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A CULTURA AUTORITÁRIA EM QUESTÃO] ISSN [2236-4846]
Felipe Marineli
Resumo
Este artigo busca discutir alguns elementos essenciais da produção teórica de Antônio
Delfim Netto. Após introduzir-se o problema, faz-se primeiramente uma breve
sumarização da industrialização brasileira para, em seguida, esclarecer-se o surgimento de
diferentes correntes teóricas que propuseram projetos nacionais distintos entre as décadas
de 1940 e 1960. Por fim, expõe-se o posicionamento de Delfim Netto a respeito do
desenvolvimento econômico brasileiro, particularmente do processo de industrialização,
passando pelos temas inflação, renda, consumo, alternativas políticas para o
desenvolvimento, entre outros.
Abstract
This article aims to discuss some of the ground elements of Antônio Delfim Netto’s
theoretical constructions. After the introduction of the problem, the Brazilian
industrialization is briefly summarized so that the raise of different theoretical trends that
proposed distinct national projects between the decades of 1940 and 1960 can be clarified.
Delfim Netto’s position in regards to the Brazilian economic development is presented
afterwards, particularly concerning the industrialization process and through different
problems, such as the political options to reach economic development; inflation, income
and consumption-related problems etc.
Faz graduação em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo (FFLCH-USP). Este artigo compõe-se de alguns resultados da pesquisa de Iniciação Científica
“Delfim Netto e o ‘milagre econômico’ brasileiro (1968-73)”, desenvolvida junto ao Instituto de Estudos
Brasileiros (IEB) da USP sob orientação do Prof. Dr. Alexandre de Freitas Barbosa e com bolsa da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo número 2011/14322-4.
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técnica do planejamento. Para tanto, expõe alguns fundamentos teóricos importantes, como
suas concepções de desenvolvimento e planejamento, que serão tratadas adiante.
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Em linhas gerais, iniciada na década de 1930 após surtos industriais nas décadas
anteriores, a industrialização brasileira começou num momento em que, por conta da Crise
de 1929, os bens manufaturados importados escasseavam no mercado mundial e, assim,
seus preços decolavam. Por outro lado, os preços dos produtos primários despencavam.
Esvaziadas as reservas do governo brasileiro com a crise e com a retração do crédito
internacional para o financiamento da retenção de estoques do café, o produto foi lançado
no mercado mundial em quantidade muito maior do que este poderia absorver. A
depreciação da moeda levava ao lançamento de maiores quantidades do produto no
mercado mundial por parte dos produtores, o que provocava nova queda nos preços e
depreciação da moeda. Entre 1929 e 1931, o poder de compra do cruzeiro no exterior teve
uma queda de cerca de 50% maior que dentro do país. Os preços relativos das mercadorias
importadas subiram em nível superior a 60%. Assim, a demanda reprimida teria de ser
satisfeita com produção interna (FURTADO, 2007).
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importações. Pela primeira vez na história brasileira, como afirma Furtado (2007), o centro
dinâmico da economia brasileira deslocou-se do mercado externo para o mercado interno;
assim, a burguesia cafeeira foi a matriz social da burguesia industrial (MELLO, 2009).
Neoliberalismo e desenvolvimentismo
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Designação que não faz qualquer referência ao que posteriormente ficou conhecido como “neoliberalismo”.
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que não poderia ser utilizado em uma economia ainda fortemente agrária e não-capitalista,
mas também desconsidera que, embora as forças de mercado tenham promovido a
industrialização nos casos clássicos, tratava-se de um momento completamente distinto na
história do capitalismo em escala mundial.
O pensamento desenvolvimentista, por outro lado, preconizava um projeto de
industrialização integral. Esse pensamento divide-se em três correntes, segundo a
classificação de Bielschowsky (2000): 1) o desenvolvimentismo do setor privado, que tem
em Roberto Simonsen um de seus principais expoentes, o qual defendia o aporte estatal
onde não havia iniciativa privada; 2) o desenvolvimentismo nacionalista do setor público,
como Furtado e Romulo Almeida, que defendiam a presença do Estado na construção da
estrutura industrial a ser formada, com um projeto de industrialização integral que
combateria as desigualdades social e regional do país; e 3) o desenvolvimentismo não
nacionalista do setor público, cujos destaques são Roberto Campos e Mario Henrique
Simonsen, que pregavam o aporte do Estado apenas nas áreas em que não chegassem o
capital estrangeiro e o capital privado nacional, conferindo grande peso à política
econômica em detrimento das estruturas da economia, apesar da partilha de algumas
premissas desse grupo com os estruturalistas (cf. BIELSCHOWSKY, 2000; SOLA, 1998).
