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28/08/2017 Parecer CG n.

º 53/2010 - Ordem dos Advogados

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Parecer CG n.º 53/2010


30 DE AGOSTO, 2010

PARECER

I - INTRODUÇÃO
 
Compulsado o processo de inscrição, verifica-se que o Requerente, Senhor Dr. …., que usa o nome abreviado …, requereu a suspensão do seu estágio como
advogado, com efeitos a partir de …2006 (cfr. fls. 55), o que lhe foi deferido em … de 2006 pelo Sr. Presidente do Conselho Distrital de … (cfr. fls 56).
 
Em … de 2008 o mesmo requerente solicitou ao Conselho Distrital de … a sua inscrição na Ordem dos Advogados Portugueses para a prática de actos de consulta
Jurídica nos termos do artigo 193º do Estatuto da Ordem dos Advogados Portugueses (EOA) e do Regulamento de inscrição de juristas de reconhecido mérito
mestres e doutores em direito, para a prática de actos de consulta jurídica (Regº. Nº 111/2006, de 23 de Junho).
 
Por requerimento datado de … de 2010 (mas só entrado em …), o mesmo requerente solicitou ao Conselho Distrital de … o levantamento da suspensão da sua
inscrição como advogado estagiário, com efeitos imediatos, para repetição da fase complementar do estágio.
 
Entretanto, por deliberação de … de 2010 (cfr. fls. 112 e 113) o Conselho Geral veio deferir a inscrição do requerente como Jurista de reconhecido mérito, para a
prática de actos de consulta jurídica.
 
Em … de 2010 o mesmo requerente, considerando que ainda não tinha sido apreciado o seu pedido de Fevereiro – i.e., de levantamento da suspensão da inscrição
como advogado estagiário – solicitou ao Conselho Distrital de … pronúncia sobre o mesmo e que atribuísse ao despacho efeitos reportados à data de entrada do
pedido de levantamento (que erradamente refere como sendo … de 2010).
 
 
A) QUESTÃO
 
Por seu despacho … de 2010 o Sr. Dr. …, Ilustre Vogal do Conselho Distrital de …, referiu que “não existem fundamentos para indeferimento do pedido” em causa.
Todavia, manifestou duvidas relativamente à possibilidade da cumulação, em simultâneo, dos estatutos de inscrito na Ordem dos Advogados como jurista de
reconhecido mérito, mestre e outros doutores em Direito por um lado, e por outro com os estatutos de advogado estagiário e/ou advogado.
 
Daí ter dirigido ao Conselho Geral pedido de parecer sobre as seguintes questões:
1. A inscrição do Requerente na fase complementar do estágio poderá ser admitida sem que o mesmo proceda ao pedido de suspensão de inscrição como
Jurista de Reconhecido Mérito?
2. Em caso afirmativo, aquando da inscrição definitiva como Advogado, dever-se-á advertir o requerente que deverá requerer o cancelamento da sua inscrição
como Jurista de Reconhecido Mérito?
 
B) POSIÇÃO DO REQURENTE
 
Tomando posição sobre as dúvidas suscitadas pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital, veio o Requente, por sua carta de …. 2010, expor a sua posição nos seguintes
termos:
«(…)
 Como o próprio Sr. Vogal do Conselho Distrital sublinha no seu despacho “não existem fundamentos para indeferimento do pedido”
em causa. Creio igualmente que poderão ser dissipadas as duvidas apresentadas pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital à luz do EOA e dos
respectivos regulamentos aplicáveis.
O estatuto profissional previsto e regulado no artigo 193. do EOA e no respectivo Regulamento n. 111/2006 é um estatuto autónomo,
diferente do estatuto de advogado e certamente do estatuto de advogado estagiário. Atesta-o desde logo o facto de a inscrição neste
estatuto exigir diferentes requisitos ? em concreto, a titularidade do grau de mestre ou do grau de doutor em direito e/ou o reconhecimento
do mérito profissional, necessariamente dependente de um pedido e respectiva avaliação ad hoc no âmbito discricionário do Conselho Geral
da OA ? daqueles que são exigidos para a inscrição como advogado e certamente para a  inscrição  como  advogado  estagiário. Exige ainda a
prestação de  provas  públicas  perante  um  júri,  provas  cuja natureza, tipo e realização são substancialmente diferentes das provas para
inscrição como advogado e como advogado estagiário, nomeadamente na medida em que, para além    de      questões      deontológicas,     
versam    particularmente    sobre    o    curriculum profissional do candidato (e o respectivo mérito).
 
