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Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca para além

da polarização

Claudemir Belintane
Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo apresenta algumas reflexões sobre o ensino de leitura


e a alfabetização no Brasil, tomando como ponto de partida os
confrontos contemporâneos entre os chamados ‘métodos’ e
‘metodologias’ ou ainda ‘linhas’, ‘filosofias’, ‘teorias’ de alfabeti-
zação e de leitura. Situa sua argumentação a partir de alguns
embates e algumas preocupações que vêm ocorrendo nesse cam-
po do ensino nesta primeira década do milênio e, como exem-
plo, analisa um documento publicado pela Comissão de Educa-
ção e Cultura da Câmara dos Deputados, intitulado “Relatório
final do grupo de trabalho; Alfabetização infantil: os novos ca-
minhos”, (Brasília, 2003). Toma essa análise como uma referência
para discutir a relação entre a produção científica no campo do
ensino da leitura e da alfabetização e seus efeitos no ensino
público. No final do texto, o autor evidencia sua perspectiva de
pesquisa e expõe algumas sugestões específicas para a abordagem
da alfabetização e do ensino da leitura no Brasil, enfatizando as
singularidades da escola brasileira em que a oralidade — desde
que vista a partir de suas possibilidades autênticas de uso — pode
desempenhar um papel fundamental no ensino e na aprendiza-
gem da leitura. Conclui afirmando que a política, muitas vezes,
assume este ou aquele método como forma de fugir da respon-
sabilidade mais complexa, que é a de assumir a alfabetização
como prioridade absoluta do Estado.

Palavras-chave

Alfabetização — Leitura — Letramento — Oralidade — Métodos.

Correspondência:
Claudemir Belintane
Faculdade de Educação da USP
Av. da Universidade, 308
05508-900 – São Paulo – SP
e-mail: cbelintane@usp.br

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006 261
Reading and literacy in Brazil: a search beyond
polarization

Claudemir Belintane
Universidade de São Paulo

Abstract

This article presents reflections on the teaching of reading and


literacy in Brazil, taking as its point of departure the current dis-
putes among the so-called ‘methods’ and ‘methodologies’, or
still, ‘lines’, ‘philosophies’, ‘theories’ of literacy and reading. The
text weaves its arguments from some of the clashes and
concerns taking place in this field of teaching in this first decade
of the new millennium and, as an example, analyzes a document
published by the Commission for Education and Culture of the
Federal House of Representatives entitled “Final report of the
workgroup Child Literacy: the new paths”, (Brasília, 2003). This
analysis is taken as a reference to discuss the relation between
the scientific production in the field of the teaching of reading
and literacy, and its influence on public education. Towards the
end of the text, the author explains his research perspective and
describes specific suggestions to approach the issue of literacy
and the teaching of reading in Brazil, emphasizing the
singularities of the school in Brazil in which orality – if viewed in
its authentic possibilities of use – can play a fundamental role in
the teaching and learning of reading. The article’s conclusion
affirms that, many times, politics adopts this or that method as a
way of evading the more complex responsibility of assuming
literacy as an absolute priority of the State.

Keywords

Literacy – Reading – Literacy proficiency – Orality – Methods.

Contact:
Claudemir Belintane
Faculdade de Educação da USP
Av. da Universidade, 308
05508-900 – São Paulo – SP
e-mail: cbelintane@usp.br

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Desde o final século XIX, o ensino da 55,4% de alunos que apresentam problemas
leitura vem sendo submetido a uma polaridade sérios de leitura, sendo que 18,7% deles foram
discursiva que opõe, de um lado, as linhas te- classificados no nível ‘muito crítico’. Segundo o
óricas que acentuam a importância do código SAEB (p. 34), tais alunos “não desenvolveram
no processo da aprendizagem da leitura (méto- habilidades de leitura mínimas condizentes
dos alfabético, silábico, fônico e outros), cuja com quatro anos de escolarização; não foram
entrada no ensino se dá a partir de uma rígida alfabetizados adequadamente; não conseguem
sistematização das fases iniciais da aprendiza- responder os itens da prova”.
gem e cuja premissa básica assume que a lei- Outra avaliação que causou impacto
tura fluente resulta de um domínio seguro da negativo sobre o sistema escolar brasileiro foi
correlação entre as unidades mínimas da fala e a organizada pela OCDE – Organização para
as da escrita. De outro, posicionam-se as linhas Cooperação e Desenvolvimento Econômico –,
que dão relevo aos sentidos prévios construídos que ficou conhecida como PISA – Programa
pelo leitor e a suas habilidades em utilizar-se Internacional de Avaliação de Estudantes
de conhecimentos já assimilados para (OCDE-PISA, 2000)1 . Apesar de ter sua eficácia
monitorar o processo de leitura, cuja entrada questionada (Marchetti, 2005) em razão da
no ensino valoriza, entre outros, a cultura, a amplitude e das diferenças que recobre, seus
construção do conhecimento e a interatividade resultados causaram um imenso impacto
(métodos globais; ideográficos; construtivismo; midiático em razão de o Brasil ter sido classi-
sociointeracionismo e outros). ficado em último lugar no ranking dos 32 pa-
No Brasil, desde o início da década de íses avaliados.
1970, o segundo grupo suplantou o primeiro, É nesse efervescente e polêmico con-
pelo menos discursivamente (Barbosa, 1994). texto que a Câmara dos Deputados, por meio de
Entrecruzaram-se e influenciaram o discurso sua Comissão de Educação, constituiu um gru-
escolar publicações importantes que, se não po de trabalho (doravante GT) integrado por
conseguiram – como pretendiam – uma entra- especialistas nacionais e estrangeiros, cujo obje-
da mais efetiva nas ações escolares, ao menos, tivo era o de analisar a situação da alfabetização
tiveram algumas de suas versões tomadas como no Brasil e apresentar “propostas para o avanço
referências fundamentais na elaboração de pro- do debate e das políticas e práticas em nosso
gramas nacionais e regionais, desde o PNLD – país” (Brasilia, 2003, p. 8). O GT compôs-se dos
Programa Nacional do Livro Didático e os seguintes intelectuais: Marilyn Jaeger Adams
Parâmetros Curriculares Nacionais e Guias (EUA), Roger Beard (Inglaterra), Fernando
Curriculares regionais até programas mais espe- Capovilla (Brasil), Cláudia Cardoso-Martins (Bra-
cíficos como o PROFA – Programa de Forma- sil), Jean-Emile Gomberg (França), José Morais
ção de Professores Alfabetizadores do Ministério (Bélgica) e João Batista Araújo e Oliveira (Brasil).
da Educação e Cultura. Apesar de já decorridos três anos da publicação
Apesar da importância desse movimen- de seu relatório, resolvemos submetê-lo a refle-
to de renovação da educação, as avaliações xões uma vez que o tema vem experimentando
nacionais e regionais evidenciam um quadro desdobramentos surpreendentes na mídia e in-
não muito diferente do que já se exibia nas fluenciando autoridades (como veremos adian-
décadas de 1970 e 1980. Se antes preponde- te). No Brasil, o ministro da educação Fernando
rava a evasão escolar, hoje preponderam as Haddad em entrevista recente vem assumindo
imensas dificuldades de leitura e as defasagens que esse debate é necessário: “se o mundo in-
nas correlações esperadas de competência/sé-
rie (ou ciclo). As avaliações nacionais de 2003 1. Em 2003, houve outra avaliação do PISA (http://www.inep.gov.br); no
(BRASIL, 2004) evidenciam um percentual de entanto, a de 2000 é a que nos interessa porque seu foco principal foi a leitura.

