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Volume 4
Alessandro Rocha
Luiz Antonio Luzio Coelho
Maria Clara Cavalcanti
Stella de Moraes Pellegrini
Ilhéus, 2012
Reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Vice-reitor
Prof. Evandro Sena Freire
Pró-reitor de Graduação
Prof. Elias Lins Guimarães
Ministério da
Educação
Capa
Sheylla Tomás Silva
Impressão e acabamento
JM Gráfica e Editora
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-85-7455-288-0
CDD 372.4
Elaboração de Conteúdo
Prof. PHD Alessandro Rocha
Prof. PHD Luiz Antonio Luzio Coelho
Profª. Esp. Maria Clara Cavalcanti
Profª. PHD Stella de Moraes Pellegrini
Instrucional Design
Profª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira
Profª. Ma. Cibele Cristina Barbosa Costa
Profª. Drª. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes
Revisão
Prof. Me. Roberto Santos de Carvalho
EMENTA
A interação leitor/escritor; texto/contexto: a função social da
leitura e escrita. Leitura e escola: cultura, poder e convivência
social. Os diversos portadores de texto (impressos e
imagéticos). A formação do leitor. Leitura e produção de texto
na alfabetização e nas séries iniciais.
Alessandro Rocha
Pós-doutor em Letras, Doutor e Mestre em Teologia, Especialista em Gestão do Ensino
Superior e em Filosofia, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia. Pesquisador da
Cátedra UNESCO de Leitura da PUC-Rio.
E-mail: alessandro.reler@esp.puc-rio.br
Prezado/a Aluno/a,
Este módulo foi preparado por pesquisadores que desenvolvem seu trabalho
na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. Nossas pesquisas têm como fio condutor as
diretrizes que nortearam a criação do Proler – Programa Nacional de Incentivo à
Leitura, idealizado pela Profª. Eliana Yunes, na gestão do Prof. Affonso Romano
de Sant’ Anna, na Fundação Biblioteca Nacional, entre 1992 e 1996. Dessa forma
consistem mais em reflexões críticas que podem auxiliá-lo a compreender a leitura em
outra dimensão e, a partir daí, assumir, com autonomia, a responsabilidade cidadã
de contribuir com sua formação para criar no país uma sociedade leitora. Fogem,
portanto, das “receitas prontas” que se encontram nos Manuais Escolares, nos Livros
Didáticos ou no material criado para “facilitar” o trabalho do professor. Para seu
conhecimento, apresentamos os pressupostos teóricos e os princípios pedagógicos que
orientam nossa produção.
OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
• Quarto: Sendo a leitura percebida como prática de vida, ela não pode
estar confinada às aulas de Língua e Literatura e deve percorrer todo o
espaço da aprendizagem, da história às matemáticas, da ciência à filosofia.
Portanto, a noção da territorialidade da linguagem é um pressuposto para
a prática da leitura, que desnuda versões, posturas e objetivos de quem
narra (=produz) fatos, descobertas, imaginário.
• Oitavo: Estes núcleos, nas regiões e municípios em que se instalam para uma
ação pedagógica de longo curso, devem estar formalmente amparados por
acervos adequados à promoção da leitura: bibliotecas públicas, salas de
leitura, em espaços diversos, de forma a viabilizar a convivência dos leitores
com livros, imagens e textos diferentes. [...].
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................21
2 INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS SOBRE OS LUGARES DE SENTIDO .............22
1.1 Intenção do autor ...................................................................... 22
1.2 Intenção do texto ...................................................................... 23
1.3 Intenção do leitor ...................................................................... 24
3 A INTERAÇÃO LEITOR/ESCRITOR - TEXTO/CONTEXTO ......................25
4 BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E
SUA COMPREENSÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TEXTO E LEITOR .......26
4.1 Friedrich Schleiermacher ............................................................ 27
4.2 Wilhelm Dilthey .......................................................................... 27
4.3 Martin Heidegger ........................................................................ 29
4.4 Hans Georg Gadamer .................................................................. 30
5 A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA ..........................................................32
ATIVIDADES ............................................................................................. 36
RESUMINDO ............................................................................................. 37
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 38
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................43
2 LEITURA E CIDADANIA ......................................................................43
3 UMA ESCOLA PARA TODOS .................................................................49
4 LEITURA E ESCOLA .............................................................................53
5 LEITURA E PODER ..............................................................................59
6 LEITURA PARA ALÉM DA ESCOLA .......................................................64
ATIVIDADES ............................................................................................. 76
RESUMINDO ............................................................................................. 81
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 82
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................89
2 NO PRINCÍPIO ERA O VERBO .............................................................90
3 A NATUREZA DA IMAGEM ...................................................................95
4 O LETRAMENTO OU LITERACIA NA IMAGEM .......................................98
5 O SENTIDO DA VISÃO NA LEITURA ....................................................99
6 LEITURA E IMAGEM: IDENTIDADE E LEGIBILIDADE ...........................100
ATIVIDADES ............................................................................................. 103
RESUMINDO ............................................................................................. 105
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 105
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................113
2 FORMAR LEITORES? ...........................................................................115
3 LEITOR... LEITOR DE QUÊ? LEITOR PRA QUÊ? ....................................119
4 GRÃOS VIZIRES - ESSES ANDARILHOS COMPROMETIDOS..................123
ATIVIDADES ............................................................................................ 132
RESUMINDO ............................................................................................. 133
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 134
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................139
2 SEMEADURAS E COLHEITAS ...............................................................140
3 APERTEM OS CINTOS, A LEITURA VAI COMEÇAR OU PASSAPORTE
CARIMBADO .......................................................................................145
4 ALGUNS CAMINHOS... ........................................................................149
ATIVIDADES ............................................................................................ 155
RESUMINDO ............................................................................................ 157
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 158
A INTERAÇÃO LEITOR/
ESCRITOR - TEXTO/
CONTEXTO:
A FUNÇÃO SOCIAL DA
LEITURA E ESCRITA
Prof. PHD Alessandro Rocha
1Unidade
1 INTRODUÇÃO
22 Pedagogia EAD
1
a decifração dos códigos sintáticos e estruturais do texto,
Unidade
chega-se à ideia original do autor, à intentio auctoris. Numa
palavra, pressupõe-se que o autor consiga transmiti-la
através do texto que escreve, não só porque está capacitado
a pensar e comunicá-la de forma escrita, mas também pela
pressuposição fundamental de que a intentio auctoris está
disponível e identificável no texto.
