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Resumão Direito Processual Penal
Resumão Direito Processual Penal
Princípios Gerais
O juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo). O juiz imparcial é
pressuposto para uma relação processual válida.
Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição Federal estipula garantias (artigo 95),
prescreve vedações (artigo 95, parágrafo único) e proíbe juízos e tribunais de exceção (artigo
5.º, inciso XXXVII). Observação: tribunal de exceção é um órgão constituído após a ocorrência
do fato.
As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões.
No processo penal, esse princípio sofre alguma atenuação, devido ao princípio constitucional
do favor rei, segundo o qual o acusado goza de alguma prevalência em contraste com a
pretensão punitiva. Essa atenuação se verifica, por exemplo, nos artigos 386, inciso VI, 607,
609, parágrafo único, e artigo 621, todos do Código de Processo Penal.
1.3. Contraditório
Esse princípio decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e é identificado na doutrina
pelo binômio “ciência e participação”.
O juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que o direito preexistente foi
devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à outra o direito de
manifestar-se em seguida.
Destarte, as partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido
e a oportunidade de se manifestarem sobre ele antes de qualquer decisão jurisdicional.
Resposta: Não, pois o juiz deverá abrir vista à outra parte para se manifestar sobre a medida
antes de dar o provimento final. Nesse caso o contraditório é apenas diferido.
O Estado deve proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal
(autodefesa), seja técnica (defensor) (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal), inclusive o de
prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (artigo 5.º, LXXIV, da
Constituição Federal).
No processo penal, o juiz nomeia defensor ao réu, caso ele não tenha, mesmo sendo revel
(artigos 261 e 263 do Código de Processo Penal) e caso seja feita uma defesa abaixo do
padrão mínimo tolerável, o réu poderá ser considerado indefeso e o processo anulado. Se o
acusado, citado por edital, não comparece, nem constitui advogado, suspende-se o processo e
o prazo prescricional (artigo 366 do Código de Processo Penal).
3. O Ministério Público não pode desistir da ação penal (artigo 42 do Código de Processo Penal),
nem do recurso interposto (artigo 576 do Código de Processo Penal).
O Ministério Público não pode desistir da ação penal, mas pode pedir a absolvição do
réu. Pergunta: tal possibilidade não fere o princípio da indisponibilidade da ação penal
pública? Resposta: não, pois esse pedido não passa de mero parecer que não vincula o juiz, o
qual pode proferir sentença condenatória.
É princípio próprio do processo civil, que vem sendo cada vez mais mitigado, diante de uma
tendência publicista no processo, permitindo ao juiz adotar uma posição mais ativa,
impulsionando o andamento da causa, determinando provas, conhecendo circunstâncias de
ofício e reprimindo condutas abusivas e irregulares (artigos 130 e 342 do Código de Processo
Civil).
O juiz tem o dever de ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, esgotando todas
as possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos para fundamentar a sentença.
Somente, excepcionalmente, o juiz deve curvar-se diante da verdade formal, como no caso da
absolvição por insuficiência de provas (artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal).
Mesmo vigorando o princípio da livre investigação das provas, a verdade alcançada será
sempre formal, pois o que não está nos autos, não está no mundo.
Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do Código
de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a utilização de provas
obtidas por meios ilícitos.
1.8. Publicidade
A publicidade poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo Civil e
artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).
Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de
primeiro grau.
Não é tratado de forma expressa na Constituição Federal. O duplo grau de jurisdição decorre
da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela Carta Magna.
Há casos em que não há duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, as hipóteses de
competência originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, da Constituição
Federal).
1.10. Juiz Natural
Previsto no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal, que dispõe que “ninguém será
sentenciado senão pelo juiz competente”.
Do princípio, decorre também a proibição de criação de tribunais de exceção. (artigo 5.º, inciso
XXXVII, da Constituição Federal).
A jurisdição é inerte. O princípio impede que o juiz instaure o processo por iniciativa própria, o
que, certamente, ameaçaria sua imparcialidade. Destarte, a movimentação da máquina
judiciária exige a provocação do interessado.
1.12. Oficialidade
Significa que os órgãos incumbidos da persecutio criminis não podem ser privados. A função
penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve ser deduzida por
agentes públicos. A ação penal pública é privativa do Ministério Público (artigo 129, inciso I, da
Constituição Federal). A função de polícia judiciária incumbe à polícia civil (artigo 144, § 4.º, da
Constituição Federal c/c artigo 4.º do Código de Processo Penal).
Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada subsidiária da pública –
quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação penal popular – na hipótese de
crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da República e por Ministros do
Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei n. 1.079/50).
1.13. Oficiosidade
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo Penal)
e ação penal pública condicionada.
Situa-se entre o sistema da prova legal, em que os elementos probatórios possuem valor
prefixado, e o sistema do julgamento secundum conscientiam, em que o juiz pode decidir com
base na prova dos autos, mas também sem provas e até mesmo contra a prova.
No princípio da persuasão racional, o juiz decide com base nos elementos existentes nos
autos, mas sua apreciação não depende de critérios legais preestabelecidos. A avaliação
ocorre segundo parâmetros críticos e racionais.
Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do juiz deve ser
motivado.
Exceção: os jurados, no Júri, não precisam fundamentar suas decisões, pois para eles vigora o
princípio da íntima convicção.
As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas. Esse princípio tem assento
constitucional no artigo 93, inciso IX.
Hoje, esse princípio é visto em seu aspecto político: garantia da sociedade que pode aferir a
imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das suas decisões.
1.17. Lealdade Processual
A fraude destinada a produzir efeitos no processo penal pode configurar o crime descrito no
artigo 347 do Código Penal.
No processo penal, não se anulam atos imperfeitos quando não prejudicarem a acusação ou a
defesa e quando não influírem na decisão da causa (artigos 566 e 567 do Código de Processo
Penal).
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória
(artigo 5.º, LVII, da Constituição Federal).
2. instrução processual: inverte-se o ônus da prova, ou seja, o réu não precisa provar que é
inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;
3. Alguns recursos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos infringentes).
É princípio próprio do processo penal, indica que o juiz deve buscar descobrir a realidade, não
se conformando com o que é apresentado nos autos (verdade formal). Como exemplo, pode
ser citado o artigo 156 do Código de Processo Penal, que permite ao juiz determinar diligências
de ofício para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do Código
de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a utilização de provas
obtidas por meios ilícitos.
2.4. Legalidade
Impõe a observância da lei pelas autoridades encarregadas da persecução penal, que não
possuem poderes discricionários para apreciar a conveniência e oportunidade da instauração
do processo ou do inquérito.
2.5. Oficialidade
A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve ser
deduzida por agentes públicos. Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal
privada subsidiária da pública – quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação
penal popular – na hipótese de crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da
República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei n.
1.079/50).
2.6. Oficiosidade
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo Penal)
e ação penal pública condicionada.
2.7. Autoritariedade
2.8. Indisponibilidade
2.9. Publicidade
A publicidade somente poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo Civil e
artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).
2.10. Contraditório
As partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a
oportunidade de se manifestarem sobre ele, antes de qualquer decisão jurisdicional.
Indica que o juiz deve ater-se ao pedido feito na peça inaugural, não podendo
pronunciar-se sobre o que não foi requerido.
O que vincula o juiz criminal são os fatos submetidos à sua apreciação. Exemplo: se na
denúncia o promotor descreve um crime de estupro, mas ao classificá-lo, o faz como
sendo de sedução, pode o juiz condenar por estupro, pois o réu se defende dos fatos a
ele imputados. Nesse caso o juiz não julgou além do que foi pedido, apenas deu aos
fatos classificação diversa (artigo 383 do Código de Processo Penal).
O artigo 384 do Código de Processo Penal trata da mudança na acusação, sempre que os
fatos narrados na denúncia ou queixa tiverem de ser modificados em razão de prova nova
surgida no curso da instrução criminal.
Previsto no artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal, o due process of law assegura à
pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens sem a garantia de um
processo desenvolvido de acordo com a lei.
Deve ser obedecido não apenas em processos judiciais civis e criminais, mas também em
procedimentos administrativos, inclusive militares.
Ao considerar inadmissíveis todas as “provas obtidas por meios ilícitos”, a Constituição Federal
proíbe tanto a prova ilícita quanto a prova ilegítima:
1. Provas ilícitas: aquelas produzidas com violação a regras de direito material (exemplo:
confissão obtida mediante tortura);
O Supremo Tribunal Federal, atualmente, não admite as provas ilícitas por derivação.
Entendemos que não é razoável sempre desprezar toda e qualquer prova ilícita, devendo o juiz
admiti-las para evitar uma condenação injusta ou a impunidade de perigosos marginais. O
direito à liberdade e à vida, por exemplo, não podem sofrer restrição pela prevalência do direito
à intimidade. Entra aqui o princípio da proporcionalidade, segundo o qual não há propriamente
um conflito entre as garantias fundamentais, devendo o princípio de menor relevância se
submeter ao princípio de maior relevância. Por exemplo: uma pessoa acusada injustamente,
que tenha na interceptação telefônica ilegal o único meio de demonstrar a sua inocência. A
tendência da doutrina é a de acolher essa teoria, para favorecer o acusado (prova ilícita pro
reo).
