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Apresentação
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Introdução
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só vez todos os segmentos: captura, frigorificação, salga, comercialização, extensão
pesqueira e piscicultura.
Concordamos. Todavia não entendemos porque não se construiu o Terminal
Pesqueiro com recursos a fundo perdido e se preferiu pedir dinheiro emprestado ao
BNDES, para execução de um novo projeto do próprio governo Estadual que acabou
também não sendo construído. Que se construísse o Terminal Pesqueiro com os
recursos da SUDEPE e para as outras obras se solicitasse financiamento ao BNDES. O
interessante é a história continuar se repetindo. Os esquemas continuam funcionando.
Devem as coisas ficar como estão: assim "todos" ganharão mais.
Os amazonenses teimam em não reconhecer que o peixe é a nossa principal
vocação. Os nossos dirigentes preferem inventar novas opções, deixando escapulir por
entre os dedos aquilo que a natureza nos deixou.
A Amazônia representa para o Brasil uma esperança na produção de alimentos. O
Estado do Amazonas muito poderia contribuir nessa produção. As nossas várzeas são
férteis e precisam ser exploradas "racionalmente", com planificação, sem querer
inventar, plantando o que realmente temos vocação e necessidade, não esquecendo que
só temos acesso às "restingas"que margeiam os nossos rios.
A potencialidade de nossos 45.000 km de rios também poderia ser melhor
administrada. Os recursos pesqueiros do Amazonas, se manejados convenientemente,
ofereceriam pescado em abundância para consumo interno e para exportação. Basta para
isso que se leve a sério a atividade pesqueira e não nos esqueçamos de que o peixe é um
recurso natural facilmente renovável, desde que bem administrado.
Dispõe o Estado do Amazonas, 2.189.457 habitantes, distribuídos em 62
municípios, com uma área total de 1.558.987 Km2. A distribuição dessa população é
muito irregular. Manaus, com 1.115.414 habitantes, representa 51% da população do
Estado. A população rural, distribuída esparsamente, tem maior concentração na
microrregião 10, Baixo-Amazonas, exatamente a mais desenvolvida. Nessa área
encontram-se localizadas, além de Manaus, as maiores cidades do interior amazonense:
Itacoatiara, Manacapuru, e Parintins. (1)
As demais microregiões são de densidade demográfica muito pequena, ocasionada
principalmente pela falta de opções econômicas.
Com a crise da borracha, levas e mais levas de seringueiros, em sua maioria
nordestinos, abandonaram os altos rios em busca de centros populacionais para
conseguirem a sobrevivência.
Os nossos seringais foram abandonados e os seringalistas, em sua grande maioria,
procuraram vender suas propriedades para grupos do Sul, interessados em projetos
agroindustriais ou agropecuários.
A partir de 1973, com a crise do petróleo, a produção de borracha sintética
apresentou um aumento de custo incompatível com os países dependentes de
importação de petróleo. O Brasil, através da criação do PROBOR (PROGRAMA DE
INCENTIVO À PRODUÇÃO DE BORRACHA NATURAL) tentou sem êxito,
retornar a posição de grande produtor de borracha natural. Com esse instrumento alguns
seringais foram repovoados e novos projetos para seringais de cultivo foram
implantados. Todavia, ficamos ainda, muito aquém dos objetivos preconizados, apesar
do gigante esforço desprendido pela Superintendência do Desenvolvimento da Borracha
(SUDHEVEA).
Esse esforço para repovoamento dos seringais talvez tivesse surtido efeito se não
houvesse o fascínio que as cidades exercem sobre as populações do interior e os
"empresários" do asfalto tivessem levado a sério às intenções do Governo Federal.
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A criação da Zona Franca de Manaus aumentou a tendência do interiorano de
abandonar a sua terra em busca de "melhores" condições de vida. Contribuíram para
isso a educação acadêmica que recebe, totalmente inadequada para a Região, a falta de
uma política voltada para o interior e os preços desestimulantes para a pouca produção
do setor primário.
Por todas essas razões, nos municípios com maior densidade populacional temos
encontrado problemas seríssimos envolvendo pescadores e ribeirinhos.
Ocorre que, com o aumento da população de Manaus principalmente pela falta de
estrutura nesta capital para desembarque, estocagem e comercialização de pescado,
temos períodos de abundância, com preços acessíveis aos consumidores e não
remunerando muitas vezes aos produtores e período de escassez quando os preços
atingem patamares absurdos.
Em 1982, com a enchente atingindo a cota de 27,94m os igapós e cabeceiras dos
rios, onde os peixes ficavam protegidos e com maior abundância de alimentos,
transbordaram provocando a saída das espécies, aumentando, em conseqüência, as
facilidades de captura, fazendo com que a produção ultrapassasse as 30 mil toneladas,
mesmo levando-se em consideração a falta de interesse dos pescadores em capturá-los
no período abril/junho, pelo preço não remunerado, ausência de compra pela indústria e
falta de estrutura de frigorificação à disposição dos armadores de pesca.
De 1984 em diante, infelizmente não temos dados oficiais sobre a produção de
pescado, já que os controles de desembarques, ontem executados pela SUDEPE, hoje
foram pelo IBAMA desativados, entretanto, em 1992, dez anos depois, o fenômeno se
repetiu.
O consumo de pescado per capita do amazonense, o maior do Brasil, que já
ultrapassou 56 kg/ano vem decrescendo em razão dos preços proibitivos, chegando-se a
pagar por um quilo de peixe nobre, Tambaqui e Pirarucu, mais caro que por um quilo de
carne de primeira. O consumo per capita do nosso caboclo do interior já chegou a
ultrapassar 150 kg/ano, o que demonstra claramente que o peixe é o principal alimento
do amazonense. Hoje, o peixe tem no frango importado do sul do Brasil, um sério
concorrente até mesmo no interior do Estado.
Analisando-se a produção do pescado desembarcado, observa-se que vinha se
mantendo na mesma média anual, razão pela qual os preços dos peixes nobres e
especiais têm subido, uma vez que o consumo, em face da "inchação"de Manaus, tem
aumentado assustadoramente. Em compensação os preços dos peixes de 3a Categoria
têm épocas que praticamente são doados pelos pescadores, já que o valor cobrado pelos
despachantes não cobre sequer as despesas com o diesel usado pelos barcos que chegam
a vender um cento de jaraqui por mil cruzeiros, como ocorreu no mês de maio/92, não
somente em Manaus mas em todo o Estado do Amazonas.
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PRODUÇÃO DESEMBARCADA E CONTROLADA NO ESTADO DO
AMAZONAS
FONTE: SUDEPE – AM
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AS ESPÉCIES
PEIXES COMESTÍVEIS
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ESPÉCIES DE PEIXES COMESTÍVEIS QUE TÊM MAIOR VALOR
COMERCIAL, COM SUA CLASSIFICAÇÃO POR ESPÉCIE
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O amazonense precisa adquirir novos hábitos alimentares, consumir outras
espécies de pescado. Alguns de nossos peixes são consumidos, aqui mesmo no
Amazonas, por estrangeiros ou brasileiros de outros Estados e causam admiração e
espanto aos nossos conterrâneos.
Um dos fatores que limita o consumo de algumas espécies é a grande quantidade de
espinhas que possuem. As classes mais abastadas normalmente não procuram os peixes
com muitas espinhas, pelos riscos que elas representam, principalmente às
crianças.Como solução costuma-se "ticar" os peixes, de forma que as espinhas sejam
todas cortadas em minúsculos pedaços e possam ser ingeridas sem dificuldade. Essa
operação para quem não tem prática é demorada e nada agradável.
Seria interessante que se desenvolvesse um método industrial, que possibilitasse
"ticar" mecanicamente os peixes, a exemplo das máquinas de descascar camarões. Outra
fórmula seria o trituramento e cozimento das espécies hoje não aproveitadas,
transformando-se em filés ou postas. Muitas seriam as espécies que poderiam ser
aproveitadas nesse processo, mas damos ênfase a Piracatinga (Callothysus macropterus)
pequeno bagre que está se constituindo num problema para os pescadores face à grande
quantidade existente em nossos rios e à sua voracidade, além dos peixes que vêm nas
redes, capturados juntamente com os do cardume (fauna acompanhante), que são
jogados fora, como peixe-cachorro e o próprio Jaraqui, por sua abundância. Estas
espécies também poderiam ser utilizadas como matéria-prima de pequenas indústrias
que se dedicassem a produção de produtos tais como: fish-burguer, lingüiça de peixe,
peixe em conserva e "delicatessem", produtos esses que acreditamos ter mercado
garantido a nível nacional e que se constituiriam uma atração para os turistas que
visitam Manaus.
Vale salientar que o INPA, em convênio com a SUDEPE à época, desenvolveu
estudos a esse respeito, obtendo resultados positivos restando somente divulgação e
uma ação concreta do Governo do Estado que incentive a implantação dessas
indústrias.Como exemplo citamos o tratamento que hoje algumas indústrias dão aos
camarões de água doce (Macrobrachium amazonicus): após serem cozidos e prensados
são transformados em camarões grandes, com sabor de camarão marinho e exportados
para o exterior. Esse mesmo método poderia ser utilizado para preparar filés,
almôndegas e bifes de peixe não comercializados ou das espécies menos nobres como
Jaraqui, Curimatã e Branquinhas.
Uma das formas de aproveitamento de outras espécies não conhecidas.e até
mesmo do excedente de jaraquis e outros peixes populares, seria a fabricação de farinha
de peixe ou Piracuí.de Concentrado Proteico de Peixe (peixe em pó) e especialmente de
peixe em Flocos para a alimentação escolar. Os peixes sem valor comercial, caputados
juntamente com os cardumes, seriam transformados por pequenas fábricas desses
produtos e vendidos a Merenda Escolar para a alimentação de nossos estudantes. O
Peixe em Flocos, popularíssimo na Ásia, principalmente entre a população infantil,
poderia ser produzido até mesmo nas escolas, usando-se dos utensílios básicos da
cozinha ao moderno equipamento industrial.
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CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES DE MAIOR VALOR COMERCIAL
1 - PESCADA
2 –TUCUNARÉ
3 - ACARÁ-AÇU
4 – MATRINXÃ
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graxas situe- se entre moderado e fraco. A sua captura, com anzol e espinhei, antes
importantes, atualmente pouco representa na comercialização em Manaus.
5 – SARDINHA
6 – TAMBAQUI
7 –PACU
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9 – CURIMATÃ
10-ARACU
Espécie de peixe com tamanho variando entre 30 e 40 cm, podendo, seu peso
atingir os 2,5 Kg.
Peixe de piracema, considerado de segunda categoria.
11 – PIRAPITINGA
12 – JARAQUI
13-BRANQUINHA
Peixe de segunda categoria, com até 18 cm. Não tem muita representatividade na
comercialização e não agrada muito aos consumidores. Tem escamas prateadas e muito
miúdas.
14-SURUBIM
15-PIRAÍBA
É o maior "peixe liso" ou peixe de pele (bagre) de água doce da Bacia Amazônica,
excedendo 2,50m de comprimento e 140 kg de peso.
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Carnívoro, alimenta-se de peixes menores, sendo pescado fundamentalmente com
anzol.
Quando jovem é conhecido como "Filhote".
Os ribeirinhos acreditam que a Piraíba engole crianças e ataca os adultos.
16-PIRAMUTABA
17 – DOURADO
Bem diferente do Dourado das outras regiões do Brasil, este bagre assemelha-se à
Piraiba embora com menor porte, atingindo no máximo 1.50m de comprimento.
18 – JUNDIÁ/JANDIÁ
Bagre de menor porte, sendo pescado tradicionalmente com anzol. A sua carne é
de boa qualidade, mas como todos os "peixes lisos" é considerado de terceira categoria.
PEIXES ORNAMENTAIS
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produção de todos os pescadores mediante a cobrança de serviços, de tal forma que os
pescadores não tivessem de vir a Manaus somente com a finalidade de entregar aos
exportadores a produção.
Vejo aqui uma rara opção de investimentos na Região do Rio Negro: Fazer
piscicultura, em gaiolas, com peixes ornamentais destinados ao mercado externo.
O mais comum da espécie. Há quem afirme ser a sua criação em cativeiro, devido
a sua reprodução em grande escala em ambiente calmo, açudes por exemplo, ideal para
consorciamento com espécies de hábito alimentar carnívoro. Tucunaré, Pirarucu entre
outros.
Tem a cabeça cinza escura e nadadeiras em todo o seu dorso.
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Conhecido entre os ribeirinhos da Região como Cara-de-Sangue ou Tetra Nariz
Vermelho.
Peixe muito pacífico que gosta de viver em comunidade. Adapta-se, nos aquários,
facilmente ao convívio com as outras espécies. Tem hábito alimentar onivoro. podendo
atingir até cinco centímetros de comprimento. Seu colorido varia de verde-cinza ao
amarelo-cinza.
DENOMINAÇÃO PARTICIPAÇÃO
RELATIVA
NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO S/VALO S/QUANTID
R ADE
Cardinal Cheirodon Axeirodii 53.11 80,54
Rodostomus Hemjgrammus Rhodostomus 5,03 6.34
Borboleta Carnegiella Strigata 1,58 2,75
Corredoras C o ry do rãs elegans 1.58 2,03
Discus Symphosodon discus 24.39 0,71
Outros 14,30 7,63
FONTE: SUDEP/PDP
FONTE: SUDEPE/PDP/SEFAZ
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PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983
FONTE: SUDEP/PDP
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PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983
FONTE: CACEX
FONTE: CACEX
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PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS NA EXPORTAÇÃO DE PEIXES
ORNAMENTAIS JANEIRO/JUNHO-1983
PARTICIPAÇÃO RELATIVA
FONTE: CACEX
FONTE: SUDEP/AM
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FATORES DE PRODUÇÃO
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Dispunha ainda a SUDEPE de um instrumento de financiamento, o Fundo de
Investimento Setorial - Pesca (FISET - Pesca), constituído de incentivos fiscais, que no
Estado não conseguiu financiar um projeto sequer. As razões que levaram a esse
desinteresse são principalmente a estrutura familiar das empresas de pesca, temerosas de
perder o controle de seus empreendimentos, já que passariam a ser sociedades de capital
aberto, e o desinteresse dos empresários de outras atividades em investir numa área não
considerada como nobre.
A mão-de-obra utilizada na pesca no Amazonas pode ser classificada em pescadores
ribeirinhos e pescadores profissionais.