Nesse caso, o papel do leitor é dominar um conjunto
de técnicas e aplicá-las corretamente. Se lhe forem fornecidas
as habilidades necessárias, e se dispuser dos instrumentais
indispensáveis, o leitor pode alcançar através do texto a
intenção do autor e aí o sentido último do próprio texto. O
desafio do leitor é decodificar a sintaxe e a estrutura textuais
para tocar com dedos e mente a intentio auctoris.
24 Pedagogia EAD
1
CONTEXTO
Unidade
Figura 1.1 - Interação Leitor - Escritor. Fonte: http://rogerandmore.deviantart.com/art/keep-
on-reading-151817544?q=boost%3Apopular%20reading&qo=990
relações. Hermenêutica é um
ramo da filosofia que es-
No âmbito da hermenêutica, é possível afirmar a tuda a teoria da interpre-
tação, que pode referir-se
relação leitor/texto como constitutiva de sentido. Em tanto à arte da interpre-
outras palavras, na hermenêutica é possível trazer a lume tação, ou à teoria e ao
treino de interpretação.
o olhar “adiante do texto”. A adesão à hermenêutica A hermenêutica filosófica
26 Pedagogia EAD
1
Dilthey, Martin Heidegger e Hans Georg Gadamer. A
Unidade
seguir são apresentados alguns conceitos defendidos por
estes filósofos, mostrando a variedade de abordagens
pelas quais se pode refletir sobre o tema.
28 Pedagogia EAD
1
denúncia do racionalismo moderno e sua dependência
Unidade
do método, onde o caminho para a verdade é sempre
determinado objetivamente, sendo o papel do cientista a
explicação isenta de realidades objetivas.
O compreender coloca o saber diante de princípios
indeterminados próprios da dimensão do espírito, em
suma, da própria vida e sua dinâmica. A experiência
constitui-se o espaço concreto do saber e, a leitura não
pode prescindir disso, o leitor e todo o seu contexto
precisam estar conscientes diante do texto lido.
30 Pedagogia EAD
1
intérprete e texto; dialética entre pergunta e resposta;
Unidade
abertura à tradição. Desta compreensão da historicidade
do ser surge a relação dialógica que se efetua pela
linguagem através da tradição. (2002, p. 557-709). H.
G. Gadamer dedica a terceira parte da obra Verdade e
Método à discussão da importância da linguagem para
a hermenêutica. (GADAMER, Hans-Georg. Op Cit. p.
557-709). Perceber seu próprio horizonte e também o do
texto com que se está lidando é fruto dessa dialogicidade.
Nesse momento hermenêutico ocorre tanto a percepção
de horizontes – o do texto e seu mundo e do leitor e seu
mundo –, como a relação de ambos pela intensificação
do processo dialógico, o que H. G. Gadamer chamou
de fusão de horizontes. Para ele, “o horizonte do
presente não se forma, pois, à margem do passado. Nem
mesmo existe um horizonte do presente por si mesmo
[...] compreender é sempre o processo de fusão desses
horizontes” (2002, p. 457).
Nesse sentido, compreender é tarefa que só se
realiza no encontro dos horizontes do passado (do atrás
do texto) com o presente (o diante do texto). A relação
autor-texto abre-se ao protagonismo de homens e
mulheres que aqui e agora identificam suas histórias com
aquelas fixadas em certas textualidades. Não há, portanto,
um sentido dado desde sempre habitando um não lugar,
mas, antes, a única possibilidade de afirmá-lo no chão
concreto onde homens e mulheres pisam e constroem
suas histórias. Nesse processo que H. G. Gadamer
chama de fusão de horizontes, ocorre o intercâmbio de
significados possibilitando a compreensão.
32 Pedagogia EAD
1
a pessoa numa dinâmica mais integradora do ser. A leitura,
Unidade
sobretudo a leitura literária, permite ao humano ser pleno.
À medida que se entra em contato com o universo
literário, o eu é mais plenamente percebido, inclusive em
toda a sua potencialidade de transcendência, exatamente
porque ele entra no mundo de um outro. Ler é criar e habitar
outros mundos possíveis. Além disso, a literatura desatrofia
dimensões do humano que nenhum outro tipo de leitura
pode fazer (Cf. YUNES, 2009, p. 30-31).
Por exemplo, observemos o que nos diz a poesia de
Alberto Caeiro:
34 Pedagogia EAD
1
seus poucos disfarces. O astrônomo lendo
Unidade
um mapa de estrelas que não existem mais;
[...] o zoólogo lendo os rastros de animais
na floresta; o jogador lendo os gestos do
parceiro antes de jogar a carta vencedora;
[...] o tecelão lendo o desenho intrincado
de um tapete sendo tecido; o organista
lendo várias linhas musicais simultâneas
orquestradas na página; os pais lendo no
rosto do bebê sinais de alegria, medo ou
admiração [...] – todos eles compartilham
com os leitores de livros a arte de decifrar
e traduzir signos (2002, p. 15).