Verificando-se uma divergência, deve-se adotar a decisão mais célere, de acordo com o
que normalmente acontece. Exemplo: na dúvida entre tráfico internacional ou nacional,
os autos devem ser remetidos à justiça estadual; surgindo fato novo, em razão da
matéria, modifica-se a competência.
O juiz fica vinculado ao processo que presidiu a fase instrutória, devendo decidi-lo. Atenção:
este princípio não vigora no processo penal.
Ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público com atribuições
previamente fixadas e conhecidas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal).
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro,
sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional. No processo penal
vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do Código de Processo Penal).
Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não cuidam de exceções à
territorialidade da lei processual penal brasileira, mas sim de exceções à aplicação do Código
de Processo Penal. O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses excludentes da
jurisdição criminal brasileira.
Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado,
no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código Penal).
Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma se aplica em
um determinado território durante um determinado lapso de tempo.
A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução ao Código
Civil, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.
As normas de direito processual têm aplicação imediata, sem efeito retroativo. Adotou-se,
portanto, o princípio tempus regit actum.
O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” A aplicação do dispositivo
gera dois efeitos:
as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
No caso de normas mistas (de natureza processual e material), prevalece o caráter material,
devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja, retroagirá para beneficiar
o réu.
A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue. A revogação ainda pode
ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
3. IMUNIDADES
2. processual, formal ou relativa:consiste na garantia de não ser preso, salvo por flagrantes de
crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcança os Vereadores.
Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.”
Interpretar uma norma significa buscar seu alcance e real significado.
4.1. Espécies
1. Autêntica ou legislativa:feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da lei. Pode ser:
2. Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição
dentro do ordenamento jurídico.
2. Restritiva:a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse mais do que queria.
3. Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos do que queria.
A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo versando sobre
direito de punir.
5. ANALOGIA
Consiste em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso
semelhante.
5.1. Fundamento
Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo Direito).
5.3. Distinção
1. Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser aplicada norma que
trata de hipótese semelhante.
2. Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não menciona
expressamente sua eficácia.
3. Interpretação analógica:a norma, após uma enumeração casuística, traz uma formulação
genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente (exemplo: artigo
121, § 2.º, inciso III e IV do Código Penal).
Observação: não confundir interpretação analógica com aplicação analógica. Aquela é forma
de interpretação e esta forma de auto-integração.
6.1. Conceito
6.2. Espécies
7. DA PERSECUÇÃO PENAL
7.1. Conceito
7.3. Investigação
Porém, outras autoridades também podem investigar desde que haja previsão legal: 1) juiz da
falência investiga crime falimentar; 2) agentes fiscais investigam crimes fiscais.
Artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo Penal: “A competência definida neste artigo
não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.”
O particular pode investigar? A investigação feita por particular não é proibida. Poderá ser
realizada, mas os resultados devem ser enviados à polícia ou ao Ministério Público.
O juiz pode investigar? Sim, em duas hipóteses: 1) crime falimentar; 2) Lei do Crime
Organizado (artigo 3.º).
É exercida por autoridades policiais; visa apurar o fato e sua autoria. É auxiliar da justiça;
investiga crimes (artigo 13 do Código de Processo Penal).
O controle externo da polícia está previsto constitucionalmente e é exercido pelo Ministério
Público (artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal). Na prática, inexiste lei complementar
para disciplinar a matéria.
2. em razão da matéria;
Artigo 22 do Código Processo Penal: “No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais
de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos
a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra, independentemente de
precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a autoridade
competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença noutra circunscrição.”
É a polícia ostensiva, fardada, exercida em regra pela polícia militar. Normalmente, não
investiga crime (exceto os militares), pois tem caráter preventivo.
Inquérito Policial
1. CONCEITO
É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração
penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (artigo 4.º
do Código de Processo Penal).
2. NATUREZA JURÍDICA
3. FINALIDADE
Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a apuração
da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao titular da ação penal
elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.
4. POLÍCIA JUDICIÁRIA
O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo “jurisdição”.
O termo jurisdiçãodesigna a atividade por meio da qual o Estado, em substituição às partes,
declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.
A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” (limites territoriais
dentro dos quais a polícia realiza suas funções).
O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao dispor que “a
competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem
por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi infeliz, pois a autoridade policial
não tem competência, mas sim atribuições. O termo competênciaaqui empregado deve
ser entendido como poder conferido a alguém para conhecer determinados assuntos,
não se confundindo com competência jurisdicional, que é a medida concreta do Poder
Jurisdicional.
Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é conferida aos
Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de 1988), conforme as
normas de organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar da
consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma (ratione materiae).
A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de sua
circunscrição, sendo necessário:
Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial não invalida os
seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por não exercer atividade
jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione loci. Conforme já decidiu o
Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o inquérito policial é peça
meramente informativa, cujos vícios não contaminam a ação penal.
O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades policiais, pois
estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural). Assim, não foi adotado
pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado Natural”.
Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira (artigo 144,
§ 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º do Código de Processo
Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária não é a única forma de
investigação criminal.
Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras autoridades e não
pelo Delegado de Polícia, tais como:
1. Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz da vara onde
tramita a falência).
3. Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (Súmula
n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante
o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”).
4. Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; conforme dispõe o artigo 129,
inciso III, da Carta Magna).
6. Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial competente para
o julgamento).
7. Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-Geral de Justiça).
6. VALOR PROBATÓRIO
O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos necessários para
a propositura da ação penal.
Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos sob a égide
do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.
7. DISPENSABILIDADE
O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obrigatória da
persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o ofendido (no
caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a ação penal (artigo 12
do Código de Processo Penal).
O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo poderá
fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem suficientes não é
necessário o inquérito policial.
Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério Público
dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a
promover a ação penal.
Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode eximir-se
de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe que a acusação
careça de um mínimo de elementos de convicção.
De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito policial é
substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado pela autoridade
policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará uma narração sucinta dos fatos,
bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das testemunhas, em número máximo de
três, seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente, quando necessário para
comprovar a materialidade delitiva (dispensa-se o laudo de exame de corpo de delito). Lavrado
o termo, este será encaminhado ao Juizado Especial Criminal.
8. CARACTERÍSTICAS
4. Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer à lei.
7. Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela
autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).
9. INCOMUNICABILIDADE
Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem constitucional. A
Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a incomunicabilidade durante o
estado de defesa. Assim, se é vedada em situações excepcionais, com mais razão deve ser
vedada em situações de normalidade. Em sentido contrário, o Professor Damásio de Jesus
entende que a proibição está relacionada com crimes políticos ocorridos durante o estado de
defesa.
10.2. Espécies
11. INÍCIO
3. Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por qualquer um do povo.
Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquérito, caberá recurso ao Secretário de
Estado dos Negócios da Segurança Pública ou ao Delegado-Geral de Polícia (artigo 5.º, § 2.º,
do Código de Processo Penal). A delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou
postulatória (comunica e pede a instauração da persecução penal). Trata-se de faculdade
conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do Estado. Contudo, há algumas
pessoas que, em razão do seu cargo ou função, estão obrigadas a noticiar a ocorrência de
crimes de que tenham tomado conhecimento no desempenho de suas atividades (artigo 66,
incisos I e II, da Lei das Contravenções Penais; artigo 45 da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do
Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de Falências).
11.4. Observações
O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante nos três casos
(ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada). Nos crimes de ação
pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da
nota de culpa (24h).
A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa causa (se o
fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade). Porém, o desconhecimento da autoria ou a
possibilidade do sujeito ter agido sob a proteção de alguma excludente da ilicitude não impede
a instauração do inquérito.
Inquérito Policial
O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência imutável de atos.
O artigo 6.º do Código de Processo Penal indica algumas providências que, de regra, devem
ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da sua autoria.
Exceção: acidente automobilístico, em que os veículos devem ser deslocados com a finalidade
de desobstruir a via pública (artigo 1.º da Lei n. 5.970/73).
Deve também apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela perícia (artigo
11 do Código de Processo Penal – instrumentos e objetos do crime apreendidos serão
anexados ao inquérito policial).
Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão, que pode
ser efetuada no local do crime, em domicílio ou na própria pessoa. A busca domiciliar pode ser
realizada em qualquer dia, porém devem ser respeitadas as garantias de inviolabilidade
domiciliar (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal).
1. a convite do morador;
4. em caso de desastre.
Durante o dia:
1. nas quatro situações acima citadas;
Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo com
esta, não podia entrar à noite. Aplicava-se o artigo 172 do Código de Processo Civil por
analogia, contudo, em dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada, não
sendo mais possível sua aplicação.
Domicílio, nos termos do artigo 150, § 4.º, do Código Penal, é qualquer compartimento
habitado; aposento ocupado por habitação coletiva; compartimento não aberto ao público, onde
alguém exerce profissão ou atividade. Exemplos: o escritório de advogado, na parte aberta ao
público, não é domicílio, mas a sala do advogado sim (observação: a busca em escritório de
advocacia deverá ser acompanhada por um representante da Ordem dos Advogados do
Brasil); o mesmo entendimento se tem quanto a bar, pois considera-se domicílio a área interna
do balcão, onde é exercida a atividade pelo proprietário ou seu funcionário, sendo que a parte
externa, a freqüentada pelo público, não; quarto de hotel etc. Automóvel não é domicílio.
A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa. Independe de mandado, desde que
haja fundada suspeita. Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a
pessoa estiver em seu domicílio.
