Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Noite de Reis
Noite de Reis
NOITE DE REIS
de William Shakespeare
adaptação de Jamil Dias
PRIMEIRO ATO
Cena I –
DUQUE – Se ela é capaz de tanto afeto por um irmão, do que não será capaz
quando uma paixão invadir seu coração ?
Cena II
VIOLA – Ele também pode ter se salvado... pode estar perdido em alguma
parte dessa terra estranha.
VIOLA – Deus queira que ele também tenha escapado! Você conhece bem
esta região ?
2
CAPITÃO – Nasci e me criei perto daqui. Este lugar é governado pelo Duque
Orsino.
VIOLA – Seria bom servir a essa dama sem que ninguém soubesse quem eu
sou, até que chegasse o momento de revelar minha identidade.
VIOLA – Já sei ! Capitão, não conte a ninguém quem eu sou. Você vai me
levar até o Duque e conseguir que eu trabalhe para ele. Pagarei bem por isso.
Cena III
MARIA – Sir Toby, minha ama não gosta que apareçam por aqui tarde da noite.
SIR TOBY – Mas ele é um dos melhores partidos da Ilíria. Tem uma bela
renda, fala três ou quatro línguas, palavra por palavra, e tem todos os dotes da
natureza.
MARIA – Sei. Vive se metendo em brigas. Logo, logo vai ganhar um caixão
como dote.
SIR ANDREW – Ah! Eu podia ter aprendido línguas em vez de ficar cacheando
o cabelo...
SIR ANDREW – Sua sobrinha não quer me ver nem pintado de ouro.
SIR TOBY – Não perca a esperança, meu caro. O amigo sabe dançar ?
Cena IV
VIOLA – Mas...
DUQUE - Se não lhe deixarem entrar, fique no portão até seus pés criarem
raízes.
DUQUE – Grite, chore, passe por cima de todas as convenções, mas não volte
sem uma resposta.
Cena V
MARIA – Minha ama vai mandar lhe enforcar pelo seu sumiço.
MARIA – Vai ser enforcado ou vai pro olho da rua – que é o mesmo que ser
enforcado.
FESTE – Muito esperta. Se Sir Toby não bebesse tanto, você ia ver o que é
bom...
MARIA – Minha ama está chegando. É melhor você inventar uma boa
desculpa. (Sai.)
5-b
FESTE – Minha santa protetora dos bobos,me dê inspiração! (Entram Lady
Olívia, Malvólio e serviçais.) Que Deus a abençoe, milady!
FESTE – Se ele está no céu por que chorar pela sua alma ? Retirem daqui
esta criatura tola!
5-C
FESTE – Milady falou como se o seu tio fosse um bobo de miolo mole. (Entra
Sir Toby.) Mas aí vem ele, de pernas bambas.
OLÍVIA – Meu Deus! Tio Toby, o senhor já está neste estado a essas horas?!
Que bebedeira!
MALVÓLIO – Madame, eu disse ao jovem que milady está doente e ele disse
que traz a sua cura. Eu disse que milady está adormecida e ele disse que tem
como despertá-la. Não sei mais o que dizer, milady.
OLÍVIA – Faça-o entrar. (Malvólio sai. Olívia bate palmas.) Véus! (Movimentos
de pessoas cobrindo-se com véus, depois ficam imóveis. Entra Viola.)
5-D
VIOLA – A mui honrada e venerável Condessa ? Condessa Olívia ?
VIOLA – Não bondosa senhora; mas juro que não sou o que represento.
A senhora é a dona da casa?
VIOLA – Aquilo que somos não devemos guardar para nós mesmos.
VIOLA – Mas me deu muito trabalho decorar o discurso. Ele é muito poético.
OLÍVIA - Se permiti que entrasse foi mais para vê-lo do que para ouvi-lo.
Portanto, seja breve.
VIOLA – Quem sou e o que desejo são segredos muito bem guardados.
OLÍVIA – Assunto muito doce e sobre o qual há muito o que dizer. Diga logo o
seu texto.
OLÍVIA – O senhor agora está fora do texto. (Tira o véu.) Olhe bem, senhor.