ATIVIDADES
ATIVIDADES
36 Pedagogia EAD
1
RESUMINDO
Unidade
RESUMindo
A leitura é uma experiência que envolve a necessidade
de interpretação. Aquele que interpreta o faz a partir de
uma pré-compreensão surgida de seu próprio contexto
vital, ou seja, quem interpreta o que lê, o faz a partir do
próprio repertório, das próprias experiências de vida. Essa
interação, porém, só é possível porque o texto guarda em
sua constituição uma reserva de sentido. A hermenêutica
filosófica permite afirmar que esta relação em que leitor
e texto interagem é constitutiva de sentido e que o texto
literário é um texto que diz, ou seja, existe sempre um
possível sentido por vir. O texto literário não pode ser
entendido como um depósito fechado. Existem outras
possíveis leituras. Quem lê um texto, o faz a partir do seu
próprio lugar e isso faz com que o leitor esteja implicado
na leitura, que o contexto esteja presente no texto lido. A
interação do leitor com o texto coloca-se, portanto, no nível
mais importante das discussões sobre a leitura porque é
nesta relação que se dá a constituição do ser, a possibilidade
de intervenção sobre o mundo e de construção da própria
história. A leitura do texto e do mundo são dinâmicas que
se reclamam mutuamente: lendo o texto lemos o mundo e,
lendo o mundo, somos devolvidos transformados ao texto.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
RE
EFE
F R
38 Pedagogia EAD
1Unidade
YUNES, Eliana. Tecendo um leitor. Uma rede de fios
cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.
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LEITURA E ESCOLA:
CULTURA, PODER E
CONVIVÊNCIA SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
2
Esta unidade propõe uma reflexão crítica sobre um
Unidade
tema que tem se configurado um desafio em nosso país: o
acesso do povo à educação. Pensar esta questão exige que
nos debrucemos sobre a história da educação no Brasil nos
últimos cento e vinte anos, ou seja, a partir da instauração da
República, quando o projeto educacional para a instituição
de uma escola democrática, gratuita e laica passa a dar suporte
ao ideal de construir a Nação. No percurso proposto, vamos
descortinando o caráter eminentemente político da educação
e a importância da leitura nesse processo, por favorecer o
acesso ao conhecimento. Questões como cidadania, direito
à educação de qualidade, função da escola na formação do
leitor, relações entre leitura e escola, leitura e poder, leitura
transcendendo os muros da escola são revisitadas à luz de
uma perspectiva que vê a leitura como “experiência de se
pensar pensando o mundo” (YUNES, 2002).
Nesta unidade será criado, ainda, o “Fórum
de Leitura”, que servirá como espaço para a troca das
experiências vividas com a leitura e reflexão dos temas
abordados. Bom trabalho!
2 LEITURA E CIDADANIA
44 Pedagogia EAD
2
a devida compatibilização com a série histórica, conforme
alerta o documento, e que a condição de alfabetizado para
Unidade
o IBGE é garantida, atualmente, pela habilidade de escrever
um bilhete simples.
Analisando estes dados, observa-se que, decorrido
mais de um século, a formação de uma sociedade leitora
permanece, ainda hoje, como um grande impasse para
a construção de uma nação justa, onde todos tenham
acesso às mesmas oportunidades, como se impõe numa
democracia. Dessa forma, temas discutidos desde o início
do período republicano insistem em nos cobrar soluções,
principalmente na qualidade de cidadãos, por meio de
perguntas absurdamente simples, entretanto pateticamente
incômodas, diante do conformismo que se vai consolidando
na sociedade.
Por que a leitura ainda representa uma barreira para
grande parte dos brasileiros? Qual é a responsabilidade da
escola, local “autorizado” de construção do conhecimento
e de aquisição da leitura, quando se mostra incapaz de
formar leitores? Na última década, com o desenvolvimento
tecnológico, convivemos com outras linguagens. Que
benefícios as novas tecnologias educacionais trouxeram
para impulsionar a formação de leitores? Nas avaliações
nacionais e internacionais, os resultados do desempenho em
leitura revelam índices preocupantes, apesar das políticas
públicas implementadas no setor. O que é preciso modificar
nessas políticas para que obtenham êxito?
Identificando o viés político que subjaz a exclusão
46 Pedagogia EAD
2
espaço institucional da escola.
Numa escola pública primária tradicionalmente
Unidade
despolitizada, em que o corpo docente era composto Figura 2.2 - Paulo Freire.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
wiki/Paulo_Freire
predominantemente por mulheres, em virtude dos baixos
salários oferecidos, e considerando que as mulheres só Defensor da educação li-
bertária, Paulo Freire tra-
tiveram acesso ao direito de voto em 1934, a concepção duz em sua prática a cer-
teza de que a educação de
de que a educação é e deve ser tratada como um problema adultos é “um ato político
os quais o educador levou sua experiência ao ser exilado. tivo. Para tal, sugeria que
se identificasse “a favor de
Com a distensão política, por volta de 1983, - após quem e do quê, portanto
contra quem e contra o
quase vinte anos de ditadura militar, o estado democrático quê, fazemos a educação
de direito passou a ser um imperativo da sociedade. Esse e a favor de quem e do
quê, portanto contra quem
período, de redemocratização política do país, foi bastante e contra o quê, desenvol-
vemos a atividade política”
promissor para a educação. A produção teórica de muitos (2006, p.8).
