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Recife, 2017.
Um breve panorama da antropologia contemporânea
Vejo a questão citada por Gueertz de "ser aceito" como importante para
antropólogos em formação, como a autora desse trabalho, por exemplo. Por
mais que nos informemos com materiais dos nossos predecessores e relatos
de nossos professores, o campo revela a nós um tipo de relação entre
informante-pesquisador que é sempre nova e que algumas delas não podemos
controlar. Estar no campo nos permite aprender alguma coisa. Por vezes não
somos bem vindos, outras nos questionamos se estamos nos envolvendo
demais, afinal, qual é o limite? Até onde podemos ir? Lembro de uma amiga
que escutou de um informante: não vou falar com você, pois sua pesquisa não
vai dar em nada. Isso em um contexto de remoção forçada por conta de obras
de grande impacto. Os grupos que estudamos por vezes nos cobram e exigem
posturas nossas como pesquisadoras e também como não pesquisadoras,
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como pessoas que somos, e somos recebidas em suas comunidades e suas
casas. Manter-nos alheios a sermos aceitos ou não, como parece sugerir
Gueertz, não é uma tarefa fácil para quem está começando, mas podemos
tentar.
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aspectos tradicionais e modernos das sociedades, ou a distinção do antigo do
novo, pois a maioria das pessoas participa de ambas as culturas.
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que as teorias são feitas para depois adaptarmos a vida real a elas. Seria então
o campo um campo de ensaio empírico para uma teoria abstrata?
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masculino-feminino para produzir uma série de afirmações não dicotômicas e
exemplificar essas questões:
Fredrik Barth (2000) foi moldado pelo campo, como ele diz na sua
entrevista: "minha orientação tem sido ver o mundo e tentar entendê-lo" (202).
Cita que nunca buscou uma teoria que pudesse aplicar, procura toda teoria que
consegue para explicar o local de estudo. Para ele, a afirmação que a realidade
é socialmente construída não resolve de como e onde surgem os padrões
culturais. Nas sociedades, poderíamos perder horas tentando buscar a
premissa lógica subjacentes aos padrões que encontramos. Barth aconselha a
procurar insights no campo mais amplo e aberto dos processos sociais. Para
ele, é melhor nos perguntarmos "de que" os padrões específicos que
observamos são evidências. Devemos nos perguntar "que tipo" de consistência
encontramos em cada padrão específico, e "por que" essa forma se
desenvolveu justamente aí (126).
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modelo de produção da cultura uma visão dinâmica da experiência como
resultado da interpretação de eventos por indivíduos, bem como uma visão
dinâmica da criatividade como resultado da luta dos atores para vencer a
resistência do mundo.
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Os normais atribuem aos estigmatizados uma natureza que não é
completamente humana, acometendo a eles diversos tipos de preconceito e
termos ou metáforas pejorativas. Já os estigmatizados percebem sua condição
através dos olhares e tratamentos dos normais. Isso me lembra a minha Avó
Solange, 76 anos, a qual devo minha criação e cujas limitações físicas da idade
eu acompanho diariamente (inclusive a chegada das importunas artroses).
Certo dia, perguntei, a respeito de um trabalho sobre o corpo na velhice, se ela
sentia diferença entre o seu corpo atual e o seu corpo anos atrás. Convicta, ela
me respondeu que não, que não sente nenhuma dificuldade em fazer suas
atividades diárias, as mesmas há anos, me mostrando que na realidade ela é
velha através dos meus olhos, ou seja, dos olhos dos outros.
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estigma, mas sem poder desfrutar da auto-exultação que é a defesa comum
frente a tal tratamento (GOFFMAN, 1975, p.30).
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Bibliografia
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