VIOLA – Lady Olívia, a senhora será a mulher mais cruel que já existiu se
guardar essa beleza para o túmulo.
OLÍVIA – Ah, o senhor foi mandado aqui para fazer um inventário da minha
beleza.
OLÍVIA – Volte e diga ao seu senhor que não posso amá-lo. Que ele não envie
mais ninguém. A menos que... o senhor possa voltar para me contar como ele
recebeu minha resposta. Eu lhe sou grata por todo o trabalho que teve comigo.
Tome isto. (Estende-lhe algumas moedas.)
OLÍVIA – Posso jurar que é um cavalheiro. Sua fala, seu rosto, seu espírito...
Mas, o que é isto? Parece que estou contagiada por essa praga... Bem, seja
como for... Malvólio! (Ele entra.)
OLÍVIA – Corra. Corra atrás daquele impertinente. Ele deixou este anel aqui.
Diga-lhe que não o quero de jeito nenhum. Mas, se o jovem quiser voltar
amanhã, poderei dizer a ele por quê. Pode ir, Malvólio!
SEGUNDO ATO
Cena I
SEBASTIÃO – Não, Antônio. Não é justo colocar o peso do meu destino sobre
os seus ombros.
SEBASTIAO – Vou andar por aí, sem rumo. Agradeço a sua preocupação.
Éramos dois irmãos. E foi só pela vontade dos céus que não morremos juntos.
Você, meu amigo, impediu que isso acontecesse quando me tirou do mar. O
mesmo que levou minha irmã.
SEBASTIAO – Ela era linda, embora dissessem que se parecia muito comigo.
E agora ela está morta... Ah, meu bom Antônio, desculpe-me pelo incômodo.
SEBASTIAO – Não me queira mal, vou para a corte do Duque Orsino. Adeus!
(Sai.)
ANTONIO – Tenho muitos inimigos na corte de Orsino, mas pelo senhor afronto
qualquer perigo... Vou com ele. (Sai.)
Cena II
MALVÓLIO – Pois ela lhe devolve este anel. A Condessa disse que não se
atreva a voltar com outras mensagens do Duque. A menos que queira retornar
amanhã para contar a ela qual foi a reação do Duque à sua resposta.
VIOLA – Não deixei nenhum anel com ela. O que será que essa dama está
querendo ? Meu Deus! Astuciosamente ela me enviou um convite por esse
mensageiro tosco. Pobre mulher! Como é fácil para um homem bonito e
mentiroso impressionar um coração feminino. E agora ? O Duque está
apaixonado por ela, eu sou louca por ele, e ela parece estar interessada por
mim...
Cena III
SIR TOBY –Ei, bobo! Toma esta moeda e cante alguma coisa para nós.
MARIA – (Entrando) Que miação é essa ?! Minha patroa vai acabar chamando
Malvólio pra por os três na rua. (Os três continuam a cantar.)
10
MALVÓLIO – Sir Toby, se o senhor mudar a sua conduta será bem-vindo nesta
casa, caso contrário é melhor que se retire.
MARIA – Tenha paciência, homem! Desde que o criado do Duque esteve aqui,
milady anda perturbada. E quanto a Malvólio, pode deixar que eu sei como
cuidar dele.
SIR TOBY – Ela sabe farejar uma boa oportunidade... E me adora. Vamos para
a cama, meu amigo. Precisas de mais dinheiro.
SIR ANDREW – Se eu não conquistar a sua sobrinha , estarei mal das pernas.
Cena IV
DUQUE – Música ! Preciso de música para começar bem o dia. Meu bom
Cesário, só mesmo aquela canção que ouvimos ontem à noite pode aliviar a
dor da minha paixão.
VALENTINO –Vossa Senhoria, deseja que eu chame o bobo ? Ele deve andar
aí pela casa.
DUQUE – Exatamente. Posso jurar que teus olhos já encontraram alguém que
te despertou a paixão. Estou certo, meu rapaz?
FESTE – O senhor tem razão. Mais cedo ou mais tarde pagamos pelo prazer.
DUQUE – Ha, ha, ha! Agora pode se retirar. (Para os criados.) E vocês
também. (Saem Feste, Valentino e os outros.) Cesário, vai novamente à casa
da minha cruel amada. Diz a ela que não me importam os títulos e a riqueza
que o destino lhe concedeu. O que me seduz é aquilo com que a natureza a
enfeitou.
