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2)
Nesta edição
LUTAS UR
conflitos, organização e resistê
E
ntre 1997 e 1998, os militantes anar- 1996, quando ocorreram mais de 1.100 greves. urbanos. A luta
quistas da Organização Socialista Li- O ano de 1997 abre o período de estagnação dos pelo direito à
bertária, do Rio de Janeiro (parte da movimentos paredistas, que não ultrapassaram cidade, espe-
Construção Anarquista Brasileira), o número de 500 greves entre 1998 e 2009. En- cialmente, pelo
encontravam-se inseridos nas lutas populares tretanto, outras importantes mobilizações acon- o direito à mo-
por moradia. A organização e as lutas dos tra- teceram, a exemplo das lutas contra a privatiza- radia, assume
balhadores sem-teto do Rio de Janeiro foram ção do sistema de telefonia (1998) e os protestos um lugar de
impulsionadas pela aliança entre os militantes do “Movimento Brasil Outros 500” (2000). destaque nas
anarquistas e militantes neomarxistas, no ano de reivindicações
De fato, o final da década de 1990 é mar-
1997. Ocupações em 1997 realizados pelo MTST- do proletariado,
cado por profundas contradições: a ofensiva do
RJ (ocupação Batistinha, na Pavuna, Ocupação principalmente
Capital e do Estado; o aumento das formas de
Nova Canudos) e depois em 2004 a ocupação do proletariado
exploração e opressão; a oscilação das mobili-
Centro Popular Canudos, organizada pelo Comitê marginal.
zações dos trabalhadores e a confirmação da ca-
de Resistência Popular, marcam a participação e
pitulação de forças políticas como o PT e PCdoB. Diversas or-
contribuição da nossa organização para a cons-
Foi nessa conjuntura que ocorreu o ascenso das ganizações polí-
trução de uma nova forma de luta.
ocupações urbanas no Rio de Janeiro. ticas se voltam
Essas lutas pelo direito à moradia foram fun- para as lutas
damentais para o proletariado marginal do Rio de ocupação. Inauguração do Centro Po
de Janeiro, pois inauguraram a retomada das
2. As ocupações: ocupar, resistir, Por divergên-
feita pelo Comitê de Res
RBANAS:
ência do proletariado marginal
pressão do Es- Quilombo das Guerreiras está sob forte ameaça os políticos oportunistas, o assédio dos governis-
tado, fez parte de despejo. A remoção dessas ocupações tor- tas, são obstáculos enfrentados pelos movimen-
da experiência nou-se condição necessária para a implantação tos de ocupação, em especial aqueles de caráter
que levou a for- do Projeto Porto Maravilha, um megaprojeto de classista e combativo.
mação da UNI- PPP, onde a Zona Portuária foi cedida pelo à ex-
Outro obstáculo são as tentativas de retirar o
PA. Do balanço ploração do Capital, ou seja, foi privatizada.
caráter classista das lutas urbanas. Nessa caso
destas lutas, ti-
existem dois movimentos: 1) a teoria de que a
ramos lições im-
portantes para
3. Os desafios das ocupações urba- contradição capital versus trabalho se deslocou
da produção para as lutas pelo espaço urbano;
criar em 2003 a nas 2) a teoria de que as lutas urbanas são lutas pela
nossa organiza- Os trabalhadores que participam das ocupa- cidadania, isto é, pela integração ao sistema. A
ção. Ela então ções são, em sua grande maioria, desemprega- teoria bakuninista, ao contrário, recola o caráter
começou a for- dos, subempregados, biscateiros, camelôs, isto classista das lutas urbanas, ou seja, como parte
mular uma nova é, constituem a fração marginalizada do pro- constitutiva da luta de classes.
linha de massas letariado. São integrados parcialmente ou em
e com o traba- condições de extrema precarização no processo Recuperar a história das lutas urbanas em
lho político na de reprodução do capital. Entretanto, na etapa dois momentos fundamentais, o do final dos
opular Canudos, Ocupação Ocupação Nova ultramonopolista do capitalismo, têm um papel anos 1990 e depois, do período 2004-2006, ve-
sistência Popular, 2003 Canudos conse- central na exploração da mais-valia, pois estão mos a contribuição fundamental do anarquismo
guiu a organiza- submetidos as formas de superexploração. revolucionário tanto no sentido de realizar ações
ção, no final de 2003, do Comitê de Resistência diretas concretas quanto de apresentar uma li-
Popular, responsável por mais uma ocupação: O Governo Lula/PT desenvolveu políticas nha classista para as lutas urbanas. Dentro de
o Centro Popular Canudos, no bairro do Santo para integrar o proletariado marginal, é o caso uma diversidade de ações e experiências de ocu-
Cristo (Zona Portuária, onde hoje estão um dos do Programa Bolsa Família e os demais progra- pações, demos não só uma contribuição prática,
focos do conflito com o capital no Rio de Janeiro). mas assistencialistas. Mas também, desenvolveu mas também programática.
