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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Instituto de Ciências da Saúde


Projeto de Pesquisa I
Profª. Viviane C. J. Rocha

“QUEM É VOCÊ?”: UM OLHAR SOBRE A LINGUAGEM NO PACIENTE


COM DEMÊNCIA E A POSSÍVEL OBLITERAÇÃO DO SUJEITO SOB
CUIDADOS

CAROLINA MARIANA RIBEIRO DO BONFIM TEIXEIRA

SALVADOR
Agosto/2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Instituto de Ciências da Saúde
Projeto de Pesquisa I
Profª. Viviane C. J. Rocha

“QUEM É VOCÊ?”: UM OLHAR SOBRE A LINGUAGEM NO PACIENTE


COM DEMÊNCIA E A POSSÍVEL OBLITERAÇÃO DO SUJEITO SOB
CUIDADOS

Pré projeto do Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado como avaliação final do Projeto de
Pesquisa I, componente obrigatório para a
conclusão da Graduação em Fonoaudiologia.

CAROLINA MARIANA RIBEIRO DO BONFIM TEIXEIRA

SALVADOR
Agosto/2018
RESUMO

Muito discute-se sobre as implicações que a demência traz à linguagem,


progressivamente, ao modo de vida do indivíduo, bem como à sua autonomia e
identidade que, segundo a literatura, sofre um decréscimo progressivo, à medida que as
funções cerebrais vão se esvaindo. Mesmo cuidando da funcionalidade do indivíduo, o
sujeito com demência ainda é, por vezes, marginalizado e tolhido de suas singularidades
por parte dos seus cuidadores (familiares ou não), que geralmente assumem a ideia de
que aquele sujeito de outrora não mais existe ou se perdeu. Contudo, já se observa que
determinados contextos ou mediadores usados (música, por exemplo) podem trazer à
tona memórias, funções e aspectos de linguagem que antes pareciam perdidos, os quais
– segundo a visão sócio-interacionista – constituem o 'eu' do sujeito por trás do quadro
demencial. Neste sentido, este artigo traz, por meio de uma revisão integrativa, o
conhecimento sobre o conceito de sujeito e discute sobre as implicações deste
conhecimento na prática do cuidado, no intuito de ratificar a presença ativa da linguagem
neste sujeito e propor-lhe uma melhor qualidade de vida em suas relações dialógicas,
pelo maior tempo possível.

Descritores: demência; linguagem; memória; envelhecimento; cuidados paliativos

ABSTRACT

Much is debated about the implications that dementia brings to language, progressively, to
the way of life of the individual, as well as to their autonomy and identity which, according
to the literature, is progressively decreasing, as brain functions fade away. Even taking
care of the functionality of the individual, the subject with dementia is still sometimes
marginalized and held back from his singularities by his or her caregivers (family members
or not), who generally assume that the subject of the past no longer exists or is lost.
However, it has already been observed that certain contexts or mediators used (music, for
example) can bring to the fore memories, functions and aspects of language that
previously seemed lost, which – according to the social interactionist view – constitute the
'me' of the subject behind the dementia. In this sense, this article brings, through an
integrative review, the knowledge about the concept of subject and discusses the
implications of this knowledge in the practice of care, in order to ratify the active presence
of the language in this subject and to propose a better quality of life in their dialogic
relationships for as long as possible.

