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Apresentação

Quando em 1985 publicamos este trabalho, a nossa idéia foi apresentar os


principais problemas do Setor Pesqueiro e as alternativas de soluções.
Realmente essa foi a nossa intenção. Queríamos provocar a atenção de todos para
as dificuldades, acordar os responsáveis direta ou indiretamente pelas decisões, de tal
modo à não se perder mais tempo com soluções paliativas demagógicas.
Infelizmente, 10 anos depois, quase nada mudou. Os problemas até se agravaram.
O peixe continua caro e escasso.
Incentivado por amigos estou publicando esse trabalho, atualizado, na esperança
de um novo tempo. Continuarei na luta até o dia em que as nossas autoridades se
conscientizarem que a maior dádiva que a natureza deixou para nós amazonenses, o
peixe, tenha tratamento prioritário.

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Introdução

Há muito tempo ouvimos falar da importância que os governos se propõem a dar


para o Setor Pesqueiro. O Governo Federal, apesar da criação da Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca-SUDEPE, em 1962, sentia que a pesca não acompanhava o
desenvolvimento de outros países e até mesmo dos outros setores da economia
brasileira. Por isso, a partir de 1967, através da criação dos Fundos de Investimentos
Setoriais, tentou estimular o Setor Pesqueiro oferecendo incentivos fiscais.
Acontece que o avanço tecnológico e os atrativos fiscais basicamente se
concentravam na pesca litorânea. Nos Estados interiores e, por incrível que pareça,
principalmente no Amazonas, nada ou quase nada se faz para melhorar as atividades
pesqueiras.
Em governo algum sentimos concretamente uma ordenação da política pesqueira.
A antiga SUDEPE-AM, infelizmente, por problemas diversos, políticos e econômicos,
não conseguia se afinar com os responsáveis pelo abastecimento e a produção no
Estado. Hoje, com o IBAMA ainda não existe programação ou planejamento para
resolver os problemas do pescado; existem soluções paleativas, demagógicas e que
prejudicam a atividade, porque mascaram os custos e desanimam os produtores e
futuros investidores do Setor.
Quando menino, já acostumávamos ouvir pronunciamentos inflamados de
candidatos e nunca se fazia referência à pesca. O peixe aqui estava, abundante e não era
motivo para preocupação. Não deveria se esgotar. A natureza encarregar-se-ia de
promover o equilíbrio das espécies, o povoamento de nossos lagos e rios. Vinha sendo
assim há muitos séculos e os homens públicos tinham coisas mais importantes para
pensar.
As primeiras manifestações de preocupação com a pesca, que merecem respeito,
começaram no final dos anos setenta. A partir de então lemos com freqüência
pronunciamentos de políticos, pareceres de técnicos em programas de governo, tais
como "a pesca detém relevante papel na vida sócio-econômica estadual, pois as relações
da população com essa atividade são de quase total dependência". (CEPA - Projeto de
Apoio à Pesca, 1982).
O peixe hoje faz parte de qualquer plataforma eleitoral. Inúmeros têm sido os
posicionamentos de políticos sobre a pesca predatória, defesa do consumidor, guerra aos
atravessadores, fim dos despachantes e outros assuntos que apaixonam a opinião
pública e contabilizam votos. Mas, infelizmente, fica somente nisso. O peixe nunca lhes
faltou à mesa.
Durante nossa permanência na SUDEPE até 1984 nunca recebemos visita de um
político interessado em resolver os problemas da pesca. No entanto, de quando em vez
os noticiários são ocupados por críticas agressivas, sem contudo oferecerem sugestões.
É bastante fácil e dá maior "ibope" atacar os despachantes, os atravessadores ou os
fiscais de pesca, que oferecer soluções ou ajudar na busca dessas soluções.
Temos certeza de que, se procurassem conhecer essas discutidas figuras, veriam
que, apesar de tudo contribuem, a seu modo, principalmente pela omissão do Poder
Público, para que não falte o peixe à mesa do amazonense.
O Governo do Professor, José Lindoso, em sua visão de homem preocupado em
fazer história, rejeitou um projeto elaborado pela SUDEPE, em 1977, para construção
do Terminal Pesqueiro de Manaus. Os recursos estavam alocados e a área definida. O
Governo achava que o problema da pesca no Amazonas não estava somente na falta de
um Terminal Pesqueiro em Manaus. A solução deveria ser abrangente, atacando de uma

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só vez todos os segmentos: captura, frigorificação, salga, comercialização, extensão
pesqueira e piscicultura.
Concordamos. Todavia não entendemos porque não se construiu o Terminal
Pesqueiro com recursos a fundo perdido e se preferiu pedir dinheiro emprestado ao
BNDES, para execução de um novo projeto do próprio governo Estadual que acabou
também não sendo construído. Que se construísse o Terminal Pesqueiro com os
recursos da SUDEPE e para as outras obras se solicitasse financiamento ao BNDES. O
interessante é a história continuar se repetindo. Os esquemas continuam funcionando.
Devem as coisas ficar como estão: assim "todos" ganharão mais.
Os amazonenses teimam em não reconhecer que o peixe é a nossa principal
vocação. Os nossos dirigentes preferem inventar novas opções, deixando escapulir por
entre os dedos aquilo que a natureza nos deixou.
A Amazônia representa para o Brasil uma esperança na produção de alimentos. O
Estado do Amazonas muito poderia contribuir nessa produção. As nossas várzeas são
férteis e precisam ser exploradas "racionalmente", com planificação, sem querer
inventar, plantando o que realmente temos vocação e necessidade, não esquecendo que
só temos acesso às "restingas"que margeiam os nossos rios.
A potencialidade de nossos 45.000 km de rios também poderia ser melhor
administrada. Os recursos pesqueiros do Amazonas, se manejados convenientemente,
ofereceriam pescado em abundância para consumo interno e para exportação. Basta para
isso que se leve a sério a atividade pesqueira e não nos esqueçamos de que o peixe é um
recurso natural facilmente renovável, desde que bem administrado.
Dispõe o Estado do Amazonas, 2.189.457 habitantes, distribuídos em 62
municípios, com uma área total de 1.558.987 Km2. A distribuição dessa população é
muito irregular. Manaus, com 1.115.414 habitantes, representa 51% da população do
Estado. A população rural, distribuída esparsamente, tem maior concentração na
microrregião 10, Baixo-Amazonas, exatamente a mais desenvolvida. Nessa área
encontram-se localizadas, além de Manaus, as maiores cidades do interior amazonense:
Itacoatiara, Manacapuru, e Parintins. (1)
As demais microregiões são de densidade demográfica muito pequena, ocasionada
principalmente pela falta de opções econômicas.
Com a crise da borracha, levas e mais levas de seringueiros, em sua maioria
nordestinos, abandonaram os altos rios em busca de centros populacionais para
conseguirem a sobrevivência.
Os nossos seringais foram abandonados e os seringalistas, em sua grande maioria,
procuraram vender suas propriedades para grupos do Sul, interessados em projetos
agroindustriais ou agropecuários.
A partir de 1973, com a crise do petróleo, a produção de borracha sintética
apresentou um aumento de custo incompatível com os países dependentes de
importação de petróleo. O Brasil, através da criação do PROBOR (PROGRAMA DE
INCENTIVO À PRODUÇÃO DE BORRACHA NATURAL) tentou sem êxito,
retornar a posição de grande produtor de borracha natural. Com esse instrumento alguns
seringais foram repovoados e novos projetos para seringais de cultivo foram
implantados. Todavia, ficamos ainda, muito aquém dos objetivos preconizados, apesar
do gigante esforço desprendido pela Superintendência do Desenvolvimento da Borracha
(SUDHEVEA).
Esse esforço para repovoamento dos seringais talvez tivesse surtido efeito se não
houvesse o fascínio que as cidades exercem sobre as populações do interior e os
"empresários" do asfalto tivessem levado a sério às intenções do Governo Federal.

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A criação da Zona Franca de Manaus aumentou a tendência do interiorano de
abandonar a sua terra em busca de "melhores" condições de vida. Contribuíram para
isso a educação acadêmica que recebe, totalmente inadequada para a Região, a falta de
uma política voltada para o interior e os preços desestimulantes para a pouca produção
do setor primário.
Por todas essas razões, nos municípios com maior densidade populacional temos
encontrado problemas seríssimos envolvendo pescadores e ribeirinhos.
Ocorre que, com o aumento da população de Manaus principalmente pela falta de
estrutura nesta capital para desembarque, estocagem e comercialização de pescado,
temos períodos de abundância, com preços acessíveis aos consumidores e não
remunerando muitas vezes aos produtores e período de escassez quando os preços
atingem patamares absurdos.
Em 1982, com a enchente atingindo a cota de 27,94m os igapós e cabeceiras dos
rios, onde os peixes ficavam protegidos e com maior abundância de alimentos,
transbordaram provocando a saída das espécies, aumentando, em conseqüência, as
facilidades de captura, fazendo com que a produção ultrapassasse as 30 mil toneladas,
mesmo levando-se em consideração a falta de interesse dos pescadores em capturá-los
no período abril/junho, pelo preço não remunerado, ausência de compra pela indústria e
falta de estrutura de frigorificação à disposição dos armadores de pesca.
De 1984 em diante, infelizmente não temos dados oficiais sobre a produção de
pescado, já que os controles de desembarques, ontem executados pela SUDEPE, hoje
foram pelo IBAMA desativados, entretanto, em 1992, dez anos depois, o fenômeno se
repetiu.
O consumo de pescado per capita do amazonense, o maior do Brasil, que já
ultrapassou 56 kg/ano vem decrescendo em razão dos preços proibitivos, chegando-se a
pagar por um quilo de peixe nobre, Tambaqui e Pirarucu, mais caro que por um quilo de
carne de primeira. O consumo per capita do nosso caboclo do interior já chegou a
ultrapassar 150 kg/ano, o que demonstra claramente que o peixe é o principal alimento
do amazonense. Hoje, o peixe tem no frango importado do sul do Brasil, um sério
concorrente até mesmo no interior do Estado.
Analisando-se a produção do pescado desembarcado, observa-se que vinha se
mantendo na mesma média anual, razão pela qual os preços dos peixes nobres e
especiais têm subido, uma vez que o consumo, em face da "inchação"de Manaus, tem
aumentado assustadoramente. Em compensação os preços dos peixes de 3a Categoria
têm épocas que praticamente são doados pelos pescadores, já que o valor cobrado pelos
despachantes não cobre sequer as despesas com o diesel usado pelos barcos que chegam
a vender um cento de jaraqui por mil cruzeiros, como ocorreu no mês de maio/92, não
somente em Manaus mas em todo o Estado do Amazonas.

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PRODUÇÃO DESEMBARCADA E CONTROLADA NO ESTADO DO
AMAZONAS

FONTE: SUDEPE – AM

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AS ESPÉCIES

O Estado do Amazonas, segundo Wolfang Junk, tem mais de 2.000 espécies de


peixes, agrupados em dois tipos: COMESTÍVEIS e ORNAMENTAIS.
Sem sombra de dúvida somos possuidores da mais rica fauna ictiológica do
mundo. Possuímos uma verdadeira jazida de proteínas, mas infelizmente não estamos
sabendo explorá-la.

PEIXES COMESTÍVEIS

Das espécies de peixes, usados na alimentação humana e que habitam o nosso


emaranhado de rios e lagos, menos de 50 são exploradas comercialmente.
Os peixes comestíveis são classificados em quatro categorias, de acordo com a
preferência dos consumidores.

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ESPÉCIES DE PEIXES COMESTÍVEIS QUE TÊM MAIOR VALOR
COMERCIAL, COM SUA CLASSIFICAÇÃO POR ESPÉCIE

NOME NOME CIENTÍFICO CATEGO


VULGAR RIA
Acará-Açu Astronutos oceallatus (Cuvier) Plagioscion Especial
Pescada esquamosissimus (Beckel) Cichla ocellaris (Schneider) Especial
Tucunaré Especial
Matrinxã Brycon hilarii (Valencíennes) Colossoma macropomum 1a
Tambaqui (Spix) Triportheus angulatus (Spix) Metynnis Categoria
Sardinha Pacu hypsauchen (Mueller & Troschel) Arapaima gigas 1a
Pirarucu (Cuvier) Categoria
1a
Categoria
1a
Categoria
1a
Categoria
Curimatã Aracu Prochilodus nigricans (Agassiz) Leporinus fasciatus 2a
Jaraqui (Bloch) Prochilodus insigniss (Schomburgk) Colossoma Categoria
Pirapitinga bidens (Cope) Anodus laticeps (Valenciennes) 2a
Branquinha Categoria
2a
Categoria
2a
Categoria
2a
Categoria
3a
Categoria
Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus) 3a
Surubim Brachyplatystoma flavicans (Castelnau) Rhandia Categoria
Dourado Jandiá schomburgkii (Bleeker) Brachyplatystoma vaillantii 3a
(Valencieennes) Categoria
3a
Categoria
3a
Piraíba Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein)
Categoria

Essa classificação hoje precisa ser revista. Os novos hábitos incorporados à


população, trazidos a partir da implantação da Zona Franca, com a chegada de pessoas
de outras regiões do Brasil e do mundo, com certeza fizerem com que o Pirarucu fosse
considerado como especial e os peixes lisos (bagres) deixassem de ser de terceira
categoria. O filé de peixe de pele (lisos) está freqüentando as cozinhas dos melhores
restaurantes e das mais ricas residências de Manaus. O Tambaqui, até pelo seu preço,
tem que ser considerado especial.

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O amazonense precisa adquirir novos hábitos alimentares, consumir outras
espécies de pescado. Alguns de nossos peixes são consumidos, aqui mesmo no
Amazonas, por estrangeiros ou brasileiros de outros Estados e causam admiração e
espanto aos nossos conterrâneos.
Um dos fatores que limita o consumo de algumas espécies é a grande quantidade de
espinhas que possuem. As classes mais abastadas normalmente não procuram os peixes
com muitas espinhas, pelos riscos que elas representam, principalmente às
crianças.Como solução costuma-se "ticar" os peixes, de forma que as espinhas sejam
todas cortadas em minúsculos pedaços e possam ser ingeridas sem dificuldade. Essa
operação para quem não tem prática é demorada e nada agradável.
Seria interessante que se desenvolvesse um método industrial, que possibilitasse
"ticar" mecanicamente os peixes, a exemplo das máquinas de descascar camarões. Outra
fórmula seria o trituramento e cozimento das espécies hoje não aproveitadas,
transformando-se em filés ou postas. Muitas seriam as espécies que poderiam ser
aproveitadas nesse processo, mas damos ênfase a Piracatinga (Callothysus macropterus)
pequeno bagre que está se constituindo num problema para os pescadores face à grande
quantidade existente em nossos rios e à sua voracidade, além dos peixes que vêm nas
redes, capturados juntamente com os do cardume (fauna acompanhante), que são
jogados fora, como peixe-cachorro e o próprio Jaraqui, por sua abundância. Estas
espécies também poderiam ser utilizadas como matéria-prima de pequenas indústrias
que se dedicassem a produção de produtos tais como: fish-burguer, lingüiça de peixe,
peixe em conserva e "delicatessem", produtos esses que acreditamos ter mercado
garantido a nível nacional e que se constituiriam uma atração para os turistas que
visitam Manaus.
Vale salientar que o INPA, em convênio com a SUDEPE à época, desenvolveu
estudos a esse respeito, obtendo resultados positivos restando somente divulgação e
uma ação concreta do Governo do Estado que incentive a implantação dessas
indústrias.Como exemplo citamos o tratamento que hoje algumas indústrias dão aos
camarões de água doce (Macrobrachium amazonicus): após serem cozidos e prensados
são transformados em camarões grandes, com sabor de camarão marinho e exportados
para o exterior. Esse mesmo método poderia ser utilizado para preparar filés,
almôndegas e bifes de peixe não comercializados ou das espécies menos nobres como
Jaraqui, Curimatã e Branquinhas.
Uma das formas de aproveitamento de outras espécies não conhecidas.e até
mesmo do excedente de jaraquis e outros peixes populares, seria a fabricação de farinha
de peixe ou Piracuí.de Concentrado Proteico de Peixe (peixe em pó) e especialmente de
peixe em Flocos para a alimentação escolar. Os peixes sem valor comercial, caputados
juntamente com os cardumes, seriam transformados por pequenas fábricas desses
produtos e vendidos a Merenda Escolar para a alimentação de nossos estudantes. O
Peixe em Flocos, popularíssimo na Ásia, principalmente entre a população infantil,
poderia ser produzido até mesmo nas escolas, usando-se dos utensílios básicos da
cozinha ao moderno equipamento industrial.

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CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES DE MAIOR VALOR COMERCIAL

1 - PESCADA

É um Sciaenidae que pode atingir até 65 centímetros. Carnívoro que habita os


ambientes calmos. Vive normalmente em abrigos de pedras, permanecendo no fundo
pela manhã e saindo a procura de alimentos pela parte da tarde. A noite vive nas
proximidades das praias e embocaduras dos rios.
É pescado, de setembro a novembro, época em que os cardumes são maiores. A
pesca é feita com rede de arrastão, malhadeiras e anzol.
A pesca com anzol, quase sempre usando-se camarão como isca, efetuada com linha-de-
mão e na "boca" dos rios, é das mais interessantes e divertidas.

2 –TUCUNARÉ

Peixe dos mais bonitos e saborosos do Amazonas de coloração prateada, carregada


de pigmentos de cor sépia no dorso, com três barras transversais sobre os flancos,
nadadeira dorsal escura com manchas circulares amarelo-brancacentas, e olho negro
marginado de amarelo na base de nadadeira caudal, vive em águas calmas e remansos.
A exemplo da Pescada, é carnívoro e se alimenta principalmente de insetos e pequenos
peixes. Pode atingir até 80 centímetros e doze quilos de peso. A sua maturidade se
completa entre 11 e 12 meses, com desova mais freqüentemente de julho a dezembro.
Peixe agressivo, faz com que ainda se mantenha a pesca tradicional, com anzol,
pinauaca e currico.
Atualmente, para a sua pesca está sendo muito usado como isca, pequenos peixes
vivos fisgados em anzóis com linha comprida.
A captura fica acentuada no período da vazante dos rios, de agosto a dezembro,
contribuindo, inclusive para um grande aumento da pesca turística amadora,
principalmente nos rios de águas pretas, como o NEGRO e o UATUMÃ.

3 - ACARÁ-AÇU

Cichlidae de hábitos similares ao tucunaré. Conhecido em outras regiões como


APAIARI. De tamanho pequeno, atingindo em média 15 cm e 500 gramas de peso.
Espécie de abundante cria. Desenvolve-se rapidamente em águas calmas,
atingindo a maturidade entre 10a 12 meses. A sua desova é parcelada sendo que, em
ambientes controlados, pode ter três desovas por ano. Cuida muito bem de sua prole,
chegando a guardar os filhos na boca quando ameaçador Preferindo os ambientes
calmos, a alimentação é composta em boa parte por insetos.

4 – MATRINXÃ

Peixe de dentição forte, carne saborosa que atinge até 50 cm de comprimento.


Prateado com nadadeiras caudal e anal lavadas de vermelho. Habitam águas limpas e a
sua pesca se faz com redes e anzol com iscas de frutas e carne de outros peixes.
Habitante das "cabeceiras" dos rios, desce em "piracema" no período da enchente.
Sua alimentação onívora é preferencialmente carnívoro, faz com que seu conteúdo em

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graxas situe- se entre moderado e fraco. A sua captura, com anzol e espinhei, antes
importantes, atualmente pouco representa na comercialização em Manaus.

5 – SARDINHA

Peixe de pequeno porte, que não ultrapassa 20 cm de comprimento. Tem como


alimentação básica os microrganismos da própria água. Vivem em cardumes e tem
oscilação relativa no desembarque em Manaus, aparecendo com maior quantidade no
período de Agosto a Novembro.

6 – TAMBAQUI

Caracídeo. É um peixe muito abundante, atingindo até 80 cm de comprimento por


35 cm de largura, com 30 kg de peso. Apresenta as escamas pretas ou amareladas,
dependendo da região onde habita e da alimentação predominante. A sua alimentação é
onívora, nela predominando as frutas das matas ciliares. Pequenos peixes, crustáceos e
insetos constituem a sua complementação alimentar. Mais de 80% de sua pesca é
efetuada com redes. Presente nos mercados da região durante todo o ano, tem o preço
mais caro das espécies amazônicas. Representa, hoje, a melhor opção dos piscicultores
já que habita os açudes de todas as regiões do Brasil. De uma só desova pode-se
produzir mais de 350.000 alevinos.

7 –PACU

De tamanho entre 20 a 30 cm, possui hábitos alimentares semelhantes ao


TAMBAQUI. Caracídeo ovalado de coloração prateada e rico em gorduras.
Os seus cardumes apresentam espécies de tamanhos variados o que faz com que os
pescadores que usam redes selecionem os menores jogando-os de volta ao rio. Já
"sambados", são levados às margens em relativa quantidade gerando o desperdício
condenado pelas populações ribeirinhas e principalmente pelas "organizações de defesa
do peixe" ligadas a partidos políticos e/ou a Igreja Católica.

8 - PIRARUCU (Peixe vermelho)

Peixe de grande porte, os exemplares adultos chegam a atingir 2,00m de


comprimento, pesando até 120 kg. Habita, normalmente os Lagos Amazônicos,
alimentando-se de peixes, insetos e vermes fluviais. É o maior peixe de escamas do
Brasil.
De desenvolvimento lento, alcança a maturidade sexual após o quinto ano de vida. No
início da enchente, de novembro em diante, busca os lugares de águas rasas para
preparar seu ninho, ou "panelas" como chamam os pescadores. Chega a desovar até
50.000 óvulos.
A carne fresca, salmorada, salgada ou seca é muito saborosa.
A língua é usada para ralar o guaraná e as escamas para lixar as unhas.
Os pescadores afirmam que os adultos dão proteção aos filhotes que sempre
acompanham o pai. Costuma defender os filhos escondendo-os na boca. Os jacarés e as
piranhas são os seus maiores predadores.
A sua captura realiza-se cerca de 50% com redes e 15% com malhadeiras, ainda
persistindo a pesca com arpão e anzol.
Tem sua pesca regulamentada, com proibição no período de outubro a março.

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9 – CURIMATÃ

Peixe que pode atingir 50 cm e 6 kg de peso. A sua alimentação principal é


constituída de substâncias orgânicas depositadas por gravidade nas águas, o que
dificulta a sua captura com iscas e anzol.
Peixe de grande fecundidade com desova que pode atingir 1.000.000
de ovos por espécie.
Está sendo usado na piscicultura como "faxineiro", responsável pela "limpeza" dos
açudes, tanques ou gaiolas.

10-ARACU

Espécie de peixe com tamanho variando entre 30 e 40 cm, podendo, seu peso
atingir os 2,5 Kg.
Peixe de piracema, considerado de segunda categoria.

11 – PIRAPITINGA

Da mesma família do Tambaqui, seu "primo", pode atingir 50 cm de comprimento


e com os mesmos hábitos de seu parente mais próximo.

12 – JARAQUI

Considerado parente do Curimatã, com quem se parece muito. É o peixe mais


conhecido dos amazonenses. Tem dois tipos: escama fina e escama grossa. Estes
últimos chegam a medir 45 cm e pesar mais de 3 kg.
Peixe de piracema, sua migração se realiza de dezembro a julho.
É um dos peixes que mais se reproduz e que forma os maiores cardumes,
principalmente na época da vazante dos rios.
Tem hábitos alimentares semelhantes ao do Curimatã.Ostenta na cauda listras
amarelas que lhe dão uma característica especial e o carinhoso apelido de
"brasileirinho".

13-BRANQUINHA

Peixe de segunda categoria, com até 18 cm. Não tem muita representatividade na
comercialização e não agrada muito aos consumidores. Tem escamas prateadas e muito
miúdas.

14-SURUBIM

Peixe de pele (Bagre) de grande dimensões, podendo freqüentemente atingir


comprimento de mais de 1,50m, havendo informações de que algumas espécies
capturadas atingiram os 3 metros.
Carnívoro por excelência.

15-PIRAÍBA

É o maior "peixe liso" ou peixe de pele (bagre) de água doce da Bacia Amazônica,
excedendo 2,50m de comprimento e 140 kg de peso.

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Carnívoro, alimenta-se de peixes menores, sendo pescado fundamentalmente com
anzol.
Quando jovem é conhecido como "Filhote".
Os ribeirinhos acreditam que a Piraíba engole crianças e ataca os adultos.

16-PIRAMUTABA

Bagre que tem por hábito acompanhar os cardumes de peixes em piracema.


Carnívoro, alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos e insetos. Pode atingir até
1m de comprimento e 10 kg de peso.
Constitui-se um problema para os pescadores que tem suas redes destruídas pela
veracidade desses bagres que atacam os cardumes capturados.
Foi responsável por considerável exportação porá os Estados Unidos,
principalmente congelada pelos frigoríficos paraenses.

17 – DOURADO

Bem diferente do Dourado das outras regiões do Brasil, este bagre assemelha-se à
Piraiba embora com menor porte, atingindo no máximo 1.50m de comprimento.

