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Wagner Francesco

Advocacia e Consultoria Jurídica

ILUSTRÍSSIMO(a) SENHOR(a) CHEFE DE GABINETE DA AGERBA - AGÊNCIA ESTADUAL


DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ENERGIA, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES DA BAHIA.

REINALDO DA SILVA ALVES, casado, taxista, CPF n. 596.922.355-72,


Carteira Nacional de Habilitação n. 04799577486, residente e domiciliado na
Fazenda Fortaleza, 140, Santa Rosa, no município de Conceição do Bahia/Ba,
CEP 48730-000, por meio de seu advogado abaixo assinado, vem perante
Vossa Excelência, com fulcro no artigo 45 da Lei Estadual n. 11.378/2009,
apresentar DEFESA ADMINISTRATIVA em face do Auto de Infração n. 063898
requerendo o cancelamento do referido Auto pelos motivos abaixo expostos.

I - DA TEMPESTIVIDADE

Conforme o artigo 45 da Lei Estadual 11.378/2009, o prazo para


apresentar a Defesa Administrativa em razão de autuação de trânsito é de 15
(quinze) dias a partir do recebimento da notificação. Deste modo, recebida a
notificação no dia 17/05/2018, deve a presente Defesa ser recebida diante do
preenchimento do critério da tempestividade.

II - DOS FATOS

O proprietário do veículo WM/Polo MF, ano de fabricação 2018, Placa


PKW 6468, permissionário do sistema de transporte no Município de Conceição
do Coité, através do Alvará n. 0410/2011, categoria aluguel, modalidade táxi,
tendo o seu Alvará renovado em 2018 (documento anexo), prestando serviço a
tal município, em cumprimento ao Termo de Adesão ao Credenciamento n. 55-
2018 (documento anexo), Cláusula Sexta, Item 1, Lote 3, que versa sobre a
Prestação de Serviços de Táxi para uso intermunicipal, com percurso superior a
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07 (sete) Km, se deslocava para o município de Serrinha/Ba, com destino à


Clínica de Nefrologia de Serrinha (CNS), transportando 03 (três) passageiros
para o tratamento semanal de hemodiálise, conforme declaração em anexo.

Ocorre que, durante o trajeto, no dia 17/05/2018 às 10h30, o motorista do


veículo fora parado e autuado pela suposta infração prevista no artigo 40, caput,
da Lei Estadual 11.378/2009, qual seja, prestar serviço de transporte rodoviário
intermunicipal de passageiros no Estado da Bahia em linhas não abrangidas pelo
objeto da concessão ou permissão. Segundo o Auto de Infração ora combatido,
o motorista, em que pese estar trabalhando para a prefeitura municipal de
Conceição do Coité, não apresentou licença da AGERBA para a prestação de
serviço.

Não merece prosperar os argumentos constantes no Auto de Infração


pelas seguintes razões.

III - DO DIREITO

III.1 – DA REGULARIDADE PARA ATUAR COMO TAXISTA. DA BOA


FÉ NA PRESTAÇÃO CONTRATUAL COM O PODER PÚBLICO MUNICIPAL.

O motorista autuado, taxista, está regularizado para exercer a profissão


de taxista, conforme Declaração, em anexo, assinada pelo chefe do DEOTRAN
de Conceição do Coité. A permissão para atuar como taxista ocorreu por meio
do alvará n. 0410/2011 e renovado pelo Alvará n. 4501/2018.

Estando com a sua permissão regularizada, o proprietário do automóvel


firmou Termo de Adesão – n. 55.2018 - com o Município de Conceição de Coité
que o autoriza a prestar o serviço de táxi para atender este município.

Este Termo, em suas cláusulas primeira e segunda, diz que

1.1 – O objeto do presente termo de Credenciamento é o


credenciamento de pessoa jurídica para a prestação de Serviço de
Táxi, para atender às necessidades da Prefeitura Municipal de
Conceição do Coité/Ba. [...] 2.1 – A prestação dos serviços será
executada conforme requisição emitida pelas Secretarias Municipais e
autorizadas pelo Setor de Compras. Os credenciados prestarão os
serviços de táxi com veículo próprio, com no máximo 05 anos de
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fabricação, 04 portas, com capacidade para no máximo 07 (sete)


pessoas, em perfeitas condições de segurança e manutenção, de
acordo com as formas vigentes no DETRAN, segundo as disposições
constantes deste Edital e do Termo de Credenciamento.

Ainda mais, do exposto na cláusula sexta,

O taxista credenciado receberá pelos serviços citados na Cláusula


Primeira, as importâncias relacionadas para cada fornecimento,
custando, por Km rodado, quando a prestação de serviço de táxi para
uso intermunicipal com percurso superior a 07 (sete) km o valor de R$
1,10 (um real e 10 centavos) por km.

Desta maneira, há que se reconhecer que o motorista autuado estava


cumprindo um contrato com o poder público municipal, agindo de boa fé e
amparado pela lei.

III. 2 – DA NATUREZA JURÍDICA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE


TÁXI. DA DESNECESSIDADE DA LICENÇA DA AGERBA. DA NÃO
EXISTÊNCIA DO TRANSPORTE ILEGAL DE PASSAGEIRO. DA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL.

Ainda que regularizado para o exercício da profissão de taxista e munido


de contrato de prestação de serviço com o poder público municipal, o motorista
foi autuado pela suposta prática de prestação de serviço de transporte rodoviário
intermunicipal. Entretanto, há que se falar acerca da natureza jurídica da
prestação de serviço de táxi.

