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Alterações Neurofuncionais e Psicossociais em Usuários de

Maconha

Danilo Henrique Correa Lameu (discente Bacharelado em Fisioterapia – FVR)


João Gabriel Mancio Morais (discente Bacharelado em Fisioterapia – FVR)
João Vitor Mancio Morais (discente Bacharelado em Fisioterapia – FVR)
Marcelo Maciel Cubas Filho (discente Bacharelado em Fisioterapia – FVR)
José Martim Marques Simas (docente orientador - FVR)

Resumo
A cannabis sativa conhecida popularmente como “maconha” é uma das drogas mais
consumidas no mundo, ficando atrás apenas do álcool e do tabaco. Ela possui
substâncias que atuam diretamente no sistema nervoso central e que atualmente
vem ganhando espaço no contexto da saúde. O resumo expandido tem por objetivo
realizar uma revisão bibliográfica acerca das alterações cometidas no organismo
humano e demonstrar os efeitos fisiológicos, com maior enfoque para o sistema
nervoso, utilizando como base de estudo artigos científicos de bases indexadas de
saúde e livros. Pondera-se neste estudo efeitos a curto e longo prazo, tanto físicos
como psíquicos e a relação com alterações neurofuncionais, mentais e sociais que
atingem tanto os usuários como seus familiares.

Palavras chave: MACONHA, EFEITOS NEUROLÓGICOS, Delta-9-THC.

INTRODUÇÃO

A maconha também conhecida como Cannabis Sativa é uma planta mais


comum em regiões tropicais, é composta por centenas de substâncias químicas,
entre elas dezenas de substancias conhecidas como canabióides, e entre esses
canabióides destaca-se um em especial, a chamada Delta-9-THC principal
responsável pelos danos ao sistema nervoso central (RIBEIRO et al., 2005).

A utilização da maconha e seus efeitos medicinais são conhecidos há


milhares de anos e consumida principalmente pela população pobre por ser uma
droga de baixo valor comercial. O uso abusivo dessa substância psicoativa gera
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diversos problemas de ordem psíquica, crimes e marginalização se tornando um


grave problema de saúde pública (RIBEIRO et al., 2005).
São muitos os prejuízos causados pela maconha que vão desde problemas
familiares, exclusão social, violência, dificuldade para se reintegrar na sociedade até
os próprios problemas relacionados à saúde do usuário. Dentre os piores danos ao
organismo estão no sistema nervoso central, ocasionando diversos efeitos que
alteram os aspectos comportamentais e emocionais do usuário. Os efeitos
aparecem imediatamente, proporcionando sensações de prazer e bem estar, mas
que podem ser transformados posteriormente por exemplo em delírios e prejuízos
da memória (BERNARDY; OLIVEIRA, 2010).
Os efeitos relacionados a saúde psicológica do usuário citados acima são
devido a Delta-9-THC ter uma ação em diversas estruturas do sistema nervoso
central aumentando as atividades em algumas regiões e diminuindo essa atividade
em outras, dependendo da região estimulada negativamente ou positivamente
resultam os efeitos de origem psíquica, como alterações de humor e alterações das
funções cognitivas (CRIPPA et al., 2005).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CANNABIS SATIVA

A Cannabis sativa é uma substância que determina um tipo de atividade


cerebral particular por alterações psicodélicas. O efeito mais comum é o aumento da
frequência do pulso. Ela contem cerca de 400 substancias químicas e entre elas
existem os canabinóides que são responsáveis por efeitos psicóticos, a substancia
mais conhecida e que tem mais ação é o THC (delta-9-tetraidrocanabinol) onde
pode copiar ou bloquear ações de neurotransmissores interferindo na sua
funcionalidade. (Marques, 2002)
O THC ao se ligar a um receptor especifico dentro do sistema de recompensa
realiza ligações onde há estimulação da liberação de dopamina e o mesmo provoca
efeitos de bem-estar e relaxamento. A droga fumada demora cerca de 10 segundos
para surtir efeito, ao chegar ao cérebro vai atuar na região denominada sistema de
recompensa (localizado no lobo frontal onde libera um hormônio chamado dopamina
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responsável pelas sensações de euforia e prazer). A droga provoca uma sobrecarga


de estimulo e depois que o efeito acaba e a dopamina para de agir, os neurônios
sentem falta desses estímulos e o usuário fica dependente da sensação de prazer.
(Barreto, 2002)

No cérebro existem grupos de receptores canabinóides em diferentes regiões


como: ganglios basais, hipocampo e cerebelo. Esses receptores possuem realizam
diversas funções mentais e físicas como: memória de curto prazo coordenação,
aprendizado e soluções de problemas. Os endocanabinóides do hipotálamo no
cérebro ativam receptores canabinóides que são responsáveis pela manutenção da
entrada de alimentos, no precúneo a atenção e percepção consciente, no lobo pré-
frontal o controle inibitório e tomada de decisões e nas redes subcorticais os hábitos
e rotinas. (Honório, Arroio e Ferreira, 2006)

2.2 EFEITOS DA CANNABIS SATIVA

Os efeitos são divididos em físicos, agudos e crônicos, variando de acordo


com o tempo de consumo. Sendo eles: hiperemia ocular (olhos vermelhos),
xerostomia (secura excessiva da boca), taquicardia, irritação constante dos pulmões,
bronquite, câncer, diminuição da produção de testosterona. As consequências
psíquicas causadas, com a mesma classificação (agudas e crônicas) são: efeito de
bem-estar, tranquilidade, maior vontade de rir, não ter cansaço ou então o contrário
como angústia, medo, alta transpiração, tremedeira, delírios, prejuízo na memória;
amotivação, dependência e até mesmo maiores chances de agravamento de
esquizofrenia. (CEBRID, 2010)
O Delta-9-THC provoca aumento da velocidade sanguínea na Artéria Cerebral
Media e do fluxo sanguíneo em algumas regiões do encéfalo, como no lobo frontal e
no cíngulo, pincipalmente no hemisfério direito, essas regiões relacionam-se com a
despersonalização do individuo. O aumento da velocidade sanguínea na ACM esta
relacionado apenas com alterações de funções cerebrais produzidas pela maconha,
sendo que as mudanças na frequência cardíaca ocorrem no tempo diferente das
alterações da velocidade sanguínea nessa artéria, o fluxo sanguíneo cerebral
também é aumentado em regiões como a insula e regiões sub-corticais sempre com
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alterações maiores no hemisfério direito. A redução do fluxo sanguíneo cerebral em


algumas regiões como o córtex auditivo, córtex visual, e em áreas designadas para
a atenção, também é efeito da maconha, prejudicando as funções cognitivas como
organizar informações complexas relacionadas a processos de atenção e memoria.
Já as alterações de humor são devido ao aumento desse fluxo sanguíneo
principalmente em regiões paralímbicas. Outro fator é o metabolismo de glicose
aumentado no córtex pré-frontal e nos gânglios da base, que se assemelha a
pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo, levando a perda de controle e
compulsão. Essas alterações psíquicas são efeitos gerados pela ativação ou
diminuição da atividade cerebral em regiões do encéfalo, cada região vai
desencadear uma serie de comportamentos diferentes que caracterizam o uso da
maconha, e vão desde prejuízos a concentração até um ataque de pânico, entre
outros efeitos (CRIPPA at al, 2005)

2.3 SOCIAL

2.3.1 INFLUENCIAÇÃO

O uso de drogas tem reflexo direto na vida psicossocial do usuário, e afeta


indiretamente a família e a comunidade gerando trafico e violência, são vários os
motivos que levam a utilização dessas substancias, vão desde simplesmente
experimenta-las por curiosidade e amizades com usuários ou como uma maneira de
enfrentar problemas da vida cotidiana, porem gera muitos sofrimentos. Os principais
motivos que levam o jovem ao uso de drogas são a falta de dialogo com a família,
falta de emprego, brigas domiciliares, fome e outras situações que o coloque num
estado de impotência, incapaz de tomar uma atitude favorável, contornando os
empecilhos da vida (OLIVEIRA, MCCALLUM, COSTA, 2010).

2.3.2 RELAÇÃO COM A FAMÍLIA

A droga tem consequências biologias, psicológicas e sociais, sendo


considerado hoje um grande problema de saúde publica, tem como principal
prevenção a relação familiar, sendo que o jovem observa seus pais e irmãos como
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modelos comportamentais importantes para protege-lo do uso de drogas. A violência


domiciliar é um fator considerável nesse contexto, pois afeta todos os membros da
família nas diversas fazes de suas vidas, já o papel da mãe é extremamente
indispensável, sendo que a maioria dos jovens usuários de drogas tem como
característica a avó exercendo o papel de responsável pelas crianças abandonadas,
outro fator são as mães que não possuem uma união estável em outros casamentos
e o relacionamento ruim entre filhos e padrastos, não deixando de lado o uso de
drogas por pais ou outros membros da família que tem influencia sobre o jovem,
assumindo uma cultura familiar ao uso dessas substancias (BERNARDY, OLIVEIRA,
2010).
O desespero das famílias e às vezes a incapacidade do usuário li dar com a
situação, são os principais motivos que levam a procura por ajuda, que na maioria
das vezes leva informações de forma indireta, trazendo outras queixas, e dificulta o
reconhecimento das necessidades do paciente pelo profissional (COELHO,
SOARES, 2014).

2.3.3 REABILITAÇÃO DO USUÁRIO

Tratando-se da reabilitação Psicossocial voltado para os dependentes


químicos tem-se produzido pouca coisa sobre esse tema, que no contexto geral
possui o objetivo de reabilitação e a inserção do individuo na sociedade, porem não
entejam diretamente relacionados o conceito e o tratamento dos transtornos
associados ao consumo de drogas, é necessário realizar muitos estudos com
objetivo de entender ou criar uma ideia relacionando a reabilitação psicossocial com
o tratamento dos problemas relacionados a substancias psicoativas (PINHO et al,
2009).
Ainda que necessários muitos estudos que associem a reabilitação e o
tratamento dos problemas dessas substancias químicas, já existem atividades que
auxiliam na reintegração do usuário a sociedade. As chamadas, oficinas
terapêuticas e atividades externas são os principais recursos para a reabilitação
psicossocial dos usuários de drogas, proporciona o entretenimento, passando seu
tempo prazerosamente além do conhecimento de técnicas manuais e artesanais em
oficinas profissionalizantes visando à profissionalização e independência do usuário
(PINHO et al, 2009).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo foi possível perceber e salientar os principais efeitos


do uso abusivo da maconha (cannabis sativa, como as alterações do sistema
respiratório e sistema nervoso central - hipocampo, cerebelo e gânglios basais).
Com isso, cabe a reflexão acerca das influências ocasionadas pelo consumo
abusivo de tal substância psicoativa e sua relação com o tráfico de drogas. Uma
droga que afeta diretamente a vida do usuário, familiares e toda a sociedade,
abordando vários processos que levam o indivíduo ao consumo e dependência. Tal
fato é predominante nas famílias pobres que vivem em situações de vulnerabilidade
socioeconômica, insegurança alimentar, nutricional e a violências, nas mais
diferentes e diversificadas formas.
A reinserção do dependente químico na sociedade ainda é algo em
discussão. A grande maioria dos profissionais da atenção primária em saúde não
estão preparados para acolhimento desse público, que muitas das vezes sofre
discriminação. É necessário a capacitação para esses profissionais, tendo em vista
o foco para a abordagem, meios de intervenção e reabilitação de dependentes
químicos, visando oferecer melhor qualidade de vida, integração social com o meio
em que vivem e com a sua própria família, interação e resolução de conflitos
familiares, entendendo como funcionam o seu meio de vida e os motivos que
levaram ao consumo, e assim, tratando de forma consciente e eficaz.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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