Keywords: dementia; language; memory; aging; palliative care


INTRODUÇÃO

A demência é uma condição na qual ocorre decréscimo cognitivo do sujeito, com


comprometimento dos aspectos funcionais e sociais, quando comparado a um
estágio/condição anterior do mesmo (PARMERA e NITRINI, 2015). Sua prevalência
aumenta com a idade e o tipo mais comum é o Alzheimer. Embora hajam outras
heterogeneidades quanto à prevalência da demência, ela também é mais prevalente em
idosos e pessoas analfabetas (COELHO et al, 2010).
Partindo da concepção de que os idosos, especialmente os de baixa escolaridade,
são marginalizados da sociedade por carregarem o estigma do senso comum de um
processo de envelhecimento passivo, fatídico, pesado, em que não há atividades laborais
ou intelectuais relevantes, esta população acaba, por vezes, sendo alienada do seu modo
de vida pregresso e das relações que este carrega. Somado à diminuição dos processos
cognitivos fomentada pelo quadro demencial, este estigma de incapacitação parece
reforçar-se ainda mais, o que comprometeria o cuidado fornecido aos mesmos –
especialmente nos casos mais avançados, em que se pressupõe que “já não há mais o
que fazer”.
A linguagem, por ser também comprometida neste processo de dissolução
cognitiva, afeta as relações dialógicas do sujeito com o seu mundo, seus contextos
sociais e familiares, reforçando a sensação de incapacitação, inferioridade e isolamento.
Neste sentido, para entender melhor o processo de cuidado com o sujeito com demência,
primeiramente torna-se importante conhecer o que seria o “ser sujeito”, e como a
linguagem está imbricada a este conceito.
De acordo com a Neurolinguística Discursiva, o funcionamento cerebral é pautado
pela linguagem, de forma direta ou indireta, em todos os processos cognitivos –
considerando, para além do orgânico, aspectos sócio-interativos e historico-culturais, e é
ela quem mantém o sujeito vivo na sua interação (MELLO, 2015). Junto com a memória,
que também é prática social histórica e culturalmente organizada pela linguagem
(BEILKE, 2009), formam um sistema complexo que se desenvolve ao longo da vida do ser
humano (OLIVEIRA, 2017). Tendo como premissa a linguagem e memória como
entidades funcionais superiores da mente, meu intuito é acrescentar reflexões sobre a
dissolução da subjetividade do sujeito com demência e até que ponto ela se torna
completa – na morte ou antes dela? Como as relações são estremecidas por este não
lugar de sujeito enquanto visto como um ser incapacitado, inferior, isolado do seu mundo
pelo outro? Este sujeito de fato torna-se passivo, ou existe – mesmo nos casos mais
avançados – alguém ali disposto a lutar para fazer-se ativo, presente em suas relações
dialógicas?
Tenho
ciência de que tais perguntas podem não demandar respostas óbvias, tamanha a
complexidade que carregam em si. Contudo, meu desafio reside em tentar acrescentar
reflexões sobre o assunto, como mais um pequeno pedaço deste alicerce em construção,
que é o pensamento sobre a linguagem nos transtornos neurocognitivos. Para além disto,
minha esperança é de que este trabalho acrescente colaborações teórico-reflexivas para
um aperfeiçoamento da prática do cuidado, reforçando também a alteridade das relações
dialógicas entre sujeito e cuidadores no processo demencial.

OBJETIVOS

Este artigo visa:


I) contribuir com reflexões acerca do entendimento sobre o que é ser sujeito perante a
Neurolinguística Discursiva;
II) refletir sobre a dissolução subjetiva que a demência provoca e até que ponto essa
dissolução oblitera por inteiro o sujeito em quadro demencial, gerando a impressão uma
aparente inexistência do mesmo;
III) pensar no cuidado ao sujeito com quadro demencial como uma construção que possa
reafirmar e ratificar a presença ativa deste sujeito em suas relações dialógicas pelo maior
tempo possível;
IV) elencar estas reflexões aos cuidados paliativos em sujeitos com demência, a fim de
contribuir para uma melhor qualidade de assistência.

METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, de caráter qualitativo, que visa sintetizar o que
as teorias trazem acerca do conceito de sujeito dentro de uma perspectiva
Neurolinguística Discursiva, bem como trazer reflexões acerca dos impactos que esta
visão pode gerar na prática do cuidado ao sujeito com demência.
Para o levantamento de artigos e textos na literatura foram realizadas buscas nas
seguintes bases de dados: The Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Medical
Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (Medline). Foram utilizados os descritores
demência; linguagem; memória; envelhecimento; sujeito; cuidados paliativos. Além dos
artigos, foram utilizadas algumas referências em livros.

REFERÊNCIAS

BEILKE, HMB. Linguagem e memória na doença de Alzheimer: contribuições da


neurolingüística para a avaliação de linguagem [dissertação – mestrado]. Campinas,
SP: Universidade Estadual de Campinas, Instituto dos Estudos da Linguagem, 2009

COELHO, CLM et al. A influência do gênero e da escolaridade no diagnóstico de


demência. Campinas: Estudos de Psicologia, outubro – dezembro 2010, 27(4):449-456.

MELLO, JG; GARCIA, MV; FEDOSSE, E. Os múltiplos aspectos da linguagem em


processo demencial: um comparativo entre contexto doméstico e institucional. Rev.
CEFAC, Mar-Abr 2015; 17(2):615-627.

OLIVEIRA, MVB. Palavras na ponta-da-língua: uma abordagem neurolinguística. São


Carlos: Pedro & João Editores, 2017. (Série Na Banca; 5)

PARMERA, JB; NITRINI, R. Demência: da investigação ao diagnóstico. Rev Med (São


Paulo). 2015 jul.-set.;94(3):179-84.

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