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teiro fez esse debate, achamos que é preciso como exemplo os países industrializados que se
fazê-lo no Brasil também”2 . Na França, desde beneficiam das “ciências da leitura” e diz la-
janeiro deste ano, há de fato um debate mentar as “diversas razões que têm impedido
instigante que resultou de uma circular do Mi- que o Brasil acesse esses conhecimentos e in-
nistério da Educação que praticamente proíbe o corpore a experiência de países mais bem su-
uso do método ideovisual (em algumas entrevis- cedidos” (p. 8).
tas, o ministro restringe também o ‘método glo- O foco do deputado, seguindo o da
bal’)3 . Como veremos adiante, o contexto requer equipe de especialistas, desloca-se dos imensos
análise e reflexões e, nesse sentido, o relatório problemas que o país enfrenta tanto no campo
encomendado pela Comissão da Câmara não da Educação como no socioeconômico e vem
deixa de ser um documento oficial importante, iluminar somente as práticas de alfabetização,
já que permite reflexões tanto no campo do mais precisamente a adoção de metodologias,
ensino como no das políticas públicas. tendo sempre como seguras balizas os pretensos
Nesta primeira parte, faremos uma aná- avanços “da ciência cognitiva da leitura” (p. 10).
lise geral do relatório. Na segunda, vamos te- Já na síntese do relatório, que precede
cer algumas considerações sobre o panorama o desenvolvimento do texto, anuncia-se que “O
teórico-prático brasileiro. Pretendemos finalizar Brasil não vem conseguindo alfabetizar adequa-
o texto apresentando nossas perspectivas sobre damente suas crianças — conforme evidencia-
a alfabetização e o ensino da leitura. do pelo desempenho dos alunos nas séries pos-
teriores”4 . Do início ao final do relatório, insis-
Analisando o Relatório Final do tir-se-á nas recorrências ao “cientificamente
Grupo de Trabalho — comprovado”, às “provas irrefutáveis” alcan-
Alfabetização Infantil: os novos çadas pela “moderna ciência cognitiva”, cujas
caminhos pesquisas teriam lançado mão de procedimen-
tos tecnológicos avançados, que vão desde o
Já nas primeiras linhas da apresentação mapeamento do cérebro pela chamada MRI
do documento, assinada pelo deputado Gastão (imagem por ressonância magnética funcional),
Vieira, entrevê-se uma adesão política ao que até a análise genética da dislexia, eixos esses
supostamente seria um movimento internacional bastante comuns aos defensores do método fônico
de mudanças decorrentes dos avanços científicos e de uma concepção inatista de dislexia, cujos
e, ao mesmo tempo, uma aceitação plena do foco manuais, com as novidades das descobertas das
principal do documento, que se centra no méri- neurociências, vêm sendo traduzidos no Brasil
to dos estudos sobre alfabetização e na situação (Shaywitz, 2006; Snowling; Stackhouse, 2004).
de atraso científico do Brasil nesse campo: Baseados nessas ciências, os autores do
relatório enquadram seus opositores e todas as
Nos últimos 30 anos, houve um gigantesco pro- outras vertentes de pesquisa e de intervenções
gresso nos conhecimentos científicos sobre o educacionais no campo do amadorismo, dos
processo de aprendizagem da leitura e da escri- erros grotescos, das improvisações e das inves-
ta bem como sobre os métodos de alfabetiza- tidas ideológicas:
ção. Os estudos sobre alfabetização saíram do
campo da intuição, amadorismo e empirismo e
da especulação teórica para adquirir foros de
2. Folha de S. Paulo, 11 de fevereiro de 2006, Caderno Cotidiano.
ciência experimental. (Brasília, 2003. p. 8) 3. A discussão pode ser acompanhada no site francês: http://
www.cafepedagogique.net (última consulta em 05/03/2006).
4. O Relatório considera a avaliação nacional de 2001 realizado pelo
O deputado expressa sua esperança no SAEB, em que o desempenho dos alunos de 4ª séries é mais grave ainda
conhecimento científico sobre a leitura e cita (22,2 % são classificados como ‘muito crítico’).

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O problema é que uma postura eminentemente em seus programas de ensino; 4. quatro dos prin-
política ou ideológica levou, em diversos países, cipais autores do relatório são desses países. Uma
continua levando, no Brasil, a uma rejeição de informação importante, que talvez pudesse ter sido
evidências objetivas e científicas sobre como as explicitada no relatório, é o fato evidente de que
crianças aprendem a ler. (Brasília, 2003, p. 15-16) esses quatro representantes internacionais defen-
dem a mesma linha teórica: Adams, Beard,
Ao descrever sua metodologia de traba- Gomberg e Morais são históricos defensores do
lho, o GT diz assumir uma perspectiva neutra e tradicional método fônico ou de metodologias
científica, enfatizando que suas intervenções próximas a eles — em seus países, estão no mo-
consensuais situam-se acima da ideologia e da mento em franca ascensão já que conseguiram
política. Cita o exemplo de outros países, como importantes vitórias discursivas, formaram socieda-
Estados Unidos, França e Inglaterra, que teriam des de discurso, aliaram-se à política e, no momen-
conseguido produzir documentos e sínteses to, trabalham com seus governos.
sobre o estado da arte no campo da leitura de No grupo, há mais três brasileiros que
modo a subsidiar as políticas educacionais de também são pesquisadores dessa mesma ten-
seus países com visões bem objetivas e, no dência. O fato de os especialistas serem todos
contexto local, refere-se à iniciativa do parlamen- do mesmo grupo talvez explique a recorrência
to brasileiro como “um importante passo nessa fechada ao paradigma do método fônico e a
direção” (p.16). Após esses exemplos, apresen- abundância de referências a esses autores e dê
ta-se um quadro que põe em destaque o exem- a esse relatório um caráter nitidamente de pug-
plo francês, o ONL – Observatoire National de la na política e ideológica e não de peça neutra
Lecture –, entidade criada em 1995 com o ob- e científica como se apregoa em suas páginas.
jetivo de subsidiar o Ministério da Educação da Há também duas observações a serem
França. Logo em seguida, menciona as metodo- feitas em relação à constituição do GT e à es-
logias de pesquisa nas quais essa abordagem se colha dos três países-referência. Primeiro: essa
baseia e cita mais dois países que vêm absorven- endogenia do grupo não condiz com o rigor
do essas mudanças: Inglaterra e EUA. científico que se reivindica para o teor do re-
No capítulo IV, planos nacionais de en- latório. Segundo: esse tipo de GT difere muito
sino e entidades dos três países-exemplo são do que foi organizado na França com o mes-
tomados como referências com o objetivo de mo objetivo: uma conferência de consenso,
reforçar os argumentos que o GT apresenta em organizada pelo PIREF — Programme Iniciatif de
defesa da superioridade do método fônico. A NSL Recherche em Education et Formation (2003)
— National Literacy Strategy — da Inglaterra e o —, na qual havia participantes de diversas cor-
NRP — National Reading Panel — dos EUA, ao rentes, como veremos mais adiante.
lado do ONL, entram em cena para exemplificar Outro ponto relevante que caracteriza a
a emergência de novos planos e organizações estratégica endogenia do GT diz respeito aos
que estão sendo especificamente criados para lugares e às representações projetadas pelos
responder a duas demandas específicas: comba- autores, como estes situam a problemática a ser
ter os métodos globais e/ou ideovisuais e apre- abordada e como constroem a imagem de seus
sentar a metodologia fônica como solução para interlocutores. Veja-se aqui a seguinte passagem:
o problema do ensino da leitura.
Quatro motivos são apontados para justi- O presente relatório foi encomendado pela Comis-
ficar a escolha desses três países como exemplos: são de Educação e Cultura da Câmara dos Depu-
1. são países com sistemas educacionais comple- tados. Ele representa uma tentativa de contribui-
xos; 2. ainda enfrentam desafios e dificuldades ção do Parlamento para associar o Brasil aos es-
para alfabetizar; 3. vêm promovendo mudanças forços da comunidade internacional de pesquisa-