A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho (artigo 342 do Código Penal). O ofendido que mentir não comete crime de falso
testemunho.
1.4.1. Indiciamento
O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo; só valerá se confirmado por outros
elementos de prova.
A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para acompanhar o ato, muito
menos nomear-lhe um.
Se o suspeito for membro do Ministério Público, a autoridade policial não pode indiciá-lo,
devendo encaminhar os autos do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça.
No interrogatório judicial, a ausência de curador gerará sua nulidade (artigo 564, inciso III,
alínea “c”, do Código de Processo Penal). Qualquer pessoa pode ser nomeada curador. A
jurisprudência faz, no entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois estes têm interesse
na investigação.
Embora a Constituição Federal assegure que o civilmente identificado não será submetido à
identificação criminal, ressalva a possibilidade de o legislador infraconstitucional estabelecer
algumas hipóteses em que até mesmo o portador da cédula de identidade civil esteja obrigado
a submeter-se à identificação criminal. O legislador já estabeleceu algumas hipóteses.
Observações: na primeira hipótese, a regra nos parece inconstitucional por ofensa ao princípio
do estado de inocência, pois a simples razão de o agente estar sendo acusado pela prática
deste ou daquele crime não pode, por si só, justificar o constrangimento, exceto no caso de
envolvimento em quadrilhas organizadas, capazes de forjar documentos falsos.
Por fim, há outra hipótese em que o portador da cédula de identidade civil está obrigado a
submeter-se à identificação criminal: trata-se da identificação criminal de pessoa envolvida com
ação praticada por organização criminosa (artigo 5.º da Lei n. 9.034/95).
Poderão ser realizadas acareações (artigos 229 e 230 do Código de Processo Penal) e
reconhecimento de pessoas e coisas (artigos 226 a 228 do Código de Processo Penal).
Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a infração tiver
deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se mostrarem necessárias à elucidação
do ocorrido (artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal).
O artigo 7.º do Código de Processo Penal dispõe sobre a reprodução simulada dos fatos
(reconstituição do crime), que não pode contrariar a moralidade e a ordem pública.
O indiciado não pode ser obrigado a participar da reconstituição, o que violaria seu direito ao
silêncio e seu corolário, o de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si, mas pode
ser obrigado a comparecer (artigo 260 do Código de Processo Penal).
1.8. Relatório
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do que tiver
apurado no inquérito policial, sem, contudo, expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo
de valor, devendo, ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas, bem como as
diligências não realizadas.
O relatório é a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A autoridade somente
pode fornecer a classificação jurídica do fato, sem emitir qualquer juízo de mérito, e a
classificação não vincula o Ministério Público.
Se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias, contados da
data da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.
No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao prazo de
encerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).
A contagem do prazo atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Código de Processo Penal.
Despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a perda do direito
de punir, apenas o relaxamento da prisão.
No caso de tráfico internacional, aplica-se o prazo da Lei de Tóxicos (vide item seguinte),
adotando-se o princípio da especialidade.
2.1.2. Tóxicos
1. Lei n. 6.368/76: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder Judiciário é de 5
dias (no caso de tráfico é de 10 dias for força do artigo 35, parágrafo único). Na hipótese de
liberdade, o prazo é de 30 dias (artigo 21, § 1.°).
1. Lei n. 10.409/02: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder Judiciário é de 15
dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado se autorizado
pelo juiz (parágrafo único do artigo 29).
Remetemos o aluno ao estudo do módulo IV de Legislação Penal Especial, no que diz respeito
à aplicabilidade da lei nova.
No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o indiciado preso
ou solto (Lei n. 1.521/51, artigo 10, § 1.º).
3. Arquivamento
Só pode ser determinado pelo juiz se houver requerimento do Ministério Público. Se o Juiz
discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no artigo 28 do Código de Processo
Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:
1. oferecer a denúncia;
2. designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia: o promotor ou procurador
designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem que haja ofensa ao princípio da
independência funcional, pois age em nome da autoridade que o designou (por delegação) e
não em nome próprio;
3. insistir no arquivamento: neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do arquivamento.
Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiária,
pois esta só é possível no caso de inércia do Ministério Público.
O inquérito policial, arquivado por falta de provas, só poderá ser reaberto se surgirem
novas provas (súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal).
1. em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (artigo 7.º da Lei n.
1.521/51);
Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido ao Procurador-
Geral.
O pedido de arquivamento feito pelo titular da ação penal privada significa renúncia tácita
(causa a extinção da punibilidade).
Por fim, salientamos a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas corpus quando
houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico.
Da Ação Penal
1. DA AÇÃO PENAL
1.1. Conceito
Ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso
concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-
dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a
conseqüente satisfação da pretensão punitiva.
1.2. Características
2. direito subjetivo: pertence a alguém que pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional;
É a legitimação para ocupar os pólos da relação jurídica processual. Na ação penal pública o
pólo ativo é ocupado pelo Ministério Público; na ação penal privada, o pólo ativo é ocupado
pelo ofendido ou seu representante legal. O pólo passivo é ocupado pelo provável autor do
fato.
Os legitimados são os titulares dos direitos materiais em conflito. O Estado exerce por
intermédio do Ministério Público seu direito de punir que colide com o direito de liberdade do
acusado. No caso da ação penal privada, o ofendido age como substituto processual
(legitimação extraordinária), pois só possui o direito de acusar (jus accusationis), sendo que o
direito de punir pertence sempre ao Estado.
Consiste na necessidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse material
pretendido e na sua adequação ao provimento pleiteado. Por conseguinte, não será recebida a
denúncia quando estiver extinta a punibilidade do acusado. Nesse caso, a perda do direito
material de punir resultou na desnecessidade de utilização das vias processuais.
Ao lado das condições que vinculam a ação civil, também aplicáveis ao processo penal
(explicitadas no item anterior), a doutrina atribui a este algumas condições específicas,
ditas condições específicas de procedibilidade. São elas:
1. trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento,
no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento.
1. ação penal pública: exclusiva do Ministério Público (artigo 100 do Código Penal). Pode ser:
1. incondicionada: nos crimes que ofendem a estrutura social, o interesse geral, e por isso
independe da vontade de quem quer que seja;
2. condicionada: depende de representação do ofendido ou de requisição do ministro da Justiça.
1. ação penal privada: nos crimes que afetam a esfera íntima do ofendido A ação penal privada
pode ser exclusivamente privada, personalíssima ou subsidiária da pública.
O Ministério Público independe de qualquer condição para agir. Quando o artigo de lei nada
mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada. É regra no Direito Penal brasileiro.
A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o Ministério Público (artigo
129, inciso I, da Constituição Federal). Para identificação da matéria incluída no rol de
legitimidade exclusiva do Ministério Público, deve-se observar a lei penal. Se o artigo ou as
disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as expressões “somente se
procede mediante representação” ou “somente se procede mediante requisição do ministro da
Justiça”, apenas o Órgão Ministerial poderá propor a denúncia (peça inicial de toda a ação
penal pública).
Somente o Ministério Público pode oferecer a denúncia (artigo 129, inciso I, da Constituição
Federal). Esse princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme ou ação penal ex
officio, também chamado de “jurisdição sem ação” (verificava-se nas contravenções penais -
artigo 26 do Código de Processo Penal; nas lesões corporais culposas e no homicídio culposo).
Nesses casos, o juiz ou a autoridade policial, por meio de portaria ou pelo auto de prisão em
flagrante, iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do Ministério Público).
Vale lembrar que apesar de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do Ministério
Público, se o parquet não oferecer a denúncia no prazo legal, pode o ofendido ou seu
representante legal ingressar com ação penal privada subsidiária da pública (artigo 5.º, inciso
LIX, da Constituição Federal).
No caso de inércia do Ministério Público, este princípio sofre relativização, pois a vítima pode
ingressar com ação penal privada subsidiária.
O Ministério Público tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação penal pública,
quando concluir que houve um fato típico e ilícito e tiver indícios de sua autoria. O Ministério
Público não tem liberdade para apreciar a oportunidade e a conveniência de propor a ação,
como ocorre na ação penal privada.
Como o Órgão Ministerial tem o dever de ingressar com a ação penal pública, o pedido de
arquivamento deve ser motivado (artigo 28 do Código de Processo Penal).
Devendo denunciar e deixando de fazê-lo, o promotor poderá estar cometendo crime de
prevaricação.
Esse princípio foi mitigado com a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95 (artigos 74 e 76). No
caso de infração de pequeno potencial ofensivo, antes de oferecer a denúncia, o Ministério
Público pode oferecer a transação, um acordo com o autor do fato.
Há, ainda, outra exceção ao princípio da obrigatoriedade. A Lei n. 10.409/02 (nova Lei de
Tóxicos) introduziu o instituto da revelação eficaz, permitindo ao Ministério Público deixar de
propor a ação penal ou requerer a diminuição da pena, ao agente que revelar a existência de
organização criminosa, ensejando a prisão de um ou mais de seus membros; viabilizar a
apreensão da droga ou que, de qualquer maneira, contribuir para os interesses da Justiça (§
2.º do artigo 32).
Depois de proposta a ação, o Ministério Público não pode desistir (artigo 42 do Código de
Processo Penal). O artigo 564, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo Penal prevê que o
Ministério Público deve manifestar-se sobre todos os termos da ação penal pública.
