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Usando uma mão para segurar sua cabeça contra o teto baixo do Civic e
usando a outra para arrumar o meu banco. O banco foi para trás com um
estrondo, com os nossos movimentos o carro começou a andar para trás. Eu
não tinha pensado em puxar o freio de mão.
Duas horas depois, fomos a suíte nupcial do Royal Camelot Inn. Nós
rachamos a garrafa de champagne e para complementar tentando abri-la,
quebramos a jacuzzi, então trepamos mais uma vez na cama em forma de
coração antes de eu desabar em um sono sem sonhos. Acordei 8 horas
depois e vi Daphne limpando a banheira, usando um spray desinfetante
durante sua exploração do motel e das redondezas. Ela já tinha planejado o
nosso dia: visitar uma vinícola do outro lado da fronteira canadense.
Talvez ela não fosse se atirar, pensei enquanto corria atrás dela, mas ela
parecia que ia se atirar mesmo. Quando ela se aproximou da beirada, eu
pulei em seus tornozelos e derrubei ela no chão.
Nós não nos falamos a viagem inteira de volta. Enquanto eu descia do carro,
ela pegou as chaves e foi embora. Voltei para o quarto e assisti a ESPN
durante quatro horas, até que ela voltou.
Dino foi um cara de Roma que ela namorou durante um semestre na Itália,
quando ela estava se graduando em Artes. Ele era um artista genial, pelo
menos foi o que ela disse. A minha tendência era ignorar o que ela falava
sobre ele a maior parte do tempo, em relação a seu vasto talento artístico e
que ele aparentemente foi dotado com um pau equivalente a uma pós-
graduação em fazer amor. Enquanto eu estava seguro em meu tamanho e
habilidades, falar no Dino me lembrava que eles tiveram uma relação mais
selvagem, ele era mais sábio e mais velho, fazendo eu me sentir como um
moleque.
"Ah, Dino, o seu amigo com o nome dos Flinstones."
"Isso não foi engraçado agora e nem nas mil vezes que você disse isso."
"Dino, o artista genial que tem o que, 30 anos? E ainda mora com os pais?"
"Você sabe muito bem que essa porra é tradição na Itália. Não é como esse
inferno consumista que nós vivemos aqui, valores familiares significam algo!"
A resposta dela foi rápida e eficaz, quase fatal para nós dois. Ela segurou
meu braço e me puxou junto com o volante para o lado dela. Quando eu me
virei para arrumar o volante, ela me socou meu pescoço e minha cabeça
sem largar meu braço, o quão rápido ela podia. O que lhe faltava em força, a
velocidade compensava.
O carro começou a girar lentamente, mas ainda assim, fora do meu controle.
Eu lutava para conseguir controlá-lo com meu braço livre, enquanto defendia
com o meu outro.
Ela poderia chegar em casa mais tarde, cheia de mijo e de vinagre e talvez
sem vontade de me perdoar, mas foda-se, desta vez nosso relacionamento
acabou. O número um e dessa vez não havia volta.
Eu bati no volante mais algumas vezes, xingando Daphne, Dino e meus pais,
por serem uns babacas fazendo com que eu tivesse essa maldita viagem.
Então eu soltei meu cinto de segurança e fui procurá-la na estrada, jogando
uma espécie de Frogger na vida real.
Não foi muito difícil, ela havia caído de joelhos cerca de 30 metros da
estrada. Eu me aproximei lentamente falando o nome dela. Eu interpretei seu
silencio como uma coisa boa, e coloquei a mão no ombro dela.
O canivete foi mais uma lembrança de Dino, algo que ela começou a
carregar o tempo inteiro com ela, desde que uma menina foi estuprada na
faculdade. Ela tirou a faca do meu ombro, tive tempo para gritar até que ela
enfiou na minha coxa. Então ela foi para o peito. Meu instinto de defesa
ordenou meu ante-braço a empurrá-la para trás, derrubando ela em um
monte de neve. Tentei ir em direção dela, mas a dor na perna disse não.
Fiquei de joelhos e cai para trás, olhando para o céu cinzento, sangrando na
neve, esperando para morrer.
2
Embora eu possa imaginar destinos piores do que mergulhar meu Fudgie the
Whale (bolo de sorvete da franquia Carvel) dentro da Cookie-Puss (outra
torta de sorvete da franquia Carvel) de Dottie, a idéia de ir onde meu pai já
esteve me parece um pouco ‘Complexo de Édipo’ demais para me confortar.
Eu peço licença e saio para fumar.
“Vocês, crianças malditas, não conheceriam uma boa erva nem se ela
estivesse na frente dos seus olhos”
“Não é o conselho,” ele diz através dos dentes cerrados “que viria de mim.”
As conversas com o tio Marvin tendem a ser curtas, dada sua natural
aversão a qualquer coisa elegante, mas eu não estou com pressa para voltar
pra dentro, e estou mais do que disposto a conseguir uma folga.
“Bem, isso deve tornar mais fácil minha busca por um apartamento.”
“Engraçado,” ele diz sem rir.
“Espere um minuto... Quando você for para a cidade, você pode me trazer
mais disso.” Ele faz um sinal para explicar.
“Você sabe que eu adoraria lhe ajudar, tio Marvin, mas eu nem saberia
aonde ir.”
“Você vai ir ver meu cara. Aqui...” Ele tira do seu bolso da frente um maço de
dinheiro do tamanho do punho de um bebê, tira seis notas de vinte, e as
pressiona na minha mão.
“Isso vai comprar aproximadamente sete gramas.”
“Sete gramas?”
“Sete gramas. E não deixe ele te enganar com caules e sementes. Peso
morto, essas merdas.”
Para ser honesto, eu estou grato por não ter que fazer alguma coisa que
envolva sorvete.
Os contatos de tio Martin ficam em Alphabet city, o que fazem com que
viagens cômodas, sejam quase impossíveis. A coisa mais fácil a se fazer é
pegar um trem, mas eu ainda tenho esperança que meu dia como um laranja
possa resultar em lucro.
"Eu tenho dinheiro, se é isso que você quer dizer", eu respondo. Minhas
mãos estão suando.
A única mobília na sala, é uma mesa velha no canto oposto, ocupada por um
homem magro junto a uma mulher que usava uma camisa roubada e que
tinha um cigarro apagado pendurado em sua boca.
Sobre a mesa, apenas um cinzeiro novo e um telefone com um botão de
pressão que parece tocar cada vez que o homem magro termina uma
chamada. Enquanto eu levava um tempo para sacar isso, por razões óbvias,
o ambiente estava sujeito a uma rigorosa política de não fumar, nesse
momento era difícil não pensar em "Sísifo de Sagitário", com sua tarefa sem
fim. Era um obstáculo perpétuo para eu poder largar a nicotina.
Ele não perde tempo adicional com palavras ou gestos, sua enormidade
simplesmente elimina todas as opções que não seja a de entrar por uma
porta na parte de trás da sala.
Eu entro em uma sala pequena cuja única luz vem de uma lâmpada de lava
num daqueles estilos hippies, banhando tudo em tons de vermelho. Um covil,
eu acho, ouvi então o fechar da porta atrás de mim. Meus olhos lentamente
se ajustam, revelando paredes e tetos alinhados com um tipo de tapeçaria
"Batik" que era muito popular na faculdade entre os veteranos do colégio e
os fãs de "Grateful Dead".
"Marvin".
"Um quarto?"
"Apenas um quarto?"
"Então você está aqui sobre a posição." O Pontífice voltou o olhar para uma
pequena caixa de madeira, embora tenho certeza de que ele ainda está
falando comigo. Eu respiro fundo.
"Eu não tenho certeza se tenho informação suficiente ainda para responder a
essa pergunta. "
"Foi a minha obra original," diz ele, riscando um fósforo com metros de
comprimento contra sua embalagem cilíndrica.
Vinte minutos mais tarde, eu estou saindo do edifício com um novo trabalho,
um daqueles que promete remuneração relativamente alta e pouco serviço,
foda-se você Tom Carvel, chupa essa!
Percebo no momento que embarco no trem de volta para Long Island que
havia esquecido de comprar a erva para oTio Marvin.
3
"TALVEZ VOCÊ POSSA FICAR TÃO INTELIGENTE QUE não vai querer
fazer sexo mais", diz Tana.
"Embora seja verdade que eu não sou mais um cara da faculdade, tenho
experiência para saber que o homem desenvolveu seu cérebro para obter
mais sexo, e não o contrário."
"Quero dizer, Glenn, ele é totalmente brilhante", diz ela, sem fôlego, embora
isso possa ser devido a yoga."
"Ele não pode ser assim tão brilhante se ele quer fazer sexo com você."
"Não posso dizer que estou muito familiarizado com o assunto. Agora por
outro lado 'sêmen-bióticos...'"
"Você fica aí zombando", diz ela, esticando-se até os dedos dos pés,
"O que você não entende é que..."
"Você tem que ouvi-lo falar sobre isso. Eu fico tão excitada só de ouvir sobre
o que ele está lendo."
Eu puxo para baixo a gola da minha camisa, expondo a cicatriz que tenho—
aliás a única que posso mostrar e ao mesmo tempo manter minhas calças
vestidas.
"Eu pensei que estava. Você não pegou a referência daquele desenho do
Snoopy? Você sabe...Lucy, Charlie Brown..."
"Eu acho que esse novo emprego vai ser bom para você. Pelo menos você
vai encontrar algumas pessoas que não conhecia no colegial."
Meu novo emprego começou naquela mesma manhã logo depois da minha
entrevista. Conforme orientado pelo Pontífice, conheci Rico perto de um
balcão dentro da Autoridade Portuária. Minha segunda audição.
O trabalho foi, sem surpresa, longe de ser praticamente ilegal, como eu
poderia dizer, relativamente de baixo risco, pelo menos para mim.
Uma hora mais tarde, em um ponto perto, mas nunca muito perto de sua
localização, os fumantes felizes poderiam trocar US$ 100 por aquilo que o
Rico chamava de "Um quarto de um cavalheiro." Não resisti e perguntei o
que diabos seria isso.
"Uma taxa conveniente," ele diz. A operação não seria possível sem essa
conveniência moderna: o pager. De uma maneira que eu admito não ser
totalmente saudável, é o que finalmente me colocou em um trabalho que, se
eu realmente tivesse algum senso comum ou mesmo algum julgamento
moral e ético de um cavalheiro, eu teria recusado.
Mas o Motorola que Rico havia entregue a mim, era uma homenagem em
miniatura ao estado-da-arte: uma com apenas duas linhas, com 40
caracteres (um recurso que Billy teimosamente se recusou a abraçar, nunca
se afastar de seu padrão "4:20"), contendo hora e data (Eu poderia
finalmente me livrar desse Timex de merda que estava usando), oito
selecionáveis alertas musicais (com ordens estritas para deixá-lo no modo
vibratório—Billy novamente); e um despertador embutido (uma boa idéia na
teoria, desnecessariamente chocante em prática).
Eu me sentia como a porra do James Bond.
Talvez. Mas após uns anos vagando sozinho no deserto, estava pronto para
ser amarrado por essa "corda".
Mesmo sendo uma organização de viciados criminais, e ainda mais
impressionante, viciados criminais maconheiros; eles estavam muito bem
organizados.
Billy, usando alguma lógica misteriosa entendida apenas por ele, dirigiu sua
face ao que era tipicamente um lugar de reunião lotada.
Lá, estava Middleman—mais frequente do que Joseph, com um Rastafari e
uma cicatriz na bochecha—esbarrou-se no "Rosto", deslizando um saco
("Um Quarto de Cavalheiro") para dentro do bolso. Toda a interação entre os
dois encerrou-se sem cumprimento ou reconhecimento, apesar dos meus
acenos sutis e sobrancelhas levantadas, Joseph parecia com a intenção de
fazer com que "não tomar conhecimento de mim" seja parte do seu trabalho
muito, muito a sério.
Eu tenho certeza absoluta que poderia ter feito a primeira parte do plano
vestido com roupas de palhaço, tocando tubas e violão, que não haveria
nenhuma interferência dos homens de azul.
O que permitiu ao "Rosto" meia hora, mais ou menos, para chegar e
encontrar-se com o cliente.
"Não importa o quão grande e duro seja o pau, o juiz tem que colocá-lo para
fora", ele me explicou.
"Um policial responde a estas perguntas, isso é uma fria armadilha."
Não foi um esquema infalível, mas como ninguém agiu como um tolo, ele
poderia muito bem ter sido. Assim disse o Pontífice, que promoveu seu
negócio com um ar de atrevimento que beirava a fronteira do absurdo, nem
mesmo seus clientes mais próximos poderiam esquecer a quantidade de
pedágios livres que ele forneceu a eles:
1-212-MARIJUANA.
Meu novo emprego.
"Não pense que nunca considerei isso", digo, deslizando para fora da mesa.
"Vou deixar um pouco para o seu tio Marvin. Não belisque muito."
"Você vê isso?"
Diz ela, escorregando a grama dentro de sua bolsa de maquiagem.
"Isso, meu amigo, é um bom karma. Apenas sente e assista. O universo está
agindo para recompensá-lo."
4
NÃO ENCONTRAR COM PESSOAS NÃO É A ÚNICA COISA permanente
entre mim e a vida social. Há também o fato de que eu ainda vivo com meus
pais. Meus pais os quais dirigiram incontáveis horas para me buscar em um
hospital próximo das Cataratas do Niágara.
Nós voltamos para casa em relativo silêncio, o que por mim tudo bem; pelo
menos não havia muitas questões sobre Daphne.
Pelo tempo que ficamos presos na estrada, eu decidi que eu poderia tolerar
pelo menos uma ou duas semanas sob o teto deles novamente. Apenas
tempo suficiente para voltar ao jogo. Mas que jogo?
Até o momento que cheguei na cidade através do meu primeiro dia de vôo
solo, o telefone já está tocando.
Cada terceira ou quarta pessoa é uma mulher com menos de trinta anos
usando Lycra, muitos corredores tonificam os glúteos na pequena estrada
em torno do reservatório do Central Park.
Meu olhos finalmente acham uma mulher que não está correndo. Ela é
alguns anos mais velha que eu, talvez vinte seis ou vinte e sete. Pele clara,
cabelo loiro curto, e os seios que, embora não enormes, ainda demandam
atenção. Tênis caros. Talvez uma jovem advogada. Uma mulher casada.
Uma professora e filha de algum capitão da indústria.
Em qualquer caso, minha primeira cliente.
"E você?"
•
MEU PRÓXIMO ENCONTRO É NA "Wall Street", uma estreita cidade na
Segunda. Joseph desliza por mim no trem entre as estações Chambers e
Fulton, escorregando um saco na minha jaqueta. Eu emergi da estação
enquanto lá fora começava uma chuva leve, tenho ainda dez minutos de
sobra até o encontro.
Tomando abrigo em uma porta, eu assisto as pessoas com seus trajes de mil
dólares, água escorrendo e rolando fora de seus cabelos com gel enquanto
eles gritam com seus telefones portáteis. Eu silenciosamente torço por um
relâmpago.
Ele tenta fazer um contato com os olhos, então eu aceno um pouco com a
cabeça.
"Relaxa, almofadinha," ele diz, insultando as calças que minha mãe havia
comprado para mim. Agora eu realmente não gosto desse cara.
"Danny está no seu escritório. Ele me disse para vir aqui encontrar com
você."
"O proxy é como um sinal vermelho," ele disse, me surpreendendo por usar a
palavra "Proxy".
"Ninguém é lerdo o bastante para não pegar sua própria merda, se você me
entende?"
Por outro lado, a polícia, na experiência de Rico. era mais que capaz "desse
tipo de subterfúgios."
Digo a ele que não conheço nenhum Danny.
"Meu coração sangra por você. Mas eu não trabalho para seu chefe."
"Nem mesmo eu, se você não me seguir de volta para lá. Vamos. Cem
verdinhas a mais por, digamos, dez minutos a mais de trabalho."
"Rick Cleary."
"Onde está Carlos?" ele diz, finalizando sua chamada. Carlos era o garoto
que havia visto destruindo seu Motorolla na escadaria.
"Carlos e eu temos alguns arranjos, isso é tudo. Ele merece um suco extra
por fazer o truque nas escadas."
"Eu acho que não." Meus olhos se viram de volta a casa de passarinho.
Danny puxa um pacote de cigarros e balança umas duas vezes com suas
mãos antes de me oferecer um. Balanço a cabeça dizendo não. Meu celular
está vibrando novamente.
"O serviço de um doceiro nunca acaba. Mas enquanto eu tenho você aqui,
deixe-me usá-lo para resolver outro assunto. Outro negócio que tenho com
Carlos. Esse merda que você trouxe está boa para o escritório," ele diz,
apontando para a mala que eu coloquei na mesa.
"Mas para o fim de semana, eu vou precisar de mais peso. Eu sei: eles já te
disseram que não trabalham com mais do que isso."
Ele está certo: Rico deixou isso claro, durante nosso tempo junto, qualquer
transação envolvendo algo mais que "Um quarto de um cavalheiro" estava
proibido por decreto papal. É o tipo de modéstia que mantém o Portífice
dentro dos negócios e fora da jaula, é também, ele havia sublinhado, a razão
de Carlos ter sido demitido.
•
EU ENCONTRO COM O PRÓXIMO CLIENTE na esquina da Rua Vinte e
Três com a Sétima avenida. Meu primeiro pensamento foi: Quem sabia que
tantas mulheres bonitas fumavam esse bagulho? Meu próximo pensamento:
Ela é ele. Não um travesti...mas, eu tenho que admitir, um homem muito
atraente vestindo uma calça de couro apertada e uma jaqueta preta.
Ele segura meu ombro. Eu me viro novamente para ele, colocando-me o que
eu espero que seja um movimento de combate. Eu me considero mais um
amante do que um lutador, mas eu não vou ser intimidado por um cara
usando delinhador.
"Me siga de volta até meu lugar. Kristof tem seu bagulho."
"É logo abaixo a essa maldita rua. Você conhece o Hotel Chelsea?"
5
EU VI SID E NANCY QUATORZE VEZES. Diferente do que você está
pensando, eu não sou um fã retardado e obsessivo. Digo, é um ótimo filme,
mesmo eles estragando Johny Rotten. Uma história de amor que não é cheia
de merda, que reconhece a estupidez de tudo—verdadeiro amor, impossível
no mundo real, só leva à dor.
Mas essa não é a razão deu ter visto ele quatorze vezes. Eu o vi, pois era o
único filme que Daphne tinha, e nós éramos muito preguiçosos, lerdos, ou
estávamos excitados demais para ir até a loja de vídeos.
"Te lembra de alguém que conhecemos?" ela me perguntava toda vez que o
filme acabava. Uma pergunta que poderia ter sido, vamos encarar, uma
gigante bandeira vermelha, dado que—desculpe se eu estou contando o final
para vocês—Sid acaba enforcando Nancy até a morte em um quarto no
Hotel Chelsea.
Mas então Daphne cantava junto com o final, Leonard Cohen: "I remember—
you well in the Chelsea Hotel, you were talking so brave and so sweet, giving
me head on the unmade bed..." Em certo ponto ela parava de cantar no meio
da cena—a T.V. estava localizada no quarto. Agradavelmente, diferente da
música ou do filme, a versão de Daphne sempre acabava com um final feliz.
"Você sabe, para um traficante," ele grita sobre seus ombros, "você se veste
como um verdadeiro cuzão."
O hotel, com mais ou menos uns cem anos, parecia exatamente com sua
idade. Não muito de fora, mas dentro parecia que havia acontecido uma
guerra recente entre latifundiários e trabalhadores. Eu apostaria nos
latifundiários. Mas eu ainda sentia uma coceira ao ver o já familiar salão de
espera, perto de cada quadrado de tinta na parede havia um espaço pintado
por pintores e artistas que aparentemente teriam sido escolhidos de forma
aleatória.
"Olá, Herman!" diz Nate, acenando para ele enquanto subia uma escada
espiral pulando de três em três degraus após passar pelo homem. Vou atrás
de Nate, sentindo uma encarada de Herman atrás de mim. Nós não paramos
até chegar ao quarto andar.
Eu não tenho certeza do que esperar. Meio que uma casa punk-rock
animalesca, talvez. O papel de parede escuro e os encanamentos rústicos
pareciam certos, mas o corredor está quieto e vazio. Me ocorreu na hora que
era a segunda vez nos meus três encontros, que eu violava a regra de não
seguir os clientes até suas salas ou quartos. A polícia poderia estar
esperando por mim. Ou pior, eu poderia estar prestes a cair em uma
armadilha ao dar o primeiro passo através da porta.
"Me desculpe?"
Ela olha para mim com um tom de dúvida. "Você não é o Nate."
Nate cruza a porta com o cara europeu que tentava alcançar sua carteira.
"Bem, então feche a maldita porta," ela diz. No momento que eu entro e
fecho a porta atrás de mim, Nate está agradando-a com um beijo.
"Aqui está meu anjo," ele diz, envolvendo-a com seus braços como um
dançarino.
Ele a abraça, desliza uma nota de $100 em sua calcinha, e a vira para mim.
Nós realizamos ao mesmo tempo—e ambos com alto nível de desconforto—
que eu deveria remover o dinheiro de suas intimidades. Nós finalizamos a
transação com o mínimo de contato visual.
"Ao menos aí dentro é tudo natural," ela diz. Eu tiro o pacote de erva do
bolso e coloco em sua mão.
"Você é um porco," diz a silhueta, retornando com a erva para seja lá qual for
a terra mágica que ela emergiu. Nate a segue, parando apenas para me dar
um soco no ombro.
"Bem, então volte depois mais tarde," ele diz, fechando a porta do quarto.
"A festa nunca acaba."
Seis horas depois, após colocar minha jaqueta esporte em uma escada de
incêndio próxima, eu volto para Chelsea.
O homem naquele suéter de talvez-casimir está sentando na mesa,
visivelmente em seu elemento natural. Ele é o mestre do envolvimento.
Iludido por alguma ilusão ótica ou algum arranjo, a luz na sala realmente
parecia ter vindo do homem.
Eu sorrio, aceno da mesma forma que havia visto Nate fazer, digo "Olá,
Herman!" e me dirijo às escadas.
"Eu não 'ááácredito' que nos conhecemos," Herman diz. Sua voz é o que
você pode dizer, "A autêntica Nova Iorque," nasal e amplificada pelo domínio
de sua garganta presa.
"Cê tava aqui má cedo, com o Nate."
"Eu estou subindo as escadas agora para vê-lo," eu respondo. Mas meu pé
para de se mexer e a escadaria—outra ilusão ótica—parecia se mover para
longe de mim.
"Não, cê não vai. Não á ménos que priméiro cê passé por mim."
"Eu não imaginava que aqui fosse esse tipo de espelunca," eu respondo,
uma tentativa lamentável de humor barato. Talvez faltou algo sobre mulheres
nuas.
Ouch. Eu viajo sobre meu cérebro por uma resposta até que um sino tocou.
É o elevador. Nós dois nos viramos para suas portas. A silhueta está
diferente, mas eu sabia imediatamente que era a mesma garota. Ela entra no
salão. Seu cabelo está liso, ainda molhado devido ao chuveiro. Ela usa uma
mini-saia de alguma escola Católica, e uma jaqueta muito grande que
provavelmente pertencia a Nate.
"Quando eu estava aqui mais cedo. Essa manhã. Nate me disse para passar
aqui mais tarde."
Herman olha para baixo quando ela diz isso, aparentemente profundamente
triste com a novidade.
Ela olha para mim. Agora eu desejava estar usando outra coisa além de uma
jaqueta esporte de lã e uma calça ridícula.
Seu nome é K. Na verdade, Katherine, mas ela adotou a inicial pois achava
que poderia ajudá-la na carreira de modelo profissional. Seu primeiro
emprego, arrancou-a do Norte da Califórnia—"Sunnyvale!" ela força um
sorriso falso—até cruzar o oceano pacífico, onde ela passou três meses
fazendo fotos para catálogos na Coréia do Sul, Japão, e Hong Kong.
“Ele era alto, sexy, falava um inglês britânico e que se foda, a idéia de seguir
uma banda por algum tempo seria provavelmente muito divertido.” diz K.
Clem havia dito desde o começo que Nate era um deus da guitarra, e ele não
estava mentindo: A banda assinou um acordo para seu primeiro álbum, 'Love
Vampire', ganhou alguns críticos influentes que diziam que o álbum era algo
como a fusão entre Guns e Bowie. As vendas não foram incríveis, mas
prometeram algo que valeria um tiro dado para um segundo álbum, o qual
conseguiram começar as gravações em um estúdio. Apenas mais um estúdio
em L.A. era...você sabe, L.A.—não exatamente condizente o suficiente para
terminar essa merda.
Eles mudaram para Chelsea oito meses atrás. Herman se encarregou para
que eles fossem tratados como convidados, dando-os a suíte que pertenceu
a Janis pois, como ele disse à eles, ele realmente acreditava nas habilidades
artísticas de Nate.
Scott, o baterista, ficou tão puto com a situação que largou a banda e se
inscreveu em Columbia—curso de psicologia. Mas Clem finalmente resolveu
as coisas com Ralphie e então começaram a gravar o mais cedo possível
após Scott terminar os exames finais. Nate acreditava que o álbum—agora
eles o chamavam de Hell's Sweet Gravity—poderia estar pronto até o Natal,
mas com todos nós nas festas dos feriados, curtindo, e depois se
recuperando da ressaca, seria um grande feito, sem mencionar um milagre
eles terminarem antes do verão.
Em outra rodada de ironia, o que foi mal para a banda foi bom para K.
Uma semana após sua chegada, no elevador—o elevador do hotel era
basicamente onde tudo de interessante acontecia—ela conheceu Ray
Mondavi. Ele morava no oitavo andar, onde tinha um estúdio fotográfico, e
ele ofereceu tirar novas fotos para ajudá-la a entrar de novo em circulação.
Isso não foi tudo que ele ofereceu, mas se você conhece Ray, você sabe que
ele simplesmente não pode ajudar a si mesmo e não, nada nunca aconteceu.
Ele mostrou as fotos para John do Elite, quem fez um 'Book' e a colocou em
uma lista que gerava algum tráfico na Broadway e agora John dizia que ela
estava no topo da lista de biquínis da Sport's Illustrated. Não que ela
acreditasse nele—ela sabe todas as estórias—mas merda, dedos cruzados,
certo?
K. cruzou seus dedos, balançando-os para mim como se fosse soltar alguma
mágica.
"Eu agora oficialmente terminei de falar sobre mim," ela diz.
"Sua vez."
"Eu deixo minha estória para nosso próximo encontro," eu digo, colocando
duas notas de vinte em cima da mesa.
"Você vai para casa? ela pergunta, sem inocência no seu olhar.
"Oh..."
Quando uma porta fecha, eu reflito e vejo uma janela aberta. Minha segunda
atitude genial em trinta segundos.
Eu percebi, era um sinal certo de que estava ficando bêbado.
"Eu não sei. Eu tenho uma impressão distinta de que Herman poderia não
gostar de me ver andando por lá."
Eu posso dizer que Herman não é idiota, mas K. não era o tipo de mulher
que você se inclina para discutir, isso se você é do tipo que discute com
alguma mulher.
6
A LIMOUSINE—MAIS PARECIDA COMO UM CARRO DE CIDADE,
REALMENTE—para na esquina. A janela é aberta. Danny estava com uma
cara de que havia comido merda.
Eu ando ao redor do carro e entro pelo outro lado. Quando eu fecho a porta,
eu percebo que a cara de Danny não tinha nada a ver com ter comido
merda. Há uma cabeça, feminina pelo que vejo, pulando entre suas pernas.
"Jesus," eu exclamo.
"Eu não estou te dando uma opção. Opções são como raridade ou não
raridade. Cebolas, sem cebolas. Morenas ou ruivas. Qual você prefere,
aliás?"
Ele dá um tapinha na cabeça saltitante. A mulher levanta do colo de Danny
fazendo um barulho molhado que me deixou mais incomodado do que já
estava.
"Veremos sobre isso," ele responde, guiando-a de volta para suas pernas.
"O que estou oferecendo a você, não é uma opção. É uma oportunidade.
Uma oportunidade de dobrar seu pagamento semanal."
Ele aponta para um punhado de garrafas em um compartimento.
"Tenho que ser honesto com você. Eu acho que você me confundiu com
alguém que tem algum dinheiro. Eu apenas entrego o bagulho."
"A melhor maneira de obter mais produtos é vender para mais clientes, então
continuar vendendo para mais e mais clientes."
"Aha," eu digo.
"Você quer dizer que pode ligar para o mesmo cliente mais de uma vez no
dia."
"Aqui é onde você fica," Danny diz enquanto o motorista abre a porta. A
mulher deixa o carro.
"Para onde você precisa ir?"
As estórias reforçavam a visão que tio Marvin tinha de Nova Iorque, com
certeza um lugar fodido. Mas elas não descrevem a cidade que eu estou
vendo dentro de uma limousine. Eu me sentia como um rei em uma
carruagem, a chuva, as luzes e o constante movimento de tudo parciam uma
performance beneficiando somente a mim.
"Sobre o quê?"
Eu estava prestes a inventar uma desculpa, quem sabe qual, quando ele
continuou.
"Eu não direi nada. Não se preocupe. Mas você fará seu velho muito feliz se
ele ver cem pratas."
"Gastando muito?"
Eu sei, de fato, o que ele quer dizer. Havia notado recentemente a atenção
que meu pai estava tendo com sua aparência. Cortes de cabelos mais
frequentes. Mais sapatos novos. Tubos misteriosos de 'Bom-ar' esguichavam
ao redor da casa. Eu também vi minha mãe prestando mais atenção às
dívidas do banco e do cartão de crédito, colocando uma séria dúvida na
habilidade de meu pai de financiar uma amante. Meu palpite é que o
'empréstimo' dos $100 seriam para pagar um lanche barato no Casa de
Carnes do Charlie, sobrando o suficiente para uma hora no conveniente
perto-mas-não-muito-perto Motel Starlight.
"Onde é o que?"
7
SE VOCÉ É ALGUMA COISA PARECIDA COMIGO, A ÍDEIA DE ser
rodeado por super-modelos poderia ser algo que você sempre sonhou. Se
você é do tipo de pessoa que gosta dos seus sonhos intactos—livre de
buracos pontuais—você provavelmente não quer ler o que vem a seguir.
A experiência é odíavel. Eu não estou dizendo que as modelos são odiáveis.
Qualquer coisa além disso. Você pode imaginar se de perto elas são apenas
garotas regulares com uma descente estrutura óssea, e com cabelos e
maquiagem feitas por artistas da moda. Elas não são. Elas são perfeitas, ou
quase.
E não é por isso que elas são estúpidas, ou inseguras, ou vagas, mesmo que
algumas delas também sejam. Talvez a maioria delas. Mas a beleza às
vezes esquece alguma habilidade intelectual.
Não, o que é odiável é a experiência de conhecer uma super-modelo. Pois
no fundo, você espera que ambos irão se apaixonar. Ou melhor. Ou somente
irá achar algo para conversar mais do que trinta segundos. Mas você não
vai. Super-modelos são como atletas profissionais ou violinistas prodígios:
brilhantes mas limitados a visão mundial.
Talvez você seja o tipo de cara que conhece muito sobre sapatos chiques ou
fundações de aplicação. Mas se você está sonhando com super-modelos em
sua cama, você provavelmente não é esse cara. Você diz a si mesmo que
pode controlar esse tipo de situação. E você está certo. Você pode. Mas ela
não. Mulheres se importam muito com suas conexões importantes. E a
menos que você possa trazer algumas delas para a mesa, você poderá estar
falando em alguma linguagem de marte.
Pelo menos essa foi uma das experiências que tive hoje. Toda conversa foi
petrificada e estabilizada sobre como eu não sou famoso. Não trabalho para
nenhuma agência, e não tenho a menor idéia sobre sapatos caros.
Mas não posso dizer o mesmo sobre meu amigo, Ray. Ele é um cinturão na
arte de 'insultos flertantes', o que parece ser exatamente o melhor jiu-jitsu
para encarar essas belezas. Já havia conseguido três números de telefone
até agora. Seu verdadeiro talento se encaixa na sua habilidade de identificar
uma microscópica falha no corpo humano, invisível para a maioria das
pessoas, o que levava as modelos gastarem algumas horas angustiantes na
frente do espelho se contorcendo de raiva. A visão de uma ruga que um dia
irá aparecer. Um milímetro de estria na bunda. Um pequeno músculo fugindo
da proporção de um todo.
"Eu não acredito que eles deixam você sair assim," eu o escuto
masterizando algum defeito da garota. Alguns minutos antes, ela estava
escrevendo seu número na mão de Ray.
Ele esfregou a tinta de caneta no momento posterior que ela foi embora.
"O jogo fica velho, não é?" Ele boceja, me apontando três dedos.
"Três bocejos. Eu só aguento dez. Nada de bom nunca acontece depois do
décimo."
Foi encarregado a mim lutar com minha saturada bagagem(tudo foi tirado do
meu armário) e meu mini-arquivo(uma seleção da IBM e alguns livros de
Freshman Lit Primeiro que eu esperava que pudesse me vender como um
poeta) subindo e descendo as escadas e através do corredor até o quarto
242.
Ele quebra sua concentração do seu cálculo interno duas vezes: a primeira
ele me olha para que eu saiba que ele sabe que eu sei que ele está olhando
para ela, a segunda, para ver se ele estava me incomodando. Eu dou minha
benção a Ray sinalizando com a cabeça.
"Eu falo sério. Não para passarelas—você não tem estilo para isso—mas
imagine...Você é como uma clássica Ellen von Unwerth. Sensual, como
Cláudia ou Carré."
Eu estou grato por vê-lo saindo, não porque eu não gosto de escutá-lo
falando do seu joguinho—já está claro que esse homem pode estar apto a
ensinar ao meu cão interior algumas dicas—mas porque o quarto não era
grande o suficiente para três pessoas.
"Ao menos você tem uma janela," Tana diz enquanto voltava seu corpo de
volta ao quarto após colocar o cacto em um canto da janela, uma semana
depois ele iria morrer.
Eu cheguei até mesmo a ligar para minha mãe uma vez, mas sua
curiosidade maternal sobre meu trabalho, me forçava incrivelmente a
produzir mentiras, e suas perguntas sobre minha vida social me deixavam
ainda mais depressivo.
Acontece que o velho hotel é um bom lugar para gastar o tempo, apesar da
notável excessão que é meu quarto em miniatura, e seus canos expostos de
água quente. A noite a temperatura poderia chegar aos 39º. Eu aprendi a
usar minha janela como um tubo reverso, refrescando o quarto com algum ar
fresco. Isso me dava alguma coisa para fazer enquanto eu deito a noite
tentando me lembrar do porque eu pensei que viver nesse lugar seria melhor
que em casa.
Durante o dia, ainda deitado, fico imaginando sobre como penero minhas
interações com os clientes para qualquer pepita quente que conseguia achar.
A corredora do Upper East Side me deu seu nome ('Liz') mas após eu elogiar
seus olhos, lágrimas saíram deles após dizer que ela tinha mais coisas
importantes a fazer.
Cada dia de trabalho eu faço duas ligações para a linha gratuita do Pontífice.
A princípio, eu uso um sotaque diferente cada vez que ligo: Um de Park
Avenue, Porto Rico, Staten Island, e até mesmo um de Haiti que
rapidamente deteriorava-se em alguns tipos diferentes de tons: "Quêêêééé
quê cê tá falando, Senhor D.?"
Por sorte, os anos de Billy atendendo chamadas de viciados, fazia
impossível meu linguajar parecer incompreendido.
Mas eu não sou Richard Little: Personificações não são o meu negócio. Eu
faço no máximo seis, talvez sete vozes que soavam remotamente
convincentes. Então me transformo em alguns clientes regulares,
requisitando a compra de um pequeno notebook preto na Duane Reade para
que possam manter-se na trilha dos meus multi-personagens e seus hábitos
imaginários. Eu não quero foder tudo.
"Isso é parecido com uma barriga de erva," digo para o espelho quebrado.
Eu abro a porta antes que o espelho possa responder, andando rápido para
as escadas até o escritório de Danny. Somente dessa vez eu quase passo
por cima de K. quando ela entrava no elevador.
Meu coração bate como um martelo, mas eu nunca estive mais lúcido.
Eu finalmente tinha uma uma resposta honesta do porque eu escolhi morar
no Chelsea.
Ela ri.
"Vai ter que ser uma rapidinha. Eu preciso voltar para Nate. Eles estão
voando para Chicago essa noite e eles nunca conseguirão chegar ao
aeroporto sem mim."
"Não fique imaginando nada: Eu sou uma boa garota. Mas eu não posso
dizer o mesmo de todos meus amigos. Uma mulher cheia de beleza,
insegurança e carácter questionável. Um cara como você pode fazer tudo
certo."
Finalmente ela passa por mim para entrar no elevador. Vejo ela rindo
enquanto as portas se fecham.
"Vocé dévia éscrévér um poéma sobré isso, há," Herman me zoa, tendo visto
a cena do seu lugar atrás da mesa.
Nós ficamos inquietos no momento que K. saiu dos bastidores pela primeira
vez, enrolada por um pano verde fluorescente que eu não podia imaginar
jamais ser usado por alguma pessoa normal. Como uma boa profissional que
ela é, ela nos ignora completamente.
Ela ainda estava maquiada mas vestida para o centro da cidade, tendo
dividido seus colares em favorecimento a uma peça única de um mini-vestido
preto e seus olhos azuis radioativos.
"Yow!" Ray grita para ela, colocando suas mãos nas costas e uivando como
um lobo.
"Você mereceu isso querida!"
"Mas eu não sei o que eles estavam pensando quando colocaram em você
esse 'tomara-que-caia,' ele continua.
"É preciso ter peitos para usar isso."
Ela olha para mim para ver minha reação, o que até agora é rir como um
retardado.
Quando eu falho em dar uma resposta socialmente aceitável, ela me joga
uma indireta.
Não leva muito tempo para descobrir o que ele quer dizer. Eu notei o
restaurante durante minhas transações com Charlie na Praça Union e, havia
visto o lugar apenas na luz do dia, fui enganado pelo nome. Ninguém estava
jantando; em fato a maioria das pessoas—modelos, crianças ricas, e uma
minoria de celebridades com cabelos estranhos—pareciam ter alguma
desordem alimentar.
Nós passamos pelos cordões de seda, nossa entrada foi possibilitada por K.
e duas fêmeas com rostos de anjos mas nomes muito importantes para
dividirem comigo, e paramos numa mesa em um canto com área coberta.
As mulheres ordenaram algo chamado mojitos e pediram licença para irem
ao banheiro.
"Eu acho que K. está fora dos limites," eu deixo a pergunta no ar.
"Perda de tempo. Nate não a merece, mas ele tem todo esse negócio de
Rock Star trabalhando para ele.
Ray curva seus dedos no ar.
"Vudu vampiresco. Ele fincou seus dedos nela como o maldito Drácula."
"Um pouco bem demais. Nós mudamos rapidamente de paixão para sexo
quente e agora para um longo e estranho silêncio."
Meu ponto é me aproximar nos insultos ditos por Ray, naquele seu jogo com
mulheres. Mas o que vem para fora, julgando pela reação de K., é mais
parecido com um tapa na cara. Eu retorno um passo o mais rápido que meu
pé poderia me levar.
"Eu estou brincando, moça. Estou apenas tentando alienar o maior número
de pessoas possíveis com minhas habilidades conversionais de merda.
Parabéns. Você é minha centésima cliente."
"Traficante?"
"Meus beijos não mataram ninguém ainda," ela diz chupando seu mojito
através de um canudo.
Nós estamos flertando? Meu coração me diz que sim, trabalhando o dobro
da força para levar sangue até meu cérebro.
"Eu acho que devo levar sua palavra em consideração. Mas para ser
honesto, eu preciso de um pouco mais de informação para continuar."
"Eu devo ter perdido alguma coisa," eu respondo, "mas parece que
estávamos negociando."
"Trabalho?" K. pergunta.
"Não, longe disso," eu insisto, encarando o '911' que Tana colocou agora na
mensagem de texto.
"Eu espero que alguém esteja morrendo," digo após Tana aceitar a cobrança.
"Pois se não for isso, você está quebrando meu pau em proporções
imensas."
Eu estou preso por uma vontade de rir: Daphne está vestida para o
Halloween como uma Mulher-Louca. Um pouco de tinta marrom em seu
cabelo agora separa as pontas de seu couro cabeludo. Seus olhos estão
profundos e pretos de maquiagem. Ela está até usando aqueles requisitados
aventais verdes de hospitais e patins para se locomover. Em poucos
segundos, ela ia baixar a guarda e rir. Nós fumamos um baseado e
procuramos um lugar para foder. Alguns segundos se passaram.
Quarto sem acústica. Daphne e eu tivemos uma das nossas Top 5 brigas
(Número 3, para ser exato) em um quarto que parecia muito com esse. Eu
dei carona a uma mulher para uma festa, ou foi isso que eu contei a Daphne.
A verdade é que eu havia saído com uma ex-namorada que estava de
passagem vindo de Ithaca até Toronto. Nós começamos a noite conversando
sobre como é estranho que nós não estávamos mais no colegial e
finalizamos com uma demonstração dela de sua recém descoberta
maturidade com um boquete em frente de seu carro.
"Não fique. O seguro vai cobrir a maioria do estrago. O resto pode vir do
fundo de putas do meu pai. Mas hey...da próxima vez você quer fazer uma
ligação para mim?"
Eu levanto o Motorola.
"Eu tenho um desses agora."
Eu a deixo à par da minha nova vida, menos a parte pífia de solidão e minha
recente sessão com uma super-modelo em ascenção. Daphne soltou um
sorriso real quando eu a disse sobre o Chelsea. Minhas palavras pareciam
curá-la e eu me lembrei do porque ficamos juntos tempo o bastante para
fazer a lista das nossas Top 5 brigas. Claro, ela fez algumas coisas loucas,
mas eu não fui sempre um namorado honesto—se ela estava biruta, eu a
ajudei a ficar assim.
Então eu continuo por uma hora, como um escoteiro novato tentando fazer
fogo de um graveto; há algumas faíscas, mas no final, os olhos mortos de
Daphne se recusavam a dar ignição. Ela descansa uma mão sobre a minha,
me deixando saber que estava tudo bem eu parar de tentar. Eu a prometo
que a visitarei novamente, que ela pode me ligar qualquer hora que precisar
de algo, mesmo se for só para conversar.
"Há uma coisa que você pode fazer por mim," ela diz.
"Eu quero achar meu pai."
Seu pai deixou sua casa quando ela tinha cinco anos. Alguns anos depois,
ele completamente desapareceu da sua vida. Daphne e eu tivemos alguns
debates sobre qual gramado é mais verde, o cara que tem um tipo de pai
que roba dinheiro do filho para levar alguma vadia para lanchar, ou a garota
sem o pai.
"Wow," eu digo.
"Você tem certeza que agora é uma boa hora para isso?"
"Peter?"
"Eu queria dizer algo que eu realmente poderia fazer. Achar um cara que
sumiu do mapa por dez anos, não necessariamente está sobre meu poder."
"Eu vou ver o que posso fazer, você tem alguma outra informação, um
endereço ou um telefone?"
Ou foi mais ou menos isso que expliquei a Tana assim que a Jump Street 21
teve uma pausa comercial. Ela sorri claramente, mas não estou tão certo se
foi o suficiente para tirar minha epifania.
Aquela sexta a noite, eu pego o elevador até o andar de Danny Carr. Seu
assistente Rick está fora do escritório, enrolado com uma máquina de fax.
"Deixa só eu terminar essa ligação. Vocês irão..." Rick coloca sua mão e seu
indicador na frente de sua boca chupando-o enquanto fazia uma mímica de
um tiro.
"Eu não tenho a menor idéia sobre o que você está falando." Rick sorri, ou a
menos tenta.
"Então é assim, huh?" Ele volta sua atenção a uma caixa na mesa.
Um minuto depois, Danny coloca sua cabeça para fora do seu escritório.
"Mas e o fax?"
Rick pega suas coisas lentamente, um homem com alguma coisa em sua
mente prestes a dizer.
"Você decidiu sobre aqueles ingressos?" ele finalmente coloca para fora.
"Sim," Danny diz em uma voz seca.
"Eu não acho que vá acontecer dessa vez."
"Hey," eu protesto.
"Eu não sou apenas um brinquedinho sexual que você pode pegar
emprestado qualquer hora."
"Eu também. Tentei te ligar até descobrir que não tinha o seu número."
"Pena que não posso perguntar a ele essa noite," ela adiciona, "parece que a
banda está em Cleveland. Quão longe é Cleveland?"
"Cleveland, Espanha?
"Eu pareço amolecido sem o meu portfólio," ele continua, sua voz semi-
toneada, uma confirmação e um foda-se aos milionários que nos rodeavam.
Eu imagino quão mal-educados temos de ser para Danny Carr perder todos
os ingressos da temporada. Eu dou a nós alguns minutos para arrumarmos
uma briga aqui e agora.
O pau de Nate é longo, magro e sem pêlos, como tudo mais sobre ele.
Mesmo de uma certa distância eu consigo ver o que parece ser algo
vermelho em seu negócio. Mas Nate não estava olhando para seu pau—ele
estava encarando os ingressos dos Knicks, os quais por alguma razão idiota
eu estava segurando em minhas mãos.
"Os Knicks? Merda!" Nate volta ao quarto, zombando algo como se fosse
'Ricky Ricardo'.
"Oh, Lucy...você tem visita..."
"Talvez se você tivesse avisado antes que estava vindo," ela diz a Nate sem
tirar os olhos de mim.
"Eu não teria marcado nenhum plano com as garotas."
"E eles dizem que o romance acabou," eu finalizo qualquer ameaça de briga
devido a explosão nuclear acontecendo em meu cérebro.
"Eu gosto desse cara," Nate diz a K., colocando seus braços em meus
ombros como um tentáculo.
"Então o que você me diz, homem-erva? Uma noite só para homens?"
"Porque não?"
Quem diabos entra num quarto segurando ingressos?
Eu tento me perder vendo toda ação. O jogo se move tanto rápido como
lentamente, igual na televisão. Em cima, os jogadores pulam e cortam muito
mais rápidos que seu tamanho anormal (ainda mais impressionante de perto)
poderia permitir. Mas o estilo de jogo dos Knicks, curto, rápido e
previsivelmente tentando enganar a defesa adversária toda vez que chegava
à cesta, parecia irritar todos no ambiente. Mas o que não estava ajudando
era seu técnico, que pedia tempo toda vez que os Sonics encestavam duas
vezes seguidas.
"Você precisa ver o cuzão que costumar sentar aqui," eu escuto um cara
atrás de mim dizendo sobre os assentos. Devo soltar um cumprimento de
mão para trás? Alguma maldição por alguma oração? Essa merda realmente
importa? Eu estou procurando por alguma briga.
"Oi," eu digo.
"Você conhece esse cara?" diz um homem sentado ao lado dela, aquele que
eu mirava para uma briga.
"Ele quis dizer acampamento de verão." Liz intercede, "já que Spence era
uma escola só para mulheres."
"Spence era uma escola só para mulheres."
"Acampamento de verão!" eu solto um sorriso.
"Ela era absolutamente imbatível durante as guerras de comida."
"Você tem uma filha adorável," Nate diz para Jack, encarando Liz e subindo
na minha lista de pessoas consideráveis que gosto. Com um projétil.
Eu olho para Liz, esperando ver uma cara de desgosto. Ao invés disso, ela
está mordendo seu lábio, determinada a esconder seus soluços.
"Você é cheio de surpresas, Biff," ela diz, soprando uma nuvem de fumo
sobre seus ombros.
"Mas obrigada por nada, você sabe, apenas colocando para fora. É apenas
nosso terceiro encontro. Muito cedo para dizer a ele que eu tenho meu
próprio traficante. Seu nome não é realmente Biff, é?"
"Careca."
"Rico?"
"Ainda não. Mas eu sei uma coisa. Você poderia ter algo muito melhor que
um médico de paus."
"Eu falo somente a verdade, milady. Eu sei que um monte de jovens idiotas
que estariam honrados em deitarem seus chifres em sua porta."
"Eu não tenho a menor idéia do que isso significa. Era para ser algum tipo de
metáfora?"
A charada de antes foi descoberta por ela no elevador. Nós estávamos rindo.
Lágrimas começaram a cair em nossas faces. Então as línguas resumiram-
se em outro conflito. Minhas mãos estão taticamente na terra prometida,
deslizando entre o suéter e sua camisa apertada. Eu corro minha mão por
debaixo dele, colocando-a contra mim. Ela se entrega e pressiona mais seu
corpo. Eu arrisco um movimento na frente, gentilmente traçando uma linha
em suas calças. Dois dedos pausam entre suas pernas. Eu posso senti-la
molhada através do nylon.
O elevador abre e pulamos para o corredor. Liz me leva pela mão até o seu
apartamento. Ela procura em suas coisas pelas chaves. Eu tento beijá-la
novamente mas ela coloca um dedo na minha boca. Ela abre a porta. Dentro,
uma garota ruiva, quatorze anos talvez, está assistindo TV.
"Nunca esteve melhor," a ruiva responde. Ela já está colocando seu casaco.
Liz a agradece e a entrega algum dinheiro. Gira a chave duas vezes para
trancar a porta atrás dela. Ela se vira para mim como se fosse explicar algo,
mas meus lábios já estão de volta aos dela, minhas mãos novamente
procurando um caminho embaixo de seu cinto. Nós caímos no sofá. Suas
mãos deslizam dentro de meu jeans o mais longe que podem—eu estou
mais duro que pedra e não há exatamente muito espaço na sala para
manusear. Ela usa as duas mãos para descer minhas calças e tirar minhas
botas—problema resolvido. Meu pau pula para fora. Ela se agacha na minha
frente e corre sua língua no meu negócio, começando pela base. Chegando
ao topo, ela se levanta, satisfeita com a visão do todo. Ela retira uma
camisinha de sua bolsa e joga para mim. Eu luto com a borrachinha
enquanto ela tira sua camisa apertada. Ela espera por mim até terminar,
mãos nos peitos, e um pouco de suéter visível para proteger sua modéstia.
Eu vou bisbilhotar no quarto. Tendo pego o suéter e se vestido, posso ver Liz
de frente pelo espelho em um ponto cego. Ela está cuidado de um bebê,
sexo indeterminado nessa distância. A cena no espelho confirma que eu
estava certo sobre a atenção demandada pelos seus seios. Mas eu os perdi
para uma nova audiência. Talvez eu não fui totalmente cheio de merda
durante a minha última conversa com Tana. Talvez não é sobre marcar, mas
sim sobre dar.
10
"Muito bom?"
"Eu não sou nenhum psicólogo, mas você estava chapada. Nós estávamos
chapados. Falando nisso...Não sei quanto a você, mas eu sou um grande fã
de umazinha matinal."
"Eu não sei porque, mas falar isso só faz você se sentir melhor, não faz?"
"Chapada enquanto eu cuidava de minha filha. Enquanto meu traficante
adolescente me comia por trás. Digo...que tipo de mãe eu sou?"
Liz pega o telefone e aponta para mim.
"Você pode ligar para os serviço de cautela infantil? Pois se você não pode,
eu irei. Lucy estaria melhor em um lar para crianças."
"Ela vai ficar com bom humor essa manhã," ela diz.
"Eu espero que você esteja certa," eu digo, mais para mim mesmo e me
dirijo ao elevador.
"Interessante?"
Ela ri para mim com um olhar que eu já havia visto antes, geralmente quando
meu rap está quebrado ou queimado. Você é legal e eu poderia dormir com
você, o olhar diz, se eu fosse algum perdedor sem qualquer respeito próprio,
Qualquer janela que eu tinha com K. agora está fechada.
Poderia ter algum arrependimento na maneira que ela havia dito isso, mas
eu não estava com qualquer humor para ver isso. Eu não conseguia em
pensar em mais nada que não soasse desesperado, idiota, ou somente
patético, então eu continuei até o meu quarto.
Essa bolha de vida que Daphne está envolvida, soa muito mais como a boa
fase dos Beatles que uma má fase e o tão esperado 'Chinese Democracy'
dos Guns and Roses. Na verdade eu me sinto com um pouco de inveja da
sua vida, gasta com personagens coloridos criados por ela, em um ambiente
livre de stress. Talvez não totalmente sem stress—quando meu pai
finalmente ligou para a polícia para desistir das acusações, eles disseram a
ele que ela ainda poderia tentar algum ato criminoso—mas a última conversa
de Daphne com Larry a deixou confiante que não haveria nenhum tempo na
cadeia.
"Eu também não. Talvez algum dia com computadores e outros tipos de
informações nós poderemos saber. Até lá, nós temos as páginas brancas,"
Ele olha uma lista telefônica toda molhada. Minha temperatura aumenta até
atingir a da sala.
"Você nunca ouviu a navalha de Occam? O caminho mais perto entre dois
pontos é uma reta."
"Mas que merda? Então do que você chama essa coisa dos dois pontos e a
reta?"
"Só estou dizendo que fica mais fácil. Aliás. Eu não acho que nenhum dos
Robichauxs mortos, sejam o que a gente procura. Muito novo, muito preto,
muito velho. Você disse que ele é um cara branco, certo?"
"Fico feliz em ver que você estava prestando atenção. E enquanto aos
Robichauxs vivos?" Head balança a cabeça e volta para seu caderno.
"Um deles está na cadeia por homicídios. Mas eu não acredito que seja ele
já que ele matou toda sua família. Sua garota continua viva, certo?"
"O outro está servindo...Alemanha. Eu fiz uma ligação para ele. Longa
distância—você verá quando chegar a conta. Mas pelo resto...'squadoosh'."
Head junta suas mãos como um mágico. Outro gesto irônico.
"Certo, assumindo que isso seja verdade, onde isso nos deixa?"
"Como é?"
"O que eu posso te dizer? Às vezes temos que lidar com os problemas de
mãos vazias."
11
Após fazer minha entrega regular de sexta-feira à noite para Danny Carr, eu
pego o trem de volta à ilha. É a primeira vez que volto para casa depois que
mudei para a cidade. Desta vez, ninguém acordou para me dar felicitações.
Mas eu me sinto bem em dormir na minha velha cama. Quando eu acordo,
minha mãe já está na cozinha. Sento na mesa enquanto espero minhas
panquecas.
"Tenho certeza que ele só queria que você ficasse são e salvo," minha mãe
diz sem olhar para ele.
"Querido, você por favor pode me passar o mel?"
"O quê? Você não acredita? Ligue para Harv e pergunte para ele."
"O que você quer dizer com se o telefone dele está funcionando?"
"Quero dizer que, se o telefone dele estivesse funcionando, você teria ligado
avisando. Ou chamado um táxi."
"Como se eu precisasse dessa merda mo começo da manhã," meu pai grita.
Bem vindo de volta à casa, moleque. Felizmente Tana me liga, dando uma
desculpa para voltar ao quarto.
"Algo parecido." Tana parece ansiosa de um jeito que eu não podia imaginar.
"Eu não estarei aqui. Estou indo no Dottie cortar o cabelo, fazer manicure. Ah
é, e uma massagem."
"Te vejo hoje a noite." Ela desliga o telefone, o 'adeus' parece ter vindo do
mesmo jeito que o 'oi'.
"Claro," eu respondo.
"É sobre o dinheiro que você pediu emprestado?"
"O que você quer que eu diga? 'Não faça isso?' Parabéns?'"
"Eu não estou com raiva, nós dois sabemos que a mãe merece alguém muito
melhor que você. Espero que essa vadia que você está pegando esteja
funcionando, mas conhecendo você, provavelmente não está."
"Janine, o nome dela é Janine. Nós não queríamos que chegasse a isso..."
Ele levanta seu corpo, olhando para mim como se tivesse algo a mais a
dizer. Após um ou dois falsos começos, ele dá um tapa no meu ombro e sai.
Eu passo o resto da manhã escondendo no meu quarto.
Quando é hora de ir para a festa, minha mãe insiste que eu saia de carro
com meu pai.
"E onde nós vamos," ele diz, ligando o carro, "para mais uma festa de
sonegação de impostos feitas por Larry Kirschenbaum."
"Sufganiot?" ela pergunta. Sua voz é rouca. Eu posso imaginá-la, trinta anos
mais à frente, jogando canastra com um longo cigarro marrom dançando na
sua boca. Estranhamente. Eu não acho isso broxante.
"Gesunheidt," eu respondo.
Eu devo admitir que brincar com umas das Kirchen-fêmeas duendes era uma
fantasia de muito tempo minha. No passado, elas pareciam remotas e
inatingíveis, como super-modelos. Mas agora que eu passei algum tempo
próximo a algumas modelos, uma duende da ilha não me parecia muito
desafiadora.
"Uh, oi," ela diz, irritada já que eu não me incomodei em me virar. Meu
queixo cai imediatamente no chão quando finalmente me viro.
Tana definitivamente é algo que se deve olhar. Um curto vestido preto faz
com que os seus já formidáveis seios ficassem mais que memoráveis
naquele decote. E Scarpin. Tana nunca usa Scarpin.
"Quem você está tentando impressionar? Bono está vindo esse ano?"
De fato, a maioria das pessoas não chegavam aos seus pés, suas faces
formavam um contínuo entre 'cobras mortas' e 'cachorros mal-encarados'.
E então ela parte a multidão, traçando seu caminho até os dois casais. Vejo-
a se apresentar. Assim como meu pai, que olha para mim com uma
expressão indeterminada entre raiva e confusão. Eu o saúdo com meu copo,
que descobri estar vazio. Levantando do sofá, eu retorno ao bar e peço um
Scotch. Dottie, a mulher que estava conversando com minha mãe, me
chama.
"Eu estava aqui escutando sobre o seu trabalho," Dottie começa a conversa.
"E vivendo na cidade. Talvez você possa ajudar minha Tana a achar um
emprego quando ela finalmente terminar o colégio."
"Ela tem o seu olhar, Dottie. Ela não precisa da minha ajuda."
"Oh você," Dottie diz, acariciando minha mão como um gato robusto.
Minha mãe, em contraste, está com um olhar petrificado.
Eu olho para Tana. Ela está sendo encoxada pelo semi-famoso rapper, mas
não está reclamando.
Tana me empurra.
"O que há de errado com você?"
"Você deveria estar. Ele disse que nós poderíamos andar por aí juntos."
"Minha mãe parece estar muito fora de si," eu digo, olhando pela sala
procurando por ela.
Ela ainda não voltou da cozinha.
Eu repudio.
"Hey...você não tinha algo importante para me dizer sobre hoje a noite?"
Já estávamos indo para o bar quando Dottie nos parou. Uma mascara está
escorregando de seu rosto.
Dois minutos depois eu estou no segundo andar, gritando pelo meu pai,
abrindo várias portas. Finalmente acho o velho no quarto de Dottie, onde ele
e Janine estão se pegando como um casal de adolescentes. Ele levanta sua
mão como sinal de frustração. Janine esconde à frente de seu corpo devido
a seu vestido erguido.
12
Rapidamente percebo que a parte do problema para o Dr. Win não era a pior
condição da minha mãe, mas a falta de qualquer evidência para suportar seu
diagnóstico. Após uma bateria de exames e testes, o tumor substancialmente
se recusa a se apresentar.
"Ela por acaso vive com alguém que fuma?" ele pergunta, obviamente se
referindo aos dentes e dedos nicotinados de meu pai.
"Pode ser também asbestos. Quão velha é sua casa?"
O trabalho do Dr. Win está acabado. Nós fomos até o melhor doutor em
Oncologia, o qual Dr. Win nos avisou ser um pouco irritante, pelo seu senso
de humor.
"Noventa porcento desses casos não passam dos cinco anos," ele começa,
antes de lançar uma viva descrição da agressiva terapia de radiação que ela
estava prestes a suportar.
O estado emocional de minha mãe varia de acordo com seu tratamento. Mas
o sentimento que eu tenho por ela está longe de ser alívio. Ela insiste para
que eu volte ao trabalho.
"Volte para sua vida. Não é saudável para você estar aqui."
Então eu vou. Apesar do frio e gelado inverno, a cidade está cheia e viva. É
quase véspera de Ano Novo, então as crianças e os colegiais estão de férias
da escola. Os negócios estão bombando, o que eu fico grato. O constante
movimento me deixa anestesiado.
Tana me liga todo dia. A maioria do tempo não retorno. Não estou a fim de
conversar. Mas ela quebra minha resistência com uma oferta de uma
refeição feita em casa, entregue no meu quarto no Chelsea.
Eu a encontro na Estação Penn, onde ela sai do trem carregando duas
vasilhas de alumínio e um pequeno cooler.
"Você não está congelando? Assim você não vai querer o sorvete."
Percebi nessa hora que pela primeira vez desde a festa no Natal, Tana
estava usando maquiagem. E apesar dela não ter imitado o decote
dramático, ainda estava ótima em um jeans desenhado e um suéter apertado
que não escondia nenhuma de suas curvas.
"Eu declaro, senhorita Kirschenbaum, que um dia você irá fazer um desses
homens que você gostaria de sair muito, muito feliz."
Tana se aborrece.
"Eu estou cansada de homens e suas desculpas."
"O...qu...que...nunca?"
"Eu estava meio que pensando," ela diz, sua voz se aproxima de um
sussurro, "que talvez você deveria me iniciar."
"Você está levando isso para o lado errado. Você é brilhante, uma mulher
incrivelmente sexy, Tana Kirschenbaum. Mas você também é minha irmã—
talvez não de sangue, mas você sabe o que quero dizer. Sexo para mim é..."
"Eu posso fazer isso," eu digo. Tana coloca de volta um prato e pega sua
jaqueta na cama.
"Podemos conversar sobre isso?"
13
"Então o que você tem a me dizer, Ernesto? Que eu sou idiota? Que amor é
impossível? Que eu sou um gringo estúpido os quais os problemas não
significam merda nenhuma?"
"Isso é bonito," diz uma voz atrás de mim. É K. Ela parece que tinha chorado.
"O que isso significa?"
"Eu tenho quase certeza que ele disse 'Deus odeia todos nós.'
Mas eu larguei o espanhol, então quem sabe ao certo. Você está bem?"
"Bem, puxe uma cadeira, minha senhora. O clube dos corações solitários
está começando a sessão."
Eu digo a ela tudo que aconteceu sobre Tana e minha mãe, adicionando que
estou muito quebrado para ficar bêbado.
"Pobre criança," ela diz.
"Deixe-me cuidar de você."
Nós ordenamos outra rodada para Ernesto, que francamente parecia aliviado
de parar de conversar comigo. Eu digo a K. sobre a festa de Natal e o
hospital. Ela me diz sobre o término com Nate.
Ela tinha oferecido o que ela chamou de "obscena" quantia de dinheiro por
duas semanas de fotos no Sudeste da Ásia. Victoria Secret havia começado
uma nova campanha publicitária por lá e K. havia sido escalada, já que ainda
tinha devotos e homens asiáticos seguidores. Ela tinha a intenção de largar o
trabalho—o dinheiro iria ser bom, mas ela não precisava dele, e ela queria
mesmo voltar para a solidão, mesmo que fosse por duas semanas? Mas
então ela contou a Nate sobre a oferta, ele pirou.
"Tally o quê?"
"Taleju. É o nome napalês para a Deusa Durga. Totalmente foda. Ela tem dez
braços e carrega espadas e tal. Ela cavalga uma porra de um tigre."
Ray aplaude.
"Eu não estou dizendo que ela é Durga. O ponto é que Devi—esse é o nome
dela—foi escolhida diante de milhares de mulheres para ser a encarnação de
Durga."
"Exatamente! Só que muito mais difícil. Ela deve ter o que eles chamam de
'As trinta e duas perfeições.' Uma voz suave e rouca como um pato. Um
peito como uma leoa. Um pescoço como um concha."
"Toda vez que eu tento levar você a sério, me lembro que você está
drogado."
"Eu estou sendo totalmente sério, cara. Por dez anos, seus pés não foram
permitidos tocarem o chão. Alguns caras a carregam para todo lugar em um
daqueles, você sabe, aqueles carrinhos de mão. Pessoas se alinham para
tocá-la—a porra do seu pé!—para dar boa sorte. Até mesmo o rei de Nepal,
uma vez ao ano fica de joelho e beija aquele chulé."
"E você acha que ela vai querer algo com um mortal como você?"
"Essa é a melhor parte. Ela não é tecnicamente mais uma Deusa. Taleju
significa 'virgem.' No primeiro momento que ela, você sabe, sangrar, a
divindade acaba—Durga deve achar para si mesmo uma nova hospedeira. E
Devi? Um dia ela é uma Deusa, no outro ela é uma mulher com sérios
problemas de personalidade. Ou o que eu gosto de chamar, uma casa que
gira!"
"Você é um tipo de cara fodido, Ray."
"Eu sei. Mas o que eu posso fazer? Ele tende para o mau."
"Coréia!"
"...para ver uma Deusa do Nepal que...por quê ela está na Coréia mesmo?"
"Ela é uma modelo. Vicky a contratou pela mesma campanha que K. está
fazendo. Por isso iremos a Coréia. Você pode surpreênde-la. Mulheres
amam essa merda. Sobrecarrega seus cérebros em um nível tão alto, que
elas só conseguem pensar com suas bucetas."
"Por mais tentador que possa ser colocar K. numa brincadeira de sexo com
uma zumbi, eu exatamente não tenho fundos internacionais para essa
viagens."
Ray ri.
"Você não acabou de dizer que é um traficante?"
"Eu falo de legítimos homens de negócios. Um amigo meu faz isso todo o
tempo. Documentos importantes—merdas de contratos. Você leva dez
minutos para despachá-los, o resto da viagem fica de graça."
"Você está perdendo algo," ele diz com uma voz estúpida.
"O Fuso-horário internacional."
"Soletrar isso para quem largou o colégio e que nunca foi mais longe que o
Canadá."
"Nem você comer K. Mas veja como aconteceu." Ambos nos viramos para a
pista de dança. K. nos pega olhando e ri de volta, rodando seus olhos para a
entusiasmática interpretação de Mc Hammer do seu parceiro.
14
Após o encontro, eu passo em uma agência de turismo que parece ter sido
invadida por uma multidão nova iorquina. Uma doninha usando listras
verticais fareja exóticas cidades, que soavam vagamente familiares. Onde
diabos é Machu Picchu? Igreja de Cristo? Eu conheço um vídeo-clipe que
dizia que uma noite em Bangkok pode "fazer um homem durão desmoronar,"
mas isso não quer dizer que eu possa achá-la em um globo. Seoul, Coréia,
fica a três-quartos abaixo da lista, custando $599, bem fora do alcance
financeiro. Mas a placa na janela prometia fotos para passaporte, cartões de
imunização, e comissárias de bordo. Dez minutos, cinco páginas perdidas, e
noventa e nove dólares depois, eu deixo a agência com instruções para
pegar um passaporte e encontrar com um tal de Mr. Yi, nessa sexta às oito
da noite, em frente ao Coréia Aéreos no aeroporto Kennedy. O agente me
avisa para não atrasar.
"Eu não acredito que estou indo amanhã," ela diz depois, no nosso pós-coito.
"Eu não quero te deixar sozinho."
Eu quero contar a ela tudo: sobre minha viagem surpresa; sobre meus
sentimentos por ela. Mas então ela sobe sobre mim para outra rodada.
"Dobro? Eu não sei nem se posso entregar o regular. Você não me avisou
exatamente quando ia voltar."
Eu ligo para Billy e digo que não posso ir trabalhar, usando a condição de
minha mãe como desculpa. Uma hora depois, eu estou no trem para Long
Island, passando Levittown para Hamptons. Eu deixo a estação entrando
num frio molhado e constante, e pego um táxi até o endereço que Danny me
deu.
Quando eu toco a campainha, sou recepcionado por uma distinto idoso que
poderia ser o presidente Bush, mas ele usava algo mais parecido com uma
banana amassada.
"Ei!" diz o velho. Ele fala com sotaque pesado. Alemão eu acho.
"Você é ele? Você é mais velho do que eu pensava."
"Vá com calma Hans," diz Danny, que aparece atrás vestindo, o que estou
feliz por ver, um modesto traje de banho.
"Volte para a sauna. Eu te aviso quando o entretenimento chegar."
Hans se vira e desaparece no fundo da casa, mas não tão rápido o suficiente
para salvar meus olhos da confirmação que, sim, seu traje de banho é uma
tanga.
"Certo, certo, certo, certo," Danny diz. Ele desaparece de volta na casa,
retornando um momento depois com três mil dólares em dinheiro.
Numa sexta à tarde, apenas algumas horas antes do meu vôo para Coréia,
eu consigo o pacote de Danny. Eu carrego minha jaqueta com mais de dois
quilos de erva e pego o ônibus para o centro. Quando eu chego ao escritório
de Danny, o segurança está fora da sua mesa. Sussurrando, eu me
apresento como "Mr. Green" e caminho até o elevador. Quando a porta se
abre novamente, eu dou de cara com dois policiais. Todo instinto que eu
tenho me diz para correr. Mas a simples geometria da caixa do elevador dita
outra coisa. Além do mais, eles estão olhando diretamente para mim.
Eu manejo algo que espero ter sido um sorriso. Minha alta temperatura
poderia dar ignição aos dois quilos de marijuana na minha jaqueta, fora o
aroma inconfundível, eu certamente, estava sendo enforcado naquele
instante. Definitivamente eu iria para a cadeia.
Em contraste com meu show de horror interno, Rick parecia relaxado, talvez
até sonolento, como se estivéssemos assistindo atores filmando um
daqueles episódios do Policiais na Tv. Ele estava prestes a dizer algo mais
quando Danny foi escoltado para dentro do seu escritório, um homem sóbrio
em um casaco cinza o envolveu pelo braço.
Danny olha para mim como se eu não estivesse lá, um gesto que eu
rapidamente percebi estar agradecido.
"Você talvez deva guardar um pouco desse romance para seu companheiro
de cela," Rick responde.
Danny contra-diz.
"Qual cela? Você acha que algum colarinho apodrece na prisão? Pior lugar
para tirar férias é um clube country, seu retardado, cara de cu ignorante."
"Eu não teria tanta certeza disso," diz outro homem de casaco, reparando
sua postura e atitude, ele é o homem no comando. Ele segura o vaporizador
de Danny em sua mão.
"Eu já identifiquei pelo menos três tipos de narcóticos Classe A em seu
gabinete lá atrás. Seu colarinho branco irá parecer muito mais sujo para o
juiz. Espero que você tenha um bom advogado Danny."
O homem no comando se vira para um de seus comandados.
"Limpe uma dessas mesas, certo? Junte todas drogas e essas parafernálias.
O jornal irá querer uma foto."
E então ele se vira para mim.
"Quem diabos é você?"
"Eu não acho que Danny vai estar disponível para seu encontro," Rick diz.
"Deixe-me acompanhá-lo até o elevador." Ele está prestes a dividir algo.
"Esses alemães que ele insiste em encontrar?" Ele diz assim que estávamos
fora da visão da polícia.
"Trazendo dinheiro do Irã. Malditos comunistas."
"Tanto faz. Hey, eu sei que você era o traficante dele, mas por mais que isso
importe, as drogas eram fracas. Viva e deixe viver, certo? Maldita erva.
Quem ainda fuma essa merda? Agora se você puder me arrumar um pouco
de pó..."
Ele grune.
"Merda ao quadrado."
"Você não gosta, você ache outro táxi," ele diz, virando seu rosto para mim.
"O culpado!" ele grita depois de mim, subindo em cima do capô do táxi
parecendo um policial fora de si.
Ele se aborrece.
"Isso não cabe a mim decidir."
"Ok, o túnel."
"Quanto?"
"Você está bem?" pergunta uma mulher por de trás do caixa. Ela é Coreana,
aproximadamente com uma idade média, vestida com o uniforme da
empresa aérea que eu supostamente deveria estar voando.
"E você perdeu seu vôo?" ela pergunta, segurando uma caixinha de lenço.
"Eu supostamente deveria encontrar o cara com minha passagem aqui, mas
meu táxi sofreu um acidente e cheguei atrasado." Eu aceito um lenço e seco
meus olhos. Meu cérebro não está mais controlando minha língua.
"Há uma coisa que eu posso fazer para você," ela diz.
"O avião não está cheio. Eu posso vender a você um assento."
"Eu não tenho muito dinheiro."
"Eu posso tirar uma taxa aqui, outra ali, claro, devido a situação da sua mãe.
Você pode pagar trezentos e cinquenta dólares?"
Eu aceno que sim—ainda tenho mil dólares sobrando do meu acordo com
Danny. Após checar meu passaporte, ela rabisca uma série de números e
letras na minha passagem.
"Segunda de manhã?"
Eu dou uma fungada no ar. E imediatamente me veio que o que ela estava
cheirando eram os dois quilos de marijuana que ainda carregava em meus
bolsos. Peço licença para ir ao banheiro, onde eu jogo dois mil dólares
pesados em drogas pelo vaso.
15
"Ela é a melhor," eu olho para o relógio atrás dele, que demonstrava a hora
local de 15 horas.
Eu deixo o terminal para uma tarde sem sol, onde sinto como se estivesse
dez graus mais frios que eu havia deixado para trás. A chuva é inevitável.
Por sorte, o táxi estava aonde eu esperava que ele estivesse, de fora um
homem com um casaco preto me escoltou até um carro esperando. Mais a
frente chegamos a algo parecido uma pista de pouso, branca, brilhante e
limpa, uma miniatura de Manhattan como nos Jetsons.
Após quarenta minutos, nós paramos em um semi-círcular caminho em
frente ao Four Seasons. O motorista aponta para o taxímetro, que havia
acabado de quebrar, $11,000. Eu esfrego meus olhos para ter certeza de que
estava lendo o taxímetro corretamente. Eu seguro o retrato de Andrew
Jackson.
De fora, o taxista aceita a exata quantia medida com o mesmo sorriso que
ele ficou durante toda viagem. Eu dou uma nota de $5,000 para o ajudante
do hotel—os zeros extras me fizeram sentir como Donald Trump. Eu entro
novamente no hotel, desta vez mais devagar. Ray está esperando por mim,
com suas mãos ao redor da mulher de cabelo preto. Decido naquela hora
que as trinta e duas perfeições "pele como um sorvete delicioso" e "as
pernas de uma Rockstar" pertenciam realmente a ela.
"Você deve ser Devi," eu digo, estendendo minha mão. Ela me dá a dela e a
estende como se quisesse que fosse beijada, é o que eu faço.
"Primeira vez que beijo uma Deusa."
"Vocês americanos são mau meninos," ela diz, não com cara de
desaprovação.
"Ray e eu estávamos prestes a tomar um coquetel no bar. Quer se juntar a
nós?"
"Não, Segunda."
Ray concorda e parece que iria dizer algo mais, mas Devi interrompe ele.
"K.?" Ela está na nossa suíte." ela diz. A mudança no seu sorriso é fracional,
mas transforma sua mensagem de benevolência para algo mais misterioso.
Eu posso ver o porque dela ter sido a provável Deusa.
"Oh, é quase mágico," Devi diz, agora feliz como uma adolescente.
"Seu namorado a surpreendeu. Ele debulhou pétalas de rosas por todo o
corredor..."
"Um colar?" Eu me viro para Ray. Ele olha para mim com uma simpática
empatia, como se ele acabasse de ter visto alguém chutar minhas bolas.
"Onde eles estão agora?" Um olhar para Devi, e eu posso dizer que me fiz
parecer com mais raiva do que sentia.
"O número do quarto? eu pergunto, me fazendo parecer ainda com mais
raiva.
"Eu acho que já falei muito," diz Devi, claramente assustada com a visão dos
meus olhos.
Eu foco na pequena bolsa de mão que ela agora prende em seu peito.
Grilado o suficiente para roubá-la de uma Deusa. Eu puxo a bolsa da mão
dela. Devi se assusta. Ray estava pausado, pensando em me abraçar ou me
socar no queixo. Eu vasculho rapidamente na bolsa, minha mão emerge com
a sala do quarto.
"Algum quarto."
"Escute," eu digo.
"Eu viajei quase sete mil quilômetros para ver um de seus hóspedes."
"Você é bem-vindo para usar o telefone do hotel," ela diz, seus olhos estão
nervosos e vidrados no cara do sumô. Ele vai embora. Eu decido aceitar o
convite dela e usar o telefone. Eu disco o número do quarto de K. Após
alguns toques alguém atende e—antes que algum de nós pudesse falar uma
palavra—a chamada cai. Eu disco novamente. Dessa vez toca quatro vezes
antes deu ouvir a voz de Nate na linha.
"É, deve estar toda fodida, eu sei. Mas eu tentei avisar você naquela noite.
Rock Stars são como mestres vudus. Digo, veja Billy Joel. Ele é casado com
Chirstie Brinkley. Christie Brinkley? Você está zuando?"
"Para mim sim, mas Devi...eu não sei se você fez uma boa impressão."
Eu espiono a ex-Deusa do outro lado da sala. Ela me encara de volta com
uma fúria sombria. Eu rapidamente desvio o olhar.
"Aliás," Ray continua.
"Nós estávamos prestes a fazer toda aquela merda sexual e tal."
"Boate?"
"Não derrube a idéia até você ter tentado, cara. Boates—esse é um fato
certo—são cheias de vadias excitadas. Vadias excitadas de férias não ficam
em seu julgamento normal. Um cara bonitão como você vai se dar bem com
o mínimo de esforço, digo esforço zero, a menos que você tenha o sovaco
raspado e alguma privacidade."
16
"Eu acho que você é igualmente cheio de merda assim como o homem mais
interessante que eu já tive conhecido," eu respondo.
"Mas ainda assim, eu acho que você ficou com medo um pouco demais."
O quarto dificilmente pode ser chamado de quarto após ter ido ao Four
Seasons—um pequeno, cubículo de madeira, muito em comum com uma
cabana. Eu me dirijo para um dos quartos mais baratos, onde nele há duas
camas velhas. Jogo todas minhas tralhas da viagem em um canto, e então
me deito na cama mais distante da porta. O sono vem rapidamente, mas não
dura muito: Duas horas depois, eu acordo tremendo. Ou a tremedeira me
acorda. Eu abro os olhos para ver Ray. Ele cheira a álcool.
"Estava. O que você está fazendo aqui? Não deveria estar transando com a
Deusa agora? Fazendo toda aquela merda e tal?"
"Sinto muito por isso. Eu acho que isso nos deixa quites, senhor 'fuso-horário
internacional' fodido."
"Você deveria me agradecer. Imagina se você tivesse que ficar todo o fim de
semana aqui. Vamos embora beber. É por minha conta, filho da puta."
"E quanto a nós?" pergunta uma voz britânica. Nós vimos o homem
Britânico, sentado em um estilo indiano em um banquinho do outro lado do
quarto.
"Eu gostaria de ficar bêbado." aparece uma voz atrás de mim. Ray pula da
cama, descobrindo a cabeça do poliglota debaixo do lençol.
"Onde nós iremos beber?" diz Janie, uma grandona Americana com cintura
fina e óculos fashions. Ela está segurando um envelope.
"O que eu você vai fazer com essa quantidade de ácido?" pergunta o
poliglota.
"O que eu quiser," Janie diz.
Janie releva.
"Cada um de vocês pode pegar um tablete."
Do envelope ela puxa uma carta grande enrolada em pequenas caixas, cada
uma pintada com uma estrela azul. E, eu imagino, um amplo serviço de LSD.
O britânico e o poliglota aceitam seus pequenos tabletes, colocando-os em
suas línguas. Janie se vira para Ray e sorri.
A palavra "puta" parecia demolir qualquer objeção que Ray poderia ter.
Alguns minutos depois, nós cinco estávamos em um táxi indo para Itaewon,
a versão de Seoul para um distrito vermelho. O poliglota—cujo nome
verdadeiro é Gene—usa a pequena viagem para explicar como ele chegou a
esse novo estado da vida. Ele estava em uma missão religiosa na Indonésia,
com sua esposa e recém-nascido, quando ele presenciou um "Acordar."
"Eu apenas me dei conta que estava vivendo uma vida que eu supostamente
não deveria estar vivendo," responde Gene.
"Porque você é um desertor," diz o Britânico.
"Eu não sou um," Gene diz, olhando diretamente para Ray.
"Além do mais esse aqui possui toda essa merda que eu sempre quis."
"Eu tentei manter contato no começo. Mas depois de um tempo eles não
estavam tão interessados em ouvir notícias minhas. Eu acho que todos
seguimos em frente."
Quando o táxi chegou no Suzie, ninguém exceto Ray podia achar a carteira.
A minha aparentemente foi roubada enquanto eu dormia na cabana. Eu
fiquei um pouco consolado devido ao fato de que o ladrão ignorou meu
passaporte e a passagem de volta.
Janie responde.
"Meu palpite é que eles provavelmente estão odiando isso. Mas não Suzie.
Sem eles, ela estaria fora dos negócios. Homens Coreanos possuem rédeas
curtas. Eles esperam que suas mulheres sejam boas 'hausfraüs', vestidas
todas como pin-ups e que fiquem em casa na cozinha. Se eles virem alguma
mulher Coreana agindo desse jeito, provavelmente farão alguma merda."
Ela disfarça graciosamente e muda sua atenção para outro grupo, soldados
Americanos que pareciam prestes a acabar com o mundo àquela noite.
Ray zomba dela. Ele pega um dos pequenos copos que acompanham a
garrafa, enche com a bebida amarela, e torna tudo. E então ele se serve com
outra.
Janie se afasta.
"Ohhh!"
Quando Suzie reaparece, ela está de mão dadas com uma dançarina que ela
escolheu, parecia, especialmente para Ray.
Ray continua na pista de dança sem olhar para trás, usando sua mão que
não estava atracada em Sunny para mostrar ao Britânico seu dedo do meio.
"Impressionante."
"Me chame, então. Vamos. Seu amigo disse que está tudo bem."
Ray retorna para a mesa somente para deixar suas coisas e tornar um pouco
do laranja. O resto do tempo, ele e Sunny são o rei e a rainha de seu baile de
formatura. A música de Steve Winwood na caixa de som está totalmente fora
de contexto, mas isso não impede Ray de fazer sua coisa de 'Febre de
Saturday Night', deslizando Sunny até o chão e a puxando bruscamente até
seus ombros. Os soldados aplaudem. Gene e o Britânico estão tão ocupados
com sua conversa que nem notam; alguma discussão sobre uma
conspiração mundial envolvendo algo chamado de Grupo Bilderberg.
"Não."
Eu examino o rosto de Janie por sinais de culpa. Ela me encara de volta com
olhos de LSD, gêmeos rodeados de chacota, fogo e extinção,
sarcasticamente me lembrava dos azuis radioativos de K.
Nós terminamos os amarelos e os laranjas e, depois de um parlamental
debate zombativo sobre os méritos de cada um, pedimos e drenamos outro
laranja. Estávamos verdadeiramente chapados, entretanto para ser honesto,
os três viajantes-do-ácido estavam lidando com a embriaguez muito melhor
que Ray e eu.
Eu olho sobre a mesa para os soldados, todos quietos mas preparados para
explodirem a qualquer momento em risadas, violência, ou os dois. Uma
nervosa olhada no Motorola me diz que são quatro da manhã: Meu vôo de
volta parte em cinco horas. Eu começo a rezar silenciosamente. Não quero
ser detido. Por favor Deus, me deixe pegar o avião.
Nós vagamos para fora. A chuva foi embora, mas a rua ainda continua
molhada. O ar parece limpo. As estradas estão claramente vazias, salvo
alguns homens assustados que passavam em suas scooters, sobreviventes
do círculo de bebida que eu testemunhei mais cedo.
Gene quebra seu papel e vai para na frente de Ray e Sunny. Ele tagarela
como um homem louco.
"Eu vou ver vocês dois tran-sando?"
"Devi me disse para cancelar o quarto. Pois eu estava com ela , certo? Por
quê desperdiçar toda essa grana quando eu poderia estar cuidado de
alguma família em Nepal? Algumas vacas durariam quase dois
invernos...Aquela maldita puta!"
O Britânico os alcança.
"Eu falo sério, colega, você não vai levá-la até o lugar que estamos."
O motorista encara assustado as seis figuras em seu banco traseiro. Ele está
ainda mais preocupado quando nós dizemos a ele para ir a Casa de
Hóspedes Superior.
"Vocês são loucos," o motorista diz, sua voz claramente cantava sua
experiência.
Ray procura por sua carteira—uma tarefa difícil, devido a confusa puta
Coreana em seu colo.
Gene, que empurrou o Britânico dentro do carro para ganhar o direito de ficar
próximo a Ray, parecia concordar com ele.
"Ele está certo. Isso é contra as regras. Você deveria deixá-la ir."
Gene segura as bochechas de Sunny em seus dedos e diz diretamente para
seu rosto.
"Você deveria ir."
"Tire suas malditas mãos dela," Ray diz, quando finalmente tirou a carteira
de seu bolso.
"Eu vou quebrar essas merdas de dedos."
"Não estou."
Agora os freios estão gritando. Nós fomos jogados para frente por um
momento. O motorista está gritando para nós.
"Sem dinheiro?!"
Todos os olhos se viram para Ray. Ele abre sua porta e sai com Sunny. O
restante de nós rapidamente o acompanha.
Nós estávamos na rua que mesmo meu pequeno tempo que estou em Seoul
me sentia vagamente familiar—verdadeiramente parecido com minhas
caminhadas noturnas. Janie renova seus braços entre os meus.
Eu olho sobre meu ombro para Ray, que estava de mãos dadas com Sunny.
Seus olhos estavamo cobertos com um pânico desenhado.
"O que você me diz, Ray?" Eu me escuto usando uma voz delicada, como
um negociante falando para alguém prestes a pular.
Ray chuta ele novamente, dessa vez nos rins. A força faz Gene escorregar
pelo chão, alguns metros até uma parede. Ray encurta a distância. Eu solto
Janie e pulo em frente de Ray, enrolando meus braços em sua cintura o
derrubando para o chão. Eu o seguro lá enquanto ele se mexia
desesperadamente, com seu ego inchado para continuar a luta. Nós
continuamos medindo força eu não sei por quanto tempo até seu corpo
desistir, a raiva sucumbia como um espírito sumindo. Gene senta na calçada
segurando seu nariz quebrado. A frente de sua camisa está vermelha.
Sunny se vira e vai embora. Ou eu pensei que tivesse ido, até que ela
começa a conversar com um homem de terno. Ele empurra ela para o lado.
Eu ainda não entendia as palavras e tinha minhas dúvidas se elas foram
pronunciadas diferente, mas ainda sim, implorar parece igual em todo lugar.
"'Gostar' não é a primeira palavra que me vem à mente. Mas certamente foi
interessante."
"Sem bagagem."
"Sem bagagem?"
"Qual o problema de vocês com essa bagagem? Ninguém pode vir só para
fazer uma visita?"
"Essa foi uma visita social," eu digo, dando uma espiada para o soldado
adolescente segurando uma metralhadora que estava do nosso lado. Ele
parecia muito menos o urso Teddy que a versão de ontem.
"Eu não quero parecer impaciente, mas meu vôo parte agora mesmo."
Seu sorriso não parecia sincero. Por quê eu quis bancar o esperto com essa
merda toda de "comerciante internacional"? E se eles acharem toda a merda
que eu dei descarga no caminho até aqui? Imagens de Coreanos me
revistando e todas formas de torturas passam diante meus olhos. E se eles
me fizerem passar por um detector de mentira, e se perguntarem se sou um
traficante?
17
Eu durmo por oito horas. Não me sinto renovado, exatamente, mas eu irei
melhorar. Eu tiro um momento para refletir sobre minha situação. Quebrado.
Coração partido. Mãe doente e morrendo. Eu quase posso ouvir os violinos.
Vamos cair na real, eu digo para mim mesmo. Por acaso eu mesmo criei
essa infelicidade? Talvez Tana estava certa sobre o karma. Eu realmente
espero algum favor do universo após vergonhosamente explorar a doença da
minha mãe para conseguir uma passagem de avião? Quando meu plano foi
roubar a mulher de outro cara?
2. Tana. Minha melhor amiga, minha irmã de outra mãe—então como eu fui
tão cego pelos sentimentos dela? Resposta: Eu sou um cuzão.
3. Daphne. Claro, ela é doida, mas quanto disso é minha falta? Eu a traí e
menti sobre isso. Provoquei argumentos e coloquei combustível no fogo. Fiz
ela se sentir errada, mesmo quando soube que eu não estava certo. Ainda
roubei a fantasia dela sobre o Hotel Chelsea e a fiz minha. Supostamente
deveria ajudar ela a encontrar seu pai; ao invés fiquei procurando sexo com
super-modelos.
4. K. tentou sabotar seu relacionamento por nenhuma outra razão que meu
próprio libido. Tomei vantagem do término dela e entrei em ação.
27. Pai.
"Você mereceu um pouco de boa vontade. Mas essa boa vontade vai ser
cobrada. E você está perto de ser cobrado."
"Entendido, Billy."
"Não há ninguém que poderia me dar uma carona?" Billy desliga o telefone.
Eu penso em ligar para Tana, mas eu não conversei com ela desde aquele
jantar. Há apenas uma opção real. Após uma confusão com a recepcionista
do sistema de ligações, eu consigo falar com meu pai.
"Você está bem? Onde você está?" Ele quase parece preocupado.
"No aeroporto."
"Kennedy ou La Guardia?"
"Sim, por favor." Eu fumei meu último Camel em algum lugar no Oceano
Pacífico. Meu pai me passou o maço e, quando o acendedor estalou seu
barulho, ele gesticula para eu acender o cigarro primeiro.
"Que você está no caminho para ser um grande cuzão como eu."
"Eu sei. Eu sei que não tenho sido muito bom em visitas, mas eu tentarei
fazer as coisas melhor agora."
"Agora não vai ser tão longo, é tudo o que eu digo. Nós temos algum destino
real para ir?"
"Eu tenho o seu dinheiro. Então onde diabos você estava aliás?"
"Acho que você vai ter que terminar ela outro dia," ele diz, me entregando
cem pratas.
"Talvez tomando umas duas cervejas."
Ele muda seus olhos para uma face que ele provavelmente aprendeu na
escola de medicina no dia que estudou sobre “Como Lidar com Pacientes
Terminais e Suas Famílias”.
"Eu gostaria que pudéssemos fazer mais. Tenho certeza que ela aprecia
você estar aqui. Mesmo que eles não possam responder, como ela, eles
ainda apreciam isso. É o que dizem, de qualquer jeito." Eu percebo pela
primeira vez que ele está sacudindo minha mão.
Eu passo a noite no quarto dela, escutando sua respiração até que eu caio
no sono na cadeira. Eu repito o mesmo ritual no resto da semana, acordando
na cadeira cada manhã, pegando o trem, enchendo e esvaziando a cidade
como o resto das pessoas presas aos seus relógios. Toda noite eu retorno
para meu turno ao lado da cama, assistindo minha mãe dormir perto e mais
perto da linha final.
18
"O que diabos está errado com vocês caras?" Tana pergunta.
"Homens. Vocês todos dizem a mesma merda de sempre. 'O mundo não tem
significado. Todos morreremos sozinhos. Nada significa nada."
"Se nada significasse nada," eu digo, "minha mãe não estaria morta de uma
doença de outra pessoa."
"Meu ponto é que ela não morreu sozinha," Tana diz, encarando os
necrotérios no cemitério.
"Talvez nós estamos todos por aí, flutuando por nós mesmos em um buraco
negro. Mas nós construímos conexões, você sabe? Nós construímos nosso
próprio mundo com as pessoas que amamos. Sua mãe não morreu sozinha.
Ela tinha amigos e sua família, e mesmo quando eles a decepcionaram, ela
sempre sentiu como se tivesse um lar."
Tana desmonta novamente. Eu a abraço.
"Me desculpe," eu sussurro em seu ouvido.
Eu seguro Tana bem perto, duas figuras solitárias rodeadas por árvores.
19
"Obrigado pór ficá com á gente. Mélhor sórte com súa poésia."
Eu carrego minhas coisas até a porta da frente quando Nate a segura para
mim.
Eu olho para K. que estava do seu lado. Ela parecia mais interessada em
alguma coisa no chão.
K. finalmente conversa.
"Nós devíamos pagar uma bebida."
"O que aconteceu com você?" ela pergunta assim que as bebidas chegam.
Seus olhos azuis brincavam com uma emoção não escrita, começando em
confusão, então pulando para culpa, remorso, e tristeza antes de retornar
para o ponto inicial.
"Nate."
"Você acha?"
"Eu sei, eu me sinto horrível. Nós éramos...você era ótimo. Você é ótimo e
merece muito mais—" Eu levanto a mão para fazê-la parar de falar.
"Eu não te odeio," eu respondo, pelo menos não quero fazer parecer.
"E quanto ao Nate? Rolling Stone? Ele é o verdadeiro negócio."
"Talvez. Por agora. Quem sabe o que o futuro pode nos trazer?"
Eu posso vê-la abrindo as portas novamente para mim. Me oferecendo uma
dose de esperança.
"Quem sabe?"
20
Meu pai e eu nos tornamos bons inquilinos, tentamos nos manter longe um
do caminho do outro, e manter o local relativamente limpo. Nós estamos
muito tristes ou supersticiosos para fumar dentro de casa, então ao invés,
nós tomamos café e fazíamos toda merda de fora da casa, próximo a parte
que ainda continuava queimada graças a aventura com fogo de Daphne.
Eu a visitei alguns dias depois. Ela finalmente deixou seus cabelos
crescerem até seus ombros. Seus olhos, ficaram um pouco encharcados
quando eu disse a ela sobre minha mãe, mas tendo ganho seu brilho
novamente.
"De qualquer jeito, ela finalmente deixou aquele cuzão que era casado, e nós
estávamos pensando em pegar um apartamento juntos. Na verdade, nós já
arrumamos um."
"Parabéns."
"Você pode ficar aqui o tempo que quiser. Eu não estou planejando vender—
não agora, de qualquer jeito, não enquanto temos algum pouco no tanque.
Talvez você possa contribuir um pouco quando começar a trabalhar
novamente."
"Valeu, pai. Eu sei que é estranho, mas honestamente eu espero que você e
Janine sejam felizes juntos."
21
Foi durante uma das minhas viagens a loja de construção que eu topei com
Zach Shuman, meu chefe formal no Hempstead Golf e Country Club, onde
fui demitido por meus erros. Surpreendentemente, ele olha para mim sem
raiva.
Meu último presente dado por minha mãe, eu zombei de mim mesmo quando
me vi usando calças e um jaleco curto alguns dias depois.
No dia que ela saiu, eu a pego no carro que era de minha mãe. Um buick.
"Para onde?" eu pergunto.
Daphne abre a porta, molhada, pingando água por todo chão e totalmente
nua.
"Eu esqueci de te pedir uma toalha," ela diz.
Eu a levo até os Kirschenbaums para um jantar. Meu pai chega com Janine,
que não demonstra nenhum sinal de embaraço sobre os olhares da multidão.
Mas o humor de todos é festivo, com muito mais foco em Todd, o convidado
de Tana da escola. Apesar de alguns resíduos de acne adolescente, Todd
parecia ser o que os velhos parceiros chamam de "pequeno homem
formado." Mais importante, ele parecia intensamente devoto a Tana e talvez
tentado por qualquer bagagem assombrado pelo resto de nós. O local está
tão enfestado com tantas auras boas que meu pai abraçava Daphne, nunca
mencionando o incêndio.
"Chega!" grita meu tio Marvin quando o abraço dura tempo demais.
"Você me diz."
"Muito bom, pra falar a verdade. Eu me lembrei do nome que você me deu,
Peter Robichaux. Você já leu algum James Lee Burke? Ele tem um detetive
chamado Dave Robichaux. De Nova Orleeeeens."
"Então, você acredita que o bastardo, perdão meu Francês, estava no livro.
Ênfase no "estava" pois como eu disse, velho catálogo. Mas eu dirigi até lá
de qualquer jeito, só para ver."
"Não, mudou de lá anos atrás. Mas o residente atual disse que ele ainda
tinha correspondência de Kings Park. Você sabe, o local que interna
malucos? Meu palpite é que ele reside lá por um tempo."
"De qualquer jeito," Head continua, "Eu chequei algumas coisas. Ele passou
algum tempo em Bellevue, esquizofrenia e tudo mais, mais ou menos nos
anos oitenta. Até Reagan vir e chutar todos para outro lugar. Eu tenho medo
que é aí que a pista fica fria."
22
Seguindo a conversa no caminho, tio Marvin, clamava que "Henry Head não
podia achar uma jujuba no pote," deixando o feito dele mais admirável. Ele
valeu seu pagamento quando ouviu o nome de Peter Rochichaux na boca de
um amigo na Quinta Província, uma área estendida de ChinaTown e a
Pequena Itália no Rio Leste. Após cavar um pouco mais, o amigo de Marvin
descobriu um presidiário, um ano depois, de um habitante local chamado
"Peter Robishow." A Acusação era um pequeno assalto, mas o crime em si—
dito na voz de um policial—não foi tão impressionante para o juiz, que
ordenou ele ser solto sem qualquer pena.
"Robishow" não tinha endereço. O amigo de Marvin nos leva até Reuben
Brown, um advogado de sem-tetos. Tio Marvin não podia dizer "Advogados
de sem-tetos" sem qualquer desrespeito visível.
Nós decidimos que era melhor para mim ligar para Reuben. Eu digo a ele
que Robichaux—quem chama a si mesmo de "Robes"—pode estar na nossa
linha de investigação. Reuben não parece convencido com minha estória,
mas concorda em nos encontrar em um lugar embaixo a ponte Brooklyn na
condição de nós ajudarmos ele a distribuir uma dúzia de pães velhos às
pessoas que moravam ali.
"Eu só quero te lembrar," diz Reuben, um homem preto e magro com cabelo
vermelho, "que a maioria dessas pessoas não possuem limite de certo ou
errado. Nâo deixe suas esperanças crescerem, é tudo que eu digo."
"Robes? Não, Robes mora no sub-solo," diz uma das pessoas ali.
"Naquele canto ali," Reuben responde. Ele carrega uma lanterna gigante de
alumínio, apontando para os ratos que cruzavam nosso caminho. Um
barulho não esperado balança as paredes e arrepia todos os cabelos do meu
pescoço. Acontece que estamos na trilha de um trem.
"Hey Robes, você está aí? Reuben diz, mirando a luz da lanterna em uma
fenda na parede.
"Sou eu, Reuben." Há uma resposta, uma cruz emerge da fenda, que
encoraja Reuben a continuar.
"Eu tenho alguns amigos comigo. Amigos seus, eles dizem."
Meus olhos acostumam com a pouca luminosidade, e eu consigo ver agora
algo como um humano junto à parede.
Eu coloco uma mão no ombro de Daphne. Ela tira, se movendo até a figura
no chão.
"Pai," ela repete.
"Mas que merda?" Reuben diz. Agora Daphne está segurando uma caixinha
de palitos de fósforo, riscando um na caixa e jogando o resto no chão. A pilha
entra em chamas, como uma erupção.
Eu a agarro por trás. Seus braços escorregaram de mim. Tio Marvin faz uma
abordagem mais direta, estampando o fogo. Daphne recompensa seu ato de
heroísmo dando nele um chute nos testículos, ou o que deveria ser se o tio
Marvin ainda os tivesse. Ao invés há duas bolas que se conectam
diretamente ao saco escrotal, que explode como uma piñata. A figura no
chão, ainda assustado, ergue e corre. As chamas rapidamente se espalham
no lugar.
23
Eu fico o resto da noite sentado numa cadeira do lado da cama, olhando ela.
Eu desmaio em algum ponto durante as primeiras horas da manhã. Quando
eu acordo, a cama está vazia e o carro sumiu da garagem. Há um bilhete
preso na geladeira.
"Desculpe."
Recebo uma ligação de Kings Park na tarde desse dia. A senhora Robichaux
decidiu se internar novamente por conta própria, diz um gerente irritante
após eu pegar o carro no estacionamento.
"Foda-se tudo isso. Nós podemos nos mudar para o Chelsea. Eu posso até
te pegar em um grande táxi amarelo." É uma referência do final de Sid e
Nancy que eu digo esperando animá-la.
AGRADECIMENTOS
Esse livro nunca teria existido se não fosse meu agente destemido Charlie
Runkle, o melhor no negócio. Obrigado também a sua esposa Marcy, por
tudo que ela fez para mantê-lo desse jeito. Eu também devo uma imensa
gratidão para meu editor, Cara Bedick, onde sua persistência salvou você,
querido leitor, talvez um grande clichê (mas talvez não seja esse em
particular).
Para Tom K., por acreditar em mim antes que todos os outros o fizeram.
Obrigado também, em ordem particular, para Alex Cox, Sid Vicious e Nancy
Spungen (e Gary Oldman e Chloe Webb), a todo elenco do Kings Park,
Johnny's Deli e seus sanduíches substanciais de ovo. Randy Runkle, os
Ramones, e Judy Blume, que me ensinou tudo que eu acho que sei sobre
mulheres.
Finalmente, eu sou agradecido a minha família: meu pai, por observar cedo
(e ocasionalmente) que eu não deveria deixar de fazer um trabalho honesto;
minhas irmãs, cujas risadas na mesa do jantar ainda me deixam doido, e
minha mãe, para quem eu devo, literalmente e metaforicamente
absolutamente tudo.