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dores, educadores e países comprometidos com a Essa intenção é enunciada exaustiva-
adoção de critérios científicos como base para a mente em muitos outros pontos do texto, de
formulação de políticas e práticas de ensino da forma mesmo a incitar o leitor perspicaz a in-
leitura e escrita. (Brasília, 2003, p. 13) dagar o porquê dessa busca exagerada de
legitimação. Uma possível explicação é a estra-
Pode-se perceber nessas linhas que o tégia de luta que se entrevê nesse tipo de ar-
grupo, mesmo com seus três brasileiros, isola-se mação discursiva: o grupo precisa desalojar a
imaginariamente, autoconcebendo-se como úni- outra corrente que ora está no poder que, no
ca comunidade de pesquisadores internacionais, caso brasileiro, seriam as perspectivas constru-
relegando ao limbo todos os pesquisadores bra- tivistas ou sociointeracionistas, os autores de
sileiros que mantêm outros compromissos documentos e programas oficiais no Brasil
epistemológicos e outros enlaces internacionais. (PCNs — Parâmetros Curriculares Nacionais,
O documento quer induzir o leitor a crer na PROFA — Programa de Alfabetização de Adul-
existência de uma única comunidade internaci- tos, PNLD — Plano Nacional do Livro Didático
onal, que é a detentora da verdadeira pesquisa e outros documentos oficiais do último decê-
científica — fica claro o uso intencionado do nio) e da maquinaria dos manuais didáticos.
artigo definido “a comunidade” e não “uma O texto do relatório é construído de tal
comunidade” ou “esta ou aquela comunidade”. forma a conduzir o leitor à conclusão de que
A reivindicação desse isolamento faz coincidir o existe uma linha de pesquisa absolutamente
grupo de autores do texto com “a comunidade” confiável, supostamente testada e aprovada por
de cientistas que detém a verdade, o que evi- pesquisadores de alto nível e de cujo contex-
dencia uma rigidez do pólo discursivo próxima to os pesquisadores e educadores brasileiros
da intolerância. O trecho abaixo ilustra sobeja- não fariam parte e, ainda mais, tenta mostrar
mente essa busca de legitimação: que a validade dessas pesquisas é universal, ou
seja, podem ser globalizadas.
É importante salientar que as pesquisas atuais No capítulo III, o documento apresen-
sobre leitura obedecem às mesmas regras apli- ta a concepção de leitura do grupo, trazendo
cáveis às demais ciências experimentais, como a fragmentos de obras de Adams e Morais. A
física ou a biologia. A comunidade científica leitura é definida como “capacidade de extrair
internacional nessa área inclui centenas de pes- a pronúncia e o sentido de uma palavra a par-
quisadores, organizados em inúmeras institui- tir de sinais gráficos” (Brasília 2003, p. 20).
ções científicas e com publicações em revistas Nesse contexto, o documento expõe um trecho
técnicas que submetem seus artigos a conselhos de uma das obras de Morais, que usa como
de revisores antes da publicação. A maioria des- uma espécie de alegoria didática o caso da
sas publicações encontra-se referenciada nas cegueira do poeta inglês Milton, cujas filhas,
citações apresentadas na seção final (Referênci- mesmo sem compreender a língua grega, liam
as). A criação da SSSR (Sociedade para os Es- textos em grego para o poeta, que os compre-
tudos Científicos da Leitura), em 1990, é um endia. Para Morais, o poeta não estava prati-
marco na institucionalização da nova ciência cando a leitura, somente as filhas o faziam já
da leitura. (p. 17) que conseguiam extrair dos símbolos gregos a
pronúncia, mesmo sem conhecer os sentidos
O interdiscurso aí pressuposto estrutu- desse. O pai, ouvindo o som da língua grega,
ra uma contenda como um discurso não cien- realizava apenas o ato da compreensão. Com o
tífico, aquele que pode ser autorizado, o que exemplo, os autores fazem uma distinção abso-
não reúne credibilidade suficiente para influen- luta entre ler e compreender e dão forma ao
ciar as políticas públicas. embate principal do capítulo, opondo a equa-