Assim, do ponto de vista dos requisitos de acesso ao respectivo estatuto profissional creio que resulta relativamente claro que os dois
estatutos (ou os três, se autonomizarmos o advogado estagiário) são diversos e, à falta de norma legal indicando o contrário, não vejo de
que forma posse verificar-se qualquer instância de putativa incompatibilidade ou impedimento em cumular dois estatutos autónomos de
inscrição na OA.
Passo agora à análise das competências permitidas ao jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em direito.

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Poderia afirmar-se que, embora os requisitos de inscrição suportem a visão de que os dois estatutos são autónomos, as competências
de ambos sobrepõem-se, pelo que tal facto levantaria as referidas dúvidas.
Todavia, quanto às competências, creio que também resulta claro serem os estatutos em causa diferentes e em nada incompatíveis.
Quanto à relação entre o estatuto de advogado estagiário e de jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito o
que a dúvida apresentada pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital parece sugerir é que uma vez inscrito como jurista de reconhecido mérito,
mestres e outros doutores em Direito não me será permitido em qualquer momento realizar e terminar o estágio, sob pena de
incompatibilidade. Tal visão representaria uma restrição ao exercício da actividade profissional que, a não ser justificada por lei ou razões
de ordem pública, não vejo como possa obter vencimento.
Com certeza, poderia inscrever-me como advogado estagiário e renunciar à ou suspender a minha inscrição como jurista de
reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito, dessa forma realizando (ou no meu caso terminando) o estágio.
 