Em linhas gerais, Delfim Netto se insere nesse debate na década de 1950 e se alinha ao
desenvolvimentismo não nacionalista do setor público.
Sua análise tenta dar conta de alguns fundamentos de uma teoria do
desenvolvimento, mas esvazia o conteúdo das categorias não econômicas. Ao adentrar na
determinação das causas do desenvolvimento econômico, Delfim Netto enfatiza que a
“coletividade” (DELFIM NETTO, 1962, p.IV) deveria necessariamente destinar maiores
recursos aos investimentos no setor de bens de produção em detrimento do próprio
consumo. As decisões da sociedade sobre o processo de produção são enunciadas como
essenciais e, ao mesmo tempo, dissociadas da distribuição do poder político, da
organização social e das contradições assim criadas. O planejamento, neutro em si mesmo,
daria conta dessas decisões.
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A teoria do bolo
Embora, segundo Delfim Netto (1962, p.67), houvesse vários caminhos para o
desenvolvimento, o caminho ótimo seguiria os passos que teriam sido seguidos por EUA e
Europa Ocidental no século XIX e por Japão e União Soviética no século XX. Ele
desistoriciza e despolitiza o problema do desenvolvimento econômico ao amarrar-se à
resolução de gargalos de produtividade através da operação das variáveis econômicas e
procura afirmar que o estruturalismo da CEPAL reduz a economia a variáveis sociológicas
e históricas. Para Delfim Netto (1962, p.5), “Se perde em visão cosmogônica e em efeito
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Suposta a substituição perfeita entre os fatores trabalho e capital, para Delfim Netto
(1962, p.14), “a taxa do desenvolvimento depende da taxa de crescimento da população e
da taxa de acumulação do capital, ponderadas pelos respectivos coeficientes da função de
produção”. Independentemente do sistema econômico, o crescimento da economia
dependeria essencialmente:
Segundo Delfim Netto, caso o excedente fosse utilizado para aumentar o nível de
vida da coletividade ou de apenas uma classe, “a economia entraria em estagnação e
retrocesso” (DELFIM NETTO, 1962, p.15). A “capacidade de desenvolvimento
econômico” de uma economia dependeria, portanto, da quantidade do excedente
econômico e o modo como ele é reintegrado ao processo produtivo (DELFIM NETTO,
1962, p.15). No entanto, o aumento do volume de capital – ou maior taxa de acumulação –
não seria suficiente para explicar a relação causal que existe entre capital e
desenvolvimento econômico. Para Delfim Netto, a própria natureza do capital se alteraria
nesse movimento, e não seria apenas o aumento do volume, “mas principalmente a
descoberta de novas formas produtivas (novos tipos de combinação entre capital e mão-de-
obra), ou seja, o desenvolvimento tecnológico, que produz aquela relação” (DELFIM
NETTO, 1962, p.17).
Ele é tão keynesiano quanto o próprio Furtado, que defende a necessidade radical
da importação de equipamentos e matérias-primas para a alteração da estrutura produtiva
brasileira, pouco diversificada e escassamente integrada vertical e horizontalmente
(BIELSCHOWSKY, 2000). A incorporação de novas técnicas produtivas, que obviamente
necessitam de capital para se materializar, seria, então, essencial ao processo.
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Como Resources and Output Trends in the United States since 1870 (1956), de Abramovitz; A Contribution
to the Theory of Economic Growth (1957), de Solow; e Capital Formation and Technological Change in the
United States Manufacturing (1960), de Massell.