Nesse momento o Comitê de Resistência Popular políticas para incorporar essa fração da classe
trabalhadora ao governismo, com a criação da As principais foram mostrar que a ação direta
foi convidado para fazer parte da CMS. Entretan-
Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), em é possível para conquistar reivindicações mate-
to, ele se recusou já expressando a linha antigo-
2004. riais. A segunda, que mesmo apesar do gover-
vernista. Os governistas ainda ofereceram, sem
nismo e da repressão, é possível aplicar uma li-
sucesso, ao Comitê a “bandeira” do MTD, numa A pressão do Estado e do Capital, a violência nha que não capitule ideologicamente.
reedição da política já denunciada no final dos de milícias e traficantes, as políticas clientelistas,
anos de 1990.
O prédio ocupado por cerca de 12 famílias era
de propriedade da Irmandade do Santíssimo Sa-
cramento da Candelária.
Várias ações importantes foram realizadas. A
resistência contra as ameaças não judiciais da
polícia durante diversas noites; os atos de rua e
finalmente a greve de fome e ocupação da por-
taria da Igreja da Candelária, que denunciou o
papel reacionário da Igreja Católica. A resistên-
cia durou cerca de nove meses, mas a Justiça
concedeu a reintegração de posse à Irmanda-
de da Candelária. Essa decisão judicial foi uma
exigência do mercado imobiliário, uma vez que
os projetos de revitalização da Zona Portuária já
estavam em andamento.
A ocupação realizada em 2004 na zona portu-
ária mais uma vez abriu espaço para uma nova
sequência de lutas e ocupações. Vários outros
grupos e movimentos realizaram nos anos se-
guintes, ocupações urbanas.
É importante destacar que outras ocupações
dessa região foram removidas, são os casos da
Ocupação Zumbi dos Palmares (Praça Mauá) e
Ocupação Zumbi dos Palmares, localizada na Praça Maua, Zona Portuária do Rio. A Ocupação
Guerreiros Urbanos (Gamboa). Hoje, a Ocupação foi feita em 2005 e retirada em 2011 por ocasião das obras do Porto Maravilha.
6 Causa do Povo - nº 67 - Jan/Fev/Mar de 2013 - Edição comemorativa 10 anos de bakuninismo! Viva a União Popular Anarquista!
A teoria defendida pela UNIPA combate às reformas neoliberais mado aberto e direto aos anarquis- consolidar o GPN, em 2012 a Orga-
foi desenvolvida especialmente (previdenciária, trabalhista, uni- tas e trabalhadores de forma geral nização já estava partindo de um
nos seus três primeiros Congres- versitária) aplicadas pelo Governo a construírem a UNIPA. De fato, a novo patamar qualitativo e quan-
sos, onde são elaboradas as bases de Lula/PT. Essa conjuntura colo- partir de então, a UNIPA passa a titativo. Como nos ensinou a FAU-
teóricas anarquistas-bakuninistas cou a prova a capacidade do então ter um crescimento modesto, mas histórica (1964-76): para cada
para interpretação da luta de clas- pequeno agrupamento bakuninis- contínuo. Em 2008 e 2009 temos a novo momento da luta superado,
ses, do desenvolvimento capitalis- ta. É exatamente aqui que o traba- construção de dois Pró núcleos (DF novos problemas são colocados
ta e da Revolução Brasileira. lho teórico anterior, mesmo sendo e CE), que cerca de um ano depois frente aos revolucionários, proble-
reconhecidamente parcial, se mos- se consolidam em núcleos orgâni- mas mais complexos aos quais os
Como fruto do aprofundamento
trou fundamental. Tivemos a tática cos. A consolidação dos núcleos em revolucionários devem se elevar
da ação militante e do intenso tra-
correta porque tínhamos uma teo- três regiões diferentes teve um fa- a sua complexidade para solucio-
balho intelectual, a defesa teórica
ria, mesmo que ela não estivesse tor positivo de expansão de nossa nar. O desenvolvimento do GPN
e programática do bakuninismo
plenamente desenvolvida. O acer- política no território nacional. Tive- significa essa nova etapa que nos
teve como consequência a ruptura
to da tática nos fez enfrentar e so- mos também nesse tempo (2007- lançamos de peito aberto, etapa
não apenas a nível nacional, com o
brevier as adversidades até hoje. 2011) a experiência de construção anterior a construção do Partido
revisionismo anarco-comunista do
Apesar de surgir em meio a uma de Comitês de Apoio e Propaganda Revolucionário.
