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RESUMO
Este trabalho tem como perspectiva, a partir do campo da análise
institucional, apresentar a noção de implicação como uma dimensão
que nos permite compreender a intervenção institucional em sua
complexidade. Tal noção nos auxilia a compreender os interstícios
da intervenção, seus meandros, seus rumores. Ela se circunscreve
sob duas dimensões: a que diz respeito aos processos institucionais
inconscientes que possibilitam ao analista estar ali; e a que diz respeito
ao próprio analista, que se vê implicado em sua prática institucional.
O processo analítico que se desenha nesee encontro possibilita a
construção de um conhecimento implicado e compartilhado - uma
produção de conhecimento tanto do analista como da instituição -,
processo de construção de conhecimento que se dá sob o signo da
alteração.
Palavras-chave: Implicação. Construção de conhecimento. Análise
Institucional.
ABSTRACT
This work has the perspective. from the field of institutional analysis,
introduce the notion of implication as a dimension that allows us to
understand the institutional intervention in its complexity. This notion
helps us understand the interstices of intervention, their intricacies,
their rumors. It is limited under two dimensions: one that concerns the
institutional processes unconscious that allow the analyst to be there.
Another dimension concerns the analyst himself, who finds himself involved
in institutional practice. The analytical process that draws on this date
allows the construction of a knowledge involved and shared-a knowledge
of both the analyst and the institution-building process of knowledge that
takes place under the sign of the change.
Keywords: Implication. Knowledge construction. Institutional analysis
* Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional, Universidade Estadual de Londrina
Programa de Pós-Graduação em Psicologia - UNESP/Assis. Email: jbmartin@sercomtel.com.br
RESUMEN
Este trabajo tiene la perspectiva desde el campo del análisis institucional,
introducir la noción de implicación como una dimensión que nos permite
comprender la intervención institucional en su complejidad. Esta noción
nos ayude a entender los intersticios de la intervención, sus complejidades,
sus rumores. Ella es limitada en dos dimensiones: una que se refiere a los
procesos institucionales desconocen que permite al analista estar allí. Otra
dimensión refiere a la analista, que se encuentra involucrado en la práctica
institucional. El proceso analítico que se basa en esta fecha permite la
construcción de un conocimiento participan y comparten un conocimiento
del analista y el proceso de institucionalización del conocimiento que se
desarrolla bajo el signo del cambio.
Palabras clave: Implicación. Construcción de conocimiento. Análisis
institucional
1. INTRODUÇÃO
T
omando como ponto de partida o desenvolvimento da psicologia, podemos
dizer que ela, enquanto um campo científico que nasceu na segunda
metade do século XIX, na Europa, numa sociedade capitalista industrial, se
desenvolveu através do embate de alguns paradigmas inconciliáveis (Figueiredo,
1991, 1993). Apesar de essa disciplina se estruturar a partir de uma unidade
- unidade esta que se subsidiou nos parâmetros científicos da época (os das
ciências naturais) -, ela se estabeleceu no universo da ciência muito mais
como um discurso ideológico, uma vez que se constituiu como instrumento
das necessidades da sociedade em que nasceu, com o objetivo de selecionar,
orientar, adaptar e racionalizar, visando, em última instância, a um aumento da
produtividade (Patto, 1984).
Cabe registrar, no entanto, que, ao longo dos anos, novos caminhos foram se
circunscrevendo para essa ciência, com caminhos não tão próximos ao modelo
das ciências naturais. Assim, as influências das correntes das ciências sociais mais
críticas tiveram seu efeito sobre a prática do psicólogo e sua produção teórica.
Dentro desse contexto, localizamos o movimento da análise institucional1 como 2
um campo extremamente importante, uma vez que abriu novos caminhos para
a prática psi nas instituições.
A seguir, apresentamos algumas ideias que localizam a emergência da análise
institucional, estabelecendo um novo campo de coerência, no âmbito das ciências
humanas, bem como uma discussão teórica acerca do processo de produção
1 Cabe esclarecer que, ao nos referirmos ao movimento de análise institucional, estamos nos remetendo ao movimento que se
consolidou na França, após a Segunda Guerra Mundial, e que teve como expoentes autores como Lapassade e Lourau (1972).
