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hh O anarquismo revolucionário no Brasil: origens e disputas de linhas entre 1997-2005 (p.

2)
Nesta edição

hh Unidade teórica: o resgate do bakuninismo enquanto teoria revolucionária (p. 3)


hh Lutas urbanas: conflitos, organização e resistência do proletariado marginal (p. 4 e 5)
hh 10 anos de Luta Sindical e Estudantil (p. 6)
hh Avança o processo de construção da UNIPA (p. 7)
hh As Ilusões da Soberania Nacional e a Verdade Sub-imperialista (p. 8)
2 Causa do Povo - nº 67 - Jan/Fev/Mar de 2013 - Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! Viva a União Popular Anarquista!

O ANARQUISMO REVOLUCIONÁRIO NO BRASIL:


origens e disputas de linhas entre 1997-2005
A gênese do bakuninismo re- rios (LEL), que visava acumular Entretanto, por três vezes, reuni- construção, o bakuninismo ou
monta à experiência de organiza- discussão para enfrentar os pro- ões convocadas com a pauta para anarquismo revolucionário. Desde
ção dos anarquistas que começa blemas teóricos e organizativos. o debate de teoria ou tiveram suas então, o caráter do debate foi des-
nos anos 1990. Podemos dizer que pautas modificadas (com a supres- locado: não se tratava apenas de
O LEL surgiu ano final de 1998
esse processo tem três condições são do item) ou foram suspensas. defender a organização, mas que
e existiu até 2003. Nesse intervalo
que o alimentaram: 1ª) a cisão nos Encaminhamos um documento tipo de organização (plataformis-
de tempo, o contato entre os gru-
grupos anarquistas de natureza intitulado “Anarquismo e Teoria ta x sintetista); qual teoria e qual
pos remanescentes da antiga OSL
contracultural ou editorial pré-exis- Revolucionária”, em que apresen- prática. Essa diferença teórica logo
(LEL-RJ, FAG-RS e Lula Libertária/
tentes; 2ª) a influência internacio- távamos e justificávamos o baku- se expressou em diferentes linhas
SP) foi mantido e foi lançada em
nal da FAU (Federação Anarquista ninismo. Esse documento nunca políticas.
2000 a proposta de construir uma
Uruguaia), que impulsiona a Cons- foi discutido.
organização de base denomina- Em 2004 lançamos o comunica-
trução Anarquista Brasileira (docu-
da Resistência Popular (RP). Com A nossa avaliação foi que o pro- do “A Crise do Governismo e a Es-
mento que convocava a construção
uma linha eclética e basista, a blema era de fundo teórico-ide- tratégia da Ação Direta” e em 2005
de organizações anarquistas pelo
RP atuou em movimentos coope- ológico, e decidimos nos lançar à “As Reformas do Governo Lula e
Brasil); 3ª) a experiência de mili-
rativos, educacionais, estudantis construção da organização baku- as Tarefas do Proletariado”. Esses
tantes do movimento estudantil e
nesses três estados. Mas não con- ninista, pois sabíamos então que documentos consistiram nas pri-
de moradia que vão se aproximar
seguiu avançar na formulação de existia um abismo intransponível. meiras tentativas de aplicação do
desse campo, buscando conciliar a
uma disputa de linha política, nem Apesar das acusações difusas lan- bakuninismo à analise da realidade
crítica do Estado e do oportunismo
organizar lutas diretas tão consis- çadas contra UNIPA (de unilate- brasileira, e com a apresentação
com uma linha política.
tentes como no período da OSL. ralismo, voluntarismo) a história de orientações políticas concre-
A proposta lançada pela FAU em prova que tivemos a iniciativa de tas. Do ponto de vista teórico, são
Assim no interior do LEL foi for-
1995 indicava a necessidade de pautar o debate. Mas não nos aco- documentos parciais e ainda com
mulada uma discussão sobre a ne-
expandir a organização “especifis- vardamos de defender a linha que insuficiências. Mas eles permitiram
cessidade de modificar a linha po-
ta” pelo Brasil. Era um chamado à achávamos correta só para manter traçar uma linha de oposição, per-
lítica. Foi nesse sentido que iniciou
organização dos grupos anarquis- uma ilusão de “quantidade”. mitiram visualizar as tarefas ante
o debate sobre a necessidade de
tas para intervir na luta de classes. as forças políticas reformistas e
uma teoria anarquista da organi- Esse momento é importante
Essa proposta encontrou no terre- dar ao anarquismo uma linha clara
zação política e uma teoria anar- por dois motivos. Podemos dizer
no brasileiro, de grupos contracul- de ação.
quista da revolução brasileira, que que ele explicita a evolução das
turais despolitizados ou pequeno-
pudesse orientar essas ações. Esse condições citadas acima. Podemos Com base nessa aplicação da
burgueses, violenta resistência.
esforço obrigou a colocar um pro- dizer, que a proposta de opor aos teoria à realidade brasileira que
Mas encontrou também militantes
blema elementar: como fazer uma grupos despolitizados e contracul- passamos a atuar no movimento
que estavam dispostos a assumir
teoria anarquista se o próprio pen- turais que até então monopoliza- sindical. Enquanto isso, o FAO foi
a proposta. Entre 1995 e 1996,
samento anarquista se apresenta vam o conceito de “anarquista” foi levado a atuar não nos setores de
em quatro estados formaram-se
de forma fragmentária? Foi nesse a principal contribuição da OSL e oposição ao governismo, mas abs-
núcleos da construção anarquista
sentido que adotamos a linha de fa- da Construção Anarquista Brasilei- traindo essa contradição concreta
brasileira a partir de grupos locais
zer um debate sério e profundo do ra. Mas essa tarefa rapidamente se permaneceram com políticas con-
(Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,
pensamento e história anarquista. esgotou. Uma vez afirmado o grupo traditórias, mas sempre gravitan-
São Paulo e Pará). Esses grupos
Assim, em 2003 realizamos o Con- político e que sua tarefa era fazer do em torno do oportunismo de
se organizariam em torno da de-
gresso de fundação da FAI (Fede- a luta de classes, outros problemas direita ou do governismo. Assim,
nominação Organização Socialista
ração Anarquista Insurreição) que se colocavam (qual a teoria, qual a ao longo desses dez anos a prática
Libertária (OSL/nome do grupo lo-
depois seria rebatizada em 2004, estratégia, qual a posição ante as confirmou à teoria. Sem teoria re-
cal).
no II Congresso, de União Popular disputas existentes entre partidos volucionária, não há prática revo-
A contribuição desse processo Anarquista (UNIPA). e correntes, como ligar seu traba- lucionária. E sem prática classista
foi ruptura desses grupos com ex- lho imediato com a luta revolucio- e combativa, diante de problemas
Entre 2002 e 2004 duas novas
periência meramente local e nacio- nária). Logo, o período posterior e divisões concretas, não há “in-
iniciativas se colocam. A constru-
nal. Além disso, no Rio de Janeiro deveria ser marcado pela tentativa tenção revolucionária”.
ção do Fórum do Anarquismo Or-
(ver texto sobre lutas urbanas, p. de enfrentar essas questões. Os
ganizado (FAO) e pouco depois a Os dez anos de existência do
4 e 5) e no rio Grande do Sul, es- grupos do FAO não queriam fazer
Coordenação Anarquista Latino- bakuninismo no Brasil, na sua pri-
pecialmente, se desenvolveu uma esse debate e autocrítica. Estavam
americana (CALA), que reunia a meira forma organizada – a UNI-
efetiva prática de organização e presos na contradição entre com-
FAU, FAG, UNIPA, Luta Libertária PA, mostram que ele surgiu como
ação direta popular. Mas essa ex- bater a desorganização somente
e Auca (argentina). Esse processo parte da luta de ideias e ações.
periência mostrou as debilidades pelo apelo genérico à organização.
coincidiu com os debates realiza- Sempre amparado na prática e
organizativas e teóricas. As tenta-
dos no Rio de Janeiro, em que de- Assim, em 2004 o nosso con- pela reflexão crítica. Abrimos ago-
tivas de realizar um debate político
finimos uma opção pelo bakuninis- gresso lançou publicamente uma ra o caminho para mais uma déca-
mais aprofundado não avançaram
mo, como o fundamento da teoria nova linha: a denúncia do revisio- da de luta revolucionária. A tarefa
e entre 1998-1999, por isso a or-
da organização política e da teoria nismo e do ecletismo, como isso hoje é desenvolver a teoria, cons-
ganização passou por uma crise e
anarquista da revolução brasileira. estava materializado em posições truir uma tendência classista e in-
se desfez. No Rio de Janeiro, parte
A nossa estratégia foi pautar esse políticas e apontou caminhos te- ternacionalista e o grupo político
do antigo núcleo da OSL constituiu
debate dentro da CALA e no FAO. óricos e práticos de uma nova nacional anarquista.
o Laboratório de Estudos Libertá-

