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Relação verdadeira, e breve da Tomada da Villa de Olinda, e lugar do Recife na costa do Brasil,

pelos rebeldes de Holanda, tirada de uma carta que escreveu um religioso de muita autoridade, e
que foi testemunha de vista de quase todo o sucedido: e assim o afirma, e jura, e do mais que
depois disso sucedeu até os dezoito de Abril deste presente, e fatal ano de 1830.

Em nove de Fevereiro chegou à Olinda aviso do Governador do Cabo Verde Joan Pereira Corte
Real, como pera tomar aquela Capitania era chegada à Ilha de São Vicente uma armada
Holandesa de 67 Naus, e que ainda se esperava mais, te fazerem numero de 80. O General da
armada se chama Henrique Corneles Lont, que havia a dois anos fora Almirante da que tomara a
frota de Índias com tanta afronta, e perda desta Monarquia. A Nau Capitayna passava de 800
toneladas, julgava 58 peças de artilharia, 40 delas de bronze, as demais de bom ferro; trinta
Naus das de maior porte levava ainda, e cinco, e a 40 peças cada uma, o terço de bronze, e as
demais do mesmo ferro. Vinte e quatro Naus de menos toneladas levavam a 24 e a 30 peças, e
sempre o terço de bronze. As doze, que enchia o numero de 67 eram pataxós ligeiros, e todos
em sua quantidade tãobém artelhados como as naus maiores, e com a mesma qualidade de peças
terçadas de bronze.

Tinha mais a armada 16 lanchas, que cada uma remava dez remos por Cauda, e era capaz de
sessenta homens de guerra com dois pedreiros, Uma peça de colher, & com uma invenção de
velas TÃO fáceis de marear-se, que o mesmo leve lançado a uma & outra banda as mareava sem
outra MAM de marinheiros, Trazia esta armada muitos petrechos e invenções de guerra, e entre
outras um gênero de peças ligeiríssimas, porque são feitas de dois couros de boy, um deles
cortido, e outro cru, as quais atiram dez e doze tiros sem se queimarem, e lançam bola de dez e
mais libras e fazem o mesmo efeito, que se forem de bronze. Tão bem trazia outro gênero de
peças, que não pesam mais que 250 arrateis cadê uma, estão forradas por fora de uma chapa de
cobre, e outra tem por dentro, e o meio é de chumbo, ou estanho, e tudo com tal artifício, que
com só onze onças de pólvora tiram trem libras de bala. Trazia mais setenta peças de campanha
com suas coronhas, e com um engenho facilíssimo para as caluagar e plantar a onde quiserem.

Chegada, como digo, a nova desta armada, e de seu desenho a Vila de Olinda, logo Mathias de
Albuquerque Superintendente na guerra daquela Capitania, e visitador de todas as daquele
estado ordenou em toda a parte as coisas, como o caso requeriam. Provendo os fortes com gente
de guarnição, e do mais que era necessário para a guerra, e para o mesmo efeito fez armazéns
nos lugares mais convenientes, e por tudo na melhor forma que podia ser, e como demandava a
nova certa de uma tão poderosa armada, e de inimigos tão exercitados e violentos.

Ordenadas as cousas, e avisados os Capitães do que passavam, e todos animados, ao que


mostravam para pelejarem com o inimigo, aos quatro dias do dito mês começou a guarnecer a
sua armada, e logo com tal vista Mathias de Albuquerque pos a gente em ordem, proveu de
armas aos que nau tinham, e avisando aos Superiores das Religiões que mandassem vir os
Índios das Aldeias, que estavam á sua conta. Tornou a visitar os dois fortes, que á terra tem, e os
deixou providos ainda de mais munições, bastimentos, e de gente escolhidas, a mesma
diligência fez com os Capitães da gente de pé, e cavalo, repartindo por eles as estâncias segundo
a importância delas.