pesquisadores brasileiros, que discutiam em suas obras
as principais correntes ou tendências pedagógicas da
educação brasileira, passou a ter visibilidade nas decisões
políticas. A produção internacional na área da linguagem,
48 Pedagogia EAD
2
do regime republicano, quando foi organizada a Instrução a questão dos métodos. A
partir de então, a cartilha
Pública no país, só um século depois a leitura ultrapassa
Unidade
vai-se consolidando como
os limites da esfera escolar para se tornar uma questão um imprescindível instru-
mento de concretização
da esfera social. Isto porque se concluiu, através de dos métodos propostos e,
em decorrência, de confi-
pesquisas sobre o tema, que a capacidade de ler o mundo guração de determinado
e interagir com autonomia e crítica são pressupostos para conteúdo de ensino, assim
como de certas silenciosas,
um melhor desempenho e a consequente prosperidade mas operantes, concepções
de alfabetização, leitura,
econômica, o que vai influir na melhoria das condições
escrita e texto, cuja finali-
sociais. dade e utilidade se encer-
ram nos limites da própria
escola e cuja permanência
se pode observar até os
dias atuais. (Maria do Ro-
3 UMA ESCOLA PARA TODOS sário Longo Mortatti)
Referências:
(Cadernos CEDES – The li-
A utopia de uma escola pública que garantisse teracy first reader and the
school culture: a century
igualdade de direitos a todos os cidadãos tem origem nos agreement...)
Disponível em: <http://
ideais da Revolução Francesa e se pautava em princípios www.scielo.br/scielo.php
que se instituíram como modelo e, mesmo que não ?pid=S0101-32622000000
300004&script=sci_art-
tivessem sido postos em prática naquele momento, text>. Acesso em 25 nov.
2011.
ainda hoje sustentam essa instituição, tanto na França
como no Brasil. Tais princípios definiam a Educação
como uma questão do Estado, propunham a laicidade da
Educação, retirando da Igreja o poder que então detinha
nessa área, defendiam a garantia de oportunidades a
todos, a gratuidade, a oferta de meios para que o cidadão
desenvolvesse ao máximo suas capacidades e acreditavam
na Educação como possibilidade de conscientizar o
cidadão dos seus direitos e deveres.
Seguindo o modelo proposto por esses ideais,
50 Pedagogia EAD
2
uma educação libertária e os ranços do positivismo e de sua
ideologia do progresso, da meritocracia, da tecnocracia, da
Unidade
competição, do “darwinismo social”. Esse tem sido o maior
desafio da escola pública: promover a inclusão num modelo
cuja lógica é excludente.
52 Pedagogia EAD
2
período da ditadura (1964-1985), foi responsável pelo
afastamento de vários profissionais do magistério,
Unidade
através do exílio, ou da aposentadoria compulsória, e
também pela eliminação de disciplinas como a Filosofia
e a Sociologia, dos currículos universitários, volta a fazer
parte do vocabulário e das práticas desses profissionais,
então como Política, desde 1983, com o início do
processo de redemocratização e a prolongada volta ao
estado de direito.
Para uma geração que, por tanto tempo, foi
silenciada, proibida de explicitar suas reflexões e de
discutir questões vitais para o país, o aprendizado
democrático é um processo gradativo e lento. Configura
uma reeducação que implica leitura, reflexão, espaços
para o debate e força instituinte para as transformações
necessárias, lembrando, como propõe o escritor Eduardo
Galeano, que um mundo melhor é possível.
4 LEITURA E ESCOLA
54 Pedagogia EAD
2
de ditadura. Estas ações se iniciam com as leis de incentivo
à cultura: Lei nº 7.505, de 20 de junho de 1986 – Lei Sarney
Unidade
–, criada pelo então presidente José Sarney, que em 1991 é
substituída pela Lei nº 8.313 – Lei Rouanet, de autoria de
Sérgio Paulo Rouanet, Secretário de Cultura da Presidência
- 1991/1992, no Governo Collor.
As ações criadas para a divulgação do livro direcionado
ao público infantil e juvenil e à formação de leitores, no Brasil,
começam a ter visibilidade na década de 1970, quando, não
coincidentemente, o mercado editorial até então incipiente,
limitando-se à divulgação da obra de Monteiro Lobato, dos
clássicos adaptados, e de algumas produções esparsas, vive
um momento especialmente rico na expansão da produção
de novos autores, dedicados especialmente a esse nicho de
leitores. É desse período o lançamento das primeiras obras
de autores como Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Ziraldo,
Lygia Bojunga, Joel Rufino dos Santos, Bartolomeu Campos
de Queirós.
Posteriormente, já na década de 1980, surgem os
críticos literários dessa produção, compondo um grupo
de especialistas nas áreas da literatura, da leitura e da
educação e que se dedicam a selecionar, através de critérios
estabelecidos, o que deve ou não ser editado. Questiona-
se também esta produção, desvalorizada, então, no mundo
acadêmico. Até hoje há resistências de alguns profissionais
quando se trata de orientar Dissertações ou Teses cujo tema
seja a Literatura dirigida ao público infantil e juvenil.
As avaliações das obras publicadas desenvolveram-se,
56 Pedagogia EAD
2
Em entrevista concedida sobre o tema, Ezequiel
Theodoro da Silva, especialista em leitura e criador do
Unidade
COLE, nos oferece um painel do que tem acontecido no
país com relação à educação e, por extensão, com a formação
de leitores.
58 Pedagogia EAD
2
p.2) estará habilitado a transformar as condições adversas,
Unidade
encontrando caminhos para a justiça social e a solidariedade.