Anarquismo é Luta! Nem um passo atrás! Avante UNIPA!


Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! - Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº 67 3
UNIDADE TEÓRICA:
o resgate do bakuninismo enquanto teoria revolucionária
Nestes 10 anos de existência, a muna de Paris em países como Argentina e Uruguai. (comunista, trabalhista) se expandi-
UNIPA teve um papel fundamental Dentro dessa perspectiva identifi- Mas será no segundo período, entre ram paralelamente à própria expan-
para restabelecer a credibilidade teó- camos a ação das organizações cria- 1890 e 1930 que se darão os aconte- são do Estado-Nacional brasileiro, e
rica-estratégica do anarquismo revo- das por Bakunin (a Fraternidade, a cimentos mais importantes. visavam criar a legitimação da inter-
lucionário no movimento de massa. Aliança) no interior da AIT e no movi- O sindicalismo revolucionário nas venção do Estado e colocá-la como
As contribuições teóricas fundamen- mento operário e socialista pelos pa- Américas se desenvolveu em algu- centro da ação política.
tais sobre a história do anarquismo íses europeus. Bakunin incorporou o mas direções, como o “sindicalismo Também rompeu com uma visão
foram: 1) a determinação da origem instrumental teórico e a síntese pro- puro” (ao estilo da CGT argentina) romântica sobre os pobres e a visão
histórica do anarquismo; 2) o papel gramática de Proudhon e as levou às ou do anarco-sindicalismo (como a negativa marxista de lumpempro-
histórico do movimento anarquis- suas últimas consequências políticas FORA argentina e a COM e CGT me- letariado. Para isso avançou na de-
ta na América Latina; 3) a ação da e teóricas com a defesa da greve ge- xicanas), e este sindicalismo, ape- finição do Proletariado marginal en-
Aliança e a participação na Comuna ral, da insurreição armada, da fede- sar sua força organizativa e do mo- quanto fração de trabalhadores “não
de Paris e na AIT; 4) a contribuição ração de comunas e da coletivização vimento de massas no México e na integrados” na esfera superior do
sobre a teoria da revolução brasileira, dos meios de produção. Bakunin é o Argentina, sucumbiu pela combina- mercado de trabalho (na atual situa-
formulando o conceito de proletaria- responsável por sistematizar a ideo- ção da repressão e cooptação, com ção, os trabalhadores informais, tem-
do marginal como sujeito revolucio- logia anarquista bem como por apro- os efeitos das suas próprias contradi- porários, terceirizados e precariza-
nário contrapondo à visão negativa fundar sua teoria, definir com preci- ções internas. Frequentemente este dos) e aqueles excluídos totalmente
marxista de lumpemproletariado e são seu programa e sua estratégia. movimento padeceu de um antipoli- do mercado de trabalho, que vivem
burguesa ou romântica de “pobres/ ticismo ingênuo, que não o impedia de trabalhos eventuais ou mesmo de
O anarquismo, enquanto sistema
oprimidos” e 5) a analise sobre a es- de apoiar governos constitucionalis- relações não-capitalistas e que são
unitário e dialético das ideias, valo-
trutura de classes e a etapa de de- tas, mas o impediu de apresentar frequentemente componentes de um
res e aspirações do socialismo, liber-
senvolvimento capitalista no Brasil e uma alternativa revolucionária para exército de reserva.
dade, organização e luta classista vai
no mundo. as massas (como aconteceu no Mé-
ter como início de sua trajetória his- O proletariado marginal seria
1. A Origem Histórica versus Inatismo tórica, exatamente a ação intelectual xico durante a revolução de 1910). também ampliado em razão da etapa
Um primeiro movimento realizado e prática revolucionária dos bakuni- Nossa analise rompeu com ultramonopolista do capitalismo, que
foi promovermos uma cisão no cha- nistas no século XIX. Em suma, a sis- o romantismo e idealismo, tanto no combinando reformas neoliberais
mado campo do anarquismo e com a tematização do anarquismo enquan- campo anarquista como na historio- com precarizaçao do trabalho, am-
historiografia convencional. Fomos os to teoria e ideologia vão se processar grafia marxista e do movimento ope- pliava o peso dessa fração de classe.
primeiros a questionar politicamente através e no interior do pensamento rário em geral. Mostramos que ao A particularidade do desenvolvimen-
a tese sintetista e anarco-comunista elaborado e desenvolvido historica- contrário da tese evolucionista mar- to baseado no “agronegócio exporta-
de que o anarquismo era um traço mente por Bakunin. xista, que considerava o anarquismo dor” também colocava o campesina-
da “natureza humana”; identificado O anarquismo será umas das como “estágio” determinado pelo de- to no centro dos conflitos de classe
como progressivo através da história, principais tendências do movimento senvolvimento econômico, a difusão na atual etapa do desenvolvimento