18 – JUNDIÁ/JANDIÁ

Bagre de menor porte, sendo pescado tradicionalmente com anzol. A sua carne é
de boa qualidade, mas como todos os "peixes lisos" é considerado de terceira categoria.

PEIXES ORNAMENTAIS

Existem em nosso Estado aproximadamente 150 espécies de peixes ornamentais.


Somente 52 são comercializadas.
A SUDEPE somente catalogou 41 dessas espécies para a exportação. Destas
contribui o Amazonas com 26.
Os peixes ornamentais à primeira vista podem não parecer importantes, mas
representam considerável fonte de divisas para o Estado do Amazonas.
Em nosso Estado existem 9 empresas que se dedicam à Exportação de peixes
ornamentais, algumas carentes de melhor estrutura física e de orientação técnica
compatível com suas atividades.
A Coordenadoria Regional da SUDEPE, cônscia dá importância desse segmento
de mercado, estava montando um departamento que se encarregaria de dar as
orientações técnicas necessárias e tentaria descobrir uma linha de crédito que pudesse
ser utilizada por essas pequenas empresas. Com a criação do IBAMA a idéia
desapareceu.
A captura de peixes ornamentais é executada por cerca de 20 pequenos barcos,
cujas condições de transporte são precárias e responsáveis por uma mortalidade superior
a 50% do capturado.
As principais áreas produtoras estão localizadas nos municípios de Barcelos. São
Gabriel, Santa Izabel do Rio Negro e Novo Airão, todos situados no Rio Negro.
A melhor solução seria as empresas ou até mesmo um grupo de pescadores
construírem um barco de tamanho razoável, equipado com bombas, que transportasse a

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produção de todos os pescadores mediante a cobrança de serviços, de tal forma que os
pescadores não tivessem de vir a Manaus somente com a finalidade de entregar aos
exportadores a produção.
Vejo aqui uma rara opção de investimentos na Região do Rio Negro: Fazer
piscicultura, em gaiolas, com peixes ornamentais destinados ao mercado externo.

A EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS precisa receber das


autoridades melhor atenção, principalmente no que se refere a quantidade e espécies
exportadas. Muitas espécies de peixes comestíveis tem sido enviadas para o exterior as
"escondidas" como "cardinais ou neons".
O IBAMA chegou ao absurdo de incluir a PIRANHA como peixe ornamental. O
que é pior,alguns amazonenses chegaram a propor ao IBAMA que além da Piranha,
Mandii, a Pirarara, o Cará-Bararuá, a Arraia, o Puraquè, a Aruanã e o Jacundá,
pudessem ser exportados como ornamentais.

CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES MAIS COMERCIALIZADAS

1 - ACARÁ DISCO (Symphsom discus)

Peixe de temperamento calmo e social. Atinge até 20 centímetros de comprimento.


Tem o formato redondo parecido com um disco. A sua cor varia do amarelo castanho ao
marrom, dependendo de seu estado psíquico. É uma das espécies de maior aceitação no
mercado nacional e internacional.

2 - ACARÁ BARARUÁ (Uaru Amphiacanthoides)

O mais comum da espécie. Há quem afirme ser a sua criação em cativeiro, devido
a sua reprodução em grande escala em ambiente calmo, açudes por exemplo, ideal para
consorciamento com espécies de hábito alimentar carnívoro. Tucunaré, Pirarucu entre
outros.
Tem a cabeça cinza escura e nadadeiras em todo o seu dorso.

3 - ACARÁ BANDEIRA (Pterophllum scalares)

Peixe agressivo e anti-social que ataca as espécies menores.


Popularmente são chamados de peixe-anjo. Apresentam três listras pretas verticais
sobre escamas prateadas, formando um harmonioso conjunto com suas nadadeiras e
filamentos alongados.

4 - CARDINAL TETRA (Cheirodon Axeirodii)

Principal espécie exportada- Pequeno e bonito peixe, dotado de um colorido


fascinante, caracterizado por uma faixa azul quase brilhante em todo o seu corpo.
Felizmente não se reproduz em águas paradas, aquário por exemplo, razão pela qual
ainda não perdemos o seu mercado externo.

5 - RODOSTOMOS (Hemigrammus Rhodostomus)

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Conhecido entre os ribeirinhos da Região como Cara-de-Sangue ou Tetra Nariz
Vermelho.
Peixe muito pacífico que gosta de viver em comunidade. Adapta-se, nos aquários,
facilmente ao convívio com as outras espécies. Tem hábito alimentar onivoro. podendo
atingir até cinco centímetros de comprimento. Seu colorido varia de verde-cinza ao
amarelo-cinza.

PRINCIPAIS ESPÉCIES EXPORTADAS ANO: 1981

DENOMINAÇÃO PARTICIPAÇÃO
RELATIVA
NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO S/VALO S/QUANTID
R ADE
Cardinal Cheirodon Axeirodii 53.11 80,54
Rodostomus Hemjgrammus Rhodostomus 5,03 6.34
Borboleta Carnegiella Strigata 1,58 2,75
Corredoras C o ry do rãs elegans 1.58 2,03
Discus Symphosodon discus 24.39 0,71
Outros 14,30 7,63

FONTE: SUDEP/PDP

MERCADO EXTERIOR EXPORTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NA PAUTA DO


ESTADO

ANO QUANTIDADE VALOR CR$ VALOR 11$ PAUTA


1.000 1.000
1978 17.903.485 14.693 775 1.83
1979 19.352.254 26.506 934 1.53
1980 16.301.049 35.525 602 0.96
1981 15.951.624 62.346 642 1.02
1993 8.585 297 - 886 0.08

FONTE: SUDEPE/PDP/SEFAZ

15
PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983

PAÍSES PARTICIPAÇÃO RELATIVA


ALEMANHA 36,83
ESTADOS UNIDOS 23,19
HOLANDA 21,01
OUTROS 18,97

FONTE: SUDEP/PDP

A participação relativa na pauta de exportações do Estado do Amazonas que, em


1982, representava quase 2% tem decrescido em função de nossas atividades industriais,
mas de certa forma a qualidade dos Cardinais exportados, nos meses de maio/julho, não
se apresentava em condições ideais, em razão de estarem os peixes ovados ou magros
devido à recente desova. Esse problema foi superado com uma Portaria proibindo a
captura do Cardinal nessa época do ano. Com tal medida, solicitada pelos próprios
exportadores, a qualidade dos peixes nos meses subsequentes à proibição melhorou
consideravelmente, permitindo preços mais lucrativos.
Os exportadores do Amazonas precisam descobrir o mercado interno, difundir o
uso de aquários nos escritórios, consultórios, repartições públicas e residências.
Mas precisamos urgentemente proteger esse tipo de atividade. O comércio de
peixes ornamentais está ameaçado. A maioria das espécies, as principais, não se
reproduz em cativeiro. A sua reprodução terá de ser induzida. Mas infelizmente, temos
notícias de que cientistas alemãs e japoneses estão trabalhando na reprodução do
Cardinal em cativeiro. Precisamos contra atacar desenvolvendo estudos que nos
permitam dominar a técnica de desova induzida dessas espécies o que possibilitaria a
substituição do extrativismo predador por uma atividade sólida de reprodução e criação
de peixes ornamentais.
Em Hong Kong já se produz o NEON espécie da família do Cardinal oriundo de
Benjamin Constant, fato que acabou com o nosso mercado de exportações dessa
espécie.
Pode até parecer utopia pensar em reprodução de peixes ornamentais. No mínimo
parecerá uma atividade supérflua, uma vez que ainda temos alguns problemas com a
reprodução dos peixes comestíveis. Quem sabe, uma vez que a tecnologia é semelhante,
pelo tamanho das instalações para peixes ornamentais não seria um excelente
laboratório onde faríamos as experiências que serviram de suporte para a piscicultura
dos peixes comestíveis.
As tabelas que publicamos a seguir servirão de embasamento a todos que
quiserem analisar essa atividade com maior profundidade, embora os dados sejam de
1983, segundo os exportadores o comércio se manteve em níveis semelhantes.

16
PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983

PAÍSES QUANTIDA PESO/KG US/FOB Cr$


DE
ESTADOS UNIDOS 2.710.985 57.461 111.241 40.104.490,
ALEMANHA 1 395.187 16.821 49.296 16.601.360,
OCIDENTAL
PAÍSES BAIXOS 980.065 11.880 35.765 10.942.452,
FRANÇA 280.325 3.701 8.767 2.774.508,
DINAMARCA 138.772 2.237 5791 1.637.387,
SUÉCIA 74.816 1.000 3.355 964914,
SUÍÇA 65.974 978 2647 876.054,
BÉLGICA/LUXEMBU 60.791 1.182 2109 729.205,
RGC
ITÁLIA 42.948 830 1976 564.123,
JAPÃO 40.236 1.000 4.400 1.497.542,
AGENTINA 26.296 111 3.372 1 .283.858,
REINO UNIDO 22.716 476 796 227.391,
CHILE 8.752 130 740 291.603,
CINGAPURA 8.700 160 417 100.024,
ESPANHA 8.062 162 270 70.130,
PORTUGAL 5.430 02 186 73.315,
NORUEGA 4.748 100 183 72.132,
HONG KONG 3891 288 679 320.566,
ÁUSTRIA 3.558 02 449 211.992,
FINLÂNDIA 3.475 300 593 142.240,
SUL AFRICANA, REP 3.200 08 352 91.429,
CANADÁ 1.090 01 71 30.110,
TOTAL 5 890 044 98.799 233.455 79.606.925,

FONTE: CACEX

AEROPORTOS EXPORTADORES JANEIRO/JUNHO-1983

CIDADE/UF QUANTIDADE PESO/KG US/FOB Cr$

MANAUS/AM 5.357.812 87.658 201.921 67.182.134,


BELÉM/PA 456.996 10.609 24.386 9.970.438,
R. DE JANEIRO/RJ 41.200 121 3.527 1.094.796,
SÃO PAULO/SP 26.296 111 3.372 1.283.858,
PORTO ALEGRE/RS 7.740 300 249 75.699,

FONTE: CACEX

17
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS NA EXPORTAÇÃO DE PEIXES
ORNAMENTAIS JANEIRO/JUNHO-1983

PARTICIPAÇÃO RELATIVA

ESTADO S/ QUANTIDADE S/VALOR


AMAZONAS 90,96 84,39
PARÁ 7,76 12,52
RIO DE JANEIRO 0,70 1,38
SÃO PAULO 0,45 1,61
RIO GRANDE DO SUL 0,13 0,10

FONTE: CACEX

MERCADO INTERNACIONAL EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS


EM 1983

PAÍSES/IMPORTADOS QUANTIDADE (n) VALOR (US$)


Alemanha 3.583.076 296.388,20
Áustria 5.912 362,00
Bélgica 112.893 4.524,00
Chile 8,752 740,00
Dinamarca 359.618 14.166,00
Espanha 20.762 827,00
Finlândia 30.431 2.365,00
França 590.930 22.636,50
Holanda 2.306.421 92.141,10
Hong Kong 6.201 1.569,00
Inglaterra 43.834 1.762,00
Itália 45.830 2,411,00
Japão 40.293 4.400,00
Noruega 7.339 308,00
Peru 36.575 3.925,00
Portugal 2.169 104,00
Singapura 32.584 1.222,00
Suécia 218.254 9.238,00
Suíça 131.554 5.093,00
Taiwan 640 640,00
U. S. A. 5.297.399 220.501,50

TOTAL 12.881.467 685.323,30

FONTE: SUDEP/AM

18
FATORES DE PRODUÇÃO

O Estado do Amazonas, sem sombra de dúvidas, possui as condições ideais e


indispensáveis para um grande produtor de pescado.
A sua localização em região equatorial, com clima do tipo Am na classificação de
Kopper, com todos os seus dias geralmente cálidos, proporciona a temperatura ideal
para a reprodução de animais aquáticos.
A insolação recebida no Amazonas chega a ser superior a 2.000 horas anuais,
fazendo com que a temperatura média seja de 27° C.
Somando-se a esses dados a umidade realtiva do ar, em média de 85%, e a
precipitação pluviométrica anual variando entre 1.600mm e 2.800mm, concluímos ser a
Amazônia, e em especial o Amazonas, o paraíso dos animais que vivem nas águas.
Em nosso emaranhado de rios, paranás, lagos, igarapés, furos e igapós, vivem
mais de 2.000 espécies de peixes, das mais exóticas possíveis e desconhecidas, as mais
famosas e admiradas por todo o mundo.
Embora com tamanha potencialidade, somos deficientes de recursos financeiros e
técnicos que nos possibilitem explorar racional e economicamente essa riqueza. Somos
dependentes de vícios tradicionais que impossibilitam melhor desempenho do Setor
Pesqueiro.
Para as atividades da pesca os recursos não estão disponíveis na proporção de sua
importância. Os bancos oficiais não oferecem recursos para o Setor com os mesmos
atrativos que oferecem ao comércio e as indústrias. Reconhecemos as dificuldades de
oferecer garantias, principalmente pelos pescadores artesanais, ou seja, aqueles que não
possuem equipamentos sofisticados para a pesca: seus barcos são simples "geleiros".
No Amazonas a rede de bancos particulares não opera na pesca e limita-se a
operações de empréstimos a alguns despachantes de pescado, conhecidos depositantes
com saldo médio invejáveis. O Banco do Brasil dispunha de um teto mínimo dentro da
própria Carteira de Crédito Rural, com recursos para todo o País numa ordem de Cr$
2,5 bilhões em 1983. E, por incrível que possa parecer, teve dificuldades de aplicação
no Amazonas, principalmente em Manaus, face a ausência de interessados realmente
pescadores. Normalmente, em Manaus, os despachantes tomam dinheiro emprestado na
rede particular e financiam o custeio dos barcos de pesca.
A SUDEPE, até 15.10.84, dispunha de um programa de crédito, PROPESCA, cujo
agente financeiro era o Banco Nacional de Crédito Cooperativo - BNCC, com principal
objetivo de renovar a frota pesqueira nacional e incentivar a criação de peixes e
crustáceos. Infelizmente os financiamentos que foram liberados para o Estado do
Amazonas não atingiram totalmente os objetivos. Foram construídos novos barcos, mas
com as mesmas características e os mesmos problemas dos já existentes, ou seja com as
caixas de gelar sem divisões e sem melhor aproveitamento da capacidade de carga dos
barcos.
Com a nova Constituição de 1988, foi criado o FNO, Fundo Constitucional do
Norte e âmbito estadual o FMPE - Fundo de Fomento a Micro e Pequena Empresa, que
entre os seus objetivos figura o financiamento a pesca artesanal e a piscicultura. Poucos
são os projetos financiados por esses Fundos, até porque qualquer projeto de
piscicultura no Amazonas esbarrava na mais elementar das dificuldades, pasmem: não
produzíamos alevinos.
Quanto à criação de peixes, os poucos projetos financiados não estão surtindo os
efeitos desejados pelas dificuldades de obtenção dos alevinos, falta de seriedade de
alguns piscicultores e recursos com custo muito elevado.

19
Dispunha ainda a SUDEPE de um instrumento de financiamento, o Fundo de
Investimento Setorial - Pesca (FISET - Pesca), constituído de incentivos fiscais, que no
Estado não conseguiu financiar um projeto sequer. As razões que levaram a esse
desinteresse são principalmente a estrutura familiar das empresas de pesca, temerosas de
perder o controle de seus empreendimentos, já que passariam a ser sociedades de capital
aberto, e o desinteresse dos empresários de outras atividades em investir numa área não
considerada como nobre.
A mão-de-obra utilizada na pesca no Amazonas pode ser classificada em pescadores
ribeirinhos e pescadores profissionais.
Os pescadores ribeirinhos são aqueles residentes no interior do Estado que fazem
da pesca sua principal atividade, porém não possuem nenhum vínculo com Colônias ou
Associações de Pescadores e quase sempre não estão registrados no IBAMA e
Capitania dos Portos. Normalmente são ligados umbilicalmente a pequenos
comerciantes por quem são financiados e para quem vendem as suas produções. Em sua
grande maioria dedicam-se à pesca do pirarucu e peixes de pele (lisos). Eles defendem
rigorosamente a proibição da pesca nos lagos vizinhos, não com intuito de preservar,
mas tão somente de não dividir com os pescadores de outros municípios o pescado que
poderão conseguir independente de proibições ou épocas de captura. Ainda como
ribeirinhos são enquadrados aqueles que pescam regularmente para o sustento de suas
famílias, usando apetrechos modestos, e que vendem as sobras para a própria
comunidade.
Os pescadores profissionais vivem exclusivamente da pesca, mas são ligados, ou
deveriam ser, às Colônias ou Associações de Pescadores, e registrados no IBAMA e
Capitania dos Portos. Podem ser subdivididos em dois grupos: Motorizados e não
motorizados.
No grupo dos motorizados estão os pescadores que compõem as tripulações das
embarcações de pesca e que por lei deveriam estar filiados às instituições de classe e ao
IBAMA.
Infelizmente isso não ocorre e uma grande maioria não possui nem mesmo uma
simples Certidão de Idade.
Além do grupo dos motorizados, existem os pescadores profissionais de canoas:
pescam individualmente ou em pequenos grupos com apetrechos pequenos, tais como
caniços, tarrafas, arpões, zagaias, pequenas malhadeiras ou redes, e vendem a produção
nas pequenas cidades do interior. Um bom exemplo são os pescadores de Itacoatiara,
que executam suas atividades no Lago do Canaçari, e aqueles que pescam bem próximo
à própria cidade.
Tanto em Itacoatiara como em Parintins, Tefé, Coari e Tabatinga, alguns
pescadores se reúnem em grupos, alugam um barco e saem para pescar individualmente.
A produção de cada um é transportada em conjunto e comercializada individualmente.
Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas vivendo
exclusivamente de pesca.
Segundo os órgãos que trabalham com a pesca no Amazonas, Federação dos
Pescadores, IBAMA/AM e EMATER/AM, os pescadores estão distribuídos conforme
os quadros seguintes:

20
PESCADORES PROFISSIONAIS DO AMAZONAS

COLÔNIA/ASSOCIAÇÃO MUNICÍPIO N° DE PESCADORES

Colônia de Pescadores Z - 12 Manaus 2.346


Colônia de Pescadores Z - 17 Parintins 775
Colônia de Pescadores Z - 16 Maués 517
Colônia de Pescadores 2-13 Itacoatiara 436
Colônia de Pescadores Z - 09 Manacapuru 632
Colônia de Pescadores Z - 04 Tefé 394
Associação de Pescadores Barreirinha 317
Associação de Pescadores U rucará 041
Associação de Pescadores Coari 332
Associação de Pescadores Boca do Acre 276
Associação de Pescadores Tabatinga 703

TOTAL 6.769

FONTE. FEDERAÇÃO DOS PESCADORES DO ESTADO DO AMAZONAS

21
PERFIL DOS PESCADORES AMAZONENSES REGISTRADOS NO IBAMA

Cadastrados

- Embarcado 1.104
- Desembarcado 24 1.128

Instrução

- Não alfabetizados 115


- Semi alfabetizado 258
- 1° Grau incompleto 627
- 1° Grau completo 96
- 2° Grau incompleto 11
- 2° Grau completo 21 1.128

Sexo

- Masculino 1.121
- Feminino 07 1.128

Possuem Embarcação

- Sim 473
-Não 655 1.128

Vínculo Empregatício

- Autônomo 1.126
- Contrato 02 1.128

Possuem Embarcação

-Sim 473
-Não 655 1.128

FONTE: IBAMA/AM

22
POTENCIALIDADE - ESTOQUE PESQUEIRO

Demais se tem discutido no Amazonas o nível atual de nosso estoque de pescado.


Muitos acreditam que a nossa ictiofauna tem sofrido nos últimos anos decréscimo
razoável em seu estoque. Alegam que tempos atrás os barcos pesqueiros não precisavam
viajar por mais de sete dias para carregar suas "geladeiras". Alegam, ainda, que hoje os
pescadores têm dificuldades de encontrar cardumes dos peixes chamados especiais e de
primeira categoria, mesmo nos rios e lagos mais distantes, e completam afirmando que,
quando encontram,na maioria das vezes são peixes que não atingiram a idade de
reprodução.
Caso típico do Tambaqui que dificilmente é encontrado com mais de 15 quilos.
Outros, todavia, argumentam e defendem que os peixes, em virtude do barulho das
cidades e do tráfego crescente em alguns rios, simplesmente se refugiaram nos locais
mais distantes e isolados, onde encontram alimentos suficientes e melhor proteção.
Ficamos com os primeiros, e baseados nas nossas observações de homem nascido
no interior, feito a ouvir os mais velhos e experientes, principalmente o mestre em
assuntos amazônicos, o nosso caboclo; ele costuma dizer que os nossos peixes estão
desaparecendo.
Realmente estão, não para se esconder. O desaparecimento em virtudes de nosso
atual esforço de pesca e de ausência de providências que possam proteger a época de
reprodução.
O pescador tradicional em suas observações acredita que está havendo redução de
estoque. As causas mais aparentes dessas diminuições de estoque são a proliferação dos
predadores, normalmente não combatidos, como o boto, o mergulhão e os peixes lisos;
a impossibilidades de atingir a idade de reprodução em algumas espécies, em particular
o Tambaqui, e principalmente a pesca de peixes em época da piracema para desova.
Apesar de tudo isso não podemos definir o nosso estoque baseado em observações
científica. Não existe trabalho de pesquisa sobre o assunto. Não se faz até hoje um
acompanhamento da migração das espécies. As dificuldades de obter essas informações
são muitas e vamos conviver com elas por longos tempos.
Os únicos dados de que dispomos são os que nos foram fornecidos pela SUDEPE
até 1983 e que dizem respeito ao desembarque de pescado nos principais municípios
amazonenses, inclusive em Manaus. Esses dados, coletados por funcionários da
SUDEPE e das colônias, através de informações verbais dos pescadores, não espelham a
realidade e servem somente como indicadores da produção e da produtividade. O
IBAMA que substituiu a Sudepe acabou com isso.
Analisando-se o gráfico da produção desembarcada em Manaus (página 19),
observa-se que a produção, no período de 1979 a 1983, oscila em torno de 30 a 40 mil
toneladas. À primeira visita poderíamos ter uma idéia de estabilização, no entanto, se
atentarmos para o fato de que o esforço da pesca tem aumentado consideravelmente,
não somente pela entrada de novos barcos na pesca, mais de 300 nos últimos anos, mas
também pelo aumento do contingente de pescadores em conseqüência do excedente de
mão-de-obra no interior não aproveitada na agricultura e pela difusão de aparelhos de
pesca mais eficientes tais como as malhadeiras de fio sintético e as grandes redes de
cerco, concluiremos que precisaríamos no mínimo ter duplicada a produção para
acompanharmos o crescimento populacional de Manaus. Isso não ocorre por várias
razões, a principal hoje é realmente a diminuição assustadora de nosso estoque
pesqueiro. Mesmo assim, paradoxalmente, contrariando todas as leis econômicas,

23
continuamos irresponsavelmente desperdiçando pescado em grandes quantidades como,
aliás, se faz com outros alimentos no Brasil.

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26
ANOS 1979 1980 1981 1982 1983
MUNICÍPIOS
MANAUS 24.575 19.210 21.304 24.252 38.546
TABATINGA 1.785 2.450 2.213 2.163 2.121
ITACOATIARA 1.648 1.418 1.517 1.587 1.383
TEFÉ 1.412 925 970 1.247 1.214
COARI 900 840 1.259 1.037 1.028
PARINT1NS 836 848 765 925 920
MANACAPURU 787 1.009 1.356 1.494 1.747
MAUÉS 326 288 446 518 533
32.270 26.988 29.830 33.223 47.493

FONTE: SUDEPE/PDP e COLÔNIA Z-12 ( Manaus }

A tendência no aumento da produção demonstra claramente o aumento do esforço


de captura a partir de 1980, quando se iniciou o Programa do Governo do Estado de
interferência no comércio de Pescado, com a participação maior dos frigoríficos
particulares, preocupados em comprar peixe barato na época de entre-safra e vender
depois ao Governo por preços bastante compensadores. O fato merece profunda
reflexão pelos responsáveis por essa política: não resolve o problema da população,
contribui para remuneração menor dos pescadores, pois os frigoríficos compram por
preços irrisórios, e serve somente para aumentar o esforço da captura e desperdiçar
grande quantidade de pescado, sem ter onde ser armazenado.
No próximo capítulo, que trata da captura, poderemos observar mais alguns fatos:
eles certamente ajudarão a perceber que não podemos continuar ininterruptamente
pescando como estamos fazendo, sem ter de tomar providências sérias para evitar o
desperdício e a exaustão de nosso estoque de peixes.
De uma coisa porém estamos certos: a política adotada pela SUDEPE, no período
de 1982/84 ativando a fiscalização e principalmente proibindo a pesca em mais de 50
lagos considerados como criatórios em época de piracema para desova, contribuiu para
um aumento significativo da produção neste últimos anos, fazendo com que
atingíssemos níveis nunca antes alcançados, como ocorreu em maio/84.
Esse fato comprovou a necessidade de se estruturar Manaus com uma capacidade
de estocagem que possibilite a instituição de períodos de defeso para nossas principais
espécies e até mesmo a proibição da pesca comercial em Manaus e outros municípios
que disponham de estrutura de armazenamento no período da piracema para desova
(dezembro a fevereiro).
Felizmente esse brado, depois de longos anos foi adotado pelo IBAMA para
algumas espécies, no entanto a falta de fiscalização resulta na inocuidade da proibição.
A solução que defendemos para eficiência dessa medida é a proibição por áreas
geográficas. Cada ano se proibiria a pesca em um grande Rio e seus afluentes.
O conceito de estocagem, principalmente no interior do Estado, precisa ser revisto.
Acreditamos que o armazenamento de peixes vivos em gaiolas ou tanques redes seja
uma solução mais racional e que merece ser testada com seriedade.

