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Aluno: Márcio Adriano Prante Data: 17/05/2018

Professora: Jordana Garrido Silva Saba

Assunto: Tensões Residuais

Trabalho apresentado como requisito parcial para


aprovação da disciplina de Perfis Soldados e
Laminados da pós-graduação em Engenharia de
Estruturas Metálicas da UNYLEYA.

As tensões residuais são aquelas existentes no interior de um corpo sólido sem que
sobre ele atuem quaisquer forças externas e/ou gradientes de temperatura. Tais tensões
encontram-se em equilíbrio quando livres de forças externas, ou seja, o somatório das
forças e dos momentos é igual a zero; sendo também auto equilibrantes, de modo que
qualquer perturbação que altere seu estado, como aplicação de carregamentos ou
remoção de parte do material, leva a redistribuição das tensões, de modo a
equilibrarem-se novamente (RODRIGUES, 2007).

Quanto a origem, Carmo (2006, apud SOUZA, 2012) afirma que as tensões residuais
só são geradas mediante a existência de deformações plásticas. Já Fernandes (2002)
complementa, explicando que as tensões residuais aparecem da resposta elástica que
o material apresenta devido a uma distribuição não homogênea de deformações não
elásticas, tais como: deformações plásticas, deformações devidas à expansão térmica,
etc.

Quanto a causa, as tensões residuais podem originar-se por três meios diferentes, que
podem atuar de forma individual ou combinada, a saber (SOUSA, 2012):

a) Carregamentos mecânicos: tração, compressão, torção, jateamento por


partículas solidas, etc.;
b) Transformações metalúrgicas: fundição, forjamento, trefilação, extrusão,
conformação, usinagem, etc.;
c) Efeitos térmicos: têmpera, soldagem, etc.

Embora seja mais fácil perceber tais causas ocorrendo durante o processo de fabricação
de componentes, elas podem ser também observadas durante a construção de uma
estrutura. Suponha uma estrutura metálica executada toda em ligações soldadas, onde
a contração no resfriamento de regiões diferentemente aquecidas e plastificadas pela
operação de soldagem podem levar ao aparecimento de tensões residuais no sistema
estrutural como um todo.
O estado de tensões residuais pode ser observado quando carregamos um material
acima do limite de escoamento. Durante a descarga, este passa a apresentar um
comportamento perfeitamente elástico, redistribuindo as tensões em regime elástico,
desde que a tensão de descarga seja inferior ao dobro do limite de escoamento do
material (ROSA, 2002).

Analisando um material elastoplástico (modelo elástico perfeitamente plástico)


submetido a um ensaio de tração não destrutivo podemos melhor entender tal conceito,
uma vez que permite-nos observar a diferença entre o comportamento elástico e plástico
do material. Quando submetemos o material ao carregamento/alongamento dentro do
limite elástico, ao removermos o carregamento notamos que a descarga ocorre
exatamente sobre a linha de carregamento, retornando o material as mesmas condições
que antecederam o ensaio (Figura 1), contudo, se formos além com o carregamento e
superarmos o limite elástico, as deformações seguem aumentando dentro da zona
plástica, de modo que, ao remover o carregamento, ela não mais retoma a sua forma
original, restando um deformação residual r, conforme representado na Figura 2
(ROSA, 2002; IESB, 2017).

Figura 1 – Carregamento e descarregamento em regime elástico de um material


elastoplástico (PRÓPRIO AUTOR, 2018).

Figura 2 – Carregamento e descarregamento de um material elastoplástico com


deformação plástica (PRÓPRIO AUTOR, 2018).
A deformação plástica representada na Figura 2 indica que, embora a carga que
originou a tensão retornou a zero, uma tensão interna permaneceu, sendo essa a
chamada tensão residual. Esse mesmo efeito pode ser observado em sistemas
estruturais de múltiplos elementos, o qual, após sujeito a alguma ação externa, mesmo
após cessar a perturbação, por alguma razão conserva tensões internas, as quais
podem ser significativas, ao ponto de alterar o comportamento da estrutura, tanto de
forma deletéria quanto benéfica, a depender de sua magnitude, sinal e distribuição (LU,
2005; SANTOS, 2010).

Uma maneira de exemplificar as tensões residuais em sistemas estruturais é por meio


da analogia da barra aquecida (ROCHA, 2009). Considere o sistema representado na
Figura 3a, todo constituído de aço baixo carbono, composto por três barras engastadas
em ambas as extremidades a suportes fixos. Admita agora que a barra central é
aquecida enquanto o restante do sistema permanece a temperatura ambiente, conforme
representado na Figura 3b, de modo que ela tenda a dilatar-se, mas seja restringida
pelas barras adjacentes, fazendo com que estas desenvolvam esforços de tração,
enquanto que a barra central desenvolva tensões de compressão.

Figura 3 – Sistema de três barras de aço baixo carbono (a) submetido a aquecimento
da barra central (b) (SOUSA, 2012).