de maneira que se colocava a origem operário e socialista europeu do sé- do sindicalismo revolucionário es- capitalista brasileiro.
do anarquismo na Grécia Antiga. Tal culo XIX, determinando os rumos dos teve associada a luta de tendências Dentro da atual estrutura de clas-
visão se baseava principalmente na congressos da AIT e de movimentos e vários outros fatores. Ao mesmo se o proletariado marginal ocupa pa-
definição anarco-comunista de anar- operários na Itália, Espanha, Suíça e tempo,mostramos as contradições pel estratégico dentro novo modelo
quismo formulada por Kropotkin. França. A ação particular dos socia- desse movimento, que não declinou de exploração capitalista-imperialis-
Em nosso primeiro congresso, em listas revolucionários, anarquistas, somente em razão da repressão, ta. A nova composição da estrutura
2003, já afirmamos que era funda- será importante na instauração da mas das suas contradições políticas de classes é caracterizada por uma
mental rompermos com as falsifica- experiência do anti-Estado da Co- e debilidades. acentuada diversificação e complexi-
ções grosseiras e anacrônicas. Esta muna de Paris, ainda que tenha tido 4. O proletariado marginal, a estru- dade. Mas os seus traços principais
visão equivocada era, e em grande uma duração efêmera, foi de signifi- tura de classes e o desenvolvimento estão dados pelos grandes movi-
parte ainda é, aceita resignadamen- cado central na historia do socialis- capitalista no Brasil mentos de reestruturação do capital,
te pelas organizações revisionistas e mo. A partir da concepção de revo- do imperialismo e do estatismo. No
ecletistas do campo do anarquismo. 3. O Movimento Anarquista na Améri- lução integral a teoria bakuninista caso brasileiro esses traços se mos-
Desde sua origem, A UNIPA apon- ca Latina sobre o desenvolvimento capitalista tram pelo ascenso de um proletaria-
tou que o anarquismo tinha uma em geral e particularmente no Bra- do marginal à posição chave da en-
Outra importante analise de-
história concreta, na prática de luta sil, rompemos com a visão etapis- grenagem de exploração capitalista,
senvolvida foi sobre a expansão do
e organização dos trabalhadores. O ta presente nas teorias marxistas e acompanhada pela recolocação do
movimento anarquista para Améri-
anarquismo havia surgido no século nacional-desenvolvimentistas. Estas campesinato como força potencial de
ca Latina como parte da concepção
XIX no seio do movimento dos tra- tem como principal características: conflito de classes, em razão da nova
teórica-estratégica bakuninista, que
balhadores que veio a conformar a a) fetichização do Estado-Nacional, associação entre expansão industrial
apontava a necessidade de organi-
Associação Internacional dos Traba- visto como agente neutro em relação e “acumulação primária” na agricul-
zar o campesinato e trabalhadores
lhadores (AIT) através das formula- às classes; b) a secundarização do tura.
da periferia do sistema. Mesmo esta
ções do revolucionário, proletário e expansão sendo realizada de forma conflito de classes (capital-trabalho); Sabemos que esse conjunto de
intelectual Pierre Joseph Proudhon. parcial e fragmentária, a orientação c) a análise da questão econômica do formulações não esgotam o problema
Foi a partir de suas reflexões teóri- do bakuninismo foi importante para ponto de vista do capital e o negli- da teoria. Mas ao invés de fugir do
cas sobre a economia capitalista e o o desenvolvimento do sindicalismo genciamento teórico da questão da debate teórico, avançamos. Temos
poder burguês e de sua formulação revolucionário no México, Brasil, Ar- exploração. hoje os fundamentos de uma anali-
programática de um socialismo an- gentina, Uruguai, EUA e outros paí- O “desenvolvimento dependente se anarquista da realidade brasileira
tiestatal e profundamente antibur- ses das Américas. do subdesenvolvimento”, experiên- que será desenvolvida nos próximos
guês, que Proudhon lançou as bases cia particular do capitalismo brasilei- anos como parte do desenvolvimento
Esse foi um desdobramento da
daquilo que o revolucionário russo ro, confirmam então a expansão do harmônico global da organização.
luta de concepções entre Bakunin e
Mikhail Bakunin vai dar a sua forma
mais acabada: o anarquismo.
Marx na AIT. Nesse primeiro movi- estatismo como força econômica e
também ideológica, já que as doutri-
Sem teoria revolucionária,
mento, chegaram militantes, inclusi-
2. A Fraternidade, a Aliança e a Co- ve o próprio Malatesta, que atuaram nas nacionalistas de diversas matizes não há prática revolucionária!
4 Causa do Povo - nº 67 - Jan/Fev/Mar de 2013 - Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! Viva a União Popular Anarquista!