2. DA ANÁLISE INSTITUCIONAL
Segundo Hammouti (2002), podemos localizar a emergência da teoria da
análise institucional após a Segunda Guerra Mundial, a partir das experiências
de psiquiatras e psicólogos que trabalhavam com doentes mentais nos hospitais
psiquiátricos. Essas atividades se apoiavam no reconhecimento da dimensão
política implicado no tratamento psiquiátrico, o que trouxe uma mudança
fundamental na abordagem dos pacientes, uma vez que a cura passou a ser
considerada não mais a partir das relações terapêuticas estabelecidas entre
médico/psiquiatra e o doente, mas da instituição, de seu funcionamento
organizacional. Lourau (1996) denomina essa fase de humanização das relações
hospitalares como empírica, circunscrita no contexto da ocupação nazista e que
se baseava numa concepção militante e política marxista contra qualquer forma
de opressão, inclusive na relação psiquiatra-doente mental.
Após a Segunda Guerra Mundial, ainda segundo Hammouti (2002), novas
técnicas foram importadas dos Estados Unidos, as psicoterapias de grupo. A
introdução do psicodrama de Moreno vai desempenhar um papel importante,
assim como as técnicas de “psicoterapia ocupacional” (ergoterapia, socioterapia,
técnicas ativas, técnicas Freinet).
Na esteira de Moreno, falava-se em “revolução sociométrica”: a terapia de
grupo implica a constituição de uma comunidade terapêutica. Aparecem as
“reuniões de síntese”, os “coletivos terapêuticos”, as “oficinas”, as “reuniões de
pavilhão”, todo um tecido de encontros que dão uma nova forma à
organização hospitalar e que transformam as relações sociais na instituição.
(Hess & Savoye, 1993, 11-12).
Lourau (1996) caracterizou esse momento do movimento como ideológico,
que se caracterizou pela ressocialização dos doentes, por meio da nova
organização da vida em grupo, no interior do hospital. A expressão psicoterapia
institucional aparece pela primeira em Daumezon e Koechlin (1952), no artigo
La psichoterapie institutionnelle française contemporiane (publicado nos Anais
Portugueses de Psiquiatria, n. 4).
O momento denominado por Lourau (1996) como teórico é marcado pelo
processo de teorização dos fenômenos institucionais. Segundo Hammouti
(2002),
análise institucional.
2 O que será qualificado mais tarde por Lourau como sobreimplicação. Ver Lourau, 2004b: 186-198).
3. DA IMPLICAÇÃO
Ardoino vai localizar a questão da implicação reconhecendo sua importância
para a consolidação da análise institucional, cuja elaboração teórica estava sendo
efetivada por um grupo de pesquisadores da Maison de Sciences de l’Homme.
Num primeiro momento, esse autor estabelece uma distinção:
Lembramos que é necessário distinguir [...] entre as implicações libidinais, identificadas pelos
psicólogos, examinando as pulsões, os fantasmas, as tendências, as motivações, a memória
dos indivíduos como o inconsciente e as implicações institucionais, sócio-econômico-
políticas, ligadas às posições sociais, aos status, aos pertencimentos, às ideologias, melhor
analisadas pela sociologia. (Ardoino, 1983, p. 19).
Para esse autor, a implicação se revela muito mais como um modo de ser,
opaco à consciência, entendendo a noção de implicação num sentido psicológico,
a partir da qual os analistas institucionais puderam fazer “do conhecimento
e da análise da implicação um pretexto para uma démarche crítica, recusando
sem pena os behaviorismos e, mais geralmente, o imperialismo das abordagens
quantitativas ou dos modelos positivistas”. (Ardoino, 1983, p. 19).
