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sae | | | O HOMEM PERANTE O INFINITO 1 eigfin, julho de 1956 2° edigho, janeiro de 1958 OBRAS DO AUTOR 82 edig&o, Janeiro de 1960 = *Filogotia ¢ Cosmovisio"™ — 4 ed. ~- "glen € Dialéetiea” — 4° ed. = “Psicologia” — 4.0 ed == “Teoria do Conbceinenta” — (Gnosiclogia © Critdrilogia) — 8 ed, — *Ontologia © Cosmologin” — (Aw Giéncias do Ser e do Cosmos) — 2M ed, q "0 Home que foi um Campo de Batatha” — (Prélogo de “Vontade de Poténeia”, de Nictzsche") — Hsgotada. — "Curso de Oratéria ¢ Retéviea” — 78 ed. "0 Homem que Nasceu Péstumo” — 2 vols, — 24 ed. — "Assim Falava Zaratustra” — (Texto de Nietrsche, com ands sim Sia) — 2 i "réenen do Discurso Moderno" —~ 42 ot. ‘ +894 Estings Falun..." —- (Com 0 paudnine de Dan Andorsn) ADVERTANCIA 0 LEITOR t = Bagstala = "Realiede do Home” — (Com paounino de Dan Andores) — Sen divi, yore a Hlowfio, 9 vocabuléis & de ; Engotala. imazina importiciae,sbretud, 0 eam einotico 3 = "Andlive Dinléston do Marninmo” — Bagotada tte comporictn don termes Camo, na ertografia tual a —Gtteo de Inegragto Petal” =~ 8 el Sto dpononas certs canantes, muda, entretanto, na tratado de Beonoala” — (o. mimeografada) — Bogotada iinpuagem de hoje, nin an eonserenmon apenas quando ~ SArletitees e an Mutagies" — (Reexposgio analitcodigétien do tox contribu pars ejonta dimos que facliton 2 melhor to aritetic, nompanhada da een aoe male famouse eonantaris Smpreente da formapio hstnien do tr exeregedo, toy a ale ‘apenas quando julgamns comvenionto ehamer a atencdo do Teter pore éles. Facemos esta obseronnto abmente ava evitar a eatranhers gue posea rausar a eonservagso ie tal graf “Fiona da Crise” — 92 6 v — "Tratado de Simbéliea" — 2 ed. 10 Hlomem perane 0 TnGiito” — (Tenaga) — 2° = selon Gera” — 20 . 5 — -iwnia Coeceta” — 2 von, — 28 0 MARIO FERREIRA DOS SANTOS — “Sociologia Fundamental © Rtiea Fundamental” —~ 2.9 ed. = sprites de Onna” — 29 — shshim Deve Palon soy omens” — 28 0, “Pitdgoras @ o Tema do Numero”. — "Filosofia Conereta dos Valéres". — “Bsentat em Silencio”. = “A Verdade 0 0 Simbolo”. ‘A Arte e a Vida". — “Vida nfo & Argumento” — 2% ed, ‘Certag Subtilesas Humanas” — 2 ~ "A Luta dos Contrézios” — 2° ed, “Filorofias da Afirmagio e da, Negagdo. fetieas” — 2 vols “ Mint Léigicns © Di TODOS OS DIREITOS RESERVADOS ie! A SAIR "Epeielopédia do Saber” —~ 8 vols “Diciondrio de Filosofia ¢ Ciéacias Afina” — 5 vols "Os Versos Aureos de Pitégoras ‘Tratado de Estética™. “Tralado de Esqueroatologia ‘Teovia Geral das Tensves' Filosofia ¢ Histria da Cultura” “Tratado Decudlaléetico de Economia’ “Temética ¢ Problemdtiea das Ciencias Soeiais “As Trie Critiens de Kant “Hegel e Diuletien’ “Dieionério de Simbolos © Sinale™ “Obras Completas de Plato" — eomentadas — 12 vols. “Obras Completas de Aristételes” — comentadas — 10 vos. TRADUGORS ‘Vontade de Potineia” — de Nietasehe Alden do Bem e do Mal” — do Nietasche “Aurora” — de Nietziche, Diério fntimo” —~ de Amie. Saudagio a0 Mundo” — de Walt: Whitman, Art art Art art Pema fot An, Art TEMA Art ‘Art TEMA At Art, Ar Art Art Art Are Art INDICE 1 == Objeeto da Peologtn n 2 — Justifieagho da Teaiogin u 8 — Novos angumentos em favor da justifiengio da Teologia 4 = Teisma © Deismo a 4 1 — A oigem da Relig ue 2 — As teorias evolucionistas stbre a origem da Relisido 7 2 — Fundo Céamico da Religie 2 m 1 nosio conhecimenta de Deus 2 — A experitnels natural de Deus 1 1 — Da esistineia de Dear ‘a 2-— Argumento ontolégico da exieténeia de Des: a 8 — Objeegies ao argumenta de Santo Ansele fe 5-— Anflise da critiea ao argumento anselmiaio a 5 — As provas idenligiens me 5 — As provas a pusteriori. AS cinco vies do Torts ae Aquino 1 — A primeira via: 4 via do movimento © suas objet § — A segunda via: a subordinagia das causas eficia tes — Objeccies 9 — A tevocira vias da contingéneia dos séze 10 — A quarta vin: of graus da Pevfeighe 11 — A quinta via: finslidade 32 — As provas paleoligieas 19 — Das provas peieolégicas — A prova eudemonolérien 14 Ting provas moraie da existéncio de Deu. 1B. Ax provas se Dus Seat . 1 ~ Da natures de Deus Art. 2 ~ 0a atributor metavisicas de Deus 2 4 Art, Do atributo metafiicn da perfeigho e da bendade Art 4 — De atributo metafisico da ifinidade Ark §— Do steibuto metafisen da inessidade © dab oidade Act. 6 — Dog atributos morais de Devs Art, T= Da vide e da vontade de Dens Ar, 8 — Dia predestinacio © da reprebagao va 2 — Da eviapio em eral 2-0 probiewa do mal imgratia eltada 60 2 aaa 234 255 TEMA 1 ARTIGO 1 ORJECTO DA THOLOGIA Bim face dos grandes enigmas do universo, hi uma série de perguntas, cujas respostas veferentes apenas a imanente mio satisfazem a0 homer, Na "Noologia”, temos oportunidade de analisar as valora- cgées humsnas em suas fases mais primérias. O3 valores de- Tmoniacos, 0% que elo propriamente adversos ao homet, exe! tam-no a realizar préticas religiosas, rituais, ete., no intuito de aplacé-les, diminui-los