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1º DIA DE ESTÁGIO

Inicialmente ficamos receosas com a forma como fomos recebidas na


instituição, mesmo com o contato prévio feito uma vez por telefone, duas vezes
pessoalmente e a autorização da GERED a responsável pela instituição na data não
tinha conhecimento sobre o estágio. (Cada noite fica uma responsável pela instituição,
sendo então grande a falta de comunicação feita na escola). Mais um motivo de nosso
receio foi pela grade de matérias estipulada para uma série de terceirão, sendo esta
composta por duas aulas de artes. (Sendo esta muito bem colocada ao final, pois
percebe-se que a profissional designada para isso estava muito bem preparada para
a situação que estava imposta, conseguia fazer uma ponte entre todas as matérias,
transmitir o conhecimento adequado e ainda assim cuidar do bem estar de seus
alunos, fazendo um papel multidisciplinar e completo, conseguindo atingir diversas
áreas que são necessárias para condições de aprendizagem, sendo um trabalho
surpreendente).

Carreira

Faz 21 anos que está na instituição e 27 anos que exerce carreira de


professora, sendo que passou por redes estaduais e municipais de ensino. Iniciou
com 16 anos de idade onde exerceu função nas seguintes escolas, sendo elas de
ensino estadual EEB Frei Nicodemos, EEB Flordoardo Cabral, EEB Pinto Sombra,
EEB Maria Quitéria, EEB Aristilhano Ramos, EEB Mauro Gonçalves e também na
cidade de São Jose do Cerrito na escola estadual da cidade. E nas escolas municipais
atuou em EBM Santa Helena, EBM Antônio Joaquim Henrique, EBM Izidoro Marin e
EBM Ondina Neves Bleyer Quando foi pra iniciar carreira na época eram feitos testes
vocacionais onde se dizia para os pais que o resultado que obtivesse o teste era a
profissão que aquela determinada pessoa deveria seguir... Fez magistério,
administração de empresas e então foi para a área empresarial, não se habituou com
a área e foi estudar artes, tem habilitação em artes plásticas pela UNIPLAC em 2013,
sua primeira especialização foi fundamentos estéticos e metodológicos pela UNIPLAC
e depois fez artes visuais pela UNIASSELVI e em 2018 completou seu mestrado em
educação pela UNIPLAC. Sendo assim retornou a exercer função de professora na
escola em 2008, trabalha nesta instituição do 1º ano das séries iniciais até o 3º ano
do ensino médio. No início trabalhou com outras matérias para completar carga
horária, passando por diversas matérias, como ensino religioso, educação física,
história e entre outras mesmo não tendo conhecimento nessas áreas, tinha que
estudar sobre o conteúdo e apresentar da mesma forma para os alunos. Desde 2004
então passou a trabalhar só na área das artes.

Complicante

Quando um professor é contratado é algo instável, não sabe para onde vai e
portanto não tem sequência do trabalho sendo problema tanto para o professor quanto
para seus alunos, não conseguindo assim ver o desenvolvimento. Quando um
professor é efetivo ele consegue ver o desempenho do aluno, consegue assim
conhecer sua história, saber quem ele é e portanto qual é sua realidade.

O que a escola oferece é muito pouco e na maioria das vezes insuficiente


portanto o professor acaba colocando a mão no bolso para adquirir materiais, para
que o trabalho possa ter continuidade.

Plano de aula

É fundamentado na história cultural e filosófica da escola, as escolas


normalmente são conteudistas, mas em sua metodologia não existe exatamente um
planejamento, por causa do tempo que trabalha com isso, a utilização do livro didático
é feita de uma maneira diferenciada, percebe-se a realidade dos outros professores
como uma “violência curricular” em suas próprias palavras, para dar conta da meta,
cada um está dentro do seu próprio quadrado e portanto não está nem ai para os
outros tanto para o grupo de colegas, para o trabalho em conjunto como para as
dificuldades e realidades dos alunos.

Seus planejamentos de aula são flexíveis e são desencadeados dependendo


do nível de cada turma, para assim saber com quem está lidando, qual a realidade
dos alunos, em diversas turmas disse fazer um roteiro de leitura de imagem onde
conseguiria assim determinar o que estava em defasagem. “Não trabalhamos com
coisas prontas”, trabalho com uma proposta Risomática que envolve então a música,
a dança, teatro, linhas, teoria e sempre com elementos novos que modificam análise
do livro com eles mesmo demonstrando seus interesses e com o que se identificavam.
Inicialmente portanto faz o trabalho com o livro didático tratando e percebendo com
os alunos o que é realmente importante, se se encontram nos capítulos, o conteúdo
sendo praticamente estipulado para os alunos.
Trata de diversos assuntos em suas aulas através leitura de imagem, som,
histórias, movimento do corpo... Sendo estes gênero, preconceito, vida e todas as
situações que podem ser encontradas.