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ção “ler é compreender” à fórmula “ler para processo (fonema, sílaba, grafema etc.).
compreender” (p. 21). Segundo o relatório, tais ramificações
Nessas contraposições, o documento teóricas seriam desatualizadas, ultrapassadas,
apresenta suas críticas à whole language – sem valor científico. O discurso prossegue, ten-
traduzida no Brasil e divulgada como ‘lingua- tando convencer a partir de uma pressuposição
gem integral’ ou, no caso da leitura, como ‘lei- de que os leitores de um país em desenvolvi-
tura significativa’ – de Goodman (1997) e de mento, como o Brasil, devem reconhecer a
Smith (1999), procurando mostrar aos brasilei- supremacia científica dos países desenvolvidos
ros que as evidências científicas apresentadas e aceitar de antemão a idéia de que há uma
por Adams e outros reduzem as idéias dos dois distância evidente entre esses dois blocos:
autores à ideologia, a posições políticas sem
valor científico (Brasília, 2003). Repetindo Os tópicos aqui incluídos não apenas abordam as
exaustivamente que a decodificação ocupa um questões mais fundamentais da alfabetização, mas
lugar central na aprendizagem da leitura, o es- também poderão ajudar a analisar e compreender
tado da arte vai negando as principais influên- a distância que separa a evidência científica dis-
cias teóricas que os educadores brasileiros re- ponível no mundo e as práticas de alfabetização
ceberam nos últimos 20 anos, citando quatro mais usuais no Brasil. (Brasília, 2003, p. 23)
pesquisadores – Vygotsky, Piaget, Bruner e
Flavel – como autores do passado, cujas idéias Avançando na construção de sua legiti-
foram suplantadas por “novas evidências a res- midade discursiva, em várias partes do relatório,
peito dos substratos neuro-anatômicos da lin- o grupo exibe exageradamente o compromisso
guagem que revolucionaram as maneiras de de seus métodos com os das ciências exatas:
pesquisar nesse campo” (p. 24-25). Tais autores,
juntamente com outros que também serão di- A partir de fatos científicos bem estabelecidos,
reta ou indiretamente criticados no relatório vem sendo possível derivar idéias robustas para
(Jean Foucambert, Emilia Ferreira e Ana o ensino da leitura e para a reeducação de pes-
Teberosky, Paulo Freire e muitos outros de di- soas com dificuldades de leitura. A Sociedade
versas outras ciências), exerceram grandes in- Americana de Psicologia (ASP) publicou em sua
fluências sobre a produção de muitos intelec- revista Observer (volume 13, de julho-agosto de
tuais brasileiros, sobretudo daqueles que, no 2002) um relatório intitulado “How psycological
campo do ensino da leitura, não aceitam alçar science informs us about the teaching of reading”.
ao primeiro plano o domínio exaustivo e metó- Esse relatório ressalta que na Nova Ciência Cogni-
dico das unidades mínimas da escrita ou da tiva da Leitura o princípio de que a consciência
língua, influências essas que se podem ver no fonológica é o mais importante preditor de sucesso
Brasil, entre tantas obras, em Abaurre (1997), em leitura possui a força equivalente à do conceito
Bajard (1999), Barbosa (1994), Franchi (2001), de gravitação em física. (p. 18)
Geraldi (1997), Kleiman (1995), Kramer (2001),
Marcuschi (1999), Rojo (1998), Silva (1993), Sempre pondo em relevo a filiação cien-
Smolka (2003), Tfouni (1997) e muitos outros. tífica de seus argumentos e suas verdades, o
Temos consciência de que tais autores não for- documento apresenta também a defesa “dos mé-
mam uma rede consensual nem mesmo são todos fônicos”, mostrando que são eles “os mais
oriundos das mesmas ciências ou fontes teóri- utilizados em países desenvolvidos” (p. 59).
cas, entretanto possuem em comum o fato de Retomando as críticas normalmente atribuídas
não aceitarem que o ato de ler ou mesmo de ao método fônico pelas demais perspectivas,
aprender a ler constitua essencialmente em uma procura apresentar, ponto a ponto, seus con-
lida exclusiva com os elementos menores do tra-argumentos, para logo em seguida reafirmar

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que “os métodos fônicos se mostram superio- evidente a sua intenção publicitária na própria
res aos demais. A instrução em fônica deve ser estruturação do texto. No primeiro capítulo, o
sistemática e não acidental” (p. 63). Estado da Arte, segundo os autores, elaborado
No capítulo IV, ao apresentar a “experi- com rigor cientifico, mostra que as linhas com-
ência de outros países”, os autores refazem a prometidas com a whole language e com o
contraposição entre as correntes, evidenciando construtivismo ou sociointeracionismo foram
a disputa entre as linhas de pesquisa, com im- suplantadas pelas evidências recentes da ciência
plicação de governos, ministérios, entidades e – que reconhecem, sempre de “maneira inequí-
planos que são especialmente criados para esta- voca”, que o método fônico é superior e mais
belecer interfaces com o governo e assumir o eficiente ao ensino escolar da leitura e da escrita.
controle ideológico e logístico das redes esco- No capítulo seguinte, apresenta os três países
lares. Nos três países, o relatório tenta evidenciar que tiveram problemas com as metodologias não
alguns pontos que seriam comuns: científicas e deixam claro que há sempre um
caminho, que é também o evidenciado no rela-
• Governos e entidades especialmente criadas tório que estão produzindo: uma comissão de
para enfrentar a crise exigem mais controle da cientistas que não se veiculam a ideologias, um
rede escolar, interferem em currículos e progra- relatório cientificamente elaborado e providên-
mas; investem num minucioso controle na pro- cias a serem tomadas pelos governos.
dução de materiais didáticos e no programas de Vê-se, com clareza, que a preocupação
formação de professores, sempre tendo como constante no relatório é a busca de legitimidade.
referência uma única orientação teórica, a fônica. Se os cientistas são aceitos como os mais relevan-
• Os governos acabam reconhecendo os pó- tes da comunidade internacional (capítulo II e III),
los da contenda entre os métodos e, apesar se as experiências de seus países foram aceitas
de nem sempre poderem assumir diretamente como tendências universais (capítulo IV), então a
uma única metodologia, apontam favoravel- análise da situação brasileira empreendida pelo
mente para o método fônico; grupo (capítulo V) e as conclusões e recomenda-
• Há sempre um grupo de trabalho considera- ções (capítulo VI) serão inquestionáveis e pode-
do acima dos conflitos ideológicos, caracteri- rão influenciar diretamente as políticas públicas.
zado como de alto nível científico, que pro- O exagero dessa busca de legitimidade,
duz um relatório evidenciando as causas do sobretudo a de José Morais, também pode ser
fracasso escolar e elegendo a metodologia observada em um documento francês, produzi-
fônica como a mais adequada ao processo de do pela ONL (órgão que rivaliza com a Associ-
alfabetização e ensino da leitura; ação Francesa de Leitura – AFL), L´évolution de
• As avaliações passam a ser mais detalhadas, l´enseignement de la lecture em France depuis
envolvendo também os níveis iniciais; dix ans, quando Bernard Cerquiglini, presidente
• Em geral, a idéia de avaliação é associada do ONL, ao apresentar os participantes das Jor-
ao diagnóstico médico da dislexia e acaba nadas de janeiro de 2004, apresenta José Mo-
enfatizando que a preparação para a escrita rais como conselheiro do presidente Lula no
(ensino de fônica) e os diagnósticos de possí- Brasil (ONL, 2004, p. 8).
veis problemas de aprendizagem devem Ainda que nos relatos da situação de
incidir mais cedo na vida das crianças (por cada país haja pontos obscuros não esclareci-
volta dos cinco anos), para controlar distúrbi- dos pelo relatório, tais como reações de inte-
os de aprendizagem e outros problemas. lectuais locais e mesmo das redes escolares (re-
ações estas que em geral são consideradas pelo
Por mais que o relatório apresente seus GT como motivações meramente ideológicas) e
dados e alinhe argumentos a partir deles, fica resultados que não se efetivaram nas novas