Os pescadores ribeirinhos são aqueles residentes no interior do Estado que fazem
da pesca sua principal atividade, porém não possuem nenhum vínculo com Colônias ou
Associações de Pescadores e quase sempre não estão registrados no IBAMA e
Capitania dos Portos. Normalmente são ligados umbilicalmente a pequenos
comerciantes por quem são financiados e para quem vendem as suas produções. Em sua
grande maioria dedicam-se à pesca do pirarucu e peixes de pele (lisos). Eles defendem
rigorosamente a proibição da pesca nos lagos vizinhos, não com intuito de preservar,
mas tão somente de não dividir com os pescadores de outros municípios o pescado que
poderão conseguir independente de proibições ou épocas de captura. Ainda como
ribeirinhos são enquadrados aqueles que pescam regularmente para o sustento de suas
famílias, usando apetrechos modestos, e que vendem as sobras para a própria
comunidade.
Os pescadores profissionais vivem exclusivamente da pesca, mas são ligados, ou
deveriam ser, às Colônias ou Associações de Pescadores, e registrados no IBAMA e
Capitania dos Portos. Podem ser subdivididos em dois grupos: Motorizados e não
motorizados.
No grupo dos motorizados estão os pescadores que compõem as tripulações das
embarcações de pesca e que por lei deveriam estar filiados às instituições de classe e ao
IBAMA.
Infelizmente isso não ocorre e uma grande maioria não possui nem mesmo uma
simples Certidão de Idade.
Além do grupo dos motorizados, existem os pescadores profissionais de canoas:
pescam individualmente ou em pequenos grupos com apetrechos pequenos, tais como
caniços, tarrafas, arpões, zagaias, pequenas malhadeiras ou redes, e vendem a produção
nas pequenas cidades do interior. Um bom exemplo são os pescadores de Itacoatiara,
que executam suas atividades no Lago do Canaçari, e aqueles que pescam bem próximo
à própria cidade.
Tanto em Itacoatiara como em Parintins, Tefé, Coari e Tabatinga, alguns
pescadores se reúnem em grupos, alugam um barco e saem para pescar individualmente.
A produção de cada um é transportada em conjunto e comercializada individualmente.
Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas vivendo
exclusivamente de pesca.
Segundo os órgãos que trabalham com a pesca no Amazonas, Federação dos
Pescadores, IBAMA/AM e EMATER/AM, os pescadores estão distribuídos conforme
os quadros seguintes:
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PESCADORES PROFISSIONAIS DO AMAZONAS
TOTAL 6.769
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PERFIL DOS PESCADORES AMAZONENSES REGISTRADOS NO IBAMA
Cadastrados
- Embarcado 1.104
- Desembarcado 24 1.128
Instrução
Sexo
- Masculino 1.121
- Feminino 07 1.128
Possuem Embarcação
- Sim 473
-Não 655 1.128
Vínculo Empregatício
- Autônomo 1.126
- Contrato 02 1.128
Possuem Embarcação
-Sim 473
-Não 655 1.128
FONTE: IBAMA/AM
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POTENCIALIDADE - ESTOQUE PESQUEIRO
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continuamos irresponsavelmente desperdiçando pescado em grandes quantidades como,
aliás, se faz com outros alimentos no Brasil.
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ANOS 1979 1980 1981 1982 1983
MUNICÍPIOS
MANAUS 24.575 19.210 21.304 24.252 38.546
TABATINGA 1.785 2.450 2.213 2.163 2.121
ITACOATIARA 1.648 1.418 1.517 1.587 1.383
TEFÉ 1.412 925 970 1.247 1.214
COARI 900 840 1.259 1.037 1.028
PARINT1NS 836 848 765 925 920
MANACAPURU 787 1.009 1.356 1.494 1.747
MAUÉS 326 288 446 518 533
32.270 26.988 29.830 33.223 47.493
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AS ARTES E OS APETRECHOS DE PESCA
A FROTA PESQUEIRA
PERÍODO OCORRÊNCIAS
Época de peixe ovado. Os peixes saem em piracema para a desova
DEZ/JAN facilitando a captura, ocasionando um aumento considerável na
produção e paradoxalmente contribuindo para exaurir o nosso
estoque pesqueiro.
Ocasião em que a Lua está em quarto crescente,permitindo que
FEV/MAR ainda se tenha uma pequena fartura, todavia os peixes já estão
bastante magros, são os que desovaram.
ABRIL Tradicionalmente o mês de menor produção do ano.
Época de safrinha, com peixes gordos e brancos principalmente
MAIO jaraqui e matrinxã.
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A captura, no Estado do Amazonas, com volume significativo é realizada pelos
barcos de pesca "os geleiros", que seguem para os locais de pesca distribuindo em quase
todos os nossos principais rios. Entre os que mais contribuem para o abastecimento de
pescado em nossas cidades, destacam-se o Solimões, Purus, Juruá e o Madeira.
Muitos são os métodos de captura. Também, muitos os apetrechos ultilizados pelos
nossos pescadores.
O principal equipamento é, sem sombra de dúvidas, a canoa. É o ponto de partida.
Com ela a pesca pode ser executada com linha-de-mão e até mesmo com criminosos
explosivos ou entorpecentes, mas, fundamentalmente, com arrastão, tarrafa e rede.
Os principais apetrechos de pesca, utilizados pelos pescadores no Amazonas, são:
REDE OU REDINHA:
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Quando o nível das águas está baixo não é necessário o feitio do "lanço"a pesca é
feita nas praias naturais do rio ou nos grandes lagos, embora seja difícil porque no
fundo dos lagos a quantidade de "pauzada" (tronco do fundo) é bem maior, impedindo o
emprego adequado do aparelho.
TARRAFA
É uma pequena rede em forma de disco, dotada de um cordel no centro, que fica
preso à mão esquerda do tarrafeador. Para usá-la, com a mão direita junta-se uma
grande parte da tarrafa e lança-se na água. A tarrafa é aberta como uma teia de aranha,
apanhado os peixes que se encontram naquele círculo. Alguns pescadores usam a boca
para facilitar a abertura da tarrafa quando fazem o arremeço. Em seu redor a tarrafa é
guarnecida com chumbo e uma prega dividida em pequenos espaços que, quando
puxada fora, faz com que os peixes não possam escapar, ficando nas bolsas. O chumbo
é para que a tarrafa afunde mais depressa, não dando aos peixes tempo de escapar.
ESPINHEL :
ARPÃO :
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suas extremidades. Presa ao arpão está uma corda (arpoeira) , com 20 a 30 braças, em
cuja extremidade está amarrada uma bóia de madeira (molongó) ou plástico. O
arpoador, sentado na proa da canoa, ao ver o Pirarucu boiar marca o local de memória e
rema a canoa vagarosamente até suas proximidades. Quando o peixe bóia novamente, o
arpão é vigorosamente lançado em sua direção, atingindo-o geralmente no dorso. A
ponta solta-se da haste, que é recolhida pelo pescador. O peixe começa a vaguear e o
pescador segura fortemente na arpoeira. Se o comprimento da arpoeira é pequeno e o
peixe é grande, ele pode soltar a arpoeira com a bóia presa em sua extremidade. Após
alguns minutos ela irá denunciar a presença do peixe, já cansado, que algum tempo
depois, ainda vivo, é puxado para fora d'água pela corda presa à ponta de ferro. Quando
o peixe aparece à tona d'água o pescador com um pedaço de madeira golpei-Ihe a
cabeça, matando-o e em seguida colocondo na canoa. Após eviscerado é colocado na
geladeira do barco. A haste do arpão é conhecida pelo pescadores como"astia".
ZAGAIA:
CANIÇO :
Como é comum, consta de uma linha com anzol e chumbo presa numa haste.
Dependendo do peixe que se quer capturar o tamanho do anzol varia bastante. A isca
também varia, dependendo do pescado e da época do ano. Na pescaria do Tambaqui
com caniço (que nesse caso particular é chamado "canicão") os pescadores usam os
frutos da temporada colhidos no igapó. Na pescaria do Tucunaré usam isca de peixe
vivo.
PINAUACA :
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CURRICO :
Consta de uma colher de metal niquelado com anzol camuflado, preso a uma linha
comprida que se arrasta à popa da canoa com motor. Quando a canoa se põe
vagarosamente em movimento, a colher começa a brilhar um pouco abaixo da superfície
da água imitando um pequeno peixe que atrai o predador que é capturado. É usado
principalmente por amadores para a pesca do Tucunaré.
ESTIRADEIRA
É uma linha comprida de mais ou menos dez metros com quatro anzóis. Fica à
meia água como um espinhei. Bastante usada na pescaria do Tambaqui no igapó, onde a
linha fica presa em ramos finos das árvores. A isca, como a do caniço, varia bastante.
ARCO E FLECHA :
CACURI:
É constituído de duas cercas de madeira fixas no chão , com duas esteiras móveis
no centro. São construídas paralelamente de uma margem à outra com duas esteiras
móveis. A do centro, funcionando como portão, abre-se ao impulso do cardume,
fechando-se em seguida, após a passagem não dando tempo aos peixes para se libertar.
O pescador com a tarrafa ou arpão, dependendo do tamanho do peixe aprisionado,
faz a captura.
TÓXICOS:
CERCA:
São construídas com varas resistentes e unidas entre si com arames, pregos ou
cipós. Tem por finalidade bloquear a saída dos peixes dos lagos na época em que as
águas começam a diminuir. Às vezes, devido à grande quantidade de peixes retidos nos
lagos, o desperdício é enorme. O aquecimento da água gera a diminuição da
concentração de oxigênio dissolvido, ocasionado a morte dos peixes.
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EXPLOSIVOS :
Embora seja também proibido o uso de explosivos, ainda são utilizados nas
adjacências de Manaus, por pescadores amadores, e na região de Tefé, por influência de
antigas pesquisas da Petrobrás, ocasionando um grande desperdício de pescado.
O pescador arremessa a dinamite ou bomba caseira acesa na mão em ;ima do
cardume que passa. Apenas uma pequena fração é aproveitada, pois a maioria vai ao
fundo. A coleta dos peixes é feita por um puçá.
Muitos têm sido os casos de acidentes fatais neste tipo de pescaria,
Drincipalmente no Lago deTefé, onde os pescadores se utilizam de "bananas" te
dinamite encontradas nas linhas de pesquisas efetuadas naquele município.
FOCO :
MATAPI :
Cerca de palha de inajá ou curuá, traçada de margem à margem nas cabeceiras dos
lagos, impedindo a saída dos peixes.
Feita batição os peixes aglomeram-se perto da cerca; após é construída nova cerca
a um metro de distância da primeira. Os peixes são então capturados com arpão ou
zagaia.
PARI :
Em qualquer época do ano este método de pesca pode ser aplicado. É constituído
de possantes varas fixadas nos leitos dos igarapés e lagos com um ou até quatro portões.
Na frente de cada portão fincam-se quatro varas que, na passagem do peixe, se abrem
em forma de leque, o suficiente para o pescador, que está observando armado de arpão,
fazer a captura.
Há outros variados métodos de captura, dependendo da imaginação do caboclo da
Amazônia, mas não possuem significância no esforço da pesca.
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Entre todas as formas e métodos de pescaria, o mais característico do
Amazonas é a pesca nos "lances" "Lances ou Laços" são locais previamente
escolhidas nas margens dos rios e que foram observados como passagem
costumeira dos cardumes em piracema. São considerados propriedades dos
pescadores que as preparam e lhes dedicam o máximo de respeito entre si por
esse direito tradicional. Os "lances" podem ser transferidos de proprietário
mediante a compra do terreno, em cuja margem está situado, ou, em caso de
terras devolutas, até ser a área requerida ou adquirida por alguém. Existem
muitos "lances" provenientes de acordo entre proprietários de terrenos e
pescadores, para exploração desse locais. Como tais áreas são consideradas
"áreas de Marinha", não sabemos até que ponto esses acordos têm validades, no
entanto servem para eliminar possíveis atritos.
Após capturados, levam-se os peixes para os barcos de pesca onde sào
acondicionados nas "caixas de gelar ou geladeiras", na proporção de um quilo de
gelo para um quilo de peixe.
O gelo pode vir sob a forma de barras com peso variado de 20 a 50 kg ou
em tabletes conhecidos como "escamas". O "gelo em pedra" ainda deverá ser
quebrado para sua utilização. A operação é executada com pequenas marretas,
normalmente em cima do próprio pescado, prejudicando sua qualidade e
aumentando a mão-de-obra do pescador.
O gelo do tipo "escama" já vem em condições de ser utilizado.
Devido às condições das "caixas" sem divisões, não há possibilidade de
classificar ou separar as espécies capturadas. O fato prejudica o pescador/
armador, por não poder vender o peixe com melhor preço. Terá de esperar que a
"caixa" vá sendo esvaziada. Como a maioria dos barcos têm cargas quase sempre
de peixe de uma só qualidade, o problema não chega a ser percebido pelos
armadores, mas a seleção bem que ajudaria a comercialização.
Mas, se não chega a prejudicar pela não classificação dessas espécies, com
absoluta certeza deteriora a qualidade do pescado estocado por primeiro na
"caixa", o último a sair para a comercialização.
A frota pesqueira do Estado do Amazonas está classificada em quatro
categorias:
- canoas motorizadas, com capacidade de até 02 toneladas;
- barcos pequenos, com capacidade de até 10 toneladas;
- barcos médios, com capacidade de 10 a 20 toneladas;
- barcos grandes, com capacidade superior a 20 toneladas;
Segundo o Registro Geral da Pesca da SUDEPE/AM de 1984, a frota no
Amazonas apresentava a seguinte evolução, por estimativa: Além dos 646 barcos
registrados, deveriam existir pelo menos mais de 350 barcos operando de forma
ilegal, principalmente no período da safra, ou seja, nos meses de agosto a
novembro.
Hoje, com o IBAMA substituindo a SUDEPE, não temos dados coitados sobre a
atividade pesqueira no amazonas. Alegam seus dirigentes que essa informações não
eram confiáveis, por isso foi mais fácil eliminá-las. Cremos que mais responsável seria
fazê-las confiáveis.
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FROTA PESQUEIRA DO AMAZONAS
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FREQÜÊNCIA MENSAL DE CHEGADA DOS BARCOS PESQUEIROS
A MANAUS, COM COMERCIALIZAÇÃO NO MERCADO ADOLPHO
LISBOA-1983
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A frota pesqueira do Amazonas é constituída em 60% de barcos do tipo pequeno.
São na realidade aqueles que têm maior produtividade relativa, nos dias atuais, em face
dos custos elevados das despesas de custeio, onde o diesel e o lubrificante representam
mais de 50% dessas despesas.
Quanto ao comprimento dos barcos, com menos de 20 toneladas de arqueação,
varia com o mínimo de seis metros e o máximo de 18 metros, e intervalo de 9 a 15
metros. Constituem 85% das embarcações pesqueiras. Para os barcos com mais de 20
toneladas de capacidades o comprimento varia entre 18 e 34 metros, com 55,8% do total
no intervalo de 16 a 20 metros.
A boca (maior largura do casco) varia entre 3,50 e 6,20 metros, sendo que a maior
frequência se encontra nos barcos com 4,40 a 5,00 metros, participando com a quota de
40,4%.
Com relação ao calado (distância vertical entre a superfície da água e a parte mais
baixa da embarcação) para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidade, há
variação desde 0,50 a 2,10 metros, sendo 73,1% na faixa de 0,90 a 1,50 metros.
O pontal (distância vertical da embarcação entre a guilha e o convés) varia de 1,11
a 2,70 metros; na faixa de 1,11 a 1,90 metros encontra-se a maioria de Manaus, o
YANMAR e o MWM 38%, dividem as preferências dos motores.
A potência dos motores varia de 03 a 250 HP.
As embarcações da frota pesqueira de Manaus, ou "geladeiras", são construídas a
nível de artesanato, sem nenhum projeto ou desenho antes de sua estrutura. Não há, pois,
padronização.
As escotilhas podem estar dispostas de três maneiras diferentes:. nas laterais, na
parede anterior frontal ou na parte superior.
Os barcos não dispõe de qualquer instrumento auxiliar de navegação. Existe a
bordo, porém rádio portátil para captar recados transmitidos por estações da capital.
A conservação do pescado é feito na "geladeira". Ela possui caimento nos sentidos
transversal e longitudinal, com dreno para escoamento.
O isolamento térmico das caixas é feito, em cada parede, por duas folhas de zinco
separadas por pranchas de madeira (itaúba ou cedro) e isopor em placas colocadas com
juntas desencontradas.
A madeira empregada na construção dos casco dos barcos é itaúba; na cobertura
ou tolda e nos fechamentos laterais dos camarotes, casa do leme, etc; usa-se cedro; os
arcos das cavernas, que exigem boa resistência e flexibilidade, são feitos de raízes ou
galhos de itaúba ou piquiá.
Embora sirva à construção de embarcação mais resistentes e duráveis, o ferro é
pouco empregado nesta região. Basta verificar o número de estaleiros de contrução e
reparos em Manaus e localidades adjacentes: três para construção e reparos de barcos de
ferro e 87 para barcos de madeiras.
Muitos barcos médios e grandes mudaram de atividades ou só se dedicam à pesca
na época da safra, uma vez que despesas de "armação" são realmente grandes. Se um
barco pequeno utiliza 600 litros de diesel para uma viagem de 15 dias, os médios
gastarão três e os grandes até dez vezes mais.
Como nem sempre são bem sucedidos em suas pescarias, para os barcos médios e
principalmente grandes será mais difícil recuperar o prejuízo acumulado de viagens
anteriores.
A maioria dos armadores de pesca, para equipar seus barcos, é obrigada a recorrer
aos "despachantes" que lhe adiantam recursos para os investimentos da "campanha"ou
seja, da viagem. São pagamentos de gelo, combustíveis e lubrificantes, ranchos e
"abonos" para as famílias dos pescadores.
Os barcos de pesca quase todos são mal dimensionados. Têm potência exagerada
forçando consumo desnecessário de combustível. Mas o principal defeito está nas
47
"caixas de gelar", fabricadas com pouco material isolante e sem as necessária
divisões.Tais falhas fazem com que o pescado transportado e comercializado em
Manaus não tenha condições de congelamento.
Muito se poderia melhorar as condições de transporte do pescado se fossem
tomadas as seguintes providências:
- Dividir as "caixas de gelar" em urnas ou prateleiras, possibilitando menor volume por
módulo e facilidade de reposição de gelo durante a viagem.
- Imersão do pescado em água misturada com gelo, antes de ser arrumado nas urnas ou
prateleiras;
- Antes da construção da caixa, procurar um especialista em tecnologia de pescado, para
calcular o tamanho da caixa, o tipo de isolamento, a espessura e o material a ser usado;
- Isolar o espaço entre a "caixa de gelar" e o casco, mesmo com material mais barato,
auxiliaria bastante a eficiência da conservação.
Essas medidas melhorariam substancialmente a qualidade do produto, evitando também
o desperdício hoje em torno de quase 30% do pescado transportado, principalmente
porque seria descarregado rapidamente quando chegasse a Manaus. A necessidade de
estocar o pecado nos barcos por vários dias, à espera dos compradores, faz com que a
sua qualidade não permita, após 2 ou 3 dias, ser congelado. A perda de calor pela
abertura da caixa é altamente significativa e deve ser evitada ao máximo. O ideal seria a
descarga do barco de uma única vez. O peixe seria classificado e estocado em câmaras
de resfriamento, acondicionados em "caçapas" com gelo. Nessa mesma embalagem
seria comercializado nas feiras e mercados.
48
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL)
49
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS
(ESCOTILHAS LATERAIS)
50
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS
(ESCOTILHA SUPERIOR)
51
COMERCIALIZAÇÃO, INDUSTRIAL E EXPORTAÇÃO
52
taxas municipais. Como ele adquire quantidades pouco significativas, é obrigado a
cobrar bastante caro para cobrir os custos e obter lucro suficiente para o sustento da
família. Por essa razão o pescado tem um diferencial médio de preço, entre a entrega do
barco e a feira, de mais de 300%.
53
O peixe tem preço estipulado de acordo com a época. As leis do mercado são
rigorosamente obedecidas entre produtor e feirante. Daí para a frente vigorará a "Lei do
Cão". O consumidor raramente se beneficia dos aumentos da oferta, a não ser que
ocorra exagerada produção e sejam os armadores obrigados a vender diretamente aos
consumidores, para minimizar os seus prejuízos.
Muitos são os mercados e feiras de peixes em Manaus. Os mais tradicionais
apresentam algumas condições de higiene, mas a maioria nunca recebeu a limpeza de
uma vassoura ou detergente. As nossas feiras de peixes são verdadeiros atentados à
Saúde. O melhor exemplo era a "Feira do Bagaço", na compensa. O próprio nome
dispensava comentários. Hoje várias feiras na Prefeitura de Manaus são "reencarnações
da "Feira do Bagaço", inclusive a própria.
Além dos feirantes existem também os "peixeiros ambulantes". Eles quase nunca
possuem carteira de saúde, nem precisam: carregar um taboleiro na cabeça por vários
quilômetros e muitas horas já credenciaria como saudáveis. Mas infelizmente, não pode
ser assim.
As indústrias de pescado normalmente adquirem o peixe na época da safra, no
priodo de agosto a novembro, para diminuir o tempo de estocagem.
Até o início de 1981, quase só negociavam com peixes de pele. Quando adquiriam
peixes de escama, destinavam ao mercado dos outros Estados ou exterior.
Com a interferência do Governo do Estado no abastecimento do pescado, em
1981, despertou o interesse dos frigoríficos que, a partir de então, passaram a formar
estoques visando a venda ao Governo.
O Estado do Amazonas apresenta capacidade de estocagem para 3.960 toneladas,
dos quais 2.500 na Capital. Esse total daria para abastecer Manaus por cerca de 45 dias.
Contando com a capacidade de estocagem dos municípios vizinhos de
Manacapuru e Itacoatiara, mais a produção do período de entre-safra, com menor
produção no mês de abril, em torno de 1.500 toneladas, não sofreríamos tanta
especulação de preços.
Acontece que os frigoríficos trabalham com capacidade ociosa. A ociosidade
média mensal dos frigoríficos fica mais ou menos em 60%. Na realidade os empresários
da pesca somente compram peixes de escama de setembro a novembro. Neste curto
período se abastecem e esperam a entre-safra para vender ao Governo do Estado. Nos
outros meses o excedente volta para o rio já estragado.
Os principais motivos alegados pelos industriais são basicamente a falta de capital
de giro, a dificuldade de comercialização do peixe congelado e, para alguns, a
qualidade, já que a mais de 60% do pescado que chega a Manaus não permite o
congelamento.
Para resolver tais problemas a SUDEPE em I983 sugeriu a criação de um Fundo
para Formação de Estoque Regulador, cujos objetivos seriam os seguintes:
- Assegurar um fluxo contínuo de matéria-prima para as indústrias pesqueiras,
mediante a estocagem de pescado;
- Regular o abastecimento do mercado interno consumidor de pescado;
- Atenuar os desníveis entre a oferta e a procura do pescado, face a deficiência do
processo de comercialização;
- Eliminar os intermediários dispensáveis, reduzindo os custos da comercialização;
- Tornar a remuneração dos produtores (pescadores) compatível com os custos de
captura;
- Manter o preço do pescado em níveis adequados ao poder aquisitivo da população;
54
- Aumentar os índices de utilização da capacidade instalada a nível de
indústria e captura;
- Ativar o incremento da produção, aumentando o percentual de participação do
pescado destinado ao consumo humano.
Em que pese haver a SUDEPE conseguido o total apoio do Ministério da
Agricultura, faltou-lhe apoio político junto ao Conselho Monetário Nacional e interesse
das autoridades locais. Não sendo possível essa solução, precisamos encontrar o nosso
próprio caminho. Caberia ao BEA e ao BASA, implantar, com recursos do FMPE e do
INO - Especial, respectivamente, esse tipo de financiamento como uma espécie de
"Crédito Rotativo"que permitisse a comercialização se tornar ágil e eficiente.
Quanto às dificuldades de comercialização do peixe congelado, cremos que já
foram superadas. O importante é a qualidade e O preço do produto.
No entanto, hoje, com o alto custo da energia elétrica, formar estoque por vários meses
significa pagar um preço muito alto. Será preciso analizar esses custos com cuidado
antes de se pensar em formar estoques, principalmente de espécies de segunda e terceira
categoria.
55
FABRICAS DE GELO INSTALADAS NO ESTADO DO AMAZONAS
CAPACIDADE (TON/DIA)
PRODUÇÃO
MUNICÍPIOS EMPRESAS ESCAMA PEDRA SILO
Manaus Frigelo 1 120 60 220
Manaus Frigelo II - 52,5 50
Itacoatiara F. Rio Mar 30 10 50
Itacoatiara Gelopesca - 21,5 20
Carauari Comerciante . 0,3 .
Maués Otacílio - 4,6 17
Parintins Osmar Farias . 20 20
Parintins Entreposto/ IBAMA 25 - 40
Manacapuru Frigelo IV - 82,5 80
Manacapuru Figueira 60 - 90
Coari F. Jaraqui - 04 -
Tefé Entreposto/ IBAMA 06 . 12
Codajás Entreposto/ IBAMA 08 - 12
Urucará Prefeitura 04 - 10
TOTAL 255 255,4 621
56
57
As razões apresentadas, quanto ao estado do pescado posto em Manaus, realmente
procedem e tivemos oportunidade de comentar quando abordamos a situação de nossa
frota pesqueira.
Pelo que vimos, embora não dispondo de quantidade ideal de câmaras frigoríficas
para estocagem, poderíamos aproveita-las bem melhor e diminuir os nossos problemas
de abastecimento na entre-safra.
Além desses obstáculos o pescado muitas vezes é jogado fora por falta de opções
de venda. Há quem diga que, em algumas ocasiões, até mesmo para não baixar o preço.
Não acreditamos na hipótese: já vimos proprietários de barcos abrir suas "caixas"e
distribuir peixes de graça e, nem assim, esvaziar o estoque.
A comercialização do pescado em Manaus é perfeitamente entendida pelo fluxo
que apresentamos .
Observando-o, constatamos a importância do "despachante"no processo de
comercialização do pescado.
O processo inicia-se com ele, ao fornecer o capital para o armador de pesca,
"armar" o barco para viagem. A operação que há 10 anos era feita sem a cobrança de
juros hoje obedece as regras do mercado financeiro, com a vantagem da
"desburocratização". O adiantamento de recursos destina-se à compra de gelo,
combustível, lubrificantes, ranchos e abonos para os pescadores deixarem para a
família.
Após a pescaria a produção é entregue ao despachante para comercialização.
O pescado é comprado pelos feirantes, ambulantes, hotéis, quartéis, restaurantes e
indústrias. A transação toda é executada pelo despachante, não importando se vende a
produção de uma vez ou no varejo.
O despachante, após retirar o capital adiantado, e, se for o caso, os juros
acrescidos de sua comissão de 20% a 25% sobre o bruto, entrega ao armador o resultado
líquido de sua pescaria.
Esse valor deverá ser rateado entre as pessoas envolvidas no processo.
Exemplifiquemos:
Suponhamos que um determinado armador tenha recebido do despachante Cr$ 7,0
Milhões para as despesas de uma viagem. Após a "campanha"que durou 15 dias, o
barco chegou com uma carga de pescado que rendeu Cr$ 15,0 Milhões após o desconto
das despesas, que neste exemplo seriam:
Comissão do despachante:
- No Capital (30%)-15 dias.......................................Cr$ 1.050.000,00
- Na comercialização (10%)......................................Cr$ 1.500.000,00
- Retorno do capital de despachante..........................Cr$ 7.000.000,00
- Taxa da colônia (5%)..............................................Cr$ 750.000,00
____________________
O lucro apurado será de CR$ 4.700.000,00, que deverá ser dividido entre os seis
tripulantes, proporcionalmente à importância de cada um na armação do barco.
Os tripulantes neste caso com as suas respectivas partes no rateio, estão descritos
no quadro seguinte. Observa-se que este exemplo é de um barco de apenas 15 metros
com uma capacidade de carga líquida de 10 toneladas. Esse tipo de barco representa a
grande maioria dos existentes na pesca, e são responsáveis por mais 60% das
freqüências mensais de viagens. Os custos são de janeiro/93 ainda em cruzeiros.
58
TRIPULAÇÃO DE UM BARCO DE 15M, COM SUAS FUNÇÕES E PARTES
NO RATEIO DE UMA "CAMPANHA
59
No exemplo dado ainda houve possibilidade de rateio, fato que nem sempre
ocorre. No entanto, neste processo de divisão de partes, quem sempre lucra é o
despachante: ele ganha a participação sobre o bruto apurado. O pescador consegue
sobreviver praticamente pelo teto e pela comida. O seu quinhão não dá para pagar,
muitas vezes, o abono antecipadamente recebido.
Como não existe vínculo empregatício com o armador, os tripulantes não têm
direito aos benefícios da Legislação Trabalista e quase nunca da Previdência Social;
muitos não têm documentos principalmente a Carteira de Pescador, que os credenciaria
aos benefícios do INSS.
De fato a tripulação de um barco de pesca, os pescadores, não leva a vida das mais
fáceis. Seria interessante uma pesquisa sobre a saúde do pescador. Não resultaria nada
animadora: afinal dormir sobre "geladeiras" com certeza não parece muito saudável.
Para o despachante não é realmente das mais difíceis. Os donos de barcos, apesar de não
levarem a vida dos despachantes.não têm muita razão de se queixar. Conseguem
sobreviver, embora com sacrifícos impostos pelo sistema.
Já com o pescador a situação é bem diferente: sempre surge algum imprevisto para
diminuir a participação nos rateios. Alguns armadores incluem os combustíveis e
lubrificantes, o rancho, as reformas dos barcos, os custos dos equipamentos e até os
abonos concedidos aos pescadores como despesas de viagem, com a finalidade de
diminuir o lucro líquido e em consequência a participação no dividendo. O
procedimento é desumano e desonesto, pois já recebem um número de partes
razoavelmente grande como compensação a seus investimentos. Mas o pescador vai
reclamar para quem?
Esse sistema de comercialização para ser corrigido necessita da construção do
Terminal Pesqueiro de Manaus. A partir daí o processo será reorganizado e expurgará
do sistema os elementos prejudiciais e redistribuirá melhor a renda entre os interessados
envolvidos nessa atividade. Com o terminal será possível controlar melhor a produção
de cada barco, não haverá perdas e o regime de "parceira" terá condições de ser
fiscalizado pelos órgãos competentes.
Das espécies comercializadas somente 10 representam mais de 90% de nossa
produção. Destas o Jaraqui contribui com mais 45%, e o Tambaqui com
aproximadamente 17%. Essas duas espécies são os pontos extremos do preço do
pescado em Manaus. O Jaraqui influencia diretamente no preço das outras espécies e
indiretamente no preço de carne bovina e do frango.
O Jaraqui é o "Maná dos Amazonenses". Não fora ele, Manaus estaria passando
mais fome que em algumas regiões do sertão nordestino. Lutar pela preservação é um
dever de todos nós amazonenses.
O seu preço diariamente sofre oscilações surpreendentes, em função da oferta
irregular dos barcos pesqueiros.
Os exemplos dos gráficos seguintes mostram essas variações de preço de janeiro a
março de 1984. Neste mesmo ano, face à abundância de Jaraquis em maio, em alguns
dias do mês vendeu-se em Manaus, no Porto de desembarque do Mercado Adolpho
Lisboa, um cento por Cr$ 1.000,00. No entanto a maioria dos armadores teve de jogar
peixe fora por falta de compradores e Câmara de estocagem.
O Tambaqui também tem variação de preço bastante significativa, por influência
direta do Jaraqui.
De acordo com dados fornecidos pelo Serviço de Controle de Desembarque da
SUDEPE/AM, que funcionou no Porto do Mercado Adolpho Lisboa, foi possível
observar, no período de abril/82 a junho /83, a evolução da produção e do preço médio
mensal do Tambaqui, no atacado e no varejo em Manaus.
60
Esse preço foi determinado dividindo-se o valor mensal pela produção total do
mês. Aplicou-se a seguinte fórmula:
Y2
......1X100
Y1
61
62
63
64
65
66
67
68
Já no final de dezembro/82 o preço alcançava Cr$ 284,20 o quilo saltando em
janeiro/83 para Cr$ 493,00, variando em 73,3% em apenas um mês. O maior pulo
entretanto ocorreu de fevereiro para rHaçço/83, atingindo 80,9% com o crescimento de
Cr$ 405,40 para Cr$ 733,30 o quilo: novamente a inflação da Quaresma e da Semana
Santa, coincidindo com a época de menor produção.
A variação anual, no período abril/82 à abril/83, foi de 178,7%, abaixo da taxa de
inflação no mesmo período, 210,9%.
Propositalmente, não atualizei monetariamente esses valores, até porque em
termos relativos a situação permanece igual. A correção ficou por conta da eliminação
dos três zeros de nossa moeda.
A comercialização do pescado no Amazonas, a nosso ver merece melhor apoio
dos órgãos governamentais. Entre outras medidas precisaríamos:
1. Ordenar o sistema de desembarque de pescado, para que fosse
efetuado em lugares higienicamente preparados;
2. Melhorar o sistema de transporte para os Mercados e Feiras;
3. Melhorar ou construir Mercados e Feiras adequadas para venda de
pescado, onde os peixes ficariam acondicionados em recipientes sempre
envolvidos com gelo;
4. Estabelecer o preço mínimo e formação do estoque regulador;
Interferir o Governo somente na Semana Santa, nos bairros mais
carentes.
Não temos dúvida de que as atuais condições higiênicas de nossos mercados e
feiras contribuem acentuadamente para aumentar o desperdício do pescado e, além
disso, para uma variação de preço além de 300% entre o produtor e o consumidor.
O pescado, por se deteriorizar mais rapidamente que os outros tipos de carnes,
devido às suas próprias características físicas e de seu habitat, exige acurado tratamento
de limpeza e resfriamento. O cuidado na sua manipulação é fundamental, para evitar
danos propícios às ações das bactérias através de cortes desnecessários.
É inadmissível fique o pescado exposto sobre as bancas e ás vezes no próprio
chão, por várias horas, sem ter sido lavado com água limpa e estar envolto com gelo. A
baixa temperatura constitui o principal fator de prolongamento da vida útil do pescado.
Os nossos administradores de Mercados e Feiras deveriam obrigar os vendedores
de peixes a conservá-los no gelo durante a comercialização Existiria uma caixa térmica,
com gelo, para ser adquirido pelos comerciantes de pescado. Nas Feiras Móveis e de
curto período de exposição essa providência seria dispensada.
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
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PRINCIPAIS ESPÉCIES COMERCIALIZADAS EM MANAUS EM 1983
PARTICIPAÇÃO
PARTICIPAÇÃO
81
82
83
84
85
86
87
88
89
INDÚSTRIAS DE PESCA
90
levado ao sol, onde estendido sobre varais, seca para venda aos comerciantes e
"regatões" do interior do Estado. Estes revendem aos entrepostos de pescado salgado
seco ou contrabandeiam para o Pará ou países vizinhos à Tabatinga.
Os proprietários das empresas que negociam com o pescado salgado seco têm dois
grandes problemas:
1. Concorrência desleal dos comerciantes regatões do Pará que burlam a
fiscalização estadual e do próprio IBAMA, e a dos contrabandistas que operam
em Leticia na Colômbia;
2. A proibição de captura e comercialização de Pirarucu de tamanho inferior a
1,50 m e a proibição de captura e comercialização total do período de 01/10 a
31/03, que não atinge os compradores clandestinos.
Face às dificuldades de fiscalização os "regatões", apesar dos esforços dos órgãos
responsáveis, compram peixes fora das medidas e, na época de proibição da pesca do
Pirarucu, continuam comprando.
O mesmo não ocorre com as empresas estabelecidas em Manaus e outros
municípios. Devido à localização fixa são facilmente fiscalizados. Por isto muitas
empresas do ramo já encerraram suas atividades.
As indústrias de pesca do Amazonas atualmente também estão trabalhando com
peixes de escama.
Até pouco tempo exploravam a comercialização e exportação somente de peixes
lisos.
Os peixes de escama, principalmente os mais populares, como o Jaraqui, o Pacu e
a Curimatã, são vendidos para o Governo do Estado. Os mais nobres, como o
Tambaqui, a Pirapitinga e a Matrinchã, têm sido exportados em particular para o Pará,
São Paulo e Minas Gerais.
Deveríamos motivara exportação de algumas outras espécies não muito
conhecidas nos centros consumidores fora do Estado. O Jaraqui, por exemplo, com mais
de 45% da produção do pescado do Amazonas, não é exportado. Motivo: certamente a
sua grande quantidade de espinhas. Contudo, se receber o beneficiamento necessário, -
aviscerado e "ticado" - será servido à mesa de qualquer consumidor exigente,
principalmente frito em pedaços.
O nordestino é grande consumidor de peixe salgado. No Amazonas, por
deficiência já mencionadas antes, jogamos peixe fora. Será que, se os salgássemos,
secássemos e prensássemos, não disporíamos de grande mercado ao nosso alcence? O
que não podemos continuar insistindo em secagem somente com a exposição ao sol.
Esse método ultrapassado não apresenta um produto de boa qualidade. O uso de
pequenos secadores movidos a energia elétrica, e/ou energia solar utilizados no Centro
de Tecnologia de Alimentos da EMBRAPA em Guaratiba-RJ, seria uma grande
solução.
Talvez de fato não consigamos induzir grandes empresários a investirem nessa
área. No entanto os próprios donos de barcos, se incentivados e orientados pela
Extensão Pesqueira, poderiam conseguir nova fonte de receita. Cremos porém que essa
atividade caberia muito bem em Clubes de Mães, em Associações de Classe dos
Pescadores, principalmente Cooperativas.
A produção de pescado no Amazonas, inobstante a acentuada taxa de desperdício, não
comporta industrialização diferente do tipo já existente, a frigorificação. Não
acreditamos ser possível, com os atuais níveis de produção, a implantação de fábrica de
conserva ou até mesmo de ração ou farinha de peixes em grandes níveis. Tais
empreendimentos somente serviriam para aviltar muito mais os preços de nossas
espécies, principalmente daqueles que representam o principal alimento da população
91
local, os peixes menos nobres ou populares, além de forçar um aumento acentuado
no esforço de pesca ora empregado.
Assim, como não possuímos suficiente estrutura de frios para o aproveitamento do
pescado, caso nos dedicássemos a exportação estaríamos contribuindo simplesmente
para o considerável aumento no preço do pescado para os consumidores.
92
EXPORTAÇÃO DO PESCADO - MERCADO EXTERNO
(1993)
93
VENDA E ESTOQUE DE PESCADO DAS FIRMAS LOCALIZADAS EM
MANAUS, DURANTE O ANO DE 1993
FONTE: SUDEPE/AM
OBS ; O frigorifico Codepesca, pertencente á Codeagro, inexplicavelmente foi fechado
em Março/ 83
94
PREÇO (Cr$/ Kg) MÉDIOS DE PESCADO COMERCIALIZADO A NÍVEL DE
VAREJO PELO FRIGORÍFICOS, EM MANAUS, DURANTE 1983.
CONGELADO
TIPO MÊS
JULHO - - -
AGOSTO - 650,8 -
FONTE SUDEPE/AM
95
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE VENDA DE PESCADO PELAS
INDÚSTRIAS LOCALIZADAS EM MANAUS, DURANTE O ANO DE 1983
96
PRODUÇÃO DE PESCADO BENEFICIADA E COMERCIALIZADA PELAS
INDÚSTRIAS DE MANAUS
FONTE SUDEPE/AM
97
FISCALIZAÇÃO DA PESCA
98
A SUDEPE delimitará as áreas consideradas indispensáveis à aplicação do
disposto neste artigo". Para que se entendam essas medidas, impoe^se conhecer os
conceitos da SUDEPE/IBAMA para todo o Brasil, sobre os ti pôs de pesca e
apetrechos, emitidos através da Portaria n°. 20, de 09 de novembro de 1977;
"Art. 6°.
Parágrafo 1°. - Quanto aos petrechos de captura as modalidades de pesca
permissíveis são:
I - PESCA DE ARRASTO - a que se realiza com tração de rede pela embarcação;
II - PESCA DE LINHA - a que se realiza com o emprego de linha simples ou
múltiplas com anzóis ou garatéias;
III - PESCA DE CERCO - a que se realiza com redes de cercar;
IV - PESCA DE REDE DE ESPERA - a que realiza, sem tração, com redes de
emalhar, seja de superfície, de meia água ou de fundo;
V - PESCA DE ARMADILHA - a que se realiza, com emprego de armadilhas;
VI - PESCA COMBINADA - a que, compatível com as características técnicas
da embarcação, pode ser realizada com a combinação, na mesma viagem, das
modalidades definidas nos números anteriores.
Com esses três instrumentos legais poderemos dissecar os seus textos e dar a
interpretação que a Fiscalização da Pesca tentou instituir.
A Portaria n°. 466 proibe o uso de rede de arrasto e de lance para a pesca no
interior. Para quem desconhece os conceitos do IBAMA, sobre pesca de arrasto ou de
lance, não seria possível pescar comercialmente no Amazonas. Os pescadores
profissionais não poderiam pescar, pois nesta Região se chamam as redes de pesca de
"arrastão ou arrastadeiras'". Acontece, porém que a pesca aqui em uso não se enquadra
como PESCA DE ARRASTO OU LANCE. A nossa pesca é tipicamente de cerco, com
a diferença de se puxar a produção para os barcos ou canoas ou para as praias nos
"lances". Para nós "lance" não significa a maneira da pesca, mas o local onde ela
acontece.
O conceito de tipos de pesca está bem definido na Portaria n°. 20 citada
anteriormente. A pesca de arrasto pratica-se arrastando a rede por muitos e muitos
metros, com dois possantes rebocadores. Ela é praticada exclusivamente em oceanos;
não deverá nunca servir na pesca interior, com a sua característica de pesca industrial.
Ainda sobre o assunto a Portaria n°. 10 insiste na proibição, a nosso ver inócua: a
proibição baixada pela Portaria n°. 466 é geral para toda a pesca interior. Muito mais
inócua, ainda quando estabelece que as áreas serão delimitadas, fatos não verificados até
hoje e desnecessários: esse tipo de pesca não existe no Amazonas.
Alguém alegará não ser esse o enfoque pretendido pela Portaria. Pior ainda, o
Governo do Estado, ao solicitara Portaria n°.10, deveria atentar para os conceitos
existentes.
Quanto à proibição de redes de espera (malhadeiras), conforme o item "b" da
Portaria 466, Art. 2°., nada mais justo. Todavia disciplinar o seu uso é difícil em face de
nossa imensa rede hidrográfica. Cabe aqui às próprias comunidades a fiscalização.
Devem fiscalizar o tamanho das malhas e se ficam colocadas em lugares permitidos. O
mesmo deve ser observado em relação ao tamanho das malhas das tarrafas.
No Amazonas não se pesca com covos ou armadilhas, tampouco utilizando o processo
de fisga ou garatéias, mas usa-se bastante os espinheis, e ai se deve observar a
determinação do item "g" da Portaria 466.
99
Mas, a nosso ver, o mais impraticável no Amazonas é o Art. 3°. proibindo a pesca
comercial no período de piracema.
Precisamos também entender que, para o IBAMA, piracema significa migração de
peixes para desova. O IBAMA não considera a migração dos peixes em busca de
alimentos ou por outra razão que não seja para reprodução das espécies.
Caso tal proibição fosse cumprida fielmente e seria o ideal, não resta a menor
dúvida de que geraria em Manaus problema social muito grande. Deve a pesca ser
proibida por zonas até termos condições de proibi-la em todo o Estado.
Apesar de existência da Fiscalização da Pesca, não poderemos negar que a pesca
no Amazonas vem tomando proporções exigindo providências mais urgentes das
autoridades responsáveis pelo Setor Pesqueiro. Não poderemos continuar agindo como
se ainda tivéssemos a população de 20 anos atrás e o nosso esforço de pesca não tivesse
aumentado nas dimensões conhecidas.
Sabemos que não poderemos continuar pescando como estamos fazendo, de forma
predatória.