VIOLA – Digamos que alguma dama sinta pelo senhor o mesmo que o senhor
sente por Lady Olívia. E o senhor não a ame. Ela não deve aceitar essa
resposta ?
DUQUE – Não queira comparar o amor que alguma mulher possa ter por mim
e o amor que sinto por Olívia.
VIOLA – Sei muito bem quanto amor as mulheres podem sentir por um homem.
Meu pai teve uma filha que amou um homem da mesma maneira que eu, se
fosse mulher, teria amado o senhor.
VIOLA – Não sei, milorde. Talvez esse segredo lhe tenha devorado o coração.
12
DUQUE –Vai à casa de Lady Olívia e entrega-lhe esta jóia. Diga a ela que meu
amor não tem limites, nem pode aceitar uma recusa.
Cena V
A-
SIR ANDREW – Estou indo. Não quero perder essa tramóia. (Entra Maria.)
SIR TOBY – Aí vem a nossa querida velhaca. E então, meu ouro da Índia?
B-
MALVÓLIO - Tudo é uma questão de sorte. Maria disse que sente muita
admiração por mim, que se ela, um dia, se apaixonasse, seria por alguém
como eu. Além disso ela me trata com muito mais consideração do que aos
outros criados. O que devo pensar disso?
MARIA – Silêncio !
MARIA- Quietos !
MALVÓLIO – Três meses depois de casado, sentado sob meu dossel, mando
chamar os criados... Eu no meu roupão de veludo com ramagens, olhando
Olívia no divã, adormecida...
13
MARIA – Calados!
MARIA – Chiu!
MARIA – Obrigada.
TERCEIRO ATO
Cena I
FESTE – Nada disso. Eu me preocupo com uma coisinha ou outra.. Mas pra
ser sincero, eu não me preocupo com o senhor.
FESTE – Bobos passeiam pela terra como o sol, que brilha em todos os
cantos. Mas eu lembro de ter visto a sua sabedoria na casa do Duque.
15
VIOLA – Posso te dizer que ando doido por uma barba... Sua patroa está em
casa?
FESTE – Minha patroa está em casa. Direi que o senhor está aqui. Só não sei
dizer quem é o senhor e o que deseja. (Sai. Entram Sir Toby e Sir Andrew.)
OLÍVIA – (para Sir Toby e Sir Andrew) Podem me dar licença, cavalheiros?
(eles saem) Qual o seu nome, belo jovem ?
VIOLA – O Duque é seu criado, madame. Dessa forma, sou o criado de seu
criado.
OLÌVIA – Não penso nele. E preferiria que ele não pensasse em mim.
OLÍVIA - Depois da sua última aparição, eu lhe enviei um anel. Receio que
deva ter feito mau juízo de mim. Expus-me bastante. Mas não há como
esconder o que trago no coração.
VIOLA – Então o seu pensamento está certo: eu não sou o que sou.
OLÍVIA – Gostaria que você fosse como eu quero que você seja.
OLÍVIA – (à parte) Ah, que lindo traço de escárnio, lindo mesmo no desprezo
que os seus lábios revelam. Cesário, por minha honra, eu te amo tanto que
apesar de todo o seu orgulho não posso ocultar este sentimento apaixonado.
VIOLA – Minha senhora, eu juro: nenhuma mulher terá meu coração. Adeus,
minha boa Dona Olívia. (Saem.)
Cena II
SIR TOBY – Isso foi uma prova de amor da parte dela em relação ao senhor.
SIR TOBY – Ela se declarou ao rapaz apenas para levá-lo ao desespero, para
despertar o fogo no seu coração. O senhor devia ter esmurrado o rapaz até
deixá-lo caído. Isso era o que se esperava do amigo. Uma oportunidade
dessas e o senhor deixou passar. Agora tem que se redimir com um ato de
coragem .
SIR ANDREW – É ?
SIR TOBY – Vai e desafia o criado do Duque para uma briga. Pode ficar certo
de que nada no mundo pode persuadir uma mulher quanto um ato de coragem.