Todavia, isso implicaria, sem aparente razão legal ou de interesse público ou sequer de interesse atendível da classe, que um jurista
já qualificado para tal pela OA fosse obrigado a prescindir do direito de prestar consulta jurídica autonomamente e sem supervisão de um
advogado ? o que como V. Exa. suporá tem implicações gravosas em qualquer carreira profissional.
O advogado estagiário, por natureza e definição estatutária, integra um estatuto temporário que não existe nem faz sentido sem o
estatuto de advogado; é um estádio necessário no caminho para obter o título de advogado (salvo os casos excepcionais de inscrição como
advogado de doutor em direito no exercício efectivo de funções docentes). Implica, para protecção da classe e do próprio advogado
estagiário uma capitis diminutio profissional em que o estagiário está sempre dependente de supervisão de um advogado.
Já o jurista de reconhecido mérito tem as suas competências restringidas à consulta jurídica, mas no exercício dessas competências é
completamente autónomo e responsável pelos serviços que presta e/ou actividades que exerce. Por essa razão, o EOA exige-lhe que tenha
obtido grau de mestre ou doutor e/ou veja o seu mérito como jurista reconhecido pelo Conselho Geral da OA num pedido ad hoc.
Repito: na ausência de uma previsão legal nesse sentido, parece-me que só um motivo gravoso poderia justificar exigir ao jurista
inscrito como jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito que prescinda deste direito de exercer a consulta jurídica
autonomamente, por si adquirido com prestação das provas respectivas, para que se possa inscrever como advogado estagiário e,
eventualmente, num prazo de vários anos obter o titulo de advogado se e quando forem prestadas as respectivas provas com sucesso.
Creio pois que a dúvida levantada pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital, por não ter suporte legal, deverá ser afastada de forma a
evitar uma situação gravosa como a descrita, em que um jurista qualificado para tal pela OA não pode exercer a sua actividade (de consulta
jurídica) livre e autonomamente, sem que para tanto haja um motivo ponderoso.
Seguidamente, refiro-me à segunda questão colocada pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital, a saber, se não havendo incompatibilidade
entre a minha presente inscrição com o estatuto de advogado estagiário, deverá o Conselho Distrital exigir ao momento da inscrição
definitiva como advogado o cancelamento da inscrição como jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito.
Uma vez mais solicito a V. Exa. consideração de que, nos termos da lei e do EOA, trata-se de dois estatutos diferentes e diversos,
respeitando diferentes processos e requisitos de inscrição e dando azo ao exercício de diferentes competências.
Suponho que neste caso a preocupação do Sr. Vogal do Conselho Distrital seja a de que o estatuto de advogado, em função de estatuto
pleno que é, consuma as competências da inscrição como jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito. Isto parece
ser verdade ao nível das competências: o Advogado pode fazer tudo (e com a mesma autonomia) que pode fazer o jurista de reconhecido
mérito, mestres e outros doutores em Direito, para além claro das outras competências profissionais não permitidas ao jurista de
reconhecido mérito, mestre ou outros doutores em Direito e atribuídas ao advogado.
Todavia, é também relativamente claro que, nos termos estatutários e regulamentares aplicáveis, os dois estatutos são de tal forma
diversos que o título de advogado não da acesso, per se, ao título de jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito.
Diferentemente do advogado estagiário, o estatuto de jurista de reconhecido mérito, mestres e outros doutores em Direito não é
necessariamente temporário, precário ou dependente do estatuto de advogado. Em suma, pura e simplesmente são estatutos diferentes.
Baseando-me na lei e regulamentação aplicável, não vejo nenhum impedimento ou incompatibilidade na cumulação dos dois estatutos
profissionais, uma vez eles sejam obtidos com o preenchimentos dos respectivos requisitos. Creio que uma interpretação restritiva no
sentido em que parecem apontar as dúvidas do Sr. Vogal do Conselho Distrital, com os efeitos gravosos que daí decorrem para a minha
liberdade e direito de, uma vez qualificado para tal pela OA, exercer a minha actividade profissional fica onerada com o ónus da
argumentação mais apertado do que o receio de que tal situação “poderá fazer supor a existência de direitos acrescidos”. Não me parece
que tal risco exista e, se V. Exa. assim o entender, bastará instruir-me quanto ao modo em que tal risco ou preocupação pode ser acautelada
por mim próprio no exercício da actividade (uma vez mais, se e quando vier a obter o título de advogado).
Assim, relativamente as dúvidas levantadas pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital, solicito a V. Exa. que considere as informações
prestadas nesta comunicação. Solicito ainda encarecidamente que na ponderação da primeira questão apresentada pelo Sr. Vogal do
Conselho Distrital considere V. Exa. que um eventual impedimento de levantamento da suspensão da inscrição como advogado estagiário
preclude a possibilidade de realização completa do estágio e consequentemente de que venha a inscrever-me no futuro, assim sejam
cumpridos os pressupostos do processo de inscrição, como advogado na OA. Reitero que na ausência de permissão legal expressa, tal
restrição não encontra fundamento legal nem sequer, segundo creio, em outros motivos de interesse público ou da classe.
Faço ainda notar que esta comunicação não tem por base capricho ou mero espírito causídico; pelo contrário, aprecio e compreendo a
cautela do Sr. Vogal do Conselho Distrital tendo em conta a aparente natureza inédita da situação. Todavia, a presente comunicação tem por
base a necessidade de exercício legítimo e autónomo da consulta jurídica para o sustento próprio, depois de nos termos legais e
regulamentares ter preenchido os respectivos requisitos e ter sido aprovado nas provas a que fui submetido.
Finalmente, solicito a V. Exa. que, tendo em conta que o requerimento para levantamento da suspensão da inscrição como advogado
estagiário, submetido a 9 de Fevereiro de 2010 ao Conselho Distrital de …, não foi ainda apreciado, nomeadamente para esclarecimento
desta dúvidas, considere autorizar o Conselho Distrital a, caso o requerimento de 9 de Fevereiro de 2010 seja deferido, ser atribuído ao
despacho efeitos retroactivos à data de entrada desse requerimento para efeitos de contagem do período de estágio.»
 