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avaliações (isso pode ser constatado, por exem- as de Kenneth Goodman e Frank Smith e inclua
plo, nos próprios relatórios do ONL 5 ), a argu- talvez as metodologias de Decroly, Frenet e
mentação avança afirmando e reafirmando que outras influências que não assumem diretamen-
a aplicação da metodologia fônica vem sendo te a decodificação como centro do processo de
responsável por mudanças positivas nos dados alfabetização). Em seus argumentos em entre-
oriundos dessas avaliações. Do conjunto das vistas dadas aos grandes jornais7 , Robien afir-
intervenções governamentais nesses três países ma que tomou essa decisão baseado em evi-
— que vão desde aumentos progressivos de dências científicas consensuais que atribuem a
investimento nas séries iniciais à reorganização causa dos aumentos dos casos de dislexia aos
da estrutura das redes —, os autores abstraem métodos globais de ensino.
apenas a eficácia do método fônico e a rejei- A circular e as entrevistas geraram polêmi-
ção das outras metodologias como elementos a cas, abaixo-assinados, entrevistas e artigos de es-
serem considerados pelo leitor. pecialistas. Ouzoulias (2006), tomando a data da
Estabelecendo um contraponto relevante circular como ponto de partida para uma fina iro-
a esses argumentos, podemos retomar aqui al- nia, intitula seu artigo “La révolutions du 3 janvier
gumas conclusões da conferência de consenso ou lê syndrome de la tortue de Floride” em que
organizada na França pelo PIREF em torno das demonstra a pluralidade de abordagens que po-
práticas de ensino e de possível adoção de dem estar por detrás da condenação do ministro
métodos no ensino da leitura. O resultado geral (whole language, whole word, método ideovisual)
da conferência não foi a escolha de um méto- e enfatiza que não é produtivo para os pesquisa-
do ou mesmo a eleição de atividades fônicas dores e educadores franceses espelharem suas
como centro do processo do ensino de leitura. conclusões na comparação com o que se passa na
Ao contrário, a recomendação dos especialistas Inglaterra e nos EUA, já que há grandes diferenças
é que se combine o trabalho sobre o código entre as línguas (na correlação fonema-grafema) e
com atividades que resgatem o sentido e ainda no próprio contexto teórico-pratico da educação
sugerem muitas outras atividades sobre língua, de cada país — sua conclusão fica bem evidente
compreensão e produção textual — deixam cla- em um dos subtítulos de seu artigo: “Deux
ro que o trabalho sobre o código é importante, langues, deux écritures, deux didactiques”.
mas não suficiente. O único método que é cita- Goigoux (2003) também veio reforçar o
do como não recomendável é o “ideovisual, que já havia sido posto na conferência de consen-
porque ele se recusa a trabalhar com a corres- so, reafirmando que não há provas científicas que
pondência grafema-fonema” (PIREF, 2003, p. 3). possam assegurar a superioridade desse ou daquele
Ainda assim, autores importantes nessa confe- método no campo da leitura e da alfabetização.
rência, como Goigoux (2003), vêem elementos Mesmo Frank Ramus8 , especialista em
positivos nessa concepção de Foucambert e neurociência, ligado ao ONL, portanto defensor
comentam que apesar de não ter sido utilizado de uma posição pró-ensino sistemático da cor-
na França de forma pura, exerceu influências relação grafema-fonema, mantém certa reserva
positivas que estão presentes no próprio progra- ao falar em métodos de ensino inspirados pela
ma de 2002, que o rejeita. neurocência: “Je maintiens que ces recherches
Ainda tocando no caso francês, no iní-
cio deste ano, o ministro da Educação, Gilles de 5. www.inrp.fr/onl (última consulta: outubro de 2005) – pode-se notar
Robien, editou uma circular (n. 2006-003 du 3- que o percentual renitente de 15% de alunos considerados fracos em lei-
tura no final do ciclo II continua no mesmo patamar.
12006 6 ) reforçando essa interdição e incluindo 6. Ministére de l´education national, de l´enseignement superieur de la
também no rol dos excluídos o que ele nomeia recherche.
7. As afirmações do ministro podem ser conferidas no site http://
método global (aqui, apesar das ambigüidades, www.cafepedagogique.net
o ministro possivelmente se refere às influênci- 8. http://education.devenir.free.fr/Lecture.htm#ramus

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006 269
en neurosciences n’ont pour l’instant aucune afirmar a existência de programas de alfabeti-
application aussi directe à l’éducation”9 . No en- zação eficazes nos sistemas públicos munici-
tanto, concorda com as pesquisas do “National pais” (p. 112).
Reading Panel” que, ao analisar diversos méto- Mesmo ressalvando – em apenas três
dos de ensino, assegura a superioridade das linhas (p. 113) – que há uma diversidade de
metodologias fônicas. Mesmo assim, o pesquisa- causas que incidem sobre as dificuldades brasi-
dor francês ressalta o que está explícito no NRP: leiras no campo do ensino da leitura, o docu-
que as atividades fônicas devem estar presentes mento descarta de imediato que os problemas
desde o início do ensino da leitura, mas não iso- possam ser atribuídos à “questão da pobreza” ou
ladamente, já que a fônica é apenas mais um dos a “distúrbios de aprendizagem”. Como tais pro-
componentes entre outros que também são ne- blemas são complexos demais para serem ava-
cessários. Nota-se aqui e mesmo no NRP que a liados por uma comissão desse tipo, a atenção
versão fônica para o Brasil não assume esses do GT se concentra nas “políticas e práticas de
relativismos. Aliás, Bajard (2006, p. 2), compa- alfabetização associadas a estes resultados”.
rando o relatório brasileiro com um dos docu- Tendo, então, focalizado o problema
mentos do ONL francês, nota essa diferença: que interessa ao GT, volta-se o foco sobre os
Parâmetros Curriculares Nacionais. O relatório
Apesar de José Morais participar da redação menciona a notável influência que o documento
dos dois textos, o estilo do texto francês é dife- brasileiro exerce sobre as secretarias municipais
rente do relatório brasileiro. La lecture et son e estaduais de Educação, nos programas de for-
apprentissage não está recheado com expressões mação de professores e nos livros didáticos.
tais como as seguintes, presentes no Relatório Em razão dessa influência, o relatório
apresentado na Câmara: “todos esses estudos dedica várias páginas à análise do documento.
adotam procedimentos científicos bem estabele- Como aconteceu nos três países, o GT ‘brasilei-
cidos e reconhecidos pela comunidade interna- ro’ também detectará as influências da whole
cional”, (Brasília, 2003 p. 17); “O estudo [o de language de Goodman e Smith e também as do
Morais] rompeu com o mundo da especulação e construtivismo de Emilia Ferreiro, sobretudo as
do amadorismo, (p. 17), além de outras simila- oriundas do livro A psicogênese da língua escrita
res que parecem ter sido escolhidas com o obje- (Ferreiro e Teberosky, 1986). Só que no caso do
tivo de gerar confrontos e semear polêmicas. Brasil, os autores detectam, nas páginas dos
PCNs, a convergência dessas três correntes: da
Avançando na análise do relatório, o psicologia genética, do sociointeracionismo e da
capítulo IV, ao abordar o caso brasileiro, pres- leitura significativa. Dos quatro documentos de
supõe que o leitor já deveria estar pronto para que se compõem os PCNs, a atenção se centrará
aceitar que o que tem diante de si é uma peça apenas no do primeiro e segundo ciclos, já que
científica construída acima de intenções ideo- estes tratam do período de alfabetização.
lógicas, sendo assim, diante de tantas evidên- Depois de apresentar alguns trechos
cias, acabará admitindo que os problemas reve- que definem os pressupostos teóricos do docu-
lados nas avaliações do SAEB são de responsa- mento brasileiro, enfatizando os confrontos
bilidade dos construtivistas brasileiros. que este propõe em relação às perspectivas que
Partindo de avaliações do SAEB e do enfatizam o código e a decifração, o relatório
PISA, o relatório também constata que o “Bra- põe em causa as secretarias e os programas de
sil enfrenta fortes dificuldades para alfabetizar formação de professores, dando especial desta-
seus alunos e, com isso, permitir-lhes uma
escolarização adequada” (Brasília, 2003, p. 112) 9. http://education.devenir.free.fr/Lecture.htm#_edn3 (consulta em 05
e que não há no país dados “que permitam março de 2006)