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Assim, Delfim Netto amplia o quadro geral de correlações que busca traçar. A
dependência sobre a exportação de poucos produtos colocaria o desenvolvimento do país
nas mãos dos países importadores, e não na própria política econômica. Tal concentração
das exportações em alguns produtos teria razões históricas: um impulso dinâmico do setor
externo através da procura de um produto exportável geraria a mobilização de boa parte
dos recursos da economia para essa atividade e outras correlatas, o que faria com que em
pouco tempo toda a economia se encontrasse sob a dependência desse produto.
Países com maior crescimento demográfico, como o Brasil, teriam mais facilidade
em um dos elementos do processo, qual seja, a transferência da mão-de-obra para os
setores secundário e terciário da economia. Isso porque a taxa de mortalidade diminuiria
pelas melhores condições sanitárias e assistenciais proporcionadas pelo desenvolvimento.
Com a manutenção do crescimento demográfico, todo o acréscimo populacional poderia
ser alocado para os setores necessários da economia (DELFIM NETTO, 1962).
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Uma vez que, para Delfim Netto (1962. p.40, grifo do autor), o desenvolvimento
econômico não seria automático, mas demandaria um esforço consciente, os recursos para
seu financiamento – aqueles que tornam ao processo produtivo – proviriam de duas fontes
até que o processo atingisse a autossuficiência: “redução do consumo per-capita ou com o
auxílio de recursos vindos do exterior do sistema”. A aceleração do processo de
desenvolvimento econômico exigiria transferência mais rápida da mão-de-obra do setor
agrícola para o setor urbano, o que demandaria um aumento rápido de produtividade no
setor agrícola. Caso contrário, as pressões inflacionárias decorrentes da escassez de
produtos primários gerariam “situações de instabilidade social prejudiciais à sua realização
[do desenvolvimento]” (DELFIM NETTO, 1962, p.40). Em países subdesenvolvidos,
segundo Delfim, pequenas modificações na produção poderiam gerar grandes resultados
para o aumento da produtividade, como a melhoria da qualidade e a seleção das sementes,
a instrução técnica, aprimoramentos no sistema de crédito e a facilitação da
comercialização. Uma quantidade apreciável da mão-de-obra poderia ser transferida sem
que houvesse diminuição no volume da produção.
Para Delfim Netto (1962, p.42-4), deveria haver, além disso, um ajuste estratégico
da taxa de mão-de-obra economicamente ativa, ou seja, a mão-de-obra efetivamente
empregada no processo produtivo capitalista deveria aumentar conforme fosse necessário
ao desenvolvimento segundo os olhos dos planejadores.
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Apesar disso, o esforço a ser feito pela sociedade dependeria não apenas da
produtividade no setor de bens de produção, mas também no setor de bens de consumo.
Embora a taxa de crescimento não dependesse do setor de bens de consumo, a
produtividade dele condicionaria a taxa de poupança para financiar o crescimento. Quanto
maior a produtividade, menor a taxa de poupança necessária. Com base nisso, Delfim
Netto (1962) testa alguns modelos a fim de determinar variáveis ótimas para o
desenvolvimento. Quanto maior a proporção do investimento reconduzida ao setor de bens
de produção, ao que se faria necessária a poupança, ou seja, diminuição relativa do
consumo, maiores os resultados finais a longo prazo. Entretanto, quanto maior a taxa de
investimento, maiores seriam os sacrifícios impostos à coletividade.
Delfim Netto (1962, p.63) afirma que o modelo com o maior crescimento do
produto teria de levar a uma diminuição do consumo demasiado acentuada para que um
país subdesenvolvido a suportasse, “a não ser sob coação política”. Ele destrincha em
detalhes esse modelo, estabelecendo inclusive taxas ótimas de investimento, que
chegariam a 70% do produto total e levariam à retração drástica do consumo –
especialmente nesse caso, a coletividade teria de ser contida à força –, o qual voltaria a
crescer após 12 ou 15 anos a níveis a princípio extraordinários.
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Ao contrário dos cepalinos, de Gudin e de Bulhões, Delfim Netto acredita que pode
haver desenvolvimento capitalista dinâmico no Brasil sem mudança de estruturas:
O aumento de preços teria relação positiva com a taxa de investimento (w), isto é,
quanto maior essa taxa, maior o aumento geral de preços. O único modelo em que os
preços ficariam constantes seria com uma taxa de investimento de 30%. Nos demais casos,
o aumento dos preços seria considerável (cf. DELFIM NETTO, 1962, gráfico nº10, s/p.).