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AS ARTES E OS APETRECHOS DE PESCA

A FROTA PESQUEIRA

No Estado do Amazonas a atividade pesqueira realiza-se de forma contínua e


praticamente ininterrupta; entretanto a produtivadade aumenta ou diminui de acordo
com o regime dos rios. Também na pesca o "rio" comanda a "vida".
Durante as enchentes, com extensas áreas inundadas, principalmente as "cabeceiras" dos
rios, igapós e igarapés, os peixes se dispersam dificultando a sua captura - é a época da
entre-safra.
Durante o período de vazante, por razões exatamente contrárias, há maior
concentração de peixes em áreas menores, facilitando as operações de pesca- é a safra
ou época do "bafafá"ou "bamburrá".
No quadro seguinte, percebemos claramente essa distribuição das épocas de
captura, cujas pequenas variações decorrem da influência da lua ou de algum fenômeno
climático não previsto.

Épocas e ocorrências que influenciam a captura de Pescado no Estado do


Amazonas

PERÍODO OCORRÊNCIAS
Época de peixe ovado. Os peixes saem em piracema para a desova
DEZ/JAN facilitando a captura, ocasionando um aumento considerável na
produção e paradoxalmente contribuindo para exaurir o nosso
estoque pesqueiro.
Ocasião em que a Lua está em quarto crescente,permitindo que
FEV/MAR ainda se tenha uma pequena fartura, todavia os peixes já estão
bastante magros, são os que desovaram.
ABRIL Tradicionalmente o mês de menor produção do ano.
Época de safrinha, com peixes gordos e brancos principalmente
MAIO jaraqui e matrinxã.

Dependendo do comportamento da vazante dos rios, será maior ou


J U N/J U L menor a dificuldade de captura. Neste período estamos na fase de
menor produtividade, onde inclusive vários barcos, principalmente
no interior, se retiram da pesca e se dedicam ao transporte de gado e
outros produtos.
Época de fartura ou do "bafafá" ou "bamburrá". Há volume
AGO/NOV excessivo de pescado, quando a produção atinge o seu ponto
máximo, ocasionando um desperdício por falta de frigorificação.
Esse fato se repete em quase todos os meses do ano, com execeção,
talvez, em abril e julho.

Analisando dados de produção fornecido pela SUDEPE do período 79/ 83,


concluiremos que somente em abril a produção não ultrapassa as 2.000 toneladas.
Por coincidência nesse período a Igreja Católica celebra a quaresma e a Semana
Santa, quanto o consumo de peixes aumenta, e, com a diminuição da oferta, os preços
sobem assustadoramente.

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A captura, no Estado do Amazonas, com volume significativo é realizada pelos
barcos de pesca "os geleiros", que seguem para os locais de pesca distribuindo em quase
todos os nossos principais rios. Entre os que mais contribuem para o abastecimento de
pescado em nossas cidades, destacam-se o Solimões, Purus, Juruá e o Madeira.
Muitos são os métodos de captura. Também, muitos os apetrechos ultilizados pelos
nossos pescadores.
O principal equipamento é, sem sombra de dúvidas, a canoa. É o ponto de partida.
Com ela a pesca pode ser executada com linha-de-mão e até mesmo com criminosos
explosivos ou entorpecentes, mas, fundamentalmente, com arrastão, tarrafa e rede.
Os principais apetrechos de pesca, utilizados pelos pescadores no Amazonas, são:

REDE OU REDINHA:

É o aparelho mais empregado na região, porque serve tanto a pescaria em lagos


como no leito dos rios, desde que haja um espaço mínimo para ser lançada, também por
que não custa caro quanto a arrastadeira.
Tem malhas com os mesmo tamanhos da arrastadeira, mesma altura em média,
mas seu comprimento é bem menor. Os maiores arrastões chegam a medir 60 braças de
comprimentos, mas o comprimento médio gira em torno de 28 braças. O número de
lances numa pescaria é maior para o arrastão do que para redes.
Seu emprego é realizado com auxílio de 02 canoas que transportam em média 06
pescadores: o proeiro, responsável pela estratégia de localizar e fechar o cardume,
geralmente é o pescador mais experiente do grupo. Sentado logo atrás do proeiro está o
segundo lanceiro, que tem a função de remar e puxar o chumbo da rede; atrás dele situa-
se o largador de rede e finalmente o popeiro que "calça"a canoa para que ela não entre
na rede ao colher a cortiça do entralhe superior, impedindo o peixe de saltar para fora da
rede. Em outra canoa, menor, está o cambiteiro: ele segura o cabo da rede batendo-o na
água para espantar o peixe, a fim de que penetre na rede. Quando uma certa porção do
lago é cercada para capturar cardume, que nem sempre precisa ser visto, pois às vezes a
sua presença é percebida indiretamente (a Pescada, por exemplo, emite um barulho
típico que a denuncia ), a canoa grande faz um círculo largando a redinha e vai se
aproximando da canoa pequena que começa a se mover em sua direção. Quando elas se
encontram o cardume é "fechado"e o chumbo é então puxado para dentro da canoa
grande, onde se realiza a despesca. A canoa pequena encosta-se bem à canoa grande
para servir-lhe de apoio à medida que o peso da rede mais o do pescado aumenta.

ARRASTÃO OU ARRASTADEIRA (OU REDE GRANDE):

É um aparelho de grande dimensões, chegando em alguns casos a medir 500


metros de comprimento por 13 metros de altura. A malha pode ter 20,22 ou 25 mm
entre os nós opostos. Geralmente é empregada nas margens dos grandes rios (por isso
alguns pescadores a chamam de Arrastão de Praia), em locais às vezes previamente
preparados chamados "lanços".
O "lanço" é um local estratégico onde o peixe deverá passar fatalmente nas épocas
de migração, quando forma grandes cardumes.
Assim, nesse local, os pescadores eliminam a vegetação para facilitar o emprego
do aparelho em época que precedem a migração, preparando o sítio para a pesca.

36
Quando o nível das águas está baixo não é necessário o feitio do "lanço"a pesca é
feita nas praias naturais do rio ou nos grandes lagos, embora seja difícil porque no
fundo dos lagos a quantidade de "pauzada" (tronco do fundo) é bem maior, impedindo o
emprego adequado do aparelho.

MALHADEIRA (CAÇOEIRA OU REDE DE ESPERA):

É um aparelho que tem dimensões muito variáveis. Na pescaria são empregadas


malhadeiras cujo tamanho da malha entre nós opostos vai de 10 até 300mm. O
comprimento varia de 8 a 30 braças (1 braça média + erro padrão = 172 + 0,24 cm). Sua
altura pode atingir até 5 metros, tendo em média de 2 a 3 metros.
É empregada principalmente em lagos, podendo também ser armada no'remanso
dos rios. Seu emprego está em grande expansão porque é um aparelho que custa
relativamente pouco, de manuseio cômodo e pode ser armado em grandes quantidades.
Ao contrário da arrastadeira a pescaria com malhadeira tem característica mais
individualizada.
Um pescador montado numa canoa tem a tarefa de armar certo número de
aparelhos e zelar por eles enquanto estiver pescando.
Na maioria das vezes é empregado à noite. O lote é armado no fim da tarde e
recolhido nas primeiras horas da manhã. Há alguns pescadores que a deixam operando o
tempo todo, revezando-se em grupos. Em intervalos, que dependem da densidade local
de predadores é feita a "corra" onde o aparelho é levantado sem ser desarmado,
permitindo que o pescador retire os peixes já capturados. O intervalo entre uma "corra"
e outra pode ser estimado em 3 horas. A pescaria com malhadeira é muito seletiva. Para
cada tipo de pescado que se deseje capturar, emprega-se malhas de tamanho adequado.
Assim, para apturar pescada, usa-se malha de 70 a 100mm; para capturar tambaqui usa-
se malhas de 150, 200, 280 e até 300mm entre nós opostos.

TARRAFA

É uma pequena rede em forma de disco, dotada de um cordel no centro, que fica
preso à mão esquerda do tarrafeador. Para usá-la, com a mão direita junta-se uma
grande parte da tarrafa e lança-se na água. A tarrafa é aberta como uma teia de aranha,
apanhado os peixes que se encontram naquele círculo. Alguns pescadores usam a boca
para facilitar a abertura da tarrafa quando fazem o arremeço. Em seu redor a tarrafa é
guarnecida com chumbo e uma prega dividida em pequenos espaços que, quando
puxada fora, faz com que os peixes não possam escapar, ficando nas bolsas. O chumbo
é para que a tarrafa afunde mais depressa, não dando aos peixes tempo de escapar.

ESPINHEL :

É uma grande linha de nylon ou de manilha na qual se prendem, em espaço, linhas


armadas de anzóis. O espinhei é colocado em lagos, paranás, igarapés e rios; captura
quase todas as espécies de peixes principalmente o Tambaqui- Colossoma Bidens(Spix),
variando com os tamanhos dos anzóis e dos tipos de iscas usadas.

ARPÃO :

Empregado principalmente na pescaria do Pirarucu. Consta de uma haste longa e


pescada, fabricado em "pau d'arco", com uma porta de ferro que se encaixa em uma de

37
suas extremidades. Presa ao arpão está uma corda (arpoeira) , com 20 a 30 braças, em
cuja extremidade está amarrada uma bóia de madeira (molongó) ou plástico. O
arpoador, sentado na proa da canoa, ao ver o Pirarucu boiar marca o local de memória e
rema a canoa vagarosamente até suas proximidades. Quando o peixe bóia novamente, o
arpão é vigorosamente lançado em sua direção, atingindo-o geralmente no dorso. A
ponta solta-se da haste, que é recolhida pelo pescador. O peixe começa a vaguear e o
pescador segura fortemente na arpoeira. Se o comprimento da arpoeira é pequeno e o
peixe é grande, ele pode soltar a arpoeira com a bóia presa em sua extremidade. Após
alguns minutos ela irá denunciar a presença do peixe, já cansado, que algum tempo
depois, ainda vivo, é puxado para fora d'água pela corda presa à ponta de ferro. Quando
o peixe aparece à tona d'água o pescador com um pedaço de madeira golpei-Ihe a
cabeça, matando-o e em seguida colocondo na canoa. Após eviscerado é colocado na
geladeira do barco. A haste do arpão é conhecida pelo pescadores como"astia".

ZAGAIA:

Empregada principalmente na pescaria do tucunaré, e que se denomina de


"pescaria de facho". A zagaia é um tridente usado para pescaria com auxílio de uma luz
forte (lanterna elétrica, luz ligada a bateria de automóvel ou lanterna de carbureto) à
noite. O pescador procura, sentado na proa da canoa, o peixe que fica quase parado na
margem dos lagos, como se estivesse dormindo. Quando o focaliza com a lanterna, ele
fica imóvel; disso se aproveita o pescador para espetar-lhe a zagaia, capturando-o.

ANZOL - LINHA DE MÃO :

Utilizado principalmente por amadores para pesca de peixas lisos. Também é


muito usado para a pescaria da Pescada.
Consta de uma linha comprida com um único anzol, iscado com pedaço de peixe
ou camarão, que, após atirada ao longe, é deixada descer até o fundo. O pescador pode
deixa-la imóvel ou, com movimentos ritmados, sobe e desce a linha em pequena
amplitude até que o peixe morda a isca e seja capturado. Essa decisão depende do tipo
do peixe que se está tentando capturar.

CANIÇO :

Como é comum, consta de uma linha com anzol e chumbo presa numa haste.
Dependendo do peixe que se quer capturar o tamanho do anzol varia bastante. A isca
também varia, dependendo do pescado e da época do ano. Na pescaria do Tambaqui
com caniço (que nesse caso particular é chamado "canicão") os pescadores usam os
frutos da temporada colhidos no igapó. Na pescaria do Tucunaré usam isca de peixe
vivo.

PINAUACA :

É um caniço com anzol, onde se prende um pedaço de tecido encarnado ou pena


de Arara. O pescador começa então a resvalar o anzol na superfície da água num
movimento de vai-e-vem ritmado até capturar o peixe.

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CURRICO :

Consta de uma colher de metal niquelado com anzol camuflado, preso a uma linha
comprida que se arrasta à popa da canoa com motor. Quando a canoa se põe
vagarosamente em movimento, a colher começa a brilhar um pouco abaixo da superfície
da água imitando um pequeno peixe que atrai o predador que é capturado. É usado
principalmente por amadores para a pesca do Tucunaré.

ESTIRADEIRA

É uma linha comprida de mais ou menos dez metros com quatro anzóis. Fica à
meia água como um espinhei. Bastante usada na pescaria do Tambaqui no igapó, onde a
linha fica presa em ramos finos das árvores. A isca, como a do caniço, varia bastante.

ARCO E FLECHA :

Apetrecho conhecidíssimo, legado a nós pelos indígenas, ainda hoje é utilizado.


Interessantíssimo o seu uso pelos caboclos na "pesca" da tartaruga. Incrível a noção de
balística no cálculo da distância e no caminho que a flecha percorrerá para atingir o alvo
a algumas dezenas de metros. Esse tipo de pesca ainda é executado na região do
Município de Urucurituba, em pleno leito do rio Amazonas.

CACURI:

É constituído de duas cercas de madeira fixas no chão , com duas esteiras móveis
no centro. São construídas paralelamente de uma margem à outra com duas esteiras
móveis. A do centro, funcionando como portão, abre-se ao impulso do cardume,
fechando-se em seguida, após a passagem não dando tempo aos peixes para se libertar.
O pescador com a tarrafa ou arpão, dependendo do tamanho do peixe aprisionado,
faz a captura.

TÓXICOS:

Praticamente o Timbó ( Rotenona ) é o único tóxico utilizado para a pesca. Sabe-


se que, desde a época do descobrimento do Brasil, os indígenas da região Amazônica já
o utilizavam para a captura do peixe.
Entre algumas plantas com as propriedades ictiotóxicas do Timbó (rotenona),
podemos destacar as dos gêneros Derris, Lanchacarpos, Mundules, Spatholobos,
Tephosia, Milletis.
Para usá-la o caboclo faz um macerado e joga na água. O poder narcótico da
rotenona faz com que os peixes subam à superfície,mortos ou narcotizados, e sejam
apanhados por um puçá ou rapixé.

CERCA:

São construídas com varas resistentes e unidas entre si com arames, pregos ou
cipós. Tem por finalidade bloquear a saída dos peixes dos lagos na época em que as
águas começam a diminuir. Às vezes, devido à grande quantidade de peixes retidos nos
lagos, o desperdício é enorme. O aquecimento da água gera a diminuição da
concentração de oxigênio dissolvido, ocasionado a morte dos peixes.

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EXPLOSIVOS :

Embora seja também proibido o uso de explosivos, ainda são utilizados nas
adjacências de Manaus, por pescadores amadores, e na região de Tefé, por influência de
antigas pesquisas da Petrobrás, ocasionando um grande desperdício de pescado.
O pescador arremessa a dinamite ou bomba caseira acesa na mão em ;ima do
cardume que passa. Apenas uma pequena fração é aproveitada, pois a maioria vai ao
fundo. A coleta dos peixes é feita por um puçá.
Muitos têm sido os casos de acidentes fatais neste tipo de pescaria,
Drincipalmente no Lago deTefé, onde os pescadores se utilizam de "bananas" te
dinamite encontradas nas linhas de pesquisas efetuadas naquele município.

FOCO :

É basicamente construído de um farol de carro que funciona à bateria 3u a


carbureto; é direcionado para o leito dos rios, lagos, igarapés, paranás, 3tc. Os peixes
ficam imóveis quando atingidos pela forte luz; disso se aproveita ) pescador para fazer a
captura de zagaia ou terçado (facão). É um método muito pouco utilizado.

MATAPI :

Cerca de palha de inajá ou curuá, traçada de margem à margem nas cabeceiras dos
lagos, impedindo a saída dos peixes.
Feita batição os peixes aglomeram-se perto da cerca; após é construída nova cerca
a um metro de distância da primeira. Os peixes são então capturados com arpão ou
zagaia.

PARI :

Em qualquer época do ano este método de pesca pode ser aplicado. É constituído
de possantes varas fixadas nos leitos dos igarapés e lagos com um ou até quatro portões.
Na frente de cada portão fincam-se quatro varas que, na passagem do peixe, se abrem
em forma de leque, o suficiente para o pescador, que está observando armado de arpão,
fazer a captura.
Há outros variados métodos de captura, dependendo da imaginação do caboclo da
Amazônia, mas não possuem significância no esforço da pesca.

ARTES E APETRECHOS UTILIZADOS DE ACORDO COM A SITUAÇÃO


DOS RIO

PERÍODO APETRECHOS USADOS


Enchentes Malhadeiras, espinheis, arpões e zagais
Vazante Rede ou Redinha
Cheia Malhadeiras com batição
Seca Arrastão ou arrastadeiras nos lances de praias

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41
42
Entre todas as formas e métodos de pescaria, o mais característico do
Amazonas é a pesca nos "lances" "Lances ou Laços" são locais previamente
escolhidas nas margens dos rios e que foram observados como passagem
costumeira dos cardumes em piracema. São considerados propriedades dos
pescadores que as preparam e lhes dedicam o máximo de respeito entre si por
esse direito tradicional. Os "lances" podem ser transferidos de proprietário
mediante a compra do terreno, em cuja margem está situado, ou, em caso de
terras devolutas, até ser a área requerida ou adquirida por alguém. Existem
muitos "lances" provenientes de acordo entre proprietários de terrenos e
pescadores, para exploração desse locais. Como tais áreas são consideradas
"áreas de Marinha", não sabemos até que ponto esses acordos têm validades, no
entanto servem para eliminar possíveis atritos.
Após capturados, levam-se os peixes para os barcos de pesca onde sào
acondicionados nas "caixas de gelar ou geladeiras", na proporção de um quilo de
gelo para um quilo de peixe.
O gelo pode vir sob a forma de barras com peso variado de 20 a 50 kg ou
em tabletes conhecidos como "escamas". O "gelo em pedra" ainda deverá ser
quebrado para sua utilização. A operação é executada com pequenas marretas,
normalmente em cima do próprio pescado, prejudicando sua qualidade e
aumentando a mão-de-obra do pescador.
O gelo do tipo "escama" já vem em condições de ser utilizado.
Devido às condições das "caixas" sem divisões, não há possibilidade de
classificar ou separar as espécies capturadas. O fato prejudica o pescador/
armador, por não poder vender o peixe com melhor preço. Terá de esperar que a
"caixa" vá sendo esvaziada. Como a maioria dos barcos têm cargas quase sempre
de peixe de uma só qualidade, o problema não chega a ser percebido pelos
armadores, mas a seleção bem que ajudaria a comercialização.
Mas, se não chega a prejudicar pela não classificação dessas espécies, com
absoluta certeza deteriora a qualidade do pescado estocado por primeiro na
"caixa", o último a sair para a comercialização.
A frota pesqueira do Estado do Amazonas está classificada em quatro
categorias:
- canoas motorizadas, com capacidade de até 02 toneladas;
- barcos pequenos, com capacidade de até 10 toneladas;
- barcos médios, com capacidade de 10 a 20 toneladas;
- barcos grandes, com capacidade superior a 20 toneladas;
Segundo o Registro Geral da Pesca da SUDEPE/AM de 1984, a frota no
Amazonas apresentava a seguinte evolução, por estimativa: Além dos 646 barcos
registrados, deveriam existir pelo menos mais de 350 barcos operando de forma
ilegal, principalmente no período da safra, ou seja, nos meses de agosto a
novembro.
Hoje, com o IBAMA substituindo a SUDEPE, não temos dados coitados sobre a
atividade pesqueira no amazonas. Alegam seus dirigentes que essa informações não
eram confiáveis, por isso foi mais fácil eliminá-las. Cremos que mais responsável seria
fazê-las confiáveis.

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FROTA PESQUEIRA DO AMAZONAS

CANOA BARCO GRANDE


BARCO
MOTORIZAD MÉDIO BARCO TOTAL
ANO PEQUENO
A (de 10 a 20 (d* + 20
(de 2 a 10 TB)
(ale 2 TAB) TAB) TAB)
1968 - 03 07 - 10
1969 - 12 13 - 25
1970 - 15 18 04 37
1971 - 16 22 04 42
1972 - 17 23 07 47
1973 - 26 24 10 60
1974 - 73 39 16 128
1975 - 137 67 21 255
1976 02 173 80 24 279
1977 03 210 99 30 342
1978 03 223 102 36 364
1979 03 234 107 41 385
1980 04 295 141 50 490
1981 04 322 149 56 531
1982 04 362 164 65 595
1983 04 393 175 74 646

FONTE : SUDEPE/ REGISTRO GERAL DA PESCA


Dados até maio/ 83.

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FREQÜÊNCIA MENSAL DE CHEGADA DOS BARCOS PESQUEIROS
A MANAUS, COM COMERCIALIZAÇÃO NO MERCADO ADOLPHO
LISBOA-1983

Embarcação com capacidade em toneladas


TOTAL
MÊS
02 10 20 35 50 70 Acima de 71
JANEIRO 12 151 33 13 06 03 01 219
FEVEREIRO 19 136 41 12 05 03 - 216
MARÇO 09 138 36 13 07 - . 203
ABRIL 12 106 34 11 09 07 - 179
MAIO 11 121 62 22 13 07 . 236
JUNHO 12 163 38 10 06 01 - 230
JULHO 14 147 50 15 06 05 - 237
AGOSTO 05 209 76 16 07 02 - 315
SETEMBRO 10 167 72 21 10 02 - 282
OUTUBRO 03 177 62 20 08 03 . 273
NOVEMBRO 08 138 51 16 04 05 - 222
DEZEMBRO 10 157 53 22 09 03 - 254

FONTE : Colônia Z- 12 de Manaus


OBS : Neste quadro não contam a chegada dos barcos aos portos da PANAIR.
Compensa. Gloria e São Raimundo

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A frota pesqueira do Amazonas é constituída em 60% de barcos do tipo pequeno.
São na realidade aqueles que têm maior produtividade relativa, nos dias atuais, em face
dos custos elevados das despesas de custeio, onde o diesel e o lubrificante representam
mais de 50% dessas despesas.
Quanto ao comprimento dos barcos, com menos de 20 toneladas de arqueação,
varia com o mínimo de seis metros e o máximo de 18 metros, e intervalo de 9 a 15
metros. Constituem 85% das embarcações pesqueiras. Para os barcos com mais de 20
toneladas de capacidades o comprimento varia entre 18 e 34 metros, com 55,8% do total
no intervalo de 16 a 20 metros.
A boca (maior largura do casco) varia entre 3,50 e 6,20 metros, sendo que a maior
frequência se encontra nos barcos com 4,40 a 5,00 metros, participando com a quota de
40,4%.
Com relação ao calado (distância vertical entre a superfície da água e a parte mais
baixa da embarcação) para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidade, há
variação desde 0,50 a 2,10 metros, sendo 73,1% na faixa de 0,90 a 1,50 metros.
O pontal (distância vertical da embarcação entre a guilha e o convés) varia de 1,11
a 2,70 metros; na faixa de 1,11 a 1,90 metros encontra-se a maioria de Manaus, o
YANMAR e o MWM 38%, dividem as preferências dos motores.
A potência dos motores varia de 03 a 250 HP.
As embarcações da frota pesqueira de Manaus, ou "geladeiras", são construídas a
nível de artesanato, sem nenhum projeto ou desenho antes de sua estrutura. Não há, pois,
padronização.
As escotilhas podem estar dispostas de três maneiras diferentes:. nas laterais, na
parede anterior frontal ou na parte superior.
Os barcos não dispõe de qualquer instrumento auxiliar de navegação. Existe a
bordo, porém rádio portátil para captar recados transmitidos por estações da capital.
A conservação do pescado é feito na "geladeira". Ela possui caimento nos sentidos
transversal e longitudinal, com dreno para escoamento.
O isolamento térmico das caixas é feito, em cada parede, por duas folhas de zinco
separadas por pranchas de madeira (itaúba ou cedro) e isopor em placas colocadas com
juntas desencontradas.
A madeira empregada na construção dos casco dos barcos é itaúba; na cobertura
ou tolda e nos fechamentos laterais dos camarotes, casa do leme, etc; usa-se cedro; os
arcos das cavernas, que exigem boa resistência e flexibilidade, são feitos de raízes ou
galhos de itaúba ou piquiá.
Embora sirva à construção de embarcação mais resistentes e duráveis, o ferro é
pouco empregado nesta região. Basta verificar o número de estaleiros de contrução e
reparos em Manaus e localidades adjacentes: três para construção e reparos de barcos de
ferro e 87 para barcos de madeiras.
Muitos barcos médios e grandes mudaram de atividades ou só se dedicam à pesca
na época da safra, uma vez que despesas de "armação" são realmente grandes. Se um
barco pequeno utiliza 600 litros de diesel para uma viagem de 15 dias, os médios
gastarão três e os grandes até dez vezes mais.
Como nem sempre são bem sucedidos em suas pescarias, para os barcos médios e
principalmente grandes será mais difícil recuperar o prejuízo acumulado de viagens
anteriores.
A maioria dos armadores de pesca, para equipar seus barcos, é obrigada a recorrer
aos "despachantes" que lhe adiantam recursos para os investimentos da "campanha"ou
seja, da viagem. São pagamentos de gelo, combustíveis e lubrificantes, ranchos e
"abonos" para as famílias dos pescadores.
Os barcos de pesca quase todos são mal dimensionados. Têm potência exagerada
forçando consumo desnecessário de combustível. Mas o principal defeito está nas

47
"caixas de gelar", fabricadas com pouco material isolante e sem as necessária
divisões.Tais falhas fazem com que o pescado transportado e comercializado em
Manaus não tenha condições de congelamento.
Muito se poderia melhorar as condições de transporte do pescado se fossem
tomadas as seguintes providências:
- Dividir as "caixas de gelar" em urnas ou prateleiras, possibilitando menor volume por
módulo e facilidade de reposição de gelo durante a viagem.
- Imersão do pescado em água misturada com gelo, antes de ser arrumado nas urnas ou
prateleiras;
- Antes da construção da caixa, procurar um especialista em tecnologia de pescado, para
calcular o tamanho da caixa, o tipo de isolamento, a espessura e o material a ser usado;
- Isolar o espaço entre a "caixa de gelar" e o casco, mesmo com material mais barato,
auxiliaria bastante a eficiência da conservação.
Essas medidas melhorariam substancialmente a qualidade do produto, evitando também
o desperdício hoje em torno de quase 30% do pescado transportado, principalmente
porque seria descarregado rapidamente quando chegasse a Manaus. A necessidade de
estocar o pecado nos barcos por vários dias, à espera dos compradores, faz com que a
sua qualidade não permita, após 2 ou 3 dias, ser congelado. A perda de calor pela
abertura da caixa é altamente significativa e deve ser evitada ao máximo. O ideal seria a
descarga do barco de uma única vez. O peixe seria classificado e estocado em câmaras
de resfriamento, acondicionados em "caçapas" com gelo. Nessa mesma embalagem
seria comercializado nas feiras e mercados.

BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL)

48
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL)

49
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS
(ESCOTILHAS LATERAIS)

50
BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS
(ESCOTILHA SUPERIOR)

51
COMERCIALIZAÇÃO, INDUSTRIAL E EXPORTAÇÃO

Na comercialização do pescado está a principal dificuldade de nossa atividade


pesqueira.
É assunto que apresenta os maiores problemas e cujas conseqüências atingem
diretamente os consumidores.
O sistema de comercialização efetuado no Amazonas tem seu principal mercado
na cidade de Manaus. A comercialização nas cidades do interior, com raríssimas
exceções, é feita sem interferência dos atravessadores. Os pequenos pescadores
comercializam diretamente com os consumidores a sua produção.
Um dos poucos municípios do interior do Amazonas onde a comercialização é
realizada por feirantes é Itacoatiara, onde por sinal o pescado acompanha os preços de
Manaus.
Em Tabatinga ocorre um fato interessante. Os pescadores, que trazem o peixe para
ser comercializado na cidade, não podem deixar as suas canoas amarradas à margem do
rio e levar a produção para vender no Mercado. Caso aconteça, quando voltarem as
embarcações já terão desaparecido, roubadas, e, como se trata de fronteira, nunca mais
as encontrarão. Por isso entregam o pescado a menores, que vendem no Mercado por
preços majorados em mais de 100%.
Nos municípios menores , onde não existem pescadores organizados, ou em
alguns casos até mesmo com Associação de Pescadores, a comercialização acontece no
próprio rio, diretamente de suas canoas.
Em certos municípios os prefeitos tentam disciplinara Comercialização, obrigando
os pescadores individuais de pequenas canoas a vender o produto no Mercado. Às1
vezes não oferecem nem dez peixes. Cremos com a experiência de três gestões como
Prefeito, que obrigar um pobre pescador, após um dia de trabalho solitário com
apetrechos primários, com produção insignificante, a vender 04 ou 05 peixes no
Mercado, chega a ser desumano. A taxa paga à Prefeitura nem cobrirá as despesas com
a limpeza de sua banca.
Também os Prefeitos Municipais, com base na tradição e nos costumes locais,
tabelam o preço do peixe e da carne evitando que os preços sejam violados. Outras
vezes cobram uma taxa de 3 a 5% para manutenção dos Mercados. Somando-se às taxas
cobradas pelas Colônias e Associações, até 5%, o pescado chega aos consumidores
onerado de aproximadamente 10%.
Em Manaus o sistema de comercialização é bem mais complexo. Ao chegarem a
Manaus os barcos pesqueiros ficam à espera do leilão noturno, às 22:00 horas. Neste
horário, mesmo aos domingos e feriados, realiza-se a comercialização do pescado.
Ontem, ao largo do Mercado Adolpho Lisboa, hoje, no porto da Feira da Panair,
com uma frota que pode somar 60 barcos, dependendo da época, o peixe é leiloado sob
o pregão dos despachantes e a bordo de cada barco, com a participação dos feirantes.
Munidos de apenas um caderno e uma "esferográfica"os despachantes vão anotando os
peixes adquiridos pelos feirantes, que os deverão pagar antes da próxima compra,
geralmente no dia seguinte.
As vendas são feitas em confiança. Quem não honra seu compromisso tem o nome
registrado no "Quadro dos Caloteiros"afixado no Porto de Desembarque.
O peixe comprado pelos feirantes, ao deixar a "caixa de gelar", começa a sofrer
majoração no preço. O feirante tem de pagar o remador e o aluguel da canoa, o
carregador que leva o peixe ao veículo, o transporte até a feira, o aluguel da banca e as

52
taxas municipais. Como ele adquire quantidades pouco significativas, é obrigado a
cobrar bastante caro para cobrir os custos e obter lucro suficiente para o sustento da

família. Por essa razão o pescado tem um diferencial médio de preço, entre a entrega do
barco e a feira, de mais de 300%.

53
O peixe tem preço estipulado de acordo com a época. As leis do mercado são
rigorosamente obedecidas entre produtor e feirante. Daí para a frente vigorará a "Lei do
Cão". O consumidor raramente se beneficia dos aumentos da oferta, a não ser que
ocorra exagerada produção e sejam os armadores obrigados a vender diretamente aos
consumidores, para minimizar os seus prejuízos.
Muitos são os mercados e feiras de peixes em Manaus. Os mais tradicionais
apresentam algumas condições de higiene, mas a maioria nunca recebeu a limpeza de
uma vassoura ou detergente. As nossas feiras de peixes são verdadeiros atentados à
Saúde. O melhor exemplo era a "Feira do Bagaço", na compensa. O próprio nome
dispensava comentários. Hoje várias feiras na Prefeitura de Manaus são "reencarnações
da "Feira do Bagaço", inclusive a própria.
Além dos feirantes existem também os "peixeiros ambulantes". Eles quase nunca
possuem carteira de saúde, nem precisam: carregar um taboleiro na cabeça por vários
quilômetros e muitas horas já credenciaria como saudáveis. Mas infelizmente, não pode
ser assim.
As indústrias de pescado normalmente adquirem o peixe na época da safra, no
priodo de agosto a novembro, para diminuir o tempo de estocagem.
Até o início de 1981, quase só negociavam com peixes de pele. Quando adquiriam
peixes de escama, destinavam ao mercado dos outros Estados ou exterior.
Com a interferência do Governo do Estado no abastecimento do pescado, em
1981, despertou o interesse dos frigoríficos que, a partir de então, passaram a formar
estoques visando a venda ao Governo.
O Estado do Amazonas apresenta capacidade de estocagem para 3.960 toneladas,
dos quais 2.500 na Capital. Esse total daria para abastecer Manaus por cerca de 45 dias.
Contando com a capacidade de estocagem dos municípios vizinhos de
Manacapuru e Itacoatiara, mais a produção do período de entre-safra, com menor
produção no mês de abril, em torno de 1.500 toneladas, não sofreríamos tanta
especulação de preços.
Acontece que os frigoríficos trabalham com capacidade ociosa. A ociosidade
média mensal dos frigoríficos fica mais ou menos em 60%. Na realidade os empresários
da pesca somente compram peixes de escama de setembro a novembro. Neste curto
período se abastecem e esperam a entre-safra para vender ao Governo do Estado. Nos
outros meses o excedente volta para o rio já estragado.
Os principais motivos alegados pelos industriais são basicamente a falta de capital
de giro, a dificuldade de comercialização do peixe congelado e, para alguns, a
qualidade, já que a mais de 60% do pescado que chega a Manaus não permite o
congelamento.
Para resolver tais problemas a SUDEPE em I983 sugeriu a criação de um Fundo
para Formação de Estoque Regulador, cujos objetivos seriam os seguintes:
- Assegurar um fluxo contínuo de matéria-prima para as indústrias pesqueiras,
mediante a estocagem de pescado;
- Regular o abastecimento do mercado interno consumidor de pescado;
- Atenuar os desníveis entre a oferta e a procura do pescado, face a deficiência do
processo de comercialização;
- Eliminar os intermediários dispensáveis, reduzindo os custos da comercialização;
- Tornar a remuneração dos produtores (pescadores) compatível com os custos de
captura;
- Manter o preço do pescado em níveis adequados ao poder aquisitivo da população;

54
- Aumentar os índices de utilização da capacidade instalada a nível de
indústria e captura;
- Ativar o incremento da produção, aumentando o percentual de participação do
pescado destinado ao consumo humano.
Em que pese haver a SUDEPE conseguido o total apoio do Ministério da
Agricultura, faltou-lhe apoio político junto ao Conselho Monetário Nacional e interesse
das autoridades locais. Não sendo possível essa solução, precisamos encontrar o nosso
próprio caminho. Caberia ao BEA e ao BASA, implantar, com recursos do FMPE e do
INO - Especial, respectivamente, esse tipo de financiamento como uma espécie de
"Crédito Rotativo"que permitisse a comercialização se tornar ágil e eficiente.
Quanto às dificuldades de comercialização do peixe congelado, cremos que já
foram superadas. O importante é a qualidade e O preço do produto.
No entanto, hoje, com o alto custo da energia elétrica, formar estoque por vários meses
significa pagar um preço muito alto. Será preciso analizar esses custos com cuidado
antes de se pensar em formar estoques, principalmente de espécies de segunda e terceira
categoria.

ESTRUTURA DE FRIOS INTALADA NO ESTADO DO AMAZONAS

CÂMARA DE CÂMARA TÚNEL CÂMARA


DE DE DE
MUNICÍPIOS EMPRESAS ESPERA RESFRIADO CONGEL ESTOCAGE
AM M
(TON) (TON) (TON) (TON)
Manaus Frigelo 1(1) . _ . _
Manaus Frígelo II 10 - 10 1.580
Manaus Frigelo III 10 - 10 120
Manaus Ibepesca 03 - 05 200
Manaus Surubim 20 - 29 600
Itacoatiara Rio Mar 40 - 30 300
Manacapuru Figueira 15 - 25 700
Parintins Entreposto/lBAMA 10 18 07 50
Tefé J. F. Lopes ( 2 ) - - - 360
Tefé Entreposto IBAMA - - - 10
Coari F. Jaraqui 15 - 03 30
Codajás Entreposto/lBAMA - - - 10
TOTAL ----- 123 18 119 3.960

(1} Entreposto de peixe salgado-seco atualmente desativado.


(2) Frigorífico desativado.

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FABRICAS DE GELO INSTALADAS NO ESTADO DO AMAZONAS

CAPACIDADE (TON/DIA)
PRODUÇÃO
MUNICÍPIOS EMPRESAS ESCAMA PEDRA SILO
Manaus Frigelo 1 120 60 220
Manaus Frigelo II - 52,5 50
Itacoatiara F. Rio Mar 30 10 50
Itacoatiara Gelopesca - 21,5 20
Carauari Comerciante . 0,3 .
Maués Otacílio - 4,6 17
Parintins Osmar Farias . 20 20
Parintins Entreposto/ IBAMA 25 - 40
Manacapuru Frigelo IV - 82,5 80
Manacapuru Figueira 60 - 90
Coari F. Jaraqui - 04 -
Tefé Entreposto/ IBAMA 06 . 12
Codajás Entreposto/ IBAMA 08 - 12
Urucará Prefeitura 04 - 10
TOTAL 255 255,4 621

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As razões apresentadas, quanto ao estado do pescado posto em Manaus, realmente
procedem e tivemos oportunidade de comentar quando abordamos a situação de nossa
frota pesqueira.
Pelo que vimos, embora não dispondo de quantidade ideal de câmaras frigoríficas
para estocagem, poderíamos aproveita-las bem melhor e diminuir os nossos problemas
de abastecimento na entre-safra.
Além desses obstáculos o pescado muitas vezes é jogado fora por falta de opções
de venda. Há quem diga que, em algumas ocasiões, até mesmo para não baixar o preço.
Não acreditamos na hipótese: já vimos proprietários de barcos abrir suas "caixas"e
distribuir peixes de graça e, nem assim, esvaziar o estoque.
A comercialização do pescado em Manaus é perfeitamente entendida pelo fluxo
que apresentamos .
Observando-o, constatamos a importância do "despachante"no processo de
comercialização do pescado.
O processo inicia-se com ele, ao fornecer o capital para o armador de pesca,
"armar" o barco para viagem. A operação que há 10 anos era feita sem a cobrança de
juros hoje obedece as regras do mercado financeiro, com a vantagem da
"desburocratização". O adiantamento de recursos destina-se à compra de gelo,
combustível, lubrificantes, ranchos e abonos para os pescadores deixarem para a
família.
Após a pescaria a produção é entregue ao despachante para comercialização.
O pescado é comprado pelos feirantes, ambulantes, hotéis, quartéis, restaurantes e
indústrias. A transação toda é executada pelo despachante, não importando se vende a
produção de uma vez ou no varejo.
O despachante, após retirar o capital adiantado, e, se for o caso, os juros
acrescidos de sua comissão de 20% a 25% sobre o bruto, entrega ao armador o resultado
líquido de sua pescaria.
Esse valor deverá ser rateado entre as pessoas envolvidas no processo.
Exemplifiquemos:
Suponhamos que um determinado armador tenha recebido do despachante Cr$ 7,0
Milhões para as despesas de uma viagem. Após a "campanha"que durou 15 dias, o
barco chegou com uma carga de pescado que rendeu Cr$ 15,0 Milhões após o desconto
das despesas, que neste exemplo seriam:

Comissão do despachante:
- No Capital (30%)-15 dias.......................................Cr$ 1.050.000,00
- Na comercialização (10%)......................................Cr$ 1.500.000,00
- Retorno do capital de despachante..........................Cr$ 7.000.000,00
- Taxa da colônia (5%)..............................................Cr$ 750.000,00
____________________

- Total das Despesas..................................................Cr$ 10.300.000,00

O lucro apurado será de CR$ 4.700.000,00, que deverá ser dividido entre os seis
tripulantes, proporcionalmente à importância de cada um na armação do barco.
Os tripulantes neste caso com as suas respectivas partes no rateio, estão descritos
no quadro seguinte. Observa-se que este exemplo é de um barco de apenas 15 metros
com uma capacidade de carga líquida de 10 toneladas. Esse tipo de barco representa a
grande maioria dos existentes na pesca, e são responsáveis por mais 60% das
freqüências mensais de viagens. Os custos são de janeiro/93 ainda em cruzeiros.

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TRIPULAÇÃO DE UM BARCO DE 15M, COM SUAS FUNÇÕES E PARTES
NO RATEIO DE UMA "CAMPANHA

QUANT. TÍTULO FUNÇÃO VALOR Cr$


PARTE
01 Armador Dono do barco 14 2.437.038,00
01 Encarregado Representante do dono
do barco 04 696.296,00
01 Jogador de Responsável pelo
rede lançamento. É o mais
experiente. 02 348.148,00
01 Motorista Responsável pelo motor
do barco, ajuda também
quando necessário. 02 348.148,00
01 Barriga ou Além de cozinheiro ajuda
Cozinheiro nas atividades da pesca
quando necessário. 02 348.148,00
01 Pescador/ Além de pescador é o
Gelador encarregado da
arrumação do peixe no
gelo. 02 348.148,00
01 Cambiteiro Ajudante de todas as
atividades principalmente
batedor de rede. 01 174.074,00
TOTAL 4.700.000,00

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No exemplo dado ainda houve possibilidade de rateio, fato que nem sempre
ocorre. No entanto, neste processo de divisão de partes, quem sempre lucra é o
despachante: ele ganha a participação sobre o bruto apurado. O pescador consegue
sobreviver praticamente pelo teto e pela comida. O seu quinhão não dá para pagar,
muitas vezes, o abono antecipadamente recebido.
Como não existe vínculo empregatício com o armador, os tripulantes não têm
direito aos benefícios da Legislação Trabalista e quase nunca da Previdência Social;
muitos não têm documentos principalmente a Carteira de Pescador, que os credenciaria
aos benefícios do INSS.
De fato a tripulação de um barco de pesca, os pescadores, não leva a vida das mais
fáceis. Seria interessante uma pesquisa sobre a saúde do pescador. Não resultaria nada
animadora: afinal dormir sobre "geladeiras" com certeza não parece muito saudável.
Para o despachante não é realmente das mais difíceis. Os donos de barcos, apesar de não
levarem a vida dos despachantes.não têm muita razão de se queixar. Conseguem
sobreviver, embora com sacrifícos impostos pelo sistema.
Já com o pescador a situação é bem diferente: sempre surge algum imprevisto para
diminuir a participação nos rateios. Alguns armadores incluem os combustíveis e
lubrificantes, o rancho, as reformas dos barcos, os custos dos equipamentos e até os
abonos concedidos aos pescadores como despesas de viagem, com a finalidade de
diminuir o lucro líquido e em consequência a participação no dividendo. O
procedimento é desumano e desonesto, pois já recebem um número de partes
razoavelmente grande como compensação a seus investimentos. Mas o pescador vai
reclamar para quem?
Esse sistema de comercialização para ser corrigido necessita da construção do
Terminal Pesqueiro de Manaus. A partir daí o processo será reorganizado e expurgará
do sistema os elementos prejudiciais e redistribuirá melhor a renda entre os interessados
envolvidos nessa atividade. Com o terminal será possível controlar melhor a produção
de cada barco, não haverá perdas e o regime de "parceira" terá condições de ser
fiscalizado pelos órgãos competentes.
Das espécies comercializadas somente 10 representam mais de 90% de nossa
produção. Destas o Jaraqui contribui com mais 45%, e o Tambaqui com
aproximadamente 17%. Essas duas espécies são os pontos extremos do preço do
pescado em Manaus. O Jaraqui influencia diretamente no preço das outras espécies e
indiretamente no preço de carne bovina e do frango.
O Jaraqui é o "Maná dos Amazonenses". Não fora ele, Manaus estaria passando
mais fome que em algumas regiões do sertão nordestino. Lutar pela preservação é um
dever de todos nós amazonenses.
O seu preço diariamente sofre oscilações surpreendentes, em função da oferta
irregular dos barcos pesqueiros.
Os exemplos dos gráficos seguintes mostram essas variações de preço de janeiro a
março de 1984. Neste mesmo ano, face à abundância de Jaraquis em maio, em alguns
dias do mês vendeu-se em Manaus, no Porto de desembarque do Mercado Adolpho
Lisboa, um cento por Cr$ 1.000,00. No entanto a maioria dos armadores teve de jogar
peixe fora por falta de compradores e Câmara de estocagem.
O Tambaqui também tem variação de preço bastante significativa, por influência
direta do Jaraqui.
De acordo com dados fornecidos pelo Serviço de Controle de Desembarque da
SUDEPE/AM, que funcionou no Porto do Mercado Adolpho Lisboa, foi possível
observar, no período de abril/82 a junho /83, a evolução da produção e do preço médio
mensal do Tambaqui, no atacado e no varejo em Manaus.

60
Esse preço foi determinado dividindo-se o valor mensal pela produção total do
mês. Aplicou-se a seguinte fórmula:

Y2
......1X100
Y1

onde : Z = variação mensal ou anual


Y1 = preço anterior mensal ou anual
Y2 = preço do mês de variações
Em 1982 o preço praticamente se manteve estável em torno de Cr$ 260,00 o quilo,
enquanto a produção se apresentou de forma crescente, fato que foge às regras normais
de mercado.
O mais interessante que em 1993, guardados as devidas correções no valor do
cruzeiro, o fenômeno de 1982 se repetiu de forma semelhante. Até mesmo de forma
mais enfática, agravada pela abundância de pescado após o período crítico da Semana
Santa em fase da enchente haver ultrapassado 28m nesse período.

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Já no final de dezembro/82 o preço alcançava Cr$ 284,20 o quilo saltando em
janeiro/83 para Cr$ 493,00, variando em 73,3% em apenas um mês. O maior pulo
entretanto ocorreu de fevereiro para rHaçço/83, atingindo 80,9% com o crescimento de
Cr$ 405,40 para Cr$ 733,30 o quilo: novamente a inflação da Quaresma e da Semana
Santa, coincidindo com a época de menor produção.
A variação anual, no período abril/82 à abril/83, foi de 178,7%, abaixo da taxa de
inflação no mesmo período, 210,9%.
Propositalmente, não atualizei monetariamente esses valores, até porque em
termos relativos a situação permanece igual. A correção ficou por conta da eliminação
dos três zeros de nossa moeda.
A comercialização do pescado no Amazonas, a nosso ver merece melhor apoio
dos órgãos governamentais. Entre outras medidas precisaríamos:
1. Ordenar o sistema de desembarque de pescado, para que fosse
efetuado em lugares higienicamente preparados;
2. Melhorar o sistema de transporte para os Mercados e Feiras;
3. Melhorar ou construir Mercados e Feiras adequadas para venda de
pescado, onde os peixes ficariam acondicionados em recipientes sempre
envolvidos com gelo;
4. Estabelecer o preço mínimo e formação do estoque regulador;
Interferir o Governo somente na Semana Santa, nos bairros mais
carentes.
Não temos dúvida de que as atuais condições higiênicas de nossos mercados e
feiras contribuem acentuadamente para aumentar o desperdício do pescado e, além
disso, para uma variação de preço além de 300% entre o produtor e o consumidor.
O pescado, por se deteriorizar mais rapidamente que os outros tipos de carnes,
devido às suas próprias características físicas e de seu habitat, exige acurado tratamento
de limpeza e resfriamento. O cuidado na sua manipulação é fundamental, para evitar
danos propícios às ações das bactérias através de cortes desnecessários.
É inadmissível fique o pescado exposto sobre as bancas e ás vezes no próprio
chão, por várias horas, sem ter sido lavado com água limpa e estar envolto com gelo. A
baixa temperatura constitui o principal fator de prolongamento da vida útil do pescado.
Os nossos administradores de Mercados e Feiras deveriam obrigar os vendedores
de peixes a conservá-los no gelo durante a comercialização Existiria uma caixa térmica,
com gelo, para ser adquirido pelos comerciantes de pescado. Nas Feiras Móveis e de
curto período de exposição essa providência seria dispensada.

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PRINCIPAIS ESPÉCIES COMERCIALIZADAS EM MANAUS EM 1983

PARTICIPAÇÃO

Quantidades (kg) Relativa (%)


1. Jaraqui 17.606.317 45,68
2. Tambaqui 6.565.115 17,03
3. Curimatã 3.946.543 10,24
4. Pacu 1.659.425 4,31
5. Tucunaré 1.286.322 3,34
6. Branquinha 1.061.206 2,75
7. Sardinha 1.029.515 2,67
8. Matrinxã 776.204 2, 01
9. Pescada 625.579 1,62
lO.Pirapitinga 556.898 1,44
TOTAL 35.133.124 91,09

PRINCIPAIS ESPÉCIES COMERCIALIZADAS EM MANAUS NO PORTO DO MERCADO


ADOLPHO LISBOA -1983

PARTICIPAÇÃO

Quantidades (kg) Relativa (%)


1. Jaraqui 10.843.290 44,81
2. Tambaqui 4.267.999 17, 64
3. Curimatã 2.491.347 10,29
4. Pacu 1.047.741 4, 33
5. Tucunaré 834.388 3, 45
6. Branquinha 658.872 2,72
7. Sardinha 634.655 2,62
8. Matrinxã 486.413 2, 01
9. Pescada 412.023 1,70
lO.Pirapitinga 358.690 1,48

TOTAL 22.085.418 91,05

FONTE: COLÓNIA DE PESCADORES Z-12 DE MANAUS/AM.