17
SIR TOBY – Vai, escreve. Seja feroz e lacônico. Insulte o rapaz. Chame-o de
falso e mentiroso. Vai, anda! (Sir Andrew sai. Entra Maria.)
SIR TOBY – Eu é que tenho sido caríssimo para ele- uns dois mil,por aí.
MARIA – O senhor precisa vir comigo para ver algo realmente impagável.
Cena III
SEBASTIÃO - Eu não queria incomodar, mas já que insiste, não está mais
aqui quem falou.
ANTONIO – Fiquei preocupado. Esta região pode ser bem perigosa para um
estranho sem guia e sem amigos.
SEBASTIÂO – Obrigado,meu bom Antonio. Só sinto não ter como pagar tanta
lealdade. O que vamos fazer agora? Ver os pontos famosos da cidade?
ANTONIO – Não sei me esconder. Tome esta bolsa: meu dinheiro está aí. Lá
pelo lado sul há um bom lugar para a gente ficar – o Elefante. Vou na frente e
encomendo nossa refeição, enquanto isso o senhor passeia um pouco pela
cidade. Depois nos encontramos.
Cena IV
OLÍVIA- (à parte) Mandei chamá-lo e ele diz que vem. Como posso agradá-
lo? (para Maria) Onde está Malvólio ?
MARIA – Não sei, madame. Mas seria melhor ter alguém por perto quando ele
aparecer.
OLÍVIA – Loucura por loucura, estou tão doida quanto ele. (Entra Malvólio.)
Ah, aí está você, Malvólio!
OLÍVIA – Tire esse sorrisinho do rosto. Tenho um assunto sério para tratar.
OLÍVIA – Vou falar com ele. (A Dama sai.) Maria, onde está o tio Toby ?
Encontre-o e cuidem de Malvólio. (Saem Olívia e Maria.)
MALVÓLIO – Sir Toby para cuidar de mim? Isso bate com a carta: ela o manda
de propósito, para que eu me rebele. (Entram Sir Toby, Sir Andrew e Maria)
MARIA - Sir Toby, minha patroa pediu que o senhor cuidasse dele.
SIR TOBY – Vamos nos aproximar com calma. Tudo bem, Malvólio? O que há
com você? Vamos, homem, desafie o demônio! Ele é o inimigo.
MALVÓLIO – Ah-há !
SIR TOBY – Quieta! Você não está vendo que ele fica mais alterado?
SIR ANDREW – Claro! Aqui está. Garanto que tem pimenta e vinagre.
SIR TOBY – Deixe eu ver. (Lê.) “Você não passa de um moleque idiota.”
Bom. “Você mente pelos cotovelos e por isso vai provar da minha ira.”
MARIA – Bom.
SIR TOBY – “Que Deus tenha pena da sua alma! Tome cuidado. Do seu
inimigo declarado...!”
SIR TOBY – Se esta carta não fizer ele se mexer é porque as pernas dele não
funcionam. Eu entrego a carta.
SIR TOBY – Sir Andrew, fique de tocaia no jardim. Quando ele sair, saque a
espada e grite uns bons desaforos. A arrogância dá mais credibilidade a um
macho.
SIR TOBY – Esta carta é uma bobagem. Não vou entregá-la a um sujeito
esperto como este. A carta não vai causar medo. Vou procurar esse criado e
descrever Sir Toby de tal maneira que ele ficará completamente amedrontado.
(Entram Olívia e Viola. Sir Toby e Maria se escondem.)
OLÍVIA – Tome esta jóia com o meu retrato. Não recuse, eu lhe suplico. E
volte amanhã. Não tenho como negar nada que você queira me pedir.
OLÌVIA – Como posso dar a ele o que já dei a você ? Volte amanhã. Passe
bem. (Sai. Surge Sir Toby.)
21
VIOLA – Senhor ?
SIR TOBY – Quem avisa, amigo é. Tome cuidado com o cavalheiro que o
espera lá fora. Ele é sanguinário e está cheio de ódio. É bom já sair com a
espada na mão porque ele é rápido e mortal.
VIOLA – Mas eu não fiz nada que pudesse despertar o rancor de alguém.
