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RESUMÃO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Princípios Gerais

1. Princípios Gerais Informadores do Processo

1.1. Imparcialidade do juiz

O juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo). O juiz imparcial é
pressuposto para uma relação processual válida.

Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição Federal estipula garantias (artigo 95),
prescreve vedações (artigo 95, parágrafo único) e proíbe juízos e tribunais de exceção (artigo
5.º, inciso XXXVII). Observação: tribunal de exceção é um órgão constituído após a ocorrência
do fato.

1.2. Igualdade Processual

As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões.

No processo penal, esse princípio sofre alguma atenuação, devido ao princípio constitucional
do favor rei, segundo o qual o acusado goza de alguma prevalência em contraste com a
pretensão punitiva. Essa atenuação se verifica, por exemplo, nos artigos 386, inciso VI, 607,
609, parágrafo único, e artigo 621, todos do Código de Processo Penal.

Observação: O defensor público tem prazo em dobro no processo penal. A jurisprudência


tende a estender o benefício aos advogados dativos.

1.3. Contraditório

Esse princípio decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e é identificado na doutrina
pelo binômio “ciência e participação”.

O juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que o direito preexistente foi
devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à outra o direito de
manifestar-se em seguida.

Destarte, as partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido
e a oportunidade de se manifestarem sobre ele antes de qualquer decisão jurisdicional.

Pergunta: A concessão de medidas judiciais inaudita altera parte configura exceção ao


princípio do contraditório?

Resposta: Não, pois o juiz deverá abrir vista à outra parte para se manifestar sobre a medida
antes de dar o provimento final. Nesse caso o contraditório é apenas diferido.

Observação: O princípio não se aplica no inquérito policial, que se trata de um procedimento


inquisitório. Como no inquérito policial não há acusação, também não há defesa. Os únicos
inquéritos que admitem o contraditório são: o judicial, para apuração de crimes falimentares; e
o instaurado pela polícia federal, a pedido do Ministro da Justiça visando à expulsão de
estrangeiro.

1.4. Ampla Defesa

O Estado deve proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal
(autodefesa), seja técnica (defensor) (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal), inclusive o de
prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (artigo 5.º, LXXIV, da
Constituição Federal).

No processo penal, o juiz nomeia defensor ao réu, caso ele não tenha, mesmo sendo revel
(artigos 261 e 263 do Código de Processo Penal) e caso seja feita uma defesa abaixo do
padrão mínimo tolerável, o réu poderá ser considerado indefeso e o processo anulado. Se o
acusado, citado por edital, não comparece, nem constitui advogado, suspende-se o processo e
o prazo prescricional (artigo 366 do Código de Processo Penal).

1.5. Da Disponibilidade e da Indisponibilidade

Disponibilidade é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos.

No processo penal, prevalece o princípio da indisponibilidade, pelo fato do crime ser


considerado uma lesão irreparável ao interesse coletivo. O Estado não tem apenas o direito,
mas sobretudo o dever de punir.

Do Código de Processo Penal, podem ser extraídas algumas regras, a saber:

1. A autoridade policial é obrigada a proceder às investigações preliminares (artigo 5.º do Código


de Processo Penal);

2. Impossibilidade de a autoridade policial arquivar o inquérito policial (artigo 17 do Código de


Processo Penal);

3. O Ministério Público não pode desistir da ação penal (artigo 42 do Código de Processo Penal),
nem do recurso interposto (artigo 576 do Código de Processo Penal).

A Constituição Federal abranda essa regra, ao permitir a transação em infrações de menor


potencial ofensivo e também nos casos de ação penal privada e ação penal condicionada à
representação ou à requisição do Ministro da Justiça. A Lei n. 10.409/02, no artigo 37, inciso
IV, criou hipótese em que o promotor pode deixar de oferecer a denúncia. Neste caso vigora o
princípio da oportunidade controlada.

O Ministério Público não pode desistir da ação penal, mas pode pedir a absolvição do
réu. Pergunta: tal possibilidade não fere o princípio da indisponibilidade da ação penal
pública? Resposta: não, pois esse pedido não passa de mero parecer que não vincula o juiz, o
qual pode proferir sentença condenatória.

1.6. Da Verdade Formal ou Dispositivo

O juiz depende da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações para


fundamentar sua decisão. Esse princípio busca salvaguardar a imparcialidade do juiz.
Conforme esse princípio, o juiz pode se contentar com as provas produzidas pelas
partes devendo rejeitar a demanda ou a defesa por falta de elementos de convicção.

É princípio próprio do processo civil, que vem sendo cada vez mais mitigado, diante de uma
tendência publicista no processo, permitindo ao juiz adotar uma posição mais ativa,
impulsionando o andamento da causa, determinando provas, conhecendo circunstâncias de
ofício e reprimindo condutas abusivas e irregulares (artigos 130 e 342 do Código de Processo
Civil).

1.7. Da Verdade Material (ou Verdade Real)

Também denominado princípio da livre investigação das provas. Sempre predominou no


processo penal.

O juiz tem o dever de ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, esgotando todas
as possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos para fundamentar a sentença.
Somente, excepcionalmente, o juiz deve curvar-se diante da verdade formal, como no caso da
absolvição por insuficiência de provas (artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal).

Mesmo vigorando o princípio da livre investigação das provas, a verdade alcançada será
sempre formal, pois o que não está nos autos, não está no mundo.

Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do Código
de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a utilização de provas
obtidas por meios ilícitos.

1.8. Publicidade

É uma garantia de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade do juiz.


Também é uma garantia do indivíduo de fiscalizar a atuação jurisdicional.

A publicidade poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo Civil e
artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).

O inquérito policial é um procedimento inquisitivo e sigiloso (artigo 20 do Código de Processo


Penal). O sigilo, entretanto, não se estende ao representante do Ministério Público, nem à
autoridade judiciária. No caso do advogado, pode consultar os autos do inquérito policial, mas,
caso seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá acompanhar a realização de atos
procedimentais.

1.9. Do Duplo Grau de Jurisdição

Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de
primeiro grau.

Não é tratado de forma expressa na Constituição Federal. O duplo grau de jurisdição decorre
da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela Carta Magna.

Há casos em que não há duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, as hipóteses de
competência originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, da Constituição
Federal).
1.10. Juiz Natural

Previsto no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal, que dispõe que “ninguém será
sentenciado senão pelo juiz competente”.

Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de


competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que lhe
assegurem absoluta independência e imparcialidade.

Do princípio, decorre também a proibição de criação de tribunais de exceção. (artigo 5.º, inciso
XXXVII, da Constituição Federal).

1.11. Da Ação ou Demanda

Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional.

A jurisdição é inerte. O princípio impede que o juiz instaure o processo por iniciativa própria, o
que, certamente, ameaçaria sua imparcialidade. Destarte, a movimentação da máquina
judiciária exige a provocação do interessado.

O princípio decorre da adoção do processo acusatório, no qual as funções de acusar, defender


e julgar são exercidas por órgãos distintos. Nosso sistema contrapõe-se ao sistema inquisitivo,
no qual as funções de acusar, defender e julgar são realizadas pelo mesmo órgão. Questiona-
se o sistema inquisitivo, pois quando o juiz instaura o processo de ofício, acaba ligado
psicologicamente à pretensão.

1.12. Oficialidade

Significa que os órgãos incumbidos da persecutio criminis não podem ser privados. A função
penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve ser deduzida por
agentes públicos. A ação penal pública é privativa do Ministério Público (artigo 129, inciso I, da
Constituição Federal). A função de polícia judiciária incumbe à polícia civil (artigo 144, § 4.º, da
Constituição Federal c/c artigo 4.º do Código de Processo Penal).

Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada subsidiária da pública –
quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação penal popular – na hipótese de
crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da República e por Ministros do
Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei n. 1.079/50).

1.13. Oficiosidade

As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem


necessidade do assentimento de outrem.

Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo Penal)
e ação penal pública condicionada.

Trata-se de um princípio geral relacionado a todas as autoridades que participam do


procedimento criminal, e diferencia-se do princípio do impulso oficial, referente ao magistrado.

1.14. Do Impulso Oficial


Uma vez instaurada a relação processual, compete ao juiz mover o procedimento de fase em
fase até exaurir a função jurisdicional.

1.15. Da Persuasão Racional do Juiz

Situa-se entre o sistema da prova legal, em que os elementos probatórios possuem valor
prefixado, e o sistema do julgamento secundum conscientiam, em que o juiz pode decidir com
base na prova dos autos, mas também sem provas e até mesmo contra a prova.

No princípio da persuasão racional, o juiz decide com base nos elementos existentes nos
autos, mas sua apreciação não depende de critérios legais preestabelecidos. A avaliação
ocorre segundo parâmetros críticos e racionais.

Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do juiz deve ser
motivado.

Exceção: os jurados, no Júri, não precisam fundamentar suas decisões, pois para eles vigora o
princípio da íntima convicção.

1.16. Da Motivação das Decisões Judiciais

As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas. Esse princípio tem assento
constitucional no artigo 93, inciso IX.
Hoje, esse princípio é visto em seu aspecto político: garantia da sociedade que pode aferir a
imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das suas decisões.
1.17. Lealdade Processual

Consiste no dever de verdade, reprovando a conduta da parte que se serve de artifícios


fraudulentos.

A fraude destinada a produzir efeitos no processo penal pode configurar o crime descrito no
artigo 347 do Código Penal.

1.18. Da Economia Processual

Preconiza o máximo resultado na aplicação do direito com o mínimo emprego de atos


processuais. São exemplos da aplicação desse princípio os casos de conexão e
continência (artigos 76 e 77 do Código de Processo Penal).

Corolário da economia processual é o princípio do aproveitamento dos atos processuais ou da


instrumentalidade das formas, em que os atos imperfeitos só serão anulados se o objetivo não
for atingido, pois o que interessa é o objetivo, e não o ato em si mesmo. Tal regra segue o
brocardo pas de nullite´sans grief.

No processo penal, não se anulam atos imperfeitos quando não prejudicarem a acusação ou a
defesa e quando não influírem na decisão da causa (artigos 566 e 567 do Código de Processo
Penal).

1.19. Do Promotor Natural


Também decorre da norma contida no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal, o
qual dispõe que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público com
atribuições previamente fixadas e conhecidas.

O Supremo Tribunal Federal vedou a designação casuística de promotor pela Chefia da


Instituição para promover a acusação em caso específico, pois tal procedimento chancelaria a
figura do chamado “promotor de exceção” (HC n. 67.759/RJ, Rel. Min. Celso de
Mello, RTJ 150/123).

2. Princípios Informadores do Processo Penal

2.1. Estado de Inocência

Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória
(artigo 5.º, LVII, da Constituição Federal).

Desdobra-se em três aspectos:

1. prova: deve ser valorada em favor do acusado quando houver dúvida;

2. instrução processual: inverte-se o ônus da prova, ou seja, o réu não precisa provar que é
inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;

3. no curso do processo: trata-se de entendimento expresso na Súmula n. 9 do Superior Tribunal


de Justiça: “A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional
da presunção de inocência”.

2.2. “Favor rei”

A dúvida sempre beneficia o acusado.

1. Se há duas interpretações, opta-se pela mais benéfica;

2. Na dúvida, em caso de insuficiência de provas, absolve-se o réu;

3. Alguns recursos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos infringentes).

4. Só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).

2.3. Da Verdade Real

É princípio próprio do processo penal, indica que o juiz deve buscar descobrir a realidade, não
se conformando com o que é apresentado nos autos (verdade formal). Como exemplo, pode
ser citado o artigo 156 do Código de Processo Penal, que permite ao juiz determinar diligências
de ofício para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, todos do Código
de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, veda a utilização de provas
obtidas por meios ilícitos.
2.4. Legalidade

Impõe a observância da lei pelas autoridades encarregadas da persecução penal, que não
possuem poderes discricionários para apreciar a conveniência e oportunidade da instauração
do processo ou do inquérito.

2.5. Oficialidade

A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve ser
deduzida por agentes públicos. Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal
privada subsidiária da pública – quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação
penal popular – na hipótese de crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da
República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei n.
1.079/50).

2.6. Oficiosidade

As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem


necessidade do assentimento de outrem.

Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de Processo Penal)
e ação penal pública condicionada.

2.7. Autoritariedade

Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas. Exceção: ação


penal privada.

2.8. Indisponibilidade

A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial (artigo 17 do


Código de Processo Penal). O órgão do Ministério Público não pode desistir (dispor) da ação
penal pública, nem do recurso interposto (artigos 42 e 576 do Código de Processo Penal).

Exceções: ação penal privada e transação penal (artigo 76 da Lei n. 9.099/95).

2.9. Publicidade

A publicidade somente poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo Civil e
artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).

2.10. Contraditório

As partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a
oportunidade de se manifestarem sobre ele, antes de qualquer decisão jurisdicional.

2.11. Da Iniciativa das Partes (“ne procedat judez ex officio”)


O juiz não pode iniciar ao processo sem a provocação da parte. Cabe ao Ministério Público
promover privativamente a ação penal pública (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal) e
ao ofendido, a ação penal privada, inclusive a subsidiária da pública (artigos 29 e 30 do Código
de Processo Penal).

2.12. “Ne eat judex ultra petita partium”

Indica que o juiz deve ater-se ao pedido feito na peça inaugural, não podendo
pronunciar-se sobre o que não foi requerido.

O que vincula o juiz criminal são os fatos submetidos à sua apreciação. Exemplo: se na
denúncia o promotor descreve um crime de estupro, mas ao classificá-lo, o faz como
sendo de sedução, pode o juiz condenar por estupro, pois o réu se defende dos fatos a
ele imputados. Nesse caso o juiz não julgou além do que foi pedido, apenas deu aos
fatos classificação diversa (artigo 383 do Código de Processo Penal).

O artigo 384 do Código de Processo Penal trata da mudança na acusação, sempre que os
fatos narrados na denúncia ou queixa tiverem de ser modificados em razão de prova nova
surgida no curso da instrução criminal.

2.13. Devido Processo Legal

Previsto no artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal, o due process of law assegura à
pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens sem a garantia de um
processo desenvolvido de acordo com a lei.

Deve ser obedecido não apenas em processos judiciais civis e criminais, mas também em
procedimentos administrativos, inclusive militares.

2.14. Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos

Ao considerar inadmissíveis todas as “provas obtidas por meios ilícitos”, a Constituição Federal
proíbe tanto a prova ilícita quanto a prova ilegítima:

1. Provas ilícitas: aquelas produzidas com violação a regras de direito material (exemplo:
confissão obtida mediante tortura);

2. Provas ilegítimas: aquelas produzidas com violação a regras de natureza meramente


processual (exemplo: documento exibido em plenário do júri, sem obediência ao disposto no
artigo 475 do Código de Processo Penal).

A doutrina e a jurisprudência tendem também a repelir as chamadas provas ilícitas por


derivação, ou seja, as provas lícitas produzidas a partir de outra ilegalmente obtida (exemplo:
confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações corretas a respeito do
lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando sua regular apreensão). As provas
ilícitas por derivação foram reconhecidas pela Suprema Corte Norte-Americana, com base na
teoria dos “frutos da árvore envenenada” – fruits of the poisonous tree -, segundo a qual o vício
da planta se transmite a todos os seus frutos.

O Supremo Tribunal Federal, atualmente, não admite as provas ilícitas por derivação.
Entendemos que não é razoável sempre desprezar toda e qualquer prova ilícita, devendo o juiz
admiti-las para evitar uma condenação injusta ou a impunidade de perigosos marginais. O
direito à liberdade e à vida, por exemplo, não podem sofrer restrição pela prevalência do direito
à intimidade. Entra aqui o princípio da proporcionalidade, segundo o qual não há propriamente
um conflito entre as garantias fundamentais, devendo o princípio de menor relevância se
submeter ao princípio de maior relevância. Por exemplo: uma pessoa acusada injustamente,
que tenha na interceptação telefônica ilegal o único meio de demonstrar a sua inocência. A
tendência da doutrina é a de acolher essa teoria, para favorecer o acusado (prova ilícita pro
reo).

2.15. Da Brevidade Processual

Verificando-se uma divergência, deve-se adotar a decisão mais célere, de acordo com o
que normalmente acontece. Exemplo: na dúvida entre tráfico internacional ou nacional,
os autos devem ser remetidos à justiça estadual; surgindo fato novo, em razão da
matéria, modifica-se a competência.

2.16. Identidade Física do juiz

O juiz fica vinculado ao processo que presidiu a fase instrutória, devendo decidi-lo. Atenção:
este princípio não vigora no processo penal.

2.17. Do Promotor Natural

Ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público com atribuições
previamente fixadas e conhecidas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal).

Da Aplicação da Lei Processual Penal

1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro,
sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional. No processo penal
vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do Código de Processo Penal).

Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não cuidam de exceções à
territorialidade da lei processual penal brasileira, mas sim de exceções à aplicação do Código
de Processo Penal. O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses excludentes da
jurisdição criminal brasileira.

Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado,
no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código Penal).

Considera-se, para efeitos penais, como extensão do território nacional: as embarcações e


aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, e as
embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo ou marítimo
brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma se aplica em
um determinado território durante um determinado lapso de tempo.
A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução ao Código
Civil, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.

As normas de direito processual têm aplicação imediata, sem efeito retroativo. Adotou-se,
portanto, o princípio tempus regit actum.

O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” A aplicação do dispositivo
gera dois efeitos:

 os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são considerados válidos;

 as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.

No caso de normas mistas (de natureza processual e material), prevalece o caráter material,
devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja, retroagirá para beneficiar
o réu.

A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue. A revogação ainda pode
ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).

3. IMUNIDADES

3.1. Imunidades Diplomáticas

Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos da


jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções. A imunidade estende-se a todos
os agentes diplomáticos, ao pessoal técnico e administrativo das representações, aos seus
familiares e aos funcionários de organismos internacionais (ONU, OEA etc.).