Ao dia seguinte pela manhã veio a armada do inimigo arrasada em popa demandar a barra de
Pernambuco, dezesseis velas somente se fizeram na volta do Rio tapado. Acodio logo Mathias
de Albuquerque acompanhado de alguma gente aos dois fortes assim da terra como do mar,
animando aos que estavam dentro para a escaramuça, que sem duvida começaria logo, e
provendo ainda de mais gente da que tinham, parecendo aos que estavam eram mais que
bastante, e o mesmo cuidado, e providencia sobeja mostrou em os prover de tudo o mais, que
para o conflito se podia desejar. Daqui se foi impedir o desembarcadouro às dezesseis velas que
com muitas lanchas se fizeram na volta do Rio tapado, para lançarem gente em terra, o que não
teve efeito, porque os nossos lhe impediram só com aparecer naquela paragem. Já neste tempo
as nãos mais grossas de toda a armada estavam às bombardeadas com os nossos fortes com
pretensão, segundo mostravam de quererem entrar pela barra, ou algumas outras de menor
toneladas à sombra das maiores.

Vendo o Capitão Geral Mathias de Albuquerque a fúria da batalha, entregando a gente a cavala
a Andre Dias da Franca (cujo valor se tão conhecido nas partes da África, e em todo este Reino,
e a cujo conta havia estado toda aquela Capitania) se foi por entre as balas, que choviam da
artilharia dos inimigos, meter dentro do forte, que chamam do Recife, a onde todo o tempo, que
esteve, fez não só oficio de General, mas de um soldado particular e ainda de artilheiro,
enchendo com suas próprias mãos os cartuchos de pólvora, e ajudando a bornear as peças com
que se fazia muito dano aos inimigos. Durou este jogo sete horas continuas sem afrouxar, e
estando na força dele chegou aviso ao General, como o inimigo hia lançar gente em um porto,
que chamam Pão amarelo, distante de Pernambuco duas pera três léguas, e por essa causa o
poderão fazer a seu salvo, porque a nossa gente que ia a lhe impedir o desembarcar, não chegou
a tempo; no qual o General estava ocupado em cegar a barra de Pernambuco, o que fez
mandando meter ao fundo oito navios, dos que nela estavam.

Acabada esta diligência, e estando o Recife fortalecido, conforme às forças, e possibilidades


com que se achou, se veio para a terra e por em ordem as causas pertencentes a guerra, que os
inimigos por Ella lhe haviam também de fazer, e que já vinham do Pão amarelo marchando com
grande ordem, divididos em quatro esquadrões, levando adiante algumas peças de campanha,
fazendo o vulto de quatro mil homens com trinta e seis bandeiras, que claramente se
distinguiam, e nesta forma os achou a nossa gente da banda do Rio doce a tiro já de mosquete,
de cujas balas não tinham com que se reparar, e muito menos das lanchas que pelo mar vinham
com algumas peças, guardando as costas de sua gente, e dando caça à nossas, que chegavam a
numero de quinhentos homens, entre os de pé e de cavalo. Em posto tão arriscado, e partindo
tão desigual, pareceu bem que os nossos se retirassem, o que fizeram depois de algumas refegas
em que ambas as partes ouve mortos, e feridos, e sendo o General sempre o primeiro nelas, que
não pode pegar seu animo senão a poucos, com os quais foram tomar o passo do Rio tapado,
onde poderão os nossos muito mal aos inimigos, se tiveram perdido o medo aos pelouros, que
sobre eles choviam, porem o medo ia de cada vez crescendo, e a gente diminuindo-se, e
pareceres variando-se, posto que a voz comum era que se retirassem de todo às trincheiras da
Villa de Olinda, para a defenderem, porque os inimigos os vinham seguindo a Victoria com
grande ímpeto.