270 Claudemir BELINTANE. Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca...


que às influências dos PCNs e às oriundas das qual o GT reforça a comparação do Brasil com os
universidades brasileiras, realçando que estas três países e repete as afirmações que fazem desde
são ultrapassadas, distantes do estado da arte o início, realçando a importância da pesquisa ci-
da “maioria dos países desenvolvidos” (Brasilia, entífica, dos mecanismos de controle, dos currí-
2003, p.131). Lamenta também a ausência de culos mais detalhados e, sobretudo, deixando evi-
programas de avaliação e de um consenso mais dente que o Brasil não possui os conhecimentos
amplo sobre as metodologias científicas que científicos necessários no campo da alfabetização:
definem e conceituam alfabetização.
Seguindo o exemplo das contraposições O primeiro e mais importante passo consiste na
que Adams apresenta às obras de Goodman e abertura do diálogo das autoridades e da co-
Smith nos EUA, os autores se propõem a fazer o munidade acadêmica brasileira com outros pa-
mesmo com a influência de Emília Ferreiro, íses e com a comunidade acadêmica internacio-
dando à A psicogênese da língua escrita nal. O Brasil terá certamente muito a ganhar se
passar a estudar, conhecer, compreender e ado-
[...] um tratamento mais detalhado para demons- tar uma visão de alfabetização compatível com
trar como a ciência evolui e como as evidências o estado atual do conhecimento sobre o assun-
científicas obrigam os pesquisadores a reformular to. Esta não é uma tarefa simples e requer a
suas teorias e hipóteses — ao invés de permanecer revisão de posições e compromissos, mas é uma
repetindo-as como artigo de fé. (p. 132) obrigação de todos quantos são responsáveis
pela produção e gestão do conhecimento. O
Nas páginas finais desse capítulo, o gru- conhecimento científico sobre alfabetização é
po de trabalho compara o Brasil a outros países, dialético e evolui, se amplia, se torna mais so-
tanto em relação a propostas dos PCNs e de fisticado. Este momento é particularmente
outros documentos oficiais, como em relação a auspicioso, tendo em vista que os novos gover-
diretrizes, a perspectivas para a formação de pro- nos federal e estaduais possuem uma maior
fessores e para a avaliação escolar. A conclusão margem de liberdade para rever posições.
propõe algumas sugestões, mais ou menos no Quanto à comunidade acadêmica, atualizar-se e
mesmo roteiro das críticas já efetivadas nos três oferecer informações atualizadas aos alunos –
países eleitos como exemplos: maior controle das trata-se, antes de mais nada, de um dever mo-
redes educacionais; definições mais rigorosas das ral e profissional. (p. 146)
diretrizes e, sobretudo, dos conceitos e das estra-
tégias relacionados ao trabalho do professor e às Os autores sugerem ainda a criação de
demandas da alfabetização de crianças — defini- organizações não governamentais como as cri-
ções que, segundo o GT, devem sempre conside- adas na Inglaterra, na França e nos Estados Uni-
rar “critérios científicos e não filosofias pedagó- dos. Encerram o documento assumindo que os
gicas” (p. 136) —; uso sistemático da metodologia autores prevêem críticas sobre ele, já que isso
fônica; uso de livro didático de preferência com também ocorreu nos outros países, nos quais o
controle do Ministério da Educação; e programas método fônico (como acontece no Brasil) con-
de formação de professores com mais mecanis- ta sempre com reações adversas motivadas por
mos de controle de qualidade e dos programas filosofias, ideologias e interesses.
(nesse tópico, o grupo chega a sugerir uma bi- Diante dessas afirmações, cabe uma
bliografia ‘essencial’ com a indicação de vários reflexão de natureza epistemológica. Piatelli-
autores defensores do método fônico, dois de- Palmarini (1983) comenta a propósito dos
les integrantes do próprio GT, Adam e Beard). empiristas e behavioristas que suas teorias têm
Encerra o relato do documento o capítu- um disfarce atraente, mas em termos heurísticos
lo VI — “Conclusões e recomendações” —, no quase sempre “naufragam nos recifes de uma