SIR TOBY – Farei o que for possível. (Viola sai. Entra Sir Andrew.)
SIR TOBY — Certo, mas agora é que ele não vai se acalmar. Eu mal consegui
contê-lo.
SIR ANDREW — A peste negra que o carregue! Vamos deixar tudo por isso
mesmo, e eu ainda lhe dou meu cavalo de presente.
SIR TOBY — Vou até lá propor a troca. Fique aqui e faça pose de valente. Isso
ainda vai terminar sem que se perca nenhuma alma. (À parte) E eu vou montar
o seu cavalo como já monto em você. (Entra Viola.)
SIR TONY — (Para Viola) Não tem jeito, ele insiste em duelar.
SIR TOBY — (À Sir Andrew.) Sir Andrew, não tem jeito. O cavalheiro insiste
em lutar por sua honra. Mas ele me prometeu que não vai machucá-lo muito.
Vamos à luta. (Entra Antônio. Sir Andrew e Viola empunham suas espadas.)
VIOLA — Que dinheiro, sir? Pela sua gentileza posso lhe dar alguma coisa do
que tenho. (Oferece dinheiro a Antônio.)
VIOLA — Nem o conheço, senhor. E tenho horror à ingratidão que para mim é
pior que a mentira.
SIR TOBY — Que rapaz mesquinho ! O amigo precisando e ele fingindo que
não o conhece. Mais covarde do que esperto.
SIR ANDREW — Por Deus! Vou atrás dele, e lhe dou uma surra. (Saem.)
23
QUARTO ATO
Cena I
NARRADOR – Quarto ato. Numa rua da Ilíria, Feste – o bobo – fala com
Sebastião.
SEBASTIÃO — Vai dar asas à sua sandice em outro lugar. Você não me
conhece.
FESTE — Dar asas à minha sandice! Devo dar asas a uma frase do tipo que
comunica que o senhor já está indo?
SIR ANDREW — Ora, quem é vivo sempre aparece! Pois toma esta! (Bate em
Sebastião.)
SIR TOBY — Meu jovem, guarde a espada, já vimos que sabe usá-la.
SIR TORY — Ora, ora! Pois vou dar conta desse valentão. (Desembainha a
espada. Entra Olívia.)
OLIVIA —Seu lugar é nas cavernas, entre os bárbaros. Saia daqui, seu
grosseirão! (Saem Sir Toby e Sir Andrew.). Não fique ofendido, meu caro
24
Cesário. Eu te peço, venha comigo à minha casa. Quem sabe não achará até
graça no que aconteceu.
Cena II
NARRADOR - Na casa de Olivia. Maria tenta convencer Feste – o bobo – a
fazer parte de sua conspiração contra Malvólio.
MARIA — Vamos, enfia este hábito, e coloca esta barba. Faça ele acreditar que
você é o vigário, Mestre Topázio. Enquanto isso, vou chamar Sir Toby. (Sai.)
(Malvólio de dentro.)
MALVÓLIO — Mestre Topázio, não pense que estou louco. Eles me puseram
aqui, nesta escuridão hedionda.
MALVÓLI0 — Não estou louco, Mestre Topázio. Isto está escuro como o
inferno.
MARIA — Você poderia ter feito isso sem barba e sem hábito; ele não te
enxerga.
SIR TOBY — Conversa com ele, mas agora com a tua voz, e depois vem me
contar o que achaste dele. Estou tão malvisto pela minha sobrinha que não
tenho como prosseguir com a nossa diversão. Venha depois aos meus
aposentos. (Sai, com Maria. FESTE canta uma canção.)
FESTE — Tanto quanto eu? Mas então o senhor está louco varrido.
MALVÓLI0 — Meu bom bobo, tire-me daqui. Juro que estou em meu perfeito
juízo.
Cena III
SEBASTIÃO – Onde foi parar Antonio? Disseram que ele me procurou pela
cidade toda . Um conselho dele agora valeria ouro. Ou eu estou louco, ou
Olívia é que é louca. (Entra Olívia.)
26
OLÍVIA – Por favor, não censure minha pressa. Se as suas intenções são
boas, venha comigo até a capela. Lá, diante do vigário, me dê a sua palavra
para que eu possa ficar em paz. Manteremos isso em segredo, até que você
esteja disposto a celebrar nossa união.