ou deavid-los, Quer veneer ou apla~ ear 9 que The ¢ prejudicial, contvério, antagonica, B se 0 hhomem, mal amparado em sua fraqueza, reverenciow a fOreas do Mal, fazia-o na conviegéo de poder deti-las a0 desvid-la Mas o espetiieuto do mundo, por mais pessimista que surja A nossa visto, nfo € apenas um apontar para yalGres opositivos. HA no existir, no contérno que cerea a vida humana, uma boleza que esplonde ma natureza, uma alegria que anima ox peitos huimanos, 0 advento de factos que oferecem satistacde: © deixam a meméria de ums agradabilidade que nos leva a de- sejar aumentar 0 bem do mundo, pata o préprio bem humano. No mundo, hit mal e bem. O bem é positive © o mal tam: bem 0 é; éste 6 um pensamento primério da humanidade. Reconhece-se a existéntia do mal ao qual 0 bem se op6o; 0 dualismo do bem e do mal proclama a positividade de ambos embora oposta, de vectores diferentes. A esta fase, sobrevém 4 da valorizagio do bem, em que, a pouco e poueo, 6 nexada 4 positividade do mal, que passa a'ser apenas privagio do ber para finalmente desembocar na aceitacio de que bem ¢ mal sid ositividades valorativas, valores do existir, afirmando a po- Sitividarle do Bem, que s@ converte no Ser. Neste caso, estamos em face do bem como ama afirmagio ie si mesmo, sem necessidade de seu oposta para afirmar-se; 1» Rem como’ perfeigzo, que, como o Ser, enquanto ser, & acto puro, dispensa os opostos para a sua afirmagao, Estamoy aqui cm face da idéia do infinite, que oportuna- monte examiniremos. 12 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 0 estudo dessas fases, sobretudo da dltima, eabe, em parte, a Teologia fazer : Mas estariamos delimitando 0 objecto da Teologia a um sentido muito restrito, e sobretudo ineompleto, se disséssemos que apenas 6 éste o seu objecto. Antes de esclarecermos devidamente como iremos estudar a Teologia nesta Eneiclopédia, impde-se que estracturemos pre yiamente o esquema desta disciplina, para que nossa posigdo fique desde logo claramente dehineada Na “Cosmologia”, vimos como a explieaglo da matéria da vida e do nosso espirlto torna-se incompreensivel se procura- mos reduzir 0 superior ao inferior, como tantas vézes foi tentado. Sabemos, através do estudo da historia do pensamento hhumano, que, desde as mais primitivas sociedades, tem o ho- mem procurado responder as intorrogagiex que naturalmente surgem, sobretndo aguelas que exizem respostas sobre a ordem césmica, sobre 0 pordué da existéneia, sdbre a origem de thdas as coisas, E desde as mais primitivas sociedades humanas, as respostas enderegaram-se sempre A afirmagio de um ser supericr, organizador déste cosmos, E julgam ainda todas as religides’ que saber dessa entidade ot entidades nfo é um saber inventado pelo homem, mas que Ihe foi dade, que Ihe foi revelado. Portanto, © eonjunto das respostas no traz a ‘marca humana da falibilidade, mas, sim, a marea da infalibili- dade que Ihe do Ser Superior. Fundam-se, assim, todas as religides em revelagoes, e aceitam a sua veracldade. A palavra Teologia tem sua origem no térmo grego Theos, Deus, e, Logor, diseurso, tratado, Btimoldgicamente, Teologia 0 Tratado de Deus, ou a diseiplina que trata da divindade. 0 térmo Teodiecia vem do mesmo étimo © de diké ou dilsaia Custiga ow justificagio, ot defesa), Nesto caso, é a Teodiegia a doutrina da justifieagao de Deus Este ultimo nome se deve a Leibnitz, que 9 eunhou em sua obra "Besuis de la Théodiede sur la bonté de Dien, ta ti berté de Phomme et Corigine du mal”, editada em 1710, no intuito de, respondendo a Pedro Bayle, justificar o mal, que Esempre 6 argumento preterido ¢ realmente poderoso de todos os adversirios da existOneia de Deu Neste caso, @ Teologia seria a ciéneia de Deus, enquant Deus; a Teodicéia seria a de Deus, enquanto eausa primeira de todos os seres autor da nossa natureza, Mas tais emun~ ciados silo ainda parcos se auisermos oferecé-los como os que fesquemiticamente melhor so referem a diseiplina de tal im- portiinein 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO B A Toologia, tomada em seu sentido geral, interessar-se-ia, nfo 86 pelo estudo da divindade enquanto tal, mas também, pelos seus mistérios, os mistérios de sua vida intima, de suas relagées com 0 Cosmos, e, finalmente, a prova da sua existénci A Teologia cabe ainda justifiear se, como discipline fil aéfiea, tom ela ou nfo procedéncia, ¢ sea existéncia de Dews 6 algo que se pode atirmar ou negar, © por quais meios. Gabe assim & Teologia estudar no 86 2 posi¢ao teisia eomo a ateista, Cabe-lhe reunir as provas da existéneia de Deus, como os argumentos que Ihe sic contrérios. Mas todo ésse trabalho imenso néo pode deixar de fundar-se num método, qual deve, por saa vez, ser justifieado, Como a Teologia se apresenta com varios nomes que a especitieam, no poderiamos prosseguir em nosso estudo sobre tal diseiplina, sem que préviamente a justificassemos. E com sce intuit, alinharemos as razdes pro ¢ contra a sue justifi- cago, Bo que faremos no artigo seguinte. TEMA I ARTIGO 2 JUSTIFICAGAO DA TEOLOGIA Partamos de um ponto de vista antiteolégico, como & 0 ateista, para apés reunir as justificagoes apresentadas pelos que se colocam do ponto de vista teista. Os nomes aieu e ateista tém sido usados na filosofia para classificar os que nfo admitem a existéneia de uma divindade, ‘Nao hi dfvida que tais palavras tom sido usadas em sentido muito particular @ até pejorative, sobretndo nos periodos em que a 2é € predominante. 