As Portarias do IBAMA, não permitindo a pesca de espécies por períodos,
Tambaqui, Matrinxã e Pirarucu mais especificamente, além de proibições em locais de
captura, são ineficazes pela impossibilidade da Fiscalização cobrir todas as áreas de
captura e desembarque de pescado. Mesmo policiando mercados e feiras, não atinge
resultados compensadores: os pescadores continuam pescando indiscriminadamente e
sempre encontrarão um jeito de burlar os fiscais da pesca.
A comprovação constatamos nos dados fornecidos pela própria Colónia de
Pescadores Z-12 de Manaus. No período de 1°. de outubro a 31 de março/93 foram
desembarcados, em Manaus, 157.790 quilos de Pirarucu, exatamente no período de
proibição de captura da espécie. Tais números representavam 51,18% de toda a
produção entregue na Capital. Essa situação permanece nos dias de hoje.
Outro fato: a presença constumeira, nos Mercados e Feiras de Manaus, dos já
famosos "Roelhos", algumas vezes até vendidos em "cambadas" ou "enfieiras".
Para felicidade nossa, a pesca no Amazonas é artesanal. As técnicas regionais, embora
com alguns requintes inspirados pela nossa imaginação fértil, não chegam a causar os
problemas que enfrentaríamos com a pesca de arrasto. A pesca de cerco pareceria
brinquedo de criança comparada com esse tipo de pesca.
Como solução definitiva e racional para incrementar os serviços de fiscalização,
propomos, com amparo na Constituição, dividir as tarefas do IBAMA com os Estados e
Municípios, melhorando, assim a administração de nossos recursos pesqueiros.
O estoque pesqueiro precisa ser melhor gerido, proporcionando também a sua
reposição. Isso só acontecerá, a nosso ver, de duas maneiras. Pelo repovoamento e
através de administração temporária nos locais de desova, naturalmente em época de
piracema. Há necessidade de programar formas de administrar os recursos pesqueiros,
sem contudo prejudicar quem retira da atividade da pesca o sustento de seus familiares.
Para isso deveriam ser estudados os meios mais viáveis.
A hipótese de repovoamento apesar de salutar, parece muito remota; demandaria
uma quantidade enorme de alevinos. Ora, se não dispomos, com exceção do tambaqui, o
suficiente para distribuição aos piscicultores, como teríamos para repovoamento? A
melhor alternativa: ajudara natureza a cumprir a sua tarefa. Os peixes têm que desovar.
Como ilustração relatamos uma experiência. Ela certifica-nos ser absolutamente
benéfica e racional a proibição temporária pelo IBAMA em época de desova. Em
janeiro/84 uma equipe de técnicos do Projeto Matrinxã, especialistas em reprodução de
peixes, passou 30 dias pesquisando no Lago Aruá, Município de Tapauá. Nesse período
constataram que os barcos de pesca trouxeram para Manaus 600 toneladas de jaraquis:
100
cerca de 300, do total, de fêmeas ovadas que pesavam, em média, 350 gramas. Logo
seriam 857.143 fêmeas com aproximadamente 100.000 óvulos cada uma.
Se elas tivessem desovado e houvesse uma taxa de sobrevivência de apenas 0,5%
(meio por cento), um ano depois o Lago do Aruá estaria contribuindo com mais de
150.000 toneladas de Jaraquis, distribuídos em nossa malha hidrográfica pela migração
natural em busca de alimentos.
Somaria quase 10 vezes mais a produção de Jaraqui, e quase 04 vezes a produção
de todas as espécies desembarcadas em Manaus. Como se estima a produção total do
Estado, controlada e não controlada, em torno de 100.000 toneladas/ano, somente o
Lago Aruá estaria produzindo 50% a mais.
Desde 1982 a SUDEPE vinha proibindo a pesca em mais de 50 lagos considerados
como "criadores". Acreditam os técnicos que os resultados foram satisfatórios, e, como
testemunho, em 1984 a produção foi acima das expectativas mais otimistas.
De posse dessas informações, conclui-se que a forma mais eficiente de se
preservar as nossas espécies seria a proibição da pesca na época de piracema para
desova. Para tanto haveria necessidade de resolver o problema do abastecimento de
pescado em Manaus, nesse período. Acreditamos na solução com as seguintes
providências:
1. Construção e/ou aproveitamento de câmaras para armazenagem de pescado,
onde os próprios armadores e os despachantes formariam estoques a lhes
proporcionarem condições de sobrevivência durante os meses da pesca comercial
proibida. Essas câmaras de preferência funcionariam no Terminal Pesqueiro, próximo
ao desembarque, onde pagariam taxas de utilização. O estoque, somado aos dos
industriais, com certeza abasteceria Manaus de pescado e a preços controlados.
As cidades do interior, dotadas de frigoríficos e de frota pesqueira organizada,
entrariam no mesmo processo; as demais continuariam abastecidas como agora, pelos
pescadores não motorizados e não profissionais. A sobrevivência dos pescadores seria
assegurada pelos estoques, formados durante a época não proibida somente com os
excedentes hoje jogados fora. Nesse período os armadores e despachantes teriam que
programar em manter os pescadores, na época de proibição, ocupados na reforma dos
barcos, conserto dos apetrechos ou revenda da produção estocada. Enfim não será difícil
oferecer trabalho para uma tripulação em torno de seis pessoas e por apenas dois ou três
meses, principalmente considerando-se que nesse período estará com estoque de
pescado no Terminal Pesqueiro, do qual os pescadores terão participação em face do
regime de parceria.
2. Alheias tais condições, impossível proibira pesca comercial em todo Estado,
mas apenas por Zonas. Em cada ano seria proibida a pesca comercial em rios. O Purus e
seus afluentes, por exemplo. Esta opção dificultaria muito mais: demandaria a
colaboração de todas as autoridades municipais e o envolvimento consciente das
comunidades.
3. Terceira alternativa: proibição progressiva. No primeiro ano valeria por apenas
30 dias, no segundo por 60 e no terceiro por 90.
4. Quarta alternativa: proibição por espécie. Algumas espécies seriam selecionadas
e proibidas.
Dessas sugestões, no atual estágio de vida, somente parece possível a segunda.
Ainda assim não será nada fácil e terá muitas implicações políticas e sociais.
Atualmente a fiscalização da pesca no Amazonas vem executando sua atividades de
forma razoável, dentro de seu alcance.
Fiscalizar, como muitos advogam, no ato da captura, é realmente impossível. Os
nossos mais de 45.000 Km de rios bastam para justificar a afirmativa. Mas algumas
101
ações diminuiriam razoavemente os obstáculos, sobretudo se as Prefeituras proibissem a
comercialização, nos Mercados, Feiras ou estabelecimentos comerciais similares, de
pescado cujas medidas não satisfizessem as exigências do IBAMA ou fosse em época
proibida.
Somente com tal providência diminuiria muitíssimo a incidência de pescado com
tamanhos proibidos, pois os pescadores não teriam dificuldades de comercialização.
No futuro o trabalho de fiscalização poderia ser minorado de muito com a realização de
campanha educativa executada pelo IBAMA a partir das escolas do 1°. grau até a
Universidade. Mesmo assim, em nosso interior, por exemplo, não sabemos como ficaria
a cabeça de um estudante de 08 a 10 anos que na escola fosse orientado para não pescar
um Tambaqui com menos de 55 cm, porque ainda não havia se reproduzido, e ao chegar
a casa, encontrasse o pai como uma "enfiada" de "roelos" que capturou para matar a sua
fome e da família.
Realmente fiscalizar é preciso, mas muito mais importante é convencer a não
depredar.
Por acreditarmos na educação sugerimos à Secretaria da Educação e Cultura e ao
próprio Ministério que fosse incluído nos currículos escolares do 1°. e 2°. graus, a
exemplo de OSPB, uma matéria tratando da preservação das espécies. Hoje, com o meio
ambiente em moda, talvez isso aconteça.
102
EXTENÇÃO PESQUEIRA
103
PISCICULTURA
104
alguns técnicos fazem restrições: Acham que tanques-redes (gaiolas) só devem ser
usados para a engorda. Alegam que as matrizes ficariam "estressadas" confinados em
gaiolas. Precisamos fazer um experimento para tirar as dúvidas. Particularmente, não
creio. O fator limitante será o tamanho da gaiola e o custo dos materiais hoje utilizados.
- Créditos. As instituições de crédito deveriam programar uma linha de
financiamento especial para estimular a nova atividade, até ficar comprovada a sua
maturidade e não necessidade de subsídios. O FMPE não atende a demanda existente,
fazendo com que os produtores busquem financiamentos com recursos oriundos do
FNO, com correção monetária acima de 60%, inviabilizando economicamente os
projetos.
- Áreas. A topografia de nossa região tem dificultado o aproveitamento de alguns
igarapés, pelo alto custo de construção de barragens. Cabe-nos encontrar soluções para
diminuir a despesa com os projetos, tais como pequenas barragens sucessivas,
derivações e aproveitamento de lagos naturais de terra firme e, se possível, de vázeas.
Os lagos de vázeas seriam povoados no começo da vazante e despescados quando as
águas estivessem próximo a transbordar. Cultivariamos espécies com crescimento
economicamente viável nesse intervalo de tempo, cerca de 8 meses, dependendo,
naturalmente, da idade dos alevinos que povoassem o lago.
Outra forma de criar peixes: fazendas flutuantes. Acreditamos estar aqui uma
atividade sobe medida para o interior do Estado, sobretudo para as pequenas
comunidades, que desenvolvem ocupações na agricultura, os colonos, como
convencionamos chamá-los.
A criação de peixes em gaiolas proporcionaria evitar aos ribeirinhos a faixa diária
de pescar para conseguir 3 a 4 peixes, enquanto a mulher e os pequenos filhos cuidam
da roça ou do fabrico da farinha. Possibilitaria toda a família tratar das plantações e
comer peixe à vontade na hora do almoço. O processo traria até mudanças sociais em
nosso interior: surgiria nova distribuição de tarefas, o homem trabalhando mais na
agricultura e em consequência produzindo também muito mais.
As fazendas de peixes em gaiolas consistem de pequenos tanques flutuantes, de
aproximadamente dois metros de profundidade, telados, onde são colocados e
alimentados os peixes.
Com base nas experiências de Itaipú e em Urucará, recomendamos que a altura
dos tanques não pode ser superior a dois metros em face da carência de oxigénio
dissolvido nos rios da Região Amazônica após essa profundidade. Em um hectare de
lâmina d'água, em gaiola, será possível produzir, em apenas um ano, aproximadamente
1000 toneladas de Tambaqui. O problema reside no investimento inicial na construção
das gaiolas, com alevinos e alimentação. O primeiro sofreria bastante redução: até
mesmo as telas seriam substituídos por treliças de madeira ou de cipó trançados e os
flutuantes seriam de assacuzeiros, ou tambores vazios e fabricadas com a mão-de-obra
do próprio produtor orientado pela Extensão Pesqueira. Para povoação capturar-se-iam
peixes adultos na natureza ou nascidos por desova induzida a nível de campo ou em
pequenas estações flutuantes distribuídas pelo interior.
Restos de comida, raspas e farelos de mandioca, frutos, dendê, milho e pupunha
de plantações próprias alimentariam os peixes.
A SUDEPE, em 1982, começou a realizar uma experiência nesse sentido, com recursos
do PROMAM, em uma comunidade do Município de Urucará, em colaboração com o
Centro de Treinamento Rural (CETRU), objetivando demonstrar a viabilidade desse
tipo de criação de peixes em cativeiro, infelizmente isso não prosperou. As pessoas que
nos substituíram não deram continuidade ao projeto. Dez anos depois, em 1989 com o
nosso retorno à Prefeitura Municipal de Urucará, resolvemos dar prioridade
105
à piscicultura e testarmos as nossas ideias. Infelizmente não recebemos apoio
financeiro e o que poderia ter sido feito em pouco tempo, levamos praticamente o tempo
de nosso mandato para fazermos alguma coisa com a colaboração técnica da EMATER-
AM, que nos apoiou desde o início. Dois açudes e doze gaiolas foram construídos e
povoados com Tambaquis.
O crescimento foi excelente, apesar da alimentação não ser a ideal e nem termos
tido condições, por falta de recursos de fazermos consorciação com marrecos ou porcos,
ou até mesmo produzirmos alimentos para melhorarmos a dieta dos peixes. Mas, como
em 1991 tivemos uma seca e uma estiagem muito grande, não acontecida há mais de
vinte anos, tivemos que interromper a criação nos açudes e distribuir os peixes que
estavam crescendo dentro das nossas expectivas. Por falta de alevinos, não conseguimos
repovoá-las novamente o que aconteceu somente em 1993.
Outra experiência que fizemos são as gaiolas flutuantes construídas em telas
galvanizadas, com 36 metros quadrados cada uma e com 2 metros de profundidade.
Foram distribuídas as margens dos rios, onde no final do verão de 1991 receberam
Tambaquis capturados nos lagos, com média de 1 Kilo e 20 cm de comprimento. Foram
alimentados com restos de comida, frutos silvestres, sobra de mandioca e milho.
Servirão de indicadores para a implantação definitiva de um projeto gaiolas flutuantes
para o interior.
Este sistema, aprovado, deverá apresentar inúmeras vantagens ao pescador
pequeno. Vejamos:
- Na época de pesca, selecionará as espécies mais nobres, Tambaquis, Matrinxã
entre outros. Os exemplares menores e até os excedentes de sua produção ainda vivos
depositará nas gaiolas. Se tivéssemos bastantes alevinos, essas gaiolas seriam
abastecidas como acontecem com as granjas de aves, os peixes ficariam "estocados"
pelo tempo que fosse necessário, sem gastos de frigorificação, aumentando de peso e à
disposição do pescador no momento em que precisasse comer ou vender.
- O tempo que passaria pescando dedicaria a outras atividades produtivas, não se
esquecendo, todavia, de fazer a coleta de alimentos para os peixes "armazenados" nas
gaiolas e de quando em vez complementar a dieta com proteína animal.
Para que isso seja possível, precisamos implantar, com urgência uma "estação flutuante"
de piscicultura. Os tanques de desova, larvas e pós-larvas ficariam no próprio barco, os
de alevinagem e jovens seriam em gaiolas flutuantes com telas com malhas adequadas.
Aqui está a principal vantagem das "gaiolas"na piscicultura no Amazonas: o ambiente
será mantido natural. Vejamos:
- Não haverá desmatamento, represamento de nascentes ou igarapés;
- Não haverá área inundada;
- Não será preciso adubar, controlar temperatura ou PH da água;
- Não será necessário o uso de máquinas e equipamentos pesados;
- Não será preciso ser dono de terrenos, de estradas, etc.;
- Devido ao grande volume da água do Rio ou Lago não haverá problema de baixa
quantidade de oxigênio dissolvido;
- Com o confinamento dos peixes, tornam-se mais fáceis o acompanhamento do
crescimento, o manejo, a alimentação, o controle de predadores e a despesca;
- Maior produtividade ou seja maior quantidade de peixe por metro cúbico.
As gaiolas estarão colocadas no próprio ambiente em que vivem os peixes. A
única diferença será o espaço diminuído.
Não se faz necessário dizer que os custos serão menores e a produção será até cem
vezes maior que em açudes.
106
Em Conceição de Alagoas-MG, em experimento com Tambaqui está se
produzindo, em um ano 600 Kg/m3, ou seja 500 peixes de 1.200 gramas.
Recomendamos a construção de gaiolas com 18m3, ou seja com dimensões de
3,00 x 3,00 x 2,00 m, que facilitam o manejo. Esse assunto, com detalhes abordamos na
cartilha "Como Criar Peixes em Gaiolas" publicada em outubro/93 e distribuída pela
Emater/Am.
Em um hectare, com taxa de povoamento de 50 peixes/m2, haverá após um ano
uma produção incrível de 6.000 toneladas de Tambaquis. Parece irreal, mas é verdade.
Claro que no Amazonas pelo nosso hábitos alimentares, acostumados a apreciar
Tambaquis com mais de 10 quilos, teremos que diminuir esse povoamento. Assim,
colocaríamos 500 peixes por gaiola, ao cabo de 6 meses dividiríamos a produção com
outras gaiolas (50%); com esse procedimento poderíamos, em dois anos, estar
produzindo Tambaquis com mais de dois quilos e mais de 40 cm de comprimento.
"Roelos" prontos para o mercado. Neste exemplo, um hectare produziria 1000 toneladas
em dois anos. Recuso-me o direito de transformar em reais. É dinheiro demais e fácil de
ser conquistado.
O que falta? Somente uma coisa: Decisão Política.
Outra excelente área para piscicultura no Amazonas encontramos exatamenie em
Manaus, no Distrito Agropecuário da Suframa. Poucos lugares reúnem melhores
condições para esse tipo de atividade.
O Distrito Agropecuário possui mais de uma centena de pequenos igarapés,
nascidos na própria área, perfeitamente controláveis e relativamente próximos do maior
mercado consumidor do Estado, Manaus.
A utilização dos igarapés e das áreas não aproveitáveis para agricultura do Distrito
abririam caminho para viabilizar os projetos atravessando dificuldade, em decorrência
até mesmo do prazo de maturação. O Distrito reúne condições ímpares para
piscicultura: além da água controlável, dispõe de opções para produzir alimentos.
Ademais a proximidade da Estação Produtora de Alevinos, que está situada em Balbina,
beneficiará o empreendimento.
A alimentação dos peixes, como agora a de frangos, exige bastante seriedade.
Criar frangos sem programa de produção de milho é extremamente difícil, em
decorrência do alto custo da importação de ração, o mesmo problema enfrentaríamos
com alimentação dos peixes, se não observarmos este item na implantação do projeto. O
Distrito Agropecuário tem hoje cultivados cerca de 15.000 ha. de seringueiras;
produzirão em média 600 quilos de sementes por hectare. Outra alternativa para o
piscicultor do Distrito: o plantio de apenas 1 ha de dendê, cuja produção naquela área
seguindo informações do antigo CNPSD - Centro Nacional de Pesquisa de Seringueiras
e Dendê, giraria em torno de 15.000 quilos de cachos. Seringa, dendê, ingá, pupunha,
serviriam de alimentos básicos dos peixes, a custo relativamente pequeno e sem perigo
de faltar por causa de transporte ou carência em outras regiões.
Existe, ainda, no Distrito, dois grandes projetos de Dendê. Uma da MONTEBOR,
do grupo S. Monteiro e outro da Embrapa. O primeiro já está em fase de operação da
Usina. Com certeza haverá produção da "Torta de Dendê" que poderá ser uma
alternativa para a alimentação dos peixes.
Haverá, certamente, a necessidade de complementação da alimentação com
proteína animal.
Caberá ao piscicultor buscar soluções. Restos de feiras, do Frigomasa e de fundo
de caixas dos barcos pesqueiros oferecerão matéria prima para uma boa ração. Além
disso, a Frigomasa oferece uma "farinha de osso" de excelente qualidade.
107
Opções encontramos muitas. Faltam-nos apenas apoio e incentivo. Esperamos que
a Fundação Centro de Apoio ao Distrito Agropecuário também acredite em nossas
potencialidades e, com a Associação dos Produtores do Distrito Agropecuário da
Associação ddos Piscicultores do Amazonas e as Agências e Órgãos de
Desenvolvimento do Setor Primário transformem o Amazonas no maior produtor de
pescado de água doce em cativeiro do Brasil.
'GAIOLAS FLUTUANTES"
108
AS EXPERIÊNCIAS DE URUCARÁ: AÇUDES E GAIOLAS
Quando em 1988, após uma ausência de quase dez anos voltamos a Urucará e
tivemos que percorrertoda a zona rural do município como candidato pela terceira vez a
prefeito municipal, percebemos como estava o interior sem opções de sobrevivência.
Vimos, por várias vezes os comunitários das terras firmes tomarem "Tacaca", somente
goma e tucupi, sem folhas e camarão, para matar a fome. Nada tinham plantado para
comer. Os mais "previdentes" comiam mingau de banana quase todos os dias.
Percebemos então, que alguma coisa precisava ser teito para reverter essa situação.
Infelizmente o caboclo do interior não era o mesmo de dez anos passados. A política
paternalista, com doações de implementos agrícolas, madeiras, telhas, ranchos, etc.,
tinha feito com que se desacostumassem ao trabalho. Os mais "vivos" tinham procurado
a capital do Estado em busca de empregos na Zona Franca e uma casa em um mutirão
qualquer. As coisas complicaram tanto que hoje existe um "orgulho" muito grande em
se distribuir 100.000 ranchos a esses nossos irmãos que foram induzidos a sair do
interior para sofrerem na capital.
Ao assumirmos a Prefeitura em janeiro de 1989, com os minguados recursos do
município resolvemos investir em piscicultura, entendendo ser esta uma atividade que
certamente proporcionaria ao nosso caboclo uma ativrdade económica e que no mínimo
lhe porporcionaria alimentos para saciar a fome quando os rios estivessem cheios e a
pesca fosse difícil.
Assim tentamos. Construímos dois açudes. Um na Comunidade do PAURÁ, com
aproximadamente 1,5 hectare. O outro, com 3,0 hectare na Comunidade de BUCUSAL.
Ambos distantes de Urucará por mais de duas horas.
A ideia principal era envolver as famílias das comunidades nessa nova atividade.
Depois de povoado os açudes o trabalho ficaria mais leve e poderia ser executado por
homens, mulheres ou crianças. O viveiro seria de propriedade de todas as famílias
envolvidas.
Chamávamos pomposamente de VIVEIROS COMUNITÁRIOS. Tínhamos
convicção que estávamos no caminho certo.
Terminados os trabalhos, o viveiro do Paurá, recebeu 5.000 alevinos de
Tambaquis trazidos do Nordeste com muitas dificuldades. Foi entregues após uma
grande reunião aos comunitários que receberam todas as instruções de como deveriam
cuidardo açude. Havia até uma certa euforia. Tudo estava dando certo. Os peixes
cresciam, recebiam alimentos e a comunidade estava satisfeita. Quem não estavam
satisfeitos eram os petistas, afinal estávamos nos propondo acabar a fome do povo e isso
era ruim para um grupo que sobrevive a custa da miséria alheia. Será que para o prefeito
não bastava ter colocado antenas parabólicas nas comunidades, permitindo que o povo
também conhecesse outras realidades?
Chegaram as eleições de 1990, coincidentes com o "início das atividades" do Projeto
Echea.
Este projeto, cujo líder era o empresário espanhol IGNÁCIO BENGOECHEA,
pretendia construir cinco módulos constando cada de UM BARCO FÁBRICA E MIL
PEQUENOS BARCOS DE PESCA. Como havia uma certa ligação de amizade com o
espanhol que era nosso vizinho e andava com a primeira edição deste livro sempre
embaixo do braço, alertamos-lhe que os nossos rios não suportariam mais esse tipo de
esforço de pesca. Disse-mos-lhe que seria necessário fazer repovoamento das espécies
que seriam capturadas. Surgia assim a ideia de Barco Laboratório, e a promessa do
empresário de colocar no rio 500 peixes para cada um que fosse capturado.
109
Como se não bastassem essas atividades, o projeto pretendia se envolver com
ervas medicinais, regularização de terras, assistência social e a promessa de transformar
ribeirinhos em micro empresários.
Era o que os petistas estavam precisando. Juntaram-se aos padres da Prelazia de
Itacoatiara e abriram as baterias contra as nossas ideias, misturando-as
propositadamente com o ECHEA. Pregavam que os peixes dos açudes comunitários
quando crescidos não seriam dos comunitários, mas que pertenceriam ao "gringo" que
os venderiam para o exterior e dividiria o dinheiro com o prefeito do município.
RESULTADO: Todo o nosso trabalho de conscientização, todo o sacrifício que
fizemos, todas as nossas boas intenções e nosso idealismo, foram por alguns
"mensageiros da fé", hipócritas e mentirosos, jogados fora. Alguns comunitários, cheios
de dúvidas nas cabeças, começaram a visitar o viveiro de madrugada e "levar" os peixes
que já tinham tamanho suficientes para se comer. Para completar, criminosamente
desmaiaram a área onde se encontrava a nascente do pequeno riacho que abastecia de
água o viveiro. A água acabou, obrigando-nos a fazer a despesca com lágrimas nos
olhos. Dos 5.000 peixes restaram somente 650 com aproximadamente 15 centímetros
que foram doados aos próprios comunitários.
Como consequência disso receberam um castigo. O riacho que também abastecia
o reservatório de água da comunidade secou. Estão sem água até hoje. Antes o Prefeito
havia colocado água encanada, luz, antena parabólica e barco para transporte na
comunidade. Hoje não tem nada disso funcionando. Seria interessante procurarem o
Bispo em Itacoatiara e reclamarem.
O outro viveiro, o do BUCUSAL, deixamos totalmente pronto inclusive já com a
calagem efetuada e convenientemente adubado, ficou faltando ser povoado. Recebeu no
final de 93,10.000 Tambaquis e certamente não terá os problemas do Paurá. Este
pessoal tem outra cabeça, apesar de ligados a Igreja, aprenderam no exemplo negativo
do Paurá.
Quando ainda estávamos construindo o viveiro do Buçusal, sentimos que a construção
de açudes, principalmente no interior era muito cara, já que necessitava de
equipamentos pesados, inclusive de balsa e rebocador para transporte dessas máquinas.
Resolvemos então repetir as experiências de 1982, quando ainda estávamos na
Coordenadoria da SUDEPE. Começamos a construção de gaiolas em telas de arame
galvanizado e cantoneiras de ferro. Essa empreitada foi ajudada pelo Projeto ECHEA
que começou a redirecionar os seus objetivos iniciais, abandonando o projeto de "barco-
fábrica e canoas de pesca" para alinhar-se com as nossas ideias de fazendas flutuantes.
Afinal as gaiolas despertavam mais atenção das autoridades e servia muito mais aos
seus interesses, fazendo com que convivesse diariamente com a mídia com o objetivo de
angariar recursos para o projeto.
Com telas doadas pelo Padre Marcelo, no prédio do Pró-Menor Dom Bosco,
construímos a primeira gaiola. Em Urucará iniciamos a construção de mais cinco. Duas
com 6m x 6m x 2m, e as outras três mais estreitas, mais resistentes, com 6m x 4m x 2m.
As três primeiras, foram montadas em frente a cidade de Urucará e tinham o objetivo de
aprendizado - montagem, flutuação, resistência ao banzeiro dos barcos - as outras três
foram transportadas e montadas no Paraná do Comprido, na saída do Lago Grande,
próximo à Comunidade de Nazaré, um reduto de petistas militantes que nos deram
muito trabalho e quase boicotaram a experiência.
Nestas foram colocadas 250 peixes capturados no Lago Grande e transportados em
tanques de cimento amianto para o local onde estavam as gaiolas. Cada peixe tinha, em
média 40 cm de comprimento e pesava cerca de 2 quilos. Como se tratava de
experiência, contávamos com ajuda de alguns comunitários mais conscientes,
110
principalmente do Presidente da Comunidade, Elson, ex-aluno da escola Agrícola do
centro de Urucará, que acreditava no projeto e fazia o seu monitoramento.
Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, principalmente pela falta de
recursos financeiros e assessoramento técnico, o projeto mostrou excelentes resultados,
fazendo com que sejamos abertamente favoráveis a construção de fazendas aquáticas
para criação de peixes. Afirmamos ser esta a atividade ideal para os nossos caboclos do
interior do Estado. Um dia, esperamos não muito distante, as nossas autoridades
acreditarão nisso. Gostaríamos de estar vivo...
Para dar mais consistência aos nossos argumentos, a seguir transcreveremos o
RELATÓRIO DO MÉDICO VETERINÁRIO DA CODEVASF, Dr. MARCELO JOSÉ
DE MELO, que esteve em Urucará em companhia dos senhores, Dr. José Ubirajara
Timm, ex-Superintendente Nacional da Sudepe, ocupando o cargo de Gerente da
Câmara Setorial de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura e Reforma
Agrária, Dr. Fernando Falabella, Presidente do ICOTI/AM, Ignacio Bengoehea e
Belarmino Holanda, empresários e Dr. Angelo Lima Francisco, Biólogo do
IBAMA/AM, que em nossa companhia visitaram os experimentos.
Eis o RELATÓRIO:
1 -ANTECEDENTES
"A Prefeitura Municipal de Urucará e um grupo de empresários pretendem
implantar na Região Amazônica um projeto de piscicultura envolvendo produção de
alevinos, engorda de peixes em gaiolas e beneficiamento de pescado (filetagem) para
exportação. A engorda de peixes em gaiolas será realizada pelas comunidades dos
municípios amazónicos. O grupo empresarial, em conjunto com a Prefeitura de Urucará
implantou duas unidades naquele município. Os recursos para a implantação definitiva
do projeto serão originários de recursos externos. O grupo empresarial está
2 - ATIVIDADES REALIZADAS
No dia 19 de março de 1992, pela manhã, tivemos contacto com os dois sócios do
Projeto ECHEA (2), Srs. Ignacio Bengoechea e Belarmino Holanda, bem como o Dr.
Timm, e com o Dr. Angelo, na Delegacia do Ministério da Agricultura no Amazonas,
em Manaus.
Na oportunidade o Sr. Ignacio explicou que o projeto funcionaria da seguinte
forma:
- as comunidades receberiam as gaiolas e os alevinos para engorda; o pagamento
seria efetuado com o pescado;
- o grupo produziria as gaiolas, e os alevinos (em barco laboratório), compraria a
produção de pescado, que seria processado em um barco fábrica e exportado;
Na realidade os empresários ainda não tem um projeto elaborado, tem somente ideias.
Diante disso solicitamos que fosse elaborado um projeto piloto, com metas e recursos
quantificados, com mais informações pertinentes, que permitissem uma análise
detalhada sobre o assunto.
No dia 19 de março de 1992, viajamos em um barco de propriedade do ICOTI, de
Manaus até Urucará, para visita aos experimentos implantados naquele município. No
dia seguinte deu-se a visita e constatamos que os experimentos constavam de:
- Um conjunto de gaiolas, colocadas no Paraná de Urucará, em frente a cidade,
constituindo de três gaiolas medindo 6m x 6m x 2m. As gaiolas sáo construídas
em tela
111
de arame galvanizado, com armação em cantoneiras de ferro, pesando
aproximadamente uma tonelada. Como flutuadores são utilizadas toras de madeira. Este
conjunto não estava povoado com peixes e foram colocados nesse local para teste de
resistência, uma vez que aí ocorrem muitas marolas provocadas pelos barcos que
frequentemente navegam naquele Paraná.
- Um outro conjunto de 3 gaiolas com dimensões e material de construção
semelhante ao anteriormente mencionado, montado na Paraná do Comprido, na margem
direita do Rio Amazonas. Este conjunto está sob a responsabilidade de uma comunidade
pertencente ao município de Urucará. Cada gaiola com 48 m3 foi povoada com 50
Tambaquis, mais ou menos um peixe por m3, medindo cerca de 40 centímetros e 2
quilos de peso. A base de alimentação dos peixes é a produção primária natural do rio,
sendo que se usa uma alimentação artificial esporádica com mandioca in natura cortada
em pedaços. Foi realizada a captura de alguns exemplares que apresentavam
comprimento aproximadamente 45 centímetros e cerca de 2,5 quilos. Na oportunidade
sacrificamos um exemplar de Tambaqui do experimento e constatamos estado sanitário
geral muito bom, porém o trato digestivo (estômago e intestino) estava completamente
vazio.
112
de piscicultura, quando levado à Amazônia, implica na construção de grandes barragens
que, por si só, tem custo superior à toda a infraestrutura de piscicultura (6).
Com base no exposto anteriormente, conclui-se que o modelo de desenvolvimento
da piscicultura na Região Amazônica deverá estar embasado na realidade local. Sob este
aspecto, a ideia apresentada pela Prefeitura de Urucará é bastante condizente com a
realidade amazônica.
A título de sugestão, e também no intuito de fornecer subsídios para o
desenvolvimento desta ideia inicial, listamos a seguir, alguns pontos que deverão ser
observados:
4.1 - GAIOLAS
Deverão ser testados novos tipos de materiais para confecção das gaiolas. Existem
empresas especializadas hoje no Brasil, fabricando gaiolas para a piscicultura, e um
professor de Bragança Paulista (SP), desenvolveu um tanque-rede autoflutuante que
dispensa as toras de madeira para flutuadores. Possivelmente uma gaiola construída em
tela plástica terá um preço mais elevado do que a que vem sendo utilizada (arame
galvanizado), porém a durabilidade e a manutenção poderão compensar o maior
investimento.
O ideal seria a construção de gaiolas a partir de matéria prima local, como, por
exemplo, madeira que resista a água ou alguma fibra. O conhecimento do caboclo
amazonense certamente identificaria esse material. (7).
4.2 - BARCO-LABORATÓRIO
A ideia do barco-laboratório para a reprodução artificial dos peixes nos parece
bastante viável. O barco teria utilização durante o ano todo, suas atividades não ficariam
restritras à reprodução artificial, abrangeria também estudos sobre limnologia, ictiologia
e biologia de pesca.
O prefeito de Urucará nos informou que o Governo do Estado dispõe de vários
barcos (CONAVI) e que poderia fazer a cessão de uma delas para a Prefeitura. Não
dispomos das especificações técnicas das embarcações, entretanto gostaríamos de
apresentar algumas sugestões para a sua adaptação em um barco-laboratório de função
múltiplas:
- Como o barco tem dois convezes, no principal deverão ser montados os
laboratórios e no segundo ficarão os alojamentos para os técnicos e uma sala de leitura e
reuniões.
- Para a reprodução artificial de peixes deverão ser construídos 3 tanques para
reprodutores medindo 3m x 1m x 0,80m. Caso seja necessário, o comprimento poderia
ser reduzido para 2m. Dois conjuntos de incubadoras sendo seis unidades de 200 litros e
doze de 60 litros. As incubadoras grandes terão cerca de 0,70 m de diâmetro e requerem
uma vazão de 7 a 8 litros/ minutos. As incubadoras menores terão mais ou menos 0,40m
de diâmetro, 1,30m de altura e requerem uma vazão de 4 a 5 litros/minutos. Os taques
de reprodutores precisam de vazão de 10 litros/minuto.
- O abastecimento de água para os laboratórios será efetuado através de
bombeamento de água do próprio rio. Não se deve preocupar com grande consumo de
energia para o bombeamento, pois a altura manométrica para recalque deveria ficar
apenas dois metros. Após o bombeamento a água deveria ser filtrada em filtro a disco.
(8)
- deverá ser construída uma pequena sala onde ficarão sediados os equipamentos
e materiais dos laboratórios de ictiologia, limnologia e biologia de pesca.
113
- considerando um período apenas um período de dois meses de reprodução
artificial contínua e levado em consideração que em uma semana completa um ciclo de
reprodução no barco-laboratório (trabalhos com reprodutores e incubação), pode-se
alcançar uma produção de cerca de 15.000.000 (quinze milhões) de pós-larvas/ano. A
produção de alevino dependerá dos índices de sobrevivência que se obterá na
alevinagem.
114
4.6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O desenvolvimento da piscicultura na Amazônia depende de uma adaptação da
tecnologia atualmente praticada nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, para as
condições daquela Região. O modelo proposto pela Prefeitura e pelos empresários nos
parece tecnicamente viável.
Para se testar este modelo deve-se, inicialmente, proceder a adaptação do barco-
laboratório para a produção de alevinos e implantação dos experimentos de engorda
(11).
O Governo Estadual, bem como o Governo Federal através da Câmara Setorial de Pesca
do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, deverão prestar todo apoio à Prefeitura
de Urucará, no sentido de dotá-la dos meios necessários à execução dos experimentos
iniciados.
Os resultados obtidos nesta fase preliminar poderão demonstrar a viabilidade do
aproveitamento das potencialidades da Bacia Amazônica para a produção de alimentos.
MARCELO JOSÉ DE MELO - Médico Veterinário da CODEVASF em Brasília, 25 de
março de 1992.
115
As dificuldades de materiais eles também tem. Nós temos uma grande vantagem,
temos Itaúba e Massaranduba, madeiras de lei que dentro d'água duram mais de 20
anos.
8 - O uso da energia solar seria mais adequada. Evitaria poluição sonora ou por
gases e combustíveis provocadas pelos motores a diesel. A energia convencional seria
utilizada quando não houvesse trabalho de reprodução.
9 - Talvez com a participação de um especialista tenhamos uma melhor reposta as
nossas ideias.
10 - Os caboclos poderão construir pequenas gaiolas, utilizando-se de madeiras
que resistem a água, itaúba ou assemelhada, ou o material que hoje utilizam para
fazerem os "Tipitis ou paneiros". A baixa produtividade que o técnico aqui se refere é
em relação ao que é possível se conseguir no cultivo super-intensivo nas gaiolas. No
caso apresentado o resultado seria igual aos açudes ou viveiros em terra, consorciados a
suinocultura ou avicultura.
11 - Aqui estão as razões pelas quais não concordamos com o Projeto ECHEA.
Defendemos que o primeiro passo após os testes preliminares que fizemos seria a
construção de um barco-laboratório e em consequência a continuação dos experimentos.
Muito de propósito deixamos este assunto para o final, não só pela importância de
apoio ao Setòr Pesqueiro, mas também pela inúmeras polémicas que a sua construção
causaram, principalmente entre a Secretaria de Produção Rural e a Coordenadoria
Regional da Sudepe/AM em 1982.
Mas, afinal, o que vem ser um Terminal Pesqueiro?
Conceitua-se como Terminal Pesqueiro o local que reúne condições para
desembarque e comercialização do pescado (atacado), além do fornecimento de
suprimentos para os barcos de pesca, ou seja, combustíveis e lubrificantes, gelo, água
potável e rancho.
Assim funcionam todos os terminais de pesca do Brasil e do exterior. Mas, como as
nossas características e peculiaridades são diferentes de todas as demais regiões do
mundo, sobretudo sofrendo pela ausência da iniciativa privada, o Terminal Pesqueiro de
Manaus terá de formar um misto de Terminal e Entreposto de Pesca, ou seja, deverá
dispor também de congelamento e estocagem de pescado.
Quando descrevemos o processo de comercialização em Manaus, mostramos, aliás
com dados, que as indústrias de pesca somente compram peixes na época do
"Bamburrá", setembro/novembro, mesmo assim sem evitar o desperdício incidente
nesse período e muito menos nos demais meses do ano. O Terminal com estocagem.
aproveita a produção total, pois permitiria aos próprios armadores a composição de seus
estoques.
Somam muitas as tentativas da Sudepe para construção do Terminal Pesqueiro de
Manaus. Dinheiro demais se gastou em projetos, estudos e viagens com tal objetivo.
A elaboração do projeto começou em 1976 com uma equipe de alto nível,
integrada por técnicos da SUDEPE, da Prefeitura Municipal de Manaus e de consultores
especializados. O grupo trabalhou mais de seis meses coletando dados sobre a pesca no
Amazonas. Estudou várias áreas e por fim concluiu que o Terminal deveria ser
116
construído na Enseada do Marapatá, no Bairro de Ponta Pelada, onde funcionou o
Terminal de Asfalto do Departamento de Estradas de Rodagem.
Todas as informações colhidas, muitas ainda atuais, foram levadas ao IPT -
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, para retoques no perfil e
detalnamento do projeto. Concluso em 1978 apresentava as seguintes características
físicas:
- flutuante para o desembarque do pescado, recebimento de água e mantimentos;
- ponte de ligação deste flutuante a terra, com possibilidade de trânsito de veículos
não pesados;
- salão de recebimento de pescado, equipado com linhas de lavagem e esteira de
classificação de pescado;
- sala de lavagem e estoque de caixas plásticas para acondicionamento de pescado;
- salão de leilão de pescado a nível de atacado para até 120 toneladas/ dia;
- plataforma de embarque;
- páteo de manobra e estacionamento de veículos de carga;
- duas câmaras frigoríficas de espera de peixe, uma com capacidade de 60
toneladas e outra para 90;
- duas fábricas de gelo com capacidade de 25 toneladas cada uma;
- dois silos de gelo com capacidade de 50 toneladas cada um;
- três túneis de congelamento com capacidade de 20 toneladas cada um;
- duas câmaras de estoque de congelados com capacidade para 750 toneladas cada
uma;
- dependências de apoio.
Este projeto estava calculado em CR$ 134.700.000,00 (CENTO E TRINTA E
QUATRO MILHÕES E SETECENTOS MIL CRUZEIROS), disponíveis no
orçamento da SUDEPE.
Encerrava-se o exercício de 1978; no próximo começaria novo período de
Governo Estadual.
O Governador, que assumiria em março de 1979, tinha "grande preocupação com
o amanhã". Ao lhe ser apresentado o projeto, convocou os seus assessores para
discutirem a viabilidade técnica, social e econômica do empreendimento. Esses
especialistas, muitos totalmente ignorando os nossos problemas da pesca, não demoram
por concluir que seria mais um "elefante branco" a exemplo do Frigomasa - Frigorífico
de Manaus S/A e da IPLAM -Indústria e Pasteurização de Leite do Amazonas. Tal
disparate, também ainda em moda nos dias de hoje, no mínimo é pretensioso e
irresponsável.
A comparação usada dissolvia-se, a época com a assertiva de que não tínhamos
rebanho bovino para corte e muito menos para leite. Peixe nós tínhamos e ainda temos
com abundância.
A realidade é que a construção do Terminal morreu no projeto. O terreno pertencia
ao patrimônio do Governo do Estado do Amazonas e não havia sido doado à SUDEPE.
"O problema da pesca no Amazonas precisa ser resolvido de forma global, ou seja,
deveria ser atacado da captura à industrialização, envolvendo também o interior do
Estado", afirmava o Governador.
Efetivamente o problema era outro. Havia um grupo empresarial, proprietário de
uma fábrica de gelo em barras, instalada em um flutuante de concreto, localizado na
Baía do Rio Negro, que pressionava o Governador, defendendo os interesses próprios:
monopolizar o comércio de gelo em Manaus. Não previa aquela indústria que
apareceriam concorrentes, com mais experiência no setor, a comprometerem o
117
empreendimento primeiro. Mais tarde fábrica foi vendida e o Governador resolveu
então preparar o seu macro projeto.
Como não mais dispunha o terreno da Enseada do Marapatá, pois havia sido
doado á Aeronáutica, para construção de um Clube Náutico que até hoje não foi
construído, o empreendimento foi concebido todo ele flutuante.
Com o nome de PAP - Projeto de Apoio à Pesca, levantaria uma verdadeira
Babilónia sobre as águas. Tinha tudo previsto até mesmo auditório. As câmaras de
estocagem de congelados ofereceriam capacidade para 1.500 toneladas. Tal projeto não
foi submetido ao exame dos técnicos que, em 78 julgaram o modesto Terminal,
concebido pelo IPT, "elefante branco", caso permanecesse o critério, o PAP seria no
mínimo considerado "baleia branca".
O seu custo estimativo somava 646.814 ORTNS, que seriam tornadas do BNDES, com
juros de 8% ao ano e correção monetária exigida trimestralmente durante dois anos de
carência e, mensalmente, no período
118
e se prontificaram a resolver o problema da implantação do Terminal Pesqueiro.
Recursos seriam alocados; precisaria apenas que o Governo do Estado doasse o terreno.
Infelizmente, em que pese à boa vontade da SUDEPE, o Governo do Estado não
cedeu o terreno.
Com a renúncia do Governador e a posse de seu vice, reacenderam-se as
esperanças de obter a área da Enseada do Marapatá. Procurado por nós, o Governador
que assumiu não sabia se o terreno ainda pertencia ao Estado, pois ouviria falar de
doação à Aeronáutica. Como não tinha certeza autorizou-nos a procurar o Comandante
da Base Aérea para esclarecermos o assunto. Assim fizemos e recebemos a informação:
o terreno realmente lhes havia sido doado pelo Governo do Estado e nele seria
construído um Clube Náutico para oficiais.
De fato o Governo não pretendia construir o Terminal, pois, sabendo da existência
do projeto da SUDEPE não hesitou em dar o terreno outrora comprometido. O terreno
lá está, intangível, ocioso, nem terminal, nem clube, somente o testemunho da falta de
interesse em resolver os nossos problemas.
Inicia-se 1983. Toma posse um novo Governador e renasceram novamente as
possibilidades da construção do Terminal Pesqueiro.
O Superintendente da SUDEPE, em Brasília, no segundo trimestre de 1983,
recebe a visita do Governador que lhe promete toda a ajuda na construção do Terminal
Pesqueiro.
Algum tempo depois o Superintendente visitava Manaus e, quando em audiência
com o Governador, recebera a ratificação da promessa anterior, não só para a
construção do Terminal Pesqueiro, mas também para implantai o Centro de Aquicultura
de Manaus, ambos pendentes de áreas para construção.
O Governador prometeu entregar uma área da Codeagro no distrito Agropecuário
para levantar o Centro de Aquicultura e interferir junto a Ceasa/ AM para doação de um
terreno no porto de desembarque da BR-319, para as obras do Terminal Pesqueiro, além
de prometer a construção, pela Celetra, hoje CEAM, de Subestações rebaixadoras de
corrente em Tefé e Codajás, onde a SUDEPE implantou dois entrepostos de Pesca.
Realmente demonstrou vontade de colaborar, mas seus auxiliares simplesmente
nãp cumpriram suas determinações. A Codeagro, para doar o terreno, fez exigências
absurdas que foram refutadas pela SUDEPE; a interferência junto à Ceasa, a ser
efetuada pelo secretário Estadual da Produção, não aconteceu e as subestações foram
construídas e pagas pela SUDEPE, pois a Celetra não obedeceu ordens do Governador.
Cremos que, por não saber disso, o Governador declarava na televisão já ter
resolvido o problema do terreno do Terminal Pesqueiro, e que finalmente poderia ter
sido construído.
Neste ínterim o Secretário da Produção retomava os contactos com o BNDES para
financiamento do projeto do Governo passado, o PAP. Mais uma vez os recursos não
foram liberados.
A SUDEPE/AM não desiste e restava-lhe uma outra alternativa. Sendo a Cobal a
maior acionista da Ceasa/AM, o terreno poderia ser doado à SUDEPE caso aquela
Companhia concordasse. A iniciativa não agradou ao Secretário da Produção que não
podendo manusear CR$ 8,0 bilhões do BNDES, não permitiria que os seus interesses de
diretor de frigorífico fossem prejudicados. Tratou então de boicotar as negociações,
levando informações distorcidas à SUDEPE/Brasília e ao Governador do Estado.
Seu objetivo imediato: intrigrar o Coordenador Regional com seu Superintendente
e o Governador.
Ao Governador vendeu a ideia absurda de que o projeto do Terminal Pesqueiro de
Manaus não possuía área para estocagem. Intencionalmente se esqueceu de três coisas.
119
A primeira: não mais existia projeto, pois a área a ser construída, ou seja a Enseada do
Marapatá, estava fora de cogitações. Teria, portanto, de ser elaborado novo projeto para
a área da Ceasa.
A segunda: o único projeto conhecido pela Secretaria de Produção era o PAP
(Programa de Apoio à Pesca) e não foi elaborado pela SUDEPE, mesmo assim também
tinha área para estocagem.
Terceira e a mais importante: o próprio Secretário esteve na SUDEPE em Brasília
e na SUDEPE/AM, e defendeu com unhas e dentes que o Terminal Pesqueiro do
Amazonas não deveria ter estocagem. Claro que a Sudepe/ Am não aceitou esta
proposta e, embora não aprovando que o peixe possa ser desembarcado de qualquer
forma e em qualquer lugar, em parte concordava com o Governador, quando afirmava
que o nosso problema é de estocagem. Infelizmente faltava lealdade para alguns dos
auxiliares do Governador da época. O maior exemplo de tal conduta: o Governo do
Estado possuía dois frigoríficos em boas condições de funcionamento, o Codepesca, da
Codeagro, situada na Betânia, e outro na Praça14, atrás do Mercado Cunha Melo;
ambos, porém, foram desativados pela Sepror. Se o problema é estocagem, porque a
Codeagro não utilizou esses frigoríficos que contribuiriam com mais de 200 toneladas
na formação de estoque.
Porque preferia usar o frigorífico que tinha como um de seus diretores o próprio
titular da Sepror?
Em julho/84 dois técnicos da SUDEPE/Brasília vieram a Manaus com a finalidade
de dimensionamento do novo projeto. Foram assediados pelo Secretário que insistia em
não se construir câmaras de estocagem no Terminal. Em face de nossa posição
inarredável, baseada em dados estatísticos de nossa produção, estabeleceu-se que o
projeto teria previsão de congelamento e estocagem, faltando ser definido onde seria, se
no próprio Terminal ou nos prédios ociosos da Ceasa.
Em agosto/84, quando tudo parecia que estava resolvido, veio o golpe que nós
temíamos mas de certa forma já esperávamos.
Convocado o Conselho de Administração da Ceasa/AM, para referendar a decisão
da Cobal, acionista majoritário da Ceasa, de ceder à SUDEPE a área para construção do
Terminal Pesqueiro, o seu Presidente, ou seja o próprio Secretário de Produção Rural
que havia participado de todos os acertos, sugere e naturalmente consegue que os
conselheiros não aprovassem a cessão da área sob a alegação de que precisava de maior
tempo para estudar a possibilidade de participação de outros órgãos no custo da obra,
tais como o Ministério da Agricultura, a Suframa e o Governo do Estado.
Nada mais absurdo. Que se encontrasse uma outra desculpa, afinal a SUDEPE não
solicitou ajuda da Suframa, do Governo do Estado ou de outros órgãos, estava decidida
a construir a obra com seus próprios recursos. Mesmo que houvesse solicitado não
precisava proletar a decisão de assinar o Termo de Cessão.
Neste episódio a SUDEPE e a COBAL foram muito cortezes. Porque dar
satisfações a alguém que reiteradamente tem demonstrado não concordar, por interesses
próprios, com a construção do Terminal Pesqueiro. A Cobal detém a maioria das ações
da Ceasa/AM, não precisaria render homenagens a ninguém. O Termo de Cessão, por
essa razão prescindiria de aprovação do Conselho de Administração.
O objetivo foi alcançado. Perdemos mais um ano e os CR$ 928 milhões que aqui
seriam aplicados, mais uma vez voltaram. Hoje, conhecendo o governador, cremos
fielmente que ele não sabia desses fatos e foi enganado pelo seu assessor direto.
Já se passaram quase 10 anos. O Terminal não foi construído. A área da CEASA foi
invadida e favelada. Os problemas continuam, muito mais graves, e de quando em vez,
120
principalmente na escassez, alguém lembra do natimorto Terminal Pesqueiro de
Manaus.
Em 1987 toma posse um novo Governador do Estado. Como todos os outros
promete resolver o problema do pescado. Criou a Companhia Amazonense de Pesca,
localizada próximo ao Frigomasa. Gastou até alguns milhões de dólares e nada foi feito.
Ninguém fala mais sobre o assunto.
Triste situação da nossa principal riqueza, o peixe. Que Deus continue dele cuidando,
nós não queremos fazer isso.
121
CONCLUSÃO
122
Estadual ou se de entendimentos e ajustes do mesmo Governo com empresa privada que
se disponha a realizar o empreendimento". Não seria necessário dizer que nada,
absolutamente nada, foi feito. O Governo de Henoch Reis, 1976/1979, também tinha em
seus planos os seguintes objetivos e metas:
1. Objetivos:
a) - Contribuir para criação de uma infra-estrutura capaz de melhorar o sistema de
comercialização;
b) - Contribuir na fiscalização do exercício da atividade pesqueira no Estado, de
acordo com as normas vigentes.
2. Metas Globais:
a) - Participação na implantação do Terminal Pesqueiro de Manaus;
b) - Instalação de 07 fábricas de gelo;
c) - Contribuição na fiscalização de 420 barcos da frota pesqueira.
3. Metas Parciais:
Manaus _ _ 01 01
Parintins 01 - - -
Itacoatiara . 01 - -
Tefé 01 - - -
Carauari - 01 - -
4. Localização:
Municípios de: Manaus Parintins Itacoatiara Tefé
Manicoré Carauari
Não devemos perder tempo em conferir. Passemos para o próximo período, José
Lindoso - 1979/1C83. Foi simplesmente lacónico: "desenvolvimento da pesca, tanto no
campo merante exploratório como nas piscicultura, incluído racionalização dos métodos
de captura, transporte, conservação e distribuição do pescado".
Chegamos ao Governo 1983/1986. Também não é diferente, vejamos:
"SUBPROGRAMA DE INCENTIVO E APOIO À PESCA ARTESANAL".
Selecionar e disciplinar, junto à comunidade pesqueira, as áreas piscosas no Estado.
123
. Definir e divulgar, junto à comunidade pesqueira, as épocas de captura
não predatória;
. Identificar e divulgar processos nativos de beneficiamento do pescado,
bem como técnicas adequadas de salga e defumação de peixes de couro;
. Estimular a organização de pescadores em colónias, nas áreas selecionadas, no
sentido de elevar-lhes o nível técnico e o poder competitivo no mercado, bem como
racionalizar a intermediação no processo de comercialização;
. Incentivar a implantação de fábricas de gelo e frigoríficos para estocagem do
pescado, nas áreas selecionadas;
. Diminuir o custo do pescado por meio da alteração do atual sistema de pesca,
transformando em barcos compradores os atuais pesqueiros;
. Proporcionar melhor acesso da comunidade na compra de pescado via Terminal
Pesqueiro;
. Fomentar a criação de peixes em lagos de terra firme."
Observamos: em todos os planos de Governo que analisamos uma coisa foi
comum, isto é, nada, absolutamente nada foi feito. Todos dizem a mesma coisa apenas
de forma diferente. Todos frequentam a mesma escola e sem a participação do órgão
responsável pela pesca no Amazonas é época: a SUDEPE/AM.
Alguns atingem o ridículo, com afirmativas que mostram claramente quanto não
se leva a sério o problema da pesca no Amazonas. O Plano de 1983/87, em seus últimos
três tópicos, evidencia claramente a falta de conhecimentos e de vontade para
concretizar algum programa sério em prol do Setor Pesqueiro. Tentar transformar os
barcos de pesca de pesqueiros em pescadores, vai ao absurdo. Quem financiaria? O
BEA. E quem pescaria? Os ribeirinhos. Ora se os armadores de pesca não tem dinheiro
sequer para equipar seus barcos, onde arranjarão dinheiro para comprar peixe. E se
arranjassem, com os juros absurdos quem pagaria tal custo?
Como proporcionar melhor acesso da comunidade à compra de pescado via
Terminal Pesqueiro, se não existe terminal e não nos parecia a época que o governo
quisesse construir.
E se de alguma forma fosse construído, esclareceçamos que o povo não iria ao
Terminal Pesqueiro para comprar peixe: a comercialização somente operaria no
atacado. Pelo que vimos não se sabia nem o que seria nem para que serviria um
Terminal Pesqueiro. Foram mais além, criar peixes em lagos de terra firme. Onde estão
esses lagos?
Em 1991, volta o Governo do Estado o Professor Gilberto Mestrinho, que com a
experiência adquirida em seus dois Governos anteriores tenta reverter essa situação, não
obstante as dificuldades conjunturais vividas pelo país. Infelizmente não lhe permitirão
isso. Fica no entanto registrado um incentivo à piscicultura com a implantação da
Estação de Balbina e financiamento à piscicultores via FMPE.
Com tais observações acreditamos haver mostrado como temos dado importância
a nossa principal riqueza, o pescado.
As soluções em que acreditamos defendemos nos capítulos anteriores e listaremos
abaixo de forma resumida e objetiva. São elas:
a) Melhoramento das caixas de gelar de nossos barcos pesqueiros;
b) Criação de um fundo para formar estoques reguladores de pescado, através das
empresas de pesca;
c) Construção do Terminal Pesqueiro de Manaus, com possibilidade de estocar
pelo menos 3.000 toneladas;
d) Produção de alevinos em barcos laboratório para distribuição aos
piscicultores;
124
e) Construção de feiras específicas para comercialização do pescado;
f) Construção de pequenos entrepostos de pescado no interior do Estado, a
exemplo dos construídos pela SUDEPE/AM em Parintins, Tefé e Codajás, e Prefeitura
de Urucará neste município;
g) Promover uma campanha educacional, com a participação da escola, família e
autoridades, conscientizando-se da importância da preservação das espécies;
h) Proibição sistemática, por zonas, da pesca comercial em época dê
piracema para desova;
i) Dinamizar os serviços da Extensão Pesqueira, fazendo com que os pescadores e
armadores aprendam a manusear o pescado, melhorando sua qualidade e conservação;
j) Construção de pequenas fábricas de farinha de peixe, Concentrado de Peixe ou
Peixe em Flocos nas Colónias e associações de pescadores para fornecimento a
Merenda Escolar;
k) Implantação de "gaiolas" para criação de peixes em regime de condomínio nas
pequenas comunidades do interior do Estado.
l) Apoiar a Estação de Balbina de forma que se produzem no mínimo 15 milhões
de alevinos/ano para repovoamento, com espécies nobres, Tambaqui por exemplo, dos
nossos lagos e rios da Região e distribuição aos piscicultores.
m) Criar a Secretaria Especial da Pesca, com objetivos específicos de incentivar,
fiscalizar, disciplinar a pesca e piscicultura no Amazonas;
n) Criar, via FMPE/BEA um crédito rotativo para os armadores de pesca
"armarem as campanhas" dos nossos pesqueiros evitando-se o atrelamento a agiotas e
outros "financiadores" desses nossos companheiros.
Esperamos, com esta nova edição estar contribuindo mais uma vez para despertar
as nossas autoridades antes os problemas da pesca e, quem sabe, ferindo os brios e o
orgulho de nossos dirigentes, comecemos a fazer aquilo que reconhecidamente todos
sabem que precisa com urgência ser feito.
Cremos estar conseguindo o objetivo. Não procuramos agradar ou ferir ninguém.
Limitamo-nos a traduzir em palavras escritas tudo aquilo que de costume dissemos em
várias palestras proferidas, todas elas com a mesma intenção, sem contudo, encontrar a
ressonância desejada.
Estas aqui pelo menos ficarão impressas e poderão mais tarde ser conferidas.
125
BIBLIOGRAFIA
PETRERE JR. Miguel - Pesca e Esforço de Pesca no Estado do Amazonas. Acta
Amazonica n° 3,1978.
126