Esse princípio também foi mitigado pela Lei n. 9.099/95 (referente a crimes de menor potencial
ofensivo e contravenções penais - artigo 61); o Ministério Público pode propor ao acusado a
suspensão condicional do processo, conforme artigo 89.
A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe. Somente estes podem ser
processados (não pode ser contra os pais ou representante legal do autor ou partícipe).
O Ministério Público não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar. Decorre do
princípio da obrigatoriedade.
Esse princípio também é aplicável à ação penal privada (artigo 48 do Código de Processo
Penal).
Alguns doutrinadores, no entanto, entendem que à ação penal pública aplica-se o princípio da
divisibilidade, pois o Ministério Público pode optar por processar apenas um dos ofensores,
optando por coletar maiores evidências para processar posteriormente os demais. Esse
também é o entendimento da jurisprudência.
A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisição do ministro da
Justiça.
A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses da data do conhecimento da
autoria (e não do crime), ou, no caso do artigo 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia, para apresentar sua representação (artigo 38 do Código de
Processo Penal). Tal prazo é contado para oferta da representação e não para o ingresso do
Ministério Público com a ação penal, podendo este oferecer a denúncia após os seis meses.
Tal prazo não corre contra o menor de 18 anos, ou seja, após completar 18 anos, a vítima terá
seis meses para representar ao Ministério Público. Em qualquer caso, tal prazo é decadencial
(artigo 107, inciso IV, do Código Penal). Esse prazo não se suspende nem se prorroga (artigo
10 do Código Penal).
A Lei de Imprensa, dispondo de forma diversa, prescreve que o prazo para a representação,
nos crimes de ação pública condicionada por ela regulados, é de três meses, contado da data
do fato, isto é, da data da publicação ou da transmissão da notícia (Lei n. 5.250/67, artigo 41, §
1.º).
Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante legal pode oferecer a
representação. Se o ofendido for incapaz e não tiver representante legal o juiz nomeará um
curador especial que decidirá se representará ou não. Se maior de 18 e menor de 21 anos,
tanto ele como seu representante legal têm legitimidade, com prazos independentes (Súmula
n. 594 do Supremo Tribunal Federal), podem oferecer a representação e, caso haja conflito
entre os interesses de ambos, prevalece a vontade de quem quer representar.
Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante legal, será nomeado
um curador especial que verificará a possibilidade ou não da representação.
Entendemos que não pode haver retratação da retratação (a pessoa retira a representação e
depois a oferece de novo – sempre dentro do prazo decadencial de seis meses). Como bem
lembra Tourinho Filho, admitir o contrário “é entregar ao ofendido arma poderosa para fins de
vingança ou outros inconfessáveis”. A jurisprudência, no entanto, a nosso ver de forma
equivocada, tem admitido este inconveniente procedimento.
A representação não vincula (obriga) o Ministério Público a ingressar com a ação; o Ministério
Público só oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do crime e os indícios de
autoria, senão poderá pedir o arquivamento do inquérito policial.
Requisição é o ato político e discricionário pelo qual o ministro da Justiça autoriza o Ministério
Público a propor a ação penal pública nas hipóteses legais.
A doutrina entende que os casos de ação penal pública condicionada à requisição do ministro
da Justiça são casos em que a conveniência política em instaurar a persecução penal se
sobrepõe ao interesse de punir os delitos.
1. crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República (artigo 141, inciso I,
combinado com o artigo 145, parágrafo único, do Código Penal);
1. crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (artigo 7.º, § 3.º, alínea “b”, do
Código Penal);
O ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição, pode fazê-lo a qualquer tempo
(não se sujeita aos seis meses de prazo como na representação).
A lei silencia sobre a possibilidade de retratação. Sobre o assunto, a doutrina apresenta duas
orientações:
1. segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve-se aplicar a analogia com o instituto da
representação (artigo 25 do Código de Processo Penal), sendo, portanto, possível a retratação;
2. segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o artigo 25 do Código de
Processo Penal não prevê tal possibilidade
Denúncia e Queixa
1.1. Conceito
É a ação proposta pelo ofendido ou seu representante legal. O Estado, titular exclusivo do
direito de punir (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal), por razões de política criminal,
outorga ao ofendido o direito de ação. O ofendido, em nome próprio, defende o interesse do
Estado na repressão dos delitos.
O Estado é o titular exclusivo do direito de punir. Nas hipóteses de ação penal privada, ele
transfere ao particular a iniciativa da ação, mas não o direito de punir. O ofendido, portanto, em
nome próprio, defende interesse alheio (legitimação extraordinária). Na ação penal pública,
ocorre legitimação ordinária porque é o Estado soberano, por meio do Ministério Público, que
movimenta a ação.
1.3. Titular
Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou seus interesses colidirem com os deste último, o direito de queixa
poderá ser exercido por curador especial, nomeado para o ato (artigo 33 do Código de
Processo Penal). Se maior de 18 e menor de 21 anos, o direito de queixa é titularizado por
cada um deles, independentemente, conforme a Súmula 594 do Supremo Tribunal Federal. Se
maior de 21 anos, a queixa será exercida apenas pelo ofendido, excluindo-se a figura do
representante legal, salvo, é claro, se mentalmente incapaz.
1. Ação penal exclusivamente privada: é aquela proposta pelo ofendido ou seu representante
legal, que permite, no caso de morte do ofendido, a transferência do direito de oferecer queixa
ou prosseguir na ação ao cônjuge, ao ascendente, ao descendente ou ao irmão (artigo 31 do
Código de Processo Penal).
2. Ação penal privada personalíssima: é aquela que só pode ser promovida única e
exclusivamente pelo ofendido. Exemplo: adultério (artigo 240 do Código Penal), induzimento a
erro essencial (artigo 236, parágrafo único, do Código Penal). Assim, falecendo o ofendido,
nada há que se fazer a não ser aguardar a extinção da punibilidade do agente.
3. Ação penal privada subsidiária da pública: aquela proposta pelo ofendido ou por seu
representante legal na hipótese de inércia do Ministério Público em oferecer a denúncia.
Conforme entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, a ação subsidiária não tem
lugar na hipótese de arquivamento de inquérito policial.
1.5. Prazo
Trata-se de prazo de direito material contado de acordo com o artigo 10 do Código Penal,
computando-se o dia do começo e excluindo-se o do final; não se prorroga se terminar no
domingo ou feriado. Interrompe-se com o oferecimento da queixa, e não com o seu
recebimento. O recebimento interrompe a prescrição.
O ofendido pode desistir ou abandonar a ação penal privada até o trânsito em julgado da
sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (artigos 51 e 60 do Código de
Processo Penal, respectivamente). A desistência com a aceitação do ofendido equivale ao
perdão.
O Ministério Público não pode aditar a queixa para nela incluir os outros ofensores, porque
estaria invadindo a legitimação do ofendido. Para Tourinho Filho, entretanto, o aditamento é
possível com base no artigo 46, § 2.º, do Código de Processo Penal. Mirabete entende que no
caso de não-inclusão involuntária de ofensor na queixa-crime (por desconhecimento da
identidade do co-autor, por exemplo), o Ministério Público deve fazer o aditamento, nos termos
do artigo 45 do Código de Processo Penal.
Trata-se de princípio constitucional que impõe que a ação penal só pode ser ajuizada contra o
autor do fato e nunca contra os seus sucessores.
2. DENÚNCIA E QUEIXA
2. Descrição completa dos fatos em todas as circunstâncias: no processo penal, o réu defende-se
dos fatos a ele imputados, sendo irrelevante a classificação jurídica destes. O que limita a
sentença são os fatos; sua narração incompleta acarreta a nulidade da denúncia, se a
deficiência inviabilizar o exercício do direito de defesa. A omissão de alguma circunstância
acidental não invalida a queixa ou a denúncia, podendo ser suprida até a sentença (artigo 569
do Código de Processo Penal). Na hipótese de concurso de agentes (co-autoria e
participação), sempre que possível, é necessária a descrição da conduta de cada um. A
jurisprudência já abriu exceções para não inviabilizar a persecução penal, como nos seguintes
casos:
1. Classificação jurídica dos fatos: a correta classificação do fato imputado não é requisito
essencial da denúncia, pois não vincula o juiz que pode dar aos fatos definição jurídica diversa.
O réu se defende dos fatos e não da acusação jurídica (juria novit curia – o juiz conhece o
direito).
O juiz não pode, ao receber a denúncia, dar uma classificação jurídica diversa da contida na
exordial porque a fase correta para isso é a sentença (artigo 383 do Código de Processo
Penal); o recebimento é uma decisão de mera prelibação, sem o exame aprofundado da prova;
não há ainda prova produzida pelo crivo do contraditório.
3. Pedido de condenação: não se exige fórmula sacramental (“peço a condenação”), basta que
fique implícito o pedido. A falta acarreta mera irregularidade.
4. Nome, cargo e posição funcional do denunciante: só haverá nulidade quando essa falta
inviabilizar por completo a identificação da autoria da denúncia.
5. Assinatura: a falta não invalida a peça se não houver dúvidas quanto a sua autenticidade.
2.3. Omissões
Podem ser suprimidas até a sentença (artigo 569 do Código de Processo Penal).