0 {érmo ateu pronunciado por um cerente, tem sempre um sentido ofensive, M4, porém, alguns que a nsam como um titulo de gloria. Noutras ocasiées, tem @ste térmo servido para infamar todos quantos nflo accitam uma determinada posi¢io religiosa, ou se abstém de tomar par- te om certas prdticas, sem serem, na verdade, ateus, Dever-se-ia empregar tal tOrmo apenas aos ateus mili tes, isto 6, Aqueles que empreendem uma luta contra toda idé ita. Costuma-se dizer que ateista 6 aquéle que néo admite a existéncia de Deus, Mas, convém distinguir as diversas mo- dalidades que apresenta o ateismo, ypossivel qualquer espe- ceulagio em tomo da existéneia ou no de Deus (os agnésticas, por exemplo). Para eles, a existéneia on nfo de Deus ¢ algo {que no se pode postular, porque nos faltam os meios suficien- 4es para um eonhecimento seguro ») Outros, porém, postulam a no existéneia de Deus, & sin étes considerados verdadeiros ateistas, como 0 fol, por exemplo, Cabanis, em certa fase de sua vida, quando exclamou, no Instituto de Pranes, estas palavras: “Suro que néo ha Deus! E pego que eeu nome nfo soja mais pronunelado neste recinto”. Diderot propunha uma distinggo entre as ateus, © divi- ia-og em Urs classes: 12 — Os quo negam terminantemente a exi Deus (verdadeiros ateus) © — Os que nada sabem ou podem afirmar sobre Deus (os expt cia de © HOMEM PERANTE © INFINITO 6 que procedem como se néo admitissem a sua ‘io os “fanfarrées de partido”, como os chamava iderot, © qual os desprezava, “Detesto os fanfarrées: éles so falsos; deploro os verdadeiros ateus: toda consolagio me Darece morta para dles; @ pego luz para os eétior: faltatnes ‘Verdadeiros ateus no sio nem os ateistas pritticos (os que vivem como se Deus nfo existisse), nem os eéticos, mas apenas 0s que afirmam a inexisténcia de Deus, isto 6 que con- sideram que sabem que Deus ndo existe, Sio éates ditimos em mrimero menor, No século pasado, e neste, muitos cientistas se proclamaram decididamente ateus, como Le Dantee. Outros, porém, nao o faziam til elaramente, como Laplace, que digia, no perguntar-Ihe Napoledo, porque nfo inserevera em sua obra o nome de Deus: “Nao tive neces- sidade dessa hipstese”. Afirma 0 atelsmo nfo s6 a desnecessidade da idéia de Deus, como, por tomar uma posigao condicionalista, julga que hi cabal explicagdo de todos os factos dentro apenas da con- Gicionalidade dos mesmos. Ne verdade, a actual situacdo da ciéneia, muito diferente da que parecia prometer a do séeulo XIX, ndo oferece a segu- ranga de que os atefstas estavam possuldos. B hoje, outra ver, vemos surgir, na maioria dos eientistas, a crenea numa divindade, necessdria para a compreensio do cosmos. As razdes que cabem sos ateistas, teremos oportunidade de vé-las quando examinarmos as teses’ da existéncia ¢ da ine- xisténcia de Deus, Nessa acasifio, nfo deixaremos de expor fas raaSes de todos com a maior clareza ¢ o maior respeite. Bm face, portanto, da Toologia, os ateistas s6 podem to- mar uma posigio: negar a justifieaglo de tal diseiplina, pois seu objecto & para éles, naturalmente ficticio. Conseatientemente, uma ‘Teologia ateista 6 impossivel de levar-se avante, porque estabelece, de infelo, a nadifieacko do objeto. A’ iniea posiedio eabivel ante a ‘Teologia, por p: te de um atefsta, seria estudala apenas como um repositério do pensamento humano sébre a idéia de Deus, justificando-a apenas neste sentido histérieo, mas partindo, ab initio, da ab- soluta falta de base de tal idéia, Instifiengio teista da Teologia no entanto, totalmente diferente a posielio do tefsta te procura justiflear a procedéneia desta diseiplina, e a eon sidera, milo npenas uma deserigho histériea ou temétiea das 16 MAMIO FERREIRA pos SANTOS estudos teolégicos, mas como uma disciplina arquiteténica de todo o saber humano sdbre a Divindade. Poderiamos simaplificar a justificaggo teolégica, com a sintese do que expe Tomas de Aquino, com tanta clareza e precisto. Partindo do principio da imprescindibilidade de um ser necessirio, o Ser, ao menos a existéneia déste se impfe neces siriamente, pois 'o que é necessdrio, existe. Se 0 abjecto da Teologia necessério, a Teologia & auto- miticamente necesséria. a Teologia em Teolngia natwral ou Teodicéia, « qual considera a Deus pelas fércas da razo humana, eoghosefvel através das coisas eriadas e sensiveis, em suma, ¢ conheeimento da causa pelos