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31 – ITRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

1.1. COMUNICAÇÕES

No sentido elétrico básico, o termo comunicações refere-se a transmissão, recep-


ção e processamento de informações por meios elétricos. Assim, ela se inicia no com o
telégrafo por fio no século 18, desenvolvendo-se com o telefone algumas décadas de-
pois e rádio no início desse século. Comunicação via rádio foi possível devido a inven-
ção da válvula triodo, estimulada enormemente pelos trabalhos durante o fim da Segun-
da Guerra Mundial. Posteriormente ela tornou-se mais largamente usada e aprimorada
através da invenção e uso do transistor, circuito integrado e outros dispositivos semicon-
dutores. Mais recentemente, o uso de satélites e fibras óticas tem feito as comunicações
sempre mais difundidas, com uma grande ênfase sobre computadores e outras comuni-
cações de dados.
Um sistema moderno de comunicação é prioritariamente preocupado com a sele-
ção, processamento e armazenamento da informação antes da transmissão. A transmis-
são atual então segue, com processamento avançado e filtragem de ruído. Finalmente
nós temos a recepção, que pode incluir passos de processamento assim como decodifi-
cação, armazenamento e interpretação. Nesse contexto, formas de comunicação incluem
rádio-telefonia e telegrafia, radiodifusão, comunicações ponto-a-ponto e móveis (comer-
cial e militar), comunicações de dados, radar, radiotelemetria e rádio para auxílio a na-
vegação. Todos esses voltarão a ser tratados nos capítulos seguintes.
Com o objetivo de tornar-se familiar com estes sistemas, é necessário, primeira-
mente, o conhecimento de amplificadores e osciladores, os blocos de construção de to-
dos os processos e equipamentos eletrônicos. Tendo isso como base, os conceitos co-
muns de comunicação tais como o de ruído, modulação e teoria da informação, assim
como os próprios vários sistemas podem ser aproximados. Qualquer ordem lógica pode
ser usada, mas a adotada nesse texto, isto é, a de sistemas básicos, processos e circuitos
de comunicação, e sistemas mais complexos é considerada a mais adequada. Também é
importante considerar os fatores humanos que influenciam um sistema particular, uma
vez que tais fatores sempre afetam seu projeto, planejamento e uso.

1.2. SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

Antes de investigarmos sistemas individuais temos que definir e discutir termos


importantes, tais como informação, mensagem e sinal, canal, ruído e distorção, modu-
lação e demodulação, e, finalmente, codificação e decodificação. Para correlacionar es-
tes conceitos, um diagrama de blocos de um sistema de comunicação geral é mostrado
na figura 1-1.

1.2.1. Informação

Os sistemas de comunicação existem para comunicar uma mensagem. Essa men-


sagem vem da fonte de informação que a origina de forma a selecionar uma mensagem
dentre um grupo de mensagens. Embora isso se aplique mais à telegrafia do que à trans-

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missão de entretenimento, tal sistema pode ser mostrado como aplicável em todas as
formas de sistemas de comunicação. O conjunto, ou número total de mensagens, consis-
te de mensagens individuais que podem ser distinguidas uma das outras. Podem ser pa-
lavras, grupos de palavras, códigos de símbolos ou qualquer outro padrão combinado.

Encoder / Decoder /
Modulação Demodulação
(distorção) (distorção) (distorção)

Fonte de in- Transmissor Canal Receptor Destino


formação

Fonte de
Ruídos

FIGURA 1-1 Diagrama de blocos de um sistema de comunicações.

A própria informação é aquela que é transmitida. A soma de informações contidas


em qualquer mensagem dada é medida em bits ou em dits, os quais são tratados no cap.
13, e dependem do número de escolhas que devem ser feitas. Quanto maior o número
total de seleções possíveis, maior é a quantidade de informação transmitida. Por exem-
plo, para indicar a posição de uma palavra nesta página, pode ser suficiente dizer que
ela está acima ou abaixo, à esquerda ou à direita, duas escolhas consecutivas de uma sa-
ída de duas possibilidades. Se esta palavra deve aparecer em qualquer uma dentre duas
páginas, é necessário então dizer em qual delas está a palavra e, assim, mais informação
deve ser fornecida. O significado da informação não importa, deste ponto de vista; ape-
nas a quantidade é importante. Entretanto, deve ser entendido que nenhuma informação
real é transmitida por uma mensagem redundante (totalmente previsível). Todavia a re-
dundância não é desperdiçável sob todas as condições. Ao lado de seu uso óbvio no en-
tretenimento, ensino e qualquer apelo a emoções ela também ajuda uma mensagem a
permanecer inteligível sob condições difíceis ou ruidosas.