Prazos especiais:
3. crime previsto na lei de tóxico: 3 dias (salvo no caso dos crimes definidos nos artigos 12, 13 e
14, em que o prazo será de 6 dias)
Seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber quem é o autor do crime. No caso
de ação penal privada subsidiária, o prazo será de seis meses, a contar do esgotamento do
prazo para o oferecimento da denúncia.
O Ministério Público pode aditar a queixa para nela incluir circunstâncias que possam influir na
caracterização do crime e na sua classificação, ou ainda na fixação da pena (artigo 45 do
Código de Processo Penal).
O Ministério Público não poderá incluir na queixa outros ofensores se o querelante optou por
não processar os demais, pois estaria invadindo a legitimidade do ofendido. Nesse caso, de
não inclusão injustificada, há renúncia tácita do direito de queixa e conseqüente extinção da
punibilidade dos que não foram processados, que se estende aos querelados, por força do
princípio da indivisibilidade (artigo 48 do Código de Processo Penal). No caso de não inclusão
justificada (desconhecimento da identidade do co-autor, por exemplo), não se trata de renúncia
tácita. Tão logo se obtenham os dados identificadores necessários, o ofendido deverá aditar a
queixa incluindo o indigitado, sob pena de, agora sim, incorrer em renúncia tácita extensiva a
todos.
O prazo para aditamento da queixa pelo Ministério Público é de três dias, a contar do
recebimento dos autos pelo órgão ministerial. Aditando ou não a queixa, o Ministério Público
deverá intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade.
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público poderá, além de
aditar a queixa, repudiá-la, oferecendo denúncia substitutiva (artigo 29 do Código de Processo
Penal).
O juiz rejeitará a denúncia quando concluir que o fato narrado é atípico ou que está acobertado
por causa de exclusão de ilicitude, porque falta uma condição da ação – uma
verdadeira impossibilidade jurídica do pedido. O artigo 43, inciso I, do Código de Processo
Penal faz coisa julgada material (não pode ser oferecida a denúncia novamente).
Falta uma condição da ação, que é o interesse de agir. Faz coisa julgada material (artigo 43,
inciso II, do Código de Processo Penal).
Quando se verifica impertinência subjetiva da ação (artigo 43, inciso III, do Código de Processo
Penal). Ocorre, por exemplo, quando o Ministério Público oferece queixa em ação privada.
Haverá também ilegitimidade quando um menor de 18 anos ingressar com a queixa em uma
ação privada. Nesse caso, opera-se a chamada ilegitimidade ad processum (incapacidade
processual).
Exemplo: apresentar a denúncia sem representação quando esta for exigida por lei (artigo 43,
inciso III, 2.ª parte, do Código de Processo Penal).
É preciso um mínimo de lastro da existência do crime ou sua autoria (artigo 648, inciso I, do
Código de Processo Penal).
2.8. Renúncia
É a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação. Só é possível renunciar a uma
ação penal privada ou a uma ação penal pública condicionada, tendo em vista que o Ministério
Público jamais pode renunciar a qualquer ação pública.
A renúncia é unilateral, ou seja, não depende da aceitação do agente, sendo causa extintiva da
punibilidade. A renúncia, no entanto, é extraprocessual, só poderá existir antes da propositura
da ação.
2. tácita: quando a vítima praticar ato incompatível com a vontade de processar (exemplo: o
casamento da vítima com o agressor).
A renúncia concedida a um réu estende-se a todos, ou seja, quando houver vários réus, a
renúncia com relação a um deles implica, obrigatoriamente, renuncia a todos.
No caso de dupla titularidade para propositura da ação, a renúncia de um titular não impede a
propositura da ação pelo outro.
Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela ocorre antes da
propositura da ação e esta depois da propositura da ação. A única situação de desistência da
ação está prevista no artigo 522 do Código de Processo Penal.
Resposta: Não, por expressa previsão do artigo 104, parágrafo único, do Código Penal. No
caso de infração penal de menor potencial ofensivo, contudo, a homologação judicial do acordo
civil, realizada na audiência preliminar, implica renúncia ao direito de queixa ou representação
(artigo 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95).
É possível somente na ação penal privada, tendo em vista que o Ministério Público não pode
perdoar o ofendido. O perdão aceito obsta o prosseguimento da ação, causando a extinção da
punibilidade. Verifica-se o perdão após o início da ação, pois, tecnicamente, o perdão antes da
ação configura renúncia. Admite-se o perdão até o trânsito em julgado final.
O perdão é bilateral, depende sempre da aceitação do querelado. Caso não haja aceitação, o
processo prosseguirá. A lei assegura ao querelado o direito de provar sua inocência. A
aceitação do querelado poderá ser:
O perdão concedido a um co-réu estende-se a todos, entretanto, se algum dos co-réus não o
aceitar, o processo seguirá somente para ele. A doutrina entende que é possível o perdão
parcial, como, por exemplo, perdoar por um crime e não perdoar por outro (a lei é omissa a
esse respeito).
Se a vítima for maior de 18 e menor de 21 anos (caso em que há dupla titularidade), o perdão
concedido por um titular, havendo oposição do outro, não produzirá efeitos e o processo
prosseguirá. Assim, prevalece a vontade de quem não quer perdoar (artigo 52).
2.10. Perempção
2. quando morre o querelante ou torna-se incapaz e nenhum sucessor aparece para dar
prosseguimento à ação, em 60 dias;
3. quando o querelante deixa de comparecer a ato em que deveria pessoalmente estar presente;
Um dos efeitos da sentença penal condenatória é tornar certa a obrigação de reparar o dano
causado pelo crime (artigo 91, inciso I, do Código Penal). Assim, a condenação penal imutável
faz coisa julgada no cível, para efeito de reparação do dano ex delicto, impedindo que o autor
do fato renove, nessa instância, a discussão do que foi decidido no crime. Trata-se de efeito
genérico que não precisa ser declarado na sentença penal.
O Código de Processo Penal, seguindo o Estatuto Penal, em seu artigo 63, assegura ao
ofendido, ao representante legal ou aos herdeiros daquele, o direito de executar no cível a
sentença penal condenatória transitada em julgado.
A sentença penal condenatória transitada em julgado funciona como título executivo judicial no
juízo cível, possibilitando ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a necessidade de
propor ação civil de conhecimento. Com o trânsito em julgado, basta promover a liquidação do
dano, para, em seguida, ingressar com a ação de execução civil.
Trata-se da ação civil ex delicto, que pode ser proposta pelo ofendido, seu representante legal
ou seus herdeiros, em razão da ocorrência de um delito. Está disposta nos artigos 63 a 67 do
Código de Processo Penal. É proposta no juízo cível contra o autor do crime ou seu
responsável civil.
Observação: a coisa julgada produzida no cível pela condenação penal não abrange o
responsável civil, sob pena de violação a princípios constitucionais, tais como o princípio do
contraditório e da ampla defesa.
Se a ação penal, portanto, ainda estiver em curso, a vítima poderá entrar com a ação civil no
juízo cível para requerer a indenização. Como poderá ocorrer, no entanto, o conflito de
decisões, o juiz da ação civil poderá suspender o curso dessa ação até julgamento final da
ação penal.
Nem sempre a absolvição do réu no juízo criminal impedirá a actio civilis ex delicto. Em regra,
esta só não poderá ser proposta quando tiver sido categoricamente reconhecida a inexistência
material do fato.
1. a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime;
1. quando o juiz criminal reconhecer uma causa excludente da ilicitude (legítima defesa, estado
de necessidade, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal). Essas
causas excluem a ilicitude penal e civil. Há, entretanto, duas exceções: no estado de
necessidade agressivo, no qual o agente sacrifica bem de terceiro inocente, este pode acioná-
lo civilmente, restando ao causador do dano a ação regressiva contra quem provocou a
situação de perigo (artigos 929 e 930 do Código Civil de 2002); na hipótese de legítima defesa,
na qual, por erro na execução, vem a ser atingido terceiro inocente, este terá direito à
indenização contra quem o atingiu, ainda que este último estivesse em situação de legítima
defesa, restando-lhe apenas a ação regressiva contra seu agressor (parágrafo único do artigo
930 c/c o artigo 188, inciso I, do novo Código Civil).
A sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, poderá ser executada no juízo cível,
mas como o juiz criminal não fixa o quantum, é necessário que se faça a liquidação da
sentença.
O autor da ação cível tem o privilégio de escolher um dos foros especiais, previstos no artigo
100, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Esse dispositivo, na verdade, coloca três
opções de foro à disposição da vítima de delito ou de dano sofrido em acidente de veículos: o
do seu domicílio, o do local do fato, e, regra geral, o do domicílio do réu.
Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (artigo 32, §§ 1.º e 2.º, do Código de
Processo Penal), a execução da sentença condenatória (artigo 63 do Código de Processo
Penal) ou a ação civil (artigo 64 do Código de Processo Penal) será promovida, a seu
requerimento, pelo Ministério Público, nos termos do artigo 68 do Código de Processo Penal.
Jurisdição e Competência
1. JURISDIÇÃO
1.1. Conceito
1.2. Princípios
1. Juiz natural: ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente, que é aquela cujo poder jurisdicional vem fixado em regras
predeterminadas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal); do mesmo modo, não
haverá juízo ou tribunal de exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal).
2. Devido processo legal: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal (artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal).
1. Inércia: a jurisdição não age de ofício; depende de provocação das partes, pois, caso
contrário, sua imparcialidade ficaria abalada; ne procedat iudex ex oficio.