LUTAS UR
conflitos, organização e resistê
E
ntre 1997 e 1998, os militantes anar- 1996, quando ocorreram mais de 1.100 greves. urbanos. A luta
quistas da Organização Socialista Li- O ano de 1997 abre o período de estagnação dos pelo direito à
bertária, do Rio de Janeiro (parte da movimentos paredistas, que não ultrapassaram cidade, espe-
Construção Anarquista Brasileira), o número de 500 greves entre 1998 e 2009. En- cialmente, pelo
encontravam-se inseridos nas lutas populares tretanto, outras importantes mobilizações acon- o direito à mo-
por moradia. A organização e as lutas dos tra- teceram, a exemplo das lutas contra a privatiza- radia, assume
balhadores sem-teto do Rio de Janeiro foram ção do sistema de telefonia (1998) e os protestos um lugar de
impulsionadas pela aliança entre os militantes do “Movimento Brasil Outros 500” (2000). destaque nas
anarquistas e militantes neomarxistas, no ano de reivindicações
De fato, o final da década de 1990 é mar-
1997. Ocupações em 1997 realizados pelo MTST- do proletariado,
cado por profundas contradições: a ofensiva do
RJ (ocupação Batistinha, na Pavuna, Ocupação principalmente
Capital e do Estado; o aumento das formas de
Nova Canudos) e depois em 2004 a ocupação do proletariado
exploração e opressão; a oscilação das mobili-
Centro Popular Canudos, organizada pelo Comitê marginal.
zações dos trabalhadores e a confirmação da ca-
de Resistência Popular, marcam a participação e
pitulação de forças políticas como o PT e PCdoB. Diversas or-
contribuição da nossa organização para a cons-
Foi nessa conjuntura que ocorreu o ascenso das ganizações polí-
trução de uma nova forma de luta.
ocupações urbanas no Rio de Janeiro. ticas se voltam
Essas lutas pelo direito à moradia foram fun- para as lutas
damentais para o proletariado marginal do Rio de ocupação. Inauguração do Centro Po
de Janeiro, pois inauguraram a retomada das
2. As ocupações: ocupar, resistir, Por divergên-
feita pelo Comitê de Res

ocupações urbanas num contexto de avanço do construir cias internas,


capitalismo ultramonopolista. É preciso lembrar o MST desenvolve dois braços urbanos: o MTD
que ocupações espontâneas de terrenos e mo- (Movimento de Trabalhadores Desempregados)
radias sempre existiram. Mas a novidade foi co- e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-
locar a ação direta coletiva e a crítica do direito teto). O Movimento Nacional de Luta por Moradia
de propriedade, como centro dessa estratégia. (MNLM) passou a ter mais destaque.
As principais reivindicações eram a “concessão
No Rio de Janeiro, as ocupações urbanas te-
de direito real d uso” aos moradores e subsídios
veram na atuação dos militantes anarquista da
para atividades econômicas cooperativas.
OSL um fator decisivo. Em aliança com militantes
neomarxistas, organizaram o MTST-RJ, que sur-
1. O contexto socioeconômico do giu antes do MTST organizado em São Paulo por
setores do MST. Inclusive entraram em disputa
final dos anos 1990 com o MTST implantado pelo MST, denunciando
O final do anos de 1990 foram marcados pelas seu caráter de “movimento de bandeira”, isto é,
políticas neoliberais implementadas pelo Gover- cuja política é oferecer sua “bandeira” para ocu-
no FHC/PSDB. Considerando os governos Collor pações que não ajudaram a organizar.
e Itamar, a classe trabalhadora estava comple-
tando dez anos de lutas contra as reformas ne- A primeira ocupação organizada com a parti-
oliberais e a reestruturação produtiva, isto é, o cipação dos militantes anarquistas foi a Ocupa-
avanço do capitalismo ultramonopolista. ção Batistinha, localizada na Estrada Rio do Pau,
na Pavuna. Cerca de 60 famílias ocuparam um
Em 1997 o desemprego no Brasil atingiu terreno que pertencia ao Grupo Gerdau. A re-
14,5% da população economicamente ativa das pressão policial foi violenta e o despejo ocorreu
áreas urbanas. A economia brasileira entra num depois de um mês de ocupação e resistência. O
período de recessão (PIB zero em 1998 e cres- Ocupação feita pelo Comitê de Estado agiu rápido na defesa de um dos prin-
cimento de 0,3% em 1999), resultado do des- Resistência Popular, 2003 cipais grupos monopolistas do Brasil. Essa ação
dobramento das várias crises econômicas da ganhou repercussão nacional nas redes de TV e
década de 1990. A participação da economia jornais da grande imprensa.
Ocupar e resistir às políticas de remoção fa-
fluminense no PIB nacional recou 9,7%, resul-
zem parte da história da luta de classes no es- A segunda ocupação, batizada de Nova Canu-
tado da desindustrialização. Consequentemente,
paço urbano brasileiro. A expansão e a ocupação dos, ocorreu no final de 1997, quando cerca de
a classe trabalhadora sofreu com o empobreci-
do espaço urbano é determinado pelos interes- 40 famílias ocuparam um prédio no Centro do
mento, o crescimento do trabalho informal e com
ses do Capital. A urbanização brasileira é mar- Rio de Janeiro num prédio público. A resistência
as mais variadas formas precárias de trabalho.
cada pela segregação da classe trabalhadora e, e a pressão do movimento junto aos órgãos di-
A marcha do MST à Brasília, a resistência a consequentemente, pelos conflitos pelo espaço. rigentes do órgão garantiram a manutenção da
privatização da Vale do Rio Doce e a realização A favelização e a periferização são expressões ocupação até os dias de hoje.
de 631 greves, mostram que o ano de 1997 foi dessa segregação e desses conflitos.
de muitas mobilizações da classe trabalhadora. Esse período e essa experiência da ação di-
A ofensiva burguesa na década de 1990 é reta e da luta e confronto com o capital, e a re-
Entretanto, já havia uma redução em relação a
acompanhada pela intensificação dos conflitos
Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! - Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº 67 5