Se o aquecimento for mantido até gerar uma tensão superior a de escoamento do


material, a barra central passará a deformar-se plasticamente, absorvendo sua dilatação
térmica. Quando o aquecimento é interrompido, o processo de resfriamento submete a
barra central à uma contração, fazendo com que a tensão mude de sinal e diminua de
intensidade até atingir o limite de escoamento sob tração. A partir desse momento a
contração térmica é absorvida por deformação plástica, impedindo que a tensão na
barra ultrapasse o limite de escoamento.
A medida que o sistema aproxima-se da temperatura ambiente, na tentativa da barra
central contrair-se, submeterá as demais barras a tensões residuais compressivas. De
modo que, ao final do processo, a barra central fica submetida a tensões residuais de
tração com magnitude próxima ao limite de escoamento do material, enquanto as barras
das extremidades ficam sujeitas a tensões residuais compressivas para manter o
equilíbrio de forças no sistema.

Em sistemas reais este aquecimento pode ser provocado durante a montagem, em um


processo de solda, por exemplo, ou mesmo, durante a vida útil da estrutura, por algum
equipamento que esteja transferindo calor a ela. Ademais, as tensões residuais podem
ocorrer devido a ações externas, que levem um ou mais elementos a deformarem-se
plasticamente, de modo que, mesmo após remover o carregamento, permaneçam
tensões agindo em equilíbrio na estrutura.

Considere o exemplo da Figura 3, onde um carregamento é aplicado no topo da coluna,


gerando uma tensão de tração no reforço. Admitindo que a tensão que atua no reforço
tenha excedido a tensão de escoamento do material, enquanto mantido o carregamento
(F), o alongamento total será dado pela soma das parcelas elástica () e plástica (r),
contudo, uma vez que seja removido o carregamento, restará uma deformação residual
(r), a qual gera uma tensão residual compressiva do reforço e, submete parte da coluna
a uma tensão residual compressiva e, por consequência, a parte oposta a tensão trativa.

Figura 3 – Sistema estrutural submetido a deformação plástica (PRÓPRIO AUTOR,


2018).

Como dito anteriormente, as tensões residuais podem ter efeito benéfico tanto no
elemento quanto no sistema. Em alguns casos elas são introduzidas propositadamente
nos componentes para melhorar o desempenho da estrutura; sendo que, para tal, os
campos de tensões resultantes devem apresentar um valor máximo ou médio inferior
ao que apresentaria apenas com o carregamento externo (ROCHA, 2009).
Um exemplo do efeito benéfico pode ser observado em um elemento trabalhado a frio
que sofreu tração na sua superfície, resultando em tensões residuais compressivas,
conforme esquema da Figura 4. Neste caso, se a carga de serviço for trativa, será
diminuída das tensões residuais, pois atuam em sentidos opostos (SANTOS, 2010).

Figura 4 - (a) Componente submetido a trabalho a frio, (b) distribuição das tensões
residuais (SANTOS, 2010).

Portanto, o conhecimento prévio acerca das tensões residuais é imprescindível para


garantir a segurança e mesmo na otimização de componentes e sistemas estruturais.
Referências Bibliográficas

FERNANDES, José Luiz. Análise e modelagem de tensões residuais em juntas


soldadas. 2002. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2002.

IESB. Resistência dos materiais II. 2017. 53 f. Apostila (Tópicos avançados de tensão)
- Centro Universitário IESB. Disponível em:
https://iesb.blackboard.com/bbcswebdav/institution/Ead/_disciplinas/EADG272/nova/fil
es/impresso/UIA1.pdf

LU, Jian (Editor). Handbook of Measurements of Residual Stress. Vol. 2. Editora


SEM, 2005. 417 p.

ROCHA, Ricardo Silva. Avaliação do alívio mecânico de tensões residuais devido


a sobrecarga provocada por teste hidrostático. 2009. 87 f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Mecânica) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2009.

RODRIGUES, Leonardo Dantas. Medição de tensões residuais em tubos visando a


determinação de esforços em dutos enterrados. 2007. 155 f. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Mecânica) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Departamento de Engenharia Mecânica, Rio de Janeiro, 2007.

ROSA, Edison da. Análise de resistência mecânica de peças e componentes


estruturais: mecânica da fratura e fadiga. 2002. 407 f. Apostila (Grupo de Análise e
Projeto Mecânico) - Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de
Engenharia Mecânica, 2002. Disponível em:
http://www.joinville.udesc.br/portal/professores/medeiros/materiais/FADIGA.pdf

SANTOS, Camila Zangerolame. Estudo da tensão residual através de difração de


raios x. 2010. 61 f. Monografia (Graduação em Engenharia Mecânica) – Universidade
Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010.

SOUZA, Diogo Antônio de. Determinação de Tensões Residuais em Materiais


Metálicos por meio de Ensaio de Dureza. 2012. 140 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mecânica) – Universidade Federal de São João Del-Rei, São João Del-Rei,
2012.

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