2. Indelegabilidade: a jurisdição não pode ser delegada a nenhum outro órgão. O Poder
Judiciário é um Poder Constituído que recebeu sua função do Poder Constituinte. Não
se pode delegar o que se recebeu por delegação; dellegatur dellegare non potest.
2. COMPETÊNCIA
I – o lugar da infração;
V – a conexão ou continência;
VI – a prevenção;
3.1. Foro
Foro é o território dentro do qual determinado órgão judicial exerce sua parcela de
jurisdição.
a) Fraude no pagamento por meio de cheque (artigo 171, § 2.º, inciso VI, do Código Penal)
c) Homicídio
No homicídio, quando a morte é produzida em local diverso daquele em que foi realizada
a conduta, a jurisprudência entende que o foro competente é o da ação ou omissão, e
não o do resultado (Superior Tribunal de Justiça, 5.ª T., RHC 793, DJU, 5 nov. 1990, p.
12435). Esta posição é majoritária na jurisprudência, e tem por fundamento a maior
facilidade que as partes têm de produzir provas no local em que ocorreu a conduta.
Contudo, ela é contrária à letra expressa da lei, que dispõe competente o foro do local do
resultado.
A jurisprudência entende que o foro competente será o juízo deprecado. Assim, o local
onde ocorreu a oitiva da testemunha será o competente.
e) Crime permanente
O foro competente será o local do porto nacional onde ocorreu o primeiro atracamento
após o crime ou o porto de onde a embarcação saiu do Brasil para o exterior. Para os
crimes cometidos a bordo de aeronave, utiliza-se a mesma regra: o foro competente será
o local do aeroporto onde ocorreu o primeiro pouso após o crime ou o aeroporto de
onde decolou a aeronave antes do crime.
Conforme a natureza da infração, a ação será julgada por uma determinada justiça
competente.
2. Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).
1. Tribunal de Justiça Militar ou Tribunal de Justiça (para os Estados que não possuem
TJM – 2.ª instância)
2. Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).
Serão Julgados pela Justiça Militar Federal:
1. Integrantes das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que pratiquem crime
definido como militar.
2. Civil que pratique crime contra instituição militar federal. Observação: assim dispõe a
Súmula n. 53 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares
estaduais”. Assim, se o civil cometer crime contra instituição militar federal, será julgado
pela justiça militar federal; se o civil cometer crime contra instituição militar estadual,
será julgado pela justiça comum estadual.
Serão julgados pela Justiça Militar Estadual (artigo 125, § 4.º, da Constituição
Federal/88):
1. policiais militares e bombeiros militares, nos crimes definidos em lei como militares.
Crimes Militares:
1. Propriamente militar ou próprio: são aqueles definidos no Código Penal Militar (Decreto-
lei n. 1.001/69), sem equivalente na justiça penal comum. Exemplo: motim, dormir em
serviço, deserção, insubordinação.
Os crimes militares próprios são julgados pela justiça militar. Com relação aos crimes
militares impróprios, o Código Penal Militar estabelece em seu artigo 9.º, inciso II, as
situações em que o crime é praticado em situação de serviço. Nesse caso, ou seja, se o
crime for praticado pelo militar em serviço, será crime militar. Se o militar não estiver em
serviço, será julgado pela justiça comum.
Se o militar em serviço pratica crime não definido no Código Penal Militar, será julgado
pela Justiça Comum. Exemplo: crime de abuso de autoridade – Lei n. 4.898/65.
2. crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, mesmo em situação de
serviço, também passaram a ser da competência da Justiça Comum, julgados pelo
Tribunal do Júri.
Súmula n. 78 do Superior Tribunal de Justiça: “O policial militar será julgado pela Justiça
Militar Estadual de seu Estado, ainda que o crime seja praticado em outro Estado”.
Crimes políticos
A lei não define o que é crime político. Os doutrinadores estabelecem dois critérios:
2. objetivo: leva em conta o bem jurídico violado (crimes que violem o Regime Democrático
ou praticado contra as Instituições Políticas); crimes enquadrados na Lei de Segurança
Nacional.
Jurisdição e Competência
1. COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
O foro por prerrogativa de função não é privilégio pessoal, mas sim garantia inerente a cargo
ou função. A razão do legislador, ao atribuir o julgamento a um órgão colegiado, é evitar que
um juiz monocrático pudesse ceder a eventuais pressões, comprometendo sua imparcialidade.
Assim, trata-se de uma garantia à sociedade, pois o que se busca é a imparcialidade do
julgador.
A Lei n. 8.038/90 dispõe sobre o procedimento para os processos perante o Superior Tribunal
de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
1. Por quem tem prerrogativa de função (exemplo: prefeito) e uma pessoa sem prerrogativa,
ambos serão julgados pelo Tribunal de Justiça, pela continência.
2. Por duas pessoas que têm prerrogativa de função, por exemplo, prefeito (Tribunal de Justiça) e
senador (Supremo Tribunal Federal). São competências fixadas pela Constituição Federal/88,
não podendo ser reunidas para o julgamento em conjunto, pois a continência prevista no
Código de Processo Penal é infraconstitucional; ocorrerá, portanto, a disjunção.
Há duas posições.
Para uma primeira corrente, o deputado estadual deverá ser julgado pelo júri popular, ante a
falta de previsão expressa de foro especial na Lei Maior, a qual manda aplicar-lhe apenas suas
regras “sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas” (artigo 27, § 1.º). É certo que nada
impede venham as constituições estaduais a adotar o foro especial, mas, não o tendo feito a
Carta Federal, esta competência não poderia prevalecer sobre a constitucional do Júri (artigo
5.º, inciso XXXVIII, alínea d).
O entendimento que nos parece mais correto, no entanto, é o de que, tendo a Carta Magna
estabelecido foro especial para os membros do Poder Legislativo da União, os Estados, ao
repetir em suas constituições idêntica garantia para seus parlamentares, estão refletindo em
seus textos o dispositivo da Lei Maior. Não há qualquer tipo de inovação porque o foro por
prerrogativa de função para deputados estaduais está em perfeita sincronia com a Constituição
Federal. Esse paralelismo significa que o privilégio estadual consta também da Carta Federal
e, por esta razão, sobrepõe-se à competência do Júri.
Importante:
Ainda que o crime seja praticado em outra unidade da Federação, a competência continua
sendo a do Tribunal que tem competência para julgá-lo.
O Supremo Tribunal Federal tem competência para julgar por crimes comuns (crimes e
contravenções) e por crimes eleitorais:
3. Ministros de Estado;
6. Parlamentares federais;
7. Agentes diplomáticos;
8. Procurador-Geral da República.
O Superior Tribunal de Justiça tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo crimes eleitorais (neste caso, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar a
questão), cometidas por:
1. Governador;
O Tribunal Regional Federal tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo nos crimes eleitorais, cometidas por:
2. Juízes do Trabalho;
3. Juízes militares;
1. Juízes de Direito;
4. Prefeitos municipais.
Atenção:
Prefeito Municipal:
Juiz federal:
1. Vice-Governador;
2. Deputado estadual;
3. Secretário de Estado;
4. Procurador-Geral de Justiça;
5. Procurador-Geral do Estado;
7. Prefeitos municipais;
Tribunal de Justiça Militar tem competência para julgar crimes militares – Constituição
Estadual de São Paulo:
Nos termos do artigo 85 do Código de Processo Penal, nos processos por crime contra a
honra, em que o querelante tiver foro especial no Supremo Tribunal Federal ou no Tribunal de
Apelação, a esses caberá o julgamento da exceção da verdade. Não cabe a oposição de
exceção da verdade:
1. Na calúnia:
1. se o fato imputado a alguém for crime de ação penal privada, e ele não for condenado;
3. se, do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.
A exceção da verdade é questão prejudicial homogênea, pois é anterior ao mérito e pode ser
objeto de processo autônomo.
Deve ser oposta quando da defesa prévia; mas para alguns esse prazo não é fatal, pois é
questão de mérito, e o prazo fatal caracterizaria o cerceamento de defesa. Há posicionamentos
contrários.
Oposta a exceção, o querelante tem dois dias para contestá-la. Poderá arrolar no máximo oito
testemunhas. Se na queixa já tiver arrolado quatro testemunhas, poderá arrolar mais quatro na
contestação da exceção, até completar o número legal. Isso porque, embora o crime seja
punido com detenção, o rito é ordinário.
Conforme o artigo 85, do Código de Processo Penal, a exceção será julgada pelo Tribunal
competente. Se o Tribunal julga procedente a exceção, o mérito será julgado improcedente. Se
julga improcedente a exceção, o mérito será julgado procedente ou improcedente. Observação:
o Tribunal só faz o julgamento da exceção, as testemunhas são ouvidas em 1.ª instância.
Depois de julgar a exceção, o Tribunal devolve o processo para ser julgado, em 1.ª instância, o
mérito.
Prevenção
Geram prevenção:
1. Concessão de fiança;
Distribuição
Se for constatado que não houve prevenção, a fixação do juízo competente se dará por
distribuição, que é o sorteio para a fixação do juiz para a causa.
A conexão e a continência (artigo 69, inciso V, do Código de Processo Penal) são critérios de
modificação, de prorrogação da competência e não de fixação.
