Você está na página 1de 2

Sobre o unschooling, vou me basear na definição exposta por Alexandre Magno, em seu livro O

direito à educação domiciliar. O autor diz:

”Unschooling (educação natural ou educação dirigida pelas crianças): considera as atividades


escolhidas pelo estudante o principal meio para o aprendizado. Assim, as atividades
educacionais são determinadas pelos interesses das próprias crianças, sem a utilização de um
currículo fixo. O termo foi criado por John Holt e baseia-se na concepção de não haver
diferença entre viver e aprender, sendo prejudicial à criança a separação artificial entre essas
atividades” (Moreira, Alexandre Magno Fernandes, O direito à educação domiciliar – Brasília,
DF: Editora Monergismo, 2017, p.61).

Confesso, que essa definição unschooling, a meu ver, lembra bastante o que próprio autor
define como autodidatismo – Magno pretende, em seu argumento, mostrar que há educação e
instrução mesmo fora do ambiente formal, a escola/faculdade. “Nada impede, por exemplo,
que a educação ocorra sem o educador (quem ensina): essa é a situação do autodidatismo;
nele a aprendizagem ocorre sem o ensino” (idem, p.23). Então, entendo que o unschooling é
um método de autodidatismo. Apesar de, também, seguindo aqui Olavo de Carvalho, afirmar
que existe um paradoxo na autoeducação.

Primeiro, deve existir um desejo por parte do aluno. Sem tal desejo, o aluno jamais se sentirá
compelido, jamais irá desejar, se auto educar; e de absorver o espírito, a finalidade, por trás do
que foi aprendido, será algo meramente mecânico e sem sentido. Existe, então, um aspecto de
autonomia, por assim dizer subjetivo, na autoeducação.

Por outro lado, não há educação sem instrução, que “consiste na transmissão de
conhecimentos e habilidades” (idem, p.23). Em outras palavras, há um transmissor e um
receptor. Então, podemos ver, também, que “a educação é a ação exercida pelas gerações
adultas sobre as que ainda não amadureceram pela vida social” (Durkheim). Em outras
palavras, a autonomia do autodidatismo não é tão independente assim, pois depende de
transmissor. Ao se deparar com a realidade, a criança não conseguirá, por si só interpretá-la.
Olavo diz que o homem, quando nasce não é um novo Adão no Paraíso, que necessita por si só
aprender como manejar e interpretar a realidade – cabe um acréscimo, nem mesmo Adão era
tão autônomo assim, o Criador o ensinou os princípios e leis básicos da criação.

O professor/educador, podemos dizer, é um dos transmissores para o aluno – o “sem luz”, sem
o conhecimento dos antigos, sem tanta experiência, o simples (Pv. 1:4; 8:5). Da mesma forma
que a Lei é o aio do crente a Cristo, o educador nos deve levar pelo caminho correto. A
educação, segundo sua definição, deve desenvolver aquilo que nos é intrínseco. “A educação
diz respeito ao desenvolvimento, à maturação, ao florescimento do potencial individual” (idem,
p.19). Como a Lei, que nos leva a grande finalidade da criação Cristo (Gl. 3:24), e nEle somos
recriados a verdadeira imagem do homem perfeito, o educador deve desejar que do aluno
alcance o alvo.

Diante disso, não podemos ser ingênuos, estamos em um mundo caído ainda, haverá, em sábia
medida, coerção dos pais sobre seus filhos. “Não retires da criança a disciplina, pois, se a
fustigares com a vara, não morrerá” (Pv. 23:13). Não podemos esquecer, também, que: “A
estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv. 22:15).
Da mesma forma que a Lei, chamada por Paulo de pedagogo, nos quer conduzir a Cristo, ela
nos corrige, chegando a fustigar, para o nosso bem. Ou seja, concordo com Adriel, jovens, não
poucas vezes, são tolos, precisando de direcionamento em seus estudos e na condução de sua
vida – até certo tempo (Gn. 2:24).
Por outro lado, o educador deve estar ciente da capacidade individual de cada aluno. Nem
todo mundo nasce com a capacidade de fácil sistematização – apesar de, a meu ver, toda
educação deve buscar ser sistemática e unitária, com isso não admitindo que esta será sempre
“fechada”, como um círculo, “vemos ainda em parte, como em um espelho embaçado”, a
criança irá se deparar com paradoxos e aparentes contradições em seu sistema. O professor,
então, deve ser sábio e respeitar o ritmo do aluno. Tentar impor um método para todos os
tipos de pessoas é, então, falta de sabedoria. Este é um dos grandes erros da escolarização,
querer impor a todos um método de educação.

Entrando no ponto sobre o aspecto utilitarista da educação. Eu acredito que, dependendo das
condições de cada um, pode-se ingressar na escola para a preparação para o mercado de
trabalho. Para conseguir o tão famigerado curriculum. Infelizmente, o Brasil é um país
profundamente dependente de seu estado. O estado julga é quem ser competente ou não para
assumir determinadas vocações, segundo o seu próprio padrão, o que exclui a diversidade e
acaba infringindo a própria experiência – que demonstra existirem pessoas que não precisam
ingressar em escolas ou faculdades para se tornarem grandes mentes que podem contribuir
para a humanidade.

E, diante disso, eu ensinarei a meus filhos, com a graça de Deus, os princípios basilares sobre a
finalidade da educação, do trabalho e da vida (glorificar a Deus e alegrar-se nele eternamente).
Assim, eles possuiriam um norte em que poderiam se desenvolver intelectualmente,
“sozinhos” ou não, e, da mesma forma, sendo sábios em reger suas vidas financeiras e como
bons profissionais para o reino de Deus.

Creio que a finalidade, concluindo, será o mais importante para a educação dos nossos filhos.
Afinal, que adianta o domínio do latim, do grego, do hebraico, ganhar o mundo inteiro, mas
perder a alma? “Espinhos e laços há no caminho do perverso; o que guarda a sua alma retira-se
para longe deles. Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando velho não
se desviará dele” (Pv. 22:5-6).

Você também pode gostar