5 LEITURA E PODER
60 Pedagogia EAD
2
Orlandi, discutindo as relações de força de que fala
Foucault e que já aparecem nas teorias relacionadas por
Unidade
Bobbio, explica que
62 Pedagogia EAD
2
utilizar-se de umas e outros apenas como
recursos aliciadores, sem de fato valorizá-
Unidade
los. [...]
64 Pedagogia EAD
2
colonização.
Desescolarizar a leitura é tirar o ranço da escola, é
Unidade
fazer da leitura uma atividade prazerosa, sem obrigações,
sem receitas, sem fichas de leitura, sem aulas de gramática
descontextualizadas, apenas lendo e ouvindo histórias,
compartilhando através de círculos de leitura e de outras
práticas leitoras a experiência de ler. Desescolarizar a
leitura é rever práticas pedagógicas que já se comprovaram
ineficazes e promover a formação do professor, acreditando
na sua condição de mediador da leitura, por excelência.
Não é possível estimular a leitura e cativar novos
leitores se não estamos convencidos das vantagens de ler.
Não seremos capazes de converter analfabetos ou iletrados
em leitores se não estamos convencidos da importância
da leitura. Nós que estamos como intermediários entre os
livros e as crianças – pais, mestres, bibliotecários, editores,
livreiros e produtores culturais – se não vivemos a leitura
como um ato permanente de enamoramento com o
conhecimento e a informação, se não praticamos o prazer
da convivência com a leitura, não lograremos promovê-la,
nem ampliar o número de leitores. Ou seja, se não estamos
capacitados, como capacitaremos os outros? Ou melhor, se
não estamos animados, como animar os demais? (YUNES,
1992, p.3)
Partindo desses pressupostos foram desenvolvidas
oficinas ministradas por profissionais das várias áreas
do conhecimento, valorizando, assim, a perspectiva
interdisciplinar, e que seguiam as diretrizes elaboradas
CÍRCULOS DE LEITURA
Teorizando a Prática
Eliana Yunes
66 Pedagogia EAD
2
É consenso, não obstante, que o acalanto da oralidade exige
Unidade
uma proximidade, troca de olhares e toques que, em última
instancia, colocam quem conta e o receptor no colo um do
outro, praticamente; não é à toa que a hora de dormir tornou-
se o momento mágico das narrativas contadas.
Praticando
68 Pedagogia EAD
2
orais, o problema localizou-se na recepção da escrita onde
Unidade
a familiaridade com história e com outros leitores é menor,
constrangedora e de triste memória, para muitos. Partimos,
então, para a prática dos Círculos de Leitura. Um texto é
distribuído, para uma leitura de 10, 12 minutos no máximo,
silenciosa ou em voz alta, a critério do grupo.Ou um vídeo
é projetado, um quadro é observado mais atentamente,
durante este tempo inicial.
70 Pedagogia EAD
2
disco, um filme – já deveria ser conhecido dos que estão na
roda para que o debate se faça com o “autor”, a propósito
Unidade
do que ele apresenta a seu público. No caso do Círculo, a
atenção está concentrada no “texto”, na expectativa de que
se transforme numa “obra” com a participação do leitor,
enquanto co-autor. É bom, pois, que ele não seja intimidado
pela presença do “autor”.
Circulando
72 Pedagogia EAD
2
um mesmo tema sob discursos, vozes e linguagens diversas.
Unidade
Esta variação de matrizes amplia a noção de leitura e torna
mais arguta a noção de leitor – são leitores o fotógrafo, o
diretor de cinema, o músico e o poeta – o carteiro, também,
por que não?
sua totalidade.
Circulando
74 Pedagogia EAD
2
ou abrir uma roda de inscrições para o público que deseja
Unidade
aproximar-se de um Calvino ou de “A terceira margem do
rio”. Como estratégia, os círculos provêem, aqui ou lá, a
paulatina inscrição dos sujeitos no contexto da cultura – na
sua acepção etimológica – pela rede de confiança que se cria
para que possa expressar-se.
ATIVIDADES
A
ATT ATIVIDADES
76 Pedagogia EAD
2Unidade
FELICIDADE CLANDESTINA
78 Pedagogia EAD
2
você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você
Unidade
fica com o livro por quanto tempo quiser”. Entendem? Valia
mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse”
é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a
ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada,
e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada.
Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí
andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com
as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo
levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito
estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o
tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o,
li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear
pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga,
fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o
por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para
aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade
sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já
pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e
pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes, sentava-me na rede, balançando-me com o
livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma
mulher como o seu amante.
80 Pedagogia EAD
RESUMINDO
RESUMINDO
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ESU
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2
retrospectiva histórica, identificando a importância do
acesso à leitura e à condição de leitor desde a implantação
Unidade
do sistema republicano até os dias atuais, e revelando as
contradições que se tem vivido nesse período histórico que
impedem que este ideal se realize.
O domínio da leitura do texto escrito tem sido apontado
como condição de acesso à cidadania plena, entretanto
nem todos os brasileiros têm o direito de acesso aos bens
culturais, entre eles a leitura, garantido efetivamente, ainda
que, desde 1988, esse direito conste do texto da lei máxima
do país, a Constituição Federal. Pesquisas confirmam esta
situação injusta e várias propostas, projetos e programas
foram criados nesse período para reverter a situação. Ainda
assim, chegamos ao século XXI com o desafio de oferecer
não só uma escola democrática, laica e gratuita, ideal que
perseguimos há mais de um século, mas que tenha também
qualidade a garantir a formação integral do cidadão.