Mas não foi bastante o serem tantos milhares, e o virem vitoriosos, e os nossos já pouquíssimos
, e retirados, para os eram rebateram por três vezes, que cometeram a trincheira que estava
pegada ao reducto do presídios junto do Convento de São Francisco, o qual os nossos
defenderam por espaço de duas horas com grande valor à sombra de seu General Mathias
Albuquerque, que a todos os assaltos se achou presente, e correndo uma, e outra parte, como
destro e valoroso Capitão. Achando o inimigo naquela paragem tamanha resistência
desesperado de poder ganhar a trincheira, e escandalizado também de uma peça que dela se
disparou, e fez voar alguns pelos ares, e de muitos outros que lhe haviam mortos desterrou
daquele posto, e guiado porquê sabia a terra foi marchando por entre as cercas dos Padres de
São Francisco, e da Companhia de Jesus, para por ali entrarem na Villa. O Capitão Salvador de
Azevedo, com uns poucos soldados, com que se achou lhe quis impedir a passagem, mas como
o inimigo eram muitos, e a Villa aberta e estendida, montou pouco o valor e deliberaram de tão
poucos, começaram a entrar sem resistência de consideração. O que sabendo o capitão Andre
Pereira Temudo, com raiva digna de muita inveja, arremeteu as barbas e as arrancou, e
aborrecido da vida se foi acompanhado de doze homens, e saindo na rua da Misericórdia ao
encontro do inimigo pelejou com eles à espada valerosissimamente até cair morto, passado de
muitas balas, com alguns de seus companheiros, que todos o fizeram como valorosos e
verdadeiros Portugueses.Assim se foram senhoreando da Villa, quisera os ir investir o nosso
Capitão General mas reprovaram-lhe a determinação esses poucos que com ele ainda estava
havendo por sabida temeridades, e assim obrigado dos requerimentos que todos lhe fizeram, se
retirou para o Recife, por entre nuvens de pelouros, que do mar e terra choviam sobre os
nossos.

A gente de guarnição que estava naquela força, assim para a defender, como para acodir ao que
fosse mais necessário ( e para o todo era o numero suficiente porque passavam de setecentos
homens) em sabendo que os Holandeses estavam já senhores da Villa, desmaiavam de sorte,
que não ouve mete-los a caminho, e cada um não tratava de mais, que de o buscar para se sair
do forte, e por se em salvo tendo a vida por mais que arriscada dentre nele, de maneira que por
mais diligência que se fez , e por mais vigia que se teve, a gente se foi saindo e desamparando o
forte. Vendo os nobres que acompanhavam o General, como o Recife estava despejado, e que
não era possível defende-lo no estado em que estava contra um poder tão grande, lhe
requereram que se saísse e que por fim fez com tenção de tornar a ele com alguma gente, que
pudesse ajuntar,e aquém a vergonha, e obrio Portuguez obrigasse a ir defender o forte de seu
Rey. Mas que primeiro que se saísse dele mandou meter ao fundo, ou queimar os navios, que
estavam carregados, com o açúcar, pão do Brasil, tabaco, algodão, e que com os navios, que
eram vinte e quatro, foi avaliada em dois milhões, e a diligencia que se fez avaliada por de
grande Capitão, como se deixa bem ver.

No meio deste incêndio, que também abrazava aos inimigos, por lhe escapar tão grande preza,
se passou nosso General com alguns poucos ( e tão poucos que não chegavam a vinte) para a
outra parte do Recife, com intuito de ajuntar gente, com que o reforçasse, para o que fez todas
as diligências possíveis, usando dos meios já rigorosos, já brandos, mas nenhum foram
bastantes para ajuntar gente de consideração, estando para isso posto em um sítio, que distava
como um tiro de mosquete de um, e de outro forte, do da terra que chamam e do Recife. Ali
esteve esperando alguns dias que lhe acudisse a gente depois de perdido o medo, de alguma
pouca proveu deste lugar s dois fortes, e de alguns bastimento. Ordenou que se salvassem dos
Armazéns todas as munições, que se pudesse; e vendo Antonio Ribeiro de Lacerda ao General
tão desamparado de gente, se lhe ofereceu para ir buscar duzentos homens sorteados à sua custa,
para com eles ir defender o Recife: lanço digno de seu animo, e valor, e que teve muitos
invejosos, mas poucos, ou nenhum imitadores. Foi de pouco efeito esta sua diligencia, porque
quando voltou com a gente, que pode ajuntar esta sua diligencia, porque quando voltou com a
gente que pode ajuntar, já achou rendido o forte da terra, ponto que tinha custado bem aos
inimigos. Porque numa quinta feira, vinte e sete de Fevereiro, vieram sobre ele alguns
oitocentos Holandeses, e no quarto da madorna o saltearam com grande ímpeto; porem os de
dentro o defenderam com tanto valor, que os obrigaram a se retirarem desconcertadamente,
deixando com as escadas, armas, mosquetes e pistolas trinta e tantos mortos, a fira outros
muitos feridos, que levavam, e morreram dentro da Villa. E com durar o assalto hora e meia, e
muito pertiado, só da nossa parte ficaram quatro mortos.