1.2.2. Transmissor

A menos que a mensagem que vem da fonte de informação seja elétrica por natu-
reza, ela será inadequada para envio imediato. Mesmo que um grande trabalho deva ser
feito para tornar tal mensagem adequada. Isso pode ser demonstrado na modulação em
banda lateral simples (SSB – single-sidedband modulation) – a ser tratada no cap. 4 –
na qual é necessário converter o sinal de som de entrada em variações elétricas, para
restringir a faixa de freqüências de áudio e então para comprimir sua faixa de amplitude.
Tudo isso é feito antes da modulação. Na telefonia a fios pode não ser requerido ne-
nhum processamento, mas em comunicações a longas distâncias um transmissor é ne-
cessário para processar, e possivelmente codificar, com a finalidade tornar a informação
na entrada adequada para a transmissão e subseqüente recepção.
Eventualmente, em um transmissor, a informação modula a portadora, i.e., é inse-
rida em uma onda senoidal de alta freqüência. O método atual de modulação varia de
um sistema para outro. Assim a modulação pode ser em alto nível ou em baixo nível, e o

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próprio sistema pode empregar modulação em amplitude (AM), modulação em freqüên-
cia (FM), modulação em pulso ou em alguma variação ou combinação destes, depen-
dendo das necessidades. A figura 1-2 mostra um transmissor de rádio nível alto, modu-
lado em amplitude do tipo que será discutido detalhadamente no cap. 6.

Oscilador a Excitador de Amplificador Amplificador


Cristal RF de RF de saída de po-
tência de RF

Processador Amplificador Amplificador


Entrada de modulação
de potência
(informação)

FIGURA 1-2 Diagrama de blocos de um transmissor típico.

1.2.3. Canal – Ruído

O canal audível (isto é, berros!) não é usado em comunicações a longas distân-


cias, e também não era usado o canal visual até o advento do laser. “Comunicações”,
neste contexto, será restrito canais de rádio, fio e fibra ótica. Bem separadamente, deve
também ser notado que o termo canal é freqüentemente usado para referir-se à faixa de
freqüência alocada para um serviço ou transmissão em particular, tal como um canal de
televisão.
É inevitável que o sinal vá se deteriorar durante o processo de transmissão e re-
cepção como um resultado de uma soma de distorções no sistema, ou porque a introdu-
ção de ruído, o qual é energia indesejada, usualmente de natureza aleatória, presente
em um sistema de transmissão, devido a qualquer causa. Uma vez que o ruído será re-
cebido junto com o sinal, ele obviamente implica em uma limitação ao sistema de trans-
missão, como uma regra. Quando o ruído é forte, ele pode afetar tanto um dado sinal
que o mesmo torna-se impossível de ser reconhecido e, portanto, inútil. Na figura 1-1,
apenas uma fonte de ruído é mostrada, não porque existe apenas uma, mas para simplifi-
car o diagrama de blocos. Ruídos podem interferir com um sinal em qualquer ponto dos
sistemas de comunicações, mas terão seu maior efeito quando o sinal é fraco; isto signi-
fica que ruídos no canal ou na entrada do receptor são os mais perceptíveis. Isso tam-
bém será detalhadamente tratado no cap. 2.

1.2.4. Receptor

Há uma grande variedade de receptores em sistemas de comunicações, uma vez


que a forma de um receptor particular é influenciada por um grande número de requisi-
tos. Entre os mais importantes requisitos estão o sistema de modulação usado, a fre-
qüência de operação e sua faixa e o tipo de exibição requerido, o qual depende do desti-
no da informação recebida. Entretanto, a maioria dos receptores são, de um modo geral,

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do tipo super-heteródino11, como o receptor simples de radiodifusão cujo diagrama de
blocos é mostrado na fig. 1-3.
Receptores cumprem toda a faixa de complexidade desde um receptor de cristal
muito simples, com fones de ouvido, até uma bem mais complexo receptor de radar, no
qual estão envolvidos arranjos de antena e sistemas de exibição visual. Qualquer que
seja o receptor, sua função mais importante é a demodulação (e algumas vezes também
a decodificação). Ambos os processos são reversos ao processo correspondente no trans-
missor (modulação e codificação) e serão discutidos nos capítulos seguintes.
Conforme o que foi dito anteriormente, o propósito de um receptor e a forma de
sua saída influencia sua construção tanto quanto o tipo do sistema de modulação utiliza-
do. Assim, a saída de um receptor pode alimentar de várias formas um alto-falante, um
unidade de exibição de vídeo, um teletipo, vários monitores de radar, o tubo de imagem
de uma televisão, ploter ou computador; em cada exemplo, diferentes arranjos devem
ser feitos, cada um afetando o projeto do receptor. Observe também que o transmissor e
o receptor devem estar de acordo com os métodos de modulação e codificação usados (e
também sincronizados em alguns sistemas).