RBANAS:
ência do proletariado marginal
pressão do Es- Quilombo das Guerreiras está sob forte ameaça os políticos oportunistas, o assédio dos governis-
tado, fez parte de despejo. A remoção dessas ocupações tor- tas, são obstáculos enfrentados pelos movimen-
da experiência nou-se condição necessária para a implantação tos de ocupação, em especial aqueles de caráter
que levou a for- do Projeto Porto Maravilha, um megaprojeto de classista e combativo.
mação da UNI- PPP, onde a Zona Portuária foi cedida pelo à ex-
Outro obstáculo são as tentativas de retirar o
PA. Do balanço ploração do Capital, ou seja, foi privatizada.
caráter classista das lutas urbanas. Nessa caso
destas lutas, ti-
existem dois movimentos: 1) a teoria de que a
ramos lições im-
portantes para
3. Os desafios das ocupações urba- contradição capital versus trabalho se deslocou
da produção para as lutas pelo espaço urbano;
criar em 2003 a nas 2) a teoria de que as lutas urbanas são lutas pela
nossa organiza- Os trabalhadores que participam das ocupa- cidadania, isto é, pela integração ao sistema. A
ção. Ela então ções são, em sua grande maioria, desemprega- teoria bakuninista, ao contrário, recola o caráter
começou a for- dos, subempregados, biscateiros, camelôs, isto classista das lutas urbanas, ou seja, como parte
mular uma nova é, constituem a fração marginalizada do pro- constitutiva da luta de classes.
linha de massas letariado. São integrados parcialmente ou em
e com o traba- condições de extrema precarização no processo Recuperar a história das lutas urbanas em
lho político na de reprodução do capital. Entretanto, na etapa dois momentos fundamentais, o do final dos
opular Canudos, Ocupação Ocupação Nova ultramonopolista do capitalismo, têm um papel anos 1990 e depois, do período 2004-2006, ve-
sistência Popular, 2003 Canudos conse- central na exploração da mais-valia, pois estão mos a contribuição fundamental do anarquismo
guiu a organiza- submetidos as formas de superexploração. revolucionário tanto no sentido de realizar ações
ção, no final de 2003, do Comitê de Resistência diretas concretas quanto de apresentar uma li-
Popular, responsável por mais uma ocupação: O Governo Lula/PT desenvolveu políticas nha classista para as lutas urbanas. Dentro de
o Centro Popular Canudos, no bairro do Santo para integrar o proletariado marginal, é o caso uma diversidade de ações e experiências de ocu-
Cristo (Zona Portuária, onde hoje estão um dos do Programa Bolsa Família e os demais progra- pações, demos não só uma contribuição prática,
focos do conflito com o capital no Rio de Janeiro). mas assistencialistas. Mas também, desenvolveu mas também programática.
Nesse momento o Comitê de Resistência Popular políticas para incorporar essa fração da classe
trabalhadora ao governismo, com a criação da As principais foram mostrar que a ação direta
foi convidado para fazer parte da CMS. Entretan-
Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), em é possível para conquistar reivindicações mate-
to, ele se recusou já expressando a linha antigo-
2004. riais. A segunda, que mesmo apesar do gover-
vernista. Os governistas ainda ofereceram, sem
nismo e da repressão, é possível aplicar uma li-
sucesso, ao Comitê a “bandeira” do MTD, numa A pressão do Estado e do Capital, a violência nha que não capitule ideologicamente.
reedição da política já denunciada no final dos de milícias e traficantes, as políticas clientelistas,
anos de 1990.
O prédio ocupado por cerca de 12 famílias era
de propriedade da Irmandade do Santíssimo Sa-
cramento da Candelária.
Várias ações importantes foram realizadas. A
resistência contra as ameaças não judiciais da
polícia durante diversas noites; os atos de rua e
finalmente a greve de fome e ocupação da por-
taria da Igreja da Candelária, que denunciou o
papel reacionário da Igreja Católica. A resistên-
cia durou cerca de nove meses, mas a Justiça
concedeu a reintegração de posse à Irmanda-
de da Candelária. Essa decisão judicial foi uma
exigência do mercado imobiliário, uma vez que
os projetos de revitalização da Zona Portuária já
estavam em andamento.
A ocupação realizada em 2004 na zona portu-
ária mais uma vez abriu espaço para uma nova
sequência de lutas e ocupações. Vários outros
grupos e movimentos realizaram nos anos se-
guintes, ocupações urbanas.
É importante destacar que outras ocupações
dessa região foram removidas, são os casos da
Ocupação Zumbi dos Palmares (Praça Mauá) e
Ocupação Zumbi dos Palmares, localizada na Praça Maua, Zona Portuária do Rio. A Ocupação
Guerreiros Urbanos (Gamboa). Hoje, a Ocupação foi feita em 2005 e retirada em 2011 por ocasião das obras do Porto Maravilha.
6 Causa do Povo - nº 67 - Jan/Fev/Mar de 2013 - Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! Viva a União Popular Anarquista!