Uma política fiscal adequada, então, teria a função de “retirar dos consumidores os
excedentes do poder de compra” (DELFIM NETTO, 1962, p.64).
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Para combater esse problema, Delfim Netto (1965, p.8-10) defende que a “ação
unilateral” de uma “classe de empresários suficientemente dinâmicos” não seria suficiente
para o desenvolvimento econômico de “nações economicamente atrasadas”. A tentativa
isolada de solução do problema que giraria em torno de “consumir agora” ou “consumir
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A partir disso, o sistema político teria diferentes formas para exercer sua função em
prol do desenvolvimento. Entre elas, o surgimento de uma “vontade nacional” acima da
vontade dos “cidadãos”, que poderia inclusive se traduzir em uma “liderança política
consentida [...], capaz não só de restringir o consumo global, como de reduzir a luta entre
as diversas classes sociais pelo produto global gerado pela economia”3 (DELFIM NETTO
et al., 1965, p.10). O Brasil seria uma das “sociedades em desenvolvimento” em que a
inflação se manifestaria com muito vigor e onde até então, segundo Delfim Netto et al.
(1965, p.10), não haveria tal liderança depositária da vontade nacional.
Por outro lado, a vulnerabilidade ao fenômeno inflacionário por parte dos países em
desenvolvimento – ou subdesenvolvidos, como Delfim escrevia antes de 1965 – poderia ser
consideravelmente diminuída através de medidas de ordem monetária e fiscal. A inflação
anual da ordem de 80% pela qual o Brasil estaria passando no momento dificilmente se
justificaria, para ele, pelas “condições históricas e políticas que condicionaram o nosso
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Delfim Netto deixa de utilizar, neste livro de 1965, o conceito por tantas vezes utilizado de “coletividade”,
assim como substitui o termo “subdesenvolvido” por “em desenvolvimento”.
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A contenção do déficit do setor público, que, para Delfim Netto et al. (1965), teria
maior participação no processo inflacionário que outros fatores, deveria ser a pedra de
toque de qualquer política de combate à inflação. Esse controle do déficit, contudo, não
poderia ser feito através da diminuição dos investimentos governamentais, pois isso
poderia fazer com que o sistema econômico entrasse em crise. O governo deveria financiar
parte dos investimentos via ajuda externa, substituindo parcialmente as emissões de meios
de pagamento através de financiamentos de agências internacionais e de recursos externos
para projetos específicos. Os serviços ligados ao setor público, ademais, possuiriam baixa
produtividade, um dos primeiros problemas cuja resolução seria necessária para o controle
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Considerações Finais
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como teoria do bolo. Durante o período que vai de 1959 a 1965, Delfim Netto demarca sua
posição em relação ao paradigma estruturalista desenvolvido por Celso Furtado ao mudar
os termos do debate para tentar superá-lo. Em 1966, torna-se secretário da Fazenda do
estado de São Paulo e, em 1967, torna-se ministro da Fazenda, recebendo, assim, uma
oportunidade única para manejar a economia brasileira.
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Tal processo de desenvolvimento é definido por ele de diferentes formas, cada vez
mais complexas ao longo de suas análises, mas pode ser resumido basicamente como um
fenômeno dinâmico e autoalimentado, caracterizado pelo aumento da produtividade de
cada unidade de mão-de-obra na unidade de tempo e pelo crescimento da produção total de
bens e serviços em nível superior ao aumento populacional.
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Referências Bibliográficas
_____. O papel do Estado é igualar. Entrevistado por Jorge Luiz de Souza. In: IPEA.
Desafios do desenvolvimento. Brasília-DF: IPEA, ano 5, n. 39. 2008.
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Para uma discussão mais detalhada com dados fundamentais, cf. Humphrey, 1982.
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MELLO, João Manuel Cardoso. O Capitalismo Tardio. 11ª edição. São Paulo: Editora
UNESP; Campinas, SP: FACAMP, 2009.
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