Admite-se a renúncia à garantia da imunidade.

3.2. Imunidades Parlamentares

São de duas espécies:

1. material (absoluta): alcança os Deputados Federais, Deputados Estaduais e Senadores,


garantindo-lhes a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos. Para alguns, trata-se de
causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa funcional de isenção de pena. É
irrenunciável. Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no exercício do
mandato e na circunscrição do Município;

2. processual, formal ou relativa:consiste na garantia de não ser preso, salvo por flagrantes de
crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcança os Vereadores.

4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá interpretação
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.”
Interpretar uma norma significa buscar seu alcance e real significado.

4.1. Espécies

4.1.1. Quanto ao sujeito que elabora

1. Autêntica ou legislativa:feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da lei. Pode ser:

1. contextual: feita pelo próprio texto interpretado;

2. posterior: feita após a entrada em vigor da lei.

1. Doutrinária ou científica:feita pelos estudiosos e doutores do Direito. Observação: as


exposições de motivos constituem forma de interpretação doutrinária, uma vez que não são
leis.

2. Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.

4.1.2. Quanto aos meios empregados

1. Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavras.

2. Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição
dentro do ordenamento jurídico.

4.1.3. Quanto ao resultado

1. Declarativa:há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua vontade.

2. Restritiva:a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse mais do que queria.

3. Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos do que queria.

4.2. Interpretação da Norma Processual Penal

A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo versando sobre
direito de punir.

Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em flagrante, por


exemplo), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo quando se tratar de regras
de natureza mista.

4.3. Formas de Procedimento Interpretativo

1. Eqüidade:correspondência ética e jurídica da circunscrição – norma ao caso concreto;

2. Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cultores do direito;


3. Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido em casos semelhantes.

5. ANALOGIA

Consiste em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso
semelhante.

5.1. Fundamento

Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo Direito).

5.2. Natureza Jurídica

Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supressão de lacunas.

5.3. Distinção

1. Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser aplicada norma que
trata de hipótese semelhante.

2. Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não menciona
expressamente sua eficácia.

3. Interpretação analógica:a norma, após uma enumeração casuística, traz uma formulação
genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente (exemplo: artigo
121, § 2.º, inciso III e IV do Código Penal).

Observação: não confundir interpretação analógica com aplicação analógica. Aquela é forma
de interpretação e esta forma de auto-integração.

5.4. Espécies de Analogia

1. In bonam partem – em benefício do agente.

2. In malam partem – em prejuízo do agente.

6. Fontes do Direito Processual Penal

6.1. Conceito

É de onde provém o Direito.

6.2. Espécies

1. Material ou de produção:aquela que cria o Direito; é o Estado.

2. Formal ou de cognição: aquela que revela o Direito. Pode ser:


1. imediata: lei;

2. mediata: costumes e princípios gerais do direito (costume é o conjunto de normas de


comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante, pela convicção
de sua obrigatoriedade jurídica. Princípios gerais do direito são postulados gerais que se
fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo).

7. DA PERSECUÇÃO PENAL

7.1. Conceito

É a atividade do Estado que consiste em investigar, processar, comprovar e julgar o fato


punível.

7.2. Etapas da Persecução Penal

A persecução penal no Brasil desenvolve-se em duas etapas:

 Fase de investigação (preliminar);

 Fase Judicial ou Processual (ação penal).

7.3. Investigação

Compete, em regra, à polícia judiciária desenvolver a fase de investigação.

Porém, outras autoridades também podem investigar desde que haja previsão legal: 1) juiz da
falência investiga crime falimentar; 2) agentes fiscais investigam crimes fiscais.

Artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo Penal: “A competência definida neste artigo
não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.”

O Ministério Público pode investigar? O Superior Tribunal de Justiça já admitiu.

O particular pode investigar? A investigação feita por particular não é proibida. Poderá ser
realizada, mas os resultados devem ser enviados à polícia ou ao Ministério Público.

O juiz pode investigar? Sim, em duas hipóteses: 1) crime falimentar; 2) Lei do Crime
Organizado (artigo 3.º).

No Brasil, não há o chamado juizado de instrução, que consiste na possibilidade de o juiz


presidir investigação. Somente nas hipóteses de crime falimentar e crime organizado o juiz
preside as investigações.

7.3.1. Polícia Judiciária

É exercida por autoridades policiais; visa apurar o fato e sua autoria. É auxiliar da justiça;
investiga crimes (artigo 13 do Código de Processo Penal).
O controle externo da polícia está previsto constitucionalmente e é exercido pelo Ministério
Público (artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal). Na prática, inexiste lei complementar
para disciplinar a matéria.

No Brasil, a polícia judiciária é exercida:

1. pela polícia civil;

2. pela polícia federal;

3. pela polícia militar nos crimes militares.

A polícia judiciária exerce suas funções conforme alguns critérios:

1. territorial: quanto ao lugar da atividade pode ser terrestre, marítima ou aérea;

2. em razão da matéria;

3. em razão da pessoa (exemplo: delegacia da mulher).

A inobservância de qualquer um desses critérios não implica nulidade; é mera irregularidade


que não contamina a ação penal.

Artigo 22 do Código Processo Penal: “No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais
de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos
a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra, independentemente de
precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a autoridade
competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença noutra circunscrição.”

7.3.2. Polícia de Segurança (Administrativa ou Preventiva)

É a polícia ostensiva, fardada, exercida em regra pela polícia militar. Normalmente, não
investiga crime (exceto os militares), pois tem caráter preventivo.

Inquérito Policial

1. CONCEITO
É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração
penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (artigo 4.º
do Código de Processo Penal).

2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e natureza inquisitiva


instaurado pela autoridade policial.

É um procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade.

Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.


Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia, oficialmente,
com a instauração do inquérito policial, também conhecido como informatio delicti.

3. FINALIDADE

Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a apuração
da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao titular da ação penal
elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.

A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato


criminoso. Apurar a autoria consiste naautoridade policial desenvolver a necessária
atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal.

4. POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quanto ao objeto, a polícia pode ser administrativa (preventiva) ou judiciária (repressiva). A


polícia judiciária tem a função de auxiliar a justiça, apurando as infrações penais e suas
respectivas autorias.

O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo “jurisdição”.
O termo jurisdiçãodesigna a atividade por meio da qual o Estado, em substituição às partes,
declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.

A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” (limites territoriais
dentro dos quais a polícia realiza suas funções).

O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao dispor que “a
competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem
por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi infeliz, pois a autoridade policial
não tem competência, mas sim atribuições. O termo competênciaaqui empregado deve
ser entendido como poder conferido a alguém para conhecer determinados assuntos,
não se confundindo com competência jurisdicional, que é a medida concreta do Poder
Jurisdicional.

Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é conferida aos
Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de 1988), conforme as
normas de organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar da
consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma (ratione materiae).

A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de sua
circunscrição, sendo necessário:

1. se for em outro país: carta rogatória;

2. se for em outra comarca: carta precatória;

Se for no Distrito Federal ou em circunscrição diferente dentro da mesma comarca, a


autoridade poderá ordenar diligências independente de precatórias ou requisições (artigo 22 do
Código de Processo Penal).O flagrante deve ser lavrado no local em que se efetivou a prisão,
mas se neste não houver Delegado de Polícia, deverá o preso ser apresentado à circunscrição
mais próxima (artigos 290 e 308, ambos do Código de Processo Penal). Concluído o flagrante,
devem os atos subseqüentes ser praticados pela autoridade do local em que o crime se
consumou.

Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial não invalida os
seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por não exercer atividade
jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione loci. Conforme já decidiu o
Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o inquérito policial é peça
meramente informativa, cujos vícios não contaminam a ação penal.

O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades policiais, pois
estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural). Assim, não foi adotado
pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado Natural”.

5. INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS (artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo


Penal)

Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira (artigo 144,
§ 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º do Código de Processo
Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária não é a única forma de
investigação criminal.

Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras autoridades e não
pelo Delegado de Polícia, tais como:

1. Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz da vara onde
tramita a falência).

2. Comissões Parlamentares de Inquérito (artigo 58, § 3.º, da Constituição Federal).

3. Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (Súmula
n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante
o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”).

4. Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; conforme dispõe o artigo 129,
inciso III, da Carta Magna).

5. Inquérito policial militar.

6. Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial competente para
o julgamento).

7. Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-Geral de Justiça).

6. VALOR PROBATÓRIO
O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos necessários para
a propositura da ação penal.

Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos sob a égide
do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.
7. DISPENSABILIDADE
O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obrigatória da
persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o ofendido (no
caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a ação penal (artigo 12
do Código de Processo Penal).

O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo poderá
fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem suficientes não é
necessário o inquérito policial.

Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério Público
dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a
promover a ação penal.

Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode eximir-se
de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe que a acusação
careça de um mínimo de elementos de convicção.

7.1. Juizados Especiais

De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito policial é
substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado pela autoridade
policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará uma narração sucinta dos fatos,
bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das testemunhas, em número máximo de
três, seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente, quando necessário para
comprovar a materialidade delitiva (dispensa-se o laudo de exame de corpo de delito). Lavrado
o termo, este será encaminhado ao Juizado Especial Criminal.

8. CARACTERÍSTICAS

1. Procedimento escrito: conforme determina o artigo 9.º do Código de Processo Penal.

2. Procedimento sigiloso (artigo 20 do Código de Processo Penal):o sigilo busca salvaguardar a


intimidade do indiciado, resguardando-se, assim, seu estado de inocência. O sigilo não se
estende ao representante do Ministério Público, nem à autoridade judiciária. Advogado pode
consultar os autos de inquérito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá
acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, artigo 7.º, incisos XIII a XV,
e § 1.º).

3. Procedimento inquisitivo: todas as atividades concentram-se nas mãos de uma única


autoridade, que pode agir de ofício e discricionariamente para esclarecer o crime e sua autoria.
Não há acusação nem defesa, logo não há contraditório (exceções: há contraditório no
inquérito judicial e no inquérito para expulsão de estrangeiro). Não pode ser argüida suspeição
da autoridade policial (artigo 107 do Código de Processo Penal). O artigo 14 do Código de
Processo Penal dispõe que a autoridade policial poderá indeferir pedido de diligência, exceto o
exame de corpo de delito (artigo 184 do Código de Processo Penal).

4. Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer à lei.

5. Oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou legalidade. Sendo um


crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade tem o dever de instaurar o inquérito
policial de ofício(artigo 5.º, inciso I, do Código de Processo Penal).
6. Oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso, a autoridade
policial. É uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais.

7. Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela
autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).

8. Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência constitucional


(artigo 144, § 4.º).

9. INCOMUNICABILIDADE

Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar o


desenvolvimento da investigação.

Mediante despacho fundamentado do juiz a partir de requerimento da autoridade policial ou do


Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do advogado, poderá ser decretada a
incomunicabilidade do indiciado pelo prazo de até três dias, por conveniência da investigação
ou interesse da sociedade (artigo 21 do Código de Processo Penal).

Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem constitucional. A
Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a incomunicabilidade durante o
estado de defesa. Assim, se é vedada em situações excepcionais, com mais razão deve ser
vedada em situações de normalidade. Em sentido contrário, o Professor Damásio de Jesus
entende que a proibição está relacionada com crimes políticos ocorridos durante o estado de
defesa.

A incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende ao advogado (Estatuto da Ordem dos


Advogados do Brasil, artigo 7.º, inciso III).

10. “NOTITIA CRIMINIS”


10.1. Conceito

É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso pela


autoridade policial.

10.2. Espécies

1. “Notitia Criminis” de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada: ocorre quando a


autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas atividades
rotineiras. Exemplo: policiamento, imprensa, pelo encontro do corpo de delito ou até pela
delação anônima. A delação anônima (apócrifa) é chamada notitia criminis inqualificada.

2. “Notitia Criminis” de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada: ocorre quando a


autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de algum ato jurídico de comunicação
formal, como por exemplo a delatio criminis (comunicação de um crime feito pela vítima ou por
qualquer um do povo), a requisição do Ministério Público ou autoridade judiciária e a
representação do ofendido.

3. “Notitia Criminis” de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em flagrante, em que a


notícia se dá com a apresentação do autor do fato. Observação: se for crime de ação pública
condicionada ou de iniciativa privada, o auto de prisão em flagrante somente poderá ser
lavrado se forem observados os requisitos dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do Código de Processo
Penal.

11. INÍCIO

11.1. Nos Crimes de Ação Pública Incondicionada

1. De ofício:a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, independente de


provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do fato, por meio de delação
verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do povo (delatio criminis simples), notícia
anônima (notitia criminis inqualificada), por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata),
ou no caso de prisão em flagrante. O ato de instauração é a portaria.

2. Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público:não obstante a hipótese


prevista no artigo 40 do Código de Processo Penal, se não estiverem presentes os elementos
indispensáveis ao oferecimento da denúncia, a autoridade judiciária poderá requisitar a
instauração de inquérito policial para a elucidação dos fatos. A autoridade policial não pode se
recusar a instaurar o inquérito, pois a requisição tem natureza de determinação, de ordem,
muito embora inexista subordinação hierárquica.

3. Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por qualquer um do povo.
Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquérito, caberá recurso ao Secretário de
Estado dos Negócios da Segurança Pública ou ao Delegado-Geral de Polícia (artigo 5.º, § 2.º,
do Código de Processo Penal). A delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou
postulatória (comunica e pede a instauração da persecução penal). Trata-se de faculdade
conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do Estado. Contudo, há algumas
pessoas que, em razão do seu cargo ou função, estão obrigadas a noticiar a ocorrência de
crimes de que tenham tomado conhecimento no desempenho de suas atividades (artigo 66,
incisos I e II, da Lei das Contravenções Penais; artigo 45 da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do
Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de Falências).

11.2. Nos Crimes de Ação Pública Condicionada

1. Mediante representação do ofendido ou de seu representante legal: a representação é simples


manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, não havendo exigência
formal para a sua elaboração.

2. Mediante requisição do Ministro da Justiça: deve ser encaminhada ao chefe do Ministério


Público o qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.

11.3. Nos Crimes de Ação Privada

Nesses casos a instauração do inquérito policial depende de requerimento do ofendido,


de seu representante legal ou sucessores, conforme disposto no artigo 5.º, § 5.º,
combinado com os artigos 30 e 31, todos do Código de Processo Penal.

O artigo 35 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição


Federal, por força do artigo 226, § 5.º, podendo a mulher casada requerer a instauração
do inquérito policial independentemente de outorga marital. Nada obstante, a Lei n.
9.520, de 27.11.1997, revogou expressamente a norma contida no artigo 35 do Código de
Processo Penal.

11.4. Observações
O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante nos três casos
(ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada). Nos crimes de ação
pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da
nota de culpa (24h).

A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa causa (se o
fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade). Porém, o desconhecimento da autoria ou a
possibilidade do sujeito ter agido sob a proteção de alguma excludente da ilicitude não impede
a instauração do inquérito.

Inquérito Policial

1. Providências da Autoridade Policial

O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência imutável de atos.
O artigo 6.º do Código de Processo Penal indica algumas providências que, de regra, devem
ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e da sua autoria.

1.1. Dirigir-se ao Local do Crime

A autoridade policial, se possível e conveniente, deve se dirigir ao local do crime e preservar o


estado das coisas até a chegada da perícia. Qualquer alteração no estado de coisas pode
comprometer as provas a serem produzidas (artigo 169 do Código de Processo Penal).

Exceção: acidente automobilístico, em que os veículos devem ser deslocados com a finalidade
de desobstruir a via pública (artigo 1.º da Lei n. 5.970/73).

1.2. Apreender os Objetos Relacionados com o Fato

Deve também apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela perícia (artigo
11 do Código de Processo Penal – instrumentos e objetos do crime apreendidos serão
anexados ao inquérito policial).

Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão, que pode
ser efetuada no local do crime, em domicílio ou na própria pessoa. A busca domiciliar pode ser
realizada em qualquer dia, porém devem ser respeitadas as garantias de inviolabilidade
domiciliar (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal).

À noite, é lícito entrar no domicílio alheio em quatro situações:

1. a convite do morador;

2. em caso de flagrante delito;

3. para prestar socorro;

4. em caso de desastre.

Durante o dia:
1. nas quatro situações acima citadas;

2. mediante prévia autorização judicial, corporificada em instrumento denominado mandado de


busca e apreensão.

Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo com
esta, não podia entrar à noite. Aplicava-se o artigo 172 do Código de Processo Civil por
analogia, contudo, em dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada, não
sendo mais possível sua aplicação.

Domicílio, nos termos do artigo 150, § 4.º, do Código Penal, é qualquer compartimento
habitado; aposento ocupado por habitação coletiva; compartimento não aberto ao público, onde
alguém exerce profissão ou atividade. Exemplos: o escritório de advogado, na parte aberta ao
público, não é domicílio, mas a sala do advogado sim (observação: a busca em escritório de
advocacia deverá ser acompanhada por um representante da Ordem dos Advogados do
Brasil); o mesmo entendimento se tem quanto a bar, pois considera-se domicílio a área interna
do balcão, onde é exercida a atividade pelo proprietário ou seu funcionário, sendo que a parte
externa, a freqüentada pelo público, não; quarto de hotel etc. Automóvel não é domicílio.

A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa. Independe de mandado, desde que
haja fundada suspeita. Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a
pessoa estiver em seu domicílio.

1.3. Ouvir o Ofendido e as Testemunhas

Podem ser conduzidos coercitivamente se desatenderem, sem justificativa, a intimação da


autoridade policial (princípio da autoritariedade – artigo 201, parágrafo único, do Código de
Processo Penal). O ofendido e a testemunha faltosa podem responder por crime de
desobediência (artigo 219 do Código de Processo Penal e artigo 330 do Código Penal).

Se o ofendido ou a testemunha for membro do Ministério Público ou da Magistratura deverá ser


observada a prerrogativa de serem ouvidos, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e
local previamente ajustados com a autoridade competente.