O plano de aula se torna algo automático depois de muito tempo exercendo a


profissão, quando os profissionais são novos na área ai não conseguem ter uma
noção do que fazer e o plano de aula cabe muito bem.

Experiências

Cada escola é uma experiência única, são realidades completamente


diferentes e estas mudam totalmente a situação, principalmente pelas condições
sociais que os alunos se encontram. Percebe-se então em determinadas escolas
indivíduos de vulnerabilidade maior, onde possuem mais zonas de drogas, trabalhou
também com comunidades do interior onde muda toda a estrutura familiar e as
defasagens. Destaca na evolução do seu processo de trabalho, no tempo de carreira
com as mudanças de época como conseguia manter o respeito dentro de uma sala
de aula tendo apenas 16 anos.

*Os alunos passam livremente pelos corredores, correm e ela olha e não se manifesta,
algumas se dirigem até ela para pedir autorização para sair e ela relata que estas já
são mães.

Também já trabalhou em uma escola em uma área militar, fala da diferença em


lidar com alunos de uma escola que não é urbana, onde tinham que caminhar de 5 a
10km por dia para pegar o ônibus e chegar até a escola, sendo por este fator
apresentado que os alunos davam mais valor à aula. “tinham alunos que levavam
lanternas para poder andar quilômetros a noite para poder espantar os bichos até
chegar em casa, e chegavam cerca de 1:30 da madrugada”. Nesta ainda não se
tinham muitos materiais comprados para trabalhar, sendo assim ela conseguia fazer
com que os alunos trouxessem as realidades deles para dentro da sala. “professora,
não sei se você vai aceitar meu pássaro” preenchido com sabugo de milho e coberto
com penas de verdade que caiam dos pássaros. (foi levado para exposição).
Personagem de um homem feito com galhos de árvores. Nesta mesma instituição no
interior conseguiu ainda converter o conteúdo para diversas situações, como danças,
ensaios fotográficos.
Sendo assim fala que não possui condições necessárias e nem liberdade para
articular com certas coisas na instituição.

Seus planejamentos de aula são flexíveis e são desencadeados dependendo


do nível de cada turma, para assim saber com quem está lidando, qual a realidade
dos alunos, em diversas turmas disse fazer um roteiro de leitura de imagem onde
conseguiria assim determinar o que estava em defasagem. “Não trabalhamos com
coisas prontas”, trabalho com uma proposta Risomática que envolve então a música,
a dança, teatro, linhas, teoria e sempre com elementos novos que modificam análise
do livro com eles mesmo demonstrando seus interesses e com o que se identificavam.
Inicialmente portanto faz o trabalho com o livro didático tratando e percebendo com
os alunos o que é realmente importante, se se encontram nos capítulos, o conteúdo
sendo praticamente estipulado para os alunos.

Trata de diversos assuntos em suas aulas através leitura de imagem, som,


histórias, movimento do corpo... Sendo estes gênero, preconceito, vida e todas as
situações que podem ser encontradas.

Relata um trabalho feito com os alunos da instituição onde adolescentes de 15


anos escolheram fazer trabalho com mídias onde foram divididos em grupos e cada
grupo escolheu o tema (et, palhaço/klauss, dança, animais) onde fizeram vídeos
editaram, e apresentaram em oficinas de trabalho publicado no mato grosso, no maior
festival de arte e também concorreram a outros prêmios.

*Relata projeto das crianças com os homens das cavernas apresentando os


flinstones, e fazendo a identificação com eles, também de um trabalho feito com
meninas de 9 anos onde apresentaram para professores de artes como se ensina a
tecelagem e costura. Fez também o projeto de batalha de rap que foi para diversos
concursos trabalhando a linguagem que estava sendo um complicante. (solução -
pista de skate onde os próprios alunos construíram, quando estavam andando de
skate sem parar dentro da escola).

Fala também que não tem mais um público presencial, e conseguiu fazer o
trabalho de EAD com uma aluna que não podia sair na quinta e sexta a noite para ir a
aula por causa da religião.

Apoio
Tem muito apoio do SESC que facilita o trabalho de artista visual.

A instituição

Tem o método de ensino por Paulo Freire, tem mais de 60 anos, se mudou para o
local que é hoje no ano de 1981, antes era uma escola de freiras, mas quando ouve
esta mudança perdeu o vínculo. Hoje é dirigida por pessoas escolhidas por eleição.
Já chegou a ter de 1300 a 1500 aluno, e hoje tem aproximadamente 500 alunos.
Possui professores efetivos e contratados. Possui salas de ensino médio inovador,
onde as salas são laboratórios e são os alunos que trocam de lugar. De materiais a
escola possui 2 projetores, tinham 1 microondas e 1 televisão mas foi roubado, e tem
uma cozinha para a merenda e para que os professores comam. A merenda é feita
conforme o projeto e existe um cardápio próprio.

Afetividade

É muito afetiva e comunicativa e costuma perceber as coisas, geralmente já


consegue conhecer pela forma que a pessoa está, usa isso com os colegas e alunos.
A orientadora trabalha bastante este processo de lidar com os comportamentos dos
alunos, com questões de empoderamento.

Percebe-se inicialmente uma dificuldade em acompanhar a definição de


afetividade dentro do ensino, trazendo-a como uma forma de representações físicas,
mas depois retrata sobre a conversa, o abraço, atenção, que muitas vezes acolhe o
aluno e chama para a conversa sobre situações que tem vivenciado e as escolhas
que tem feito, para fazê-lo refletir sobre estas. Sobre onde quer chegar pelo caminho
que está indo.

Destaca que para os que se encontram ali o único suporte na maioria das vezes
é a escola. Destaca a necessidade e importância do profissional de psicologia em uma
escola, para que contribuam neste processo de orientação, encaminhamentos e etc
para a melhoria da aprendizagem.

Relata muito a gravidez em meninas de 11 e 12 anos, e que tenta dar o apoio


necessário até mesmo fora da instituição porque geralmente vivem de forma precária,
para que possa se ter um ajustamento dos problemas.
Faz a conversa entre os pais dos alunos dando uma devolutiva da aula, sendo
dificuldades com relação a dedicação, falta de disciplina, motora ou uma dislexia por
exemplo. Faz isso para que os pais possam também orientar em casa e perceber
essas dificuldades, para que os alunos se desenvolvam.

 “Eu sou professor e você é o aluno, preconceito, homofobia”.


 Em casos de violência podem ser apresentados agressão física, arma branca,
bullying, preconceito, homofobia, drogas, homicídios.
 O conselho tutelar tem seu papel como medida protetiva, percebe então o que
precisa ser feito, seja a mudança de lugar, atendimentos, encaminhamentos
para outros profissionais, acolhimentos institucional, entre outros.

Ensino e aprendizagem

Ensino para ela é uma passagem, precisa de acolhimento para que se


descubra, conforme a construção para poder usar la fora, tenta mostrar o potencial e
perceber quais os estímulos são necessários, estipular metas e objetivos, descobrir o
que é importante para se tornar um cidadão conforme a realidade daquele aluno.

Diz que não existe o “entre” com relação a aprendizagem e ensino, eles são
atrelados, onde a aprendizagem é constante, tem que aprender com esse aluno
também. O aluno muitas vezes na situação da escola faz o professor valorizar o que
tem. Quando entendemos que todo dia é dia de aprender, e estamos dispostos a
melhorar sempre.

Hoje vê diversas vezes a escola assumindo o papel de família na falta ou


problemas desta, e destaca as “famílias de convivência” onde são duas mães,
deixando então de serem famílias patriarcais. Muitas situações também de “filhos da
vó” onde a mãe foi para um lado e o pai para outro e a avó é a cuidadora e responsável
principal.

Isto tudo vai da minha construção profissional, da experiência e do


conhecimento, pensando em como será e é a minha contribuição como
educadora. Para que se possam formar cidadãos críticos, capazes de construir
sua própria história de vida.
É aprender a olhar o mundo com outros olhos, é como relacionamentos, os
olhares são diferentes, os gostos são diferentes, realidades diferentes.

O professor deve estar em estudo constante, devemos ter a noção de que


nunca sabemos tudo e estarmos sempre aptos a aprender com tudo com o que nos
deparamos.

2º DIA DE ESTÁGIO

A respeito do material pedagógico ele vem tranquilamente fornecido pelo


estado, o que percebe-se a falta são de pessoas e profissionais da área de psicologia
para entender e ajudar aqueles que se encontram na instituição. A coordenadora
trabalha na instituição a 8 anos, é o terceiro ano como coordenadora e exerce a
profissão a 30 anos. A instituição funciona com a direção de 10 assessores mais a
diretora, que trabalham em períodos intercalados, 9 de dia e 1 de noite.

O planejamento de aula correto, como deve ser o planejamento diário, para que
as coisas funcionem acompanha todo esse processo e se considera bastante
exigente. Cobra e explica assim que percebe a necessidade de auxílio pois
infelizmente percebe que o que se aprende na graduação é só a teoria e não a parte
prática. No plano de aula contém: objetivo, conteúdo, roteiro, cronologia – quantas
aulas vai usar para determinado conteúdo, como vai trabalhar e quais serão os
recursos utilizados - (pode ser manuscrito ou digitado).

Ela trabalha com parapsicologia, e atua um pouco nesta área mesmo não
sendo contratada para isso pois vê grande necessidade, tenta pelo menos fazer uma
escuta com os alunos e professores e alguns casos são feitos encaminhamentos, mas
não se tem tempo hábil para isso, tem que exercer muitas funções e papeis ao mesmo
tempo, reuniões, resolver “furos” de professores que não vem, etc. Deve-se descer no
nível de cada um, compreender porque não veio na aula, entender, pois é impossível
ter um bom rendimento se o aluno não se encontra em boas condições.

Sobre o processo de ensinar e aprender, acredita que o aluno tem que sentir a
necessidade de aprender e o professor deve oferecer esse estímulo para que o
conteúdo possa ser passado e os objetivos atingidos. Para isso necessita-se de
diversas técnicas e instrumentos para que este processo aconteça por real
competência dos alunos. Acredita que o ensino transforma a realidade das pessoas,
para tornar o aluno uma pessoa melhor.

Intervenções relacionadas ao apoio ao desemprego, sexualidade aflorada,


drogas e família é feita somente através de palestras por falta de um profissional fixo
(psicólogo). Isso causa uma desestruturação, até mesmo na orientação dos
professores.

A realidade em que as crianças vivem interferem diretamente em sua


aprendizagem. “Como que um filho de usuários de drogas de todos os tipos vai possuir
uma parte cognitiva saudável, sem uma boa estruturação familiar.”. Sem afetividade
não existe aprendizagem. Fala do aspecto de que na maior parte das vezes acabamos
relacionando o conteúdo passado com a nossa relação com o professor.

Após a entrevista foi feita uma visita pela escola para conhecermos o espaço,
nesta análise do ambiente percebe-se a falta de uma rampa como suporte para
deficientes físicos, possuem chuveiro no banheiro dos alunos, as salas tem pouca
ventilação, no corredor se vê contato externo tornando-se um impasse nos períodos
de frio intenso. A alimentação é disponibilizada pela instituição, no cardápio é pensado
na condição de quem tem diabetes, mas intolerâncias não são mencionadas. A
iluminação é boa, cadeiras se encontram em bom estado de conservação, há muito
barulho durante as aulas, músicas, alunos correndo e falando. Existem exemplares
novos de livros jogados por todos os cantos, mas não se percebe muita utilização
desses, na biblioteca observa-se falta de organização, de móveis e de livros de
literatura, só se vê livros didáticos.

Uma professora da instituição veio em nossa direção e se dispôs a demonstrar


seu método de ensino e seus objetivos. Ela trabalha na instituição a cerca de 12 anos
e é coordenadora de Biomedicina em uma das universidades da região. Dá a disciplina
de química para os alunos da escola.

Professora demonstra interesse e motivação em relação a matéria explicada.


Tem preocupação com o aprendizado dos alunos, usa de diversas técnicas para
chamar a atenção dos alunos e fazer com que se interessem, prestem atenção e
consequentemente aprendam. Faz adaptações com os materiais que possui pois a
escola não contém materiais adequados e um laboratório, o pouco de materiais que
possuem foram fornecidos pelo CAV. E assim ela vai se habituando e tentando
mostrar um pouco da realidade da química.

PERCEPÇÕES

Conseguimos sentir bastante necessidade de escuta e de conversa, assim


como a carência de um profissional da psicologia dentro da escola. Através da
conversa com as duas professoras e a orientadora percebemos ao nosso olhar que
grande parte da falha da educação de nosso pais pode estar direcionada a vivencia
domestica dos alunos, que a problemática maior é onde e como este aluno vive, em
quais condições, sociais, biológicas e financeiras. A escola é bem equipada com
materiais didáticos completos, refeição, banheiro, salas que apesar de poucas janelas
conseguem serem amplas, deixou transparecer dos profissionais motivação e amor
pelo que fazem, querendo melhorar sempre, conhecendo seus alunos e sua vida fora
da escola. O ambiente da escola é saudável, com ruídos de alunos nos corredores
(musicas, conversas etc.) As salas de aula do ensino fundamental são bem decoradas
com conteúdo motivacionais para idade cognitiva da série.

A falta de opções para os portadores de deficiência física mostra uma falta de


sensibilidade junto com renda baixa para construções. A ausência da figura do
psicólogo na escola nos mostra a importância que eles (professoras e orientadora)
percebem ter o auxílio do profissional, a mudança que poderia estabelecer entre
alunos e suas vivencias e professores. A escuta qualificada para uma melhora
significativa na aprendizagem ou um encaminhamento direcionado.

Sentimos um olhar de gratificação por parte das entrevistadas por termos


escolhido a instituição para realizar este “projeto”, apesar de frisarem que seria mais
interessante um olhar para as turmas menores (fundamental) elas aparentam
aguardam ansiosamente a devolutiva.

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