efeitos, Deus 6 assi cogndscivel por meio natural, pelas coisas waturais (meio ob- Jeetivo), pela luz natural da raziio (meio subjective) E chamam Teologia eagrada a que nos oferece um melo sagrado para conhecer a Deus, que é a divina revelacéo (di ving revelatio). Nao se encontra Deus através das coisas, mas sim, pela sua manifesta Como j4 vimos, todas as grandes religiGes afirmem ‘Teologia sagrada, ¢ colocam-na acima da ‘Teologia natural. ‘Sao as verdades divinas transcendentes capacidade hu- mana de conhecer? Ulurapassum elus os mefos muturals de que dispde © ho mem, eabendo-lhe apenas confiar na revelacao? Ou dispde o homem de meios suficientes para sleancar a verdade divina? A posigho eseolistica afirma que a verdade divina & alean gavel apenas por via de revelagao, Nao quer eom isso exeluiz 48 poasibilidades que ® rezio oferece, mas ests, neste sector jenos, trabalha mals @ posteriori. Bla busea uma justi- ‘racional do que ¢ dade ao homem. Portanto, a verdade religiosa encontra na razdo um sustenticulo, mas é suficiente uma £6 Mas seria um @rro dai concluir-se que a Teologia fieasse subordinada & £6, A. 16, sezundo o pensamento eseolastico, term dois olemen- tos: um objective, 0 objecto que se cre, as verdades, formal e explieitamente teveladas, e um subjeetivo, que decorre do assentimento da mente aos mistérios da 1é (Toms de Aquino). As verdades veveladas encerram muitas outras que nelas esto reveludas de um modo virtual ¢ implieito. Pode o erente accitar a £6, pela graca divina, mas a demonstragao da credi- hilidade da £66 algo obtide pelo estude teol6gieo, poraue, pela © HOMEM PERANTE 0 INFINITO Ww ria, éle compreende, de alguma maneira, os mistérios pro wstos, usando os métodos que a ontologia oferece, analisando Sng@es, comparando analogias com as verdades materiais, relucfonando-as 20s mistérios, justificando opiniées e crengas, e defendendo, inclusive, as afirmativas que compdem 0 contexts dls sua erenca (como se da com a Apologética) 0 objecto de tda ciéneia é triplo: material, formal termi- nativo © format motivo, E material todo aquéle que eabe & ciéncia que estuda ox objectos materiais. O objecto material da visio ¢ tudo quanto 1 visio pode ver: coisas, homens, etc. © objecto formal ternvinativo & a formalidade ou perfei- «ilo que 6 considerada e estudada pela ciéncia, como a cor, que ©o objecto formal da visio © objecto formal motivo & o instrumento, 0 meio pelo qual ma ciéncia considera seu objecto formal ‘terminativo. No 39 da visio é a luz 0 objecto material pode pertencer a viirias ciéneias. Tam- dim eféneias distintas podem ter um mesmo objecto formal terminativo. (Por exemplo, a redondez da Terra pode ser ex- plicada pela Fisica pela Astronomia) Mas 0 objecto formal motivo ¢ exelusivo da ciéncia deter minada; do contrario, duas ciéneias, que tivessem o mesmo objecto formal motivo, deixariam de ser duas para fandirem-se Fi fase ohjectn que a eamnetarinn ea especition Rim suma* é um objecto formal terminativo, afectado ou modificado pelo formal motive, sendo éste o que di a Gltima determinagio ao objecto, sob a’ razio formal de objecto, ¢, conseaiientemente, Rciénela (Ramirez). A Teologia para os escoldsticos tem: — como objecto material: Deus (1) } — como objecto formal terminativo, segundo Tomas de Aquino, é Deus sob a razio propria ¢ intima da Divin- dade, Beus enquanto Deus, com os atributos que The sho préprios e exclusives, cognaseivels apenas pela re- velagéo; como objeeto formal motivo: a divina revelagio. Desta forma, o objecto formal da 16 é a revelacdo formal © explicita, mas o da Teologia 6 a revelagio virtual, vista sob vx lozes naturais da razio humana. (1) Doms Seot die que a Teologia se dlstingue de tdas ax otras inweiae paras © seu objecto & singular (wubiectum illiue ext sinpware). How rons of sonia utes « ojocte teaterit a Tenlaga 8 MARIO PERREIRA DOS SANTOS Chama-se de revelacio virtual, a continéneia virtual ow implicita de uma verdade em outra, formal ¢ explicitamente revelada. Poder-se-ia ainda dizer que se deve distinguir a £6 da Teo logis. Muitos tém a 6, ¢ nde tém aquela. Uma coisa ¢ sabe 0 que se erd e outra por que se cr. © objecto da 16 & 0 que nfo vemos. (Files est de non visis). A Teologia estuda, investiga, diseute, Pode dizer-se, como em Tomas de Aquino: “de Deo scire non passumas quid sit” (mio podemos saber 9 que Deus é), mas 4 Teologia Investiga, Pode a vida intima de Deus ser um mistério inaleangavel, Mas Portanto, a Teologin tem seo objecto: o de procurar saber © que Deus & como € 0 cou hdbito, como se diz na eseo- Vastien, A vida intima ¢ resdndita de Deus 6 um objecto, portan- to, formal terminativo da Teologia. ‘A sagrada Teologia ¢ uma impressio, sigilagao ou par- ticipagio da ciéneia divina, no homem”. Desta forma, a Teo logia sagrada e a Teologia natural so ambas especulativas, universalissimas, e tem o mesmo objecto: Deus em sua vida intima ¢ seeretissima, Na