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A obra que será tratada intitulada “O conquistador” foi escrito por Federico

Andahazi. Publicado no Brasil, pela editora Planeta do Brasil em 2007. Classificado como
Ficção Argentina. Federico Andahazi é um escritor argentino, nascido em Buenos Aires
em 6 de junho de 1963. Escritor do best-seller, o anatomista. Faz parte da escola literária
de pós-modernismo.

O livro tem um foco narrativo e descritivo muito grande, o que nos leva a perceber
muitos detalhes da vida das populações em suas 262 páginas. Se divide em 3 seções, a
primeira com 25 capítulos, a segunda não tendo capítulos e sim se dividindo em um
conjunto de cartas, e a terceira contendo 28 capítulos.

O livro trata da história de Quetza, um menino que quando jovem estava destinado
a ser entregue em sacrifício a um dos deuses do povo Mexica. Mas, é salvo por um sábio
chamado Tepec e por ele adotado. Acompanhando o crescimento do garoto, suas
descobertas, sua entrada no Calméac (escola para filhos da nobreza), seu amor pelo mar,
e suas aventuras nele, o autor nos descreve com uma riqueza os detalhes da sociedade, da
vida cotidiana com muita clareza e sem se desviar da história, o que muitas vezes me
levou a questionar até onde era literatura e onde era história.

O livro começa com um ritual de sacrifício em Tenochtitlan, no qual o autor irá


não só descrever os eventos ali passados, mas ir além e começar a nos introduzir nas
formas de viver e pensar do povo Mexica, descendente dos Toltecas. Nesse ritual quem
está prestes a ser sacrificado pelo sacerdote Tapazolli é Quetza, um menino pequeno e
doente de apenas dois anos de idade. Ali assistindo está um velho sábio Tepec, que não
concorda em nada com os sacrifícios feitos em sua cidade e resolve interceder pelo garoto.
O governante Axayácatl acata o seu pedido, mas lhe diz que como Quetza é órfão, agora
ele tem a responsabilidade de cuidar do garoto.

Tepec então tem como primeira missão não deixar o garoto morrer da doença que
o aflige, tem medo de perder mais um filho tendo já perdido dois para a guerra. Então vai
ao mercado e após dias e noites sem dormir ou comer consegue curar o garoto que cresce
forte, saudável e inteligente. No capitulo 5 temos uma descrição sobre sua infância,
passando também por hábitos comuns a vida infantil nessa cultura, como o começo do
trabalho aos 4 anos e a diferenciação de educação entre meninos e meninas. Quetza,
passava a maior parte dos seus dias em seu Calpulli brincando com seus amigos Huatequi
e Ixaya.
Desde muito cedo demonstrou grande interesse e sabedoria em assuntos
relacionados ao mar e a astrologia. Encantava Ixaya com suas explicações sobre o
universo e ao crescer percebeu estar apaixonado por ela. Ao completar certa idade Tepec
teve que tomar a difícil decisão de enviar Quetza ao Calméac. A transição foi difícil, ele
parecia não se adaptar, e era visto com desdém por outros estudantes e ate mesmo
sacerdotes, em especial Tapazolli, que guardava rancor por ele ter escapado ao sacrifício.
No primeiro ano, houve muito sofrimento, castigos. No segundo ele começa a aprender
sobre o calendário, a história dos mexicas, sendo nesse ponto que Andahazi dá uma
verdadeira aula sobre a origem do povo Mexica, e a velha lenda da águia e da serpente
que deveriam estar pousados sobre um cacto para aí fundarem sua cidade.

Uma tradição aos estudantes era o combate. Primeiro eles assistiam e depois
teriam que lutar. Quetza e sua velha rixa com um outro estudante Etheca, sabiam que
lutariam entre si como os dois lideres da turma. E assim foi, a turma foi dividida e o
combate deveria começar quando um amigo de Quetza que estava no time adversário, se
matou dando a vitória ao time de Quetza. Quetza teve piedade de Etheca e se tornou sem
dúvida o único líder. Após isso ele se mostra um aluno excepcional, conseguindo até
aperfeiçoar o calendário tendo o reconhecimento até mesmo de Tizoc, o novo monarca.

Tudo ia bem, ate que um dia Tapazolli com sede de vingança convence o monarca
a sacrificar Quetza mais uma vez. Mas o monarca ouvindo tudo que o jovem lhe falava
resolveu não o sacrificar e sim manda-lo a Huasteca território conquistado pelos mexicas
era o lugar para onde iam os mal vistos de Tenochtitlan. Lá ele deveria construir uma nau
e ir em busca do novo mundo que ele tanto afirmava existir. Mesmo diante de muitos
sacrifícios e falta de tripulação Quetza consegue construir seu navio e embarcar com seus
marinheiros e seu braço direito Maoni. Encerrando assim a primeira parte do livro.