10 anos de Luta Sindical e Estudantil


O ano de 2002 marcou o processo nários que se encontravam organiza- ta e a construção do bloco combativo ralela no CNE (Congresso Nacional de
de degeneração completa das maio- dos na Conlutas, mas não possuíam no interior da Conlutas, revelando Estudantes) que deu origem a RECC
res organizações da classe traba- capacidade naquele momento de in- que seus 2 propósitos iniciais foram (Rede Estudantil Classista e Comba-
lhadora brasileira, o PT e a CUT. A fluenciar os acontecimentos de forma cumpridos. Desde então o trabalho tiva), organização que hoje agremia
ascensão de Lula a presidência da re- mais decisiva. vem se concentrando na construção estudantes em mais de 6 estados
pública, foi acompanhada pela inte- orgânica de oposições sindicais loca- brasileiros sob os métodos da ação
Diante desse quadro a linha de
gração do sindicalismo aos aparatos lizadas com o objetivo de acumular direta e o princípio do classismo.
massas da UNIPA foi a de construir
do Estado Burguês. A transforma- forças para, a partir das condições
a frente antigovernista com dois
ção dos Movimentos Populares em objetivas, realizar um salto qualita-
correias de transmissão do Governo
propósitos centrais: a) expandir a
tivo.
A linha classista e combativa
Organização Anarquista a partir das A nossa linha sindical e estudantil
(o fenômeno do governismo) levou
lutas desenvolvidas pela entidade foi construída pela orientação teórica
a um processo de questionamen-
to cada vez maior entre parcelas da
nacional; e b) explorar a contradição O ressurgir do Movimento Estu- e pela prática de luta. A teoria deli-
Reforma x Revolução no interior da dantil Combativo mitou o foco geral: o antiestatismo
classe trabalhadora.
Conlutas, construindo um bloco en- materializava-se no antigovernismo,
No movimento estudantil a UNIPA
As reformas neoliberais (traba- tre organizações políticas revolucio- na obrigação de politizar as lutas
se empenhou desde 2003 na cons-
lhista, universitária e previdenciária) nárias para combater o rebaixamen- econômicas e adotar um sindicalismo
trução da Ação Direta Estudantil -
anunciadas em 2003 pelo Governo to das reivindicações, o modelo do do tipo AIT. A prática mostrou as di-
ADE, corrente de caráter local, que
Lula, foram seguidas por uma série Sindicalismo de Estado e defender a ficuldades de transformar essa linha
teve atuação em Grêmios Estudan-
de mobilizações que culminaram com ação direta dos trabalhadores. em orientações concretas para cate-
tis de bairros periféricos e em uni-
a ruptura com a CUT e na criação de gorias particulares em situações par-
Entre 2007 e 2009 o que se perce- versidades públicas do estado Rio de
outro agrupamento sindical, a Conlu- ticulares. Cometemos erros, tenta-
beu foi à aproximação cada vez maior Janeiro até 2009. Este foi também
tas (Coordenação Nacional de Lutas) mos formulas que não deram certo.
entre o oportunismo de esquerda ao o período de existência da Coorde-
em 2004. Mas não desistimos. Encontramos
oportunismo de direita, confirmando nação Nacional de Lutas Estudantis
Fundada em 2003, em meio a o que havíamos previsto em 2004 (Conlute), organização que rompeu meios que resolvessem as falhas an-
esta difícil realidade, a UNIPA anali- (no comunicado “A Crise do gover- com a UNE em 2004 e foi também teriores.
sava na época que não se podia se- nismo e a estratégia da ação direta”) dirigida pelo PSTU. Essa prática, dentro da frente an-
parar “a luta da organização”. Dessa e conformando o que denominamos tigovernista, de tomar parte nas lutas
Por sua direção e organização, o
forma afirmava que para se realizar a de campo “paragovernista”. A Con- (greves, ações de rua, campanhas)
processo de capitulação da Conlute
luta contra os ajustes neoliberais era lutas, sob o manto da “unidade de permitiu que sempre dialogássemos
se deu conjuntamente ao da Con-
necessária a ruptura com as organi- ação”, passou a realizar frentes e com as bases, nas assembleias, con-
lutas. As alianças da coordenação
zações que estavam integrada ao Es- chapas conjuntas com a Intersindical gressos e locais de trabalho e em
estudantil com a Esquerda da UNE
tado, como a CUT, a UNE e o MST, e e com os próprios governistas (CUT razão da nossa intransigência e co-
(FOE) marcaram um processo de bu-
a construção de alternativas. e CTB) para vencer eleições sindicais erência nas lutas econômicas, acu-
rocratização sob a prática do “con-
e organizar marchas. Além disso, os mulássemos um capital político. Essa
O PSTU capitaneou a proposta senso” (uma política de cúpula entre
paragovernistas já saudava como prática permitiu também que a nos-
de ruptura, se conformando na dire- correntes do PSOL e o PSTU). Tais
uma vitória a legalização das centrais sa linha fosse sendo experimentadas
ção majoritária da Conlutas. Apesar acordos culminaram na participação
no Ministério do Trabalho “como uma por meio de ações e posições ante
disso, muitas outras organizações e da Conlute a partir de 2007 em ati-
reivindicação histórica da classe tra- problemas concretos das diferentes
grupos revolucionários, dentre eles a vidades do calendário da UNE e da
balhadora”, demonstrando sua ca- categorias. Isso criou condições para
UNIPA, se uniram ao chamado para composição de chapas conjuntas que
pitulação cada vez maior ao modelo aglutinar mais militantes em torno
a criação deste campo “antigovernis- se abstinham da crítica a entidade
sindical reformista. da criação de oposições de base.
ta” no movimento dos trabalhadores. governista.
A Conlutas propunha, além disso, a Em 2010 foi realizado o CONCLAT Ao contrário de linha de denun-
A UNIPA condenou esta defor-
unificação do movimento sindical, (Congresso da Classe Trabalhadora), ciar no discurso, mas se igualar na
mação da estratégia antigovernista
popular e estudantil em uma única que realizaria a fusão entre a Conlu- prática, nós conseguimos mesmo em
no Movimento Estudantil, pautando
Central, o que era um avanço em tas e a Intersindical, mas este apenas condições minoritárias e adversas ter
a reorganização na construção de
contraposição ao modelo reformista representou o aprofundamento desta uma prática alternativa e não cair no
oposições e coletivos de base. Ao
de sindicalismo hegemonizado pelo política reformista no seio da agora isolamento. É uma linha que não se
lado disso defendeu a filiação das
PT que previa entidades diferencia- chamada CSP-Conlutas. A aprovação apresenta ainda plenamente acaba-
organizações estudantis diretamen-
das para cada setor da classe. da diminuição da participação dos da. Mas ela já tem, por seu caráter
te a Conlutas, o que no DF rendeu a
movimentos populares e estudantis, negativo, uma plataforma de ação
construção do bloco combativo entre
paralelamente a aceitação entusiás- que permitirá seu desenvolvimento
O combate ao Sindicalismo de tica dos sindicatos policiais, o apoio
diversas organizações sindicais e es-
tudantis o que colocou a hegemonia na próxima etapa.
Estado a candidaturas de “parlamentares
dos reformistas em sério risco. A dissolução da frente antigover-
Em 2005, a UNIPA caracterizava o da esquerda” e a falta de democra-
setor antigovernista em 3 campos: 1) cia interna foram os resultados deste O aprofundamento das propostas nista (pela capitulação do oportunis-
Oportunistas de Direita; 2) Oportu- processo. A liquidação da Conlutas e dos paragovernistas levaram a dis- mo de direita e de esquerda na polí-
nistas de Esquerda e 3) Revolucioná- frustada fusão são expressões da do solução da Conlute e a fundação da tica governista e do bloco no poder)
rios. Os primeiros, que não rompiam fracasso da política paragovernista. ANEL (Assembleia Nacional dos Es- coloca outras tarefas. A principal é
de fato com os governistas, se mate- tudantes Livre) entidade criada para a de construir uma tendência clas-
A UNIPA interveio no CONCLAT e sista e internacionalista na luta dos
rializavam no PSOL com suas corren- abarcar a Esquerda da UNE/PSOL e
construiu a Plenária dos Movimen- trabalhadores, que possa organizar
tes internas ainda na CUT, na UNE, da necessidade da redução da parti-
tos de Oposição, juntando mais de os trabalhadores na base para as lu-
mais tarde na Intersindical, e outras cipação estudantil na Conlutas.
50 sindicalistas e estudantes, deli- tas reivindicativas e colocar um novo
na Conlutas. Os segundos formavam
mitando a construção de um Fórum Em 2009, a partir do crescimento projeto política para a classe traba-
o setor majoritário da Conlutas, o
de Oposições Sindicais e Estudantis. orgânico da UNIPA e da conjuntura lhadora. Rumo a uma Tendência
PSTU, que apesar do discurso radical
Essa plenária foi resultado da expan- de degeneração dos setores da Con- Classista e Internacionalista!
reproduzia métodos reformistas de
são da própria organização anarquis- lute, foi construída uma plenária pa-
organização. Por fim, os revolucio-
Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! - Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº 67 7