Metafisica, a Ontologia estuda o ser enquanto ser, Na Teologia natural, parte-se das eriaturas para aleangar a Deus, Na Teologia sagrada, parte-se de Deus para explicar fas criaturas, A Teologia natural parte de baixo para cima; a sagrada, de cima para baixo, A primeiza parte dos efeitos para alean- car as causas; 2 segunda, das causas para explicar os efeitos Por essas razdes, coneluem ox escolisticos que a Teolosia natural 6 inferior i 'sagrada, e seu eonhecimento tem de ser Forgosamonte limitado, parcial, inadequado ¢ imperfeito. Portanto, uma verdade deve partir de cima. A Teolozia natural, se Ihe faltar a f€ divina, néo dar ao homem send uma pureza puramente humana e subjectiva, insufieiente, # a Teologia wma ciéncia? Argumentam muitos contra a Teologia que, fundando-se ln em prineipios nao-ovidentes, em mistérias, no ume cién- cia, pois The falta a evidéncia, earacteristica que Aristételes atributra s téda cifnein, Explicam os eseoldsticos, que € a Teologia uma ciénefa aubalterna; # Teologia #6 ofereco a evidéneia da conclusio, da 0 Hom MM PERANTE 0 INFINITO Wy uunferéneia ou ilagéo, do nexo entre 0 prinefpio ¢ a verdade in- frida. A evidencia s6 pode ser dada pela eiéncia divina que tio é revelada. A Teologia Natural dé-nos uma evidéneia da eonelusdo, ¢ nfo do eoneluido, Podemos distinguir as cidncias em fisicas e metafisiens. Nas fisieas, estudam-se as propriedades fisieas, enquanto, nas ulafisicas, as propriedades metafisieas, que’ se distinguem apenas conceitualmente do sujeito ao qual so atribuidas, A ciéncia teolouien & fisiea ou metafisiea? Responde ‘Tomas de Aquino que a Teologia € uma ciéneia eta fisiea. Se a posigio escolistien mantéin para a Teologia a funegao sw nuhordinada i Revelagao, pode o feslogo, independentemen. tesla £6, estabelecor uma Teologia fundada na propria andlie ‘nloligiea.O'ser, corso acto, eomo bem como valor, como subsistente em tods of entes, principio de todos os entes, pode wr extudado eomo fonte e orlgem de tudo, e que em tude se siunifesta ou de tudo se distingue A Teologia encontra na metaffsica sua base, ¢ sem querer eamerecer @ posi¢éo que accita uma Teologia sagrada, fan- dud na vevelagio, pode ela procurar uma justificativa desea mesma revelacio, gecltamos o ser, perguntaremos: @ Deus 0 ser por suinela? fe dle © fpauh ease subsiefows, » proprio. ser see iene? Tal pergunta oferece um aspecto gendinamente ex iwevlative, 8 éle-a norma de nossas acgdes? Tal ‘pergunta ‘lithe tum sentido eminentemente prético, Dessa formar a Venlo € uma cléneia filoséfiea eminentemente especulativa itica, embora mats espeeuiativa que pritica, Colocada a ‘Teologia neste ponto, é ela a suprema das cién- « humanas, pois estuda a sabedoria suprema, a de Deus, 1 isso, os escoldsticos consideram sempre a filosofia eomo viva da Teologia (Ancilla Theologiae). Mas essa servidio, uleyavam, nao a rebsixava; ao contrério, exaltavan cervir a’ Deus reinar”, ARTIGO 3 NOVOS ARGUMENTOS EM FAVOR DA JUSTIFICAGAO DA TEOLOGIA No estagio intelectuat do homem moderno, se nos colocar- os ante as esperancas do séeulo paasado, nila 6 de admirar uige se tivesse manifestado entre os intelectuais um grande de- sinierésse pelos temas teolégicos, O avango que oferecia a cieneia, a promesss, ¢, para muitos, a certeza, de que nos labo: ruldeios seriam resolvidos os grandes problemas da filosofia, em térmos inversos ags da filosofia classica, animava a muitos ‘xpiritos reheldes, como ainda os anima. ‘Mas eféneix, em lia a sua marcha, que aparentemente parecis estar preste: derruir as velhas erengas, prepara, a pouca e pouco, uma hustifiengao desss mesmas crengas, permitindo esperar que siderise entre elena, filosoia e religiio ciminulra até surg hima nova eosmovistie, que a® englobaré num tinieo © grande «her oculto, Ao oxaminar as diversas concepgdes filosétieas, notamos vue Todas, sem exeecao, colocam-nos ante aporias, ante difi- culdades teorétieas insoliveis, dentro do esquematismo da mes: int eoneepeao, No entanto, outra eoncepedo pode resolver esta 14) aguela. aporia, que se encontrava na anterior, mas, por sua vey, propée_novas aporias insohiveis, dentra dos quadros dx tu eoneepedo, B possivel o exame das diversas concepgdes do angulo da aporia, Nesse caso, veremos que as eoneepgdes elissieas, que \" apoiam, com construcdes racionais, nas idéias religiosas, si vs que apresentam menor nlmero de aporins, E no se argu- mente, como 6 comum fazé-lo, que, aceitandd ae religives, ent eval, um Ser Supremo, todo poderoso, tudo passa a ser ficil- mente explieado, porque a aceitacko filoséfiea de um ser todo juteroso realizase através de uma demonstragio sdlidamente iuuiada na filosofia, como se objectivou no pensamento Mental, através désse momento alto do pensamento que foi a evobistica, Nao hi ai ima mera postulaedo sem prova, porque as di- versa crengas religinsas jnstifieam exuberantemente sen por 22 MARIO FERREIRA DOs SANTOS to de