Estágio de RF

Amplificador Amplificador
Misturador de Freqüência Demodulador de potência de
Intermediária áudio

Oscilador local

FIGURA 1-3 Diagrama de blocos de um receptor super-heterodino AM.

1-3 MODULAÇÃO

1-3.1 Descrição
No processo de modulação, alguma característica de uma onda senoidal de alta fre-
qüência (a portadora) é variada de acordo com o valor instantâneo do sinal (modulan-
te). Assim a onda senoidal pode ser representada pela equação e  E sen(t   ) , onde
e é o valor instantâneo da onda senoidal, chamada de portadora; E é a máxima amplitu-
de,  é a velocidade angular ou freqüência angular, enquanto  é a relação de fase com
alguma referência. Algumas dessas características ou parâmetros, da portadora podem
ser variados por um sinal modulante, produzindo modulação em amplitude, freqüência
ou fase, respectivamente.

1-3.2 Necessidade de Modulação


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Uma contração de “supersonic heterodyne”

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Há duas alternativas para uso de uma portadora modulada para transmissão de
uma mensagem sobre longas distâncias em um canal de rádio: uma pode tentar enviar o
próprio sinal (modulante), ou então usar uma portadora não modulada. A impossibilida-
de de transmitir o próprio sinal será demonstrada primeiramente.
Embora o tópico ainda não tenha sido tratado, várias dificuldades envolvem a
propagação de ondas eletromagnéticas em freqüências correspondentes ao espectro de
áudio, isto é, abaixo de 20 kilohertz (20kHz). A maior delas é que para uma eficiente ra-
diação ou recepção a antena transmissora e receptora deverá ter sua dimensão física
mútipla de um quarto do comprimento de onda (/4) da freqüência usada. Isto é 75 me-
tros para 1 Megahertz, na faixa de radiodifusão, mas para 15 kHz muda para 5000 me-
tros! Uma antena com essa dimensão é impraticável. As informações ocupam uma faixa
de freqüências relativamente ampla, assim uma antena dimensionada para uma freqüên-
cia no início da faixa não teria a mesma eficiência de radiação ao longo dessa faixa.
Para isso, ela teria que variar suas dimensões juntamente com a freqüência do sinal
transmitido. Isso é impossível.
Há ainda um argumento mais importante contra a transmissão de sinal em sua
própria freqüência: todos os sons concentram-se na faixa de 20 Hz a 20 kHz, assim to-
dos sinais de diferentes fontes iriam se misturar de forma inseparável (interferências).
Em uma cidade, uma estação de rádio ocuparia completamente o vazio no “ar”, e, no
entanto ela representa uma proporção muito pequena do número total de transmissores
em uso.
Para separamos os vários sinais, é necessário transladarmos esses sinais para dife-
rentes poções do espectro eletromagnético; cada qual seve ser canalizado. Isso também
superará as dificuldades de baixa radiação para baixas freqüências. Uma vez que a fre-
qüência do sinal foi transladada, um circuito sintonizado é implementado no primeiro
estágio do receptor de rádio para selecionar uma faixa desejada do espectro e todas as
outras não desejadas são rejeitadas. A sintonia desse circuito é feita normalmente variá-
vel e conectada a um controle de sintonia, para que o receptor possa selecionar uma
transmissão desejada dentro de uma faixa predeterminada, assim como a Very High Fre-
quency (VHF) banda de rádio usada por Freqüência Modulada (FM).
Embora essa separação de sinais tenha removido um número de dificuldades en-
contradas na ausência de modulação, o fato que ainda permanece é que portadoras não
moduladas de várias freqüências não podem, por elas mesmas, serem usadas para trans-
mitir informações. Uma portadora não modulada tem uma amplitude máxima constante,
uma freqüência constante e uma fase constante relacionada como alguma referência; de
fato, todos esses parâmetros são constantes. Uma mensagem, entretanto, consiste de
quantidades variáveis: a fala, por exemplo, é formada de variações rápidas e imprevisí-
veis de amplitude (volume) e freqüência. Uma vez que é impossível representar essas
duas variáveis por três parâmetros constantes, uma portadora não modulada não pode
ser usada para transportar informação. Em um sistema de modulação de onda contínuo
(modulação por amplitude ou freqüência, mas não modulação por pulso) um dos parâ-
metros da portadora é variado pela mensagem. Assim em qualquer instante seu desvio
do valor não modulado é proporcional ao valor instantâneo da tensão modulante, e a
taxa na qual esse desvio ocorre é igual à freqüência modulante. Dessa maneira, informa-
ção suficiente sobre a amplitude e a freqüência instantâneas é transmitida para habilitar
o receptor a recriar a mensagem original.