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006 271
ontologia demasiado avara” (p. 9), já que ado- fônico, quando vertida para a prática, quase
tam critérios que limitam a complexidade do nada acrescenta à conhecida tradição dos cha-
objeto de pesquisa e tornam o modelo mados métodos alfabéticos ou silábicos. O que
explicativo bastante restrito, quase insignifican- sempre apregoam como novidades são as su-
te diante da vasta gama de outros fenômenos postas comprovações científicas que trazem da
que o compõe. A visão científica dos defenso- neurobiologia e da genética. Em Snowling;
res do método fônico pode ser relida a partir Stackhouse (2004) e Shaywitz (2006), pode-se
dessa interpretação de Piatelli-Palmarini, ou detectar tendência semelhante à do relatório,
seja, a redução da aprendizagem da leitura ao pois se elabora um discurso que prega as no-
fenômeno da decodificação produz um corte vidades e os avanços da ciência no tratamen-
nos elementos essenciais do processo e eviden- to da dislexia para, no final, oferecer quase
cia também a sua perigosa avareza sempre sugestões de diagnósticos e atividades,
epistemológica. Vejamos um dos momentos em a escolas e pais, que praticamente nada diferem
que os autores destacam os elementos essen- das praticadas na década de 1960 (Jadoulle,
ciais do processo de aprender a ler, transcre- 1966). A avareza epistemológica, o foco redu-
vendo o texto do National Reading Panel zido sobre a decodificação, reedita as soluções,
(Brasília, 2003, p. 23): presentes nas cartilhas tradicionais, os esquemas
cartesianos de sempre: partir da menor dificul-
É um fato científico bem estabelecido que dade (começar pelas sílabas mais fáceis), uma
aprender a ler requer: ordem rigorosa (famílias silábicas em seqüência,
em ordem de dificuldade), redução das diferen-
• Compreender o princípio alfabético. ças subjetivas, apagamento de quase todos os
• Aprender as correspondências entre grafe-mas tipos de diferenças.
e fonemas.
• Segmentar seqüências ortográficas de palavras A complexidade das demandas
escritas em grafemas. brasileiras e as dificuldades de
• Segmentar seqüências fonológicas de palavras transposição do conhecimento
faladas em fonemas. teórico para as práticas
• Usar regras de correspondência grafema-
fonema para decodificar informação (Adams, Em geral, os pesquisadores, diante da
1990; Adams; Treiman; Pressley, 1997; Snow, complexidade da demanda brasileira, vêem-se
1998; National Reading Panel, 1998). obrigados a elaborar sínteses teóricas entre
diversos autores e até mesmo entre diversas
Apesar de os autores reconhecerem que ciências, porque percebem os grandes proble-
muitos outros aspectos de ler e escrever foram mas que a redução do foco da relação educa-
abandonados em razão da especificidade do tiva a um aspecto ocasiona. As indagações
relatório, reforçam que estes acima elencados, abaixo representam boa parte das inquietações
pelo NRP, são os mais fundamentais. Talvez o de um pesquisador ou mesmo de um educador
que suscite críticas e reações, em todos os pa- diante da complexidade que o ensino da leitura
íses onde se tenta implementar o método, não e da escrita põe para cada educador:
sejam as motivações ideológicas e políticas
como os defensores do fonocentrismo afirmam Foi precisamente a necessidade de analisar o
exaustivamente em muitas páginas do relatório, contexto, de pensar a alfabetização (ou o desen-
mas justamente essa redução da complexidade volvimento/ensino/aquisição da escrita) em ter-
do campo a que se dedicam. O estado da arte mos de interação e interlocução, que fui eviden-
da psicologia cognitiva que sustenta o método ciando ao longo destes anos de trabalho – para

272 Claudemir BELINTANE. Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca...


situar essa tarefa pedagógica no seu âmbito téc- Além desses entrecruzamentos teóricos,
nico, prático, mas sobretudo teórico e político. há também a emergência de novas pesquisas no
Embutida nessa necessidade, a procura do que campo da aquisição da linguagem oral, que
era relevante e significativo. Ou seja, na diversi- abrem perspectivas importantes para a alfabetiza-
dade dos métodos, na diferença das práticas, na ção e a leitura. Um exemplo é a produtiva apro-
dispersão dos interesses, na atribuição de valores, ximação entre Lingüística, Psicanálise e Educação,
na contingência das situações e momentos, o que cujas concepções de linguagem, língua e escrita
importa realmente? Pode-se assegurar ou deter- assumem um vínculo constitutivo com o concei-
minar isso? (Smolka, 2003 p. 29) to de inconsciente. Um exemplo promissor são os
trabalhos de Lemos (1992), Castro (1996), Lier-
Nota-se que a autora se vê diante de de-Vito (1998), Bosco (2002), Lemos (2002) –
uma diversidade de elementos que vai desde a para essa perspectiva, por exemplo, as idéias de
nomenclatura, que já denuncia possibilidades de consciência fonológica ou mesmo a concepção
diálogos com diversas tendências, a um campo de sujeito autocentrado vistas no relatório não
complexo de se definir e de se ‘assegurar’. ficariam sem uma densa crítica.
Já os defensores do método fônico Se um consenso científico é necessário
aplainam o campo, eliminam as diferenças, re- para que os educadores e gestores possam
duzem o campo do ensino da leitura à escola- contar com sugestões de programas e currícu-
rização e a um conjunto de técnicas. los em um esforço coletivo de enfrentar as
Ao analisar as tendências brasileiras, fi- complexas demandas brasileiras, é fundamental
xam-se apenas num confronto entre métodos em que ele se dê a partir de uma articulação mais
vez de analisar a complexidade que algumas li- ampla que considere o movimento dialético
nhas atingiram, sobretudo nas últimas décadas. típico do conhecimento científico contemporâ-
Mesmo as influências das perspectivas ideovisuais neo que, salvo raras exceções, cultua a inter-
e as da leitura significativa (Goodman, Smith, disciplinaridade, respeita a heterogeneidade e a
Foucambert), as dos construtivistas (Piaget, Emília complexidade dos processos e das diversidades
Ferreiro), as dos sociointeracionistas (Vygostsky, culturais. E é importante que a busca desse
Lúria) e as de Paulo Freire não se deram isolada- consenso esteja inserida num plano amplo que
mente no campo da linguagem. Nas décadas de faça da alfabetização e do ensino da leitura no
1980 e 1990, tais influências foram recombinadas Brasil prioridades absolutas.
com outras originadas de diversas possibilidades O grupo de especialistas escolhido pela
interdisciplinares: da Sociolingüística (por exem- Comissão de Educação e Cultura da Câmara repre-
plo, oriundos da tradição laboviana com intensa senta apenas uma das perspectivas possíveis do
intertextualidade com a obra de autores como campo da leitura e da alfabetização. Nesse senti-
Bourdieu, Snyders e outros), como se pode ver do, a recente crítica feita por Ouzoulias (2006)
em Soares (1989); da Análise do Discurso france- sobre o perigo da importação das pesquisas
sa e da Teoria da Enunciação de M. Bakhtin, que anglo-saxônicas para a França pode, com muito
se podem ver em Geraldi (1997), Smolka (2003), mais razão, ser aplicada ao Brasil: país complexo,
Kramer (2001), Kleiman (1995), Abaurre (1991), cuja língua, o português do Brasil, possui um sis-
Rojo (1998), Orlandi (1996) e em muitos outros. tema fonético-fonológico muito diferente do inglês
Talvez as dificuldades que os autores do Relató- — se o aluno inglês ou americano experimenta
rio apontam nos PCNs, e que realmente se podem imensas dificuldades em correlacionar grafemas a
detectar, advenham de uma tentativa de elabora- fonemas (ou fones) e, por isso, necessita de trei-
ção de sínteses teóricas abran-gentes, com a in- nos sistemáticos em fônica, o aluno brasileiro
tenção de evitar um modelo restritivo, que se parece se dar bem com atividades que colocam a
centre apenas em um dos aspectos do ensino. dinâmica fonético-fonológica da língua em jogo a