Conexão
1. Intersubjetiva
1. por simultaneidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, sem
vínculo subjetivo, ao mesmo tempo (exemplo: um caminhão carregado de laranjas tomba, e
vários moradores da região apanham as laranjas);
2. por concurso: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, com vínculo
subjetivo, embora diverso o tempo e o lugar;
3. por reciprocidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, umas
contra as outras.
1. Objetiva
1. teleológica: quando as infrações houverem sido praticadas para assegurar a execução de outra
(exemplo: mata-se o segurança para seqüestrar o empresário);
1. Instrumental ou probatória
b) Continência
1. Subjetiva: quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, configurando-
se concurso de agentes. Atenção! Na conexão intersubjetiva são duas ou mais infrações, na
continência subjetiva há apenas uma infração.
2. Objetiva
2. aberratio ictus – erro na execução com resultado duplo (artigo 73, parte final, do Código Penal);
3. aberratio criminis – resultado diverso do pretendido com resultado duplo (artigo 74, parte final,
do Código Penal).
O artigo 78 do Código de Processo Penal determina qual o foro deve prevalecer em caso de
conexão e continência:
1. prepondera o local da infração mais grave, isto é, à qual for cominada pena mais grave (a pena
de reclusão é mais grave que a de detenção que é mais grave que a prisão simples). Se a
pena máxima for igual, compara-se a pena mínima;
2. sendo iguais as penas (máxima e mínima), prevalece o local onde foi praticado o maior número
de crimes;
Não serão reunidos os processos para julgamento em conjunto nos casos do artigo 79 do
Código de Processo Penal:
§ 2.º Co-réu revel que não possa ser julgado à revelia (infração inafiançável, não comparece no
Tribunal do Júri, citação por edital) e na cisão do julgamento durante a sessão plenária do Júri
(artigo 461 do Código de Processo Penal).
INTRODUÇÃO
As questões e os processos incidentes são soluções dadas pela lei processual para as
variadas eventualidades que podem ocorrer no processo e que devem ser resolvidas pelo juiz
antes da solução da causa principal.
Incidente: aquilo que sobrevém, que é acessório.
2. QUESTÕES PREJUDICIAIS
Questões prejudiciais são todas as questões de fato e de direito que, por necessidade lógica,
devem ser analisadas antes da questão principal e podem, em tese, ser objeto de processo
autônomo. A matéria é tratada nos artigos 92 a 94 do Código de Processo Penal.
Etimologicamente “prejudicial” significa pre-iudicate, isto é, julgar primeiro. A questão deve ser
julgada em primeiro lugar, antes da questão principal. Exemplo: um acusado de bigamia (artigo
235 do Código Penal) alega que seu primeiro casamento é nulo. A validade ou não do
casamento é questão prejudicial que deve ser decidida antes do mérito, pois influi diretamente
na decisão.
Atenção: questão prejudicial não se confunde com questão preliminar. A questão preliminar
versa sobre pressupostos processuais ou condições da ação. Ambas são espécies do gênero
‘questões prévias’. Apresentam características em comum: anterioridade lógica e
necessariedade. Mas apresentam diferenças importantes: a questão prejudicial refere-se a
direito material e a questão preliminar refere-se a direito processual. Também se diferem no
tocante à autonomia. As questões prejudiciais podem ser objeto de processo autônomo, as
questões preliminares não. Exemplo: falta de citação é uma questão preliminar – não se ajuíza
processo autônomo para discutir.
a) Quanto à influência:
c) Quanto ao efeito:
1. Obrigatória: é a questão que, uma vez presente, obriga a suspensão do processo até o
julgamento da questão incidental. Sempre versa sobre questão de estado civil das
pessoas. Exemplo: anulação de casamento no cível e crime de bigamia.
2. Facultativa: é aquela que não obriga a suspensão do processo principal, mas há nela
controvérsia de difícil solução. Exemplo: acusado de crime contra o patrimônio alega ser
o legítimo possuidor. São características da prejudicial facultativa que não estão
presentes na obrigatória: existência de ação civil em andamento; inexistência de
limitação à prova, na lei civil, acerca da questão prejudicial.
1. Questão prejudicial não-devolutiva: deve ser resolvida pelo juízo criminal. São sempre
questões prejudiciais homogêneas.
1. Durante a suspensão do processo fica suspensa a prescrição (artigo 116 do Código Penal).
1. O despacho que determina a suspensão do processo por questão prejudicial comporta recurso
em sentido estrito (artigo 581, inciso XVI, do Código de Processo Penal). Da decisão que nega
a suspensão do processo, não cabe recurso. Neste caso, a solução será levantar a questão em
preliminar de apelação. Se a questão for devolutiva absoluta, o tribunal anula a sentença e
ordena a remessa do julgamento da questão prejudicial ao cível. Se for devolutiva relativa, o
tribunal não pode anular a sentença, mas absolve o réu.
2. Do despacho que indeferir pedido da parte pleiteando a suspensão do feito, cabe correição
parcial, alegando-se tumulto na tramitação do processo.
3. EXCEÇÕES
Exceção em sentido amplo compreende o direito público subjetivo do acusado em se defender.
Em sentido estrito, a exceção pode ser conceituada como o meio pelo qual o acusado busca a
extinção do processo sem o conhecimento do mérito, ou ainda um atraso no seu andamento.
Destina-se a rejeitar o juiz, do qual a parte argüente alegue falta de imparcialidade ou quando
existam outros motivos relevantes que ensejam suspeita de sua isenção em razão de
interesses ou sentimentos pessoais.
Se o juiz da causa se enquadrar em uma das situações de suspeição, previstas no artigo 254
do Código de Processo Penal, e não se declarar suspeito espontaneamente, a parte pode
argüir a exceção de suspeição.
3.1.1. Procedimento
Se o magistrado não se der por suspeito, qualquer das partes poderá fazê-lo em petição
assinada pela própria parte ou por procurador com poderes especiais. A petição deve ser
fundamentada e acompanhada de prova documental e rol de testemunhas (artigo 98). Tem
legitimidade para argüir a exceção de suspeição: o autor, quando do oferecimento da denúncia
ou a queixa, e o réu (ou seu procurador com poderes especiais), no momento da defesa. Como
o defensor dativo não tem procuração, para que ele possa argüir a exceção, o réu também
deve assinar a petição. Se a suspeição for superveniente, a parte tem que se manifestar, nos
autos, no primeiro momento em que puder. Se a parte não argüir no momento oportuno,
equivalerá a reconhecer a capacidade moral do juiz.
O artigo 271 do Código de Processo Penal relaciona as funções do assistente e nada fala
sobre essa possibilidade. Para alguns autores, o rol é taxativo, não admitindo interpretação
extensiva. Para Tourinho, o assistente tem interesse processual na imparcialidade do juiz,
devendo ser reconhecida a ele essa possibilidade.
Depois de argüida a suspeição, os autos são encaminhados ao juiz, que pode reconhecê-la ou
não.
Se o juiz reconhece, remete os autos para seu substituto legal. Dessa decisão não cabe
recurso.
Se o juiz não reconhece, determina a autuação da exceção em apartado. O juiz excepto terá
três dias para resposta escrita, juntando documentos e arrolando testemunhas, se necessário.
Posteriormente, remeterá os autos ao Tribunal de Justiça em 24 horas (em São Paulo é
julgada pela Câmara Especial).
A exceção pode ser argüida também contra o membro do Ministério Público e os sujeitos
processuais secundários (perito, intérprete, serventuário da Justiça e jurados).
No Júri as partes podem recusar os jurados. As partes podem fazer três recusas peremptórias,
isto é, sem justificação. Havendo justificativa, poderão recusar tantos quanto necessários. A
suspeição do jurado deve ser argüida oralmente imediatamente após a leitura que o juiz faz da
correspondente cédula sorteada (artigo 459, § 2.º, do Código de Processo Penal). Se o juiz não
aceitar a recusa, o jurado tomará parte no Conselho de Sentença. Tudo constará da ata.
Conforme determina o artigo 107 do Código de Processo Penal, as partes não podem argüir a
suspeição de autoridade policial. Isso porque o inquérito policial é um procedimento inquisitivo.
O próprio delegado, entretanto, poderá declarar-se suspeito.
3.1.4. Observações
Conforme dispõe o artigo 256 do Código de Processo Penal: “A suspeição não poderá ser
declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito ser motivo para criá-
la”.
O artigo 109 do Código de Processo Penal determina que, se em qualquer fase do processo o
juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação
da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior.
A incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. Quanto à incompetência
relativa, entendemos que pode ser reconhecida de ofício, desde que antes de operada a
preclusão. Observação: A Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que “a
incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.
A incompetência absoluta tem um regime jurídico mais severo por versar sobre questões de
interesse público. Exemplo: o lugar da consumação do delito facilita busca de provas. Não é só
interesse da parte. Há também interesse público.
A exceção pode ser oposta pelo réu, querelado e Ministério Público, quando este atue como
fiscal da lei. Todavia, segundo a doutrina, não pode ser argüida pelo autor da ação.
A argüição deve ser feita no prazo de três dias da defesa prévia, tratando-se de incompetência
relativa (territorial), sob pena de prorrogação. Se a incompetência for absoluta, poderá ser feita
a qualquer tempo.
4. O juiz decide a exceção: procedente e remete os autos ao juiz competente. Dessa decisão
cabe recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso III, do Código de Processo Penal). O juiz que
receber o processo não é obrigado a concordar com essa declinação, podendo suscitar o
conflito de jurisdição ou competência; ou improcedente. Dessa decisão não caberá recurso.