No ultimo de Fevereiro abalou o inimigo com todo o poder, que tinha em terra, e começou a
marchar da Villa por uma língua de terra, que vai ter ao Recife, com o intuito de bater o forte da
terra: e dado, ou o medo, ou o descuido dos nossos lugar para plantarem a artilharia,
começavam a abater pela parte, que estava mais fraco, por ser obra antiga, e pouco defensável; e
fizeram com tanta ventura, que logo o primeiro tiro foi de grade efeito, e nos mataram dois
artilheiros, com o que desconfiaram, os que estavam de dentro, de o poderem defender, e com
essa confiança só três dias sustentaram o cerco, e aos dois de Março se ancorou no forte duas
bandeiras brancas, e a partido se renderam todos. Rendido este forte da terra, menos dificuldade
ouve em se render o do mar, com grande sentimento do General, e desses poucos, que com ele
estavam. Em tamanha desventura não ficava já outro remédio mais que retirar-se de todo, e
tratar de ajuntar gente, que estava metida pelos matos, e assentar Arraial em algum lugar
acomodado, e eram mui distante da Vila, donde pudessem defender aos inimigos a entrada por
terra dentro, e fazer algumas saídas, com que lhe querer com parecer dos que na matéria podiam
ter algum voto e assentaram seu Arraial três quartos de léguas e um sitio eminente a vista da
Villa.

Estando as cousas neste estado chegara de socorro ao inimigo, dez, ou doze nãos com perto de
mil homens de peleja, destes quiseram vir algumas companhias provar a MAM com os nossos
que já estavam entrincheirados, e com seu Arraial assentado, e posto que nas costas destes
vieram outros de socorro uns e outros, que faziam numero de mil e quinhentos, se recolheram
com morte de cento e trinta, e muitos feridos, como depois constou. Neste bom sucesso tiveram
boa parte os Índios da Terra, a quem o inimigo tem cobrado notável medo, porque andam tão
encarniçados neles, que sem fazerem casos de seus mosquetes, e pistolas, arremetem como uns
Leões desatados, e os matão, e para testemunho de seu valor trazes as armas que tomavam ao
inimigo ao Padre Manoel de Moraes, religioso da Companhia de Jesus, ao qual obedecem como
a seu capitão, com grande pontualidade em tudo quanto lhes manda. Tal graça deu Deus a este
bom Padre, e tanto animo tem metido nos corações daqueles Índios.

Nestas emborcadas, e assaltos, que os Índios com os nossos de mistura fazem, consiste grande
parte do remédio de aquele estado. Acrescenta a isso, que da parte do Rio Capibaribe, por onde
eles podiam navegar, e meter-se pela terra a busca mantimento, esta Antonio Ribeiro de Lacerda
com sua gente para lhe defender a passagem, por outra parte da terra por onde também podiam
cometer fazer alguma entrada, está Lourenço Cavalcanti com gente resoluta, da parte do
Colégio da Companhia, está Mathias de Albuquerque Maranhão irmão do Capitão da Paraíba,
que com alguma gente, e índios veio de socorro daquela capitania, ao qual se agregou o dito
Padre Manoel de Moraes, com os seus deliberados, e valentes Índios esperando só o seu acesso.

Alguns dos nossos que os Holandeses cativaram na tomada da terra, e depois largaram dos quais
foram quatro religiosos, contaram, que os inimigos estavam descontentes, porque o saco lhes
não o recompensava o gasto de dois Galeões, tendo eles gastado nesta armado três milhões, e
assim que estão muito desejosos de se amigarem com os nossos, para contratarem e
comerciarem com eles, e já para este efeito largaram os que tinham cativos, e fizeram outras
demonstrações.
Mas a vigilância do capitão General Mathias de Albuquerque, a tudo tem atalhado, e
experimenta já outro animo muito diferente aos homens da terra. A verdade é que gente que não
é experimentada na milícia, nem paga como naquela Capitania a não havia, e a que não ruíam
ainda os pelouros, pelas orelhas, de ordinário perde o passo no primeiro encontro;
particularmente quando este é nascido de grande força, como este foi. A armada do inimigo
Holandês era qual dissemos ao principio, e ainda maior, porque depois lhe foram ajuntadas mais
Naus, e assim fazia numero de setenta e tantas velas, com muita artilharia, que tirava balas de
vinte para trinta libras: nela fora gente do mar, que também era muito luzida, vinham mais de
seis mil infantes, toda gente muito bem exercitada, interessada, e bem paga. Para lhe resistir
nem havia cidade murada, nem gente disciplinada, nem fortes reais, aonde pudessem aturar o
cerco, e aguardar baterias dos canhões inimigos; e assim não há que por tomada culpa aos
moradores de Pernambuco: e a que ouve eles estão apostados a purgala com o favor do Céu, e já
o começam a fazer com vários assaltos, que dão aos inimigos, que se atrevem a desmandar-se, e
todos até agora com feliz sucesso a Deus graças, e demais consideração fora os dois seguintes.