A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho (artigo 342 do Código Penal). O ofendido que mentir não comete crime de falso
testemunho.

1.4. Ouvir o Indiciado

Deverá a autoridade policial ouvir o indiciado, observando-se os mesmos preceitos norteadores


do interrogatório judicial (artigo 6.º, inciso V, do Código de Processo Penal).

1.4.1. Indiciamento

Consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, é a imputação a alguém, no inquérito


policial, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria. É um
ato abstrato, um juízo de valor da autoridade policial que vai reconhecer alguém como principal
suspeito.

1.4.2. Interrogatório extrajudicial


O termo de interrogatório extrajudicial será assinado pelo delegado de polícia, pelo escrivão,
pelo interrogado e por duas testemunhas presentes à leitura do termo (trata-se de testemunhas
instrumentárias, que não depõem sobre fatos, mas sobre a regularidade de um procedimento).
Observe-se que as duas testemunhas não precisam estar presentes ao interrogatório, mas à
leitura do termo.

O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo; só valerá se confirmado por outros
elementos de prova.

A Constituição Federal consagrou o direito de silêncio ao indiciado. A autoridade policial,


portanto, deve informá-lo desse direito (artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição Federal), não
podendo mais adverti-lo de que seu silêncio poderá prejudicar sua própria defesa, pois o artigo
186 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição Federal.

Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado deverá atender à intimação do


Delegado de Polícia e comparecer ao ato, sob pena de condução coercitiva (artigo 260 do
Código de Processo Penal).

A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para acompanhar o ato, muito
menos nomear-lhe um.

1.4.3. Membro do Ministério Público

Se o suspeito for membro do Ministério Público, a autoridade policial não pode indiciá-lo,
devendo encaminhar os autos do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça.

1.4.4. Indiciado menor

No interrogatório do indiciado menor (maior de 18 e menor de 21 anos), a autoridade deverá


nomear-lhe um curador. Não observada essa regra, a ação penal não será afetada, pois o
inquérito policial é mera peça informativa e seus vícios não contaminam aquela. No entanto,
haverá perda do valor probatório do ato e se houve prisão em flagrante, esta será relaxada por
vício formal (retira-lhe a força coercitiva).

No interrogatório judicial, a ausência de curador gerará sua nulidade (artigo 564, inciso III,
alínea “c”, do Código de Processo Penal). Qualquer pessoa pode ser nomeada curador. A
jurisprudência faz, no entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois estes têm interesse
na investigação.

A idade do menor a ser considerada é a do dia do interrogatório (tempus regit actum).

1.4.5. Identificação criminal

A autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado pelo processo datiloscópico,


salvo se ele já tiver sido civilmente identificado (artigo 5.º, inciso LVIII, da Constituição Federal).

Embora a Constituição Federal assegure que o civilmente identificado não será submetido à
identificação criminal, ressalva a possibilidade de o legislador infraconstitucional estabelecer
algumas hipóteses em que até mesmo o portador da cédula de identidade civil esteja obrigado
a submeter-se à identificação criminal. O legislador já estabeleceu algumas hipóteses.

As hipóteses previstas na Lei n. 10.054/00, em seu artigo 3.º, são as seguintes:


1. indiciamento ou acusação por homicídio doloso, crime contra o patrimônio mediante violência
ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual e
falsificação de documento público;

1. fundada suspeita de falsificação ou adulteração de documento de identidade;

1. mal estado de conservação ou distância temporal da carteira de identidade, quando


impossibilitar a leitura dos dados essenciais;

2. quando constar outros nomes ou apelidos dos registros policiais;

3. quando houver registro de extravio da carteira de identidade;

4. quando o acusado não comprovar em 48 horas a sua identificação civil.

Observações: na primeira hipótese, a regra nos parece inconstitucional por ofensa ao princípio
do estado de inocência, pois a simples razão de o agente estar sendo acusado pela prática
deste ou daquele crime não pode, por si só, justificar o constrangimento, exceto no caso de
envolvimento em quadrilhas organizadas, capazes de forjar documentos falsos.

Por fim, há outra hipótese em que o portador da cédula de identidade civil está obrigado a
submeter-se à identificação criminal: trata-se da identificação criminal de pessoa envolvida com
ação praticada por organização criminosa (artigo 5.º da Lei n. 9.034/95).

A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a fotográfica.

1.4.6. Incidente de insanidade mental

Somente o juiz pode determinar a instauração. A autoridade policial não pode.

1.5. Reconhecimento de Pessoas e Coisas e Acareações

Poderão ser realizadas acareações (artigos 229 e 230 do Código de Processo Penal) e
reconhecimento de pessoas e coisas (artigos 226 a 228 do Código de Processo Penal).

Quanto ao reconhecimento, caso haja receio de intimidação, a autoridade policial providenciará


para que o reconhecido não veja quem o está reconhecendo, mas, em juízo, o reconhecimento
terá de ser feito frente a frente com o acusado.

A acareação é o confrontamento de depoimentos divergentes prestados.

1.6. Exame de Corpo de Delito

Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a infração tiver
deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se mostrarem necessárias à elucidação
do ocorrido (artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal).

Observação: os peritos deverão sempre atuar em número mínimo de dois.


1.7. Reprodução Simulada dos Fatos

O artigo 7.º do Código de Processo Penal dispõe sobre a reprodução simulada dos fatos
(reconstituição do crime), que não pode contrariar a moralidade e a ordem pública.

O indiciado não pode ser obrigado a participar da reconstituição, o que violaria seu direito ao
silêncio e seu corolário, o de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si, mas pode
ser obrigado a comparecer (artigo 260 do Código de Processo Penal).

1.8. Relatório

Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do que tiver
apurado no inquérito policial, sem, contudo, expender opiniões, julgamentos ou qualquer juízo
de valor, devendo, ainda, indicar as testemunhas que não foram ouvidas, bem como as
diligências não realizadas.

O relatório é a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A autoridade somente
pode fornecer a classificação jurídica do fato, sem emitir qualquer juízo de mérito, e a
classificação não vincula o Ministério Público.

Encerrado o inquérito, os autos serão remetidos ao juiz competente.

2. Prazo para Encerramento do Inquérito Policial


Deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração (recebimento
da notitia criminis), se o indiciado estiver solto. Se o fato for de difícil elucidação, a autoridade
policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências a serem
realizadas no prazo fixado pelo juiz. Não obstante a omissão do Código, entende-se que o juiz
antes de conceder novo prazo deve ouvir o titular da ação penal.

Se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias, contados da
data da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.

No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao prazo de
encerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).

A contagem do prazo atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Código de Processo Penal.
Despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a perda do direito
de punir, apenas o relaxamento da prisão.

2.1. Prazos Especiais

2.1.1. Justiça Federal

Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça Federal, o prazo será de 15 dias,


prorrogável por mais 15, se o indiciado estiver preso. Se o indiciado estiver solto, o prazo será
de 30 dias, com a possibilidade de prorrogação por mais 30 dias (artigo 66 da Lei n. 5.010/66).

No caso de tráfico internacional, aplica-se o prazo da Lei de Tóxicos (vide item seguinte),
adotando-se o princípio da especialidade.

2.1.2. Tóxicos
1. Lei n. 6.368/76: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder Judiciário é de 5
dias (no caso de tráfico é de 10 dias for força do artigo 35, parágrafo único). Na hipótese de
liberdade, o prazo é de 30 dias (artigo 21, § 1.°).

1. Lei n. 10.409/02: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao Poder Judiciário é de 15
dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado se autorizado
pelo juiz (parágrafo único do artigo 29).

Remetemos o aluno ao estudo do módulo IV de Legislação Penal Especial, no que diz respeito
à aplicabilidade da lei nova.

2.1.3. Crimes contra a economia popular

No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o indiciado preso
ou solto (Lei n. 1.521/51, artigo 10, § 1.º).

3. Arquivamento
Só pode ser determinado pelo juiz se houver requerimento do Ministério Público. Se o Juiz
discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no artigo 28 do Código de Processo
Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:

1. oferecer a denúncia;

2. designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia: o promotor ou procurador
designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem que haja ofensa ao princípio da
independência funcional, pois age em nome da autoridade que o designou (por delegação) e
não em nome próprio;

3. insistir no arquivamento: neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do arquivamento.

O juiz, ao remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, exerce função anormal, qual


seja, a de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal.

O delegado não pode arquivar o inquérito policial (artigo 17 do Código de Processo


Penal).

Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiária,
pois esta só é possível no caso de inércia do Ministério Público.

O inquérito policial, arquivado por falta de provas, só poderá ser reaberto se surgirem
novas provas (súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal).

O despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível. Cabe recurso nas seguintes


hipóteses:

1. em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (artigo 7.º da Lei n.
1.521/51);

2. no caso das contravenções previstas nos artigos 58 e 60 do Decreto-lei n. 6.259/44, quando


caberá recurso em sentido estrito;
3. do arquivamento determinado de ofício pelo juiz cabe correição parcial.

Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido ao Procurador-
Geral.

Se o promotor de justiça requerer a devolução dos autos à polícia para diligências


complementares, o juiz poderá, caso discorde, aplicar por analogia o artigo 28 do Código
de Processo Penal. Se assim fizer, caberá correição parcial.

O pedido de arquivamento feito pelo titular da ação penal privada significa renúncia tácita
(causa a extinção da punibilidade).

Por fim, salientamos a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas corpus quando
houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico.

Da Ação Penal

1. DA AÇÃO PENAL

1.1. Conceito

Ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso
concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-
dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a
conseqüente satisfação da pretensão punitiva.

1.2. Características

A ação penal é um:

1. direito público: visa à aplicação do Direito Penal que é público;

2. direito subjetivo: pertence a alguém que pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional;

3. direito autônomo: não se confunde com o direito material tutelado;

4. direito abstrato: independe do resultado do processo.

1.3. Condições Genéricas da Ação

1.3.1. Possibilidade jurídica do pedido

A providência pedida ao Poder Judiciário só será viável se o ordenamento, em abstrato,


expressamente a admitir. Assim, a lei penal material deve cominar, em abstrato, uma sanção
ao fato narrado na peça inicial.

1.3.2. Legitimidade “ad causam” para agir


É na lição de Alfredo Buzaid a pertinência subjetiva da ação.

É a legitimação para ocupar os pólos da relação jurídica processual. Na ação penal pública o
pólo ativo é ocupado pelo Ministério Público; na ação penal privada, o pólo ativo é ocupado
pelo ofendido ou seu representante legal. O pólo passivo é ocupado pelo provável autor do
fato.

Os legitimados são os titulares dos direitos materiais em conflito. O Estado exerce por
intermédio do Ministério Público seu direito de punir que colide com o direito de liberdade do
acusado. No caso da ação penal privada, o ofendido age como substituto processual
(legitimação extraordinária), pois só possui o direito de acusar (jus accusationis), sendo que o
direito de punir pertence sempre ao Estado.

1.3.3. Interesse de agir

Consiste na necessidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse material
pretendido e na sua adequação ao provimento pleiteado. Por conseguinte, não será recebida a
denúncia quando estiver extinta a punibilidade do acusado. Nesse caso, a perda do direito
material de punir resultou na desnecessidade de utilização das vias processuais.

1.4. Condições Específicas da Ação

Ao lado das condições que vinculam a ação civil, também aplicáveis ao processo penal
(explicitadas no item anterior), a doutrina atribui a este algumas condições específicas,
ditas condições específicas de procedibilidade. São elas:

1. representação do ofendido e requisição do ministro da Justiça;

1. entrada do agente no território nacional;

1. autorização do legislativo para a instauração de processo contra Presidente da República e


Governadores, por crimes comuns;

1. trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento,
no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento.

1.5. Classificação da Ação Penal

A par da tradicional classificação das ações em geral, levando-se em conta a natureza do


provimento jurisdicional invocado (de conhecimento, cautelar e de execução), no processo
penal é corrente a divisão subjetiva das ações, isto é, em função da qualidade do sujeito que
detém a sua titularidade.

Segundo o critério subjetivo a ação penal pode ser:

1. ação penal pública: exclusiva do Ministério Público (artigo 100 do Código Penal). Pode ser:

1. incondicionada: nos crimes que ofendem a estrutura social, o interesse geral, e por isso
independe da vontade de quem quer que seja;
2. condicionada: depende de representação do ofendido ou de requisição do ministro da Justiça.

1. ação penal privada: nos crimes que afetam a esfera íntima do ofendido A ação penal privada
pode ser exclusivamente privada, personalíssima ou subsidiária da pública.

1.6. Ação Penal Pública Incondicionada

O Ministério Público independe de qualquer condição para agir. Quando o artigo de lei nada
mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada. É regra no Direito Penal brasileiro.

A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o Ministério Público (artigo
129, inciso I, da Constituição Federal). Para identificação da matéria incluída no rol de
legitimidade exclusiva do Ministério Público, deve-se observar a lei penal. Se o artigo ou as
disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as expressões “somente se
procede mediante representação” ou “somente se procede mediante requisição do ministro da
Justiça”, apenas o Órgão Ministerial poderá propor a denúncia (peça inicial de toda a ação
penal pública).

Somente o Ministério Público pode oferecer a denúncia (artigo 129, inciso I, da Constituição
Federal). Esse princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme ou ação penal ex
officio, também chamado de “jurisdição sem ação” (verificava-se nas contravenções penais -
artigo 26 do Código de Processo Penal; nas lesões corporais culposas e no homicídio culposo).
Nesses casos, o juiz ou a autoridade policial, por meio de portaria ou pelo auto de prisão em
flagrante, iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do Ministério Público).

Vale lembrar que apesar de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do Ministério
Público, se o parquet não oferecer a denúncia no prazo legal, pode o ofendido ou seu
representante legal ingressar com ação penal privada subsidiária da pública (artigo 5.º, inciso
LIX, da Constituição Federal).

Os princípios que regem a ação penal pública incondicionada são os seguintes:

1.6.1. Princípio da oficialidade

Os órgãos encarregados da persecução penal são públicos. O Estado é titular exclusivo do


direito de punir e o faz por meio do devido processo legal. O Ministério Público é titular
exclusivo da ação penal pública.

No caso de inércia do Ministério Público, este princípio sofre relativização, pois a vítima pode
ingressar com ação penal privada subsidiária.

1.6.2. Princípio da obrigatoriedade ou legalidade

O Ministério Público tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação penal pública,
quando concluir que houve um fato típico e ilícito e tiver indícios de sua autoria. O Ministério
Público não tem liberdade para apreciar a oportunidade e a conveniência de propor a ação,
como ocorre na ação penal privada.

Como o Órgão Ministerial tem o dever de ingressar com a ação penal pública, o pedido de
arquivamento deve ser motivado (artigo 28 do Código de Processo Penal).
Devendo denunciar e deixando de fazê-lo, o promotor poderá estar cometendo crime de
prevaricação.

Esse princípio foi mitigado com a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95 (artigos 74 e 76). No
caso de infração de pequeno potencial ofensivo, antes de oferecer a denúncia, o Ministério
Público pode oferecer a transação, um acordo com o autor do fato.

Há, ainda, outra exceção ao princípio da obrigatoriedade. A Lei n. 10.409/02 (nova Lei de
Tóxicos) introduziu o instituto da revelação eficaz, permitindo ao Ministério Público deixar de
propor a ação penal ou requerer a diminuição da pena, ao agente que revelar a existência de
organização criminosa, ensejando a prisão de um ou mais de seus membros; viabilizar a
apreensão da droga ou que, de qualquer maneira, contribuir para os interesses da Justiça (§
2.º do artigo 32).

Para esses dois casos vigora o princípio da discricionariedade regrada.

1.6.3. Princípio da indisponibilidade

Depois de proposta a ação, o Ministério Público não pode desistir (artigo 42 do Código de
Processo Penal). O artigo 564, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo Penal prevê que o
Ministério Público deve manifestar-se sobre todos os termos da ação penal pública.

Esse princípio também foi mitigado pela Lei n. 9.099/95 (referente a crimes de menor potencial
ofensivo e contravenções penais - artigo 61); o Ministério Público pode propor ao acusado a
suspensão condicional do processo, conforme artigo 89.

1.6.4. Princípio da intranscendência

A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe. Somente estes podem ser
processados (não pode ser contra os pais ou representante legal do autor ou partícipe).

1.6.5. Princípio da indivisibilidade

O Ministério Público não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar. Decorre do
princípio da obrigatoriedade.

Esse princípio também é aplicável à ação penal privada (artigo 48 do Código de Processo
Penal).

Alguns doutrinadores, no entanto, entendem que à ação penal pública aplica-se o princípio da
divisibilidade, pois o Ministério Público pode optar por processar apenas um dos ofensores,
optando por coletar maiores evidências para processar posteriormente os demais. Esse
também é o entendimento da jurisprudência.

1.6.6. Princípio da oficiosidade

Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de


provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à
representação ou à requisição do ministro da justiça.

1.7. Ação Penal Pública Condicionada


Apesar de o Ministério Público ser o titular exclusivo da ação (somente ele pode oferecer a
denúncia), depende de certas condições de procedibilidade para ingressar em juízo. Sem estas
condições, o Ministério Público não pode oferecer a denúncia.

A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisição do ministro da
Justiça.

1.7.1. Representação do ofendido

Representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal,


autorizando o Ministério Público a ingressar com a ação penal respectiva. Sem essa
autorização, nem sequer poderá ser instaurado inquérito policial.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente se procede


mediante representação”, deve o ofendido ou seu representante legal representar ao Ministério
Público para que este possa ingressar em juízo. A representação não exige formalidades, deve
apenas expressar, de maneira inequívoca, a vontade da vítima de ver seu ofensor processado.
Pode ser dirigida ao Ministério Público, ao juiz de Direito ou à autoridade policial (artigo 39 do
Código de Processo Penal). Pode ser escrita (regra) ou oral, sendo que, neste caso, deve ser
reduzida a termo.

A representação tem natureza jurídica de condição objetiva de procedibilidade. É condição


específica da ação penal pública.

A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses da data do conhecimento da
autoria (e não do crime), ou, no caso do artigo 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia, para apresentar sua representação (artigo 38 do Código de
Processo Penal). Tal prazo é contado para oferta da representação e não para o ingresso do
Ministério Público com a ação penal, podendo este oferecer a denúncia após os seis meses.
Tal prazo não corre contra o menor de 18 anos, ou seja, após completar 18 anos, a vítima terá
seis meses para representar ao Ministério Público. Em qualquer caso, tal prazo é decadencial
(artigo 107, inciso IV, do Código Penal). Esse prazo não se suspende nem se prorroga (artigo
10 do Código Penal).

A Lei de Imprensa, dispondo de forma diversa, prescreve que o prazo para a representação,
nos crimes de ação pública condicionada por ela regulados, é de três meses, contado da data
do fato, isto é, da data da publicação ou da transmissão da notícia (Lei n. 5.250/67, artigo 41, §
1.º).

Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante legal pode oferecer a
representação. Se o ofendido for incapaz e não tiver representante legal o juiz nomeará um
curador especial que decidirá se representará ou não. Se maior de 18 e menor de 21 anos,
tanto ele como seu representante legal têm legitimidade, com prazos independentes (Súmula
n. 594 do Supremo Tribunal Federal), podem oferecer a representação e, caso haja conflito
entre os interesses de ambos, prevalece a vontade de quem quer representar.

Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante legal, será nomeado
um curador especial que verificará a possibilidade ou não da representação.

No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente, o direito de representação


transmite-se ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (enumeração taxativa).
Segundo o artigo 25 do Código de Processo Penal, pode o ofendido retratar-se (ou seja,
desistir da representação) até o oferecimento da denúncia. Após o oferecimento da denúncia, a
representação será irretratável.

Entendemos que não pode haver retratação da retratação (a pessoa retira a representação e
depois a oferece de novo – sempre dentro do prazo decadencial de seis meses). Como bem
lembra Tourinho Filho, admitir o contrário “é entregar ao ofendido arma poderosa para fins de
vingança ou outros inconfessáveis”. A jurisprudência, no entanto, a nosso ver de forma
equivocada, tem admitido este inconveniente procedimento.

A representação não vincula (obriga) o Ministério Público a ingressar com a ação; o Ministério
Público só oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do crime e os indícios de
autoria, senão poderá pedir o arquivamento do inquérito policial.

A representação é autorização para a persecução penal de um fato e não de pessoas(eficácia


objetiva). Assim, a representação contra um suspeito se estenderá aos demais.

1.7.2. Requisição do ministro da Justiça

Requisição é o ato político e discricionário pelo qual o ministro da Justiça autoriza o Ministério
Público a propor a ação penal pública nas hipóteses legais.

A doutrina entende que os casos de ação penal pública condicionada à requisição do ministro
da Justiça são casos em que a conveniência política em instaurar a persecução penal se
sobrepõe ao interesse de punir os delitos.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente se procede


mediante requisição do Ministro da Justiça”, para que o Ministério Público possa oferecer a
denúncia, é necessária tal formalidade. Tem natureza jurídica de condição de
procedibilidade e, como a representação, não vincula o Ministério Público a oferecer a
denúncia, este pode requerer o arquivamento.

Podemos citar as seguintes hipóteses de requisição:

1. crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República (artigo 141, inciso I,
combinado com o artigo 145, parágrafo único, do Código Penal);

1. crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (artigo 7.º, § 3.º, alínea “b”, do
Código Penal);

A requisição é autorização para a persecução penal de um fato e não de pessoas(eficácia


objetiva).

O ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição, pode fazê-lo a qualquer tempo
(não se sujeita aos seis meses de prazo como na representação).

A lei silencia sobre a possibilidade de retratação. Sobre o assunto, a doutrina apresenta duas
orientações:

1. segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve-se aplicar a analogia com o instituto da
representação (artigo 25 do Código de Processo Penal), sendo, portanto, possível a retratação;
2. segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o artigo 25 do Código de
Processo Penal não prevê tal possibilidade

Ação Penal Privada

Denúncia e Queixa

1. AÇÃO PENAL PRIVADA

1.1. Conceito

É a ação proposta pelo ofendido ou seu representante legal. O Estado, titular exclusivo do
direito de punir (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal), por razões de política criminal,
outorga ao ofendido o direito de ação. O ofendido, em nome próprio, defende o interesse do
Estado na repressão dos delitos.

1.2. Substituição Processual

O Estado é o titular exclusivo do direito de punir. Nas hipóteses de ação penal privada, ele
transfere ao particular a iniciativa da ação, mas não o direito de punir. O ofendido, portanto, em
nome próprio, defende interesse alheio (legitimação extraordinária). Na ação penal pública,
ocorre legitimação ordinária porque é o Estado soberano, por meio do Ministério Público, que
movimenta a ação.

1.3. Titular

Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou seus interesses colidirem com os deste último, o direito de queixa
poderá ser exercido por curador especial, nomeado para o ato (artigo 33 do Código de
Processo Penal). Se maior de 18 e menor de 21 anos, o direito de queixa é titularizado por
cada um deles, independentemente, conforme a Súmula 594 do Supremo Tribunal Federal. Se
maior de 21 anos, a queixa será exercida apenas pelo ofendido, excluindo-se a figura do
representante legal, salvo, é claro, se mentalmente incapaz.

No caso de morte do ofendido, ou de declaração de ausência, o direito de queixa, ou de dar


prosseguimento à acusação, passa a seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (artigo
31). Exercida a queixa pela primeira delas, as demais se acham impedidas de fazê-lo, só
podendo assumir a ação no caso de abandono pelo querelante, desde que o façam no prazo
de sessenta dias, observada a preferência do artigo 36 do Código de Processo Penal, sob
pena de perempção (artigo 60, inciso II). A doutrina considera esse rol taxativo e preferencial.

No caso de ação penal privada personalíssima, o direito de ação é intransferível.

1.4. Espécies de Ação Penal Privada

1. Ação penal exclusivamente privada: é aquela proposta pelo ofendido ou seu representante
legal, que permite, no caso de morte do ofendido, a transferência do direito de oferecer queixa
ou prosseguir na ação ao cônjuge, ao ascendente, ao descendente ou ao irmão (artigo 31 do
Código de Processo Penal).

2. Ação penal privada personalíssima: é aquela que só pode ser promovida única e
exclusivamente pelo ofendido. Exemplo: adultério (artigo 240 do Código Penal), induzimento a
erro essencial (artigo 236, parágrafo único, do Código Penal). Assim, falecendo o ofendido,
nada há que se fazer a não ser aguardar a extinção da punibilidade do agente.

3. Ação penal privada subsidiária da pública: aquela proposta pelo ofendido ou por seu
representante legal na hipótese de inércia do Ministério Público em oferecer a denúncia.
Conforme entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, a ação subsidiária não tem
lugar na hipótese de arquivamento de inquérito policial.

1.5. Prazo

Em regra, o prazo para o oferecimento da queixa é de seis meses a contar do conhecimento da


autoria. Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de seis meses a contar do
encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia. É um prazo decadencial,
pois seu decurso leva à extinção do direito de queixa. A decadência não extingue o direito de
punir (o que leva tal direito à extinção é a prescrição). A decadência extingue o direito de ação
(queixa) e o direito de representação (nas ações públicas condicionadas).

Trata-se de prazo de direito material contado de acordo com o artigo 10 do Código Penal,
computando-se o dia do começo e excluindo-se o do final; não se prorroga se terminar no
domingo ou feriado. Interrompe-se com o oferecimento da queixa, e não com o seu
recebimento. O recebimento interrompe a prescrição.

A decadência do direito de queixa subsidiária não extingue a punibilidade, só extingue o direito


de ação, portanto, o Ministério Público pode oferecer a denúncia a qualquer tempo, mesmo
após os seis meses.

1.6. Princípios da Ação Penal Privada

1.6.1. Princípio da conveniência ou oportunidade

O ofendido tem a faculdade, não o dever de propor a ação penal.

1.6.2. Princípio da disponibilidade

O ofendido pode desistir ou abandonar a ação penal privada até o trânsito em julgado da
sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (artigos 51 e 60 do Código de
Processo Penal, respectivamente). A desistência com a aceitação do ofendido equivale ao
perdão.

1.6.3. Princípio da indivisibilidade

O ofendido é obrigado a incluir na queixa todos os ofensores. Não é obrigado a apresentar a


queixa, mas, se o fizer, é obrigado a interpor contra todos (artigo 48 do Código de Processo
Penal). A exclusão voluntária na queixa-crime de algum ofensor acarreta a rejeição da peça
inicial em face da ocorrência da renúncia tácita no tocante ao não incluído – esta causa
extintiva da punibilidade comunica-se aos demais querelados (artigo 49 do Código de Processo
Penal).

O Ministério Público não pode aditar a queixa para nela incluir os outros ofensores, porque
estaria invadindo a legitimação do ofendido. Para Tourinho Filho, entretanto, o aditamento é
possível com base no artigo 46, § 2.º, do Código de Processo Penal. Mirabete entende que no
caso de não-inclusão involuntária de ofensor na queixa-crime (por desconhecimento da
identidade do co-autor, por exemplo), o Ministério Público deve fazer o aditamento, nos termos
do artigo 45 do Código de Processo Penal.

1.6.4. Princípio da intranscendência

Trata-se de princípio constitucional que impõe que a ação penal só pode ser ajuizada contra o
autor do fato e nunca contra os seus sucessores.

2. DENÚNCIA E QUEIXA

2.1. Requisitos da Denúncia (artigo 41 do Código de Processo Penal)

1. Endereçamento: o endereçamento equivocado caracteriza mera irregularidade, sanável com a


remessa dos autos ao juiz competente.

2. Descrição completa dos fatos em todas as circunstâncias: no processo penal, o réu defende-se
dos fatos a ele imputados, sendo irrelevante a classificação jurídica destes. O que limita a
sentença são os fatos; sua narração incompleta acarreta a nulidade da denúncia, se a
deficiência inviabilizar o exercício do direito de defesa. A omissão de alguma circunstância
acidental não invalida a queixa ou a denúncia, podendo ser suprida até a sentença (artigo 569
do Código de Processo Penal). Na hipótese de concurso de agentes (co-autoria e
participação), sempre que possível, é necessária a descrição da conduta de cada um. A
jurisprudência já abriu exceções para não inviabilizar a persecução penal, como nos seguintes
casos:

1. crimes de autoria coletiva (praticados por multidão);

2. delitos societários (diretores se escondem atrás da pessoa jurídica).

1. Classificação jurídica dos fatos: a correta classificação do fato imputado não é requisito
essencial da denúncia, pois não vincula o juiz que pode dar aos fatos definição jurídica diversa.
O réu se defende dos fatos e não da acusação jurídica (juria novit curia – o juiz conhece o
direito).

O juiz não pode, ao receber a denúncia, dar uma classificação jurídica diversa da contida na
exordial porque a fase correta para isso é a sentença (artigo 383 do Código de Processo
Penal); o recebimento é uma decisão de mera prelibação, sem o exame aprofundado da prova;
não há ainda prova produzida pelo crivo do contraditório.

1. Qualificação do denunciado: individualização do acusado. Não havendo dados para a


qualificação do acusado, a denúncia deverá fornecer seus dados físicos (traços
característicos), desde que possível.

2. Rol de testemunhas: a denúncia é o momento oportuno para o arrolamento das testemunhas,


sob pena de preclusão. Perdida a oportunidade, o rol poderá ser apresentado aguardando-se
que o juiz proceda à oitiva considerando as testemunhas como suas.

3. Pedido de condenação: não se exige fórmula sacramental (“peço a condenação”), basta que
fique implícito o pedido. A falta acarreta mera irregularidade.

4. Nome, cargo e posição funcional do denunciante: só haverá nulidade quando essa falta
inviabilizar por completo a identificação da autoria da denúncia.
5. Assinatura: a falta não invalida a peça se não houver dúvidas quanto a sua autenticidade.

Denúncia alternativa é a descrição alternativa de fatos, de maneira que, não comprovado o


primeiro fato, pede-se a condenação do segundo subsidiariamente (princípio da
eventualidade). A denúncia alternativa é inepta, pois inviabiliza o direito de defesa. Segundo a
Súmula n. 1 das mesas de Processo Penal da Universidade de São Paulo, a denúncia
alternativa não deve ser aceita.

2.2. Requisitos da queixa

São os mesmos requisitos da denúncia, acrescida a formalidade do artigo 44 do Código de


Processo Penal. Na procuração, devem constar os poderes especiais do procurador, o fato
criminoso e o nome do querelado. A finalidade de a procuração outorgada pelo querelante
conter o nome do querelado e a descrição do fato criminoso é a de fixar eventual
responsabilidade por denunciação caluniosa no exercício do direito de queixa. O Superior
Tribunal de Justiça já decidiu que a assinatura do querelante na queixa, em conjunto com seu
advogado, isentará o procurador de responsabilidade por eventual imputação abusiva, não
sendo, nessa hipótese, necessária procuração.

2.3. Omissões

Podem ser suprimidas até a sentença (artigo 569 do Código de Processo Penal).

2.4. Prazo para a Denúncia (artigo 46 do Código de Processo Penal)

O prazo é de 15 dias se o indiciado estiver solto. Se estiver preso, o prazo é de 5 dias. O


excesso de prazo não invalida a denúncia, podendo provocar o relaxamento da prisão.

Prazos especiais:

1. crime eleitoral: 10 dias;

1. crime contra a economia popular: 2 dias;

2. abuso de autoridade: 48 horas;

3. crime previsto na lei de tóxico: 3 dias (salvo no caso dos crimes definidos nos artigos 12, 13 e
14, em que o prazo será de 6 dias)

2.5. Prazo para a Queixa (artigo 38 do Código de Processo Penal)

Seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber quem é o autor do crime. No caso
de ação penal privada subsidiária, o prazo será de seis meses, a contar do esgotamento do
prazo para o oferecimento da denúncia.

2.6. Aditamento da Queixa

O Ministério Público pode aditar a queixa para nela incluir circunstâncias que possam influir na
caracterização do crime e na sua classificação, ou ainda na fixação da pena (artigo 45 do
Código de Processo Penal).
O Ministério Público não poderá incluir na queixa outros ofensores se o querelante optou por
não processar os demais, pois estaria invadindo a legitimidade do ofendido. Nesse caso, de
não inclusão injustificada, há renúncia tácita do direito de queixa e conseqüente extinção da
punibilidade dos que não foram processados, que se estende aos querelados, por força do
princípio da indivisibilidade (artigo 48 do Código de Processo Penal). No caso de não inclusão
justificada (desconhecimento da identidade do co-autor, por exemplo), não se trata de renúncia
tácita. Tão logo se obtenham os dados identificadores necessários, o ofendido deverá aditar a
queixa incluindo o indigitado, sob pena de, agora sim, incorrer em renúncia tácita extensiva a
todos.

O prazo para aditamento da queixa pelo Ministério Público é de três dias, a contar do
recebimento dos autos pelo órgão ministerial. Aditando ou não a queixa, o Ministério Público
deverá intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público poderá, além de
aditar a queixa, repudiá-la, oferecendo denúncia substitutiva (artigo 29 do Código de Processo
Penal).

2.7. Causas de Rejeição da Denúncia ou Queixa

2.7.1. Quando o fato narrado evidentemente não constituir crime

O juiz rejeitará a denúncia quando concluir que o fato narrado é atípico ou que está acobertado
por causa de exclusão de ilicitude, porque falta uma condição da ação – uma
verdadeira impossibilidade jurídica do pedido. O artigo 43, inciso I, do Código de Processo
Penal faz coisa julgada material (não pode ser oferecida a denúncia novamente).

2.7.2. Quando já estiver extinta a punibilidade do agente

Falta uma condição da ação, que é o interesse de agir. Faz coisa julgada material (artigo 43,
inciso II, do Código de Processo Penal).

2.7.3. Ilegitimidade de parte

Quando se verifica impertinência subjetiva da ação (artigo 43, inciso III, do Código de Processo
Penal). Ocorre, por exemplo, quando o Ministério Público oferece queixa em ação privada.
Haverá também ilegitimidade quando um menor de 18 anos ingressar com a queixa em uma
ação privada. Nesse caso, opera-se a chamada ilegitimidade ad processum (incapacidade
processual).

2.7.4. Quando faltar condição de procedibilidade

Exemplo: apresentar a denúncia sem representação quando esta for exigida por lei (artigo 43,
inciso III, 2.ª parte, do Código de Processo Penal).

2.7.5. Quando faltar justa causa para a denúncia

É preciso um mínimo de lastro da existência do crime ou sua autoria (artigo 648, inciso I, do
Código de Processo Penal).

2.8. Renúncia
É a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação. Só é possível renunciar a uma
ação penal privada ou a uma ação penal pública condicionada, tendo em vista que o Ministério
Público jamais pode renunciar a qualquer ação pública.

A renúncia é unilateral, ou seja, não depende da aceitação do agente, sendo causa extintiva da
punibilidade. A renúncia, no entanto, é extraprocessual, só poderá existir antes da propositura
da ação.

Existem duas formas de renúncia:

1. expressa: quando houver uma declaração assinada pela vítima;

2. tácita: quando a vítima praticar ato incompatível com a vontade de processar (exemplo: o
casamento da vítima com o agressor).

A renúncia concedida a um réu estende-se a todos, ou seja, quando houver vários réus, a
renúncia com relação a um deles implica, obrigatoriamente, renuncia a todos.

No caso de dupla titularidade para propositura da ação, a renúncia de um titular não impede a
propositura da ação pelo outro.

Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela ocorre antes da
propositura da ação e esta depois da propositura da ação. A única situação de desistência da
ação está prevista no artigo 522 do Código de Processo Penal.

Pergunta: A aceitação por parte da vítima da indenização civil gera renúncia?

Resposta: Não, por expressa previsão do artigo 104, parágrafo único, do Código Penal. No
caso de infração penal de menor potencial ofensivo, contudo, a homologação judicial do acordo
civil, realizada na audiência preliminar, implica renúncia ao direito de queixa ou representação
(artigo 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95).

2.9. Perdão do Ofendido

É possível somente na ação penal privada, tendo em vista que o Ministério Público não pode
perdoar o ofendido. O perdão aceito obsta o prosseguimento da ação, causando a extinção da
punibilidade. Verifica-se o perdão após o início da ação, pois, tecnicamente, o perdão antes da
ação configura renúncia. Admite-se o perdão até o trânsito em julgado final.

Existem duas formas de perdão:

1. expresso: quando houver uma declaração assinada pelo querelante;

2. tácito: quando o querelante praticar ato incompatível com a vontade de processar.

O perdão é bilateral, depende sempre da aceitação do querelado. Caso não haja aceitação, o
processo prosseguirá. A lei assegura ao querelado o direito de provar sua inocência. A
aceitação do querelado poderá ser:

1. expressa: quando houver uma declaração assinada;


2. tácita: se não se manifestar em três dias.

O perdão concedido a um co-réu estende-se a todos, entretanto, se algum dos co-réus não o
aceitar, o processo seguirá somente para ele. A doutrina entende que é possível o perdão
parcial, como, por exemplo, perdoar por um crime e não perdoar por outro (a lei é omissa a
esse respeito).

Se a vítima for maior de 18 e menor de 21 anos (caso em que há dupla titularidade), o perdão
concedido por um titular, havendo oposição do outro, não produzirá efeitos e o processo
prosseguirá. Assim, prevalece a vontade de quem não quer perdoar (artigo 52).

No caso de o querelado ser menor de 21 anos, a aceitação só produz efeitos se houver


concordância do seu representante legal (artigo 54 do Código de Processo Penal). Assim,
prevalece a vontade de quem não quer aceitar.

2.10. Perempção

Significa a “morte” da ação penal privada em razão da negligência do querelante.

São hipóteses de perempção (artigo 60 do Código de Processo Penal):

1. quando o querelante deixa de promover o andamento do processo por 30 dias seguidos, a


perempção é automática;

2. quando morre o querelante ou torna-se incapaz e nenhum sucessor aparece para dar
prosseguimento à ação, em 60 dias;

3. quando o querelante deixa de comparecer a ato em que deveria pessoalmente estar presente;

4. quando o querelante deixa de pedir a condenação do querelado nas alegações finais;

5. quando o querelante é pessoa jurídica que se extingue sem deixar sucessor;

6. quando morre o querelante na ação penal privada personalíssima.

Ação Civil “Ex Delicto”

1. AÇÃO CIVIL “EX DELICTO”

Um dos efeitos da sentença penal condenatória é tornar certa a obrigação de reparar o dano
causado pelo crime (artigo 91, inciso I, do Código Penal). Assim, a condenação penal imutável
faz coisa julgada no cível, para efeito de reparação do dano ex delicto, impedindo que o autor
do fato renove, nessa instância, a discussão do que foi decidido no crime. Trata-se de efeito
genérico que não precisa ser declarado na sentença penal.

O Código de Processo Penal, seguindo o Estatuto Penal, em seu artigo 63, assegura ao
ofendido, ao representante legal ou aos herdeiros daquele, o direito de executar no cível a
sentença penal condenatória transitada em julgado.
A sentença penal condenatória transitada em julgado funciona como título executivo judicial no
juízo cível, possibilitando ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a necessidade de
propor ação civil de conhecimento. Com o trânsito em julgado, basta promover a liquidação do
dano, para, em seguida, ingressar com a ação de execução civil.

Como a responsabilidade civil é independente da penal, é possível o desenvolvimento paralelo


e independente de uma ação penal e uma ação civil sobre o mesmo fato. Assim, se o ofendido
ou seus herdeiros desejarem, não necessitarão aguardar o término da ação penal, podendo
ingressar, desde logo, com a ação civil reparatória.

Trata-se da ação civil ex delicto, que pode ser proposta pelo ofendido, seu representante legal
ou seus herdeiros, em razão da ocorrência de um delito. Está disposta nos artigos 63 a 67 do
Código de Processo Penal. É proposta no juízo cível contra o autor do crime ou seu
responsável civil.

Observação: a coisa julgada produzida no cível pela condenação penal não abrange o
responsável civil, sob pena de violação a princípios constitucionais, tais como o princípio do
contraditório e da ampla defesa.

Com o trânsito em julgado da ação penal condenatória, torna-se prejudicado o julgamento da


ação civil.

Dispõe o parágrafo único do artigo 64 do Código de Processo Penal, in verbis:“Intentada a


ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo
daquela”.

Se a ação penal, portanto, ainda estiver em curso, a vítima poderá entrar com a ação civil no
juízo cível para requerer a indenização. Como poderá ocorrer, no entanto, o conflito de
decisões, o juiz da ação civil poderá suspender o curso dessa ação até julgamento final da
ação penal.

Nem sempre a absolvição do réu no juízo criminal impedirá a actio civilis ex delicto. Em regra,
esta só não poderá ser proposta quando tiver sido categoricamente reconhecida a inexistência
material do fato.

Assim, não impedirão a propositura da ação civil:

1. o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

2. a decisão que julgar extinta a punibilidade;

1. a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime;

2. a sentença absolutória por insuficiência de provas;

3. a sentença absolutória em face de causa excludente de culpabilidade.

Não caberá, entretanto, a ação civil reparatória:

1. quando o juiz criminal reconhecer a inexistência do fato;


2. quando o juiz criminal reconhecer que o sujeito não participou do fato;

1. quando o juiz criminal reconhecer uma causa excludente da ilicitude (legítima defesa, estado
de necessidade, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal). Essas
causas excluem a ilicitude penal e civil. Há, entretanto, duas exceções: no estado de
necessidade agressivo, no qual o agente sacrifica bem de terceiro inocente, este pode acioná-
lo civilmente, restando ao causador do dano a ação regressiva contra quem provocou a
situação de perigo (artigos 929 e 930 do Código Civil de 2002); na hipótese de legítima defesa,
na qual, por erro na execução, vem a ser atingido terceiro inocente, este terá direito à
indenização contra quem o atingiu, ainda que este último estivesse em situação de legítima
defesa, restando-lhe apenas a ação regressiva contra seu agressor (parágrafo único do artigo
930 c/c o artigo 188, inciso I, do novo Código Civil).

1.2. Execução Civil

A sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, poderá ser executada no juízo cível,
mas como o juiz criminal não fixa o quantum, é necessário que se faça a liquidação da
sentença.

A ação civil de conhecimento, ou a executória, precedida da necessária ação de liquidação,


devem ser propostas perante o juízo cível.

O autor da ação cível tem o privilégio de escolher um dos foros especiais, previstos no artigo
100, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Esse dispositivo, na verdade, coloca três
opções de foro à disposição da vítima de delito ou de dano sofrido em acidente de veículos: o
do seu domicílio, o do local do fato, e, regra geral, o do domicílio do réu.

Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (artigo 32, §§ 1.º e 2.º, do Código de
Processo Penal), a execução da sentença condenatória (artigo 63 do Código de Processo
Penal) ou a ação civil (artigo 64 do Código de Processo Penal) será promovida, a seu
requerimento, pelo Ministério Público, nos termos do artigo 68 do Código de Processo Penal.

Jurisdição e Competência

1. JURISDIÇÃO

1.1. Conceito

Jurisdição é a função estatal exercida pelo Poder Judiciário, consistente na aplicação de


normas da ordem jurídica a um caso concreto, com a conseqüente solução do litígio. É o
poder de julgar um caso concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio do
processo.

1.2. Princípios

1. Juiz natural: ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente, que é aquela cujo poder jurisdicional vem fixado em regras
predeterminadas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal); do mesmo modo, não
haverá juízo ou tribunal de exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal).

2. Devido processo legal: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal (artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal).
1. Inércia: a jurisdição não age de ofício; depende de provocação das partes, pois, caso
contrário, sua imparcialidade ficaria abalada; ne procedat iudex ex oficio.

2. Indelegabilidade: a jurisdição não pode ser delegada a nenhum outro órgão. O Poder
Judiciário é um Poder Constituído que recebeu sua função do Poder Constituinte. Não
se pode delegar o que se recebeu por delegação; dellegatur dellegare non potest.

1. Investidura: apenas aquele legalmente investido no exercício da função jurisdicional é


que pode exercê-la.

2. Improrrogabilidade: um juiz não pode invadir a competência de outro, mesmo com


concordância das partes. Apenas, excepcionalmente, admite-se a prorrogação da
competência.

3. Inevitabilidade: consiste na sujeição do réu ao processo e na sujeição de ambas as


partes à decisão.

1. Indeclinabilidade da prestação jurisdicional: nenhum juiz pode subtrair-se do exercício


da função jurisdicional nem o legislador pode produzir leis restringindo o acesso ao
Poder Judiciário (artigo 5.º, inciso XXXV, da Constituição Federal).

1. Correlação: a sentença deve corresponder ao pedido. Não pode haver


julgamento extra ou ultra petita.

2. Aderência ao território: a jurisdição é reflexo do poder soberano do Estado; atua dentro


do território nacional. Para a jurisdição atuar em outro país é preciso que este outro país
a aceite. Exemplo: carta rogatória.

2. COMPETÊNCIA

2.1. Conceito de Competência

Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o


juiz pode prestar a jurisdição). Aponta quais os casos que podem ser julgados pelo
órgão do Poder Judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de
julgar.

2.2. Critérios de Fixação

O artigo 69 do Código de Processo Penal estabelece os critérios de competência. São


eles:

I – o lugar da infração;

II – o domicílio ou residência do réu;

Observação: Os dois primeiros incisos determinam a competência territorial ou foro


competente.

III – a natureza da infração;


IV – a distribuição;

V – a conexão ou continência;

VI – a prevenção;

VII – a prerrogativa de função.

Observação: a conexão e a continência não são critérios de fixação de competência, são


critérios de modificação de competência.

3. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL DA INFRAÇÃO

3.1. Foro

Foro é o território dentro do qual determinado órgão judicial exerce sua parcela de
jurisdição.

Foro da Justiça Estadual:

1. 1.ª instância – comarca

2. 2.ª instância – Estado

Foro da Justiça Federal:

1. 1.ª instância – seção judiciária

2. 2.ª instância – Região

3.2. Teorias Adotadas

“A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,


ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”
(artigo 70 do Código de Processo Penal).

Atenção! Não confundir:

1. No caso de um crime ser praticado em território nacional e o resultado ser produzido no


estrangeiro (crimes a distância ou de espaço máximo), aplica-se a teoria da ubiqüidade,
prevista no artigo 6.º do Código Penal: o foro competente será tanto o do lugar em que
ocorreu a ação ou omissão, quanto o do local onde se produziu ou deveria se produzir o
resultado.

2. No caso da conduta e do resultado ocorrerem dentro do território nacional, mas em


locais diferentes (delito plurilocal) aplica-se a teoria do resultado prevista no artigo 70 do
Código de Processo Penal: a competência será determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último
ato de execução.
1. No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, sujeitos ao procedimento da Lei n.
9.099/95, adotou-se a teoria da atividade. Esta é a redação do artigo 63 da lei: “A
competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal”. Assim, entendemos que a infração é praticada no local da ação ou omissão. Esse
é o entendimento da Profª. Ada Pellegrini Grinover. Há na doutrina, entretanto,
pensamento diverso: para o Prof. Mirabete, o foro competente será o local da ação ou do
resultado (teoria da ubiqüidade); para o Prof. Tourinho, o foro competente será o local
do resultado (teoria do resultado).

3.3. Regras Especiais

a) Fraude no pagamento por meio de cheque (artigo 171, § 2.º, inciso VI, do Código Penal)

Trata-se do crime de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem


provisão de fundos. O crime se consuma quando o banco sacado recusa o pagamento.
O foro competente será o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Esse é o entendimento consubstanciado nas Súmulas n. 521 do Supremo Tribunal
Federal e n. 244 do Superior Tribunal de Justiça.

b) Estelionato cometido mediante falsificação de cheque

O foro competente é o local da obtenção da vantagem ilícita, conforme entendimento da


Súmula n. 48 do Superior Tribunal de Justiça. Exemplo: Adonilza encontra uma folha de
cheque na rua, vai até uma loja e faz uma compra, fazendo-se passar por titular do
cheque. O lojista enganado entrega a mercadoria. O foro competente é o local da loja.

c) Homicídio

No homicídio, quando a morte é produzida em local diverso daquele em que foi realizada
a conduta, a jurisprudência entende que o foro competente é o da ação ou omissão, e
não o do resultado (Superior Tribunal de Justiça, 5.ª T., RHC 793, DJU, 5 nov. 1990, p.
12435). Esta posição é majoritária na jurisprudência, e tem por fundamento a maior
facilidade que as partes têm de produzir provas no local em que ocorreu a conduta.
Contudo, ela é contrária à letra expressa da lei, que dispõe competente o foro do local do
resultado.

d) Crime de falso testemunho praticado mediante precatória

A jurisprudência entende que o foro competente será o juízo deprecado. Assim, o local
onde ocorreu a oitiva da testemunha será o competente.

e) Crime permanente

Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo. Exemplo: um


empresário seqüestrado em São Paulo é levado para cativeiro em Campinas; depois o
cativeiro é mudado para Americana. A consumação desse crime ocorreu em todos esse
lugares. A competência, nesse caso, fixa-se pela prevenção (artigo 71 do Código de
Processo Penal).

f) Crime que se consuma na divisa entre duas comarcas


A competência será firmada pela prevenção (artigo 70, § 3.º, do Código de Processo
Penal).

g) Crime a distância (ou de espaço máximo)

É aquele cujo iter criminis envolve o território de dois ou mais países.

1. Se a execução se inicia no Brasil, será competente o local do último ato executório no


território nacional.

2. Se a execução se inicia no exterior, será competente o local em que ocorreu ou deveria


ocorrer a consumação em território nacional. Exemplo: terrorista envia carta-bomba da
Argentina para explodir em São Paulo, sendo que a explosão não vem a acontecer. O
foro competente para propor a ação será São Paulo.

h) Crime praticado no exterior

Crime cometido por brasileiro no exterior. A execução e a consumação do crime


ocorreram no exterior, entretanto, será julgado pelas leis brasileiras em razão da
extraterritorialidade da lei penal. O foro competente para julgar o acusado será o da
capital do Estado do seu último domicílio. Se o réu nunca teve domicílio no Brasil, será
competente o juízo do Distrito Federal (artigo 88 do Código de Processo Penal).

i) Crime praticado a bordo de embarcação

O foro competente será o local do porto nacional onde ocorreu o primeiro atracamento
após o crime ou o porto de onde a embarcação saiu do Brasil para o exterior. Para os
crimes cometidos a bordo de aeronave, utiliza-se a mesma regra: o foro competente será
o local do aeroporto onde ocorreu o primeiro pouso após o crime ou o aeroporto de
onde decolou a aeronave antes do crime.

Observação: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território


nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar” (§ 1.º do artigo 5.º do
Código Penal).

3.4. Domicílio ou Residência – Critério Subsidiário

Conforme o artigo 72 do Código de Processo Penal, não sendo conhecido o lugar da


infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

Exemplo: uma passageira de um ônibus que fazia o percurso São Paulo/Bahia, ao


desembarcar, percebe que teve sua carteira furtada. O ônibus esteve o tempo todo em
trânsito, não havendo como precisar o local da infração. A ação será proposta no local
do domicílio ou residência do réu. Se o réu tiver mais de um domicílio, conforme o artigo
72, § 1.º, do Código de Processo Penal, a competência firmar-se-á pela prevenção. Caso
o réu não tenha domicílio certo, ou seja ignorado seu paradeiro, será competente o juiz
que primeiro tomou conhecimento do fato.
Na ação penal privada, o ofendido poderá preferir o foro do domicílio ou residência do
réu, mesmo quando conhecido o lugar da infração. O critério é optativo, de acordo com
o artigo 73 do Código de Processo Penal.

4. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA

Conforme a natureza da infração, a ação será julgada por uma determinada justiça
competente.

Organização da Justiça Penal:

1. Comum – Federal e Estadual (a Justiça Estadual também é conhecida como residual;


sua competência compreende o que não for da competência das Justiças Eleitoral,
Militar e Federal).

1. Especial – Eleitoral (artigo 121 da Constituição Federal/88) e Militar (artigo 124 da


Constituição Federal/88).

4.1. Justiça Eleitoral

É estruturada em três níveis:

1. Tribunal Superior Eleitoral (Brasília)

2. Tribunal Regional Eleitoral (capital do Estado)

3. Juiz Eleitoral (Juízes de Direito da Justiça Estadual)

Tem competência para julgar:

1. crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral;

2. crimes eleitorais previstos nas leis extravagantes.

4.2. Justiça Militar

a) Justiça Militar Federal

1. Superior Tribunal Militar (Brasília – 2.ª instância)

2. Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).

b) Justiça Militar Estadual

1. Tribunal de Justiça Militar ou Tribunal de Justiça (para os Estados que não possuem
TJM – 2.ª instância)

2. Auditorias Militares compostas por um juiz togado e quatro oficiais (1.ª instância).
Serão Julgados pela Justiça Militar Federal:

1. Integrantes das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que pratiquem crime
definido como militar.

2. Civil que pratique crime contra instituição militar federal. Observação: assim dispõe a
Súmula n. 53 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares
estaduais”. Assim, se o civil cometer crime contra instituição militar federal, será julgado
pela justiça militar federal; se o civil cometer crime contra instituição militar estadual,
será julgado pela justiça comum estadual.

Serão julgados pela Justiça Militar Estadual (artigo 125, § 4.º, da Constituição
Federal/88):

1. policiais militares e bombeiros militares, nos crimes definidos em lei como militares.

Crimes Militares:

1. Propriamente militar ou próprio: são aqueles definidos no Código Penal Militar (Decreto-
lei n. 1.001/69), sem equivalente na justiça penal comum. Exemplo: motim, dormir em
serviço, deserção, insubordinação.

2. Impropriamente militar ou impróprio: são aqueles crimes definidos na legislação militar


com equivalente na lei penal comum. Exemplo: lesões corporais.

Os crimes militares próprios são julgados pela justiça militar. Com relação aos crimes
militares impróprios, o Código Penal Militar estabelece em seu artigo 9.º, inciso II, as
situações em que o crime é praticado em situação de serviço. Nesse caso, ou seja, se o
crime for praticado pelo militar em serviço, será crime militar. Se o militar não estiver em
serviço, será julgado pela justiça comum.

Se o militar em serviço pratica crime não definido no Código Penal Militar, será julgado
pela Justiça Comum. Exemplo: crime de abuso de autoridade – Lei n. 4.898/65.

A Lei n. 9.299/96 alterou algumas regras do Código Penal Militar e do Código de


Processo Penal Militar. Alguns crimes que eram da Justiça Militar passaram para a
competência da Justiça Comum:

1. crimes praticados por militar fora do serviço com arma da corporação;

2. crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, mesmo em situação de
serviço, também passaram a ser da competência da Justiça Comum, julgados pelo
Tribunal do Júri.

Atenção para as seguintes súmulas do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula n. 6 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual


processar e julgar delito decorrente de acidentes de trânsito envolvendo viatura militar,
salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade”.
Súmula n. 75 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar o policial militar acusado de facilitação de fuga de preso em
estabelecimento penitenciário”.

Súmula n. 78 do Superior Tribunal de Justiça: “O policial militar será julgado pela Justiça
Militar Estadual de seu Estado, ainda que o crime seja praticado em outro Estado”.

Súmula n. 172 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum processar e


julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”.

4.3. Justiça Comum Federal

O artigo 109 da Constituição Federal estabelece os crimes de competência da Justiça


Federal:

 Crimes políticos

A lei não define o que é crime político. Os doutrinadores estabelecem dois critérios:

1. subjetivo: leva em conta a finalidade, que deve ser política;

2. objetivo: leva em conta o bem jurídico violado (crimes que violem o Regime Democrático
ou praticado contra as Instituições Políticas); crimes enquadrados na Lei de Segurança
Nacional.

b) Crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas


autarquias ou empresas públicas

Crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o


exercício da função, são julgados pela Justiça Federal, conforme a Súmula n. 147 do
Superior Tribunal de Justiça. Também são de competência da Justiça Federal os crimes
praticados por servidor público federal no exercício de suas funções.

Conforme a Súmula n. 38 do Superior Tribunal de Justiça, as contravenções praticadas


em detrimento de bens ou interesses da União serão julgadas pela Justiça Comum
Estadual.

São de competência da Justiça Comum Estadual os crimes praticados contra sociedade


de economia mista (Súmula n. 42 do Superior Tribunal de Justiça).

São de competência da Justiça Comum Estadual os crimes praticados por indígena ou


contra ele (Súmula n. 140 do Superior Tribunal de Justiça).

c) Crimes a Distância previstos em tratado ou convenção internacional

A exemplo dos crimes de tráfico internacional de entorpecentes, tráfico internacional de


crianças e tráfico internacional de mulheres.

d) Crimes praticados a bordo de navio ou aeronave, ressalvada a competência da Justiça


Militar
As embarcações de pequeno porte são de competência da Justiça Comum Estadual.

 Crimes contra a organização do trabalho

Trata-se de crimes contra a organização coletiva do trabalho.

 Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro

Fatos definidos no Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80).

4.4. Justiça Comum Estadual

Tem competência residual. Sua competência é encontrada por exclusão. Assim, se o


crime não for militar, eleitoral e não estiver inserido na competência da Justiça Comum
Federal, será julgado pela Justiça Comum Estadual.

Jurisdição e Competência
1. COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

O foro por prerrogativa de função não é privilégio pessoal, mas sim garantia inerente a cargo
ou função. A razão do legislador, ao atribuir o julgamento a um órgão colegiado, é evitar que
um juiz monocrático pudesse ceder a eventuais pressões, comprometendo sua imparcialidade.
Assim, trata-se de uma garantia à sociedade, pois o que se busca é a imparcialidade do
julgador.

A Lei n. 8.038/90 dispõe sobre o procedimento para os processos perante o Superior Tribunal
de Justiça e Supremo Tribunal Federal.

Antes de receber a denúncia ou a queixa, o Tribunal deve notificar a autoridade para


apresentar, em 15 dias, a defesa preliminar. É oportunidade de defesa para a autoridade. O
Tribunal pode, além de receber ou rejeitar a inicial, julgar improcedente a acusação. Não é
possível interposição de recurso visando ao reexame de prova.

Fases do procedimento no Tribunal: 1) oferecimento da denúncia ou queixa; 2) defesa


preliminar; 3) recebimento da denúncia ou queixa, com fundamentação; 4) citação; 5)
interrogatório; 6) depoimento; 7) audiência de instrução; 8) diligências; 9) alegações finais; 10)
sentença.

Se a infração for cometida:

1. Por quem tem prerrogativa de função (exemplo: prefeito) e uma pessoa sem prerrogativa,
ambos serão julgados pelo Tribunal de Justiça, pela continência.

2. Por duas pessoas que têm prerrogativa de função, por exemplo, prefeito (Tribunal de Justiça) e
senador (Supremo Tribunal Federal). São competências fixadas pela Constituição Federal/88,
não podendo ser reunidas para o julgamento em conjunto, pois a continência prevista no
Código de Processo Penal é infraconstitucional; ocorrerá, portanto, a disjunção.

A competência para oferecer a denúncia é do Procurador-Geral da República (PGR), quando


for competente o Supremo Tribunal Federal, e do Procurador-Geral da Justiça (PGJ), quando
for competente o Tribunal de Justiça.
Se um deputado estadual comete crime doloso contra a vida, a quem competirá o julgamento?

Há duas posições.

Para uma primeira corrente, o deputado estadual deverá ser julgado pelo júri popular, ante a
falta de previsão expressa de foro especial na Lei Maior, a qual manda aplicar-lhe apenas suas
regras “sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas” (artigo 27, § 1.º). É certo que nada
impede venham as constituições estaduais a adotar o foro especial, mas, não o tendo feito a
Carta Federal, esta competência não poderia prevalecer sobre a constitucional do Júri (artigo
5.º, inciso XXXVIII, alínea d).

O entendimento que nos parece mais correto, no entanto, é o de que, tendo a Carta Magna
estabelecido foro especial para os membros do Poder Legislativo da União, os Estados, ao
repetir em suas constituições idêntica garantia para seus parlamentares, estão refletindo em
seus textos o dispositivo da Lei Maior. Não há qualquer tipo de inovação porque o foro por
prerrogativa de função para deputados estaduais está em perfeita sincronia com a Constituição
Federal. Esse paralelismo significa que o privilégio estadual consta também da Carta Federal
e, por esta razão, sobrepõe-se à competência do Júri.

Importante:

A prerrogativa de função vigora enquanto durar o exercício do cargo ou função,


independentemente do momento em que foi praticado o delito (a Súmula 394 do Supremo
Tribunal Federal, que dispunha em sentido contrário, foi cancelada em 25 de agosto de 1999).
Exemplo: uma pessoa pratica um crime, o processo se inicia perante juiz comum. O infrator,
então, é eleito deputado federal. O processo, já em andamento, será remetido para o Supremo
Tribunal Federal. Se o processo não alcança seu fim, e acaba o mandato, retorna para o juiz
comum. Outro exemplo: se um deputado federal, durante o exercício do mandato, comete um
crime, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Se o processo não alcança seu fim e o
mandato acaba, será remetido para o juiz comum.

Ainda que o crime seja praticado em outra unidade da Federação, a competência continua
sendo a do Tribunal que tem competência para julgá-lo.

1.1. Competência Para Julgar Crimes Comuns

O Supremo Tribunal Federal tem competência para julgar por crimes comuns (crimes e
contravenções) e por crimes eleitorais:

1. Próprios Ministros do Supremo Tribunal Federal;

2. Presidente e Vice-Presidente da República;

3. Ministros de Estado;

4. Ministros de Tribunais Superiores e Tribunal de Contas da União;

5. Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica;

6. Parlamentares federais;
7. Agentes diplomáticos;

8. Procurador-Geral da República.

O Advogado-Geral da União não está relacionado no artigo 102 da Constituição Federal/88,


mas a doutrina entende que seu cargo tem a mesma hierarquia dos Ministros de Estado,
portanto, também deve ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Hoje, Medida Provisória já
decidiu que tem foro especial.

O Superior Tribunal de Justiça tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo crimes eleitorais (neste caso, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar a
questão), cometidas por:

1. Governador;

2. Desembargadores dos Tribunais de Justiças dos Estados;

3. Membros do Tribunal Regional Federal, Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Regional


do Trabalho, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de Contas do Município e do
Ministério Público da União que oficiem perante Tribunais.

O Tribunal Regional Federal tem competência para julgar todas as infrações penais,
salvo nos crimes eleitorais, cometidas por:

1. Juízes federais da área de sua jurisdição;

2. Juízes do Trabalho;

3. Juízes militares;

4. Prefeito Municipal, nos crimes de competência da Justiça Federal;

5. Membros do Ministério Público da União.

Ao Tribunal Regional Eleitoral compete julgar os crimes eleitorais cometidos por:

1. Juízes federais e estaduais;

2. Membros do Ministério Público da União e dos Estados;

3. Prefeitos, nos crimes eleitorais.

O Tribunal de Justiça tem competência para julgar as infrações penais comuns


cometidas por:

1. Juízes de Direito;

2. Juízes da Justiça Militar estadual e juízes de Alçada;


3. Membros do Ministério Público estadual;

4. Prefeitos municipais.

Atenção:

Prefeito Municipal:

1. Tribunal de Justiça – crime comum e doloso contra a vida;

2. Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral;

3. Tribunal Regional Federal – crimes de competência da Justiça Federal.

Juiz de Direito e Membro do Ministério Público estadual:

1. Tribunal de Justiça – crime comum;

2. Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral.

Juiz federal:

1. Tribunal Regional Federal – crime comum;

2. Tribunal Regional Eleitoral – crime eleitoral.

A Constituição Estadual de São Paulo estabelece foro especial no Tribunal de Justiça


para julgar os crimes comuns cometidos por:

1. Vice-Governador;

2. Deputado estadual;

3. Secretário de Estado;

4. Procurador-Geral de Justiça;

5. Procurador-Geral do Estado;

6. Defensor Público Geral;

7. Prefeitos municipais;

8. Juízes dos Tribunais de Alçada e da Justiça Militar;

9. Juízes de Direito e os auditores da Justiça Militar;


10. Membros do Ministério Público;

11. Comandante-Geral da Polícia Militar;

12. Delegado-Geral de Polícia.

Todas essas autoridades, se cometerem crime federal, serão processadas no Tribunal


Regional Federal. É o entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Tribunal de Justiça Militar tem competência para julgar crimes militares – Constituição
Estadual de São Paulo:

1. Comandante-Geral da Polícia Militar;

2. Chefe da Casa Militar.

O Ministério Público do Distrito Federal atua perante a Justiça Distrital. Se um de seus


membros comete um crime, será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região;
isso porque é ramo do Ministério Público da União, apesar de atuar na Justiça Distrital.

1.2. Exceção da Verdade

Nos termos do artigo 85 do Código de Processo Penal, nos processos por crime contra a
honra, em que o querelante tiver foro especial no Supremo Tribunal Federal ou no Tribunal de
Apelação, a esses caberá o julgamento da exceção da verdade. Não cabe a oposição de
exceção da verdade:

1. Na calúnia:

1. se o fato imputado a alguém for crime de ação penal privada, e ele não for condenado;

2. se o fato é imputado ao Presidente da República ou a Chefe de Governo estrangeiro;

3. se, do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.

A exceção da verdade é questão prejudicial homogênea, pois é anterior ao mérito e pode ser
objeto de processo autônomo.

Deve ser oposta quando da defesa prévia; mas para alguns esse prazo não é fatal, pois é
questão de mérito, e o prazo fatal caracterizaria o cerceamento de defesa. Há posicionamentos
contrários.

Oposta a exceção, o querelante tem dois dias para contestá-la. Poderá arrolar no máximo oito
testemunhas. Se na queixa já tiver arrolado quatro testemunhas, poderá arrolar mais quatro na
contestação da exceção, até completar o número legal. Isso porque, embora o crime seja
punido com detenção, o rito é ordinário.

Conforme o artigo 85, do Código de Processo Penal, a exceção será julgada pelo Tribunal
competente. Se o Tribunal julga procedente a exceção, o mérito será julgado improcedente. Se
julga improcedente a exceção, o mérito será julgado procedente ou improcedente. Observação:
o Tribunal só faz o julgamento da exceção, as testemunhas são ouvidas em 1.ª instância.
Depois de julgar a exceção, o Tribunal devolve o processo para ser julgado, em 1.ª instância, o
mérito.

 FIXAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE

 Prevenção

Concorrendo dois juízes ou mais, igualmente competentes, fixa-se a competência pela


prevenção. Ocorre a prevenção quando um dos juízes anteceder aos outros na prática de
algum ato do processo ou medida referente a esse, ainda que anterior ao oferecimento da
denúncia ou queixa.

Geram prevenção:

1. Concessão de fiança;

2. Decretação de Prisão Preventiva;

3. Decretação de Busca e Apreensão;

4. Pedido de explicação em juízo nos crimes contra a honra.

 Distribuição

Se for constatado que não houve prevenção, a fixação do juízo competente se dará por
distribuição, que é o sorteio para a fixação do juiz para a causa.

2.3. Conexão e Continência

A conexão e a continência (artigo 69, inciso V, do Código de Processo Penal) são critérios de
modificação, de prorrogação da competência e não de fixação.

 Conexão

O artigo 76 do Código de Processo Penal estabelece quando a competência será


determinada pela conexão. A conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem
entrelaçadas por um vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos.
Nesse caso, as ações serão reunidas e julgadas em conjunto, simultaneus processus, a
fim de se evitar o inconveniente de decisões conflitantes na área penal, bem como
possibilitar ao juiz uma visão mais ampla do quadro probatório.

A conexão pode ser:

1. Intersubjetiva
1. por simultaneidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, sem
vínculo subjetivo, ao mesmo tempo (exemplo: um caminhão carregado de laranjas tomba, e
vários moradores da região apanham as laranjas);

2. por concurso: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, com vínculo
subjetivo, embora diverso o tempo e o lugar;

3. por reciprocidade: quando as infrações houverem sido praticadas por várias pessoas, umas
contra as outras.

1. Objetiva

1. teleológica: quando as infrações houverem sido praticadas para assegurar a execução de outra
(exemplo: mata-se o segurança para seqüestrar o empresário);

2. conseqüencial: quando as infrações houverem sido praticadas para garantir a ocultação de


outra (garantir que a existência da infração permaneça desconhecida), para garantir a
impunidade (garantir que a autoria da infração permaneça desconhecida), ou para assegurar a
vantagem (produto do crime).

1. Instrumental ou probatória

1. quando a prova de uma infração ou qualquer de suas circunstâncias elementares influir na


prova de outra infração (exemplo: prova de um crime de furto em relação à receptação).

b) Continência

O artigo 77 do Código de Processo Penal estabelece quando a competência será determinada


pela continência.

A continência pode ser:

1. Subjetiva: quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, configurando-
se concurso de agentes. Atenção! Na conexão intersubjetiva são duas ou mais infrações, na
continência subjetiva há apenas uma infração.

2. Objetiva

1. concurso formal (artigo 70, 1.ª parte, do Código Penal);

2. aberratio ictus – erro na execução com resultado duplo (artigo 73, parte final, do Código Penal);

3. aberratio criminis – resultado diverso do pretendido com resultado duplo (artigo 74, parte final,
do Código Penal).

O artigo 78 do Código de Processo Penal determina qual o foro deve prevalecer em caso de
conexão e continência:

I – Concurso entre jurisdições de categorias diversas (instâncias diferentes): prevalece a mais


graduada. Exemplo: Tribunal de Justiça e juiz singular – prevalece o Tribunal de Justiça. Se a
conexão for entre crime de competência da Justiça Estadual e da Justiça Federal, para o Prof.
Tourinho, são jurisdições de mesma categoria; para a jurisprudência, a Justiça Federal é
especial em relação à Justiça Estadual. A Súmula n. 122 do Superior Tribunal de Justiça
decidiu a questão, determinando que: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento
unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do
artigo 78, inciso II, ‘a’, do Código de Processo Penal”.

II – Concurso de jurisdições de mesma categoria:

1. prepondera o local da infração mais grave, isto é, à qual for cominada pena mais grave (a pena
de reclusão é mais grave que a de detenção que é mais grave que a prisão simples). Se a
pena máxima for igual, compara-se a pena mínima;

2. sendo iguais as penas (máxima e mínima), prevalece o local onde foi praticado o maior número
de crimes;

3. se nenhum desses casos fixar a competência, utiliza-se o critério da prevenção.

III – Competência do Júri e de outro órgão da jurisdição comum: prevalecerá a competência do


Júri. Observação: se o crime for eleitoral e doloso contra a vida, os processos serão julgados
separadamente, não haverá a reunião de processos, pois a competência de ambos é fixada na
Constituição Federal/88.

IV – Concurso entre Jurisdição Comum e Jurisdição Especial: prevalecerá a Especial.

V – Concurso entre Jurisdição Eleitoral e Jurisdição Comum, prevalecerá a Jurisdição Eleitoral.

Não serão reunidos os processos para julgamento em conjunto nos casos do artigo 79 do
Código de Processo Penal:

I – concurso entre jurisdição comum e militar – Súmula n. 90 do Superior Tribunal de Justiça –


“Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática de crime
militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele”.

II – concurso entre Justiça Comum e Justiça da Infância e Juventude.

§ 1.º Superveniência de doença mental a um dos co-réus (suspende-se o processo do


enfermo);

§ 2.º Co-réu revel que não possa ser julgado à revelia (infração inafiançável, não comparece no
Tribunal do Júri, citação por edital) e na cisão do julgamento durante a sessão plenária do Júri
(artigo 461 do Código de Processo Penal).

O artigo 80 do Código de Processo Penal determina os casos em que a separação dos


processos é facultativa, apesar da conexão e continência:

1. se as várias infrações forem praticadas em diferentes condições de tempo e lugar;

2. se excessivo o número de acusados;


3. se, por outro motivo relevante, o juiz julgar conveniente a separação (o juiz tem
discricionariedade para determinar isso).

2.4. Perpetuação da Competência (Perpetuatio Jurisdicionis)

A vis atractiva, efeito principal da conexão e continência, desloca para a competência de um


mesmo julgador os crimes conexos aos de sua competência. Se o juiz ou o Tribunal absolver
ou desclassificar o crime de sua competência, continuará competente para o julgamento das
demais infrações (artigo 81 do Código de Processo Penal). Exemplo: concurso de agentes –
juiz e escrivão cometem crime de furto. Os dois serão julgados pelo Tribunal de Justiça – vis
atractiva. Se o juiz for absolvido, o escrivão continua a ser julgado pelo Tribunal de Justiça.

Exceção: no Júri, se o juiz monocrático desclassificar, impronunciar ou absolver sumariamente


o acusado, de maneira que exclua a competência do Júri, remeterá o processo ao juiz
competente (artigo 81, parágrafo único, do Código de Processo Penal). O juiz aguarda o
trânsito em julgado e remete os autos ao juiz competente (que pode ser ele mesmo se a
comarca for pequena, devendo aguardar o trânsito em julgado).

Se os jurados desclassificam o crime, a competência para o julgamento da infração passa para


o juiz-presidente, que terá de proferir a decisão naquela mesma sessão. Caso haja crimes
conexos, a desclassificação também desloca para o juiz-presidente a competência para seu
julgamento, diante da clara redação do artigo 492, § 2.º, do Código de Processo Penal. É
também o entendimento do Supremo Tribunal Federal. Se, no entanto, o Júri absolver o
acusado da imputação por crime doloso contra a vida, continuará competente para a
apreciação dos conexos, pois só pode proferir absolvição quem se julga competente para
analisar o fato.

2.5. Avocação de Processos (Artigo 82 do Código de Processo Penal)

Se, mesmo ocorrendo conexão ou continência, foram instaurados vários processos, a


autoridade prevalente deve avocar para si os processos que corram perante outros juízes, se
ainda não foram julgados em sentença definitiva. Se já houver sentença definitiva, isto é,
julgamento de mérito, a unificação dos processos se dará posteriormente, na execução, para
efeitos de soma ou unificação das penas.

Questões e Processos Incidentes

 INTRODUÇÃO

As questões e os processos incidentes são soluções dadas pela lei processual para as
variadas eventualidades que podem ocorrer no processo e que devem ser resolvidas pelo juiz
antes da solução da causa principal.
Incidente: aquilo que sobrevém, que é acessório.

Questão: controvérsia, discussão.

2. QUESTÕES PREJUDICIAIS

Questões prejudiciais são todas as questões de fato e de direito que, por necessidade lógica,
devem ser analisadas antes da questão principal e podem, em tese, ser objeto de processo
autônomo. A matéria é tratada nos artigos 92 a 94 do Código de Processo Penal.
Etimologicamente “prejudicial” significa pre-iudicate, isto é, julgar primeiro. A questão deve ser
julgada em primeiro lugar, antes da questão principal. Exemplo: um acusado de bigamia (artigo
235 do Código Penal) alega que seu primeiro casamento é nulo. A validade ou não do
casamento é questão prejudicial que deve ser decidida antes do mérito, pois influi diretamente
na decisão.

A questão prejudicial condiciona a questão prejudicada; a prejudicada está irrecusavelmente


subordinada à prejudicial.

Características da questão prejudicial:

1. Anterioridade lógica: a questão prejudicial é sempre anterior à prejudicada. Não porque


surgiu primeiro na discussão processual, mas por ser logicamente anterior. Primeiro
decide-se ou aguarda-se a decisão da questão incidente e, posteriormente, julga-se o
mérito.

2. Necessariedade: a questão prejudicial sempre subordina o exame da questão principal.


O mérito não pode ser decidido antes de enfrentar a questão prejudicial.

3. Autonomia: a questão prejudicial pode ser objeto de processo autônomo.

4. Competência na apreciação: é julgada pelo próprio juízo penal, mas pode,


excepcionalmente, ser julgada pelo juízo cível.

Atenção: questão prejudicial não se confunde com questão preliminar. A questão preliminar
versa sobre pressupostos processuais ou condições da ação. Ambas são espécies do gênero
‘questões prévias’. Apresentam características em comum: anterioridade lógica e
necessariedade. Mas apresentam diferenças importantes: a questão prejudicial refere-se a
direito material e a questão preliminar refere-se a direito processual. Também se diferem no
tocante à autonomia. As questões prejudiciais podem ser objeto de processo autônomo, as
questões preliminares não. Exemplo: falta de citação é uma questão preliminar – não se ajuíza
processo autônomo para discutir.

Classificação das questões prejudiciais:

a) Quanto à influência:

1. Total: condiciona a existência do crime. Refere-se a uma elementar da infração penal.

2. Parcial: refere-se a uma circunstância do tipo penal.

b) Quanto ao mérito ou natureza:

1. Homogênea: pertence ao mesmo ramo do direito da questão principal. Exemplo:


exceção da verdade na calúnia.

2. Heterogênea: pertence a ramo do direito distinto da questão principal. Exemplo:


anulação de casamento e crime de bigamia (a anulação do casamento pertence ao
direito civil).

c) Quanto ao efeito:
1. Obrigatória: é a questão que, uma vez presente, obriga a suspensão do processo até o
julgamento da questão incidental. Sempre versa sobre questão de estado civil das
pessoas. Exemplo: anulação de casamento no cível e crime de bigamia.

2. Facultativa: é aquela que não obriga a suspensão do processo principal, mas há nela
controvérsia de difícil solução. Exemplo: acusado de crime contra o patrimônio alega ser
o legítimo possuidor. São características da prejudicial facultativa que não estão
presentes na obrigatória: existência de ação civil em andamento; inexistência de
limitação à prova, na lei civil, acerca da questão prejudicial.

d) Quanto ao juízo competente:

1. Questão prejudicial não-devolutiva: deve ser resolvida pelo juízo criminal. São sempre
questões prejudiciais homogêneas.

2. Questão prejudicial devolutiva absoluta: trata-se das questões prejudiciais heterogêneas


que deverão ser resolvidas obrigatoriamente pelo juízo cível. Requisitos: versar a
questão sobre o estado civil das pessoas (casado, solteiro, vivo, morto, parente ou não);
constituir elementar ou circunstância do fato imputado; que a controvérsia seja séria,
fundada e relevante. Preenchidos esses requisitos, o juiz criminal obrigatoriamente deve
remeter os autos para o juiz cível e suspender o processo até o trânsito em julgado da
decisão no cível. O Ministério Público poderá intentar a ação cível, se as partes não o
tiverem feito, ou dar-lhes prosseguimento se estas desistirem do processo.

3. Questão prejudicial devolutiva relativa: trata-se das questões prejudiciais heterogêneas


que poderão ou não ser resolvidas pelo juízo cível a critério do juízo criminal.
Requisitos: que seja da competência do juízo cível; que não verse sobre o estado civil
das pessoas; que seja de difícil solução; que não sofra restrições da lei civil quanto à
sua prova (no processo penal vigora o princípio da verdade real); que já exista ação civil
em andamento. A suspensão, nesse caso, é por prazo determinado, perfeitamente
prorrogável, desde que a parte não tenha dado causa ao atraso; findo o prazo, o juiz
retoma o processo e decide todas as questões relativas, inclusive a prejudicial.
Tratando-se de crime de ação pública, o Ministério Público poderá intervir na ação cível
para promover-lhe o rápido andamento (nesse caso, atua como fiscal da lei).

1. Durante a suspensão do processo fica suspensa a prescrição (artigo 116 do Código Penal).

2. Apesar da suspensão do processo, o juiz criminal poderá inquirir testemunhas ou determinar


produção de provas que considere urgente.

1. O despacho que determina a suspensão do processo por questão prejudicial comporta recurso
em sentido estrito (artigo 581, inciso XVI, do Código de Processo Penal). Da decisão que nega
a suspensão do processo, não cabe recurso. Neste caso, a solução será levantar a questão em
preliminar de apelação. Se a questão for devolutiva absoluta, o tribunal anula a sentença e
ordena a remessa do julgamento da questão prejudicial ao cível. Se for devolutiva relativa, o
tribunal não pode anular a sentença, mas absolve o réu.

2. Do despacho que indeferir pedido da parte pleiteando a suspensão do feito, cabe correição
parcial, alegando-se tumulto na tramitação do processo.

3. A decisão do juízo cível vincula o juízo criminal.

3. EXCEÇÕES
Exceção em sentido amplo compreende o direito público subjetivo do acusado em se defender.
Em sentido estrito, a exceção pode ser conceituada como o meio pelo qual o acusado busca a
extinção do processo sem o conhecimento do mérito, ou ainda um atraso no seu andamento.

A exceção pode ser:

1. Peremptória: visa extinguir o processo (coisa julgada e litispendência);

2. Dilatória: visa retardar o curso do processo (suspeição, incompetência e ilegitimidade de parte).

3.1. Exceção de Suspeição

Destina-se a rejeitar o juiz, do qual a parte argüente alegue falta de imparcialidade ou quando
existam outros motivos relevantes que ensejam suspeita de sua isenção em razão de
interesses ou sentimentos pessoais.

Se o juiz da causa se enquadrar em uma das situações de suspeição, previstas no artigo 254
do Código de Processo Penal, e não se declarar suspeito espontaneamente, a parte pode
argüir a exceção de suspeição.

3.1.1. Procedimento

A exceção de suspeição deve preceder as demais, salvo quando fundada em motivo


superveniente (artigo 96 do Código de Processo Penal), isto porque as demais exceções
pressupõem um juiz imparcial.

Se o juiz reconhecer a suspeição de ofício, ou seja, se o juiz se der por suspeito


espontaneamente, ele fundamenta sua decisão e remete o processo ao seu substituto legal.

Se o magistrado não se der por suspeito, qualquer das partes poderá fazê-lo em petição
assinada pela própria parte ou por procurador com poderes especiais. A petição deve ser
fundamentada e acompanhada de prova documental e rol de testemunhas (artigo 98). Tem
legitimidade para argüir a exceção de suspeição: o autor, quando do oferecimento da denúncia
ou a queixa, e o réu (ou seu procurador com poderes especiais), no momento da defesa. Como
o defensor dativo não tem procuração, para que ele possa argüir a exceção, o réu também
deve assinar a petição. Se a suspeição for superveniente, a parte tem que se manifestar, nos
autos, no primeiro momento em que puder. Se a parte não argüir no momento oportuno,
equivalerá a reconhecer a capacidade moral do juiz.

O assistente de acusação tem legitimidade para argüir a suspeição do juiz?

O artigo 271 do Código de Processo Penal relaciona as funções do assistente e nada fala
sobre essa possibilidade. Para alguns autores, o rol é taxativo, não admitindo interpretação
extensiva. Para Tourinho, o assistente tem interesse processual na imparcialidade do juiz,
devendo ser reconhecida a ele essa possibilidade.

Depois de argüida a suspeição, os autos são encaminhados ao juiz, que pode reconhecê-la ou
não.

Se o juiz reconhece, remete os autos para seu substituto legal. Dessa decisão não cabe
recurso.
Se o juiz não reconhece, determina a autuação da exceção em apartado. O juiz excepto terá
três dias para resposta escrita, juntando documentos e arrolando testemunhas, se necessário.
Posteriormente, remeterá os autos ao Tribunal de Justiça em 24 horas (em São Paulo é
julgada pela Câmara Especial).

Ao chegar no tribunal, a exceção será distribuída a um dos componentes da Câmara Especial


(composta pelos quatro vice-presidentes e pelo decano), o qual atuará como relator. Este
poderá rejeitar liminarmente a exceção ou decidir pela relevância da argüição, determinando o
processamento da exceção. Neste caso, o Tribunal citará o excepto e o excipiente, ouvirá as
testemunhas arroladas e julgará independente de novas alegações.

Se o Tribunal julgar procedente a exceção, remeterá os autos ao substituto legal, determinará a


anulação dos atos já praticados e, se entender que houve erro inescusável (indesculpável) do
juiz excepto, poderá condená-lo nas custas da exceção. Observação: no Estado de São Paulo,
a Lei Estadual n. 9.452/85 isenta o pagamento de custas no processo penal.

Se o Tribunal de Justiça julgar improcedente, determinará a continuidade normal do processo.


O Tribunal poderá condenar o excipiente ao pagamento de multa, se restar evidenciado que
este agiu de má-fé visando tumultuar o processo.

Contra quem a exceção de suspeição pode ser argüida?

A exceção pode ser argüida também contra o membro do Ministério Público e os sujeitos
processuais secundários (perito, intérprete, serventuário da Justiça e jurados).

Súmula n. 234, Superior Tribunal de Justiça: “A participação de membro do Ministério Público


na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.”

Se o Promotor foi testemunha, não pode participar da ação penal.

3.1.2. Exceção de suspeição de jurado

Instalada a sessão de julgamento com 15 jurados no mínimo, 7 formarão o Conselho de


Sentença.

No Júri as partes podem recusar os jurados. As partes podem fazer três recusas peremptórias,
isto é, sem justificação. Havendo justificativa, poderão recusar tantos quanto necessários. A
suspeição do jurado deve ser argüida oralmente imediatamente após a leitura que o juiz faz da
correspondente cédula sorteada (artigo 459, § 2.º, do Código de Processo Penal). Se o juiz não
aceitar a recusa, o jurado tomará parte no Conselho de Sentença. Tudo constará da ata.

3.1.3. Suspeição de autoridade policial

Conforme determina o artigo 107 do Código de Processo Penal, as partes não podem argüir a
suspeição de autoridade policial. Isso porque o inquérito policial é um procedimento inquisitivo.
O próprio delegado, entretanto, poderá declarar-se suspeito.

3.1.4. Observações

Enquanto se processa a exceção, o processo principalflui normalmente. Assim, em regra a


exceção não suspende o andamento do processo principal. Se, diante da exceção de
suspeição, a parte contrária considerar relevante a argüição, o processo será suspenso (artigo
102). Exemplo: a defesa concorda que a argüição de exceção de suspeição feita pelo
Ministério Público é plausível, tem fundamento.

Conforme dispõe o artigo 256 do Código de Processo Penal: “A suspeição não poderá ser
declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito ser motivo para criá-
la”.

No caso de incompatibilidades (artigo 253) e impedimentos (artigo 252), aplica-se o mesmo


procedimento da suspeição.

3.2. Exceção de Incompetência do Juízo

Fundamenta-se na ausência de capacidade funcional do juiz.

O artigo 109 do Código de Processo Penal determina que, se em qualquer fase do processo o
juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação
da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior.

A incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. Quanto à incompetência
relativa, entendemos que pode ser reconhecida de ofício, desde que antes de operada a
preclusão. Observação: A Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que “a
incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.

A incompetência absoluta tem um regime jurídico mais severo por versar sobre questões de
interesse público. Exemplo: o lugar da consumação do delito facilita busca de provas. Não é só
interesse da parte. Há também interesse público.

A exceção pode ser oposta pelo réu, querelado e Ministério Público, quando este atue como
fiscal da lei. Todavia, segundo a doutrina, não pode ser argüida pelo autor da ação.

A argüição deve ser feita no prazo de três dias da defesa prévia, tratando-se de incompetência
relativa (territorial), sob pena de prorrogação. Se a incompetência for absoluta, poderá ser feita
a qualquer tempo.

Procedimento da exceção de incompetência:

1. A exceção é autuada em apartado.

2. Não há suspensão do processo (artigo 111 do Código de Processo Penal).

3. Ouve-se o representante do Ministério Público.

4. O juiz decide a exceção: procedente e remete os autos ao juiz competente. Dessa decisão
cabe recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso III, do Código de Processo Penal). O juiz que
receber o processo não é obrigado a concordar com essa declinação, podendo suscitar o
conflito de jurisdição ou competência; ou improcedente. Dessa decisão não caberá recurso.
Admite-se habeas corpus ou argüição em preliminar de futura e eventual apelação.
Conforme o artigo 567 do Código de Processo Penal, a incompetência do Juízo anula somente
os atos decisórios. Dessa forma somente os atos instrutórios serão ratificados pelo juiz
competente, os atos decisórios serão anulados.

Atenção! A Jurisprudência entende que o recebimento da denúncia ou da queixa não tem


carga decisória; pode, portanto, ser ratificado. Segundo o princípio da conseqüencialidade, se o
recebimento da denúncia ou da queixa fosse nulo, todo o processo estaria perdido. A
Jurisprudência, por isso, admite tranqüilamente a ratificação do recebimento da denúncia ou
queixa.

O recebimento da denúncia ou queixa interrompe a prescrição.

Assim, pergunta-se: se a denúncia ou queixa foi recebida pelo juiz incompetente e depois
ratificada pelo juiz competente, em que momento estaria interrompida a prescrição?

É a ratificação do juiz competente que interrompe a prescrição. Essa regra aplica-se para
qualquer incompetência, inclusive ratione materiae.

Se a regra de competência violada estiver disposta na Constituição Federal de 1988, os atos


praticados perante o juiz incompetente são considerados inexistentes. Não há possibilidade de
serem ratificados.

3.3. Exceção de Ilegitimidade de Parte

São partes ilegítimas em Processo Penal:

1. Ministério Público, se oferecer denúncia em crime de ação penal privada.

2. Querelante, se oferecer queixa em crime de ação penal pública.

3. Querelante incapaz (a vítima deve ser maior de 18 anos).

1. Alguém que se diz representante do ofendido em crime de ação penal privada, mas não é.

A ilegitimidade pode ser ad causam ou ad processum. A ilegitimidade ad causam refere-


se a uma condição da ação; ocorre se o Ministério Público oferece queixa e o querelante
oferece denúncia. A ilegitimidade ad processum ocorre se o querelante é incapaz ou o
representante do ofendido não é o representante legal. Tratando-se de ilegitimidade de
causa ou de processo, o instrumento para argüir é exceção de ilegitimidade.

Processamento:

1. Reconhecimento de ofício pelo juiz (se for no juízo de admissibilidade, haverá a rejeição da
peça inicial – desta decisão cabe recurso em sentido estrito).

2. Se o juiz não reconhecer de ofício, o réu ou o Ministério Público poderá argüir.

3. A exceção será autuada em apartado.

4. Não há suspensão do processo (artigo 111 do Código de Processo Penal).


5. O Ministério Público é ouvido.

6. O juiz decide a exceção: procedente (o reconhecimento da ilegitimidade ad causam acarreta a


nulidade absoluta do processo; o reconhecimento da ilegitimidade ad processum acarreta a
nulidade relativa do processo, admitindo a convalidação, nos termos do artigo 568 do Código
de Processo Penal); ou improcedente.

7. Da decisão de procedência cabe recurso em sentido estrito; da decisão de improcedência não


cabe recurso, mas admite-se habeas corpus ou alegação em preliminar de futura e eventual
apelação.

3.4. Exceção de Litispendência

A exceção de litispendência baseia-se na proibição de uma mesma pessoa ser processada


mais de uma vez pelos mesmos fatos (non bis in idem).

Será argüida exceção de litispendência quando existirem duas ações penais em curso,
processando o mesmo réu pelo mesmo fato. Se um mesmo fato é apurado em dois inquéritos
penais não há litispendência.

Os elementos que caracterizam uma demanda são:

1. Mesmas partes;

2. Mesma causa de pedir (fatos narrados na denúncia);

3. Mesmo pedido (condenação).

Instaurado inquérito policial com ação já em curso, sem existir requisição do juiz ou do
Ministério Público para realização de diligências complementares, caracteriza-se
constrangimento ilegal sanável por habeas corpus.

Havendo duas ações iguais, uma delas será excluída. Exclui-se a segunda.

O Supremo Tribunal Federal entende que, se alguém é absolvido como autor, poderá ser
novamente denunciado como partícipe. Desde que não sejam alegados os mesmos fatos pelos
quais já foi acusado; a descrição fática deve ser outra.

Há quem entenda que, se alguém foi absolvido, não pode ser pelo mesmo crime novamente
processado. Leva-se em conta o fato concreto, não importa a conduta descrita; se foi absolvido
pelo fato, não pode novamente ser processado.

Para fins de concurso público, adotar a posição do Supremo Tribunal Federal.

Processamento:

1. O rito é o mesmo da exceção de incompetência.

2. Autua-se em autos apartados.


3. Não há suspensão do processo (artigo 111).

4. Pode ser argüida a qualquer tempo.

5. O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito); improcedente (admite-
se habeas corpus).

3.5. Exceção de Coisa Julgada

unda-se na proibição de uma mesma pessoa ser processada mais de uma vez pelos mesmos
fatos (non bis in idem).

A coisa julgada é uma qualidade dos efeitos da decisão final, marcada pela imutabilidade e
irrecorribilidade. Tratando-se de sentença condenatória, a imutabilidade é relativa, pois pode
haver revisão criminal, indulto, anistia, unificação das penas. A sentença absolutória, todavia, é
imutável, pois não há revisão criminal pro societate.

Assim, se um sujeito foi julgado por um fato, resultando uma decisão irrecorrível, não poderá
ser julgado novamente pelo mesmo fato. Havendo identidade de demanda (ver item anterior),
não poderá haver um segundo julgamento.

Pergunta-se: no caso de concurso formal, no qual ocorreram dois resultados, sendo o réu
julgado por apenas um resultado, ocorrendo o trânsito em julgado, poderá ser acusado em
outro processo pela prática do segundo resultado?

Resposta: depende. Se a decisão do primeiro processo for de condenação, sim, caso em que
as penas serão unificadas no juízo das execuções. Se a decisão do primeiro processo for de
absolvição, o sujeito não poderá ser processado pelo outro resultado, sob pena de serem
proferidas decisões contraditórias.

Processamento:

1. Reconhecimento de ofício pelo juiz (havendo rejeição da inicial caberá recurso em sentido
estrito).

2. Se o juiz não reconhecer de ofício, o réu ou o Ministério Público poderá argüir;

3. Autua-se em autos apartados.

4. Não há suspensão do processo.

5. Pode ser argüida a qualquer tempo.

6. Ouve-se o réu (se foi o Ministério Público que argüiu) ou o Ministério Público (se foi o réu que
argüiu).

7. O juiz decide a exceção: procedente (cabe recurso em sentido estrito); improcedente (admite-
se habeas corpus).
4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO
O assunto é tratado com este título no Código de Processo Penal, mas o correto seria
dizer conflito de competência, pois todo juiz tem jurisdição.

O objetivo é preservar o juiz natural. Há dois tipos de conflito de jurisdição:

1. Conflito positivo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou Tribunais se


consideram ao mesmo tempo competentes para o exame de determinada causa.

2. Conflito negativo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou Tribunais se


consideram ao mesmo tempo incompetentes para o exame de determinada causa.

Também ocorre conflito de jurisdição quando houver divergência quanto à unidade de


processo, seja sua junção ou sua separação.

O conflito de competência pode ser suscitado:

1. pelas partes, por requerimento – artigo 115 do Código de Processo Penal;

2. pelo juiz, por representação.

O conflito deve ser suscitado de forma escrita e fundamentado, com cópias da alegação,
conforme dispõe o artigo 116 do Código de Processo Penal. Nos termos do § 1.º do
mencionado artigo, se o conflito for negativo, os juízes e tribunais poderão suscitá-lo
nos próprios autos do processo. Nesse caso, o relator recebe o processo e determina
que os Juízos envolvidos prestem informações. Com as informações, colhe o parecer do
Ministério Público em segunda instância (Procurador Geral). O conflito então é julgado.

Para o conflito positivo, o procedimento tem forma própria, por meio de instrumento que
é remetido ao Tribunal. Como o processo continua tramitando, a suspensão ou não dos
atos processuais depende do relator do Tribunal. Saliente-se que no conflito negativo,
os próprios autos nos quais se suscita o conflito são encaminhados ao Tribunal.

Competência para julgar os conflitos:

1. Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito envolvendo Tribunais Superiores. Se,
por exemplo, tratar-se de conflito entre Tribunal Superior e um Tribunal ou entre Tribunal
Superior e um juiz, cabe também ao Supremo Tribunal Federal dirimir. Observação: se
envolver o próprio Supremo Tribunal Federal e outro Tribunal, não há conflito; o
Supremo Tribunal Federal dá a palavra final.

2. Cabe ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito envolvendo Tribunal Estadual ou


Tribunal Regional Federal e um Juízo a ele não vinculado. Exemplo: Tribunal de Justiça
de São Paulo X juiz do Rio de Janeiro.

3. Cabe ao Tribunal Regional Federal dirimir conflitos entre juízes federais da mesma
região. Se for região diferente, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça. Cabe também ao
Tribunal Regional Federal julgar conflito entre juiz federal e juiz estadual com
competência federal (exemplo: artigo 27 da Lei n. 6.368/76) – Súmula n. 3 do Superior
Tribunal de Justiça .
4. Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral dirimir conflito envolvendo Juízos eleitorais do
mesmo Estado. De Estados diferentes, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral.

5. Cabe ao Tribunal de Justiça dirimir conflitos entre juízos estaduais do mesmo Estado e
Tribunal de Alçada (no âmbito penal só cabe ao Tribunal de Alçada Criminal), ou Tribunal
e juiz.

6. Entre Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada Criminal, não há conflito. Conforme


dispõe a Súmula n. 22 do Superior Tribunal de Justiça (“não há conflito de competência
entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo Estado-membro”), a
competência é do Tribunal de Justiça.

7. Cabe ao Tribunal de Alçada Criminal resolver conflitos entre Juízos de primeiro grau
quando for sua a competência recursal.

Observação: “reclamação” é a forma pela qual o Supremo Tribunal Federal firma a sua
própria competência (artigo 102, inciso I, alínea “l”, da Constituição Federal). Não há
conflito de competência entre o Supremo Tribunal Federal e qualquer outro tribunal ou
juízo, pois compete ao próprio Supremo decidir sua competência.

4.1. Conflito de atribuições

Regras:

1. Conflito entre dois Promotores de Justiça do mesmo Estado: é decidido pelo


Procurador-Geral de Justiça.

2. Conflito entre dois Procuradores da República: é decidido pelo Procurador-Geral da


República.

3. Conflito entre Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal: é decidido pelo
Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, inciso I, alínea “g”, da Constituição Federal).

Observação: Quando juízes encampam as manifestações ministeriais, declarando-se


incompetentes, há conflito de atribuições (entre promotores) e conflito de competência
(entre juízes). Nesse caso, cumpre suscitar conflito de competência.

5. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

“Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal”
(artigo 149 do Código de Processo Penal).

O incidente de insanidade mental é instaurado quando houver dúvida sobre a saúde


mental do acusado. Pode ser instaurado no inquérito policial ou na ação penal, mas
somente é instaurado por ordem judicial.

A perícia psiquiátrica realizada no inquérito policial só pode ser instaurada pelo juiz. Se
o delegado percebe a insanidade, representa à autoridade judiciária o incidente de
insanidade mental, conforme artigo 149, § 1.º, do Código de Processo Penal.
O incidente pode ser instaurado de ofício ou pode decorrer do requerimento das
seguintes pessoas:

1. membro do Ministério Público;

2. defensor;

3. curador;

4. cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

5. por representação da autoridade policial (durante o inquérito policial)

Pergunta: No interrogatório o juiz percebe a insanidade mental do acusado. O defensor


alega que seu cliente foi interditado em processo cível; ainda assim deve-se realizar o
incidente de insanidade mental?

Resposta: Sim. O incidente é instaurado quando há dúvida sobre a saúde mental e para
verificar se na época dos fatos era o indivíduo imputável ou inimputável, conforme
dispõe o artigo 26 do Código Penal. Não basta a doença mental, é preciso saber se em
virtude dela, ao tempo da ação ou omissão, o agente era incapaz de entender o caráter
ilícito da infração. A interdição no cível é irrelevante para o processo penal. A perícia
penal visa verificar a imputabilidade do acusado.

Procedimento do incidente de insanidade mental:

O incidente é autuado em apartado (artigo 153 do Código de Processo Penal). O juiz


expede portaria de instauração e nomeia curador (se o juiz não nomear curador haverá
nulidade absoluta). Se já houver processo em andamento, esse ficará suspenso até
julgamento do incidente, mas o juiz pode determinar a produção de provas urgentes (§
2.º do artigo 149). Determina o juiz que as partes elaborem quesitos. Com os quesitos, é
realizada a perícia psiquiátrica. O prazo para realização do exame é de 45 dias,
prorrogável por igual período a pedido dos peritos, conforme dispõe o artigo 150, § 1.º,
do Código de Processo Penal. As partes examinam o laudo. Se estiver regular, o juiz
homologará. A homologação do laudo não significa concordância. A homologação diz
respeito somente quanto aos aspectos formais. O juiz não está vinculado ao laudo, em
razão do princípio do livre convencimento do juiz.

O laudo pode concluir pela:

1. imputabilidade ao tempo da infração;

2. semi-imputabilidade ao tempo da infração (artigo 151 do Código de Processo Penal);

3. inimputabilidade ao tempo da infração (artigo 151 do Código de Processo Penal);

4. doença mental superveniente (artigo 152 do Código de Processo Penal).

Se o laudo decidir pela imputabilidade, prossegue o processo que estava suspenso,


dispensando-se o curador que foi nomeado.
Se concluir pela semi-imputabilidade ou inimputabilidade, o processo segue com o
curador nos autos.

Concluindo pela doença mental superveniente, o processo continuará suspenso até que
o acusado se recupere. A prescrição continuará correndo.

6. RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS

Durante o inquérito policial, a autoridade policial, ao ensejo das investigações, pode


determinar a apreensão dos instrumenta sceleris e dos objetos que tiverem relação com
o fato criminoso (artigo 6.º, inciso II, do Código de Processo Penal).

Nos termos do artigo 240, § 1.º, alíneas b, c, d, e, f, e h, do Código de Processo Penal, as


coisas passíveis de apreensão são as seguintes:

1. instrumento do crime;

2. objeto de valor probatório;

3. produto direto ou imediato do crime (exemplo: coisa furtada, coisa roubada).

Não são coisas passíveis de apreensão:

1. produto indireto do crime; não é objeto de apreensão mas sim de seqüestro (exemplo: o
ouro roubado é derretido e transformado numa corrente – a corrente é produto indireto) ;

2. bem ou valor dado ao criminoso como pagamento ou recompensa pela prática do crime.

Em princípio, todos os objetos apreendidos podem ser restituídos.

Coisas não passíveis de restituição:

1. coisa apreendida enquanto interessar ao processo (artigo 118);

2. objeto de valor probatório enquanto interessar ao processo;

3. instrumento do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua fato
ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II, alínea “a”,
do Código Penal);

4. produto direto do crime cujo fabrico, alienação, porte, uso ou detenção constitua fato
ilícito, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé (artigo 91, inciso II, alínea “b”,
do Código Penal).

Observações quanto aos últimos dois tópicos:

1) Após a condenação transitada em julgado, são automaticamente perdidos em favor da


União (trata-se de efeito genérico da decisão), ressalvado o direito de terceiro de boa-fé
e do lesado. No caso de sentença absolutória, no entanto, o perdimento para a União
deverá ser declarado pelo juiz, nos termos do artigo 779 do Código de Processo Penal.

2) Quando se restitui instrumento ou produto do crime, é indispensável que o lesado ou


o terceiro de boa-fé faça jus, em razão de sua função ou qualidade, ao porte, uso,
fabrico, alienação ou detenção da coisa que normalmente é tida como ilícita. Assim, por
exemplo, furto de substância entorpecente de um laboratório, que possui autorização
para seu fabrico e alienação.

Procedimento (artigo 120 do Código de Processo Penal):

a) Devolução pela autoridade policial:

1. na fase de inquérito policial, se o objeto for restituível e não houver interesse na sua
retenção.

2. não deve haver dúvida sobre o direito do reclamante (a devolução pela autoridade
policial é facultativa, pois se houver dúvida o juiz decidirá).

3. o objeto não pode ter sido apreendido em poder de terceiro de boa-fé.

4. o Ministério Público será ouvido.

b) Devolução pelo juiz:

1. a qualquer momento (na fase policial ou judicial).

2. quando o direito do reclamante for duvidoso (o requerimento é autuado em apartado, e o


reclamante tem 5 dias para provar seu direito – se a questão for complexa, o juiz
determinará que o reclamante ingresse com ação própria no juízo cível).

3. objeto apreendido em poder de terceiro de boa-fé (o juiz dará prazo de 5 dias para o
reclamante e igual prazo ao terceiro, e findo o juiz dará prazo comum de 2 dias para
arrazoar – se a questão for complexa, o juiz determinará que o reclamante ingresse com
ação própria no juízo cível).

4. O Ministério Público será ouvido.

Teoria Geral da Prova


1. DA PROVA

1.1. Conceito

Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz, pelas partes ou por terceiros (exemplo:
peritos), destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a veracidade de
uma afirmação. Sua finalidade é fornecer subsídios para a formação da convicção do julgador.

1.2. Objeto de Prova


São objetos de prova os fatos principais e secundários capazes de influenciar a
responsabilidade criminal do réu, a aplicação da pena e a medida de segurança. Alguns fatos,
entretanto, não podem ser objetos de prova. São eles:

 O direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece (iura novit curia); salvo se for
direito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal.

 Os fatos axiomáticos, evidentes.

 Os fatos notórios. O fato axiomático é diferente do fato notório, que é aquele de conhecimento
geral, que faz parte da história e refere-se a fatos políticos, sociais ou fenômenos da natureza.

 Os fatos irrelevantes, ou seja, aqueles incapazes de influenciar a responsabilidade criminal do


réu no caso concreto.

 Os fatos sobre os quais incide presunção absoluta (iuris et de iure). Exemplo: incapacidade do
menor de 18 anos de entender o caráter criminoso do fato; não se admite prova em contrário.

Atenção: no Processo Penal, os fatos incontroversos também são objeto de prova; não se
aplica a regra que incide no Processo Civil.

1.3. Classificação das Provas

 Prova Direta: refere-se diretamente ao tema probandu. Exemplo: testemunha presencial,


exame de corpo de delito.

 Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Exemplo: álibi apresentado pelo
acusado.

 Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Exemplo: interrogatório, testemunha.

 Prova Documental: a prova é produzida por meio de documentos.

 Prova Material: refere-se a objetos. Exemplo: instrumentos do crime, arma do crime.

 Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.

 Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a decisão de
pronúncia aceita-se a prova não plena, mas para a condenação é necessária a prova plena.

1.4. Meios de Prova

Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pode ser levada ao processo. Os
meios de prova podem ser:

 nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de pessoas e objetos,


interceptação telefônica, interrogatório. São todos os meios de prova previstos na legislação;
 inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos expressamente na
legislação. Exemplo: juntar fita de vídeo, contendo imagens de um programa de TV em que o
acusado aparece, a fim de mostrá-lasaos jurados.

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