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Juiz do DF absolve Lula e mais seis em

processo sobre obstrução de Justiça


Processo, relativo à Lava Jato, é o primeiro em que Lula é
absolvido desde o início da operação; ele responde ainda a 5
processos. Juiz federal entendeu que não havia provas
contra o ex-presidente.

Por Camila Bomfim, TV Globo, Brasília


12/07/2018 12h45 Atualizado há menos de 1 minuto
Lula é absolvido em processo de obstrução de Justiça

O juiz da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Ricardo Leite, absolveu Luiz
Inácio Lula da Silva no processo em que o ex-presidente era acusado de crime de
obstrução de Justiça. Esse foi o primeiro caso em que o ex-presidente se tornou réu
na Lava Jato. Também é a primeira absolvição nos processos a que Lula responde.
Em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse que o juiz agiu de
maneira imparcial ao descartar a acusação com base somente em delação premiada.
Disse ainda que o mesmo entendimento deveria ser usado no caso do triplex do
Guarujá, em que o ex-presidente foi condenado (veja a íntegra da nota ao final desta
reportagem).
A acusação da qual Lula foi absolvido era de que tinha atrapalhado as investigações
da Lava Jato, ao se envolver na tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores da operação.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Bernardo Cerveró , filho de
Cerveró, fez uma gravação em que o ex-senador Delcídio do Amaral prometia ajuda
financeira de R$ 50 mil mensais para a família do ex-executivo da Petrobras Cerveró
e honorários de R$ 4 milhões para o advogado Édson Ribeiro, que, até então,
comandava a defesa.
Em contrapartida, apontavam as investigações, Cerveró silenciaria em sua delação
premiada em relação a Delcídio, então líder do governo no Senado, a Lula, ao
pecuarista José Carlos Bumlai, ao banqueiro André Esteves e aos demais acusados.
O juiz Ricardo Leite considerou as provas insuficientes. Entendeu também que a
acusação de obstrução de Justiça estava baseada somente em afirmações de delatores.
Leite citou o artigos 17 do Código Penal, que fala sobre flagrante preparado, e o
artigo 4º, da lei 12.850/13 , que diz que sentenças não podem ser proferidas com
fundamento apenas em delação premiada.
“O áudio captado não constitui prova válida para ensejar qualquer decreto
condenatório . Há suspeitas também da ocultação de fatos por Bernardo e Cerveró”,
afirmou o juiz na decisão.
Ricardo Leite também disse que “a instrução, a meu sentir, não possibilitou a
reconstrução da realidade fática, o que impede qualquer decreto condenatório“.
Também foram absolvidos nesse processo o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-
chefe de gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, André Esteves, Édson Ribeiro, José
Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai.
Em setembro do ano passado, o procurador Ivan Marx, do Ministério Público
Federal do Distrito Federal, pediu a absolvição do ex-presidente Lula e de André
Esteves nesse processo. O MPF disse não ter encontrado evidências de que Lula e
André Esteves cometeram o crime de obstrução de Justiça.
Em nota, o advogado de André Esteves, Antônio Carlos de Almeida Castro, destacou
a posição do Ministério Público em favor da absolvição.
“Neste momento em que a Justiça se faz, a defesa reforça sua confiança no Poder
Judiciário e enaltece sua independência”, disse o advogado na nota.

Outras investigações sobre Lula


Além do caso no qual foi absolvido no Distrito Federal, Lula foi condenado em
segunda instância, no processo do triplex do Guarujá, e é reu em mais cinco ações
penais.
Veja os procedimentos abertos sobre o ex-presidente na Justiça
Na Justiça do DF:
 absolvido em ação penal por tentativa de atrapalhar a delação de Nestor Cerveró;

 réu em ação penal sobre tráfico de influência no BNDES para beneficiar a


Odebrecht;
 réu em ação penal por tráfico de influência na Operação Zelotesjuntamente com
o filho Luís Cláudio;
 réu em ação acusado de negociar propina em troca de uma medida
provisória que prorrogou por cinco anos benefícios tributários destinados a empresas
do setor automobilístico.
Na Justiça do Paraná:
 condenado em segunda instância em ação penal aberta pelo juiz Sérgio Moro,
sobre o apartamento triplex no Guarujá (SP). Suspeita é de recebimento de vantagem
indevida da empreiteira OAS. Preso desde o começo de abril por esse caso.
 réu em ação penal, aberta pelo juiz Sérgio Moro, por suspeita de pagamento de
propina da Odebrecht. Caso envolve a compra de um terreno para a construção da
nova sede do Instituto Lula e um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente,
em São Bernardo do Campo;
 réu em ação sobre se é dono de sítio em Atibaia (SP) reformado por empreiteiras e
se dinheiro recebido de palestras era propina disfarçada.
Além disso, é investigado em mais dois inquéritos da Lava Jato, um no STF e um na
Justiça Federal:
Na Justiça Federal do DF:
 inquérito da Lava Jato que apura formação de organização criminosa,
juntamente com outros integrantes do PT, para fraudar a Petrobras. Foi denunciado
pela PGR, mas o MPF precisa ratificar, porque o processo mudou de instância.
No STF:
 denunciado pela PGR por ter sido suspostamente beneficiado pela Odebrecht,
que, segundo a acusação, prometeu em 2010 ao então presidente – e colocou à
disposição do PT – R$ 64 milhões em troca de decisões do governo que
favorecessem a empresa.

Veja a íntegra da nota da defesa de Lula:


Justiça de Brasília absolve Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi absolvido hoje (12/07) da acusação do
crime de obstrução de justiça (art. 2º, §1º, da Lei nº 12.850/2013). A sentença foi
proferida pelo juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª. Vara Federal Criminal de
Brasília.
O juiz reconheceu que “há deficiência probatória para sustentar qualquer juízo
penal reprovável” por parte de Lula, afastando a acusação de que Lula teria tentado
impedir ou modular a delação premiada de Nestór Cerveró, ex-diretor da Petrobras.
A defesa do ex-Presidente Lula sempre demonstrou que a acusação se baseou em
versão criada por Delcídio do Amaral para obter benefícios em acordo firmado com
o Ministério Público Federal. Durante o processo, Cerveró, assim como as demais
testemunhas ouvidas — de acusação e defesa —, jamais confirmaram qualquer
participação de Lula em atos objetivando interferir na delação premiada do ex-
diretor da petrolífera.
A inexistência de prova de culpa foi reconhecida pelo MPF, que também pediu a
absolvição de Lula em suas alegações finais.

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