A segunda parte é composta pelo diário de viagem e cartas de Quetza a Ixaya. É


essencialmente uma parte descritiva, dizendo tudo que estão vivendo, terras que vão
encontrando, perigos e seus sentimentos. Passaram por grandes perigos como
tempestades ao mar e um breve conflito com os chamados canibais. Como o próprio autor
descreve após avistarem as terras do chamado novo mundo as anotações começam a ficar
mais escassas então muito do que se sabe veio de relatos posteriores.

A terceira parte é repleta de relatos sobre o que eles encontraram após chegarem
a terra que eles apelidaram de Tochtlan, “o lugar dos coelhos”, ao que hoje conhecemos
como Europa. O choque de contato entre as duas culturas foi imenso, tudo os surpreendia,
desde a imagem de Jesus na cruz até os cavalos. Quetza queria conhecer o máximo
possível pois seu objetivo era voltar e tomar aquelas terras. Com medo de que esses povos
tão gananciosos por ouro descobrissem de onde vinham, passaram a afirmar que vinham
do Oriente, terra fruto de bastante cobiça entre eles. Para conseguir o que queria, afirmou
conhecer o caminho para as Índias e assim foi tratado com pompa, e recebeu tudo o que
precisava levar para sua cidade para entender sobre aquele povo e provar o que havia
visto.

Quanto mais viaja e conhecia aqueles povos tão diferentes, mais surpreso ficava
com o que eram capaz, com suas guerras, conflitos por deuses que pareciam tão
semelhantes. Quetza viaja pela Europa e pelo Oriente, até chegar ao Catai, atual território
da China, onde encontra uma cidade inteiramente devastada assim percebe que está
próximo de casa e que tinha total razão ao dizer que a terra não era plana e sim redonda.
E mais, que deveria alertar ao seu povo pois com a sede de poder que havia entre os povos
que encontrara, logo eles achariam um caminho para Tenochtitlan.

Acontece que na volta pra casa acontece um terrível acidente e Quetza perde tudo
que havia conseguido juntar em sua viagem, mal conseguindo chegar salvo em casa.
Porém ao chegar percebe que muita coisa mudou. Seu pai morreu, o amor de sua vida
casou com seu melhor amigo e o monarca que autorizou sua missão morreu e foi
substituído por um que se quer sabia que sua viagem. Ao lhe relatar todos os
acontecimentos o novo governante apenas pergunta se ele tem alguma prova das
tamanhas maravilhas que encontrou. Ao dizer cabisbaixo que não, o rei o considera louco
e o manda definitivamente para Huasteca para viver o resto de seus dias.

A obra é uma verdadeira obra prima, misturando elementos da literatura com a


história que torna tudo emocionante e compreensível. Além de nos dar um panorama
bastante amplo sobre os aspectos da vida em Tenochtitlan, do povo Mexica, de seus
passados Toltecas, a convivência com outros povos e da própria sociedade europeia vista
de fora. Os detalhes me encantaram bastante, e mais a forma como o autor conseguiu
mudar o ponto de vista da história, o contato do americano com o europeu e ate mesmo
com o oriental.

É importante perceber que ao chegar no que chamamos de Espanha, no século


XIII, já em fins da idade média, com a inquisição em seu ápice Quetza percebe mesmo
ali distante também se mata em nome de deuses, e que muitas vezes se usa isso como
pretexto para mascarar uma enorme ambição por riquezas. Um ponto bastante
interessante é como o autor também não coloca o Quetza como um inocente apenas
fascinado pelo novo mundo, mas também como um explorador com o objetivo de
conquistar aquelas terras. Muitas vezes na historiografia tradicional os povos pré-
colombianos são vistos como seres inocentes, indefesos e primitivos, e de uma forma leve
e gostosa o autor consegue ir quebrando com esses estereótipos. Não posso dizer que não
me incomodei com o papel da mulher nessa forma de organização social, mas entendo
também que é preciso problematizar isso com olhar de historiador, sem cometer o erro de
olhar de forma anacrônica.

Considero então que o livro foi uma escolha bastante acertada, que desperta
mesmo o interesse pelo assunto e se faz compreender. É uma leitura fácil, divertida, e
estimulante que com certeza recomento a todos, estudantes de História ou não.

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