Aos vinte e seis de Março teve o nosso Capitão Geral aviso em como o dos Holandeses com o
seu Sargento Mor havia de vir a Recife para a Villa logo avisou ao Capitão Lourenço Calvacanti
que pusesse em ordem a sua gente, para que com a mais que lhe pareceu conveniente, dar um
assalto ao inimigo. Feita a emboscada, e posto tudo em boa forma, eis que vindo o dito General
ou coronel com seu Sargento mor, e com oitenta homens de guarda escolhidos, e muito bem
armados, arrebentaram os nossos, e dão neles com tanto valor, que logo ali ficaram no campo
mortos 49, e outros se afogaram no mar, aonde se lançaram apertados dos nossos, e mal feridos;
e assim se afirma que foi o Coronel, ao qual veio a cavalo a que vinha para voltar fugido da
onde viera, e com alguma pressa mais do que trouxera. Também se afirma que o Sargento Mor
saiu ferido. O certo é que os Holandeses que saíram com vida, se escaparam a correr, e os
nossos voltaram muito vitoriosos, e carregados de muitos e bons mosquetes, pistolas e outras
armas. As circunstancias destes , sucedeu de um holandês que tomaram vivo. Deles a esse
tempo já eram mortos seiscentos, e muitos feridos, e dos nossos trezentos, e também muitos
feridos. E nas saídas que ate agora tem feito, ficaram sempre os nossos com a Victoria,
matando-lhe em todas elas muita gente, com a ajuda dos Índios da terra, que com estes bons
sucessos, que Deus lhe dá, tem cobrado notável animo; o mesmo Senhor lhe acrescente, e os
tire aos inimigos, pois o são de sua Fé Católica.

Depois deste tão bom sucesso foi ele servido de dar aos nossos ainda outro avantajado aos 18 do
mês seguinte. Foi ao caso, que sabendo Mathias Albuquerque por suas espias, que em toda a
parte tem postos, como no Sitio em que está fundado o mosteiro de S. Antonio, que fica em
outra parte do lugar do Recife, os Holandeses começaram a se fortificar, fazendo para isso
grandes trincheiras em forma de duas grandes meias luas; determinou de os ir desinquietar, e
impedir lhe a fortificação, que era cousa bem arriscada, porque estavam já em grande altura, e
provida de muita e escolhida gente. Contudo os nossos confiados no favor do Céu, e animados
com o sucesso que haviam tido em todos os assaltos, e saídas que tinham sido feitas, se foram
na madrugada do dia, que tenho dito, que foi 18 de Abril, e deram com tal coragem nos
inimigos, que os desalojaram, e arrancaram de sitio com morte dos que quiseram resistir, que
passaram muito do cento, que logo ali ficaram no campo, e muito mais mal feridos, que
deixando as armas se acolheram aos fortes, e os nossos, que eram três Companhias de Soldados
Portugueses com alguns Índios em companhia de seu Capitão o Padre Manoel de Moraes, se
recolheram com toda a ordem muito vitorioso, e carregando as armas dos Holandeses, depois de
desfazerem a seu salvo a fortificaram que eles tinham fabricado.

A gloria de tudo seja dada a Deus, Nosso Senhor, que assim como foi servido dar tanto animo
aos seus, e nossos inimigos, para castigo daquela terra; agora movido de compaixão pelos
corações de alguns justos tem por bem dar aos nossos, e aqueles pobres Índios tal brio contra
inimigos poderosos e tão vitoriosos

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