 Feito o contraste entre as questões postas e a posição em o Requerente que se estriba, cumpre emitir parecer.
 
 
 
 
 
II - PARECER

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A) DISTINÇÃO
 
Começaremos por notar que as duas questões dirigidas pelo Conselho Distrital ao Conselho Geral, embora tenham alguma conexão, são diferentes quanto à
natureza e quanto ao tempo.
 
Quanto á natureza, pois que, a haver incompatibilidade de estatutos, seria, na primeira, entre o de estagiário e o de jurista de reconhecido mérito; já na segunda,
seria entre o de Advogado e o de jurista de reconhecido mérito.
 
E quanto ao tempo, pois na verdade a primeira coloca um problema actual e imediato (se o CDL poderá ser admitida a requerida inscrição na fase complementar
do estágio sem que o mesmo Requerente proceda ao pedido de suspensão da sua inscrição como Jurista de Reconhecido Mérito). Já com a segunda pretende-se
responder a um problema futuro e eventual (só surgirá se, e quando, for chegado o momento da inscrição definitiva do Requerente como Advogado).
 
 
B) RESPOSTA
 
a) Compatibilidade entre o estatuto de jurista e o de estagiário?
 
Começando pela primeira questão, também não vislumbramos qualquer incompatibilidade entre o estatuto de estagiário e o de jurista de reconhecido mérito.
 
Assim, sufragamos por inteiro a posição expressa a propósito pelo Dr. … na sua carta de 24 de Abril.
 
Nomeadamente, é correcto afirmar que o estágio é um estádio inicial (no longo caminho da formação profissional), necessário para qualquer licenciado em direito
obter o título de advogado (salvo os casos excepcionais de inscrição como advogado de doutor em direito no exercício efectivo de funções docentes).
 
Ou seja, o advogado estagiário, por natureza e definição estatutária, integra um estatuto temporário que não existe nem faz sentido sem o estatuto de advogado.
Implica, como diz o Requerente, o estagiário sofre uma espécie de capitis diminutio profissional, em que está sempre dependente de supervisão de um advogado,
ditada quer para protecção da classe e do próprio advogado estagiário, quer para protecção dos particulares em geral.
 
Já o jurista de reconhecido mérito tem as suas competências restringidas à consulta jurídica; mas no exercício dessas competências é completamente autónomo –
não estando sujeito à supervisão de qualquer advogado -- sendo como tal o único responsável pelos serviços que presta e/ou actividades que exerce.
 
É por essa razão que o EOA lhe exige que tenha obtido grau de mestre ou doutor e/ou veja o seu mérito como jurista reconhecido pelo Conselho Geral da Ordem
dos Advogados, reconhecimento periodicamente renovável.
 
Diferentemente do advogado estagiário, o estatuto de jurista de reconhecido mérito não é necessariamente temporário ou precário – antes renovável – nem é
dependente do estatuto de advogado. Em suma, são estatutos diferentes.
 
Assim, também nos parece que só um motivo gravoso – que, aliás, não é invocado pelo consulente – poderia justificar que a Ordem exija ao inscrito como jurista
de reconhecido mérito que prescinda do seu direito de exercer a consulta jurídica autonomamente, sob pena de não se poder inscrever como advogado estagiário.
 
