NUNES; MONTARDO, 2017).
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Quanto a discurso, tomamos a concepção postulada por Bakhtin (1986), que coloca a
língua como fato social, fundada nas necessidades da comunicação por sua vez ligadas à
estruturas sociais, tendo significação social e constituindo discurso. Por discurso pensamos
este como “composto por diferentes ‘camadas de significados’, que mesclam valores tangíveis
e intangíveis, somados ou inter-relacionados entre si” (BREDOW, 2016, p. 18).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Realizamos observação não participante, restrita à coleta de dados (FRAGOSO;


AMARAL; RECUERO, 2011). Como campo de pesquisa, utilizamos o grupo Empreenda sua
Paixão – Grupão (NEGÓCIO DE MULHER, 2017a), no Facebook. Observamos as
interações entre participantes, focando no conteúdo das comunicações. Realizamos o estudo a
partir de capturas de tela obtidas em agosto/2016. Nestas capturas, a identidade dos atores foi
escondida por blocos coloridos, sendo que cada ator do conjunto de comunicações estudado
recebeu uma cor única para si.
A entrada no campo se deu de maneira orgânica, por havermos participado da primeira
turma do curso Empreenda sua Paixão (NEGÓCIO DE MULHER, 2017b). Por estarmos
previamente inseridos no campo, nos posicionamos como observador participante
introspectivo. (WALLENDORF; BRUCKS, 1993), método empírico de pesquisa usado em
estudos sobre consumo. Introspecção implica a existência de, no mínimo, um indivíduo
fornecendo dados verbais sobre aspectos de sua experiência, sendo que estes estão disponíveis
apenas a estes indivíduos, não observados diretamente por outros.
No que compete a protocolos éticos, partimos do princípio de que não existe
expectativa de privacidade no conteúdo acessado e, por não se tratar estritamente de pesquisa
com seres humanos - não existindo interação ou intervenção por parte do pesquisador -, o
consentimento se faz desnecessário (KOZINETS, 2014). Optamos pela camuflagem mínima,
como colocada pelo autor, por conta de o conteúdo não apresentar possibilidade de danos.
A pesquisa não aborda perfis pessoais, não apresenta riscos aos participantes -
empresas -, por serem seus blogs e perfis públicos em sites de redes sociais. Em caso de
interações por terceiros, apesar de estas serem públicas, optamos por proteger suas
identidades. Identificamos apenas empresas, utilizando informações públicas, acessíveis por
métodos de busca abertos. Os participantes são identificados de acordo com dados feitos
públicos em seus blogs e perfis SNS, visando a garantia de seus direitos autorais. Também,
foi tomado cuidado de não difamar, invadir a privacidade e/ ou prejudicar indivíduos ou
1259 marcas, ou agir de forma negligente. O uso do Facebook serve apenas para identificar os
participantes, não sendo utilizado conteúdo proprietário da empresa. Contamos aqui com o
princípio de uso justo do conteúdo, por se tratar de pesquisa acadêmica, sendo a coleta de
dados realizada manualmente (KOZINETS, 2014). O mesmo vale para todo conteúdo
acessado, independentemente da plataforma.

OBSERVAÇÕES E ANÁLISE

Delimitamos o campo de pesquisa aos participantes do grupo no Facebook Empreenda


sua paixão - grupão (NEGÓCIO DE MULHER, 2017a), descrito como “Grupo exclusivo
para alunas e ex-alunas do curso online Empreenda Sua Paixão”. A proposta é de um espaço
para dividir experiências, aprendizados e conquistas das alunas do curso Empreenda Sua
Paixão (NEGÓCIO DE MULHER, 2017b), desenvolvido pela empresa Negócio de Mulher.
(NEGÓCIO DE MULHER, 2017c). O grupo Empreenda sua paixão - grupão é formado por
alunas de todas as turmas do curso Empreenda Sua Paixão. O grupo possui, até ago.2016, 164
membros. Destes, apenas parte interage com o grupo, sendo a atuação no grupo, durante o
período de análise, limite de campo.
O propósito do Negócio de Mulher é “inspirar e ajudar mulheres a transformar sonhos
em realidade, paixões em negócios” (NEGÓCIO DE MULHER, 2017c). Descrevem o curso
Empreenda Sua Paixão como uma experiência de transformação para mulheres
empreendedoras com mentes inquietas, que buscam reconectar-se com suas paixões e
habilidades para criar um negócio e vida que ame (NEGÓCIO DE MULHER, 2017b). Além
do curso, oferecem e-books, cursos técnicos, um blog com dicas sobre empreendedorismo, e
um newsletter semanal. Assim como a empresa desenvolvedora, o curso - e o grupo - tem
como público-alvo mulheres empreendedoras.
Quanto ao tema de postagem, identificamos três: 1) o pedido de ajuda: questões de
ordem técnica ou relacionadas ao curso; 2) a divulgação: apresentação de empreendimentos,
posts de blog, eventos relacionados ao empreendimento; 3) os interesses: assuntos não
relacionados ao curso ou a empreendedorismo, mas que podem agregar valor em outros
sentidos. Analisamos 10 postagens no total, sendo 2 (duas) relacionadas ao tipo 1 – pedido de
ajuda; 2 (duas) relacionadas ao tipo 3 - interesses; e 6 (seis) relacionadas ao tipo 2 -
divulgação, a ação mais comum no grupo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando o material coletado, chegamos a três principais temas de postagem:


pedidos de ajuda, divulgação e interesses. Durante o período observado, a incidência maior
foi de posts do tipo divulgação. Quanto à linguagem, o maior uso se mostra de tom casual em
1ª e 2ª pessoas. O volume de interações se mostrou baixo em relação ao número de
visualizações, e poucos comentários foram feitos. No entanto, por se tratar de um estudo
qualitativo, nos interessam não números dos dados, mas o que eles podem nos dizer.
Vemos uma preferência por comunicações de cunho pessoal (“...encontrar um trabalho
que seja realmente importante para mim”); uso da 1ª pessoa (“Estou à disposição”); convites
(“convido a conhecer...”); chamadas para ação e engajamento são comuns (“...espero que
gostem!”). Também são realizados convites pessoais (“Quero te convidar...”, “Te espero...”) e
agradecimentos (“Gratidão”). No geral, percebemos um tom casual e intimista nas interações,
indicando possível aproximação pessoal entre as participantes, além do caráter educativo e
profissional esperado de um grupo que gira entorno de temas de negócios.
Em suma, acreditamos havermos alcançado o objetivo de explorar o campo a partir de
seu discurso social. Também, temos maior conhecimento deste, o que auxiliará na construção
de projeto de dissertação no qual pretendemos estudar grupos de empreendedores criativos no
Facebook. Acreditamos também que, caso a análise do discurso venha a ser utilizada, esta
deverá ser mais aprofundada, e precisaremos de maior propriedade em sua apropriação.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.

BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.

BREDOW, A. Análise do discurso artístico na contemporaneidade. [s.l.] Universidade


Feevale, 2016.

CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008.

DORNELAS, J.; SPINELLI, S.; ADAMS, R. Criação de novos negócios: empreendedorismo


para o século XXIS{ã}o Paulo: Elsevier, , 2014.

FRAGOSO, S.; AMARAL, A.; RECUERO, R. Métodos de Pesquisa para Internet. Porto
Alegre: Sulina, 2011.

JACKSON, M. O. Social and Economic Networks. Princeton, NJ: Princeton University Press,
2008.

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KOZINETS, R. V. Netnografia: Realizando pesquisa etnográfica online. São Paulo: Penso
Editora, 2014.

MUZYKA, D. F.; BIRLEY, S. Dominando os desafios do empreendedor. São Paulo: Makron


Books, 2001.

NEGÓCIO DE MULHER. Grupo fechado Facebook “Empreenda sua Paixão - Grupão”.


Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/1596348240648847/>. Acesso em: 20
jan. 2017a.

NEGÓCIO DE MULHER. Home page. Disponível em: <http://empreendasuapaixao.com.br>.


Acesso em: 20 jan. 2017b.

NEGÓCIO DE MULHER. Home page. Disponível em: <http://negociodemulher.com.br>.


Acesso em: 20 jan. 2017c.

PARKER, G. G.; VAN ALSTYNE, M. W.; CHOUDARY, S. P. Plataforma: A Revolução da


Estratégia. São Paulo: Casa Educação, 2017.

SILVEIRA-NUNES, B.; MONTARDO, S. P. Empreendedorismo Criativo: estabelecendo


campo de pesquisa para futuros estudos. In: FREITAS, E. C. DE; SARAIVA, J. A.;
HAUBRICH, G. F. (Eds.). . Diálogos Interdisciplinares: Cultura, Comunicação e Diversidade
no Contexto Contemporâneo - 2a edição. Novo Hamburgo: Feevale, 2017. p. 165–178.

SMITH, N. R. The Entrepreneur and His Firm: The Relationship Between Type of Man and
Type of Company. East Lansing: Bureau of Business and Economic Research, Graduate
School of Administration, Michigan State University, 1967.
TURKAT, D. Social networks: Theory and practice. Journal of Community Psychology, v. 8,
n. 2, p. 99–109, 1980.

WALLENDORF, M.; BRUCKS, M. Introspection in Consumer Research: Implementation


and Implications. Journal of Consumer Research, v. 20, n. 3, p. 339, 1993.

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