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Acadêmicas (o): Bibiana Irala Gomes; Lucas Fabiano Machado Medina; Mariane Azambuja
Mello
Disciplina: Relações Internacionais do Oriente Médio
Professor: Dr. Igor Castellano da Silva
Resumo
Com base nas leituras básicas e complementares da disciplina, bem como as leituras
sugeridas para o desenvolvimento dos trabalhos ao longo do semestre letivo, este estudo
orienta-se em descrever e analisar os processos de formação do Estado da Arábia Saudita, suas
dinâmicas econômicas, sociais, políticas e securitárias nos períodos da Guerra Fria e do
pós-Guerra Fria.
Palavras-chave: Arábia Saudita; Guerra Fria; Pós-Guerra Fria.
INTRODUÇÃO
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Assim como a Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Omã, Irã e Iraque também
pertencem ao subcomplexo regional do Golfo.
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O Oriente Médio pode ser classificado como a área que cobre a região que se estende do Marrocos ao Irã,
incluindo todos os Estados árabes mais Israel e Irã.
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FORMAÇÃO DO ESTADO
O Estado Saudita como é conhecido atualmente teve origem a partir do século XVII com
a origem do Wahabismo e alianças formadas, por mais que a região esteja associada com o
surgimento do Islã no século VII. A saber, o Islã apesar de ser o papel unificador dos povos
árabes, também era o responsável por grande parte de conflitos, não só religiosos, mas também
políticos e sociais. Assim, com o enfraquecimento do Islã, têm-se o surgimento de movimentos
fundamentalistas religiosos, como o Wahabismo, que buscava uma purificação da região.
O Wahabismo surge como uma religião que buscava a purificação do islã, ou seja, um
retorno ao verdadeiro islã. No entanto, o wahabismo acabou modificando de forma extremista e
totalmente inflexível a Sharia4, o que acabou atraindo uma oposição e reações de diversos
grupos. Desta forma, o fundador da religião, al-Wahhab acaba buscando refúgio e alianças,
principalmente.
Com a hostilidade ao wahabismo, al-Wahhab se une ao Emir da cidade de al-Diryia,
ibn-Saud. O governante da cidade ao oferecer proteção ao religioso, acabou criando um vínculo,
muito presente na atual configuração da Arábia Saudita, e muito necessário na época para
unificação da região: legitimidade religiosa à monarquia dos Saud e apoio estatal ao wahabismo.
Logo, no período entre 1745 e 1818, esta união, entre a cidade de al-Diryia e a religão de
al-Wahhab, se expandiu formando a Arábia, um “Reino do Deserto”.
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Senso 2014.
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Sharia é um conjunto de leis islâmicas que são baseadas no Alcorão, responsáveis por fundamentar regras de
comportamento e conduta.
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A expansão do reino ocorreu de forma rápida, o que acabou atraindo atenção dos
vizinhos, principalmente do Império Otomano, que via na região uma potencial ameaça regional.
Assim, em 1818, o Egito combate as tropas sauditas na fronteira e invade a região, mantendo-se
na região até o final do século XIX. Quando os egípcios saíram da região e deixaram de exercer
controle político, a Arábia estava enfraquecida e bastante fragmentada. Somente na 1ª Guerra
Mundial a Arábia Saudita conseguiu se reerguer, com a ajuda da Grã-Bretanha e França, que
lutavam contra o Império Otomano na guerra. Embora a família Hussein fosse o governante de
Hejaz e obtivesse grande êxito na luta contra os otomanos, a Grã-Bretanha apoiou o retorno de
Saud de seu exílio no Kuwait e governante da região de Nejd, isolando Hussein
diplomaticamente. Este apoio à Saud ao invés do apoio ao Hussein, pode ter ocorrido devido a
legitimidade religiosa do governo de Saud.