Avança o processo de construção da UNIPA

A teoria defendida pela UNIPA combate às reformas neoliberais mado aberto e direto aos anarquis- consolidar o GPN, em 2012 a Orga-
foi desenvolvida especialmente (previdenciária, trabalhista, uni- tas e trabalhadores de forma geral nização já estava partindo de um
nos seus três primeiros Congres- versitária) aplicadas pelo Governo a construírem a UNIPA. De fato, a novo patamar qualitativo e quan-
sos, onde são elaboradas as bases de Lula/PT. Essa conjuntura colo- partir de então, a UNIPA passa a titativo. Como nos ensinou a FAU-
teóricas anarquistas-bakuninistas cou a prova a capacidade do então ter um crescimento modesto, mas histórica (1964-76): para cada
para interpretação da luta de clas- pequeno agrupamento bakuninis- contínuo. Em 2008 e 2009 temos a novo momento da luta superado,
ses, do desenvolvimento capitalis- ta. É exatamente aqui que o traba- construção de dois Pró núcleos (DF novos problemas são colocados
ta e da Revolução Brasileira. lho teórico anterior, mesmo sendo e CE), que cerca de um ano depois frente aos revolucionários, proble-
reconhecidamente parcial, se mos- se consolidam em núcleos orgâni- mas mais complexos aos quais os
Como fruto do aprofundamento
trou fundamental. Tivemos a tática cos. A consolidação dos núcleos em revolucionários devem se elevar
da ação militante e do intenso tra-
correta porque tínhamos uma teo- três regiões diferentes teve um fa- a sua complexidade para solucio-
balho intelectual, a defesa teórica
ria, mesmo que ela não estivesse tor positivo de expansão de nossa nar. O desenvolvimento do GPN
e programática do bakuninismo
plenamente desenvolvida. O acer- política no território nacional. Tive- significa essa nova etapa que nos
teve como consequência a ruptura
to da tática nos fez enfrentar e so- mos também nesse tempo (2007- lançamos de peito aberto, etapa
não apenas a nível nacional, com o
brevier as adversidades até hoje. 2011) a experiência de construção anterior a construção do Partido
revisionismo anarco-comunista do
Apesar de surgir em meio a uma de Comitês de Apoio e Propaganda Revolucionário.
Fórum do Anarquismo Organiza-
crise de organização do proletaria- (CAP), responsáveis por distribuir
do (atual Coordenação Anarquista O V Congresso da UNIPA a ser
do, a UNIPA teve uma progressão os jornais Causa do Povo e prestar
Brasileira), mas também em esca- realizado em 2013 será uma cul-
lenta, mas contínua. Ao contrário tarefas de apoio a Organização, no
la internacional. Tal consequência minação dos esforços teóricos e
do desaparecimento “profetizado” interior do Estado do Rio de Janei-
foi encarada de peito aberto e com organizativos daqueles que vêm
por diversos adversários, avança- ro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás,
firmeza pela UNIPA, pois era claro, abraçando a bandeira do anarquis-
mos. além de CAPs junto aos núcleos.
e a cada dia se confirma a justeza mo e da revolução proletária. A po-
Apesar de nosso crescimento estar
de tal posição, que tal ruptura não Com uma atuação modesta, lítica de expansão da organização
amparado essencialmente em nos-
foi fruto de sectarismo ou um ca- porém aguerrida e combativa no caminha para novos pró-núcleos
sa frente de massas, o fato é que
pricho de nossa Organização, mas campo antigovernista (organizado e novos CAPs, ampliando a propa-
se conseguiu estabelecer uma pro-
uma necessidade para avançar de- na CONLUTAS), e com base na teo- ganda bakuninista para a região
paganda em âmbito nacional.
cididamente na reorganização do ria, programa e estratégia bakuni- Sul e novos estados.
anarquismo como força popular nista, a intervenção seguiu a linha
Seguimos, portanto, mais vi-
e revolucionária, nos separando política de combater o governismo O Grupo Político Nacional vos e confiantes no caminho que
do confusionismo de um pretenso (e as reformas neoliberais levadas
“movimento libertário” tão harmô- a cabo por esse setor) e desgas-
(GPN): embrião do Partido escolhemos, no trabalho sério e
com intransigência de classe, úni-
nico quanto inútil para a classe tra- tar a estratégia/tradição reformis- Revolucionário co meio capaz de superar o pân-
balhadora. ta e social-democrata da “esquer- Em 2012, a UNIPA lançou as tano das tradições reformistas e
da” brasileira. Tal tática acertada, resoluções de sua segunda As- estatistas ao qual estão submersas
oriunda de uma detalhada e coe- sembleia Nacional, onde apontava
O chamado à construção rente apreciação da conjuntura em importantes avanços em sua orga-
as organizações trabalhadoras de
nosso país. Isso significa, reafir-
nacional em 2007 e seus nosso país, colocou nossa pequena nização interna, a saber, a cons- mar o papel iniciador-dirigente da
primeiros passos Organização em debates estraté- trução do Grupo Político Nacional organização bakuninista e também
gicos de reorganização do proleta- (GPN), ou seja, a transformação
No período 2003-2004, vivia-se de seus militantes, bem como suas
riado. dos pró-núcleos em núcleos e a
uma conjuntura de crise do gover- tarefas de agitação, propaganda e
Foi em 2007, através do comu- transformação da estrutura inter- organização. Convocamos os com-
nismo no movimento de massas
nicado nº 21 “Construir o Partido na da organização para comportar panheiros que tenham por objetivo
(com a iniciativa de ruptura com a
Revolucionário Anarquista”, onde essa nova etapa. Se na primeira construir a Revolução Social a se
CUT e UNE e a construção da CON-
se fez pela primeira vez um cha- Assembleia Nacional, em 2011, somarem nesse processo.
LUTAS) frente à necessidade do
apontou-se como tarefa central

BAKUNIN VIVE E VENCERÁ!


AVANTE O ANARQUISMO REVOLUCIONÁRIO!
PELO SOCIALISMO E A LIBERDADE!
8 Causa do Povo - nº 67 - Jan/Fev/Mar de 2013 - Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! Viva a União Popular Anarquista!