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1-4 LARGURA DE FAIXA REQUERIDA

É razoável esperar que a faixa de freqüência (bandwidth) requerida para uma dada
transmissão deva depender da largura de faixa ocupada pelos próprios sinais de modula-
ção. Por exemplo, observando que um sinal de áudio de alta fidelidade ocupa a faixa de
50 a 15.000 Hz, e uma largura de faixa de 300 a 3400 Hz é adequada para uma conver-
sação em telefone, quando uma portadora for modulada de forma semelhante por cada,
uma maior largura de faixa será requerida para a transmissão em alta fidelidade (hi-fi).
Neste ponto, é válido acrescentar a idéia de que a largura de faixa transmitida não preci-
sa ser exatamente a mesma largura de faixa do sinal original, por razões ligadas às pro-
priedades dos diferentes sistemas de modulação.
Antes de tentar estimar a largura de faixa de uma transmissão modulada, é essen-
cial conhecer a largura de faixa ocupada pelo próprio sinal modulante. Se ele consiste
de um sinal senoidal, não há problema, e a largura de faixa ocupada será simplesmente a
faixa da freqüência entre o mínimo e o máximo sinal de onda senoidal. Entretanto, se os
sinais modulantes não são senoidais, ocorre uma situação muito mais complexa. Um vez
que ondas não senoidais ocorrem freqüentemente como sinais modulantes em comuni-
cações, seus requisitos serão agora investigados.

1-4.1 Espectro de freqüência de sinais não senoidais

Se alguma onda não senoidal, tal como ondas quadradas, estão para ser transmiti-
das por um sistema de comunicação, então é importante entender que tal onda pode ser
decomposta em suas componentes de ondas senoidais. A largura de faixa requerida será
então consideravelmente maior do que poderia ser esperado apenas se a taxa de repeti-
ção de tal onda tenha sido levada em conta. Segue-se um relato mais formal.
Pode ser mostrado que qualquer forma de onda não senoidal repetitiva de valor
simples consiste de senóides e/ou cossenóides. A freqüência da freqüência mínima, ou
fundamental, da onda senoidal é igual à taxa de repetição da forma de onda não senoi-
dal, e todas as outras são harmônicos da fundamental. Existem um número infinito de
tais harmônicos. Assim, alguma onda não senoidal repetindo-se a uma taxa de 200 ve-
zes por segundo consistirá de uma onda senoidal fundamental de 200 Hz, e hamônicos
em 400, 600 e 800 Hz, e assim em diante. Nenhuma outra freqüência estará presente,
mas para algumas formas de onda apenas os harmônicos pares (ou talvez apenas os ím-
pares) estarão presentes. Como uma regra geral, pode-se adicionar que quanto mais alta
a ordem do harmônico menor é sua amplitude relativa, de forma que em cálculos da lar-
gura de faixa os harmônicos mais altos são ignorados.
O relato anterior pode ser verificado de três modos diferentes. Pode ser provado
matematicamente por um processo chamado de análise de Fourrier. Síntese gráfica pode
ser usada, no caso adicionando as componentes de onda senoidais apropriadas, tiradas
de uma fórmula derivada pela análise de Fourrier, demonstrando a validade do relato.
Uma vantagem adicional deste método é que ele nos possibilita ver o efeito da ausência
de algumas componentes (harmônicos de ordem mais alta) na forma de onda total.
Finalmente, a presença das ondas senoidais componentes nas proporções corretas
pode ser demonstrada com um analisador de ondas, o qual é basicamente um amplifica-

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dor sintonizável de alto ganho com uma banda de passagem estreita, habilitando-o a sin-
tonizar em cada onda componente senoidal e medir sua amplitude. Algumas fórmulas
para ondas não senoidais encontradas freqüentemente são dadas abaixo, e outras mais
podem ser encontradas em handbooks. Se a amplitude da onda não senoidal é A e sua
taxa de repetição é /2 por segundo, então ela pode ser representada como a seguir:

Onda quadrada:
4A
e (cost  1 cos 3t  1 cos 5t  1 cos 7t  ...)
 3 5 7

Onda triangular:
4A
e  2 (cos t  1 cos 3t  1 cos 5t  ...)
 9 25

Onda dente-de-serra:
2A
e ( sint  1 sin 2t  1 sin3t  1 sint  ...)
 2 3 4
Em cada caso vários harmônicos serão necessários, em adição à freqüência funda-
mental, se a onda for representada adequadamente (com baixa distorção aceitável). Isto,
é claro, gerará um aumento na largura de faixa requerida.

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