Acreditando que a escola sozinha não dá conta dessa tarefa e
entendendo que sem a participação de toda a sociedade não
alcançaremos este ideal, propomos que a leitura se estenda
para além dos muros da escola, envolvendo toda a população
em ações de promoção da leitura. Assim, além de várias
propostas de reflexão, oferecemos sugestões de práticas
leitoras que podem ser vivenciadas por todos, leitores e não
leitores, se houver mobilização da sociedade.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
R EFER
EF E
82 Pedagogia EAD
2
OITICICA, Ricardo. O Instituto Nacional do Livro e
as Ditaduras. Academia Brasílica dos Rejeitados. Tese de
Unidade
Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro. Departamento de Letras, março de 1997: p. 6.
84 Pedagogia EAD
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OS DIVERSOS PORTADORES
DE TEXTO: IMPRESSOS E
IMAGÉTICOS
1 INTRODUÇÃO
3
cidades, de sons, enfim, de tudo o que nos rodeia.
Unidade
Afinal, não é verdade que lemos o tempo todo?
Placas de trânsito, outdoors, o céu, o tom de voz de quem
fala conosco, a expressão facial de nosso chefe... somos
“ledores” desde que acordamos até a hora em que vamos
dormir. Esta condição deve ser considerada quando lidamos
com a questão da leitura e da escrita, da alfabetização e do
letramento.
Ao ingressar na escola, a criança já traz consigo um
repertório não só de palavras como de imagens, ou seja, ela
já traz uma leitura do mundo que a cerca, no qual convive.
Traz um vocabulário razoável e experiências com as demais
linguagens. A propaganda exibida nas ruas, nos meios de
transporte, em outdoors chama sua atenção. Muitas vezes a
alfabetização começa por este caminho, no reconhecimento
de imagem e texto. A televisão é uma mídia que está nos
lares de grande parte da população. Mesmo nas famílias
em que não há disponibilidade de material impresso como
jornais, revistas e livros, todos têm acesso à informação e
às imagens. O computador e outras mídias digitais estão se
popularizando e quanto mais jovens mais habilidades são
90 Pedagogia EAD
3
de relevo, textura e perspectiva, esta última valendo-se da
Unidade
superfície da pedra e da distância do observador.
92 Pedagogia EAD
3Unidade
Figura 3.5 – Placas de trânsito. Fonte: http://www.vni.com.br/arteexpressa/placas.htm
a)
b)
94 Pedagogia EAD
umi-mar
kaigai - estrangeiro
3Unidade
Figura 3.8 – Ideogramas. Fonte: http://www.comoaprenderjapones.com/
o-alfabeto-japones-hiragana-katakana-kanji/
3 A NATUREZA DA IMAGEM
96 Pedagogia EAD
Figura 3.9 – Cadeira garfo Figura 3.10 – Cadeira em Figura 3.11 – Cadeira
retorcido. Fonte: http:// formato de ovo.Fonte: http:// parecida com a Formiga.
www.desealo.com/wp- www.criadesignblog.com/ Fonte: http://casad.
content/uploads/2006/10/ post/1257/a-egg-chair-de- wordpress.com/2009/
seniora.png eero-aarnio-reestilizada 11/06/poltronas/
3Unidade
Outra falácia é pensar que todos entendemos a
imagem da mesma maneira, como se o sentido da imagem
fosse universal. Objetos podem ser representados de uma
maneira, em determinada cultura, e com feições distintas
em outra cultura.
Nesse processo de significação, o que se coloca entre
a imagem figurativa e nossa percepção na construção do
sentido, algo culturalmente determinado, é o realismo.
O realismo é um dos resultados da problematização do
real a partir do pensamento platônico de que só atingimos
o real indiretamente, através do intelecto, a partir do qual
construímos a realidade. O realismo passa, então, a ser a
representação da realidade através da mimesis, conceito que
nos vem através dos gregos e que significa imitação. Real,
realidade e realismo são, portanto, aspectos de uma mesma
questão, mas que provêm de diferentes acepções.
98 Pedagogia EAD
3Unidade
5 O SENTIDO DA VISÃO NA LEITURA
figuras e sinais.
Entretanto, quando se pensa no que vem a ser leitura,
associa-se o termo ao texto alfabético, que se configura
através de determinado suporte. E, assim, o ato de ler passa a
significar a captação do sentido de palavras impressas de um
texto. Neste caso, o alfabeto, ou melhor, as letras enquanto
imagens sobre uma página precisam ser transparentes,
invisíveis. Isto é, elas serão tão mais eficientes em nos passar
o sentido do texto quanto mais imperceptíveis enquanto
figura forem.
Para o comunicador visual, ler é posterior à ação de
olhar, que, enquanto sinônimo de dar direção aos olhos, está
atado a enxergar, que diz respeito à capacidade fisiológica da
visão e à ação de ver (uma atitude cultural de identificação).
3
É claro que podemos pressupor a simultaneidade dessas
Unidade
ações (olhar, ver, enxergar e ler), mas separá-las nos dá a
oportunidade de realçar diferenças que têm entre si. Ver
pode, ainda, estar alinhado à ideia de perceber como algo
além da identificação, que vai envolver atenção, acuidade
visual, entre outros. Tanto a noção de leitura enquanto
decodificação ou extração de sentidos imediatos do
entendimento da mensagem verbal quanto a de percepção
pressupõem exposição prévia ao sistema ou o conhecimento
do repertório e código. Mas não apenas isso. Além da vivência,
ler e perceber costumam demandar treinamento para que a
decodificação se faça adequada. Nesse caso, ler e perceber
tornam-se sinônimos. E mais, seus textos podem ser de
diferentes naturezas: fabular, icônica, por sinais, etc.