Logo, com o retorno de Saud como governante das duas regiões, Hejaz e Nejd, e o apoio
religioso de al-Wahhab, houve a unificação da região e em 1932, declara-se a criação do reino da
Arábia Saudita. Porém, o nascimento do Estado foi bastante conturbado financeiramente,
principalmente pela crise de 1929, que teve efeito mundialmente. Segundo Wynbrandt (2010, p.
187, tradução nossa):
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Texto Original: “At the kingdom’s birth, Saudi Arabia’s situation and prospects were bleak. The new state was in
debt, payments to creditors had ceased, and further loans were unobtainable. Additionally, the worldwide
depression reduced pilgrimage revenues, its main source of income. Whereas 129,000 pilgrims made the hajj in
1926, the number had fallen to 29,000 in 1932 and 20,000 the following year. Many state employees had not been
paid in months, and a border dispute with Yemen was blistering into warfare”.
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legitimidade religiosa e grande apoio externo, sendo um dos principais parceiros dos Estados
Unidos na região.
POLÍTICA E SEGURANÇA
aliança com os EUA para fazer o ocidente pressionar Israel a negociar, com o estranho lema de
"Sim ao Ocidente, não a Israel".
É importante ressaltar a participação saudita nos conflitos do Irã-Iraque, financiando este
último por considera-lo um mal menor ao regime, temendo que a mobilização xiita iraniana
chegasse ao seu território. O país também se envolve na Guerra do Afeganistão, apoiando a
aliança com os EUA, contra o governo comunista que lutava ao lado da URSS. Uma estratégia
comum saudita era o armamento de grupos islâmicos irregulares oposicionistas a governos não
aliados, como a Irmandade Muçulmana.
Na década de 90, seguindo uma ordem cronológica dos fatos, é importante ressaltar os
impactos da invasão do Kuwait para a Arábia Saudita. Tal invasão trouxe preocupações sobre as
intenções do Iraque sobre a Arábia Saudita, pois embora o reino tivesse um gasto
significativamente grande em defesa, não era capaz de garantir a segurança do território, e temia
ser invadido, como aconteceu com o Kuwait. Logo após a declaração dos Estados Unidos de que
a invasão não se manteria, a Arábia Saudita pediu formalmente por assistência militar
estadunidense para defender o reino de uma possível invasão iraquiana. Segundo Wynbrandt
(2010, p. 256), este pedido de proteção gerou muita polêmica entre os sauditas, primeiro pela
permissão de um governo de fora do reino estar controlando o território saudita; segundo, pela
questão dos enormes gastos em equipamentos militares não terem sido suficientes para própria
proteção e, por último, os religiosos não aceitavam “infiéis” protegendo a casa do Islã.
Outro fator que aumentou o debate interno, foi a admissão de muitos jornalistas
estrangeiros no reino para cobrir a Crise do Golfo. Esta abertura e exposição à influências
externas foram responsáveis por protestos de liberais e religiosos que apresentaram petições
exigindo uma transformação das regras do reino, sendo que a maioria pedia que o Estado fosse
mais fundamentalmente islâmico, promovendo um fim dos valores ocidentais que estavam
tomando conta através da mídia e a presença das tropas estadunidenses. Assim, a vulnerabilidade
do Estado levou o governo a fazer algumas reformas políticas internas.
Para explicar a importância dos ataques de 11 de setembro de 2001, deve-se primeiro
entender alguns fatos da década de 90. A saber, Osama bin Laden era cidadão saudita e devido
suas tendências extremistas, deixou o reino em 1991, quando se estabeleceu no Sudão e começou
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ECONOMIA E SOCIEDADE
via nos investimentos em educação um forte obstáculo para a manutenção de poder (BOWEN,
2008, p. 108).