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006 273
partir do uso de textos integrais de sua cultura, jogo uma subjetividade que se compraza em des-
sobretudo aqueles gêneros que parecem ter sido cobrir um espaço de movimento entre textos orais
especialmente preparados pela cultura para que a e entre estes e os textos escritos e, de uma forma
criança possa brincar com a desmontagem de mais geral, entre os elementos segmentáveis e
palavras. As fórmulas de escolha, o jogo do analisáveis da fala e da escrita, sejam eles fones,
revestrés, a língua do Pê, os trava-línguas, as silabas, grafemas, morfemas, frases, referências intra
mnemonias e tantos outros gêneros lúdicos presen- e intertextuais etc. Em Belintane (2006), mostramos
tes na diversidade cultural brasileira já trazem em o efeito da adivinha na memória, discutimos a idéia
si os elementos essenciais de uma escrita. de uma “subjetividade de entre-textos”, que ana-
Os textos de origem oral permitem es- lisa forma e sentido ao mesmo tempo.
tratégias excelentes de alfabetização e de Nesse contexto de ensino, é possível e
engajamento subjetivo no universo da leitura. É recomendável que se utilizem as concepções de
possível, por exemplo, classificar os trava-lín- Emília Ferreiro e atividades com famílias silábi-
guas, as fórmulas de escolha, as adivinhas, as cas (com atividades orais, cópia, ditado etc.).
mnemonias de acordo com o tipo de dificulda- Note que partindo do oral, dos gêneros orais e
de que o processo de alfabetização vai enfren- da leitura, as fases de Ferreiro não estarão
tar no momento. Se quisermos lidar com encon- centradas apenas na escrita e as atividades com
tros consonantais, poderemos brincar oralmen- famílias silábicas partirão de contextos mais
te com o trava-língua – por exemplo: “troque o complexos (textos de origem oral ou mesmo da
trinco e traga o troco” –, pronunciando-o de pesquisa em livros). Frisemos bem: a atividade
dois jeitos: com o encontro consonantal ou com família silábica é muito importante, mas
reduzida à sílaba canônica: “toque o tinco e somente deve ser posta em jogo seletivamente a
taga o toco” (as crianças reconhecem aí, na falta partir de diagnósticos precisos e de preferência
do /r/, o outro que ainda tem dificuldade de fala individualizados. Só se abordam as famílias silá-
e acaba percebendo o encontro consonantal). Ao bicas que de fato constituem dificuldades — so-
fazer o percurso de passagem para a escrita, mos radicalmente contra a exaustão do contínuo
seguindo roteiro semelhante ao dado acima, das famílias silábicas como forma de contemplar
vamos ter um pareamento que evidencia a for- todos os alunos e todas as dificuldades. Nivelar a
ma e a função do encontro consonantal. classe dessa maneira é assumir uma metodologia
Há muitos outros jogos que permitem de baixo custo, mas de alto risco.
associar movimentos corporais ao descolamento Nas situações heterogêneas de ensino, não
de unidades vocabulares ou silábicas (alguns há outra solução. É necessário trabalhar a partir de
exemplos: pular corda dizendo textos, atirar a diagnósticos precisos, com mais de um material
bola na parede dizendo um texto, fórmulas de didático10 e até mesmo com dois professores si-
escolha, alguns brincos e mnemonias) – nesse multaneamente — um dos problemas atuais nessas
ponto, lingüística e a cinesiologia se associam salas é que o professor não consegue dar conta
e, em geral, favorecem muito a entrada no jogo dos diversos níveis que tem diante de si.
dos sujeitos que apresentam dificuldades ana- Voltando à polêmica dos métodos, cabe
líticas em relação à segmentação. aqui ainda uma pergunta e um comentário: se
Insistimos que na oralidade já há os ele- os próprios especialistas defensores do método
mentos fundamentais de uma escrita (Belintane, fônico (Adams et al., 2006) admitem que ape-
2005), ou seja, que a estética que permite a nas 25% dos alunos de classe-média e um “nú-
memorização e o jogo são elementos fundamen-
tais não apenas para que o aluno aceite o jogo de 10. Em Belintane (2000), sugerimos uma ambiência de linguagem e de
formação contínua de professores em rede eletrônica para tentar dar conta
“cola-descola” da intermitência silábica e dessa complexidade. A idéia é produzir um material didático contextualizado,
fonemática, mas também para que coloque em a partir de demandas concretas da rede em questão.

274 Claudemir BELINTANE. Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca...


mero bem maior” daqueles “menos ricos em ati- gados a reconhecer que tudo se afunila em dois
vidades de letramento” não dispõem de cons- gargalos: redes escolares que não fornecem con-
ciência fonológica nas séries iniciais (p. 19), dições de trabalho para que a equipe possa pôr
por que assumir um método que generaliza no centro uma prioridade (no caso a alfabetiza-
para qualquer sujeito a instrução direta (aqui ção e o ensino de leitura em situações hetero-
entendida como treino grafofônico)? gêneas de ensino); professores que não dispõem
Não temos dúvida de que a língua per- de uma formação inicial necessária à atividade
mite diferentes subjetividades, algumas mais pro- que exercem – uma olhada nos currículos de pe-
pensas ao jogo desejante da intermitência – que dagogia é bastante reveladora: no caso da Uni-
permite, por exemplo, não só a desmontagem das versidade de São Paulo, que é quase sempre
palavras, mas sobretudo um ir-e-vir entre textos vista como modelar, há apenas um semestre
e palavras, que pode favorecer a leitura fluente e dedicado ao estudo da alfabetização e uma dis-
significativa; e outras que assumem um modo ciplina optativa intitulada “Metodologia do En-
mais pregnante de lida com a própria fala – que sino de Lingüística”. A formação do professor,
não aceita o ato do corte, a segmentação das pa- tanto a inicial como a contínua, é um dos nós
lavras. Em nossos estudos, temos identificado na principais dessa intricada rede de problemas.
história desses sujeitos uma carência de jogos Não é por acaso que o amplo contexto
lúdicos no período de aquisição da fala do ensino da leitura acaba sendo tratado como
(Belintane, 2006b) e nos recusamos a classificá- contraposição entre métodos de alfabetização e
los simplesmente como disléxicos. que alguns políticos aceitam a polarização e
Em nossas pesquisas e cursos de forma- acabam assumindo este ou aquele método como
ção de professores, reunimos condições de for- forma de fugir da complexidade e de ter em
necer aos professores materiais didáticos mãos uma solução rápida e barata para um pro-
contextualizados, elaborados a partir de suas blema antigo, que deveria ser tratado como
próprias demandas, embora sejamos sempre obri- prioridade, de forma sistêmica e não pontual.

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Recebido em 19.10.05
Modificado em13.03.06
Aprovado em 17.04.06

Claudemir Belintane é pesquisador e docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.2, p. 261-277, maio/ago. 2006 277

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