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INDÚSTRIAS DE PESCA

De acordo com as informações do IBAMA, as empresas envolvidas com o setor


pesqueiro estão distribuídas em 11 entrepostos frigoríficos e 03 entreposto para pescado
salgado e seco.
A maioria atua no ramo de frigorificados e no fornecimento de gelo aos
pescadores.
Atualmente somente 03 empresas se dedicam à comercialização do pescado salgado,e
seco. Desta apenas uma, localizada em Tefé, possui câmara frigorífica para melhorar
conservação do produto.
Nenhuma das indústrias de pescado do Amazonas possui frota própria para
captura. Adquirem o pescado dos despachantes ou dos armadores, na época da safra, por
preço bastante barato.
Os peixes destinados às indústrias muito raramente são desembarcados durante os
"leilões". Quase sempre são entregues nos portos dos frigoríficos ou o mais próximo
possível e durante o dia. Nestes casos são frequentes as compras de peixes fora das
medidas e de Pirarucu, em época de captura proibida, pois os fiscais do IBAMA não
têm conhecimento dos desembarques.
Os entrepostos frigoríficos trabalham com peixes de escamas e peixe liso. Os
peixes de escama destinam-se quase sempre à venda para o Governo do Estado, para
distribuição nos "sacolões". Muito pouco são comprados diretamente pela população,
com exceção dos peixes considerados especiais. Os peixes lisos ou de pele são
exportados para outras regiões do Brasil. As nossas indústrias atualmente pouco
remetem para o mercado externo. Uma experiência mal sucedida, feita por uma empresa
de Manaus, exportando Piramutaba de péssima qualidade, afastou-nos do mercado
internacional. Some-se a isso a propaganda negativa sobre a Amazónia no exterior
ocasionada pelo derrame irresponsável de mercúrio em nossos rios e, mais,
recentemente, a entrada na Região, via Peru, da Cólera, doença causada pela
contaminação das águas e em consequência dos peixes.
O pescado entes de entrar nos frigoríficos é lavado e, de acordo com a espécie,
poderá ser eviscerado e descabeçado, para depois ser congelado. Em geral os peixes
populares são congelados inteiros, muitas vezes diminuindo-lhes a boa qualidade. Os
peixes carnívoros, como o Tucunaré, por exemplo, nunca devem ser congelados
inteiros: é necessário sempre os eviscerar. Podem ter no intestino outros peixes que
fatalmente apodreceriam e em consequência afetaria o seu estado organoléptico.
O peixe, dependendo da condição de congelamento, poderá permanecer por mais
de seis meses armazenado sem prejuízo algum para sua qualidade e sabor.
O controle sanitário das indústria de pescado é exercido pelo Ministério da
Agricultura, através do Serviço de Inspeção Federal (SIF) que examina as condições
fitosanitárias do pescado e de higiene das instalações.
As empresas que operam com pescado salgado e seco recebem o produto aberto
em mantas ou "postas", já salgados e relativamente secas. Em geral são colocados
novamente ao sol para secar mais, às vezes ressalgados e embalados em áreas ventiladas
ou câmaras frigoríficas com temperatura entre O e 10 graus centígrafos. No Amazonas
nenhum Entreposto de peixe salgado e seco tem instalações frigoríficas.
O pescado salgado e seco, comprado pelas indústrias, destina-se à exportação,
principalmente para o Estado do Pará, Minas Gerais e Goiás.
A salga inicial é feita por um processo empírico, pelos próprios pescadores. O peixe,
após ser eviscerado e retirado a cabeça, é aberto em mantas. Recebe sal grosso e fica nas
"salgadeiras" por alguns dias para perder um pouco da água. Em seguida é

90
levado ao sol, onde estendido sobre varais, seca para venda aos comerciantes e
"regatões" do interior do Estado. Estes revendem aos entrepostos de pescado salgado
seco ou contrabandeiam para o Pará ou países vizinhos à Tabatinga.
Os proprietários das empresas que negociam com o pescado salgado seco têm dois
grandes problemas:
1. Concorrência desleal dos comerciantes regatões do Pará que burlam a
fiscalização estadual e do próprio IBAMA, e a dos contrabandistas que operam
em Leticia na Colômbia;
2. A proibição de captura e comercialização de Pirarucu de tamanho inferior a
1,50 m e a proibição de captura e comercialização total do período de 01/10 a
31/03, que não atinge os compradores clandestinos.
Face às dificuldades de fiscalização os "regatões", apesar dos esforços dos órgãos
responsáveis, compram peixes fora das medidas e, na época de proibição da pesca do
Pirarucu, continuam comprando.
O mesmo não ocorre com as empresas estabelecidas em Manaus e outros
municípios. Devido à localização fixa são facilmente fiscalizados. Por isto muitas
empresas do ramo já encerraram suas atividades.
As indústrias de pesca do Amazonas atualmente também estão trabalhando com
peixes de escama.
Até pouco tempo exploravam a comercialização e exportação somente de peixes
lisos.
Os peixes de escama, principalmente os mais populares, como o Jaraqui, o Pacu e
a Curimatã, são vendidos para o Governo do Estado. Os mais nobres, como o
Tambaqui, a Pirapitinga e a Matrinchã, têm sido exportados em particular para o Pará,
São Paulo e Minas Gerais.
Deveríamos motivara exportação de algumas outras espécies não muito
conhecidas nos centros consumidores fora do Estado. O Jaraqui, por exemplo, com mais
de 45% da produção do pescado do Amazonas, não é exportado. Motivo: certamente a
sua grande quantidade de espinhas. Contudo, se receber o beneficiamento necessário, -
aviscerado e "ticado" - será servido à mesa de qualquer consumidor exigente,
principalmente frito em pedaços.
O nordestino é grande consumidor de peixe salgado. No Amazonas, por
deficiência já mencionadas antes, jogamos peixe fora. Será que, se os salgássemos,
secássemos e prensássemos, não disporíamos de grande mercado ao nosso alcence? O
que não podemos continuar insistindo em secagem somente com a exposição ao sol.
Esse método ultrapassado não apresenta um produto de boa qualidade. O uso de
pequenos secadores movidos a energia elétrica, e/ou energia solar utilizados no Centro
de Tecnologia de Alimentos da EMBRAPA em Guaratiba-RJ, seria uma grande
solução.
Talvez de fato não consigamos induzir grandes empresários a investirem nessa
área. No entanto os próprios donos de barcos, se incentivados e orientados pela
Extensão Pesqueira, poderiam conseguir nova fonte de receita. Cremos porém que essa
atividade caberia muito bem em Clubes de Mães, em Associações de Classe dos
Pescadores, principalmente Cooperativas.
A produção de pescado no Amazonas, inobstante a acentuada taxa de desperdício, não
comporta industrialização diferente do tipo já existente, a frigorificação. Não
acreditamos ser possível, com os atuais níveis de produção, a implantação de fábrica de
conserva ou até mesmo de ração ou farinha de peixes em grandes níveis. Tais
empreendimentos somente serviriam para aviltar muito mais os preços de nossas
espécies, principalmente daqueles que representam o principal alimento da população

91
local, os peixes menos nobres ou populares, além de forçar um aumento acentuado
no esforço de pesca ora empregado.
Assim, como não possuímos suficiente estrutura de frios para o aproveitamento do
pescado, caso nos dedicássemos a exportação estaríamos contribuindo simplesmente
para o considerável aumento no preço do pescado para os consumidores.

PESCADO EXPORTAÇÃO DE PESCADO - MERCADO INTERNO

DISCRIMINAÇÃO 1992 1993 (')

. PEIXE INTEIRO CONGELADO 1.008.082 116.069

. PEIXE EVISCERADO 721.7042 13.069


CONGELADO

. FILÉ DE PEIXE CONGELADO 29.2812 5.449

. PEIXE ( Cabeça Div. ). 201.1482 -

. PEIXE SALGADO SECO 1.2902 -

. PEIXE ( Postas ) 28.2202 -

. PEIXE ( Cabeça/ Espinhaço ) 147.844 -

. PEIXE PORÇÃO CONGELADA 5.000 -

. PESCADO CURADO 71.940 -

, PESCADO CONGELADO PI ISCA 394.741 44.927

. CARNE DE PEIXE MOÍDA - 23.341


CONG.

TOTAL 2.609.250 180.335

92
EXPORTAÇÃO DO PESCADO - MERCADO EXTERNO
(1993)

DISCRIMINAÇÃO QUANTIDADE (Kg) VALOR US$

. PEIXE INTEIRO CONGELADO 1.026,6 2.833,50

PEIXE EVISCERADO 45.640,0 151.324,80


CONGELADO

. FILÉ DE PEIXE CONGELADO - 149.550,0 653.301,41


USA

FILE DE PEIXE CONGELADO - 2.121,6 6.176,04


FRA

TOTAL 198.338,2 813.635,75

FONTE : NIP/ SPI/ DFARA/ AM - NIESA/ SEPROR


( * ) - DADOS REFERENTE AO 1° SEMSTRE/ 93

93
VENDA E ESTOQUE DE PESCADO DAS FIRMAS LOCALIZADAS EM
MANAUS, DURANTE O ANO DE 1993

MÊS CONGELADO ( em Kg ) ESTOQUE ( em Kg )

INTEIRO EVISCERADO EVISCERAD FRIGELO SURUBIM CODEPESCA


DESCABEÇAD O COM
O CABEÇA
JANEIRO 67.068 34.552 41.655 382.508 338.839 40.677
FEVEREIRO 96.943 151.591 83.082 266.018 351.221 34.554
MARÇO 459.677 47.178 170.216 95.603 148.333 48.708
ABRIL 134.448 4.881 129.780 11.773 24.519 -
MAIO 22.078 3.387 11.325 - 93.087 -
JUNHO - 1.278 91.800 - - -
JULHO • - - - - .
AGOSTO - 24.384 - 83.431 44.335 -
SETEMBRO 1.477 41.879 113 228.350 186.014 -
OUTUBRO 2.480 21.700 35.080 269.579 450.358 -
NOVEMBRO 4.378 13.040 282040 357.323 208718 -
DEZEMBRO 115.395 2.428 50 307.728 267.388 -

TOTAL 903.944 346.307 845.141 . . _

FONTE: SUDEPE/AM
OBS ; O frigorifico Codepesca, pertencente á Codeagro, inexplicavelmente foi fechado
em Março/ 83

94
PREÇO (Cr$/ Kg) MÉDIOS DE PESCADO COMERCIALIZADO A NÍVEL DE
VAREJO PELO FRIGORÍFICOS, EM MANAUS, DURANTE 1983.

CONGELADO

TIPO MÊS

INTEIRO ( 1 ) EVISCERADO/ EVISCERADO/


DESCABEÇADO ( COM CABEÇA (3)
2)

JANEIRO 206,5 337,1 -

FEVEREIRO 280,9 334,5 226,7

MARÇO 215,3 470,1 444,3

ABRIL 413,3 337,2 364,2

MAIO 479,8 387.7 456,5

JUNHO - 300,0 361,4

JULHO - - -

AGOSTO - 650,8 -

SETEMBRO 300,0 656,0 600,0

OUTUBRO 300,0 647,6 300,0

NOVEMBRO 713,4 778,4 210,0

DEZEMBRO 427,4 584,9 300,0

1 ) - pacu, pescada , pirapitmga, sardinha, aracu, matrinchã, curimatã. tucunaré,


jaraqui, tambaqul
( 2 ) - pirarucu, dourado, filhote, pacomon, piramutaba, pirarara, piraiba, surubim ( 3 ) -
tambaqui, jaraqui, pirapitinga, pescada, matrichâ, aruanã, tucunaré, curimatã

FONTE SUDEPE/AM

95
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE VENDA DE PESCADO PELAS
INDÚSTRIAS LOCALIZADAS EM MANAUS, DURANTE O ANO DE 1983

PEIXE CONGELADO PEIXE SALGADC

ESTADOS INTEIRO EVISCERADO SECO


PESO VALOR DESCABEÇADO COM CABEÇA PESO VALOR
(*g) (CrS) PESO VALOR PESO VALOR (Kg) (Cl*)
ta) (CrS) (Kg) (CrS)
AMAZONA 235.560.15
S 838.127 0 56.1 4Í 21 970.465 845.141 265.189.810 . -
SÃO 7.310 2.201.500 103.40 50.589.045 - _ - -
PAULO 3
105.12
GOIÁS 6027 1.353.100 8 43.810.365 - . - -
RONDÕNIA 800 400.000 200 69.000 . - -
MINAS 33.120 14.064.000 71.571 28.973.515 - • -
GERAIS 13.560 4.272.900 9.856 2.881.270 - - •
RORAIMA - . _ _ 510.948 363.333
PARÁ
TOTAL 903.944 257.851.65 345.30 148.202.660 845.141 265.189.810 510.948 363.388
0 7

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS VENDA DE PESCADO PELAS


INDÚSTRIAS DO AMAZONAS EM 1982

ESTADO QUANTIDADE ( T ) % VALOR (Cr$)

Pará 796,130 26.93 240.147.902,

São Paulo 475,522 16.09 83.517.020,

Bahia 15,000 0.51 4.500.000

Minas Gerais 214,4940 7.24 32.365.741,

Rio de Janeiro 12,531 0.42 2.687.508,

Goiás 96,853 3.27 16.492.675,

Paraíba 6,168 0.21 1.448500,

Paraná 20,815 0.70 5.190.880,

Recife 0,150 0.01 450.000,

Brasília 12,868 0.43 3.445 040,

Amazonas 1.303,319 44.12 288.619.752,

TOTAL 2.955,850 100 678.760.018,

96
PRODUÇÃO DE PESCADO BENEFICIADA E COMERCIALIZADA PELAS
INDÚSTRIAS DE MANAUS

PESCADO CONGELADO PESCADO SALGADO SECO

ANOS TON. VALOR (Cr$ TON. VALOR (Cr$


1.000) 1.000)

1979 1 903,3 58.990,00 1.864,5 94 380,00

1980 2.109,0 125.589,00 1.056,7 110.414,00

1981 2.179,9 243611,00 686,0 127.498,00

1982 2.149,4 438.701,00 806,4 242.825,00

FONTE SUDEPE/AM

97
FISCALIZAÇÃO DA PESCA

De acordo com o Decreto-Lei N° 221, de 28 de fevereiro de 1967, que "dispõe


sobre a proteção e estímulo à pesca" e de legislação complementar, compete ao IBAMA
regulamentar a atividade pesqueira em todo o território nacional.
Em que pese toda essa competência, face à dimensão continental brasileira, tal
atividade se reveste de difícil execução. Por essa razão a Constituição de 1988, do
Artigo 23, item VII, e Artigo 30, itens l e II transfere poderes aos municípios para
complementar a Legislação Federal e dividirem as responsabilidades da preservação da
flora e da fauna.
Com base nessas atribuições que foram conferidas pela Constituição aos Municípios,
alguns prefeitos passaram a proibir a pesca em alguns lagos e até em rios, muitas vezes
exorbitando em suas funções.
Há quem diga resultar o principal problema das Leis do IBAMA, terem sido
instituídas considerando somente a pesca litorânea, omitiu o interior com suas
pecularidades regionais.
A legislação pesqueira do Brasil tem sido elaborada com fundamentos nas
características, hábitos e costumes da pesca litorânea e interior das Regiões Sul e
Sudeste. Eis porque a interpretação dos textos legais, na Região Amazônica em
particular, face à linguagem e conceitos de tipo e de petrechos de pesca, suscita dúvidas
e entendimentos diferentes da intenção dos legisladores.
A SUDEPE hoje IBAMA, através da Portaria n°. 466, de 08 de novembro de
1972, estabeleceu e mantém os conceitos:
"Art. 2°. - No exercício da pesca interior, fica poribido o uso dos seguintes
aparelhos:
a) redes de arrasto e de lance quaisquer;
b) redes de espera com malhas inferiores a 70 mm, entre ângulos opostos, medidas
esticadas e cujo comprimento ultrapasse a 1/3 (um terço) do ambiente aquático,
colocadas a menos de 200m das zonas de confluência de rios, lagos e corredeiras,
a uma distância inferior a 100 metros uma da outra;
c) rede eletrônica ou quaisquer aparelhos, que através de impulsos eletrônicos,
possam impedir a livre movimentação dos peixes, possibilitando sua captura;
d) tarrafa de qualquer tipo com malhas inferiores a 50mm, medidas esticadas entre
ângulos opostos;
e) covos com malhas inferiores a 50mm colocadas à distância inferior a 200
metros, de cachoeiras, corredeiras, confluência de rios e lagoas;
f) fisga e garatéia, pelo processo de lambada; e
g) espinhei, cujo comprimento ultrapasse a 1/3 (um terço) da largura do ambiente
aquático e que seja provido de anzóis que possibilitem a captura de espécies
imaturas.
Art. 3°. - No período de piracema só é permitido o uso de linha de mão,
caniço simples, bóia e espinhei. Art. 4°. - Fica proibido qualquer tipo de pesca
praticada a menos de 200
metros, a jusante e a montante das barragens, cachoeiras,
corredeiras e escadas de peixe".
Insistia a SUDEPE, através da Portaria n°. 10, de 27 de maio de 1980:
Art. 8°. - Fica proibido o emprego de aparelhos de pesca de arrasto, e de espera ou
emalhar, características de pesca industrial, nos lagos e rios do Estado do
Amazonas de que dependa a economia de subsistência das populações ribeirinhas.

98
A SUDEPE delimitará as áreas consideradas indispensáveis à aplicação do
disposto neste artigo". Para que se entendam essas medidas, impoe^se conhecer os
conceitos da SUDEPE/IBAMA para todo o Brasil, sobre os ti pôs de pesca e
apetrechos, emitidos através da Portaria n°. 20, de 09 de novembro de 1977;
"Art. 6°.
Parágrafo 1°. - Quanto aos petrechos de captura as modalidades de pesca
permissíveis são:
I - PESCA DE ARRASTO - a que se realiza com tração de rede pela embarcação;
II - PESCA DE LINHA - a que se realiza com o emprego de linha simples ou
múltiplas com anzóis ou garatéias;
III - PESCA DE CERCO - a que se realiza com redes de cercar;
IV - PESCA DE REDE DE ESPERA - a que realiza, sem tração, com redes de
emalhar, seja de superfície, de meia água ou de fundo;
V - PESCA DE ARMADILHA - a que se realiza, com emprego de armadilhas;
VI - PESCA COMBINADA - a que, compatível com as características técnicas
da embarcação, pode ser realizada com a combinação, na mesma viagem, das
modalidades definidas nos números anteriores.

Com esses três instrumentos legais poderemos dissecar os seus textos e dar a
interpretação que a Fiscalização da Pesca tentou instituir.
A Portaria n°. 466 proibe o uso de rede de arrasto e de lance para a pesca no
interior. Para quem desconhece os conceitos do IBAMA, sobre pesca de arrasto ou de
lance, não seria possível pescar comercialmente no Amazonas. Os pescadores
profissionais não poderiam pescar, pois nesta Região se chamam as redes de pesca de
"arrastão ou arrastadeiras'". Acontece, porém que a pesca aqui em uso não se enquadra
como PESCA DE ARRASTO OU LANCE. A nossa pesca é tipicamente de cerco, com
a diferença de se puxar a produção para os barcos ou canoas ou para as praias nos
"lances". Para nós "lance" não significa a maneira da pesca, mas o local onde ela
acontece.
O conceito de tipos de pesca está bem definido na Portaria n°. 20 citada
anteriormente. A pesca de arrasto pratica-se arrastando a rede por muitos e muitos
metros, com dois possantes rebocadores. Ela é praticada exclusivamente em oceanos;
não deverá nunca servir na pesca interior, com a sua característica de pesca industrial.
Ainda sobre o assunto a Portaria n°. 10 insiste na proibição, a nosso ver inócua: a
proibição baixada pela Portaria n°. 466 é geral para toda a pesca interior. Muito mais
inócua, ainda quando estabelece que as áreas serão delimitadas, fatos não verificados até
hoje e desnecessários: esse tipo de pesca não existe no Amazonas.
Alguém alegará não ser esse o enfoque pretendido pela Portaria. Pior ainda, o
Governo do Estado, ao solicitara Portaria n°.10, deveria atentar para os conceitos
existentes.
Quanto à proibição de redes de espera (malhadeiras), conforme o item "b" da
Portaria 466, Art. 2°., nada mais justo. Todavia disciplinar o seu uso é difícil em face de
nossa imensa rede hidrográfica. Cabe aqui às próprias comunidades a fiscalização.
Devem fiscalizar o tamanho das malhas e se ficam colocadas em lugares permitidos. O
mesmo deve ser observado em relação ao tamanho das malhas das tarrafas.
No Amazonas não se pesca com covos ou armadilhas, tampouco utilizando o processo
de fisga ou garatéias, mas usa-se bastante os espinheis, e ai se deve observar a
determinação do item "g" da Portaria 466.

99
Mas, a nosso ver, o mais impraticável no Amazonas é o Art. 3°. proibindo a pesca
comercial no período de piracema.
Precisamos também entender que, para o IBAMA, piracema significa migração de
peixes para desova. O IBAMA não considera a migração dos peixes em busca de
alimentos ou por outra razão que não seja para reprodução das espécies.
Caso tal proibição fosse cumprida fielmente e seria o ideal, não resta a menor
dúvida de que geraria em Manaus problema social muito grande. Deve a pesca ser
proibida por zonas até termos condições de proibi-la em todo o Estado.
Apesar de existência da Fiscalização da Pesca, não poderemos negar que a pesca
no Amazonas vem tomando proporções exigindo providências mais urgentes das
autoridades responsáveis pelo Setor Pesqueiro. Não poderemos continuar agindo como
se ainda tivéssemos a população de 20 anos atrás e o nosso esforço de pesca não tivesse
aumentado nas dimensões conhecidas.
Sabemos que não poderemos continuar pescando como estamos fazendo, de forma
predatória.
As Portarias do IBAMA, não permitindo a pesca de espécies por períodos,
Tambaqui, Matrinxã e Pirarucu mais especificamente, além de proibições em locais de
captura, são ineficazes pela impossibilidade da Fiscalização cobrir todas as áreas de
captura e desembarque de pescado. Mesmo policiando mercados e feiras, não atinge
resultados compensadores: os pescadores continuam pescando indiscriminadamente e
sempre encontrarão um jeito de burlar os fiscais da pesca.
A comprovação constatamos nos dados fornecidos pela própria Colónia de
Pescadores Z-12 de Manaus. No período de 1°. de outubro a 31 de março/93 foram
desembarcados, em Manaus, 157.790 quilos de Pirarucu, exatamente no período de
proibição de captura da espécie. Tais números representavam 51,18% de toda a
produção entregue na Capital. Essa situação permanece nos dias de hoje.
Outro fato: a presença constumeira, nos Mercados e Feiras de Manaus, dos já
famosos "Roelhos", algumas vezes até vendidos em "cambadas" ou "enfieiras".
Para felicidade nossa, a pesca no Amazonas é artesanal. As técnicas regionais, embora
com alguns requintes inspirados pela nossa imaginação fértil, não chegam a causar os
problemas que enfrentaríamos com a pesca de arrasto. A pesca de cerco pareceria
brinquedo de criança comparada com esse tipo de pesca.
Como solução definitiva e racional para incrementar os serviços de fiscalização,
propomos, com amparo na Constituição, dividir as tarefas do IBAMA com os Estados e
Municípios, melhorando, assim a administração de nossos recursos pesqueiros.
O estoque pesqueiro precisa ser melhor gerido, proporcionando também a sua
reposição. Isso só acontecerá, a nosso ver, de duas maneiras. Pelo repovoamento e
através de administração temporária nos locais de desova, naturalmente em época de
piracema. Há necessidade de programar formas de administrar os recursos pesqueiros,
sem contudo prejudicar quem retira da atividade da pesca o sustento de seus familiares.
Para isso deveriam ser estudados os meios mais viáveis.
A hipótese de repovoamento apesar de salutar, parece muito remota; demandaria
uma quantidade enorme de alevinos. Ora, se não dispomos, com exceção do tambaqui, o
suficiente para distribuição aos piscicultores, como teríamos para repovoamento? A
melhor alternativa: ajudara natureza a cumprir a sua tarefa. Os peixes têm que desovar.
Como ilustração relatamos uma experiência. Ela certifica-nos ser absolutamente
benéfica e racional a proibição temporária pelo IBAMA em época de desova. Em
janeiro/84 uma equipe de técnicos do Projeto Matrinxã, especialistas em reprodução de
peixes, passou 30 dias pesquisando no Lago Aruá, Município de Tapauá. Nesse período
constataram que os barcos de pesca trouxeram para Manaus 600 toneladas de jaraquis:

100
cerca de 300, do total, de fêmeas ovadas que pesavam, em média, 350 gramas. Logo
seriam 857.143 fêmeas com aproximadamente 100.000 óvulos cada uma.
Se elas tivessem desovado e houvesse uma taxa de sobrevivência de apenas 0,5%
(meio por cento), um ano depois o Lago do Aruá estaria contribuindo com mais de
150.000 toneladas de Jaraquis, distribuídos em nossa malha hidrográfica pela migração
natural em busca de alimentos.
Somaria quase 10 vezes mais a produção de Jaraqui, e quase 04 vezes a produção
de todas as espécies desembarcadas em Manaus. Como se estima a produção total do
Estado, controlada e não controlada, em torno de 100.000 toneladas/ano, somente o
Lago Aruá estaria produzindo 50% a mais.
Desde 1982 a SUDEPE vinha proibindo a pesca em mais de 50 lagos considerados
como "criadores". Acreditam os técnicos que os resultados foram satisfatórios, e, como
testemunho, em 1984 a produção foi acima das expectativas mais otimistas.
De posse dessas informações, conclui-se que a forma mais eficiente de se
preservar as nossas espécies seria a proibição da pesca na época de piracema para
desova. Para tanto haveria necessidade de resolver o problema do abastecimento de
pescado em Manaus, nesse período. Acreditamos na solução com as seguintes
providências:
1. Construção e/ou aproveitamento de câmaras para armazenagem de pescado,
onde os próprios armadores e os despachantes formariam estoques a lhes
proporcionarem condições de sobrevivência durante os meses da pesca comercial
proibida. Essas câmaras de preferência funcionariam no Terminal Pesqueiro, próximo
ao desembarque, onde pagariam taxas de utilização. O estoque, somado aos dos
industriais, com certeza abasteceria Manaus de pescado e a preços controlados.
As cidades do interior, dotadas de frigoríficos e de frota pesqueira organizada,
entrariam no mesmo processo; as demais continuariam abastecidas como agora, pelos
pescadores não motorizados e não profissionais. A sobrevivência dos pescadores seria
assegurada pelos estoques, formados durante a época não proibida somente com os
excedentes hoje jogados fora. Nesse período os armadores e despachantes teriam que
programar em manter os pescadores, na época de proibição, ocupados na reforma dos
barcos, conserto dos apetrechos ou revenda da produção estocada. Enfim não será difícil
oferecer trabalho para uma tripulação em torno de seis pessoas e por apenas dois ou três
meses, principalmente considerando-se que nesse período estará com estoque de
pescado no Terminal Pesqueiro, do qual os pescadores terão participação em face do
regime de parceria.
2. Alheias tais condições, impossível proibira pesca comercial em todo Estado,
mas apenas por Zonas. Em cada ano seria proibida a pesca comercial em rios. O Purus e
seus afluentes, por exemplo. Esta opção dificultaria muito mais: demandaria a
colaboração de todas as autoridades municipais e o envolvimento consciente das
comunidades.
3. Terceira alternativa: proibição progressiva. No primeiro ano valeria por apenas
30 dias, no segundo por 60 e no terceiro por 90.
4. Quarta alternativa: proibição por espécie. Algumas espécies seriam selecionadas
e proibidas.
Dessas sugestões, no atual estágio de vida, somente parece possível a segunda.
Ainda assim não será nada fácil e terá muitas implicações políticas e sociais.
Atualmente a fiscalização da pesca no Amazonas vem executando sua atividades de
forma razoável, dentro de seu alcance.
Fiscalizar, como muitos advogam, no ato da captura, é realmente impossível. Os
nossos mais de 45.000 Km de rios bastam para justificar a afirmativa. Mas algumas

101
ações diminuiriam razoavemente os obstáculos, sobretudo se as Prefeituras proibissem a
comercialização, nos Mercados, Feiras ou estabelecimentos comerciais similares, de
pescado cujas medidas não satisfizessem as exigências do IBAMA ou fosse em época
proibida.
Somente com tal providência diminuiria muitíssimo a incidência de pescado com
tamanhos proibidos, pois os pescadores não teriam dificuldades de comercialização.
No futuro o trabalho de fiscalização poderia ser minorado de muito com a realização de
campanha educativa executada pelo IBAMA a partir das escolas do 1°. grau até a
Universidade. Mesmo assim, em nosso interior, por exemplo, não sabemos como ficaria
a cabeça de um estudante de 08 a 10 anos que na escola fosse orientado para não pescar
um Tambaqui com menos de 55 cm, porque ainda não havia se reproduzido, e ao chegar
a casa, encontrasse o pai como uma "enfiada" de "roelos" que capturou para matar a sua
fome e da família.
Realmente fiscalizar é preciso, mas muito mais importante é convencer a não
depredar.
Por acreditarmos na educação sugerimos à Secretaria da Educação e Cultura e ao
próprio Ministério que fosse incluído nos currículos escolares do 1°. e 2°. graus, a
exemplo de OSPB, uma matéria tratando da preservação das espécies. Hoje, com o meio
ambiente em moda, talvez isso aconteça.

102
EXTENÇÃO PESQUEIRA

A Extensão Pesqueira tem por objetivo principal oferecer ao público envolvido


nas atividades da pesca, assistência técnica e também social, a lhes possibilitar melhor
forma de vida. Dentro dessa orientação caberia aos extensionistas da pesca, entre outras
tarefas, promover o associativismo da classe, orientar na obtenção de crédito, transferir
tecnologias de manuseio e conservação de pescado, como elo de ligação com a
pesquisa, aprimorar técnicas de captura sem práticas predatórias, orientar e assistir a
comercialização do pescado, orientar e assistir aos piscicultores e, finalmente, em
conjunto com todas essas atividades, criar e estimular o funcionamento dos Clubes de
Mães ou similares.
A Extensão Pesqueira no Amazonas, por força de convénio com o IBAMA, é
executada pela Empresa de Assistência Técnica e de Extensão Rural-EMATER, que
infelizmente não conseguiu até hoje, nessa área, executar um trabalho realmente
satisfatório. Muitas são as razões. A principal: falta de recursos. Por conta disso, limita-
se a efetuar projetos para obtenção de créditos e a assistir Clubes de Mães. Claro que
esse trabalho é necessário, mas muito mais importante seria proporcionar aos
pescadores melhor distribuição na renda das pescarias, melhor aproveitamento do
pescado, melhor forma de comercialização.
Deve-se confessar: o principal responsável pela omissão é o próprio IBAMA ao
transferirsua responsabilidade para terceiros. A exemplo do ocorrido com a
Fiscalização, ela também era feita pelo Estado, e a duras penas voltou â
responsabilidade do próprio IBAMA, a Extensão Pesqueiros deve sair da jurisdição do
Estado, para não ficar à mercê de injunções e caprichos de dirigentes alheios aos
problemas de nossa pesca e sem humildade suficiente para seguir, como aliás determina
o Convénio, a orientação do órgão que estabelece a política da pesca do Brasil.
A nossa Extensão Pesqueira precisa dar menos importância às linguiças de peixes,
à distribuição de sal grátis aos pescadores, às brigas com presidentes de Colónias, à
formação de grupos dissidentes, igrejinhas, e partir para o campo, molhar os pés, viajar
nos barcos pesqueiros e tentar ensinar-lhes o manuseio do pescado; como gelar o peixe,
porque o peixe deve ser imergido em água gelada antes de ir para a caixa, porque a
caixa tem que ser dividida em urnas, porque não deve depredar, descobrir formas de
comercialização, orientar os pescadores para que se documentem e exijam os seus
direitos na Colónia, no IBAMA, na Previdência, enfim assumir junto aos pescadores o
compromisso de tornar a atividade da pesca mais rentável e menos sofrida. Tais ações
somente serão possíveis quando os responsáveis entenderem que fazer extensão é muito
diferente de fazer política.
Alguns técnicos da Emater, felizmente somente alguns, pela sua própria formação,
cedo descobrem que tem mais "cultura" que os caboclos e muitas vezes até mais que os
políticos locais. Aí, considerando-se os donos das verdades, esquecem as razões pelas
quais estão no interior e se transformam em "políticos".
Muitas são as atividades que precisam ser executadas pela Extensão, entre outras a
difusão de novos métodos de conservação e manuseio do pescado; técnicas de captura;
orientação à piscicultores, etc.
Um exemplo: os pescadores de canoas, que pescam com tarrafas ou anzol,
costumam colocar os peixes fisgados no "porão" da canoa, cobertos por um "japa" ou
capim por várias horas. Quando voltam para casa esses peixes estão "moídos". Isso
poderia ser evitado se os peixes capturados fossem colocados em pequenas "gaiolas" ou
"covos" que ficariam submessos até o pescador voltar para casa. Alguém deveria
orientá-los. Quem? A Extensão Pesqueira, naturalmente.

103
PISCICULTURA

No Amazonas para muitos, mesmo dirigentes de órgãos e agências de


desenvolvimento, cai no absurdo pensar em criar peixes. Costumam afirmar que a
natureza ai está, pronta para nos prover da quantidade de pescado que quisermos,
bastando evitar a pesca predatória. De fato se conseguíssemos eliminara pesca
predatória e administrássemos os nossos recursos pesqueiros da forma como
defendemos no capítulo em que abordamos os problemas da Fiscalização da Pesca,
teríamos abundância de pescado e o abastecimento de Manaus facilitado pela maior
oferta de peixe brancos. Mas uma coisa não inviabiliza a outra. O fato de preservamos
não significa inviabilizar a piscicultura. Além do mais preservar pareça ser utopia neste
Estado. Não acreditamos em processo nem a curto nem médio prazo. Temos que educar,
primeiro as autoridades, depois o povo.
Os países asiáticos, principalmente a China com 3 milhões e o Japão com 1
milhão de toneladas/ano, mostram o maior exemplo de excelente negócio que é criar
peixes.
Ninguém desconhece que algumas espécies estão se tornando mais difíceis de ser
encontradas. O Tambaqui antigamente chegava a pesar além de 30 quilos com mais de
80 cm, hoje não passa de "roelo".
Criar peixes não é novidade para ninguém. No Nordeste e Sudeste já se produz
mais de 100.000 toneladas de pescado por ano, excluindo a produção do camarão,
crustáceo que vem se tornando a atividade mais rentável para os investidores
nordestinos.
Afirmamos sem o menor constrangimento: a criação de peixes em ambientes
controlados, açudes, tanques, lagos naturais ou artificiais, e também em gaiolas
flutuantes, é a melhor opção de investimento no setor primário e o caminho para a nossa
verdadeira e natural vocação. Quando esquecermos que os outros estão fazendo, em
diferentes e gélidas regiões do mundo e descobrirmos o que temos aqui sob os nossos
olhos, estabelecendo como prioritário a produção de peixes em cativeiro, seremos o
povo mais bem alimentado da terra e ainda nos daremos ao luxo de exportar proteínas
para quem nos oferecer melhores preços e condições de pagamento.
Com uma piscicultura forte desaparecerão até os problemas de fiscalização da
pesca, desaparecerão os conflitos entre pescadores e ribeirinhos, diminuirão as
dificuldades de estocagem e principalmente conseguiremos peixes em abundância, bem
como oportunidades de emprego para milhares de pessoas, na capital e no interior.
Para viabilizar a criação de peixe no Amazonas necessitamos considerar os seguintes
fatores:
- Definir quais espécies devem ser cultivadas. Ainda não possuímos aqui, no
Amazonas, um "pacote" de tecnologia pronto. Algumas experiências do INPA e de
alguns piscicultores amadores indicavam, ontem, a Matrinxã como a espécie melhor
para cultivo, que com excelente curva de crescimento pode atingir até 1 quilo em menos
de um ano. Hoje, o Tambaqui é a opção mais procurada. A experiência Nordestina
facilitou essa tendência e nos levou por esse caminho, no entanto, continuo acreditando
no Matrinxã. O seu crescimento possibilitará, em apenas um ano está disponível no
mercado.
- Apoio incondicional a Estação de Piscicultura de Balbina e criação de pequenas
estações no interior com o uso de gaiolas flutuantes. Não adianta pensar em piscicultura
sem termos à disposição dos piscicultores os alevinos. Seria como pretender implantar
granjas de frangos sem pintos. Deve-se pensar em estacões flutuantes onde os tanques
de alevinagens e peixes jovens, seriam gaiolas dentro do próprio rio. Sobre este assunto,

104
alguns técnicos fazem restrições: Acham que tanques-redes (gaiolas) só devem ser
usados para a engorda. Alegam que as matrizes ficariam "estressadas" confinados em
gaiolas. Precisamos fazer um experimento para tirar as dúvidas. Particularmente, não
creio. O fator limitante será o tamanho da gaiola e o custo dos materiais hoje utilizados.
- Créditos. As instituições de crédito deveriam programar uma linha de
financiamento especial para estimular a nova atividade, até ficar comprovada a sua
maturidade e não necessidade de subsídios. O FMPE não atende a demanda existente,
fazendo com que os produtores busquem financiamentos com recursos oriundos do
FNO, com correção monetária acima de 60%, inviabilizando economicamente os
projetos.
- Áreas. A topografia de nossa região tem dificultado o aproveitamento de alguns
igarapés, pelo alto custo de construção de barragens. Cabe-nos encontrar soluções para
diminuir a despesa com os projetos, tais como pequenas barragens sucessivas,
derivações e aproveitamento de lagos naturais de terra firme e, se possível, de vázeas.
Os lagos de vázeas seriam povoados no começo da vazante e despescados quando as
águas estivessem próximo a transbordar. Cultivariamos espécies com crescimento
economicamente viável nesse intervalo de tempo, cerca de 8 meses, dependendo,
naturalmente, da idade dos alevinos que povoassem o lago.
Outra forma de criar peixes: fazendas flutuantes. Acreditamos estar aqui uma
atividade sobe medida para o interior do Estado, sobretudo para as pequenas
comunidades, que desenvolvem ocupações na agricultura, os colonos, como
convencionamos chamá-los.
A criação de peixes em gaiolas proporcionaria evitar aos ribeirinhos a faixa diária
de pescar para conseguir 3 a 4 peixes, enquanto a mulher e os pequenos filhos cuidam
da roça ou do fabrico da farinha. Possibilitaria toda a família tratar das plantações e
comer peixe à vontade na hora do almoço. O processo traria até mudanças sociais em
nosso interior: surgiria nova distribuição de tarefas, o homem trabalhando mais na
agricultura e em consequência produzindo também muito mais.
As fazendas de peixes em gaiolas consistem de pequenos tanques flutuantes, de
aproximadamente dois metros de profundidade, telados, onde são colocados e
alimentados os peixes.
Com base nas experiências de Itaipú e em Urucará, recomendamos que a altura
dos tanques não pode ser superior a dois metros em face da carência de oxigénio
dissolvido nos rios da Região Amazônica após essa profundidade. Em um hectare de
lâmina d'água, em gaiola, será possível produzir, em apenas um ano, aproximadamente
1000 toneladas de Tambaqui. O problema reside no investimento inicial na construção
das gaiolas, com alevinos e alimentação. O primeiro sofreria bastante redução: até
mesmo as telas seriam substituídos por treliças de madeira ou de cipó trançados e os
flutuantes seriam de assacuzeiros, ou tambores vazios e fabricadas com a mão-de-obra
do próprio produtor orientado pela Extensão Pesqueira. Para povoação capturar-se-iam
peixes adultos na natureza ou nascidos por desova induzida a nível de campo ou em
pequenas estações flutuantes distribuídas pelo interior.
Restos de comida, raspas e farelos de mandioca, frutos, dendê, milho e pupunha
de plantações próprias alimentariam os peixes.
A SUDEPE, em 1982, começou a realizar uma experiência nesse sentido, com recursos
do PROMAM, em uma comunidade do Município de Urucará, em colaboração com o
Centro de Treinamento Rural (CETRU), objetivando demonstrar a viabilidade desse
tipo de criação de peixes em cativeiro, infelizmente isso não prosperou. As pessoas que
nos substituíram não deram continuidade ao projeto. Dez anos depois, em 1989 com o
nosso retorno à Prefeitura Municipal de Urucará, resolvemos dar prioridade

105
à piscicultura e testarmos as nossas ideias. Infelizmente não recebemos apoio
financeiro e o que poderia ter sido feito em pouco tempo, levamos praticamente o tempo
de nosso mandato para fazermos alguma coisa com a colaboração técnica da EMATER-
AM, que nos apoiou desde o início. Dois açudes e doze gaiolas foram construídos e
povoados com Tambaquis.
O crescimento foi excelente, apesar da alimentação não ser a ideal e nem termos
tido condições, por falta de recursos de fazermos consorciação com marrecos ou porcos,
ou até mesmo produzirmos alimentos para melhorarmos a dieta dos peixes. Mas, como
em 1991 tivemos uma seca e uma estiagem muito grande, não acontecida há mais de
vinte anos, tivemos que interromper a criação nos açudes e distribuir os peixes que
estavam crescendo dentro das nossas expectivas. Por falta de alevinos, não conseguimos
repovoá-las novamente o que aconteceu somente em 1993.
Outra experiência que fizemos são as gaiolas flutuantes construídas em telas
galvanizadas, com 36 metros quadrados cada uma e com 2 metros de profundidade.
Foram distribuídas as margens dos rios, onde no final do verão de 1991 receberam
Tambaquis capturados nos lagos, com média de 1 Kilo e 20 cm de comprimento. Foram
alimentados com restos de comida, frutos silvestres, sobra de mandioca e milho.
Servirão de indicadores para a implantação definitiva de um projeto gaiolas flutuantes
para o interior.
Este sistema, aprovado, deverá apresentar inúmeras vantagens ao pescador
pequeno. Vejamos:
- Na época de pesca, selecionará as espécies mais nobres, Tambaquis, Matrinxã
entre outros. Os exemplares menores e até os excedentes de sua produção ainda vivos
depositará nas gaiolas. Se tivéssemos bastantes alevinos, essas gaiolas seriam
abastecidas como acontecem com as granjas de aves, os peixes ficariam "estocados"
pelo tempo que fosse necessário, sem gastos de frigorificação, aumentando de peso e à
disposição do pescador no momento em que precisasse comer ou vender.
- O tempo que passaria pescando dedicaria a outras atividades produtivas, não se
esquecendo, todavia, de fazer a coleta de alimentos para os peixes "armazenados" nas
gaiolas e de quando em vez complementar a dieta com proteína animal.
Para que isso seja possível, precisamos implantar, com urgência uma "estação flutuante"
de piscicultura. Os tanques de desova, larvas e pós-larvas ficariam no próprio barco, os
de alevinagem e jovens seriam em gaiolas flutuantes com telas com malhas adequadas.
Aqui está a principal vantagem das "gaiolas"na piscicultura no Amazonas: o ambiente
será mantido natural. Vejamos:
- Não haverá desmatamento, represamento de nascentes ou igarapés;
- Não haverá área inundada;
- Não será preciso adubar, controlar temperatura ou PH da água;
- Não será necessário o uso de máquinas e equipamentos pesados;
- Não será preciso ser dono de terrenos, de estradas, etc.;
- Devido ao grande volume da água do Rio ou Lago não haverá problema de baixa
quantidade de oxigênio dissolvido;
- Com o confinamento dos peixes, tornam-se mais fáceis o acompanhamento do
crescimento, o manejo, a alimentação, o controle de predadores e a despesca;
- Maior produtividade ou seja maior quantidade de peixe por metro cúbico.
As gaiolas estarão colocadas no próprio ambiente em que vivem os peixes. A
única diferença será o espaço diminuído.
Não se faz necessário dizer que os custos serão menores e a produção será até cem
vezes maior que em açudes.

106
Em Conceição de Alagoas-MG, em experimento com Tambaqui está se
produzindo, em um ano 600 Kg/m3, ou seja 500 peixes de 1.200 gramas.
Recomendamos a construção de gaiolas com 18m3, ou seja com dimensões de
3,00 x 3,00 x 2,00 m, que facilitam o manejo. Esse assunto, com detalhes abordamos na
cartilha "Como Criar Peixes em Gaiolas" publicada em outubro/93 e distribuída pela
Emater/Am.
Em um hectare, com taxa de povoamento de 50 peixes/m2, haverá após um ano
uma produção incrível de 6.000 toneladas de Tambaquis. Parece irreal, mas é verdade.
Claro que no Amazonas pelo nosso hábitos alimentares, acostumados a apreciar
Tambaquis com mais de 10 quilos, teremos que diminuir esse povoamento. Assim,
colocaríamos 500 peixes por gaiola, ao cabo de 6 meses dividiríamos a produção com
outras gaiolas (50%); com esse procedimento poderíamos, em dois anos, estar
produzindo Tambaquis com mais de dois quilos e mais de 40 cm de comprimento.
"Roelos" prontos para o mercado. Neste exemplo, um hectare produziria 1000 toneladas
em dois anos. Recuso-me o direito de transformar em reais. É dinheiro demais e fácil de
ser conquistado.
O que falta? Somente uma coisa: Decisão Política.
Outra excelente área para piscicultura no Amazonas encontramos exatamenie em
Manaus, no Distrito Agropecuário da Suframa. Poucos lugares reúnem melhores
condições para esse tipo de atividade.
O Distrito Agropecuário possui mais de uma centena de pequenos igarapés,
nascidos na própria área, perfeitamente controláveis e relativamente próximos do maior
mercado consumidor do Estado, Manaus.
A utilização dos igarapés e das áreas não aproveitáveis para agricultura do Distrito
abririam caminho para viabilizar os projetos atravessando dificuldade, em decorrência
até mesmo do prazo de maturação. O Distrito reúne condições ímpares para
piscicultura: além da água controlável, dispõe de opções para produzir alimentos.
Ademais a proximidade da Estação Produtora de Alevinos, que está situada em Balbina,
beneficiará o empreendimento.
A alimentação dos peixes, como agora a de frangos, exige bastante seriedade.
Criar frangos sem programa de produção de milho é extremamente difícil, em
decorrência do alto custo da importação de ração, o mesmo problema enfrentaríamos
com alimentação dos peixes, se não observarmos este item na implantação do projeto. O
Distrito Agropecuário tem hoje cultivados cerca de 15.000 ha. de seringueiras;
produzirão em média 600 quilos de sementes por hectare. Outra alternativa para o
piscicultor do Distrito: o plantio de apenas 1 ha de dendê, cuja produção naquela área
seguindo informações do antigo CNPSD - Centro Nacional de Pesquisa de Seringueiras
e Dendê, giraria em torno de 15.000 quilos de cachos. Seringa, dendê, ingá, pupunha,
serviriam de alimentos básicos dos peixes, a custo relativamente pequeno e sem perigo
de faltar por causa de transporte ou carência em outras regiões.
Existe, ainda, no Distrito, dois grandes projetos de Dendê. Uma da MONTEBOR,
do grupo S. Monteiro e outro da Embrapa. O primeiro já está em fase de operação da
Usina. Com certeza haverá produção da "Torta de Dendê" que poderá ser uma
alternativa para a alimentação dos peixes.
Haverá, certamente, a necessidade de complementação da alimentação com
proteína animal.
Caberá ao piscicultor buscar soluções. Restos de feiras, do Frigomasa e de fundo
de caixas dos barcos pesqueiros oferecerão matéria prima para uma boa ração. Além
disso, a Frigomasa oferece uma "farinha de osso" de excelente qualidade.

107
Opções encontramos muitas. Faltam-nos apenas apoio e incentivo. Esperamos que
a Fundação Centro de Apoio ao Distrito Agropecuário também acredite em nossas
potencialidades e, com a Associação dos Produtores do Distrito Agropecuário da
Associação ddos Piscicultores do Amazonas e as Agências e Órgãos de
Desenvolvimento do Setor Primário transformem o Amazonas no maior produtor de
pescado de água doce em cativeiro do Brasil.