QUINTO ATO
Cena 1
FESTE — Para falar a verdade, senhor, tenho vivido melhor com os inimigos e
pior com os amigos.
DUQUE — Ora, essa é ótima. Aí tens: uma moeda de ouro para ti.
DUQUE — Se você avisar à sua patroa que estou aqui para conversar com ela,
e mais: se você a trouxer até aqui, isso pode despertar a minha generosidade.
VIOLA — Ele foi gentil, senhor, e sacou da espada em minha defesa, mas
depois veio com uma conversa estranha que parecia um delírio.
DUQUE — Meu notório pirata, o que te levou a cair nas mãos dos teus
inimigos?
ANTÔNIO — Milorde, o que me trouxe aqui foi esse rapaz aí do seu lado, um
ingrato que eu resgatei do mar enfurecido e lhe ofereci a mais pura devoção.
27
Por causa dele eu me expus aos riscos desta cidade. Peguei minha espada
para defendê-lo quando o vi cercado. Quando me prenderam , revelou sua
natureza falsa e dissimulada: parecia nem me conhecer e ainda negou-me a
minha própria bolsa de dinheiro que eu lhe entregara para guardar.
ANTÔNIO — Hoje, milorde, E por três meses antes disso andávamos juntos
dia e noite. (Entram Olívia e serviçais.)
OLIVIA — O que deseja, milorde, fora aquilo que o senhor não pode ter ? E
você, Cesário, não está cumprindo sua promessa para comigo.
VIOLA — Madame...
VIOLA — Meu amo deseja falar-lhe, e meu dever exige que eu me cale.
VIOLA — E eu, com alegria, morro mil vezes, se é para confortá-lo, senhor.
VIOLA — Vou com aquele a quem amo mais que minha própria vida.
DUQUE — Esposo?!
DUQUE — Ah, víbora traiçoeira! Fica com ela e nunca mais cruze o meu
caminho.
SIR ANDREW — Ele me feriu e ainda por cima rachou a cabeça de Sir Toby.
Ai, meu Deus!
DUQUE — Cesário?!
SIR ANDREW- Minha nossa senhora, e não é que ele está aqui! Foi Sir Toby
quem me atiçou contra o senhor.
SEBASTIÃO — Olívia, peço desculpas por ter machucado o seu tio. Mas eu
não poderia deixar por menos. Posso ver que de algum modo a ofendi.
Perdão. Pelos votos com que nos unimos há tão pouco tempo.
SEBASTIÃO — Antônio! Ah, meu caro Antônio, você não pode imaginar como
me preocupei desde que me perdi de você!
VIOLA — Se é essa roupa masculina o que impede nossa alegria, vou procurar
um capitão que está com o meu vestido de luto; pois foi ele que me salvou e
me levou para servir a este nobre duque.
DUQUE — (Dirigindo-se a Viola) Meu rapaz, você me disse mais de mil vezes
que jamais poderia amar uma mulher tanto quanto me ama .
VIOLA — O capitão que está com as minhas roupas foi preso a pedido de
Malvólio, o mordomo de Lady Olivia.
OLÍVIA — Pois chamem Malvólio. Mas, estou lembrando agora que ele anda
perturbado da cabeça. Libertem-no imediatamente ! (Para o Duque) O senhor
pode me aceitar como sua cunhada e juntos festejaremos as nossas uniões
aqui em minha casa.
DUQUE – Madame, sua oferta é tentadora. (Para Viola) O seu amo não
precisará mais de seus serviços. A partir de agora, você é a senhora de seu
senhor. (Entra Malvólio.)
30
OLÍVIA – Malvólio, não fui eu quem escreveu esta carta. A letra se parece com
a minha, mas isso são artes de Maria, uma brincadeira arquitetada com muita
astúcia. Você pode processá-la por isso.
MARIA – Minha boa senhora, quero confessar que Toby e eu preparamos essa
armadilha para Malvólio por causa de algumas atitudes dele. Eu escrevi a
carta, a pedido de Sir Toby; como recompensa ele se casou comigo.