Assim entendemos que a primeira dúvida levantada pelo Sr. Vogal do Conselho Distrital deverá ser urgentemente afastada, sob pena de se criar uma situação
gravosa como a descrita, em que um jurista qualificado para tal pela Ordem dos Advogados teria que privar-se de exercer a sua actividade de consulta jurídica de
forma livre e autonomamente para poder frequentar o estágio.
 
b) Direito a reiniciar o estágio.
 
Questão diferente é saber se, e quando, poderá produzir efeitos o levantamento da suspensão do estágio no que tange ao reinício da fase complementar.
 
Solicita o Dr. … que o levantamento solicitado produza efeitos reportados à data de entrada do pedido. Vejamos.
 
O Dr. … requereu a sua inscrição no estágio em 07.09.2004, tendo concluído com aproveitamento a primeira fase do estágio.
 
Em 12 de Abril de 2006 - portanto, já no decurso da segunda fase -- veio solicitar a suspensão do seu estágio como advogado, com efeitos a partir de 12/04/2006
(cfr. fls. 55) , o que lhe foi deferido em 17 de Abril de 2006 pelo Sr. Presidente do Conselho Distrital de … (cfr. fls 56).
 
Por requerimento datado de 12 de Fevereiro de 2010 (mas só entrado em 18 de Fevereiro), o mesmo requerente solicitou ao Conselho Distrital de … o
levantamento da suspensão da sua inscrição como advogado estagiário, com efeitos imediatos, para repetição da fase complementar do estágio.
 
Portanto, entre o início da suspensão do estágio (12.04.2006) e o requerimento de levantamento (18.02.2010) decorreram cerca de 3 anos e 10 meses, a que se
somam mais cerca de 5 meses entretanto volvidos.
 
Nestas circunstâncias, poderá o requerente retomar o seu estágio para repetir a fase complementar? E tal repetição, a ter lugar, verá o seu início reportado a
18.02.2010, data do pedido de levantamento da suspensão? E reger-se-á porque normas?
 
O Regulamento Nacional de Estágio (n.º 52-A/2005, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 146, suplemento, de 1 de Agosto de 2005 - Alterado pela
Deliberação n.º 1898-A/2007), estabelece o seguinte:
 
Artigo 12º
Suspensão do estágio

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1. O advogado estagiário pode requerer ao centro de estágio a suspensão do seu estágio.

2. A suspensão da inscrição do advogado estagiário, por qualquer motivo, importa sempre:

a) A suspensão do tempo de estágio;

b) Durante a fase de formação inicial, a obrigação de reinscrição em novo curso de estágio, que será regulado pelas regras em vigor à data
da reinscrição;

c) durante a fase de formação complementar, se a suspensão se prolongar por prazo superior a um ano, a obrigação de reiniciar a fase de
formação complementar.

3. No caso previsto na alínea c) do número anterior o advogado estagiário ficará sujeito às normas regulamentares em vigor à data do reinicio
da fase de formação complementar, sem prejuízo dos direitos adquiridos pela aprovação na fase de formação inicial do estágio.
4. Findo que seja o prazo de duração do estágio, fica o advogado estagiário obrigado a requerer, no prazo de 15 dias, a sua inscrição como
advogado, determinando o incumprimento desta obrigação a suspensão automática da respectiva inscrição, com absoluto impedimento do
exercício da profissão.

5. O período de suspensão automática previsto no número anterior não pode prolongar-se por mais de 12 meses, após o que o levantamento da
suspensão implicará a repetição da segunda fase do estágio.
6. A inscrição como advogado estagiário será também automaticamente suspensa, com os mesmos efeitos previstos no número anterior, em
qualquer das situações previstas nos artigos 31º., n.º 2, 37.º e 42.º, n.º 3.

Assim, respondemos afirmativamente à questão de saber se o Dr. Rezende pode reiniciar a fase complementar do seu estágio.
 
Vejamos agora a outra questão, quanto a nós mais problemática.
 
c) Reinício “efectivo” da fase complementar
.
O levantamento da suspensão do estágio deverá produzir efeitos reportados à data de entrada do pedido -- como pretende o Dr. … -- ou só deverá produzir efeitos
a partir do eventual deferimento?
 
