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Conforme será demonstrado a seguir, a questão número 65 não possui nenhuma alternativa

correta. Portanto, solicita-se a anulação da referida questão.

A banca considerou correta a alternativa B, enquadrando conduta do policial Jorge como típica
e ilícita, e considerou que não deveria ser aplicada pena em razão da inexigibilidade de
conduta diversa. Entretanto, a situação apresentada enquadra-se como erro de tipo
permissivo, conforme será demonstrado.

Na situação narrada, Jorge supôs situação de fato que, na realidade, não existia, acreditando
estar agindo em legítima defesa. Essa crença de Jorge se devia ao fato de ele já ter sido
ameaçado por lideranças do tráfico na região do seu bairro, que era violento. Trata-se,
portanto, de erro quanto aos pressupostos fáticos do evento.

Conforme o item 19 da Exposição de Motivos do Código Penal (CP) brasileiro, tal legislação
adotou a teoria limitada da culpabilidade em relação às descriminantes putativas:

“19. Repete o Projeto as normas do Código de 1940, pertinentes às denominadas


"descriminantes putativas". Ajusta-se, assim, o Projeto à teoria limitada pela culpabilidade,
que distingue o erro incidente sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação do
que incide sobre a norma permissiva. Tal como no Código vigente, admite-se nesta área a
figura culposa (artigo 17, § 1º).”

Segundo a teoria limitada da culpabilidade, incidindo o erro do agente sobre os limites ou a


existência da justificante, incorreria em erro de proibição, devendo ser aplicado ao caso o art.
21 do CP (se escusável, exclui-se a culpa; se inescusável, diminui a pena). Ainda de acordo com
essa teoria, se o erro recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, deve ser
considerado erro de tipo, também chamado erro de tipo permissivo, aplicando-se ao caso o
art. 20, §1º do Código Penal. Ocorrendo o erro de tipo permissivo, se inevitável, exclui-se o
dolo e a culpa, devendo o agente ser isento de pena; se evitável, exclui-se apenas o dolo,
respondendo o agente a título de culpa se o fato é punível como crime culposo.

Nesse sentido, é a lição de Juarez Cirino dos Santos (Direito Penal – parte geral. 3 ed. Curitiba:
Lumen Iuris, 2008. p. 309 apud NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal – parte
geral. 10 ed., rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 315):

“A equiparação do erro de tipo permissivo ao erro de tipo, como característica da teoria


limitada da culpabilidade, se baseia no argumento de que o autor quer agir conforme a norma
jurídica – e, nessa medida, a representação do autor coincide com a representação do
legislador, ou com o direito objetivo existente-, mas erra sobre a verdade do fato: a
representação errônea da existência de situação justificante exclui o dolo, como decisão
fundada no conhecimento das circunstâncias do tipo legal, mas no desconhecimento da
inexistência da situação justificante, cuja errônea admissão significa que o autor não sabe o
que faz – ao contrário das outras espécies de erro de proibição, em que o autor sabe o que faz,
mas erra sobre a juridicidade do fato.”

Na situação apresentada na questão, o policial Jorge incorreu em erro sobre os pressupostos


fáticos da justificante e acreditou estar agindo em legítima defesa, considerando as ameaças
que havia recebido. A questão informa, ainda, que Jorge foi surpreendido por dois homens
com armas em punho e que, diante disso, o policial agiu conforme seus treinamentos, não se
verificando qualquer possibilidade de imprudência, negligência ou imperícia.
Dessa forma, verifica-se que a alternativa B, apresentada como correta no gabarito preliminar
para a questão 65, na realidade está equivocada, pois não se trata se inexigibilidade de
conduta diversa, mas sim de erro de tipo permissivo inevitável, excluindo-se o dolo e a culpa
do agente, que ficará isento de pena. Em relação às demais alternativas, a alternativa A afirma
tratar-se de excludente de ilicitude, enquanto as alternativas C, D e E afirmam que deve ser
imputada pena a Jorge. Assim, diante da inexistência de alternativa correta para a questão,
requer-se sua anulação.

Conforme será demonstrado a seguir, a questão número 7 possui duas alternativas corretas,
quais sejam, as alternativas A e C. Portanto, solicita-se a anulação da referida questão.

A banca considerou correta a alternativa A. No entanto, também está correta a letra C,


conforme será demonstrado a seguir.

O texto a que se refere a questão trata-se de um excerto da obra de Pierre Clastres, intitulada
“A Sociedade contra o Estado”. No trecho, há referência à obra de Claude Lévi-Strauss, autor
conhecido por recusar-se a empregar termos como “primitivo” e “selvagem” em seu sentido
pejorativo, como são usados geralmente para referir-se a tais povos como atrasados ou
inferiores aos europeus. Nesse sentido, conforme Claude Lévi-Strauss (Lévi-Strauss nos 90
voltas ao passado. Mana, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 105-117, out. 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
93131998000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 jun. 2018.)

“No mesmo ano, em um artigo intitulado "A Noção de Arcaísmo em Etnologia", recusei o
emprego do termo "primitivo" para designar povos aos quais se concederia, dizia eu, "o
exorbitante privilégio de ter durado e de não ter história". Acrescentei: "Um povo primitivo
não é um povo atrasado ou retardado [...] tampouco um povo sem história, embora o
desenrolar desta nos escape" [...]”

Diante disso, percebe-se que o autor do texto utilizado como base para a questão, ciente do
posicionamento de Lévi-Strauss, utilizou tais termos no texto entre aspas, recurso comum
quando se deseja imprimir destaque, ironia ou um significado contextual ao termo. Conforme
Evanildo Bechara (Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo
Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. p. 521):

“As aspas também são empregadas para dar a certa expressão sentido particular (na
linguagem falada é em geral proferida com entoação especial) para ressaltar uma expressão
dentro do contexto ou para apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria [...]”

Considerando-se o exposto, a letra A está correta, tendo em vista que, de fato, o autor buscou
imprimir ironia ao termo “primitivos”. Contudo, verifica-se que o termo “selvagens” é usado
no texto também entre aspas, objetivando conferir o mesmo sentido irônico ao termo, o que
revela a sinonímia entre os termos “primitivos” e “selvagens”. Essa sinonímia é verificada a
partir do contexto, conforme determina o enunciado da questão.

“É o fato de haver mais de uma palavra com semelhante significação, podendo uma estar em
lugar da outra em determinado contexto, apesar dos diferentes matizes de sentido ou de carga
estilística. [...] Um exame detido nos mostrará que a identidade dos sinônimos é muito
relativa; no uso(quer literário, quer popular), eles assumem sentidos “ocasionais” que no
contexto um não pode ser empregado pelo outro sem que se quebre um pouco o matiz da
expressão.”

Diante do exposto, verifica-se que as alternativas A e C estão corretas, motivo pelo qual
requer-se a anulação da questão.

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