O serviço de táxi não se confunde com o serviço de transporte de


passageiro previsto no artigo 40, Caput, da lei 11.378/2009. Vejamos:

O artigo 40 da Lei Estadual nº. 11.378/2009 traz expressamente que:

A prestação do serviço de transporte rodoviário intermunicipal de


passageiros no Estado da Bahia em linhas não abrangidas pelo objeto
da concessão ou permissão acarretará a incidência de:

II - Penalidades cumulativas:

a) multa no valor equivalente, em reais, a 20.000 (vinte mil) vezes


o valor absoluto do coeficiente tarifário quilométrico (R$/km) vigente
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para o veículo tipo ônibus rodoviário convencional, ou majoração em


100% (cem por cento) da penalidade imediatamente anterior, se
reincidente num prazo de 12 (doze) meses;

b) apreensão do veículo por um período de 10 (dez) a 90 (noventa)


dias.

Para melhor esclarecer a diferença entre Serviço de Táxi e Transporte


Rodoviário Intermunicipal, é importante esclarecer o que significa este segundo.
Sobre a sua definição, o artigo 4º da Lei 11.378/2009 define que

O Sistema de Transporte Rodoviário Intermunicipal de


Passageiros do Estado da Bahia - SRI - compreende os serviços de
transporte realizados entre os pontos terminais, considerados
início e fim, transpondo limites de um ou mais municípios, com
itinerários, seções, tarifas e horários definidos, realizados por
estradas federais, estaduais ou municipais, abrangendo o transporte
de passageiros, suas bagagens e encomendas de terceiros.

Ora, para que haja efetivamente o Transporte Rodoviário Intermunicipal


há que ter presente (1) o serviço de realizado entre os pontos terminais, (2) a
existência de itinerários, seções, tarifas e horários definidos.

Difere totalmente o serviço de táxi.

Conforme o desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia, Dr. Salomão


Resedá, na Apelação 0000593-20.2012.8.05.0155, os serviços de táxi prestados
não se submetem à fiscalização da AGERBA. Segundo o Desembargador
citado,

o serviço de táxi que transponha os limites municipais não se amolda


ao conceito de serviço especial de transporte intermunicipal,
entendendo o Superior Tribunal de Justiça que é indevida a
fiscalização da autarquia sobre serviços realizados por taxistas.

A jurisprudência de nosso país é unânime no sentido de que é ilegal a


proibição de táxis transporem o limite do município que expediu o alvará
autorizando o serviço. Senão vejamos:
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AÇÃO DECLARATÓRIA – TRANSPORTE INTERMUNICIPAL DE


PASSAGEIROS REALIZADO POR TAXISTAS – VEDAÇÃO LEGAL –
INEXISTÊNCIA – SENTENÇA CONFIRMADA.

Inexiste norma legal que proíba, ao motorista de táxi habilitado e


regularmente licenciado, o exercício do transporte intermunicipal
de passageiros, desde que obedeça às normas de trânsito e
segurança pertinentes.

(TJ-MG – AC: 10024121659460001 MG, Relator: Kildare Carvalho.


Data do Julgamento: 20/06/2013. Câmaras Cíveis / 3ª Câmara Cível.
Data da Publicação: 28/06/2013)

No mesmo sentido,

TRANSPORTE INTERMUNICIPAL DE PASSSAGEIROS – TAXISTA


– DESNECESSIDADE – LICENÇA CONCEDIDA PELO MUNICÍPIO –
COMPROVAÇÃO – FISCALIZAÇÃO – POSSIBILIDADE.

O transporte intermunicipal provido de taxímetro e devidamente


autorizado pelo poder público municipal não será considerado
clandestino, desde que o retorno ao município de origem da
autorização seja realizado com o mesmo passageiro do trajeto de
ida ou com o veículo vazio.

(TJ-MG – AI: 10000170517001 MG. Relator: Gilson Soares Lemes.


Data de Julgamento: 25/10/2017. Câmaras Cíveis / 8ª Câmara Cível.
Data da Publicação: 31/10/2017)

No caso em tela, conforme já demonstrado, o condutor taxista tem o seu


alvará 2018 regular, expedido pelo município, não infringiu nenhuma norma de
trânsito e de segurança e, mais ainda, está munido de um contrato de prestação
de serviço firmado com o município expedidor do alvará de licença para o
exercício da profissão de taxista. Assim, vislumbra-se um ataque ao direito
líquido e certo do condutor taxista a presente autuação, pois, conforme já
definido pelo Tribunal de Justiça da Bahia:

O veículo licenciado na modalidade táxi está apto a ser empregado no


transporte de passageiros, tanto nos limites do município de seu
registro, como para outras localidades, não se caracterizando este
serviço como o de transporte coletivo intermunicipal.
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(0002146-26.2009.8.05.0182. Relator (a): Augusto de Lima Bispo,


Primeira Câmara Cível, Publicado em: 24/11/2016).

É importante salientar que o condutor taxista estava executando um


serviço público de enorme relevância e importância social, qual seja, o transporte
de passageiros carentes para uma Clínica de Hemodiálise. É do conhecimento
de todos a crise em que todos os municípios brasileiros passam e a carência de
transporte suficiente para atender toda a demanda de pessoas que precisam se
deslocar de sua cidade para outra em busca de tratamento do câncer e
hemodiálise.

Sem convênios com táxis para estes serviços, centenas de pessoas


ficarão impossibilitadas de serem tratadas adequadamente – e, por esta razão,
o poder legislativo, conhecedor das limitações municipais, não pôs obstáculos
aos taxistas, os impedindo de prestarem este serviço de transporte.

IV – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer

1. seja julgando improcedente o Auto de Infração nº. 063898; e


2. não sejam aplicadas as consequentes penalidades previstas no artigo
40, II, e 40, III da lei 11.378, pois descabidas e desproporcionais.

Termos em que pede deferimento,

Wagner Francesco
OAB/BA 58.110

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