vista, como ainda teremos oportunidade de verifiear no decorser déste livro, As concepcées. materialistas, pragmatistas, positivistas, relativistas, ele, que nfo sio propriamente solugies, eoloeam © homem em maior niimero de aporias que as eoneepedes fun- dasdas em crencas religiosas. Aquelas eoncepedes, pritieamen- te, ndo resolver nenhum dos grandes problemas filosoticos, nem os que The sio inerentes. Podemos exemplifiear com 0 mate- Tialismo quo no eonsegue sequer expliear a matéria, caindo, como vulgarmente se vé, na concepedo ultrametafisiea de admi- tira matéria brula a matéria dos sentidos, como a fonte omni- potente de tudo. Gra, 2 propria fisiea moderna, apesar de sen Alto progress, nfo consezue resolver tio maguo problema, que ‘encontra solucées muito mais seguras e efieazes em outras con- eepeies nio-materialistas (1) {A tinica soluglo consiste em atribuir & matéria uma omni- potincia, pois seria cla a fonte de tudo, primeiro prinefpio, o ser. A aceltaeio de um ser primeiro, omnipotente.e prinefpio de tOdas as coisas, é uma consegiiéncia inevitivel de toda and- lise filosstiea que empreenda uma busca séria no campo da ontologi. Mas, accitar que tal ser primeiro seja a matéria brute, a matéria apenas passiva, € um contransenso filosétieo de tal monta, que tal concopcad se exclui automaticamente do campo da filosofia pelo seu primarismo ultrametafisico, pois se funda numa afirmagio que nem 6 experimental, nem Togicamente ve pode comprovar, € ¢ ainda tundamentalmente falsa Ora, as armas, que essrimem a quase totalidade dos ad. rsGirios da Teologin como diseiplina filosética, séo, ynais on menos, as ofereeidas pelo materialismo, ¢ outras doutrinas se- melhantes, que seguers caminhos semelhantes Para Pitégoras, a ciéneia suprema é a Méthesis, de onde vem o térmo matemitien, A Mathesis é a efdncia divina de ‘que os homens podem participar. A filosofia é apenas o afa- (2) Preoeupou-nos sempre a consteueio dessa dlseipling, que & a aporitica, ewjo objecto € 0 estudo da problemiticn filoséfiea ¢ das difi- culdades teorétiess. Colocando-e entre as diteiplinaa filosicas, estamos realleando aigo que dara ainda sexs frutos, como estamos certs que os dark 2 Simbdliea, a Noologia, a Rsquematologia, a Teoria Geral das Ten aes ¢ a Decadialietiea, que propusemes, com seus objectos formais dete ‘minados, como nova diseiplinas que muito viséo eontribuir pars 0 estudo 4a filosofia, © para e solucio de muitos de seus magros problemas © HOMEM PERANTE 0 INFINITO 28 nar-se por “amor ao saber”, a busea da Méthesis, a suprema instrucgéo, o conhecimento supremo, Tal eonhecimente 6 al- cancado pelo homem proporcionalmente & sua eapacidade; por tanto, & proporgio que aumentam seus esquemas de conheci= mento, pode aumentar a assimilaedo correspondente, A sic prema instruccao esta oculta ao Komem comum que dela so participa através dos simbolos religiosos, enjo nexo revela, mas ccrengas populares, e nas religides em geral, uma visio de exté jo primario da causalidade © do nexo do universal acontecer. E isto facilmente verificivel na mentalidade infantil vepete essas fases do conhecimento (1) ame saa Tt 2 css 0% Sveum uta verdad, revel « ver dade, porque esta € 0 ser em si meno, ¢ todo ser, enquatto tal, ¢ Serdadetro, como o Ser Um, fonte © principio de" tonee as coisas, é'a suprema verdade, ‘May caplaos 4 verdad das Ceisas segundo 0 gran que dela participamos, Bdele parts elparmos. na proporgio que podemos Wsvelar os wéas. ce nechmento ¢ 4 mareha através do que se calla ans, cone © fol brilnante de Iz ofusea os nossos olhoo, seul dua le, tninosidade aos olhos do tego. O'cemo pode negara his Pore rio ve- ‘via sua raudo cstara at, “O homem prosane pede hegar os sazratdos mistérion we se ocultam nos sets ioe os mnisterios da mdthenis, que € preciso desvendar, ‘Nise rove: Faro ons coms. Estes esto eogoe's ia Wt “Mfae a poteo.e pouco {e através dos graus da iniciagto), pelo comer Cimento e pela mesltacto, 0/homem aleanea wm whe sala ves rials peofindo, penetra’ na suprema instrcelo&cotheee Simp, sexunde. dx gras adquitidon, ac iso" Cosmos, os Grithmot archi, os mnaeros supreme, a ciéncin do Ser Ui, que é em suma, a Teologia. Um exemplo clartica 0 sentido pitagérieo da mdthon No campo de eansaidade, ee esticarmos tus: genese, Mo 68 como, st manifesta no. pensamento infanci, ‘aus fame, través das diversas erenas poptlares, «até nas obee THlbsofes de Ledos os tempos, verificamos que 4 comprosnoge ta eauselidade upresenta faces misticas, miveiniens de en taoio meramente formal, de explicagto merasente paceloeien tiv explcagao dindmatea, de fnalicade purn de sxteayss fe noménien, de explieagao articialistay e muftas outias: des ‘as revelam cettos graun do eonheetrsenta, © nko aie abo (1) Em nossas obvas de Noologia, toremoe oportunidade de extudar wevenca doa eaquemas infantis wieridos a0 homem moderna, © mam revs quo ultrapassa a expeetativa comum, bem enmo