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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Centro de Ciências da Comunicação e Gestão – CCG

Aluno: Leonardo da Silva Lopes Matrícula: 1413107/8


Profª. Gleiva Rios
Disciplina: Ética, cidadania e gestão

Análise do documentário The True Cost

O documentário intitulado The True Cost, do diretor Andrew Morgan, elucida uma
história sobre a indústria da moda, mostrando seu lado obscuro desconhecido por grande parte
das pessoas: o que está por trás da redução de preço do vestuário ao longo das últimas décadas
e a relação desse fato com o capital humano, consumismo, direitos humanos, tomada de
decisão das empresas, ética, valores, relações de trabalho e meio ambiente.

Sabe-se que a apropriação da força de trabalho a baixo custo é comum em países em


que aquele é relativamente mínimo para grandes corporações. Trabalhar para ganhar 10
dólares por mês – baixa remuneração notadamente –, e a aceitação – justificada pela redução
de custos – de um modelo de negócios no qual está presente a ignorância às medidas de
segurança são alguns dos fatos apresentados no trabalho de Morgan.

Nessa perspectiva, conforme mostrado no trabalho em comento, a péssima condição


de trabalho já canalizou, dentre outros, o desastre de Rana Plaza – ocorrido num local
considerado um dos maiores exportadores de roupas do a nível mundial, Bangladesh. Tal caso
consistiu no desabamento de um prédio de três andares no qual funcionava uma fábrica de
tecidos que terceirizava serviços de costura para grandes marcas. Esse ocorrido, além de
desmascarar o não cumprimento de normas de segurança, revelou o lado “escuro” dessa
indústria internacional de roupas que acontece também em outros países, Algumas grandes
marcas buscam mão de obra barata, dentre elas, H&M, Gaps, Levis, Walmart.

Esse certame tem relação com a indústria da moda chamada de fast fashion, a qual é
regida pelo propósito do consumo e da produção em massa e é parte do documentário em
questão no qual é apresentado o processo e o percurso da mercadoria dentro da cadeia de
suprimentos e citadas algumas das tantas questões atinentes: morte de trabalhadores por causa
da inalação de produtos tóxicos; suicídio por não conseguir pagar empréstimos feitos para
fazer a compra de sementes geneticamente modificadas; crianças que nasceram com
deficiências ou deformidades; poluição da água, entre outras.

A partir disso, percebe-se que as relações de trabalho que se dão nas realidades
apresentadas configuram um movimento que segue em marcha para desvalorização
exponencial do trabalho e dos que vivem deles, além de outros agravantes. O documentário
revela explicitamente essa situação onde os direitos humanos são feridos ao passo que a vida
dos trabalhadores é exposta aos grandes riscos, além da presença de exploração do trabalho,
desrespeito à dignidade humana, liberdade de expressão e violência física – agressões contra
pessoas diante de uma manifestação por dignas condições de trabalho. Ainda a respeito, a
ameaça de sair de determinados países obriga os governos a manter salários baixos, evitando
o cumprimento de leis trabalhistas e possibilitando que empresas que se instalam nesses
países de baixo custo sequer formalizem as contratações, se livrando da responsabilidade
pelos danos, configurando foco apenas em lucro, além de contribuir, amplamente falando,
desigualdades sociais.

Na seara socioeconômica, essa situação triste não é configurada apenas pela busca por
maior lucratividade. Sabe-se que existe uma crescente procura da parte dos consumidores por
artigos da moda ao preço mais baixo possível. Esses consumidores em geral são influenciados
pelas mídias que pregam a filosofia de que o consumo traz consigo felicidade, espalhando o
materialismo que, muitas vezes, se sobrepõe a determinados valores, não propiciando ao
consumo consciente sem o qual dificilmente refletimos, dentre outras questões, sobre: o
verdadeiro custo das roupas; quem as faz e os impactos de caráter social de que são
intrinsicamente decorrentes. O documentário apresenta realidade de pais que não conseguem
sequer passar o tempo necessário com seus filhos e que precisam deixar seus filhos com
outrem de modo que possam ter um futuro digno.

Na esfera ambiental e da saúde, o consumo não consciente, movido pelo materialismo,


viabiliza negativos impactos, a exemplo da poluição de rios e solos em função da relatada
produção de algodão que vem sendo acelerada, trazendo consigo a utilização de produtos
químicos que vêm provocando, além de impensáveis problemas ambientais, doenças graves
em populações pobres assim como outros povos. O documentário revela que a poluição de
determinados rios enseja o acometimento de doenças graves, a exemplo de câncer, doenças de
pele em diversas formas, dentre outras. Outrossim, o montante de roupas e tecidos que são
jogados fora tem sido crescente, contribuindo com mais danos ambientais, atingindo também
a sociedade em cujo ambiente habita. Por essas e outras razões, a indústria da moda está entre
as três indústrias mais poluentes do planeta, consequentemente, muitas mortes decorrem de tal
área.
Diante de tanto efeitos negativos, o documentário é que ele mostra soluções
interessantes que já foram colocadas em prática como iniciativas de fair trade – troca justa na
mão de obra –, produção orgânica e moda sustentável. Nesse sentido, Livia Firth fez sua
contribuição por atuar na marca sustentável Eco Age, e criar o projeto Green Carpet
Challenge, chamando pessoas de destaque para participar de uma moda consciente e
levantando ações de promoção de reflexão sobre a ética nas empresas. A questão é, o sistema
capitalista – sistema das grandes economias mundiais – requer materialismo. Transitar do
materialismo para consumo consciente causaria o fim de um sistema econômico em grande
escala, em tese. Estaria o mundo preparado para isso?

O documentário promove a reflexão e entendimento de que vivemos sob uma


conjuntura de degradação de valores éticos dos indivíduos, sociedade e tomada de decisão nas
empresas, materialismo, a quantificação da vida humana e a utilização do meio ambiente
como se fosse um ativo industrial. Mudança interior inicialmente parece ser a solução. Afinal,
se não conseguirmos fazer mudanças interiores, mudar “o mundo” é sequer pensável?

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