Se respondermos positivamente à primeira alternativa, poderá implicar que o estagiário  fique sujeito às normas regulamentares em vigor à data de 18.02.2010 –
doravante ficcionada como sendo a do reinício da fase de formação complementar; caso contrário, ficará sujeito às normas regulamentares actualmente em vigor.
 
A questão não é totalmente despicienda, já as normas que vigoravam em Fevereiro passado são diferentes das actuais.
 
A nosso ver, quando o artº manda aplicar as «normas regulamentares em vigor à data do reinicio da fase de formação complementar», a palavra “reinício” deve
ser interpretada como significando o reinício efectivo daquela fase (não um “reinício” ficcionado).
 
Com efeito, só depois da fase complementar ter efectivo início, nos termos e prazos regulamentares, é que terá conteúdo a respectiva formação profissional.
 
Ora o reinício efectivo daquela fase complementar só poderá ocorrer depois de ser deferido o levantamento da suspensão – o que ainda não sucedeu -- de nada
adiantando, portanto, ao requerente querer reportar os efeitos do levantamento à data do pedido (18.02.2010).
 
Dado o exposto, entendemos que o levantamento da suspensão do estágio só deverá produzir efeitos reportados à data do deferimento do pedido, só então
podendo dar-se inicio efectivo à fase complementar do estágio, regendo-se tal fase complementar pelas normas que então estiverem em vigor (e não pelas normas
em vigor ao tempo do pedido de levantamento).
 
d) Direito a obter uma decisão em prazo razoável
 
O entendimento que acima perfilhamos não ignora a relativa demora no levantamento da suspensão -- demora para a qual o Requerente em nada contribuiu – nem
a possibilidade de tal demora ter posto em causa o direito a uma decisão em prazo razoável, consagrado no art. 20º/4 da CRP, e ter, eventualmente, ocasionado
alguns prejuízos na esfera do estagiário.
 
Mas isso não constitui, a nosso ver, razão bastante para que o levantamento solicitado produza efeitos reportados à data de entrada do pedido, ou para que o
estagiário fique dispensado de observar as normas que actualmente regem a fase complementar.
 
Tal demora poderá ser fonte -- se julgada injustificada em harmonia com a previsão do art. 6º, § 1º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem --  quando
muito, de uma obrigação de indemnizar.  Cfr., neste sentido, os acórdãos do STA de 1994.04.12 – rec. nº 32 906;  de 1999.06.17 – rec. nº 44 687; de 2001.02.01 –
rec. nº 46 805; de 2003.04.09 – rec. nº 1833/02; de 2005.03.17 – rec. nº 230/03.
 
Mas para haver responsabilidade não se dispensa, neste âmbito, a verificação dos demais requisitos da responsabilidade civil extracontratual, mormente a
existência de prejuízos indemnizáveis e o nexo de causalidade entre o atraso na tramitação do processo e os danos invocados (cfr Acórdão do STA de 2007.01.17 –
rec. nº 1164/06).
 
e) Incompatibilidade entre o estatuto de jurista e o de advogado?
 
Relativamente á segunda questão posta pelo Conselho Distrital -- se deverá exigir, no momento da inscrição definitiva como advogado, o cancelamento da
inscrição como jurista de reconhecido mérito – a nosso ver a resposta não se afigura tão fácil.
 
É certo que o estatuto do Jurista de reconhecido mérito é diferente do estatuto do Advogado. Respeitam a diferentes processos e requisitos de inscrição e
dão azo ao exercício de diferentes competências (só coincidentes na consulta jurídica).

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.
Todavia, não é menos verdade que, detendo o advogado um estatuto “pleno” no que respeita ás competências, poderá razoavelmente argumentar-se que
tal estatuto “consome” ou “absorve” as limitadas competências atribuídas aos juristas de reconhecido mérito pelo EOA.
 
Em termos práticos essa consumpção é inegável. Daí justificar-se a dúvida quanto á possibilidade de coexistência, simultaneamente na mesma pessoa, dos
dois títulos profissionais.
 
Também é inegável a possibilidade – pelo menos teoricamente – de surgirem potenciais conflitos de sobreposição entre os dois estatutos. Imagine-se uma
das seguintes hipóteses:
 
A. Um Jurista de reconhecido mérito torna-se entretanto Advogado, mas não renuncia ao o primeiro título nem suspende a sua inscrição como
Jurista.
a. Poderá passar a pagar apenas as quotas enquanto advogado, deixando de pagar as quotas enquanto “jurista”?
b. Poderá passar a usar e/ou exibir os dois títulos:
i. Simultaneamente?
ii. Separadamente?
 
B. Um advogado é suspenso por falta de pagamento de quotas enquanto advogado, mas mantém “em dia” o pagamento das quotas enquanto
“jurista” de reconhecido mérito. Poderá continuar inscrito na Ordem e a trabalhar (embora naturalmente limitado à consulta jurídica)?
 
C. Um advogado é disciplinarmente irradiado da Ordem por actos graves praticados exclusivamente enquanto mandatário judicial (mas não
enquanto consultor jurídico). Poderá continuar a exibir o título de Jurista de reconhecido mérito e a trabalhar como tal?
 
Por aqui se vê que o segundo problema colocado pelo Conselho Distrital de …  tem razão de ser e merece cuidada reflexão.
 
Tanto quanto nos parece, nem o EOA nem o Regulamento dispõem de modo expresso sobre tais questões -- inéditas, segundo julgamos -- pelo que a
eventual lacuna deverá ser oportunamente integrada, nomeadamente por interpretação (extensiva ou mediante recurso à analogia) e/ou sanada por via
regulamentar.
 
Não sendo, no caso concreto, uma questão urgente e actual – mas futura e eventual --  reservamo-nos para momento oportuno a pronúncia sobre tal
matéria, pois requer cuidada reflexão.
 
É este, s.m.o., o nosso parecer
 
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
 
Face ao exposto, proponho que o Conselho Geral da Ordem dos Advogados tome a seguinte deliberação:
 
«DELIBERAÇÃO
 
«O Conselho Geral homologa o Parecer que antecede; em consequência,
 
A. O Conselho Distrital poderá proceder ao levantamento da suspensão do estágio do Dr. …, de forma a reiniciar o período complementar, sem que
tenha que solicitar a suspensão da sua inscrição como Jurista de Reconhecido Mérito, por inexistir incompatibilidade entre os dois estatutos.
B. O levantamento da suspensão do estágio só deverá produzir efeitos reportados à data do deferimento do pedido (e não à data do pedido de
levantamento).
C. A fase complementar do estágio que então se iniciar reger-se-á pelas normas que então estiverem em vigor (e não pelas normas que estavam
em vigor ao tempo da apresentação do pedido de levantamento).
D. Relativamente à última questão -- saber se aquando da eventual inscrição definitiva do requerente como Advogado deverá o mesmo ser
advertido de que terá que requerer o cancelamento da sua inscrição como Jurista de Reconhecido Mérito -- é questão futura e eventual (pois tal
inscrição definitiva ainda não foi sequer requerida) que reclama reflexão mais aprofundada.
E. Dado que nem o EOA nem o Regulamento dispõem de modo expresso sobre tal matéria, será oportunamente objecto de estudo pelo Conselho
Geral, de tal sorte que a eventual lacuna seja oportunamente integrada ou sanada, nomeadamente por via regulamentar.
F. Notifique-se o Conselho Distrital de … e o interessado»
 
A próxima sessão plenária do Conselho Geral
 
Lisboa, 18 de Junho de 2010

Relator: João Loff Barreto

O QUE É A ORDEM? CONTACTOS

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