a preserga le tale ‘equemms mz divorsne roneopgies do muda © nay reli 24 MARIO FERREIRA DOS SANTOS tumente falsas. Apantiam algo da verdade das coisas, mas promerelonado ao grau da esquomética do ser que media 6- we @ causa @ 0 efeito. E na andlise dos fildsofos, © até con sagrades, da modernidade, encontramos estas adevéncias sub- Jectivas da esquemétien infantil nas suas idéias, justitiendas com um ardor extraordindrio, que nfo ocultam uma Ingen! dade infantil. A Méthesis, como suprema instrugdo, nao ¢ ainda 0 saber final, supremo ¢ absoluto, no € 0 saber da Teologia Di quo exigiria uma mente intnita, como seria, neste cas0, a men- te de Deus, ‘A mente humana, por ser finits, e a mente de outros séres superiores ao homem, que possam existir, podem aprofundar- -se nesse afanar ao saber, na filosofia, em direcgio a mdthests Suprema, sem jamais aleangi-la em tada a sua plenitade, E verdade que « obra de alguns pitagéricos favorece a admissfio de que a0 homem seja possivel aleanear o estado de plenitude beatifies, que o tornaria apto a contemplar a verda- cle em téda a sua suprema e infinita beleza, como seria o esta- lo de epiphania, que aleangaria 9 epopter, iniciado em grav superior, Mas, Yfundados ainda nos estudos que temos feito fo pitagorismo, ¢ que eportunamente publiearemos, 0, etato le epifania, que é 0 de iluminagio “por todos os lados”, asse- melka-se ao estado beatifieo dos misticoa, que est ainda longe ‘la beatitude, que cabe aos santos nas relisides, ¢ da suprema eatitude de’ Deas (1) De qualquer forma conhecer 6 sempre afirmar um limite, porque o conhecimento jamais se afasta désse cm, que ainda eneontramas no gnoscere, no g, pois eonbecer € assimilar o se- melhante ao semelhante, portanto, todo conhecimento & sempre dual. O conhecimonto 6 da eriatura e é, portanto, em sua l- tima_andlise, dual para o pitagorico de’grau superior. $6 Ser Supremo, o Supremo Um, tem o eonheeimento do Um, que © a fusao do Ser e do Saber, porque néle todos vx opostos se identificam, A Méthesis Divina € o propria Ser da Ser Um, eo saber nao ¢ ali diseursivo, operacional, porque no neces” sita da assimilaeo, da comparagao do semethante ao semethan- te, para eonhecer. Na verdade, no ¢ outro o pensamento dos teélogos esco- lagticos, quanto as possibilidades do conheeimento supremo por parte do homem. Mas, convém ressaltar algumas diferencas (2) A primeiva & a beatitnde imperfeits, elewngdvel pelo homem; segunda, a perfeta, aleangada pelos bem-nventurados 0 HOMEA PERANTE 0 INPINTTO 25 importantes, que faremos préviamente, para depois examinar © pensamento tomista e escotista, no referente a teologia ¢ As verdaies toolégieas Para o pitagorico de gran superior, eujo saber ¢ dontvina ‘do pode ser confundida, nem deve, com 0 pitagorismo de grat ce puraskei?, de grav de aprendiz, que & o freattentemente ex- pesto como sendo o pitayorismo mais elevado “para aaucl, ‘4 na epitania um conhecimento que & intransmissivel 20 ho- mem comuin, pois hé af um tanger espiritual do Ser Supremo, que € verdadeiro na relagio entre 0 homem e Deus, pois tadas as nosgs verdades, por eslasem nessa rela, ndo Sgnifieam que sejam apenas relativas. Na Criteriologia, ao estudarmos a verdade, ¢ up examinar © pensamento escolfistico sdbre o saber do todo, e nfio exaus tivo da eoisa (totum et non totaliter), verifieamos que a0 co- nhecer algo na sua unidade, aleangamos @ verdade som alean- ila totalmente. Ao dizermos que o Ser é, dizemos uma yer- dade, poraue o nada mo é mas nfo esgotamos tds a verdade A Teologia fundamenta-se, assim, numa longa experiéneia ea simbéliea humana, porque todo hosso conhecimento, por participar de uma verdade, por nos dar um simbolo de um sim- bolizado hierarquieamente mais elevado, que, por sua vez, € simbolo de um simbolizado superior, aponts, afinal, ao Grande Simbolizado, que & o Sex, o Um. Cortos fil6sofos, como os agnésticos, pragmatistas, mate- rialistas, ete, por deficiéncia de doutrina, e por nfo poderem ir além dos simbolos, que s4o despojados' de sua significado, negam valor & teologie, Por nao serem eapazes de bem com- preender 0 simbolismo das religiées, acabam por fusionar 9 simbolizado com o simbolo, como procede o fetichista. Em suma, tais doutrinas nfo deixam de ser fetichismo fi- losdtieo, pois considera o simbolo camo sendo o simbolizado, efectuando, déste modo, 2 fustio mais priméria que realiza a inteligéncia humana, Estamos, ai, em face de uma verdadeira aderéneia subjectivo-infantil, presente ainda em adultos, como teremos oportunidade de demonstrar em nossas obras de Nowlogia. Podemos exemplificar com a eritica de Hume & eausalida- de, que niio passa de uma explicagio fenomenista, semelhante a jue encontramos na erianga de seis a sete anos, e que repre- uunut dis frases primsrins do desenvolvimento da eaiue- nates inumstna, 26 MARIO FERREIRA pos SANTOS © homem moderno, metropolitano, j4 0 saliontamos, ca racteriza-se