Admite-se habeas corpus ou argüição em preliminar de futura e eventual apelação.
Conforme o artigo 567 do Código de Processo Penal, a incompetência do Juízo anula somente
os atos decisórios. Dessa forma somente os atos instrutórios serão ratificados pelo juiz
competente, os atos decisórios serão anulados.
Assim, pergunta-se: se a denúncia ou queixa foi recebida pelo juiz incompetente e depois
ratificada pelo juiz competente, em que momento estaria interrompida a prescrição?
É a ratificação do juiz competente que interrompe a prescrição. Essa regra aplica-se para
qualquer incompetência, inclusive ratione materiae.
1. Alguém que se diz representante do ofendido em crime de ação penal privada, mas não é.
Processamento:
1. Reconhecimento de ofício pelo juiz (se for no juízo de admissibilidade, haverá a rejeição da
peça inicial – desta decisão cabe recurso em sentido estrito).
Será argüida exceção de litispendência quando existirem duas ações penais em curso,
processando o mesmo réu pelo mesmo fato. Se um mesmo fato é apurado em dois inquéritos
penais não há litispendência.
1. Mesmas partes;
Instaurado inquérito policial com ação já em curso, sem existir requisição do juiz ou do
Ministério Público para realização de diligências complementares, caracteriza-se
constrangimento ilegal sanável por habeas corpus.
Havendo duas ações iguais, uma delas será excluída. Exclui-se a segunda.
O Supremo Tribunal Federal entende que, se alguém é absolvido como autor, poderá ser
novamente denunciado como partícipe. Desde que não sejam alegados os mesmos fatos pelos
quais já foi acusado; a descrição fática deve ser outra.
Há quem entenda que, se alguém foi absolvido, não pode ser pelo mesmo crime novamente
processado. Leva-se em conta o fato concreto, não importa a conduta descrita; se foi absolvido
pelo fato, não pode novamente ser processado.
Processamento:
5. O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito); improcedente (admite-
se habeas corpus).
unda-se na proibição de uma mesma pessoa ser processada mais de uma vez pelos mesmos
fatos (non bis in idem).
A coisa julgada é uma qualidade dos efeitos da decisão final, marcada pela imutabilidade e
irrecorribilidade. Tratando-se de sentença condenatória, a imutabilidade é relativa, pois pode
haver revisão criminal, indulto, anistia, unificação das penas. A sentença absolutória, todavia, é
imutável, pois não há revisão criminal pro societate.
Assim, se um sujeito foi julgado por um fato, resultando uma decisão irrecorrível, não poderá
ser julgado novamente pelo mesmo fato. Havendo identidade de demanda (ver item anterior),
não poderá haver um segundo julgamento.
Pergunta-se: no caso de concurso formal, no qual ocorreram dois resultados, sendo o réu
julgado por apenas um resultado, ocorrendo o trânsito em julgado, poderá ser acusado em
outro processo pela prática do segundo resultado?
Resposta: depende. Se a decisão do primeiro processo for de condenação, sim, caso em que
as penas serão unificadas no juízo das execuções. Se a decisão do primeiro processo for de
absolvição, o sujeito não poderá ser processado pelo outro resultado, sob pena de serem
proferidas decisões contraditórias.
Processamento:
1. Reconhecimento de ofício pelo juiz (havendo rejeição da inicial caberá recurso em sentido
estrito).
6. Ouve-se o réu (se foi o Ministério Público que argüiu) ou o Ministério Público (se foi o réu que
argüiu).
7. O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito); improcedente (admite-
se habeas corpus).
4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO
O assunto é tratado com este título no Código de Processo Penal, mas o correto seria
dizer conflito de competência, pois todo juiz tem jurisdição.
O conflito deve ser suscitado de forma escrita e fundamentado, com cópias da alegação,
conforme dispõe o artigo 116 do Código de Processo Penal. Nos termos do § 1.º do
mencionado artigo, se o conflito for negativo, os juízes e tribunais poderão suscitá-lo
nos próprios autos do processo. Nesse caso, o relator recebe o processo e determina
que os Juízos envolvidos prestem informações. Com as informações, colhe o parecer do
Ministério Público em segunda instância (Procurador Geral). O conflito então é julgado.
Para o conflito positivo, o procedimento tem forma própria, por meio de instrumento que
é remetido ao Tribunal. Como o processo continua tramitando, a suspensão ou não dos
atos processuais depende do relator do Tribunal. Saliente-se que no conflito negativo,
os próprios autos nos quais se suscita o conflito são encaminhados ao Tribunal.
1. Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito envolvendo Tribunais Superiores. Se,
por exemplo, tratar-se de conflito entre Tribunal Superior e um Tribunal ou entre Tribunal
Superior e um juiz, cabe também ao Supremo Tribunal Federal dirimir. Observação: se
envolver o próprio Supremo Tribunal Federal e outro Tribunal, não há conflito; o
Supremo Tribunal Federal dá a palavra final.
3. Cabe ao Tribunal Regional Federal dirimir conflitos entre juízes federais da mesma
região. Se for região diferente, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça. Cabe também ao
Tribunal Regional Federal julgar conflito entre juiz federal e juiz estadual com
competência federal (exemplo: artigo 27 da Lei n. 6.368/76) – Súmula n. 3 do Superior
Tribunal de Justiça .
4. Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral dirimir conflito envolvendo Juízos eleitorais do
mesmo Estado. De Estados diferentes, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral.
5. Cabe ao Tribunal de Justiça dirimir conflitos entre juízos estaduais do mesmo Estado e
Tribunal de Alçada (no âmbito penal só cabe ao Tribunal de Alçada Criminal), ou Tribunal
e juiz.
7. Cabe ao Tribunal de Alçada Criminal resolver conflitos entre Juízos de primeiro grau
quando for sua a competência recursal.
Observação: “reclamação” é a forma pela qual o Supremo Tribunal Federal firma a sua
própria competência (artigo 102, inciso I, alínea “l”, da Constituição Federal). Não há
conflito de competência entre o Supremo Tribunal Federal e qualquer outro tribunal ou
juízo, pois compete ao próprio Supremo decidir sua competência.
Regras:
3. Conflito entre Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal: é decidido pelo
Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, inciso I, alínea “g”, da Constituição Federal).
“Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal”
(artigo 149 do Código de Processo Penal).
A perícia psiquiátrica realizada no inquérito policial só pode ser instaurada pelo juiz. Se
o delegado percebe a insanidade, representa à autoridade judiciária o incidente de
insanidade mental, conforme artigo 149, § 1.º, do Código de Processo Penal.
O incidente pode ser instaurado de ofício ou pode decorrer do requerimento das
seguintes pessoas:
2. defensor;
3. curador;
Resposta: Sim. O incidente é instaurado quando há dúvida sobre a saúde mental e para
verificar se na época dos fatos era o indivíduo imputável ou inimputável, conforme
dispõe o artigo 26 do Código Penal. Não basta a doença mental, é preciso saber se em
virtude dela, ao tempo da ação ou omissão, o agente era incapaz de entender o caráter
ilícito da infração. A interdição no cível é irrelevante para o processo penal. A perícia
penal visa verificar a imputabilidade do acusado.
Concluindo pela doença mental superveniente, o processo continuará suspenso até que
o acusado se recupere. A prescrição continuará correndo.
1. instrumento do crime;
1. produto indireto do crime; não é objeto de apreensão mas sim de seqüestro (exemplo: o
ouro roubado é derretido e transformado numa corrente – a corrente é produto indireto) ;
2. bem ou valor dado ao criminoso como pagamento ou recompensa pela prática do crime.
3. instrumento do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua fato
ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II, alínea “a”,
do Código Penal);
4. produto direto do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua fato
ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II, alínea “b”,
do Código Penal).
1. na fase de inquérito policial, se o objeto for restituível e não houver interesse na sua
retenção.
2. não deve haver dúvida sobre o direito do reclamante (a devolução pela autoridade
policial é facultativa, pois se houver dúvida o juiz decidirá).
3. objeto apreendido em poder de terceiro de boa-fé (o juiz dará prazo de 5 dias para o
reclamante e igual prazo ao terceiro, e findo o juiz dará prazo comum de 2 dias para
arrazoar – se a questão for complexa, o juiz determinará que o reclamante ingresse com
ação própria no juízo cível).
1.1. Conceito
Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz, pelas partes ou por terceiros (exemplo:
peritos), destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a veracidade de
uma afirmação. Sua finalidade é fornecer subsídios para a formação da convicção do julgador.
O direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece (iura novit curia); salvo se for
direito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal.
Os fatos notórios. O fato axiomático é diferente do fato notório, que é aquele de conhecimento
geral, que faz parte da história e refere-se a fatos políticos, sociais ou fenômenos da natureza.
Os fatos sobre os quais incide presunção absoluta (iuris et de iure). Exemplo: incapacidade do
menor de 18 anos de entender o caráter criminoso do fato; não se admite prova em contrário.
Atenção: no Processo Penal, os fatos incontroversos também são objeto de prova; não se
aplica a regra que incide no Processo Civil.
Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Exemplo: álibi apresentado pelo
acusado.
Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a decisão de
pronúncia aceita-se a prova não plena, mas para a condenação é necessária a prova plena.
Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pode ser levada ao processo. Os
meios de prova podem ser: