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Realização do projeto:
Eme Viegas
Preparação de texto:
Daniel Boa Nova
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ÍNDICE
PREFÁCIO
1. CAIU A CASA
2. FLASHBACKS
5. CHEGANDO NO XADREZ
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6. 2 POR M
19. O HORROR
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
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Prefácio
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pública pela internet. Agora, sou convidado a escrever o
prefácio de seu livro. O qual me fez refletir muito sobre como
o sistema proibicionista é duro com quem cultiva em casa e
como se dá o encarceramento de pessoas que não colocam a
sociedade em risco.
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Infelizmente, até aqui, as autoridades públicas vêm
enxergando o THCProcê como um adversário e mais uma
pessoa a ser criminalizada. Ao invés de entendê-lo como um
redutor de danos e um aliado na busca por novas frentes no
duelo contra o mercado ilícito de cannabis.
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1. CAIU A CASA
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2. FLASHBACKS
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- Ué, cadê o cigarrinho? Fala para ela mandar que eu
vou fumar!
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encontradas facilmente como hoje. Não existia internet. A
gente saía na rua procurando festa na casa dos outros.
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então. Aquele mundo mais perverso que se prolifera no
território da ilegalidade. Foi quando me aventurei por drogas
mais pesadas.
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1. CAIU A CASA
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3. PLANTAR PARA NÃO COMPRAR
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Foi exatamente por não querer mais participar disso
tudo que comecei a estudar meios de cultivar minha própria
erva. Além de ter uma empresa de produtos agropecuários,
meu pai sempre lidou com a terra e me ensinou umas tantas
técnicas. Eu já havia plantado feijão, arroz, abóbora,
mandioca, frutas e hortaliças. Sabia que o manuseio da
maconha não seria muito diferente. É apenas uma planta,
não?
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- Ué, cadê o cigarrinho? Fala para ela mandar que eu
vou fumar!
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partiu levando na encolha três das minhas plantas. Dessas
não pude nem sentir o gostinho. Para você ver a diferença
entre maconheiro e bandido.
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sementes a partir das minhas próprias plantas. A prática
aproxima a gente da perfeição.
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4. THCPROCÊ ERA O CANAL
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própria erva livre do tráfico, ficou nítido para mim que, pelo
menos no ato de fumar maconha, era possível reduzir perigos
e danos para mais gente. Compartilhar pela internet os meus
aprendizados era uma forma de ajudar outras pessoas. Mais
do que isso: era um dever que agora eu mesmo me impunha.
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como eu fazia para quem quisesse ver. Me sentia sendo
observado pelos vizinhos e alguns comentários nos vídeos
me apavoravam com a possibilidade de receber uma visitinha
dos tiras em breve.
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que me confortavam. O pessoal abraçou o THCPROCÊ. Vi o
número de inscritos no canal crescer rapidamente para mais
de 30 mil pessoas. No total, meus vídeos já contabilizavam
mais de 3 milhões de visualizações. Eu estava me tornando
conhecido em diferentes cantos do brasil e também de fora
dele.
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Foi exatamente por não querer mais participar disso
tudo que comecei a estudar meios de cultivar minha própria
erva. Além de ter uma empresa de produtos agropecuários,
meu pai sempre lidou com a terra e me ensinou umas tantas
técnicas. Eu já havia plantado feijão, arroz, abóbora,
mandioca, frutas e hortaliças. Sabia que o manuseio da
maconha não seria muito diferente. É apenas uma planta,
não?
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hortelã. Em um canteiro de terra dá para criar uma pequena
farmácia que dura para sempre. Mas o que será que as
empresas farmacêuticas podem pensar disso? Quais
interesses comerciais não estariam por trás da criminalização
da maconha medicinal?
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Eu tinha plantas macho que cruzei com fêmeas e
assim produzi milhares de sementes. Passei então a enviá-las
para os quatro cantos do Brasil. Foi um pouco dispendioso,
pois a única forma que encontrei para não ter problemas com
os usuários era mandar tudo de graça. Assim, eu não poderia
ser cobrado caso o cultivo deles desse errado.
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ideia era chegar a 10 mil associados fazendo uma doação
mensal de no mínimo 35 reais, e fornecer a eles tudo que
precisavam para conquistar seu auto sustento com apenas
esse investimento. Mas alguns doadores começaram a
reclamar por não conseguirem germinar suas sementes. Tive
algumas discussões por conta disso.
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sementes a partir das minhas próprias plantas. A prática
aproxima a gente da perfeição.
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por coincidência: era uma quinta-feira e a gente costumava se
ver apenas nos finais de semana. Acabamos presos juntos.
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Fui preso com 72 pés de maconha. Destes, 26 em
vasos separados e em fase de crescimento. Os outros eram
pequenas mudas plantadas todas juntas em um vaso só, que
não seriam cultiváveis. Das plantas que estavam em vasos
separados, apenas 6 estavam em fase de floração - faltavam
ainda 30 dias pelo menos até elas ficarem boas para corte e
secagem.
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própria erva livre do tráfico, ficou nítido para mim que, pelo
menos no ato de fumar maconha, era possível reduzir perigos
e danos para mais gente. Compartilhar pela internet os meus
aprendizados era uma forma de ajudar outras pessoas. Mais
do que isso: era um dever que agora eu mesmo me impunha.
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Consigo dormir uns 30 minutos, até que mais um
elemento é trazido. Agora estamos em 3, sendo que o novo
integrante está bêbado, fedendo e gritando com os policiais.
Ele come toda a comida e bebe todos os refrigerantes que
tem ali. Sem problemas por mim, mas o fedor de chulé com
cachaça e mais os gritos conseguem deixar minha noite ainda
pior. O recém-chegado conta ter brigado com os policiais - e
apanhado deles. Tremendo de frio, ele deita no chão do corró.
e voltamos a tentar dormir. De madrugada, umas 3h00, mais
um preso é trazido. Completamente chapado de ruipinol, ele
deita ao lado do banheiro e apaga ali mesmo. Mais tarde eu
viria a conhecê-lo como Pesão de Santa Maria.
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Mas sou jogado na sala como qualquer bandido.
Algemado e com o emblema da Polícia Civil no pano de
fundo. Os repórteres disparam questões sem nexo com o
caso e me fazem acusações que sequer entendo. As
perguntas que eu gostaria de responder eles não fazem,
como por exemplo da onde eu vim e por quê estou ali. Não
me é dada a chance de explicar que plantava para não
comparar. Me pintam de traficante e ainda sou obrigado a
ouvir risos e piadas deles sobre eu ser "o professor da
maconha”. Os jornalistas parecem ter vindo apurar a notícia já
convencidos de que eu forneço drogas e incentivo seu uso
para menores, além de fazer afronta à polícia com vídeos
fumando erva.
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Foi seguindo essa linha de raciocínio que comecei a
tocar o THCPROCÊ não apenas como um canal informativo.
Mas sim como um espaço de ativismo pela descriminalização
da maconha.
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6. 2 POR M2
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Nesse primeiro dia converso bastante com meus colegas.
Tudo ainda é desconhecido para mim. Falamos sobre como
se desenrolam os processos, falamos de roubos, golpes,
mortes, bandidos famosos, drogas, mulheres. Alguns
assistiram na TV à matéria sobre minha prisão, onde o
repórter me chamava de traficante burro e falava sobre o
tamanho enorme dos pés de maconha apreendidos comigo.
De saída, tenho um certo respeito e admiração dos outros
presos e até esboço algumas amizades. Pergunto sobre
como fumar maconha ali e, para minha decepção, sou
informado de que naquela cadeia específica é difícil: não tem
e quando tem é caríssimo. Mas eles prometem me ajudar a
conseguir um baseado. Eu nem imagino como isso vai se
desenrolar, me sinto ainda perdido em relação a como
proceder na prisão. Entretanto, saber que é possível fumar
um me ajuda a ter alguma expectativa positiva sobre o lugar.
Da vida que eu tinha, pelo menos isso vou poder manter.
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também que falem com minhas irmãs para mandarem roupas
e sabonete. E que falem com elas para acertos legais e
financeiros, pois não tenho grana. Inclusive, peço que eles
próprios se possível me arrumem algum troco. Os advogados
dizem para eu não me preocupar com dinheiro. Me dão 100
reais e vão embora.
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básicas e com toda a truculência daquele ambiente hostil. Ele
diz ter trazido algumas coisas que me serão entregues pelo
policial. Peço dinheiro e ele me passa uma nota de 50 reais.
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- Só isso é muito pouco. Quero minha grana de volta.
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metro quadrado. Hoje tenho que ir ao banheiro de qualquer
forma. Meu intestino está gritando.
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Tô achando estranho aquele cara, parece que tá fazendo
gesto para alguém...
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Esse discurso dura em torno de uma hora. Em
seguida somos encaminhados para outro pátio onde, por
ordem alfabética, recebemos a aplicação de vacina através
de uma grade. Contra sarampo, gripe, caxumba e febre
amarela, segundo informa o agente encarregado do
procedimento. Fico inquieto. Nunca me dei bem com agulhas,
já tive algumas reações alérgicas. Ao chamarem meu nome
não dá nem tempo de argumentar. Encosto na grade e uma
agente de jaleco branco aplica a primeira injeção no meu
braço. Ao mesmo tempo, outro agente de jaleco se aproxima
com a seringa da minha perna. Faço um apelo:
- Sim, senhor.
- 17, senhor.
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logo em frente outro agente rouba minha brisa ao comentar
me encarando:
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essa regra é cheia de exceções. Controlar a comida e o
comércio representa bastante poder naquele contexto entre
muros e grades. Até porque nenhum cidadão comum em
liberdade toparia um dever tão cheio de riscos como o dos
classificados.
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produtos que, na maior parte das vezes, foram trazidos pelos
parentes no último dia de visita.
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Promotoria, que pode recorrer. Depois a decisão é levada ao
advogado de defesa, que faz suas alegações finais conforme
o que for alinhado com o réu.
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e passa para os mais distantes fumarem juntos, daí acende
outro e fuma com quem está ao seu redor. Se os presos
dizem que assim é o certo, então está falado. Eu ainda teria
que aprender um monte para sobreviver ali dentro sem
maiores problemas.
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7. NOTÍCIAS, TRETAS E TRUTAS
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entupido, o fedor de bosta, preso cuspindo e mijando por
cima, depois bebendo água na torneira logo ao lado. Uma
situação insalubre e degradante.
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tantos nomes são jogados na lama. Acontece com frequência
de um preso ser responsabilizado por algo que falou para
alguém sem saber que estava sendo escutado por outros
alguéns. Daí tem que assinar recibo da acusação que recebe,
na maioria das vezes pagando com sofrimento.
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desfazer a rede sempre que os agentes entram no corredor.
Ainda assim, é um alívio não ter mais que dormir agachado
disputando lugar. Minha rede, meu sossego.
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apenas o reflexo da uma lâmpada que fica acesa no corredor,
montamos a rede do Formiga novamente e voltamos a dormir.
- Porra!
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Antes que ele anuncie o valor, meus advogados solicitam que
a fiança seja retirada, pois não tenho condições de pagar.
Todos se voltam para mim e eu, atordoado com todo aquele
bate-rebate de argumentos jurídicos, respondo balançando a
cabeça em sinal afirmativo. Sim, não tenho condições de
pagar.
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contou como se deu sua prisão e também como ele estava
indignado por isso. Disse ter 21 anos e uma filha com uma ex-
mulher. Fora preso no artigo 155 do código penal, um roubo a
farmácia que deu errado. Na noite anterior à sua prisão, ele
estava em casa e não conseguia dormir por conta de um gato
miando no telhado. Por causa do miado, o cara pegou um
pedaço de madeira, subiu no telhado e desferiu 6 pancadas
no animal. Com o olhar vidrado, sem demonstrar um pingo de
remorso, ele me revelou sua crueldade:
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- Esse aí é preso novo, não sabe da cadeia! Não tem
malícia!
Emendei dizendo:
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cadeia. Isso para já ficar de prontidão caso fosse alguém de
uma região inimiga à dele.
- Demorou! - respondi.
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Vemos os agentes correndo tensos pelos corredores,
trancando todas as portas, gritando. A confusão fica ainda
maior quando chega a turma da DPOE - aquele grupo de elite
que atua nos presídios do Distrito Federal, o mesmo que me
transportou do DPE para a Papuda. Na correria, eles se
chocam uns com os outros. Para os presos, isso é hilário.
Mas quando uma agente da DPOE flagra um preso rindo no
corró, ela se aproxima da porta e grita:
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produtos que, na maior parte das vezes, foram trazidos pelos
parentes no último dia de visita.
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colchão pelo buraco da grade. O classificado então conta que
o colchão pertencia a um preso que fora pego com 13 mil
reais e 50 gramas de maconha escondidos. Ao ouvir isso o
Josias fica doido querendo abrir o colchão, e pergunta ao
classificado quem é o dono agora:
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Deito a cabeça. Sinto falta da minha casa, da minha
vida de cultivador, sinto falta de fumar um baseado. O que
mais me tortura é a falta dos meus gatos, pensar na situação
deles me deixa mal. Mas agradeço a Deus pela minha nova
condição. Com esses pensamentos, acabo adormecendo.
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na medida em que alguns presos tentam se impor sobre os
demais. Botando banca de que são os mais bandidos do
pedaço, fazendo provocações e ameaças. Dentro de uma
cela superlotada, não existe a menor possibilidade de tratar
algum assunto em particular. Todos se intrometem na
conversa de todos, sempre surge um dono da verdade e
qualquer assunto pode descambar em agressão. A tensão e o
medo pairam no ar que aqui se respira.
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palavras positivas e dividir o que eu tiver de bom com quem
faz por merecer. Isso certamente exclui o Josias e o Jason.
Com eles procuro manter apenas a educação e também
passo a agir com alguma submissão. Não quero encrenca
para o meu lado.
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Passados dois dias desde que cheguei, a cela 12 da
ala A ganha novos ocupantes. Primeiro vem o Luiz. Em
seguida vêm Quelete e o Ceilandinha, que eu já conhecia da
triagem na cela 2 do DPE.
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foi preso em flagrante. Pelo que convivi com ele na triagem, é
um cara sério e ao mesmo tempo interesseiro, que se alia a
quem lhe dá mais vantagem. Apesar do Ceilandinha ter
intercedido como mediador na minha treta com o Pesão e o
Sujeirinha, meu espirito não bate com o dele e nem o dele
com o meu.
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reais e uma coberta de casal bem quentinha. A gente se
despede e agradeço chorando. Ao me retirar da micro sala, o
agente entrega as encomendas para mim. Sou levado de
volta ao corró e espero até ser devolvido para a cela 16.
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O Coruja acabou preso tentando roubar um carro. Foi
pego pelos chamados heróis. Alguns pedestres que
passavam no momento do delito lhe deram uma surra e o
imobilizaram até a chegada da polícia. Coruja tem um
machucado feio na região das costelas, que conta ser
sequela de um episódio anterior. Foi quando subiu no telhado
de um galpão para roubá-lo e tomou um baita choque em
uma armadilha que os donos haviam preparado. Na queda,
bateu o tronco no chão e teve que ir rastejando até o carro,
onde sua companheira o aguardava para pilotar a fuga. Ficou
um bom tempo sem conseguir andar depois disso.
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Na ala A os banhos de sol acontecem em um pátio
bem grande. Todos os presos da ala saem, caminham um
pouco, se encontram com amigos de outras celas. É talvez o
principal evento social na vida de um preso, ficando atrás
apenas do dia de visita. Muitas vezes o banho de sol dura
apenas o tempo suficiente para a inspeção das celas. Coisa
de 30 minutos. A gente senta no pátio, os agentes fazem o
bate-cela, a gente levanta e volta para dentro. Fim do sol.
Porém, quando os agentes estão mais sossegados, podemos
ficar até umas duas horas na área externa. Caminhando,
conversando, fazendo comparas. Alguns aproveitam para
cortar o cabelo com lâminas de barbeador comparadas
clandestinamente. Por sinal, abrindo um rápido parêntese,
essa é uma profissão livre. Qualquer preso pode cobrar para
realizar serviços de barbeiro e cabeleireiro. Desde que os
agentes não flagrem as ferramentas utilizadas.
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apenas o reflexo da uma lâmpada que fica acesa no corredor,
montamos a rede do Formiga novamente e voltamos a dormir.
- Porra!
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9. LEIS SOB LEIS
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Porém, nem todos recebem bem a experiência.
Josias não participa. Durante esses cultos, ele sempre
mantém a cortina da sua jega fechada, abrindo vez ou outra o
cantinho para disparar com o olhar rajadas de maldade em
minha direção. Até tento puxar conversa e integrar o cara ao
grupo, mas ele recusa com raiva. O Ceilandinha até participa,
embora seja evangélico e não aceite minha orientação
religiosa. Ele polemiza os comentários que faço por me achar
uma pessoa dominada por espíritos maus. E quando o
assunto gera discussão, daí sim o Josias aparece para somar
no lado contrário ao que eu estou. É nessas que a minha
relação com o Ceilandinha vai azedando de vez também.
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nunca deixam de apostar no bingo, que costuma acontecer de
3 em 3 dias.
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Vai, seu bosta! Fala agora, cuzão! Preso safado!
Eu segui na humildade:
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cadeia. Isso para já ficar de prontidão caso fosse alguém de
uma região inimiga à dele.
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10. DIA DE VISITA
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mantimentos precisa ainda passar por uma fila à parte, que
dá em um balcão onde tudo é revirado.
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Tem algo bom à minha espera lá fora e, não importa quanto
tempo leve, uma hora eu vou sair daqui. Me sinto amado,
incluído, tenho amigos, família, um lugar na sociedade. Tudo
que um preso comum não tem.
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Foram quase 30 dias sem ver meus parentes mais
próximos. Amanhã é um novo dia de visita e torço muito para
que minhas manas possam vir. Com a proximidade da data, o
Josias voltou à carga. Ainda mais, estimulado pelo Jason, que
veio insinuar que eu queria dar o cano e sair sem pagar a
jega. Cá entre nós, não vou negar que isso me passou pela
cabeça, sim. Seria o meu troco por tanta agressividade
gratuita.
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Amanhece no dia da visita e todos organizamos as
coisas desde cedo. Tomo meu banho e coloco roupas limpas
que eu mesmo lavei. A ansiedade é gigante. Na fila da
chamada, o agente que conhece minha família ordena que eu
fique de pé, esperando por ele na grade. Os presos saem
para o pátio passando por mim, me encarando ali parado.
Quando todos saem, o agente confirma que meu teste deu
certo. Porém, a direção do presídio não concordou em me
classificar por eu ter sido preso no artigo 33, tráfico de drogas.
Este artigo não permite me classificar para trabalhar na
cadeia. Além de ser preso como traficante sem nunca ter
traficado drogas, não posso trabalhar na prisão por ter sido
preso como traficante de drogas. Fez sentido para você? Em
resumo: sigo na cela 12 da ala A. A mesma cela do Josias.
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corredor, tem um deles posicionado. E outro mais à frente. E
mais outro adiante. Sou o segundo na fila dos presos e posso
ler nos olhos do policial a sua intenção. Quando meu colega
da frente adentra o corredor, toma uma bofetada do DPOE na
nuca.
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administração. Elas trouxeram também uma Cobal com
roupas, frutas, bolachas, produtos de higiene pessoal e sabão
em pó. Trouxeram cuecas, bermudas, camisetas, um tênis,
uma toalha e um lençol. Me sinto rico ao pegar a sacola
plástica. Isso tudo tem muito valor ali dentro.
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Eu só quero pagar por meia jega. Daí quando eu sair a jega
volta para você, Josias.
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mirrado como esse custa 20 reais. Depois de fumar, subo no
21 para trocar ideia com as outras celas. Converso com um
preso chamado Márcio e mostro a ele o tênis de couro que
minhas irmãs me trouxeram. O preso ao lado dele, vulgo João
da Brasilândia, pergunta quanto quero pelo tênis. Se eu
quisesse vender, venderia por 250 reais, respondo. João me
oferece 180 e eu digo que vou pensar. Mas não tenho
interesse em vender por esse valor.
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11. SE FICAR O BICHO COME
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Isso aconteceu por mais de um mês e só parou depois que
instalei câmeras nos corredores dos banheiros. Quando
contava sobre dois rapazes que foram pegos pelo meu
sistema de segurança roubando alianças, o Jason gritou da
sua jega:
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É comum ver ratos enormes passeando pelos
corredores. Teve um que mordeu o cotovelo de um preso. Foi
algo alucinante, aconteceu enquanto todos dormiam. O preso
acordou gritando e pulando. Ninguém viu o rato, mas lá
estava a mordida dele.
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Contudo, Josias está irredutível. Reafirma que a jega
lhe pertence, que foi deixada para ele por um preso de nome
Paulista. Se eu quiser continuar ali, posso pagar em até 3
vezes - 100 reais a cada dia de visita. Não sei se vou poder
pagar e tenho certeza de que não aceito essa cobrança. Para
ganhar tempo, digo a ele que concordo com o prazo. Mas
pondero que a compara ainda não foi efetuada. Vou ver como
consigo fazer, se saio ou se compro.
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com a liberdade de outros, manter preso alguém já liberto é
uma grande responsabilidade para o complexo. Por isso, era
costume soltar os presos na mesma noite em que sai o
alvará. Quem tem vai embora de ônibus. Pega a condução na
beira da rodovia com um documento de isenção de
pagamento da passagem.
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Voltando à minha convivência com o BH, estivemos
em paz somente até a segunda noite em que dormimos na
mesma jega. Foi ainda pior do que a primeira. Dormi muito
mal e manifestei isso a ele. Assim que amanheceu, falei que
ele teria que descer da jega.
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12. MENSAGENS DE DEUS E UMA MENSAGEM AOS
MEUS
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o espírito santo tinha tocado seu coração. Urubu seguia sem
botar pontos finais, não parou mais de falar. Baixinho, no pé
do ouvido, tentei reorganizar a parada:
Ele continuou:
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guarita libera o pátio na hora que ele quer. Às vezes somos
xingados e humilhados de graça mesmo estando em silêncio.
Já teve vez em que ficamos mais de uma hora sentados,
imóveis, só para depois sermos levados de volta às celas. Em
outra ocasião, fomos obrigados a rezar o Pai Nosso. Os
agentes penitenciários são treinados a mostrar que não
podemos querer qualquer coisa, não temos direito a nada, só
devemos obedecer e aceitar o que é dado. Isso quando é
dado algo.
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“Olá, amigos.
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13. COM UMA MÃO NA FRENTE E OUTRA ATRÁS
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um bloco para presos por tráfico - a maioria - e mais alguns
delitos como Lei Maria da Penha e roubo. Com suas ideias
estapafúrdias, o diretor do presídio queria organizar presos
por artigo penal, e não por periculosidade.
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• Me desculpa, senhor. Jamais repetirei isso.
Não quis lhe ofender.
• 20 dias, senhor.
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bloco 7, eu comparava dele. Pagava caro, mas comparava.
Até que um dia eu estava preparando um baseado adquirido
com o Camarão e senti o fumo meio úmido, com um odor
estranho. Ao apertar a erva nos dedos para cortar com uma
gilete, cheirei meus dedos. Era puro vômito o aroma. Quem
trouxe para dentro da cadeia engoliu e depois botou para fora,
por isso fedia tanto. Como já tinha pago, resolvi secar a erva
com um papel. Fui apertando aquele tiquinho de maconha até
enxugar todo o suco de vômito. Foi ruim demais. Mas fez a
cabeça.
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14. O PROCESSO É LENTO
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informações tão acessíveis nas mãos. Digo também que,
apesar dessa revelação depor contra mim, eu tinha enviado
algumas sementes para brasileiros, sim. Mas a cooperativa
era só um nome, não existia uma empresa de sementes com
fins lucrativos. Na verdade, eu fazia uma espécie de compara
coletiva e chamava isso de cooperativa. A juíza não faz mais
perguntas e passa a bola para o promotor.
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chegar a um consenso. Esse consenso seria o de plantar
para não comparar. Depois dessa explicação a juíza
determina a entrada das testemunhas de acusação.
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abraço. A juíza diz que não poderia permitir. Se permitisse,
ela própria teria que me revistar - e isso a juíza não queria.
Nayara sai sem me tocar. Ver ela saindo me enche de
saudades. Quero muito encontrar com ela a sós.
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parentes e testemunhas. E que não era para falarmos nada
sobre o CDP e as condições na prisão. Por que será?
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passo pela grade. Ele me devolve 200 reais em dinheiro e
mais uma pedrinha de 50 reais de maconha.
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Somos avisados que no próximo domingo, 15 de
setembro, teremos visitas. A notícia é recebida com
entusiasmo. Os presos vibram, comemoram, e iniciam
preparativos para o único dia que, junto ao dia da soltura,
pode ser chamado de feliz naquele lugar.
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Nayara está ansiosa e fala sem parar. Quer me contar
tudo que aconteceu enquanto ficou sem poder me ver. Eu
sabia que ela estava atuante na minha causa e ela demonstra
muito amor e saudade. Agora eu já era um presidiário e todo
preso se preocupa com as pessoas que ficam lá fora. Em
especial, com as tentações que podem surgir na sua
ausência. Mas evito demonstrar ciúmes e falar qualquer coisa
desagradável. Procurei curtir o pouco tempo que tenho com
ela.
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Naquele momento, me senti o homem mais amado do
mundo. Nayara se entregou de corpo e alma àquela aventura
e sou muito grato a ela por isso. Me senti especial, amado,
desejado. E também estimulado a esperar pela sua próxima
visita.
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Ugo, puto da vida, dormindo ao lado do preso da perna
doente.
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16. VALE TUDO
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É comum ver ratos enormes passeando pelos
corredores. Teve um que mordeu o cotovelo de um preso. Foi
algo alucinante, aconteceu enquanto todos dormiam. O preso
acordou gritando e pulando. Ninguém viu o rato, mas lá
estava a mordida dele.
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Certo dia, Paulo estava deitado na sua jega e um
preso de vulgo Macarrão iniciou uma discussão com ele sobre
a limpeza da praia. Um queria que fosse logo e o outro que
deixasse para mais tarde. Mas o Macarrão ficou mais irritado
e partiu para a agressão pessoal. Por ser mais tranquilo,
Paulo se manteve na defensiva. Até o momento em que o
Macarrão partiu para cima dele. Paulo desviou do ataque e
acertou um direto no olho, bum! Macarrão caiu no chão já
com o olho roxo. E se levantou meio cambaleando, gritando
que o Paulo tinha lhe acertado. Nem precisava, todo mundo
viu. Depois de alguns minutos, indignado, Macarrão voltou à
carga. Partiu novamente para cima do Paulo, que desviou
mais uma vez e lhe acertou outro direto na testa.
Completamente desnorteado, Macarrão foi convencido pelo
pessoal a desistir e as coisas se acalmaram. Os dois se
tornaram inimigos, mas cada um no seu quadrado.
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com a liberdade de outros, manter preso alguém já liberto é
uma grande responsabilidade para o complexo. Por isso, era
costume soltar os presos na mesma noite em que sai o
alvará. Quem tem vai embora de ônibus. Pega a condução na
beira da rodovia com um documento de isenção de
pagamento da passagem.
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Mas foi a última vez em que falei com minhas advogadas
enquanto estive na prisão.
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verbalmente. Então Alexandrinho e Bina foram juntos falar
com ele de perto, deixando bem claro quem dava as cartas ali
e quem devia se calar. Ao se afastarem, Taguatinga inventou
de mandar um bilhete para outra cela, mas antes do envio o
Alexandrinho quis ler o conteúdo. O bilhete falava sobre
problemas que o Taguatinga estava tendo na cela e pedia
para alguém arrumar um espeto.
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direcionados a mim e aumentou a gritaria. Retruquei que não
fora eu quem dissera aquilo, e sim o José, eu apenas
concordara. Então o Chicão voltou para a história. Disse que
eu o estava chamando de mentiroso e pulou da sua jega para
me agredir. Só não me acertou porque alguns presos que
estavam do meu lado conseguiram afastá-lo. Ele seguiu
gritando e me ameaçando.
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17. THCPROCÊ NO CDP
Ele continuou:
125
Faz 3 visitas que não vejo minha irmã Jacqueline. Ela
teve que fazer uma viagem e ficou fora por 25 dias. Nesse
domingo, tenho certeza que virá. Todos ficamos aguardando,
observando os parentes que entram e as comparas que
trazem. As frutas, roupas, sabão e sabonetes. Tudo deve
estar em sacos plásticos transparentes, que são vendidos a 3
reais por unidade na porta da cadeia. Os olhos dos detentos
não saem do portão, à espera de uma silhueta, um rosto, um
sorriso conhecido. Uma porção de seres humanos
embrutecidos buscando o consolo do amor materno, a
amizade paterna, a sinceridade fraterna de irmãos e, às
vezes, o carinho da amante. Pessoas queridas que
atravessam os constrangimentos da triagem para vir ao seu
encontro no presídio. A espera parece uma eternidade e
nessas horas um cigarro ajuda. A cada reencontro, beijos por
todos os lados, lágrimas de saudade, notícias de fora que
alegram e entristecem. As demonstrações genuínas de
sentimentos são visíveis a olho nu. Em dia de visita, não se
economiza amor.
172
eu ter uma companheira jovem, bonita e simpática. Sinto que
alguns na verdade me veem como um velho folgado, que
pega as novinhas e vive levando chifre. Percebo alguns
comentários de canto nesse sentido. Mas dou de ombros e
não confronto ninguém. A grande maioria tece elogios a
minhas amadas e me trata com um respeito sincero.
173
abrir a cortina do boi, lá estava o Ceilandinha. Ele disse que
deixaria para lá a nossa treta porque agora era uma pessoa
de Cristo, que estava mudando seu jeito de ser, mas que
tinha negócios futuros com o Luiz lá fora. Se eu atrapalhasse,
ele ia arrebentar minha cara. Me preparei para a agressão
que ainda poderia vir, mas não passou dessa ameaça. Um
jogo de cena para o resto do pessoal ver como ele era
violento, alguém que só não me detonou ali porque não quis -
coisa que eu não acho. A guerra agora estava declarada
entre mim e ele. E também com o Urubu, que adorava se
fazer de meu amigo, mas que se revelou um palhaço
querendo ver o circo pegar fogo.
128
O concurso se chama FESTART e será sua 12a
edição. É interessante participar, porque quem tem o trabalho
classificado é transferido para o bloco 4. A comissão
avaliadora é composta por pessoas de fora do cárcere e
muitos presos e presas participam. Peço a elas que
publiquem a poesia na internet em meu nome e também uma
segunda carta dando conta do meu parecer, destinada aos
seguidores do canal THCPROCÊ.
175
Esperei comendo uma goiaba. Nayara tinha trazido
mais algumas. Ofereci ao Ugo e ele recusou novamente.
Também dei a ele o colchão que ganhara. O cara dormia
direto no chão.
176
18. BLOCO VELHO, NOVOS ELEMENTOS
177
13. COM UMA MÃO NA FRENTE E OUTRA ATRÁS
131
Barrela queria vender a jega toda por 200 reais e se
mudar para a jega do Gibi. Achei que ainda não era
necessário, pois tinha a catacumba. Disse a ele que era caro
para mim e dormi mais uma noite em meu canto.
179
Federal. O famoso artigo 171, crime de estelionato. Gabriel
entrou, se apresentou e organizou suas coisas em um canto.
Acabou assumindo a catacumba na hora de dormir.
180
muito agradecido. Ainda mais por ver que eu estava disposto
a ajudar sem querer nada em troca. Esse compartilhamento
voluntário de informações me fortaleceu ali dentro. Fiz boas
amizades e passei a ser visto como uma pessoa do bem. O
“professor da maconha".
181
também. O fedor na cela ficou insuportável. Agora até respirar
era difícil.
185
bloco 7, eu comparava dele. Pagava caro, mas comparava.
Até que um dia eu estava preparando um baseado adquirido
com o Camarão e senti o fumo meio úmido, com um odor
estranho. Ao apertar a erva nos dedos para cortar com uma
gilete, cheirei meus dedos. Era puro vômito o aroma. Quem
trouxe para dentro da cadeia engoliu e depois botou para fora,
por isso fedia tanto. Como já tinha pago, resolvi secar a erva
com um papel. Fui apertando aquele tiquinho de maconha até
enxugar todo o suco de vômito. Foi ruim demais. Mas fez a
cabeça.
187
Ficamos observando ele arrumar suas coisas. Ao ver
que a cela estava cheia, com 9 presos, Pardal quis saber
onde poderia dormir. Mostramos a ele o espaço que restava,
próximo do boi. Ele não aceitou e fez uma proposta para
comparar a jega do Aroeira. Como o Aroeira estava sempre
querendo dinheiro, combinou com o Gabriel e o Ceará de
dormir no meio deles na praia e vendeu sua jega por 200
reais. Metade seria paga na primeira visita e metade na
segunda. Mesmo com o CDP ainda em greve, sem previsão
de visitas, Aroeira julgou ter feito bom negócio.
188
Pardal e Agreste já se conheciam, tinham dividido cela
no bloco 6. Na época em que estavam lá, houve uma
tentativa de fuga que acabou frustrada pelos agentes. Quem
também estava por lá nessa mesma época era o Serginho, o
preso seguinte a entrar na nossa cela. Serginho entrou de
uma forma meio espalhafatosa, trazendo um monte de roupa
suja. De cara vimos que ele era muito amigo do Agreste, além
de conhecer o Pardal. Nessa altura a cela ficou cheia demais,
com 12 presos, pois na chegada do Serginho veio junto o
Paulista. Esse era um cara simples, de postura, que entrou e
já providenciou um canto para sua rede - até ajudei ele a
produzir as teresas. Paulista também era amigo dos 3 últimos
presos. Assim, a cela ficou lotada e com uma nova patota
tomando conta do pedaço.
192
Fiz um bilhete e entreguei a um amigo classificado, o
Ronaldo, pedindo para que repassasse aos agentes. Antes de
encaminhar, Ronaldo foi para sua cela e leu o bilhete. E
compartilhou com o Cinco da Sul, aquele mesmo preso que
dedurara o Josias, e que agora era classificado. Cinco da Sul
também leu o bilhete. Nele, eu pedia ao chefe de pátio para
me mudar de bloco ou cela, pois tinha problemas com um
preso dali.
193
informações tão acessíveis nas mãos. Digo também que,
apesar dessa revelação depor contra mim, eu tinha enviado
algumas sementes para brasileiros, sim. Mas a cooperativa
era só um nome, não existia uma empresa de sementes com
fins lucrativos. Na verdade, eu fazia uma espécie de compara
coletiva e chamava isso de cooperativa. A juíza não faz mais
perguntas e passa a bola para o promotor.
143
19. O HORROR
199
Nessa hora procurei acalmá-la. Disse a ela que não
precisava se preocupar tanto, que eu estava bem ali, que era
suportável. Queria que ela soubesse que podia seguir sua
vida e esquecer um pouco de meus problemas. Jaqueline e
Nayara achavam que o novo advogado era sério, mas muito
lento. Disseram que a família estava inquieta com a
possibilidade de eu passar o fim de ano por ali. Nos
despedimos com elas dizendo que todos esperavam me ver
livre antes do natal.
149
Ainda levou uns 10 minutos até os agentes virem e
verem que o senhor Mauro não respirava mais. Mandaram
dois presos carregarem o corpo no próprio colchão para fora
da cela. Smigol recebeu seu alvará de soltura na forma de
morte. Morte que o CDP propiciou. Morte que o juiz de
custódia poderia ter evitado, enviando ele para uma prisão-
hospital. Morte por descaso de um grupo de agentes, que se
mostrou indiferente ao estado de saúde do preso. Morte que
eu senti demais.
203
cegos e surdos. Eu cheguei a ver esse preso no corró, vivo.
Tinha uma aparência muito pobre: era magro e sem dentes.
Também vi ele morto no dia seguinte, sendo carregado por
outros presos. Um absurdo de desumanidade essa
indiferença do sistema penitenciário frente à vida de uma
pessoa.
205
Nayara está ansiosa e fala sem parar. Quer me contar
tudo que aconteceu enquanto ficou sem poder me ver. Eu
sabia que ela estava atuante na minha causa e ela demonstra
muito amor e saudade. Agora eu já era um presidiário e todo
preso se preocupa com as pessoas que ficam lá fora. Em
especial, com as tentações que podem surgir na sua
ausência. Mas evito demonstrar ciúmes e falar qualquer coisa
desagradável. Procurei curtir o pouco tempo que tenho com
ela.
152
Um dia, deitado com meus pensamentos, tive um
estalo: vou escrever um livro contando o que acontece dentro
do CDP. Pelo menos, o que aconteceu comigo. Desde a
criação do canal THCPROCÊ até o dia em que eu fosse solto
da prisão. Eu até tinha começado a rascunhar uns meses
antes, mas perdi tudo na transferência para o bloco 7 e desisti
por um tempo. Pensei em deixar para fazer quando saísse.
Papel e caneta eram artigos raros e caros por ali. Era
permitido comparar, mas as visitas não podiam trazer. Na
cantina, teve dias em que um caderno de 100 páginas chegou
a custar 70 reais.
208
um também, disse que ainda não tinha fumado ali dentro e
sonhava com isso. Fumamos juntos.
155
conosco. Mas agora éramos homens livres e eles não tinham
mais poder sobre nós. Assim que assinei, fui levado a uma
viatura. Entrei, me sentei, olhei para os outros futuros ex-
detentos e sorri. Agora qualquer tristeza tinha passado.
Estava feliz.
213
tráfico e assalto. Eles eram bem próximos e dava para ver
que o Bina agia como um guarda-costas, apoiando o
Alexandrinho em tudo que precisasse. Os dois praticavam
exercícios na cela, malhavam pesado uma hora por dia em
média, mas Alexandrinho ia além. Se exercitava tanto física
quanto tecnicamente, em lutas mano a mano. Era alguém
decidido a ser um grande bandido na vida.
158
mulher em minha vida e hoje faz todo sentido para nós
ficarmos juntos. Vale a pena tentar sempre ser feliz. Seja o
que for que eu tenha que viver, vou viver intensamente -
tentando não julgar e não condenar. Se por acaso em algum
momento nossos caminhos divergirem, então vamos dar uma
forma de buscar uma vida feliz longe um do outro. Com
respeito, sempre. Se tem algo que liberta é a verdade.
E fim de papo.
215
EPÍLOGO
217
na dele. Falava pouco, mas comigo falava bem. Nunca havia
sido preso. Estava sempre pensando em Nossa Senhora e na
sua família. Tinha uma esperança grande também de sair
logo daquele pesadelo.
161
vai sair com uma concepção diferente depois de viver
naquelas condições? E quantos presos e custos a menos o
Estado teria se o cultivo e consumo de maconha fossem
legalizados? Quanto o Estado poderia arrecadar a mais se a
produção fosse regulamentada e tributada, tal e qual o
cigarro, o álcool, os remédios?
219
de algumas mães para tratar a epilepsia e outras doenças
neurais de seus filhos com cannabis. Mães que, diga-se,
nunca fumaram maconha. A não-liberação da cannabis pelo
menos para fins medicinais é uma barbaridade. Lá fora já
existem diversos estudos publicados comprovando que a
maconha contribui no tratamento de doenças tão variadas
quanto câncer, AIDS, Parkinson e Alzheimer.
Um abraço do THCPROCÊ.
220
AGRADECIMENTOS
221
Mas foi a última vez em que falei com minhas advogadas
enquanto estive na prisão.
164
verbalmente. Então Alexandrinho e Bina foram juntos falar
com ele de perto, deixando bem claro quem dava as cartas ali
e quem devia se calar. Ao se afastarem, Taguatinga inventou
de mandar um bilhete para outra cela, mas antes do envio o
Alexandrinho quis ler o conteúdo. O bilhete falava sobre
problemas que o Taguatinga estava tendo na cela e pedia
para alguém arrumar um espeto.
2018/@Corporation
Passo 1
A ESCOLHA DA SEMENTE IDEAL
A cannabis hoje tem várias espécies diferentes com teores de THC e CBD variados. A escolha deve ser
feita seguindo as premissas:
1º - As sementes mais acessíveis devem ser as primeiras a serem cultivadas, estão mais a mão,
essas seriam as sementes doadas ou retiradas de cannabis comprada no mercado negro.
2º - As sementes podem ser compras em sites especializados na internet, desta forma pode-se
escolher a semente de acordo com a necessidade de concentração do THC e CBD.
Passo 2
A germinação da semente
Para se germinar uma semente de cannabis devemos nos preocupar em dar um ambiente propicio com
temperaturas estáveis e não variáveis, o ideal é um local com pouca luz e temperatura entre 21 e 30 graus célsius.
A forma de germinar pode ser variada, mas o conceito é um só, deve-se quebrar a dormência das
sementes com agua. Toda semente tem uma proteção contra germinação indevida, com isso o ambiente propicio
é fundamental para quebrar esta dormência.
2º - prepare um copinho de jornal com terra preta ou substrato, este copo pode ser substituído
por células jiffy, copo de café, vasos pequenos e etc.… o importante é ser de pequeno tamanho para evitar
transtornos.
3º - prepare um copo com agua até o meio e adesiva o nome de sua semente nele caso esteja
plantando mais de uma espécie. Coloque a semente e deixa ela por 6 horas dentro da água, ela deve estar
submersa após este período.
7º - aguarde 3 dias e molhe novamente o vaso caso não tenha germinado ainda a semente.
8º - a sementes germinam com 5 dias em média, e após germinarem devem ser levadas para a
luz do dia.
9º - assim que as folhas centrais aparecem ela deve ser deixada ao sol por todo o dia, e em casos
de sol muito forte nos 3 dias iniciais deve-se dar apenas o sol da manhã.
10º - as mudinhas devem permanecer neste vaso de germinação por 15 dias sendo irrigadas uma
vez por dia.
Passo 3
Preparando o vaso de vegetação
O vaso de vegetação deve ter um volume que dê 2 litros de terra para cada mês de vida da planta, use
um vaso de 7 a 15 litros para cada planta na fase de vegetação, os vasos longos são melhores nesta fase.
Passo 4
A mudança da planta nova
A mudança da planta nova para o vaso se faz de forma a dar a ela maior espaço e profundidade para as raízes.
Devemos mudar ela de seu vaso pequeno para o vaso que preparamos para a vegetação da planta.
A hora certa é quando observamos que se passaram 15 dias e a plantinha tenha um terceiro par de folhas
pelo menos.
2º - posicione a plantinha entre os dedos da mão apoiando a face do vasinho e vire ele para baixo
assim a terra e a planta se soltam e vc desvira a mão já posicionando o monte de terra com a planta no buraco
que vc fez, não fraqueje agora, ponha de forma firme e sem quebrar o caule da plantinha, seja delicado com ela.
3º - após deixar ela posicionada no buraco preencha com a terra retirada apetando com a palma
dos dedos a terra em volta da mudinha. Faça com delicadeza, mas com firmeza também.
4º - arrume a superfície do vaso e coloque a terra nivelada, molhar com agua de forma a não
remexer a terra, com cuidado e assim que molhar deixar o vaso em um local sempre ao sol.
Passo 5
Cuidados na fase vegetativa
17. THCPROCÊ NO CDP
No caso de usar o sistema de plantio indoor com lâmpadas basta que deixe a planta 12 horas sem luz que
ela vai iniciar a floração.
1º - com a planta pronta para floração, vamos preparar a fase de floração, a planta deve ter agora
60 dias de vida.
2º - sem mudar a planta de vaso vamos dar a ela um estimulo para florir colocando o vaso em um
quarto escuro por 12 horas, pode ser um banheiro ou uma caixa grande que cubra a planta.
4º - ao definir o sexo vc deve manter elas ainda no escuro por 12 horas até o florescimento inicial.
Isso pode levar até 20 dias desde o início da definição do sexo.
5º - após ela soltar pestilos nas pontas de galhos ela já estará pronta para ir para fora e ficar sem
ser levada para o escuro. Pode deixar ela por si em um local só.
6º - agora só esperar a época de colher, mas sempre cuidando dela para que possa ter muitas
flores e produzir muita resina. Vamos ver isso na fase 7.
Passo 7
Período de floração
Logo que ela entrar na floração devemos dar uma dose de adubo a ela, aplicar o 10-10-10 no solo e irrigar
por 5 dias seguidos, lembrando de cobrir o adubo com um punhado de terra nova.
Neste período o fosforo e o potássio se fazem necessários e também o magnésio e o cobre que são
nutrientes necessários para flores fortes.
1º - após a planta estar florescida vamos dar a ela uma cobertura de 10-10-10, isso será por volta
do 75º dia de nascida.
2º - após adubar, sempre irrigar com abundância, assim ela aproveita o máximo dos nutrientes.
3º - a água nesta fase deve ser abundante também, deve se irrigar com 500 ml por dia sem faltar
um dia.
4º - durante a fase de floração vamos dar duas doses de adubo 10-10-10 granulado, uma aos 75
dias e outra aos 90 dias de vida, da planta.
5º - vamos então preparar e analisar o estado de flores e tricomas da planta para ter a certeza de
uma produção correta e eficaz para o nosso uso de acordo com a finalidade desejada. Vamos para o próximo
passo.
Passo 8
Analisando a hora da colheita e cuidando das flores
Ao iniciar a floração devemos ter o cuidado de retirar as pequenas flores e brotos que surgem nos caules
da planta. Estes brotos tendem a retirar a força da planta desviando seiva para alimentá-los. Vamos retirar no
início da floração e manter sem estes indesejados brotinhos.
O processo de corte deve ser feito com uma pequena tesoura e a mesma deve ser desinfetada com álcool.
Faça a retirada dos brotinhos até a quarta forquilha do galho, ficando apenas a parte do caule com a
ponta cheia e a parte inferior limpa.
Depois que fazemos esta limpeza devemos dar agua e luz em abundância, são os raios UVA que estimulam
a criação dos tricomas, e isso é o que queremos.
Ao analisar a planta para a colheita devemos observar os pestilos e os tricomas. Os tricomas podem estar
com 3 cores diversas, translúcidos, brancos e âmbar. Isso determina a concentração de THC e se ele está em
estado de deterioração.
Para se ter a erva com características cerebrais e altos níveis de THC devemos colher as flores numa fase
precoce quando os tricomas estiverem mais translúcidos e iniciando ficarem brancos.
Para se ter uma erva mais corporal com efeitos mais para o corpo, como se fosse para aliviar tensão
devemos aguardar os tricomas mais leitosos e iniciando o âmbar.
Isso é regra para colheita de acordo com os tricomas. Vc vai precisar de uma lente 30x para poder ver de
perto os tricomas.
Pode se ver o período certo de colheita observando os pestilos da planta, eles são como pelos brancos e
à medida que morrem ficam vermelhos queimados, isso determina a maturidade do bulbo e indica sua morte na
questão de reprodução. Para se ter um bom rendimento deve-se colher com 40% dos pestilos queimados, isso se
observa nas flores.
Passo 9
Colher, secar e curar
A planta na fase de colher se mostra muito aromada e com suas flores cheias de tricomas, deve-se cortar
as folhas grandes com a planta ainda de pé, ela só deve ser retirada do vaso após 24 horas feito a manicure.
Após as 24 horas corte a planta no pé, e pendure para secar em um local arejado e seco, com humidade
em média de 50%. É recomendável caso o período seja muito seco colocar uma bacia com agua próximo as
plantas.
Elas vão secar por 10 dias, lentamente a clorofila vai evaporando e fica somente o óleo e a celulose. Está
na hora de curar, se vc quebrar um galho da planta e ele estralar significa que já está seca o suficiente.
A cura é o próximo processo a ser feito e deve-se colocar os buds ou flores agora limpas dentro de um
pote e fecha-lo. A cura pode ser feita entre 15 e 90 dias, isso dará um ótimo aroma as flores. No caso medicinal
não se faz a cura. Se extrai o óleo sem curar.
Assim temos as flores de cannabis prontas para consumo ou confecção de óleo medicinal.
Passo 10
A produção de óleo medicinal método Rick Simpson
5º - Vasilha de plástico com capacidade de 5 litros para preparar a mistura da erva com o álcool.
6º - uma travessa de vidro refratário onde será usada para evaporar o álcool.
Processando o óleo
1º - Triture toda a erva e coloque na vasilha grande, vc deve cobrir toda a erva com o álcool
cereais, e a partir daí mecha com uma colher ou com a espátula de silicone por 60 minutos com intervalos de
repouso, deixe este processo acontecer por 1 hora.
2º - após lavar bem a erva com o álcool coe no coador para dentro da jarra, faça este processo
sem deixar cair a erva dentro do coador.
3º - repita o processo de colocar mais álcool dentro da vasilha com a erva para dar uma segunda
lavada, faça isso por mais uma hora e coe toda a erva agora.
4º - despeje o álcool coado dentro do pirex ou travessa refratária, com o cuidado para não
derramar fora.
5º - coloque a travessa dentro de um forno com temperatura máxima de 100 graus célsius.
7º - observe o óleo para que ele não ferva demais, ele deve evaporar aos poucos e sem causar
aborbulhamentos no liquido.
9º - ao notar que o óleo já está mais grosso e já saem algumas borbulhas como de um melado,
retire a travessa do forno e mecha o óleo até ele ficar mais frio quase morno.
10º - com o óleo já no ponto e ainda quente misture a mesma quantidade de óleo de coco, ou
misture 3 x a quantidade de óleo da cannabis de óleo de coco, no primeiro caso utilizaremos para doenças mais
fortes como câncer e dores crônicas, e no segundo caso em patologias como EM e alzaimer, Parkinson, epilepsia,
lúpus, fibromialgia, e mais patologias autoimunes.
Faz 3 visitas que não vejo minha irmã Jacqueline. Ela
teve que fazer uma viagem e ficou fora por 25 dias. Nesse
domingo, tenho certeza que virá. Todos ficamos aguardando,
observando os parentes que entram e as comparas que
trazem. As frutas, roupas, sabão e sabonetes. Tudo deve
estar em sacos plásticos transparentes, que são vendidos a 3
reais por unidade na porta da cadeia. Os olhos dos detentos
não saem do portão, à espera de uma silhueta, um rosto, um
sorriso conhecido. Uma porção de seres humanos
embrutecidos buscando o consolo do amor materno, a
amizade paterna, a sinceridade fraterna de irmãos e, às
vezes, o carinho da amante. Pessoas queridas que
atravessam os constrangimentos da triagem para vir ao seu
encontro no presídio. A espera parece uma eternidade e
nessas horas um cigarro ajuda. A cada reencontro, beijos por
todos os lados, lágrimas de saudade, notícias de fora que
alegram e entristecem. As demonstrações genuínas de
sentimentos são visíveis a olho nu. Em dia de visita, não se
economiza amor.