'GAIOLAS FLUTUANTES"

108
AS EXPERIÊNCIAS DE URUCARÁ: AÇUDES E GAIOLAS

Quando em 1988, após uma ausência de quase dez anos voltamos a Urucará e
tivemos que percorrertoda a zona rural do município como candidato pela terceira vez a
prefeito municipal, percebemos como estava o interior sem opções de sobrevivência.
Vimos, por várias vezes os comunitários das terras firmes tomarem "Tacaca", somente
goma e tucupi, sem folhas e camarão, para matar a fome. Nada tinham plantado para
comer. Os mais "previdentes" comiam mingau de banana quase todos os dias.
Percebemos então, que alguma coisa precisava ser teito para reverter essa situação.
Infelizmente o caboclo do interior não era o mesmo de dez anos passados. A política
paternalista, com doações de implementos agrícolas, madeiras, telhas, ranchos, etc.,
tinha feito com que se desacostumassem ao trabalho. Os mais "vivos" tinham procurado
a capital do Estado em busca de empregos na Zona Franca e uma casa em um mutirão
qualquer. As coisas complicaram tanto que hoje existe um "orgulho" muito grande em
se distribuir 100.000 ranchos a esses nossos irmãos que foram induzidos a sair do
interior para sofrerem na capital.
Ao assumirmos a Prefeitura em janeiro de 1989, com os minguados recursos do
município resolvemos investir em piscicultura, entendendo ser esta uma atividade que
certamente proporcionaria ao nosso caboclo uma ativrdade económica e que no mínimo
lhe porporcionaria alimentos para saciar a fome quando os rios estivessem cheios e a
pesca fosse difícil.
Assim tentamos. Construímos dois açudes. Um na Comunidade do PAURÁ, com
aproximadamente 1,5 hectare. O outro, com 3,0 hectare na Comunidade de BUCUSAL.
Ambos distantes de Urucará por mais de duas horas.
A ideia principal era envolver as famílias das comunidades nessa nova atividade.
Depois de povoado os açudes o trabalho ficaria mais leve e poderia ser executado por
homens, mulheres ou crianças. O viveiro seria de propriedade de todas as famílias
envolvidas.
Chamávamos pomposamente de VIVEIROS COMUNITÁRIOS. Tínhamos
convicção que estávamos no caminho certo.
Terminados os trabalhos, o viveiro do Paurá, recebeu 5.000 alevinos de
Tambaquis trazidos do Nordeste com muitas dificuldades. Foi entregues após uma
grande reunião aos comunitários que receberam todas as instruções de como deveriam
cuidardo açude. Havia até uma certa euforia. Tudo estava dando certo. Os peixes
cresciam, recebiam alimentos e a comunidade estava satisfeita. Quem não estavam
satisfeitos eram os petistas, afinal estávamos nos propondo acabar a fome do povo e isso
era ruim para um grupo que sobrevive a custa da miséria alheia. Será que para o prefeito
não bastava ter colocado antenas parabólicas nas comunidades, permitindo que o povo
também conhecesse outras realidades?
Chegaram as eleições de 1990, coincidentes com o "início das atividades" do Projeto
Echea.
Este projeto, cujo líder era o empresário espanhol IGNÁCIO BENGOECHEA,
pretendia construir cinco módulos constando cada de UM BARCO FÁBRICA E MIL
PEQUENOS BARCOS DE PESCA. Como havia uma certa ligação de amizade com o
espanhol que era nosso vizinho e andava com a primeira edição deste livro sempre
embaixo do braço, alertamos-lhe que os nossos rios não suportariam mais esse tipo de
esforço de pesca. Disse-mos-lhe que seria necessário fazer repovoamento das espécies
que seriam capturadas. Surgia assim a ideia de Barco Laboratório, e a promessa do
empresário de colocar no rio 500 peixes para cada um que fosse capturado.

109
Como se não bastassem essas atividades, o projeto pretendia se envolver com
ervas medicinais, regularização de terras, assistência social e a promessa de transformar
ribeirinhos em micro empresários.
Era o que os petistas estavam precisando. Juntaram-se aos padres da Prelazia de
Itacoatiara e abriram as baterias contra as nossas ideias, misturando-as
propositadamente com o ECHEA. Pregavam que os peixes dos açudes comunitários
quando crescidos não seriam dos comunitários, mas que pertenceriam ao "gringo" que
os venderiam para o exterior e dividiria o dinheiro com o prefeito do município.
RESULTADO: Todo o nosso trabalho de conscientização, todo o sacrifício que
fizemos, todas as nossas boas intenções e nosso idealismo, foram por alguns
"mensageiros da fé", hipócritas e mentirosos, jogados fora. Alguns comunitários, cheios
de dúvidas nas cabeças, começaram a visitar o viveiro de madrugada e "levar" os peixes
que já tinham tamanho suficientes para se comer. Para completar, criminosamente
desmaiaram a área onde se encontrava a nascente do pequeno riacho que abastecia de
água o viveiro. A água acabou, obrigando-nos a fazer a despesca com lágrimas nos
olhos. Dos 5.000 peixes restaram somente 650 com aproximadamente 15 centímetros
que foram doados aos próprios comunitários.
Como consequência disso receberam um castigo. O riacho que também abastecia
o reservatório de água da comunidade secou. Estão sem água até hoje. Antes o Prefeito
havia colocado água encanada, luz, antena parabólica e barco para transporte na
comunidade. Hoje não tem nada disso funcionando. Seria interessante procurarem o
Bispo em Itacoatiara e reclamarem.
O outro viveiro, o do BUCUSAL, deixamos totalmente pronto inclusive já com a
calagem efetuada e convenientemente adubado, ficou faltando ser povoado. Recebeu no
final de 93,10.000 Tambaquis e certamente não terá os problemas do Paurá. Este
pessoal tem outra cabeça, apesar de ligados a Igreja, aprenderam no exemplo negativo
do Paurá.
Quando ainda estávamos construindo o viveiro do Buçusal, sentimos que a construção
de açudes, principalmente no interior era muito cara, já que necessitava de
equipamentos pesados, inclusive de balsa e rebocador para transporte dessas máquinas.
Resolvemos então repetir as experiências de 1982, quando ainda estávamos na
Coordenadoria da SUDEPE. Começamos a construção de gaiolas em telas de arame
galvanizado e cantoneiras de ferro. Essa empreitada foi ajudada pelo Projeto ECHEA
que começou a redirecionar os seus objetivos iniciais, abandonando o projeto de "barco-
fábrica e canoas de pesca" para alinhar-se com as nossas ideias de fazendas flutuantes.
Afinal as gaiolas despertavam mais atenção das autoridades e servia muito mais aos
seus interesses, fazendo com que convivesse diariamente com a mídia com o objetivo de
angariar recursos para o projeto.
Com telas doadas pelo Padre Marcelo, no prédio do Pró-Menor Dom Bosco,
construímos a primeira gaiola. Em Urucará iniciamos a construção de mais cinco. Duas
com 6m x 6m x 2m, e as outras três mais estreitas, mais resistentes, com 6m x 4m x 2m.
As três primeiras, foram montadas em frente a cidade de Urucará e tinham o objetivo de
aprendizado - montagem, flutuação, resistência ao banzeiro dos barcos - as outras três
foram transportadas e montadas no Paraná do Comprido, na saída do Lago Grande,
próximo à Comunidade de Nazaré, um reduto de petistas militantes que nos deram
muito trabalho e quase boicotaram a experiência.
Nestas foram colocadas 250 peixes capturados no Lago Grande e transportados em
tanques de cimento amianto para o local onde estavam as gaiolas. Cada peixe tinha, em
média 40 cm de comprimento e pesava cerca de 2 quilos. Como se tratava de
experiência, contávamos com ajuda de alguns comunitários mais conscientes,

110
principalmente do Presidente da Comunidade, Elson, ex-aluno da escola Agrícola do
centro de Urucará, que acreditava no projeto e fazia o seu monitoramento.
Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, principalmente pela falta de
recursos financeiros e assessoramento técnico, o projeto mostrou excelentes resultados,
fazendo com que sejamos abertamente favoráveis a construção de fazendas aquáticas
para criação de peixes. Afirmamos ser esta a atividade ideal para os nossos caboclos do
interior do Estado. Um dia, esperamos não muito distante, as nossas autoridades
acreditarão nisso. Gostaríamos de estar vivo...
Para dar mais consistência aos nossos argumentos, a seguir transcreveremos o
RELATÓRIO DO MÉDICO VETERINÁRIO DA CODEVASF, Dr. MARCELO JOSÉ
DE MELO, que esteve em Urucará em companhia dos senhores, Dr. José Ubirajara
Timm, ex-Superintendente Nacional da Sudepe, ocupando o cargo de Gerente da
Câmara Setorial de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura e Reforma
Agrária, Dr. Fernando Falabella, Presidente do ICOTI/AM, Ignacio Bengoehea e
Belarmino Holanda, empresários e Dr. Angelo Lima Francisco, Biólogo do
IBAMA/AM, que em nossa companhia visitaram os experimentos.

Eis o RELATÓRIO:

1 -ANTECEDENTES
"A Prefeitura Municipal de Urucará e um grupo de empresários pretendem
implantar na Região Amazônica um projeto de piscicultura envolvendo produção de
alevinos, engorda de peixes em gaiolas e beneficiamento de pescado (filetagem) para
exportação. A engorda de peixes em gaiolas será realizada pelas comunidades dos
municípios amazónicos. O grupo empresarial, em conjunto com a Prefeitura de Urucará
implantou duas unidades naquele município. Os recursos para a implantação definitiva
do projeto serão originários de recursos externos. O grupo empresarial está

2 - ATIVIDADES REALIZADAS
No dia 19 de março de 1992, pela manhã, tivemos contacto com os dois sócios do
Projeto ECHEA (2), Srs. Ignacio Bengoechea e Belarmino Holanda, bem como o Dr.
Timm, e com o Dr. Angelo, na Delegacia do Ministério da Agricultura no Amazonas,
em Manaus.
Na oportunidade o Sr. Ignacio explicou que o projeto funcionaria da seguinte
forma:
- as comunidades receberiam as gaiolas e os alevinos para engorda; o pagamento
seria efetuado com o pescado;
- o grupo produziria as gaiolas, e os alevinos (em barco laboratório), compraria a
produção de pescado, que seria processado em um barco fábrica e exportado;
Na realidade os empresários ainda não tem um projeto elaborado, tem somente ideias.
Diante disso solicitamos que fosse elaborado um projeto piloto, com metas e recursos
quantificados, com mais informações pertinentes, que permitissem uma análise
detalhada sobre o assunto.
No dia 19 de março de 1992, viajamos em um barco de propriedade do ICOTI, de
Manaus até Urucará, para visita aos experimentos implantados naquele município. No
dia seguinte deu-se a visita e constatamos que os experimentos constavam de:
- Um conjunto de gaiolas, colocadas no Paraná de Urucará, em frente a cidade,
constituindo de três gaiolas medindo 6m x 6m x 2m. As gaiolas sáo construídas
em tela

111
de arame galvanizado, com armação em cantoneiras de ferro, pesando
aproximadamente uma tonelada. Como flutuadores são utilizadas toras de madeira. Este
conjunto não estava povoado com peixes e foram colocados nesse local para teste de
resistência, uma vez que aí ocorrem muitas marolas provocadas pelos barcos que
frequentemente navegam naquele Paraná.
- Um outro conjunto de 3 gaiolas com dimensões e material de construção
semelhante ao anteriormente mencionado, montado na Paraná do Comprido, na margem
direita do Rio Amazonas. Este conjunto está sob a responsabilidade de uma comunidade
pertencente ao município de Urucará. Cada gaiola com 48 m3 foi povoada com 50
Tambaquis, mais ou menos um peixe por m3, medindo cerca de 40 centímetros e 2
quilos de peso. A base de alimentação dos peixes é a produção primária natural do rio,
sendo que se usa uma alimentação artificial esporádica com mandioca in natura cortada
em pedaços. Foi realizada a captura de alguns exemplares que apresentavam
comprimento aproximadamente 45 centímetros e cerca de 2,5 quilos. Na oportunidade
sacrificamos um exemplar de Tambaqui do experimento e constatamos estado sanitário
geral muito bom, porém o trato digestivo (estômago e intestino) estava completamente
vazio.

3 - BREVE COMENTÁRIO SOBRE O EXPERIMENTO


A piscicultura em gaiolas é conceituada como um tipo de cultivo intensivo, ou até
super intensivo, com produtividade alcançando até 100 ou mais Kg/m3, e estes
resultados somente serão alcançados com alimentação artificial balanceada. No caso em
apreço, a taxa de estocagem é muito baixa (3), mais ou menos um peixe/m3 e a
produtividade deverá alcançar 1,0 a 1,5 Kg/m3. Por outro lado, os peixes estão
apresentando um bom desenvolvimento, devido, exatamente, a baixa taxa de estocagem.
Sendo uma espécie de amplo espectro alimentar, o Tambaqui está se alimentando de
plancton e daí, detectar-se ausência completa de alimentos no trato digestivo. Os
resultados do experimento deverão se equivaler à piscicultura semi-intensiva, em
viveiros de terra, consorciada a suinocultura.
O material utilizado nas gaiolas não é o mais indicado, devido sua pequena
durabilidade, alto preço e grande peso, exigindo maior capacidade dos flutuadores (4).

4 - ALGUMAS SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA


PISCICULTURA NA REGÍÃO AMAZÔNICA.
Em 1981-2, a SUDEPE negociou financiamentos externos, através do BID, para
desenvolvimento da pesca no Brasil, incluindo-se a piscicultura. Este projeto chamava-
se BID-PROPESCA (Programa de Apoio à Pesca) e contemplava, entre outros, a
implantação em Manaus de um Centro de Pesquisa em Aquicultura. Nessa época,
trabalhávamos na SUDEPE, e tivemos oportunidade de nos deslocar até Manaus, por
várias vezes e não conseguimos encontrar local adequado para a implantação do
referido Centro (5).
Tal fato se deveu à nossa concepção errônea de se tentar adequar, na Amazônia, o
modelo de desenvolvimento da piscicultura adotada nas demais regiões do Brasil. A
piscicultura em viveiros de terreno natural com abastecimento de água por gravidade
não se ajusta à Região Amazônica. Duas condições básicas impedem a transferência
direta dessa tecnologia, quais sejam, a natureza do solo, geralmente com alto teor de
areia, e a topografia, quase sempre plana, que permite inundação de grandes áreas com
transbordamento de um simples igarapé. Isso dificulta a construção de pequenas
barragens para se ter abastecimento de viveiros por gravidade. Assim, o nosso modelo

112
de piscicultura, quando levado à Amazônia, implica na construção de grandes barragens
que, por si só, tem custo superior à toda a infraestrutura de piscicultura (6).
Com base no exposto anteriormente, conclui-se que o modelo de desenvolvimento
da piscicultura na Região Amazônica deverá estar embasado na realidade local. Sob este
aspecto, a ideia apresentada pela Prefeitura de Urucará é bastante condizente com a
realidade amazônica.
A título de sugestão, e também no intuito de fornecer subsídios para o
desenvolvimento desta ideia inicial, listamos a seguir, alguns pontos que deverão ser
observados:

4.1 - GAIOLAS
Deverão ser testados novos tipos de materiais para confecção das gaiolas. Existem
empresas especializadas hoje no Brasil, fabricando gaiolas para a piscicultura, e um
professor de Bragança Paulista (SP), desenvolveu um tanque-rede autoflutuante que
dispensa as toras de madeira para flutuadores. Possivelmente uma gaiola construída em
tela plástica terá um preço mais elevado do que a que vem sendo utilizada (arame
galvanizado), porém a durabilidade e a manutenção poderão compensar o maior
investimento.
O ideal seria a construção de gaiolas a partir de matéria prima local, como, por
exemplo, madeira que resista a água ou alguma fibra. O conhecimento do caboclo
amazonense certamente identificaria esse material. (7).

4.2 - BARCO-LABORATÓRIO
A ideia do barco-laboratório para a reprodução artificial dos peixes nos parece
bastante viável. O barco teria utilização durante o ano todo, suas atividades não ficariam
restritras à reprodução artificial, abrangeria também estudos sobre limnologia, ictiologia
e biologia de pesca.
O prefeito de Urucará nos informou que o Governo do Estado dispõe de vários
barcos (CONAVI) e que poderia fazer a cessão de uma delas para a Prefeitura. Não
dispomos das especificações técnicas das embarcações, entretanto gostaríamos de
apresentar algumas sugestões para a sua adaptação em um barco-laboratório de função
múltiplas:
- Como o barco tem dois convezes, no principal deverão ser montados os
laboratórios e no segundo ficarão os alojamentos para os técnicos e uma sala de leitura e
reuniões.
- Para a reprodução artificial de peixes deverão ser construídos 3 tanques para
reprodutores medindo 3m x 1m x 0,80m. Caso seja necessário, o comprimento poderia
ser reduzido para 2m. Dois conjuntos de incubadoras sendo seis unidades de 200 litros e
doze de 60 litros. As incubadoras grandes terão cerca de 0,70 m de diâmetro e requerem
uma vazão de 7 a 8 litros/ minutos. As incubadoras menores terão mais ou menos 0,40m
de diâmetro, 1,30m de altura e requerem uma vazão de 4 a 5 litros/minutos. Os taques
de reprodutores precisam de vazão de 10 litros/minuto.
- O abastecimento de água para os laboratórios será efetuado através de
bombeamento de água do próprio rio. Não se deve preocupar com grande consumo de
energia para o bombeamento, pois a altura manométrica para recalque deveria ficar
apenas dois metros. Após o bombeamento a água deveria ser filtrada em filtro a disco.
(8)
- deverá ser construída uma pequena sala onde ficarão sediados os equipamentos
e materiais dos laboratórios de ictiologia, limnologia e biologia de pesca.

113
- considerando um período apenas um período de dois meses de reprodução
artificial contínua e levado em consideração que em uma semana completa um ciclo de
reprodução no barco-laboratório (trabalhos com reprodutores e incubação), pode-se
alcançar uma produção de cerca de 15.000.000 (quinze milhões) de pós-larvas/ano. A
produção de alevino dependerá dos índices de sobrevivência que se obterá na
alevinagem.

4.3 - PLANTEL DE REPRODUTORES E ALEVINOS


O Plantei de reprodutores e a alevinagem serão mantidos em tanques e gaiolas
especiais, feitos de material de boa qualidade e grande durabilidade. Dependendo do
dimensionamento do projeto, cada comunidade poderá ter conjuntos de tanques-gaiolas
para reprodutores e alevinos. O barco se deslocaria a essas comunidades e realizaria a
reprodução artificial dos peixes. Os alevinos seriam distribuídos aos piscicultores ou
usados na repovoação dos lagos da Região (9).

4.4 - ESPÉCIES DE PEIXES


De início a única espécie que poderá ser trabalhada é o Tambaqui, já que se dispõe
dos parâmetros técnicos para reprodução artificial deste peixe. Posteriormente, novas
espécies de valor comercial deverão ser adaptadas para a reprodução artificial: Neste
aspecto, a CODEVASF (Comissão de Desenvolvimento do Vale do São Francisco)
poderá contribuir no projeto, através da equipe técnica de Três Marias que possui larga
experiência na adaptação da tecnologia de reprodução artificial de novas espécies de
peixes.

4.5 - EXPERIMENTOS DE ENGORDA


Após a adaptação do barco-laboratório e a consequente produção de alevinos,
deverão ser implantados experimentos de engorda de peixes. Estes experimentos
deverão otimizar dois parâmetros: taxa de estocagem e alimentação artificial.
Não deve imaginar uma alimentação artificial com base nos ingredientes
comunentes utilizados, como milho, farelo de soja, farelo de trigo, farelo de arroz etc,
pois estes não são disponíveis na Região. Assim, deve-se partir de produtos regionais
tais como pupunha, dendê, milho plantado pela comunidade, raspa da mandioca, etc.
É de fundamental importância a realização de testes de materiais locais na
confecção de gaiolas para diminuição dos custos. Caso se consiga a confecção de
gaiolas como custos reduzidos, poder-se-á ter uma piscicultura economicamente viável
dissimanada por todo o beiradão. A baixa produtividade, por sua vez, facilitaria o
desenvolvimento da piscicultura da Região, pois a alimentação básica dos peixes seria a
produção natural das águas dos rios, dispensando, portanto, a alimentação artificial
balanceada, e podendo-se utilizar somente uma suplementação alimentar baseada em
produtos locais, tais como frutos, sobra de mandioca etc. (10).
Os experimentos deverão ser montados fixando-se parâmetros, por exemplo,
alimentação, variando-se a taxas de estocagem; ou fixando-se uma taxa de estocagem e
variando-se a alimentação. Cada experimento deverá ter no mínimo três repetições.
Os experimentos deverão ser acompanhados portécnico especializado, devendo-se
efetuar-se biometrias com periodicidade mínima mensal. Nas amostragens também
devem ser coletados dados limnológicos.

114
4.6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O desenvolvimento da piscicultura na Amazônia depende de uma adaptação da
tecnologia atualmente praticada nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, para as
condições daquela Região. O modelo proposto pela Prefeitura e pelos empresários nos
parece tecnicamente viável.
Para se testar este modelo deve-se, inicialmente, proceder a adaptação do barco-
laboratório para a produção de alevinos e implantação dos experimentos de engorda
(11).
O Governo Estadual, bem como o Governo Federal através da Câmara Setorial de Pesca
do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, deverão prestar todo apoio à Prefeitura
de Urucará, no sentido de dotá-la dos meios necessários à execução dos experimentos
iniciados.
Os resultados obtidos nesta fase preliminar poderão demonstrar a viabilidade do
aproveitamento das potencialidades da Bacia Amazônica para a produção de alimentos.
MARCELO JOSÉ DE MELO - Médico Veterinário da CODEVASF em Brasília, 25 de
março de 1992.

NOTAS EXPLICATIVAS SOBRE O RELATÓRIO

1 - A falta de um projeto que configurasse essas atividades, a origem dos recursos


e a falta de garantias reais apresentadas pelos sócios do PROJETO ECHEA,
inviabilizavam qualquer tentativa de financiamentos internos ou externos. Também
contribuiram para isso o desconhecimento de dados concretos sobre a viabilidade do
empreendimento;
2 - Os Srs. Ignácio e Belarmino não são sócios no Projeto. Na realidade o Sr.
Belarmino era um convidado que dava credibilidade ao projeto. Somente o Sr. Ignácio e
sua esposa que mora na Espanha são sócios no Projeto ECHEA.
3 - Realmente a nossa intenção era fazer os experimentos. Precisávamos testar,
com responsabilidade no Amazonas, esse tipo de piscicultura difundido em outros
países e até mesmo no Brasil em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Não queríamos
inventar nada.
4 - Ao se fazer os experimentos, precisávamos de um material como ponto de
partida e que fosse resistente a ação de predadores. Como em 1992 usamos tela
galvanizada, optamos por esse material, infelizmente o arame não era de boa qualidade
e ao retirarmos do rio cerca de um ano depois não apresentava bom estado. A acidez da
água do rio tinha corroído as telas.
5 - Á época éramos Coordenador Regional da Sudepe/AM, e não economizamos
esforços para conseguir um terreno que se adequasse as exigências dos técnicos. Muitas
áreas foram pesquisadas ao longo das estradas Manaus-ltacoatiara, Manaus-Caracaraí e
do Distrito Agropecuário. Não conhecíamos, ainda, as fazendas flutuantes que já
existiam em outros países, inclusive na América Central e no Chile.
6 - Fizemos questão de reproduzir, na íntegra, este relatório. O Dr. Marcelo é uma
das maiores autoridades deste País em pesca, inclusive piscicultura, e com renuncia,
reconhece os erros cometidos no passado, insistindo em trazer para a Amazónia a
experiência Nordestina.
7 - Após os experimentos realizados em Santa Helena, no Lago de Itaipú, no
estado do Paraná, nos convencemos que o futuro da piscicultura para engorda está na
criação de peixes em gaiolas (tanques-redes).
Lá as dificuldades são bem maiores que as nossas. Aqui os peixes crescem durante
todo o ano. Lá, durante o inverno param de crescer.

115
As dificuldades de materiais eles também tem. Nós temos uma grande vantagem,
temos Itaúba e Massaranduba, madeiras de lei que dentro d'água duram mais de 20
anos.
8 - O uso da energia solar seria mais adequada. Evitaria poluição sonora ou por
gases e combustíveis provocadas pelos motores a diesel. A energia convencional seria
utilizada quando não houvesse trabalho de reprodução.
9 - Talvez com a participação de um especialista tenhamos uma melhor reposta as
nossas ideias.
10 - Os caboclos poderão construir pequenas gaiolas, utilizando-se de madeiras
que resistem a água, itaúba ou assemelhada, ou o material que hoje utilizam para
fazerem os "Tipitis ou paneiros". A baixa produtividade que o técnico aqui se refere é
em relação ao que é possível se conseguir no cultivo super-intensivo nas gaiolas. No
caso apresentado o resultado seria igual aos açudes ou viveiros em terra, consorciados a
suinocultura ou avicultura.
11 - Aqui estão as razões pelas quais não concordamos com o Projeto ECHEA.
Defendemos que o primeiro passo após os testes preliminares que fizemos seria a
construção de um barco-laboratório e em consequência a continuação dos experimentos.