Ardoino reconhece nesse texto que a noção de implicação ainda não tinha
sido trabalhada suficientemente, mas as interrogações a que ela nos conduz
situam-se sobre um plano mais epistemológico do que metodológico, uma vez
que tal noção aparece como
Implicações primárias:
1. implicações do pesquisador-prático, em relação ao seu objeto de pesquisa/
intervenção
2. implicação em relação à instituição de pesquisa ou outra instituição de
pertencimento, e em relação à equipe de pesquisa/intervenção
3. implicação em relação ao comando social e às demandas sociais
Implicações secundárias:
4. implicações sociais, históricas, dos modelos utilizados (implicação
epistemológica)
5. implicações dentro da escritura ou em todo outro meio que serve para
exposição da pesquisa. (Lourau, 1983, p. 17).
O vivido não é um mundo à parte, mas a trama da pesquisa como da formação e de todas
as nossas atividades, diurnas ou noturnas. Seria, portanto, diminuí-lo, até suprimir toda
sua importância, isolá-lo das diversas operações que fazem de toda pesquisa (e não somente
da pesquisa-ação) uma série interminável de atos falhos. Somente a análise das implicações
permite compreender e transformar relativamente os atos falhos da pesquisa em ciências
sociais. (Lourau, 1983, p. 18).
3 Palestra Análise institucional: gênese, atualidade e perspectivas proferida, em 1998) na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Faculdade de Psicologia. Porto Alegre.
[...] o tipo de análise em questão não tem mais grande relação com a análise entendida
etimologicamente (decomposição, redução do complicado em elementos mais simples). É
mais uma sagacidade (perspicácia), vinculada a um processo de acompanhamento numa
duração, a intimidade partilhada, donde [...] os exemplos psicanalítico, socioanalítico,
etnológico, etnográfico, e até etnometodológico, podem nos dar alguma ideia. (Ardoino,
1990, p. 38).
Tal perspectiva, tanto para o plano da pesquisa como para o plano das práticas
sociais, permite-nos um reconhecimento mais profundo de elementos até então
desconsiderados (principalmente no que se refere à pesquisa) sobre os processos
relacionais, possibilitando-nos uma reapropriação da experiência pela abertura
ao desconhecido, pela disponibilidade para a alteração e, por consequência, para
a heterogeneidade, para a escuta do inefável.
Em outro lugar (Martins, 1995), tivemos a oportunidade de assinalar as
vicissitudes inerentes à relação sujeito e objeto, em que se apontou a necessidade
de reconhecermos a imprevisibilidade que essa relação traz em si mesma, por conta
da situação de alteração que a circunscreve. Na feitura desse trabalho, pudemos
vivenciar situações que não nos permitiram manter a “clássica” relação entre
sujeito e objeto, aquela prevista nos livros e manuais. O trabalho, a dissertação
em si, foi-se dando à medida que foram se esclarecendo as implicações inerentes
às relações que se estabeleceram durante o trabalho de campo. Isso significa
dizer que a análise das implicações passou a ser o fio condutor do processo de
construção de conhecimento4. 5
Eu não posso analisar minhas implicações sozinho em meu canto. Os dispositivos de análise
que construímos são, pois, sempre coletivos e, geralmente, temos vários analistas em cada
intervenção. Sempre presentes no trabalho de análise, podemos distinguir dois tipos de
implicações, primárias e secundárias. Para simplificar, podemos dizer que nossas implicações
primárias são nossas implicações dentro da própria situação de intervenção e as secundárias
são nossas implicações do campo de análise. [...] Dessa forma, essa primeira abordagem da
questão da implicação na situação de intervenção ... permitiu uma segunda perspectiva de
intervenção ... que são as implicações dos pesquisadores na própria pesquisa. (Monceau,
2008, p. 22).
O autor continua:
4 Ver Paulon (2005), que traz uma análise semelhante à que desenvolvemos aqui.
REFERÊNCIAS
Ardoino, J. (1983). Polysémie de l’implication. Pour, 88, 19-22.
Ardoino, J. (1990). L’analyse multiréférentielle des situations sociales. Psychologie
Clinique, 3, 33-49.
Ardoino, J., Barbier, R., & Giust-Desprairies, F. (1998). Entrevista com Cornelius
Castoriadis. In J. G. Barbosa (Coord.). Multirreferencialidade nas ciências e na
educação. (pp. 50-72).São Carlos: Editora da UFSCar.
Boumard, P.; Hess, P. & Lapassade, G. (1987). L’université en transe. Paris: Syros.