Assim como existe uma diferença entre alfabetização e
letramento do texto alfabético, também existe uma diferença
entre alfabetização e letramento ou literacia de imagens
(embora haja reação ao termo para outros materiais que
não o linguístico, este termo está consagrado para outras
linguagens). Da mesma forma que se treina o indivíduo para
decodificar um texto em língua portuguesa, ensinando-lhe
ATIVIDADES
ATIVIDADES
AT
ATIVI
IVI
IV
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bibliografia utilizada. O trabalho deve ser entregue ao seu
Unidade
tutor.
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com as quais falamos e que nos falam. Num universo em
Unidade
que as imagens assumiram tamanho poder de comunicação,
rever concepções há tanto instituídas e abrir espaço para
o novo é vital para compreender melhor a experiência da
leitura.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
R
REEFE
F R
3
Ablex, 1987.
Unidade
HAYWARD, Susan. Key Concepts in Cinema Studies.
London &New York: Routledge, 1996.
3Unidade
_______. The graphic presentation of language, Information
Design Journal, v. 3(1), 1982, Grillford Ltd, Stony Stratford,
Milton Keynes, UK, p. 2 - 22.
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A FORMAÇÃO
DE LEITORES
1 INTRODUÇÃO
4Unidade
2 FORMAR LEITORES?
4
Depois, ainda movido pelo desejo de se comunicar,
o homem empenhou-se em outras invenções: o livro,
Unidade
a imprensa, o jornal, a revista, o rádio, o telefone e,
por fim, a televisão e a internet, permitindo que as
notícias cheguem, num piscar de olhos, aos pontos mais
longínquos do planeta.
Todo esse longo e difícil trajeto, repito, impulsionado
pela curiosidade, pelo desejo de se comunicar, de narrar,
de registrar, de saber o que acontece ao seu redor, de ler e
ser lido e, assim, ir construindo sua própria história e se
inscrevendo no mundo que o cerca.
A escritora Ana Maria Machado, na introdução
ao livro Contos para ler na escola, de Luis Fernando
Veríssimo, diz que o homem é curioso por natureza.
Nada mais certo. Se é só vermos alguém cochichando para
4
a infância. Assaltar esses elementos é
Aqui seguem algumas
desconhecer a vida como um único fio
Unidade
sugestões de obras que
e que a antecedência assegura o depois existem nas bibliotecas
(QUEIRÓS, 2007, p.52). escolares ou municipais e
cujo tema é a leitura. Es-
sas leituras são para en-
leitura de imagens
DVDs
Nem um a menos – dirigido por Zhang Yimou.
Com uma câmera escondida o diretor filmou o dia a dia de uma escola
rural no interior da China. Quase um documentário, o filme nos mostra
o empenho com que uma menina de apenas 13 anos substitui o profes-
sor durante seu período de férias. Sua missão é não deixar que nenhum
de seus 28 alunos abandone a escola. Assista ao trailer no endereço:
www.filmesparabaixar.org/2009/02/nenhum-a-menos-1999.html
Um dia um gato – dirigido por Vojtech Jasny. Uma fábula sobre leitura de
mundo, imaginação e criatividade. Assista ao trailer no endereço:
www.filestube.com./u/um+dia+um+gato
www.youtube.com/watch?v=MuFD7WEe_yI
The fantastic flying books of Mr.Morris Lessmore – codirigido por William Joyce,
esse curta, de 15 minutos de duração, ganhou o Oscar de Melhor filme de ani-
mação de 1012. Sem diálogos, o curta faz uma apologia ao livro e à leitura numa
narrativa plena de intertextos e interdisciplinaridade, com uma linguagem singela
e onírica. Vale a pena assistir.
www.youtube.com/results?search_query=flying+books&nfpr=0
4
nos tornando sujeitos de nossa história. Quando,
Unidade
enfim, alcançamos a maturidade necessária para sermos
alfabetizados, já somos senhores de múltiplas leituras que
não podem nem devem ser desprezadas. Começamos a ler
muito antes de sabermos da existência de letras.
Mas o dicionário, dessa vez o Aurélio, insiste: Leitor:
Aquele que lê o que outros escrevem. Mas... e nossas escritas?
E nossos acervos e bagagens que vamos acumulando vida a
fora?
Voltando a Bartolomeu Campos Queirós, aqui vai
outro trecho de seu artigo “Balanço” quando ele descreve
sua relação com sua primeira professora:
4
a eleva ao nível da alta poesia. Curio-
samente porém, em seu livro “Fábulas
Unidade
Saúde Senhor Leão! escolhidas”, La Fontaine reúne narra-
tivas de diferentes espécies literárias:
Quero-me à glória eximir fábulas, apólogos e parábolas. Amante
De beijar-lhe a régia mão; dos clássicos da Antiguidade greco-
romana que se tornara modelo exclu-
sivo da arte desde o Renascimento, La
Porque jurei jamais ir Fontaine entra em oposição com Char-
les Perrault (1628/1703) que defendia
A qualquer casa ou lugar, uma reação contra a autoridade dos
Vendo só por onde entrar, clássicos e a superioridade da língua
para conhecer
saiba mais
4
para a viagem, despediu-se da mulher, e foi acampar com
o vizir às portas da cidade. Partiriam ao nascer do sol. Mas,
Unidade
antes de partir, ele resolveu se despedir mais uma vez da
mulher e voltou para o palácio para encontrá-la nos braços de
um jovem escravo, belo e negro.
Mortalmente ferido em seu orgulho, Sahzaman transformou
todo seu amor em ódio. Desembainhou a espada, degolou
os dois amantes e voltou para o acampamento sem dizer a
ninguém uma só palavra do que acontecera.