Contudo, é na década de 1960, a partir do reinado de Faisal que as políticas de
investimento e modernização doméstica avançam de forma mais incisiva, caracterizando o ponto
chave de seu governo a alocação das receitas nacionais obtidas através do petróleo e a
transformação dessas receitas em melhorias nos serviços públicos. Cerca de 10% da receita
nacional era investida em educação, já os investimentos em defesa, aos quais careciam de
modernização e maior escopo, caracterizavam 40% das receitas. A proteção das regiões
petrolíferas no país era fortemente ligada aos investimentos do Ministério da Defesa a partir da
compra de sistemas de defesa aérea dos Estados Unidos, criando um estilo ocidentalizado do
setor (BOWEN, 2008, p. 109).
Para a Arábia Saudita, o papel dos Estados Unidos na região era visto de forma ambígua,
uma vez que representava o maior parceiro econômico do país e, em contrapartida, um aliado de
Israel, país ao qual o governo saudita era fortemente contrário. É, portanto, a partir da criação da
OPEC (Organization of Petroleum Exporting States), formada por Arábia Saudita, Kuwait, Irã,
Iraque e Venezuela, que os Estados visualizam o petróleo como arma política. Os investimentos
estadunidenses em Israel descontentavam Faisal que, em 1967, define um embargo aos Estado
Unidos, apoiado em 1973 pelos demais Estados da OPEC. Neste período, presencia-se o preço
da gasolina atingindo o dobro e, posteriormente, o triplo de seu valor, onde também o barril de
petróleo alcançou 11 dólares. Devido a isso, aumentou-se elevadamente as receitas de petróleo
da Arábia Saudita (BOWEN, 2008, p. 116).
Na década de 1980, devido aos conflitos da década anterior, houve um aumento da
produção de petróleo, uma vez que era necessário custear esses conflitos. Contudo, este aumento
de produção foi acompanhado de uma queda nos preços dos barris, despencando de 30 dólares
para 15 dólares, o que gerou certo descontentamento quanto aos objetivos sauditas e, portanto,
diminuindo as receitas esperadas no período final da Guerra Fria.
A sociedade saudita entrou na chamada “Era das Petições” no pós-Guerra Fria. Propostas
de todos os lados do espectro político reclamavam reformas e eram apresentadas aos governantes
oficiais regularmente. A permanência de bases estadunidenses na Arábia Saudita, assim como a
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invasão das mídias ocidentais durante e após a Guerra do Golfo fez com que fundamentalistas
religiosos condenassem a entrada dos “valores ocidentais” no país, apresentando a chamada
“Lista de Demandas” que mais tarde foi expandida no “Memorando de Conselhos”. Tais
demandas consistiam, entre outras coisas, na observância estrita da Sharia Law, mais espaço para
os ulamas nas agências governamentais e criação de uma política externa islâmica, como fim do
auxílio financeiro a qualquer governo não muçulmano. (WYNBRADT, 2010) Por outro lado, um
grupo secular de oposição liberal, que incluía membros da burocracia, empresários e acadêmicos,
apresentou uma petição exigindo o estabelecimento de um conselho consultivo, a restauração dos
conselhos municipais, a modernização do sistema judicial, igualdade para todos os cidadãos,
liberdade de imprensa e um maior papel para as mulheres na vida pública saudita. (ibidem)
A vulnerabilidade do governo aumentou com a intensificação das oposições internas e o
rei Fadh foi obrigado a promover algumas mudanças, anunciando em 1992 três grandes
reformas. A primeira foi a Lei Básica do Governo, que reafirmava os princípios religiosos sob os
quais o reino foi construído, enfatizando a Arábia Saudita como uma monarquia islâmica com
autoridade restrita à família real; também criava o Conselho Consultivo, prometido desde os anos
1980 após as manifestações na Província Oriental e a captura da Grande Mesquita e até então
nunca implementada. A segunda foi a Lei do Conselho Consultivo, definindo as regras e a área
de atuação do conselho, composto por 60 membros (todos homens com mais de 30 anos)
escolhidos pelo rei que interpretariam a lei e examinariam os relatórios feitos por ministros e
agentes do governo, mas com um papel puramente consultivo sem nenhum poder legislativo. A
terceira foi a Lei das Províncias, que procurava corrigir a falta de controle sobre as
administrações regionais, colocando as 13 províncias sob o controle de governadores e
subdivididas em distritos. (ibidem)
A oposição foi duramente perseguida, com a criação de postos de controle em diversos
pontos da cidade e presença policial ostensiva. O alvo principal era a oposição fundamentalista
islâmica, que o regime considerava como sua principal ameaça interna. Ataques terroristas
internos se disseminaram e em 1995 instalações militares estadunidenses foram atacadas com
bombas. Muitos grupos de oposição foram para outros países, mantendo-se ativos nas mídias
sociais, como o Movimento para o Retorno Islâmico na Arábia (MIRA). (ibidem)
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A Arábia Saudita entrou o novo milênio com a economia estagnada e a taxa de natalidade
ascendente. A volatilidade dos preços do petróleo exigia a diversificação econômica do país, que
já contava com 30% da população com menos de 25 anos desempregada (faixa etária que
constituía 70% da população saudita). Investir em infraestrutura e em educação para criar
oportunidade de emprego para essa grande população jovem era imprescindível e, junto com
outros países do golfo, tal investimento chegou à 1 trilhão de dólares em projetos como a
dessalinização da água, universidades, hospitais, novos portos, etc. (KHANNA, 2008).
Procuraram explorar o grande potencial para a extração de gás natural com acordos comerciais
com companhias de energia chinesas e britânicas, já que tanto a Europa quanto a China se
introduziram no golfo por meio de acordos de investimento e mercados de energia (ibidem). O
reino estabeleceu Cidades Econômicas para facilitar o investimento externo e criar empregos,
desenvolvendo a indústria interna. Houve também algumas ondas de privatizações, com a venda
de parte da Saudi Telecom em 2002 e da Saudi Arabia Airlines em 2008. Ainda sim, o
crescimento econômico tem ficado abaixo do crescimento populacional, causando previsões de
instabilidade para o futuro. Em 2005 o reino entra na OMC, adaptando sua política comercial em
algumas questões, como na diminuição de tarifas e subsídios, mas não outras, como o embargo
comercial à Israel ou questões relacionadas aos direitos humanos. (WYNBRANDT, 2010)
O papel das mulheres na vida pública saudita é bastante restrito, mas tem mostrado
avanços. Ela tem direito à propriedade e ao apoio financeiro de seus maridos, mas não são vistas
como iguais aos homens perante a lei: as filhas recebem metade da herança dada aos filhos, o
testemunho de um homem equivale ao de duas mulheres, não podem receber tratamento médico
ou viajar sem a permissão masculina, não podem dirigir e perdem automaticamente a guarda de
seus filhos em caso de divórcio. (ibidem) Apesar disso, em 2009, Al Faiz foi apontada como a
primeira mulher em um cargo governamental. A participação dela foi fundamental para a
inclusão de mulheres nas duas últimas olimpíadas. Em 2005 foram estabelecidas eleições
municipais, mas elas ainda não puderam votar. As mulheres ganharam direito ao voto e a
candidatura nas eleições municipais de 2015 e pelo menos vinte delas foram eleitas para os
conselhos municipais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOWEN, Wayne H. The History of Saudi Arabia. Ed. Londres: Greenwood Press, 1968.
WYNBRANDT, James. A Brief History of Saudi Arabia. 2ª ed. New York: 2010.
KHANNA, Parag. O Segundo Mundo: Impérios E Influência Na Nova Ordem Global. Rio
de Janeiro: Intrínseca, 2008.
G1, Arábia Saudita elege candidatas em primeira eleição aberta às mulheres. Disponível
em:<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/12/arabia-saudita-elege-candidata-em-primeira-ele
icao-aberta-mulheres.html>. Acesso em: 05/10/2016.