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O juiz da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Ricardo Leite, absolveu Luiz
Inácio Lula da Silva no processo em que o ex-presidente era acusado de crime de
obstrução de Justiça. Esse foi o primeiro caso em que o ex-presidente se tornou réu
na Lava Jato. Também é a primeira absolvição nos processos a que Lula responde.
Em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse que o juiz agiu de
maneira imparcial ao descartar a acusação com base somente em delação premiada.
Disse ainda que o mesmo entendimento deveria ser usado no caso do triplex do
Guarujá, em que o ex-presidente foi condenado (veja a íntegra da nota ao final desta
reportagem).
A acusação da qual Lula foi absolvido era de que tinha atrapalhado as investigações
da Lava Jato, ao se envolver na tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores da operação.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Bernardo Cerveró , filho de
Cerveró, fez uma gravação em que o ex-senador Delcídio do Amaral prometia ajuda
financeira de R$ 50 mil mensais para a família do ex-executivo da Petrobras Cerveró
e honorários de R$ 4 milhões para o advogado Édson Ribeiro, que, até então,
comandava a defesa.
Em contrapartida, apontavam as investigações, Cerveró silenciaria em sua delação
premiada em relação a Delcídio, então líder do governo no Senado, a Lula, ao
pecuarista José Carlos Bumlai, ao banqueiro André Esteves e aos demais acusados.
O juiz Ricardo Leite considerou as provas insuficientes. Entendeu também que a
acusação de obstrução de Justiça estava baseada somente em afirmações de delatores.
Leite citou o artigos 17 do Código Penal, que fala sobre flagrante preparado, e o
artigo 4º, da lei 12.850/13 , que diz que sentenças não podem ser proferidas com
fundamento apenas em delação premiada.
“O áudio captado não constitui prova válida para ensejar qualquer decreto
condenatório . Há suspeitas também da ocultação de fatos por Bernardo e Cerveró”,
afirmou o juiz na decisão.
Ricardo Leite também disse que “a instrução, a meu sentir, não possibilitou a
reconstrução da realidade fática, o que impede qualquer decreto condenatório“.
Também foram absolvidos nesse processo o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-
chefe de gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, André Esteves, Édson Ribeiro, José
Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai.
Em setembro do ano passado, o procurador Ivan Marx, do Ministério Público
Federal do Distrito Federal, pediu a absolvição do ex-presidente Lula e de André
Esteves nesse processo. O MPF disse não ter encontrado evidências de que Lula e
André Esteves cometeram o crime de obstrução de Justiça.
Em nota, o advogado de André Esteves, Antônio Carlos de Almeida Castro, destacou
a posição do Ministério Público em favor da absolvição.
“Neste momento em que a Justiça se faz, a defesa reforça sua confiança no Poder
Judiciário e enaltece sua independência”, disse o advogado na nota.