Fórum do Anarquismo Organiza-
crise de organização do proletaria- (CAP), responsáveis por distribuir
do (atual Coordenação Anarquista O V Congresso da UNIPA a ser
do, a UNIPA teve uma progressão os jornais Causa do Povo e prestar
Brasileira), mas também em esca- realizado em 2013 será uma cul-
lenta, mas contínua. Ao contrário tarefas de apoio a Organização, no
la internacional. Tal consequência minação dos esforços teóricos e
do desaparecimento “profetizado” interior do Estado do Rio de Janei-
foi encarada de peito aberto e com organizativos daqueles que vêm
por diversos adversários, avança- ro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás,
firmeza pela UNIPA, pois era claro, abraçando a bandeira do anarquis-
mos. além de CAPs junto aos núcleos.
e a cada dia se confirma a justeza mo e da revolução proletária. A po-
Apesar de nosso crescimento estar
de tal posição, que tal ruptura não Com uma atuação modesta, lítica de expansão da organização
amparado essencialmente em nos-
foi fruto de sectarismo ou um ca- porém aguerrida e combativa no caminha para novos pró-núcleos
sa frente de massas, o fato é que
pricho de nossa Organização, mas campo antigovernista (organizado e novos CAPs, ampliando a propa-
se conseguiu estabelecer uma pro-
uma necessidade para avançar de- na CONLUTAS), e com base na teo- ganda bakuninista para a região
paganda em âmbito nacional.
cididamente na reorganização do ria, programa e estratégia bakuni- Sul e novos estados.
anarquismo como força popular nista, a intervenção seguiu a linha
Seguimos, portanto, mais vi-
e revolucionária, nos separando política de combater o governismo O Grupo Político Nacional vos e confiantes no caminho que
do confusionismo de um pretenso (e as reformas neoliberais levadas
“movimento libertário” tão harmô- a cabo por esse setor) e desgas-
(GPN): embrião do Partido escolhemos, no trabalho sério e
com intransigência de classe, úni-
nico quanto inútil para a classe tra- tar a estratégia/tradição reformis- Revolucionário co meio capaz de superar o pân-
balhadora. ta e social-democrata da “esquer- Em 2012, a UNIPA lançou as tano das tradições reformistas e
da” brasileira. Tal tática acertada, resoluções de sua segunda As- estatistas ao qual estão submersas
oriunda de uma detalhada e coe- sembleia Nacional, onde apontava
O chamado à construção rente apreciação da conjuntura em importantes avanços em sua orga-
as organizações trabalhadoras de
nosso país. Isso significa, reafir-
nacional em 2007 e seus nosso país, colocou nossa pequena nização interna, a saber, a cons- mar o papel iniciador-dirigente da
primeiros passos Organização em debates estraté- trução do Grupo Político Nacional organização bakuninista e também
gicos de reorganização do proleta- (GPN), ou seja, a transformação
No período 2003-2004, vivia-se de seus militantes, bem como suas
riado. dos pró-núcleos em núcleos e a
uma conjuntura de crise do gover- tarefas de agitação, propaganda e
Foi em 2007, através do comu- transformação da estrutura inter- organização. Convocamos os com-
nismo no movimento de massas
nicado nº 21 “Construir o Partido na da organização para comportar panheiros que tenham por objetivo
(com a iniciativa de ruptura com a
Revolucionário Anarquista”, onde essa nova etapa. Se na primeira construir a Revolução Social a se
CUT e UNE e a construção da CON-
se fez pela primeira vez um cha- Assembleia Nacional, em 2011, somarem nesse processo.
LUTAS) frente à necessidade do
apontou-se como tarefa central