A viagem transcorreu ao som de tambores que enchiam
todos de alegria. Todos, exceto Sahzaman, que se lembrando
do que lhe acontecera seguia com o coração pesado de tristeza
e melancolia.
Ao se aproximarem do reino de Sharyar, Sahzaman
viu que este o esperava com toda a sua corte. Abraçaram-se
longamente e juntos entraram na cidade sob o aplauso de uma
grande multidão.
4
os dias uma virgem era levada ao castelo nas primeiras horas
da tarde, casava-se com Sharyar, e morria ao amanhecer. Mas
Unidade
o trabalho do grão-vizir ia ficando cada vez mais difícil, pois, já
quase não havia mais virgens no reino, e as que sobravam se
escondiam muito bem. Até que um dia o bom homem chegou
em casa desesperado. Havia procurado por toda a parte sem
encontrar moça alguma e não sabia o que dizer ao terrível
Sharyar.
Ora, acontece, que o grão-vizir tinha uma filha
muito bonita e muito inteligente chamada Sheherazade, que
percebendo a aflição do pai ofereceu-se para ir ao castelo.
O grão-vizir tremeu só em ouvir essas palavras!
Sheherazade era seu maior orgulho! Uma moça encantadora,
inteligente e estudiosa, sempre envolvida em leituras, capaz
de repetir de cor poemas e narrativas, e disse-lhe que jamais
permitiria que ela sequer se aproximasse do palácio. Mas
Sheherazade insistiu. Insistiu dizendo que confiasse nela,
que se apresentaria como a próxima noiva, mas não como a
4
narrativas, mas seria isso suficiente para torná-la capaz de
Unidade
arquitetar um plano assim tão eficaz para enfrentar o ódio
de Sharyar e mudar o destino do reino?
Somente livros formam um leitor?
Para ser capaz de perceber em seu contar uma arma
suficientemente forte para enredar o sultão e levá-lo a
desistir de um plano assim tão macabro, sua formação de
leitora teria de ter sido tal, que a permitisse ler além do texto
escrito.
Isso logo é comprovado quando continuamos a
leitura e vemos que, quando Sheherazade insiste com o pai
em se oferecer como noiva do sultão, ele não usa argumentos
objetivos para fazê-la mudar de ideia, muito ao contrário,
ele lhe conta uma história:
4
Sejamos justos. Nós não havíamos pensado, logo no
Unidade
começo, em impor a ele a leitura como dever. Havíamos
pensado, a princípio, apenas no seu prazer. Os primeiros
anos dele nos haviam deixado em estado de graça. O
deslumbramento absoluto diante dessa vida nova nos deu
uma espécie de inspiração. Para ele, nos transformamos
em contador de histórias. Desde seu desabrochar para a
linguagem, nós lhe contamos histórias. E essa era uma aptidão
em que nos desconhecíamos. O prazer dele nos inspirava. A
felicidade dele nos dava fôlego. Para ele, multiplicávamos os
personagens, encadeávamos os episódios, refinávamos as
armadilhas... [...]
Como gostávamos de amedrontá-lo, pelo puro prazer
de o consolar! E como ele reclamava esse medo! Em suma,
um verdadeiro leitor. Era assim a dupla que formávamos na
época, ele leitor, e tão sagaz, e nós o livro, e tão cúmplices!
(p. 16-17)
4
absolutamente tudo, e sabia perfeitamente que, se a Bela
dormia, era por causa do tal fuso, e Branca de Neve por
Unidade
causa da maçã...).
– Vou repetir minha pergunta: o que foi que
aconteceu a esse príncipe quando seu pai o expulsou do
castelo?
Insistimos, insistimos. Meu Deus, não é possível
que esse garoto não tenha entendido o conteúdo dessas
quinze linhas! Afinal de contas, não é nenhum fim de
mundo, quinze linhas!
Éramos contadores de histórias e nos tornamos
R
RE SU RESUMINDO
RESUMINDO
SU
4
criança recém-alfabetizada tem em ler o que lhe cai às
Unidade
vistas, propusemos nesse capítulo uma reflexão sobre
o que é “ser leitor” e sobre a necessidade de “formar
leitores”.
Para facilitar essas reflexões, utilizamos textos de
Bartolomeu Campos de Queirós e Daniel Pennac, que
enfatizam os cuidados para não cairmos na armadilha de
considerarmos “leitores” somente aqueles que dominam
o código escrito, matando, assim, esse prazer espontâneo
e natural do leitor que recém descobriu a leitura.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
REFE
RE
REFE
F R
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LEITURA E PRODUÇÃO DE
TEXTO NA ALFABETIZAÇÃO
E NAS SÉRIES INICIAIS
1 INTRODUÇÃO
2 SEMEADURAS E COLHEITAS
para conhecer
Interlúdio
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
4 - O direito de reler
5 - O direito de ler qualquer coisa
6 - O direito ao bovarismo (doença textualmente
transmissível) (Alusão à personagem Madame Bovary do
livro homônimo escrito por Gustave Flaubert. Criada num
ambiente rural onde nada acontece, Bovary se entrega à
leitura como uma maneira de escapar deste cotidiano sem
graça, deixando-se levar pelas emoções dos textos.)
7 - O direito de ler em qualquer lugar
8 - O direito de ler uma frase aqui e outra ali
9 - O direito de ler em voz alta
10 - O direito de calar
4 ALGUNS CAMINHOS...
Bom de ouvido
ATIVIDADES
ATIVIDADES
ATII
ler?
Como podemos evitar que haja esse afastamento,
cultivando o leitor espontâneo das primeiras letras?
RESUMINDO
RESUMINDO
5Unidade
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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