AS ILUSÕES DA SOBERANIA NACIONAL


E A VERDADE SUB-IMPERIALISTA
O Partido dos Trabalhadores vando a produção de bioenergia de
tenta sistematicamente construir commodities de exportação. Isso
a imagem de que os Governos de tem gerado pressões sobre o cam-
Lula e Dilma conduziram transfor- pesinato da América Latina como
mações estruturais em todos os um todo e conflitos do grande ca-
aspectos da questão social brasi- pital com comunidades diversas.
leira. Um aspecto fundamental diz
Assim, ao criar o PAC e ao
respeito à chamada questão nacio-
apoiar a ação das empresas no
nal, que abrange especialmente o
exterior, a política externa brasi-
problema da soberania (do ponto
leira está garantindo um objeti-
de vista burguês) ou da autodeter-
vo estratégico para os interesses
minação (do ponto de vista prole-
dos EUA: diversificar suas fontes
tário).
de energia para diminuir a depen-
Qual é a imagem que o PT dência do petróleo e intensificar a
tenta construir? Vejamos a re- divisão internacional do trabalho,
solução política do 4º Congresso em que os países da América La-
do PT: “Desde a vitória do presi- tina voltam a cumprir um papel na
dente Lula, medidas inovadoras produção de produtos primários,
passaram a ser adotadas, graças só que agora industrializados. Essa
à nova compreensão do governo política na esfera da produção e do
Tropas brasileiras no Haiti reprimem manifestação popular
federal com respeito à geração e território fortalece o imperialismo
sustentação do desenvolvimen- emblemáticos. A política sobera- lítica de se contrapor aos interes- e a desigualdade e mostra não a
to econômico com distribuição de na brasileira no exterior, tem sido ses dos EUA na esfera comercial, autonomia do Brasil mas sua su-
renda, com inclusão social, com pautada pela expansão do contro- no que tange a divisão do trabalho bordinação e integração no plano
ampliação da participação popular le econômico sub-imperialista na (relação de produção e estratégia estratégico e nos objetivos do im-
e com uma política externa sobe- América do Sul, por ações milita- energética) a política do PT é sub- perialismo, especialmente do bloco
rana, que priorizou a América do ristas na América Central (Haiti) e imperialista em dois sentidos. Ela EUA-UE.
Sul, tendo o País participação cria- por uma adequação a política im- é sub-imperialista pois é agressiva
Dessa maneira, sob a preten-
tiva na Unasul, com a valorização perialista dos EUA em termos es- contra os interesses dos trabalha-
sa defesa da soberania brasilei-
dos chamados BRICs, reconheci- tratégicos, especialmente no que dores de outros países da América
ra, se escondem dois processos.
dos o multilateralismo e um novo tange a adequação a uma nova Latina, assumindo forma econômi-
Primeiro, a face expansionista do
protagonismo nos fóruns interna- divisão internacional do trabalho ca (casos mais claros da Bolívia e
sub-imperialismo, sua agressão
cionais”. Segundo a análise do PT, no Sul. A chamada política externa Equador) e militar (Haiti). Mas é
aos trabalhadores dos países es-
o Brasil assumiu um protagonismo soberana é bem ilustrada pela ação agressiva também porque ela re-
trangeiros. E por outro lado, a face
“exterior” nos órgãos multilaterais da Petrobras. Atuando em países aliza os interesses do imperialis-
dependente do sub-imperialismo,
e uma política externa “soberana”. como a Bolívia e o Equador, a Pe- mo, especialmente o controle de
com a subordinação da política ex-
trobras opera no sentido de extrair recursos energéticos estratégicos,
Na realidade, analisemos a real terna brasileira a política estraté-
recursos energéticos (como gás) e garantindo assim os interesses do
configuração da inserção do Brasil gica dos EUA e a associação dos
disponibilizá-lo ao capital industrial bloco EUA-UE. A entrada desses
nas relações econômicas e polí- capitais brasileiro e estrangeiro.
no Brasil. No caso do Equador, a recursos energético no mercado
ticas do imperialismo. Assim, em
Petrobras vem entrando em confli- mundial permite que a UE e EUA É nosso dever então denunciar
primeiro lugar, precisamos recha-
to com o campesinato indígena, já evitem crises energéticas e se de- a farsa nacionalista que encobre a
çar essa visão que separa a política
que existe uma luta pela explora- diquem a guerra pelo controle do política sub-imperialista. Devemos
da economia, centrando-se em as-
ção dos recursos naturais em seus Oriente e seus recursos naturais. defender a política internacionalis-
pectos superestruturais e reduzin-
territórios. No caso da ocupação ta, a autodeterminação dos povos.
do esses aspectos superestruturais Podemos exemplificar. Um
militar do Haiti, sob o pretexto da Isso implica em combater a política
a fatores simples e homogêneos. componente fundamental do anti-
missão humanitária, esta se reali- sub-imperialista no exterior e no
Na realidade, uma análise dialética go Governo Lula e agora do gover-
zando o apoio a produção de agro- interior. No interior, combatendo o
mostra exatamente a relação entre no Dilma, é o PAC (Plano de Ace-
energia para o mercado internacio- capital nacional e estrangeiro e o
a divisão internacional do trabalho, leração do Crescimento), que é um
nal. governismo. No exterior, apoiando
a competição e exportação de ca- plano de reestruturação territorial
a luta dos povos contra a ocupação
pitais, as diferenciações de clas- O que todos esses processos e energética. Mas um componente
militar e econômica imperialista e
ses de um lado e de outro o papel encobrem? Encobrem o interesse pouco discutido é que o PAC é ape-
sub-imperialista.
e concorrência entre Estados no estratégico do imperialismo (do nas um dos muitos planos realiza-
sistema interestatal capitalista, e bloco UE-EUA) em assegurar um dos nas Américas do Norte, Central
principalmente as formas comple- novo padrão energético que aten- e do Sul. Os grandes planos são
xas de articulação orgânica entre da a sua demanda e ao proces- o Plano Mesoamérica (desdobra-
capitais “nacionais” e “internacio- so crescente de generalização da mento do Plan Puebla Panama) e
nais” que se refletem inclusive em guerra imperialista no Oriente e o o IIRSA (Iniciativa de Integração
diferentes articulações e conflitos conflito com o bloco China-Rússia. Regional Sul Americana). Esses
dentro dos Estados. Enquanto se celebram a “integra- dois planos estão realizando obras
ção comercial dos blocos” e a po- de integração energética e incenti-
Consideremos alguns casos

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