TERMINAL PESQUEIRO DE MANAUS

Muito de propósito deixamos este assunto para o final, não só pela importância de
apoio ao Setòr Pesqueiro, mas também pela inúmeras polémicas que a sua construção
causaram, principalmente entre a Secretaria de Produção Rural e a Coordenadoria
Regional da Sudepe/AM em 1982.
Mas, afinal, o que vem ser um Terminal Pesqueiro?
Conceitua-se como Terminal Pesqueiro o local que reúne condições para
desembarque e comercialização do pescado (atacado), além do fornecimento de
suprimentos para os barcos de pesca, ou seja, combustíveis e lubrificantes, gelo, água
potável e rancho.
Assim funcionam todos os terminais de pesca do Brasil e do exterior. Mas, como as
nossas características e peculiaridades são diferentes de todas as demais regiões do
mundo, sobretudo sofrendo pela ausência da iniciativa privada, o Terminal Pesqueiro de
Manaus terá de formar um misto de Terminal e Entreposto de Pesca, ou seja, deverá
dispor também de congelamento e estocagem de pescado.
Quando descrevemos o processo de comercialização em Manaus, mostramos, aliás
com dados, que as indústrias de pesca somente compram peixes na época do
"Bamburrá", setembro/novembro, mesmo assim sem evitar o desperdício incidente
nesse período e muito menos nos demais meses do ano. O Terminal com estocagem.
aproveita a produção total, pois permitiria aos próprios armadores a composição de seus
estoques.
Somam muitas as tentativas da Sudepe para construção do Terminal Pesqueiro de
Manaus. Dinheiro demais se gastou em projetos, estudos e viagens com tal objetivo.
A elaboração do projeto começou em 1976 com uma equipe de alto nível,
integrada por técnicos da SUDEPE, da Prefeitura Municipal de Manaus e de consultores
especializados. O grupo trabalhou mais de seis meses coletando dados sobre a pesca no
Amazonas. Estudou várias áreas e por fim concluiu que o Terminal deveria ser

116
construído na Enseada do Marapatá, no Bairro de Ponta Pelada, onde funcionou o
Terminal de Asfalto do Departamento de Estradas de Rodagem.
Todas as informações colhidas, muitas ainda atuais, foram levadas ao IPT -
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, para retoques no perfil e
detalnamento do projeto. Concluso em 1978 apresentava as seguintes características
físicas:
- flutuante para o desembarque do pescado, recebimento de água e mantimentos;
- ponte de ligação deste flutuante a terra, com possibilidade de trânsito de veículos
não pesados;
- salão de recebimento de pescado, equipado com linhas de lavagem e esteira de
classificação de pescado;
- sala de lavagem e estoque de caixas plásticas para acondicionamento de pescado;
- salão de leilão de pescado a nível de atacado para até 120 toneladas/ dia;
- plataforma de embarque;
- páteo de manobra e estacionamento de veículos de carga;
- duas câmaras frigoríficas de espera de peixe, uma com capacidade de 60
toneladas e outra para 90;
- duas fábricas de gelo com capacidade de 25 toneladas cada uma;
- dois silos de gelo com capacidade de 50 toneladas cada um;
- três túneis de congelamento com capacidade de 20 toneladas cada um;
- duas câmaras de estoque de congelados com capacidade para 750 toneladas cada
uma;
- dependências de apoio.
Este projeto estava calculado em CR$ 134.700.000,00 (CENTO E TRINTA E
QUATRO MILHÕES E SETECENTOS MIL CRUZEIROS), disponíveis no
orçamento da SUDEPE.
Encerrava-se o exercício de 1978; no próximo começaria novo período de
Governo Estadual.
O Governador, que assumiria em março de 1979, tinha "grande preocupação com
o amanhã". Ao lhe ser apresentado o projeto, convocou os seus assessores para
discutirem a viabilidade técnica, social e econômica do empreendimento. Esses
especialistas, muitos totalmente ignorando os nossos problemas da pesca, não demoram
por concluir que seria mais um "elefante branco" a exemplo do Frigomasa - Frigorífico
de Manaus S/A e da IPLAM -Indústria e Pasteurização de Leite do Amazonas. Tal
disparate, também ainda em moda nos dias de hoje, no mínimo é pretensioso e
irresponsável.
A comparação usada dissolvia-se, a época com a assertiva de que não tínhamos
rebanho bovino para corte e muito menos para leite. Peixe nós tínhamos e ainda temos
com abundância.
A realidade é que a construção do Terminal morreu no projeto. O terreno pertencia
ao patrimônio do Governo do Estado do Amazonas e não havia sido doado à SUDEPE.
"O problema da pesca no Amazonas precisa ser resolvido de forma global, ou seja,
deveria ser atacado da captura à industrialização, envolvendo também o interior do
Estado", afirmava o Governador.
Efetivamente o problema era outro. Havia um grupo empresarial, proprietário de
uma fábrica de gelo em barras, instalada em um flutuante de concreto, localizado na
Baía do Rio Negro, que pressionava o Governador, defendendo os interesses próprios:
monopolizar o comércio de gelo em Manaus. Não previa aquela indústria que
apareceriam concorrentes, com mais experiência no setor, a comprometerem o

117
empreendimento primeiro. Mais tarde fábrica foi vendida e o Governador resolveu
então preparar o seu macro projeto.

Como não mais dispunha o terreno da Enseada do Marapatá, pois havia sido
doado á Aeronáutica, para construção de um Clube Náutico que até hoje não foi
construído, o empreendimento foi concebido todo ele flutuante.
Com o nome de PAP - Projeto de Apoio à Pesca, levantaria uma verdadeira
Babilónia sobre as águas. Tinha tudo previsto até mesmo auditório. As câmaras de
estocagem de congelados ofereceriam capacidade para 1.500 toneladas. Tal projeto não
foi submetido ao exame dos técnicos que, em 78 julgaram o modesto Terminal,
concebido pelo IPT, "elefante branco", caso permanecesse o critério, o PAP seria no
mínimo considerado "baleia branca".
O seu custo estimativo somava 646.814 ORTNS, que seriam tornadas do BNDES, com
juros de 8% ao ano e correção monetária exigida trimestralmente durante dois anos de
carência e, mensalmente, no período

de amortização, acordado em 72 meses.


O contrato entre o BNDES e o Governo do Estado foi assinado em Manaus, no dia
16.03.82. As razões porque o financiamento não foi liberado não as conhecemos todas,
mas certamente a falta de aporte de recursos em contrapartida à operação deve ter
contribuído para a prudência bancária.
O mais interessante: O Governo do Estado recusara a construção do Terminal
Pesqueiro a fundo perdido, considerando "elefante branco", e nas negociações com
BNDES, tentava comprometer recursos da SUDEPE, em seu projeto, como
contrapartida do Estado.
Coincidentemente, em janeiro de 1982, mudavam o Superintendente e o Coordenador
Regional da SUDEPE. No mês de maio realizar-se-iam em Manaus as reuniões do
Conselho Deliberativo da SUDEPE, com a presença do Superintendente e de todos os
Conselheiros, representantes de vários Ministérios. Aqui conheceram a nossa realidade

118
e se prontificaram a resolver o problema da implantação do Terminal Pesqueiro.
Recursos seriam alocados; precisaria apenas que o Governo do Estado doasse o terreno.
Infelizmente, em que pese à boa vontade da SUDEPE, o Governo do Estado não
cedeu o terreno.
Com a renúncia do Governador e a posse de seu vice, reacenderam-se as
esperanças de obter a área da Enseada do Marapatá. Procurado por nós, o Governador
que assumiu não sabia se o terreno ainda pertencia ao Estado, pois ouviria falar de
doação à Aeronáutica. Como não tinha certeza autorizou-nos a procurar o Comandante
da Base Aérea para esclarecermos o assunto. Assim fizemos e recebemos a informação:
o terreno realmente lhes havia sido doado pelo Governo do Estado e nele seria
construído um Clube Náutico para oficiais.
De fato o Governo não pretendia construir o Terminal, pois, sabendo da existência
do projeto da SUDEPE não hesitou em dar o terreno outrora comprometido. O terreno
lá está, intangível, ocioso, nem terminal, nem clube, somente o testemunho da falta de
interesse em resolver os nossos problemas.
Inicia-se 1983. Toma posse um novo Governador e renasceram novamente as
possibilidades da construção do Terminal Pesqueiro.
O Superintendente da SUDEPE, em Brasília, no segundo trimestre de 1983,
recebe a visita do Governador que lhe promete toda a ajuda na construção do Terminal
Pesqueiro.
Algum tempo depois o Superintendente visitava Manaus e, quando em audiência
com o Governador, recebera a ratificação da promessa anterior, não só para a
construção do Terminal Pesqueiro, mas também para implantai o Centro de Aquicultura
de Manaus, ambos pendentes de áreas para construção.
O Governador prometeu entregar uma área da Codeagro no distrito Agropecuário
para levantar o Centro de Aquicultura e interferir junto a Ceasa/ AM para doação de um
terreno no porto de desembarque da BR-319, para as obras do Terminal Pesqueiro, além
de prometer a construção, pela Celetra, hoje CEAM, de Subestações rebaixadoras de
corrente em Tefé e Codajás, onde a SUDEPE implantou dois entrepostos de Pesca.
Realmente demonstrou vontade de colaborar, mas seus auxiliares simplesmente
nãp cumpriram suas determinações. A Codeagro, para doar o terreno, fez exigências
absurdas que foram refutadas pela SUDEPE; a interferência junto à Ceasa, a ser
efetuada pelo secretário Estadual da Produção, não aconteceu e as subestações foram
construídas e pagas pela SUDEPE, pois a Celetra não obedeceu ordens do Governador.
Cremos que, por não saber disso, o Governador declarava na televisão já ter
resolvido o problema do terreno do Terminal Pesqueiro, e que finalmente poderia ter
sido construído.
Neste ínterim o Secretário da Produção retomava os contactos com o BNDES para
financiamento do projeto do Governo passado, o PAP. Mais uma vez os recursos não
foram liberados.
A SUDEPE/AM não desiste e restava-lhe uma outra alternativa. Sendo a Cobal a
maior acionista da Ceasa/AM, o terreno poderia ser doado à SUDEPE caso aquela
Companhia concordasse. A iniciativa não agradou ao Secretário da Produção que não
podendo manusear CR$ 8,0 bilhões do BNDES, não permitiria que os seus interesses de
diretor de frigorífico fossem prejudicados. Tratou então de boicotar as negociações,
levando informações distorcidas à SUDEPE/Brasília e ao Governador do Estado.
Seu objetivo imediato: intrigrar o Coordenador Regional com seu Superintendente
e o Governador.
Ao Governador vendeu a ideia absurda de que o projeto do Terminal Pesqueiro de
Manaus não possuía área para estocagem. Intencionalmente se esqueceu de três coisas.

119
A primeira: não mais existia projeto, pois a área a ser construída, ou seja a Enseada do
Marapatá, estava fora de cogitações. Teria, portanto, de ser elaborado novo projeto para
a área da Ceasa.
A segunda: o único projeto conhecido pela Secretaria de Produção era o PAP
(Programa de Apoio à Pesca) e não foi elaborado pela SUDEPE, mesmo assim também
tinha área para estocagem.
Terceira e a mais importante: o próprio Secretário esteve na SUDEPE em Brasília
e na SUDEPE/AM, e defendeu com unhas e dentes que o Terminal Pesqueiro do
Amazonas não deveria ter estocagem. Claro que a Sudepe/ Am não aceitou esta
proposta e, embora não aprovando que o peixe possa ser desembarcado de qualquer
forma e em qualquer lugar, em parte concordava com o Governador, quando afirmava
que o nosso problema é de estocagem. Infelizmente faltava lealdade para alguns dos
auxiliares do Governador da época. O maior exemplo de tal conduta: o Governo do
Estado possuía dois frigoríficos em boas condições de funcionamento, o Codepesca, da
Codeagro, situada na Betânia, e outro na Praça14, atrás do Mercado Cunha Melo;
ambos, porém, foram desativados pela Sepror. Se o problema é estocagem, porque a
Codeagro não utilizou esses frigoríficos que contribuiriam com mais de 200 toneladas
na formação de estoque.
Porque preferia usar o frigorífico que tinha como um de seus diretores o próprio
titular da Sepror?
Em julho/84 dois técnicos da SUDEPE/Brasília vieram a Manaus com a finalidade
de dimensionamento do novo projeto. Foram assediados pelo Secretário que insistia em
não se construir câmaras de estocagem no Terminal. Em face de nossa posição
inarredável, baseada em dados estatísticos de nossa produção, estabeleceu-se que o
projeto teria previsão de congelamento e estocagem, faltando ser definido onde seria, se
no próprio Terminal ou nos prédios ociosos da Ceasa.
Em agosto/84, quando tudo parecia que estava resolvido, veio o golpe que nós
temíamos mas de certa forma já esperávamos.
Convocado o Conselho de Administração da Ceasa/AM, para referendar a decisão
da Cobal, acionista majoritário da Ceasa, de ceder à SUDEPE a área para construção do
Terminal Pesqueiro, o seu Presidente, ou seja o próprio Secretário de Produção Rural
que havia participado de todos os acertos, sugere e naturalmente consegue que os
conselheiros não aprovassem a cessão da área sob a alegação de que precisava de maior
tempo para estudar a possibilidade de participação de outros órgãos no custo da obra,
tais como o Ministério da Agricultura, a Suframa e o Governo do Estado.
Nada mais absurdo. Que se encontrasse uma outra desculpa, afinal a SUDEPE não
solicitou ajuda da Suframa, do Governo do Estado ou de outros órgãos, estava decidida
a construir a obra com seus próprios recursos. Mesmo que houvesse solicitado não
precisava proletar a decisão de assinar o Termo de Cessão.
Neste episódio a SUDEPE e a COBAL foram muito cortezes. Porque dar
satisfações a alguém que reiteradamente tem demonstrado não concordar, por interesses
próprios, com a construção do Terminal Pesqueiro. A Cobal detém a maioria das ações
da Ceasa/AM, não precisaria render homenagens a ninguém. O Termo de Cessão, por
essa razão prescindiria de aprovação do Conselho de Administração.
O objetivo foi alcançado. Perdemos mais um ano e os CR$ 928 milhões que aqui
seriam aplicados, mais uma vez voltaram. Hoje, conhecendo o governador, cremos
fielmente que ele não sabia desses fatos e foi enganado pelo seu assessor direto.
Já se passaram quase 10 anos. O Terminal não foi construído. A área da CEASA foi
invadida e favelada. Os problemas continuam, muito mais graves, e de quando em vez,

120
principalmente na escassez, alguém lembra do natimorto Terminal Pesqueiro de
Manaus.
Em 1987 toma posse um novo Governador do Estado. Como todos os outros
promete resolver o problema do pescado. Criou a Companhia Amazonense de Pesca,
localizada próximo ao Frigomasa. Gastou até alguns milhões de dólares e nada foi feito.
Ninguém fala mais sobre o assunto.
Triste situação da nossa principal riqueza, o peixe. Que Deus continue dele cuidando,
nós não queremos fazer isso.

121
CONCLUSÃO

Neste trabalho procuramos mostrar os problemas e as soluções para o Setor


Pesqueiro do Amazonas, dando ênfase as nossas potencialidades, inclusive apontando a
negligência e omissão dos órgãos competentes, preocupados em fazer política e
totalmente cegos para o caminho natural para o nosso desenvolvimento.
Vamos fazer um retrospecto dos "Planos de Governo", a partir de 1971, exatamente no
segmento pesca. Veremos que pelo menos no papel resolvemos os nossos problemas.
Vejamos:
Governo JOÃO WALTER -1972/1976.
"Os principais problemas da economia pesqueira do Amazonas são os que se
expõe:
a) ser a produção constituída exclusivamente de peixes de escama;
b) estar sujeita a amplas oscilações entre a quadra de safra (águas baixo, meses de
setembro a fevereiro) e a entre safra (águas altas, meses de março a agosto);
c) não contar com cais apropriado, sendo o desembarque realizado na praia que dá
acesso ao mercado municipal.
d) encontra-se o produto frequentemente em condições insatisfatórias de
conservação.
Aos problemas em que implicam os característicos dos itens b e d supra, somam-
se os da conservação e distribuição do produto, principalmente os seguintes:
a) intalação insuficiente de estocagem de peixe frigorificado. Esse fato agrava o do
recebimento do produto em condições não satisfatórias de conservação. Além disso, ele
não permite que o armazenamento contribua para atenuar a escassez do produto durante
a entre-safra com seus efeitos nos níveis dos preços. Em 1969, o preço médio mensal no
atacado oscilou de Cr$ 1,58 por Kg (abril) a Cr$ 0,38 (setembro);
b) ausência de um serviço de fiscalização bromatológica destinado a evitar a
distribuição do produto deteriorizado aos varejistas;
c) ausência também de exigências no sentido de que os estabelecimentos do
varejo possuam equipamento de conservação a frio."
As soluções que o Plano apresentava eram as seguintes:
a) criação de um serviço de inspeção e fiscalização bromatológica destinada a
evitar a entrada e distribuição em Manaus de pescado que não esteja em condições
satisfatórias de conservação (serviço, aliais, que poderá atuar também com relação a
outros produtos);
b) realização de pesquisas e estudos sobre a fauna ictiológica amazonense, em
particular sobre os deslocamentos dos cardumes, para servirem de apoio a
empreendimentos nos pesqueiros em escala empresarial;
c) atuação junto á comunidade de pescadores objetivando à sua organização sob
forma de cooperativa, de modo a se criarem melhores condições à assistência do poder
público destinada à elevação do seu nível de vida e, em particular, à aquisição, pelos
seus participantes, de embarcações e equipamentos de pesca;
d) estabelecimento de linha de crédito, especialmente destinada a pescadores, com
o fim de por ao seu alcance com que possam adquirir barcos e instrumentos de pesca;
e) fortalecimento estrutural da Delegacia Regional da SUDEPE e dinamização
das atividades para que, entre outras funções, possa atuar nas faixas de ação de que
tratam os itens (c e d supra)
f) ampliação da infra-estrutura de estocagem de peixe frigorificado de Manaus.
Para isso, dever-se-á estudar qual a forma mais adequada e operacional,
consideradas as medidas já existentes sobre o assunto: se a de iniciativa do Governo

122
Estadual ou se de entendimentos e ajustes do mesmo Governo com empresa privada que
se disponha a realizar o empreendimento". Não seria necessário dizer que nada,
absolutamente nada, foi feito. O Governo de Henoch Reis, 1976/1979, também tinha em
seus planos os seguintes objetivos e metas:

1. Objetivos:
a) - Contribuir para criação de uma infra-estrutura capaz de melhorar o sistema de
comercialização;
b) - Contribuir na fiscalização do exercício da atividade pesqueira no Estado, de
acordo com as normas vigentes.

2. Metas Globais:
a) - Participação na implantação do Terminal Pesqueiro de Manaus;
b) - Instalação de 07 fábricas de gelo;
c) - Contribuição na fiscalização de 420 barcos da frota pesqueira.

3. Metas Parciais:

INSTALAÇÃO DE FÁBRICA DE GELO E N°. DE BARCOS A SEREM


FISCALIZADOS MANAUS-1976/1979

METAS 1976 1977 1978 1979

Manaus _ _ 01 01

Parintins 01 - - -

Itacoatiara . 01 - -

Tefé 01 - - -

Carauari - 01 - -

N". DE BARCOS 160 250 320 420

4. Localização:
Municípios de: Manaus Parintins Itacoatiara Tefé
Manicoré Carauari
Não devemos perder tempo em conferir. Passemos para o próximo período, José
Lindoso - 1979/1C83. Foi simplesmente lacónico: "desenvolvimento da pesca, tanto no
campo merante exploratório como nas piscicultura, incluído racionalização dos métodos
de captura, transporte, conservação e distribuição do pescado".
Chegamos ao Governo 1983/1986. Também não é diferente, vejamos:
"SUBPROGRAMA DE INCENTIVO E APOIO À PESCA ARTESANAL".
Selecionar e disciplinar, junto à comunidade pesqueira, as áreas piscosas no Estado.

123
. Definir e divulgar, junto à comunidade pesqueira, as épocas de captura
não predatória;
. Identificar e divulgar processos nativos de beneficiamento do pescado,
bem como técnicas adequadas de salga e defumação de peixes de couro;
. Estimular a organização de pescadores em colónias, nas áreas selecionadas, no
sentido de elevar-lhes o nível técnico e o poder competitivo no mercado, bem como
racionalizar a intermediação no processo de comercialização;
. Incentivar a implantação de fábricas de gelo e frigoríficos para estocagem do
pescado, nas áreas selecionadas;
. Diminuir o custo do pescado por meio da alteração do atual sistema de pesca,
transformando em barcos compradores os atuais pesqueiros;
. Proporcionar melhor acesso da comunidade na compra de pescado via Terminal
Pesqueiro;
. Fomentar a criação de peixes em lagos de terra firme."
Observamos: em todos os planos de Governo que analisamos uma coisa foi
comum, isto é, nada, absolutamente nada foi feito. Todos dizem a mesma coisa apenas
de forma diferente. Todos frequentam a mesma escola e sem a participação do órgão
responsável pela pesca no Amazonas é época: a SUDEPE/AM.
Alguns atingem o ridículo, com afirmativas que mostram claramente quanto não
se leva a sério o problema da pesca no Amazonas. O Plano de 1983/87, em seus últimos
três tópicos, evidencia claramente a falta de conhecimentos e de vontade para
concretizar algum programa sério em prol do Setor Pesqueiro. Tentar transformar os
barcos de pesca de pesqueiros em pescadores, vai ao absurdo. Quem financiaria? O
BEA. E quem pescaria? Os ribeirinhos. Ora se os armadores de pesca não tem dinheiro
sequer para equipar seus barcos, onde arranjarão dinheiro para comprar peixe. E se
arranjassem, com os juros absurdos quem pagaria tal custo?
Como proporcionar melhor acesso da comunidade à compra de pescado via
Terminal Pesqueiro, se não existe terminal e não nos parecia a época que o governo
quisesse construir.
E se de alguma forma fosse construído, esclareceçamos que o povo não iria ao
Terminal Pesqueiro para comprar peixe: a comercialização somente operaria no
atacado. Pelo que vimos não se sabia nem o que seria nem para que serviria um
Terminal Pesqueiro. Foram mais além, criar peixes em lagos de terra firme. Onde estão
esses lagos?
Em 1991, volta o Governo do Estado o Professor Gilberto Mestrinho, que com a
experiência adquirida em seus dois Governos anteriores tenta reverter essa situação, não
obstante as dificuldades conjunturais vividas pelo país. Infelizmente não lhe permitirão
isso. Fica no entanto registrado um incentivo à piscicultura com a implantação da
Estação de Balbina e financiamento à piscicultores via FMPE.
Com tais observações acreditamos haver mostrado como temos dado importância
a nossa principal riqueza, o pescado.
As soluções em que acreditamos defendemos nos capítulos anteriores e listaremos
abaixo de forma resumida e objetiva. São elas:
a) Melhoramento das caixas de gelar de nossos barcos pesqueiros;
b) Criação de um fundo para formar estoques reguladores de pescado, através das
empresas de pesca;
c) Construção do Terminal Pesqueiro de Manaus, com possibilidade de estocar
pelo menos 3.000 toneladas;
d) Produção de alevinos em barcos laboratório para distribuição aos
piscicultores;

124
e) Construção de feiras específicas para comercialização do pescado;
f) Construção de pequenos entrepostos de pescado no interior do Estado, a
exemplo dos construídos pela SUDEPE/AM em Parintins, Tefé e Codajás, e Prefeitura
de Urucará neste município;
g) Promover uma campanha educacional, com a participação da escola, família e
autoridades, conscientizando-se da importância da preservação das espécies;
h) Proibição sistemática, por zonas, da pesca comercial em época dê
piracema para desova;
i) Dinamizar os serviços da Extensão Pesqueira, fazendo com que os pescadores e
armadores aprendam a manusear o pescado, melhorando sua qualidade e conservação;
j) Construção de pequenas fábricas de farinha de peixe, Concentrado de Peixe ou
Peixe em Flocos nas Colónias e associações de pescadores para fornecimento a
Merenda Escolar;
k) Implantação de "gaiolas" para criação de peixes em regime de condomínio nas
pequenas comunidades do interior do Estado.
l) Apoiar a Estação de Balbina de forma que se produzem no mínimo 15 milhões
de alevinos/ano para repovoamento, com espécies nobres, Tambaqui por exemplo, dos
nossos lagos e rios da Região e distribuição aos piscicultores.
m) Criar a Secretaria Especial da Pesca, com objetivos específicos de incentivar,
fiscalizar, disciplinar a pesca e piscicultura no Amazonas;
n) Criar, via FMPE/BEA um crédito rotativo para os armadores de pesca
"armarem as campanhas" dos nossos pesqueiros evitando-se o atrelamento a agiotas e
outros "financiadores" desses nossos companheiros.
Esperamos, com esta nova edição estar contribuindo mais uma vez para despertar
as nossas autoridades antes os problemas da pesca e, quem sabe, ferindo os brios e o
orgulho de nossos dirigentes, comecemos a fazer aquilo que reconhecidamente todos
sabem que precisa com urgência ser feito.
Cremos estar conseguindo o objetivo. Não procuramos agradar ou ferir ninguém.
Limitamo-nos a traduzir em palavras escritas tudo aquilo que de costume dissemos em
várias palestras proferidas, todas elas com a mesma intenção, sem contudo, encontrar a
ressonância desejada.
Estas aqui pelo menos ficarão impressas e poderão mais tarde ser conferidas.

125
BIBLIOGRAFIA
PETRERE JR. Miguel - Pesca e Esforço de Pesca no Estado do Amazonas. Acta
Amazonica n° 3,1978.

O peixe representa para o amazonense o


principal alimento O consumo per capita, em
torno de 60 quilos é o maior do mundo.
Apesar disso praticamente nada foi feito para
se dotar o Setor Pesqueiro de uma melhor
estrutura.
O autor de maneira clara e objetiva mostra
os problemas desse segmento importante da
economia amazonense e apresenta as
soluções. Podem até n3o ser as melhores,
mas certamente é unia denúncia corajosa que
precisa ser analisada. Este trabalho foi
terminado em janeiro/84 e devido a uma
série de "contratempos" somente em
março/85 conseguiu ser publicado.
Atualizado está sendo republicado inclusive
com experiências realizadas em U ruçará

126

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