muito bem por sua inaptidks & via symbotiea, que The permanece oculta. Assim, no noivado, usa a allangn’ sem saber claramente 0 seu significado, Quando desoja alguma coisa, toex na madeira som suber a simbéliea désse gesto. No hhomem moderno tals gestos so supersticiosos, pois nai alean- gam ao significado do madeiro, como stmbolo’do Sagrado m&- deiro da Cruz de Cristo, para’ exemplificar. As superstigies homer moderno, tals gostos slio supersticiosos, pois nao alean- rituals de antigas erencas das quais perdeu o’signifiendo sim: bilieo, imerggindo, déste modo, no mais infantil fetichisto. Em “Filosofia Conereta”, soyruindo a linha entolégica, ve- rificamos, depois de longas demonstragées, que ha um ser sti premo, fonte e origem de tas as eoises, pois, do. contvério, eles viriam do mada, Daquele ser tidas @s coisas participam, segundo varias manciras de participar, Desta forma, todas as coisas apontam um eaminho de conhecimento ¢ uma via para o Ser Supremo. Fé 0 métode simbéllco, por n6s exposto em “Tratado de Simbélica”, um dos melhores vefeulos para percorrer essa via mystica, que 6 a penetragio no simbolizado, partindo dos simbolos A Teologia é, assim, uma cifneia que encontra aun plena justificagio. $6 por primarismo filos6fico, se poderia consi- doré-la dispensivel, como procedem alguns pensndores que tio conseguiram veneer a esquemitiea Infanti, aderida ainda ao seu pensamento. Eo mais notavel de tudo isso é que tals es pititos julgam que os estudos teoldgicos so revelagdes de ine fantilidade, quando, na verdade, exigem Uma verdadeira vie- ‘t6ria sobre as nossas deficienci Ante a Metafisics, a Teologla 6 um tema de estudo o de iseussio, em vista da’ problematica que oferece Reconheciam Tomas de Aquino e Duns Scot, seguindo agai © eaminho tragado por Avicena, que 6 o ser 0 objecto primeiro do nosso intelecto. Todo conhecimenta implica o sex, porque tudo quanto eonhecemas ¢ de certo modo, € 0 préprio cognos- cente afirma o ser. Mas, se 0 sor 6 0 objecto primeiro de noss0 inteleeto, 6 le eaptvel por nds através da sua heterogeneidade. © bjecto primelro da visio é a cdr, ¢ alcanga assim a tudo quanto é colorido. E assim como tudo quanto & colorido pode ser conheeido pela visdo, e como o intelecto humano é fdequadio ao conheeimento do ser, tude quanto é, € cosvascivel Mas, como hi uma proporgdo entre o cognoscente e eonhecido, © ser, embora cognosefvel, nfo 0 6 em tda a sua plenitude, porate 0 cogmoscente néo poderia eonhecer mais do que Ihe é 0 HOMEM PERANTE 0 INFINITO 1 proporcionado & sua natureza, pois, do contrério, tal conheci- mento viria do nada, B seo homem eonhece além dos seus limi- tes, tal conhecimento the 6 revelado, nfo por le mesmo, mas por outrem, O que ultrapassa ao natural ndo pode ser conhe cido por meios naturais. Tmpde-se que haja um suprimento de saber para saber, um euprimento dado por outrem. Ora, « intelecto humano conhece apenas o que lhe 6 proporcionado. Esto concordes os escoldsticos que 0 homem nfo pode co- nhecer 0 sobrenatural (como, por exemplo, seu destino, seu tim uiltimos em suma, tudo quanto pertence & eseatologia, & eriacao, A inearnatio, nos mistérios, cte.), sem a revelagio divina, Duns Scot nfo exclui, no entanto, do filésofo a capacidade de conhecer, filosificamente, 0 Ser Supremo. I o que mostra- mos em “Filosofia Conereta”. O que éle nega a0 homem nao 6 um conkecimento especulativo-abstracto da natureza divina, ‘mas sim, a visdo beatifica de Deus, a visio directa da Divindade, Estabclece, assim, 2 deficléncia do conhecimento natural que dé a0 homem a sis salvagao. Nos préximos artigos, mos- traremos que todos os séres actuam, dirigindo-se para’ sett bem, O homem tem um conheeimento profundo do seu bem, © 86 poderia desejar aquilo que éle conhece. Os escolisticos tabelecem, no entanto, que o homem no 6 eapaz de conhecer © seu fim tiltimo sem o apoio da revelagho. Nega Duns Scot A filosofin a capacidade de aleancar Oste fim ditimo, funda- mentando-se na obra de Aristételes, Poderiamos, no entanto, contrapor argumentos fundados na prépria obra de Bsiagirits, mes poderemos ir mais distant, na filosofia pitagorica, onde o fim ultimo esta plenamente es- bocada e é aleancado através de uma especulagao, verdade que Pitégoras nfo desconheeia 0 que postula- vam as religides do Egito e dos povos asifticos, e sabia que clas estabeleciam éste fim filtimo, Mas a especulagio filos6 fica, atendo-se apenas ao campo da propria filosofia, permitia aleangizlo de certo modo, Bste ponto de vista & no entanto, rejeitado pelos eseolasticos. A tose filogéfica 6 decomposta em trés momentos expostos por Gilson, fundado em Duns Sot. Bim primeiro lugar, a natureza do homem é naturalmente vel ao homem por nio ser ela desproporcionada & sua lade de conhecer, decorrendo, dai, que, uma vex eonhecida naturvza, 0 sou fim pode ser também conhecido de ma- rir natural

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